Internacional
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Fenômeno Internacional 42 Fotos: divulgação O Hiltl, com 117 anos de história, é hoje um dos restaurantes mais badalados de Zurique. Nasceu como pensão (no detalhe) Fica em Zurique, maior cidade da Suíça, o mais antigo restaurante vegetariano da Europa: aberto em 1898 como “Pensão para vegetarianos e abstêmios”, anos depois foi incorporado pela família Hiltl, que lhe deu rumo e fama e o dirige há quatro gerações – reinventando-o repetidamente, mas sem mexer em suas raízes. Para quem ainda não engole a chamada “comida saudável”, uma surpresa: o buffet do Hiltl, especialmente no brunch, é um festival de delícias Por Celso Arnaldo Araujo 43 Fenômeno Internacional Os chefs da casa – que tem funcionários de 40 países – capricham no buffet internacional, o quilo mais saudável e disputado da Suíça 44 Fotos: divulgação uando abriu, há 117 anos, o Hiltl foi quase ignorado pelos suíços. Naquela época, Zurique não era o centro financeiro e das grifes de luxo que é hoje. E só tipos esquisitos frequentavam a tal pensão. O luxo gastronômico da época era ter carne na mesa, pelo menos aos domingos. Os raros vegetarianos eram conhecidos como “comedores de capim”. Entre esses clientes pioneiros, havia um certo Ambroise Hiltl, um alfaiate alemão que sofria de artrite e gota, mal podia mexer os dedos e aderiu à dieta vegetariana. Sua saúde melhorou significativamente. Mas quem não ia bem era a pensão – a receita de pouco mais de 30 francos ao dia mal permitia cobrir as despesas. Àquela altura frequentador assíduo, Ambroise se propôs a assumir a direção da casa, em 1903. No ano seguinte, comprou-a – inclusive casando-se com a cozinheira, Martha Gneupel. Aliás, algumas das receitas dela chegaram intactas até os dias de hoje. Nascia o lendário Hiltl – hoje uma das glórias da gastronomia suíça, provavelmente o restaurante mais concorrido de Zurique, comandado pelo bisneto de Ambroise, Rolf Hiltl, desde 1998, quando a casa se tornou centenária. Ele costuma relembrar que, tornando-se vegetariano, o bisavô curou-se em poucos meses da gota e chegou até os 93 anos de idade. Nesses117 anos, o Hiltl evidentemente enfrentou fases difíceis, em meio às diversas crises e guerras na Europa no século 20. Mas, nesses tempos de cortes e desabastecimento, o que mais faltava era a carne – um Tudo à mesa O concorridíssimo buffet do Hiltl reúne receitas vegetarianas de todo o mundo 45 Fenômeno Fotos: divulgação Internacional Verde gourmet Ao alto, um dos pratos à la carte do HIltl. Ao centro, Rolf Hiltl e sua família. Acima, comida saudável “para viagem”, no empório anexo, à esquerda ingrediente que nunca entrou na cozinha do Hiltl. E os poucos ingredientes vegetarianos disponíveis durante a Segunda Guerra – ovos, farinha, batatas, grãos e alguns legumes – estimulariam família Hiltl a inovar e a apostar na criatividade. Graças a essa criatividade, o restaurante acabou ganhando fama e sobreviveu aos terríveis anos de escassez do pós-guerra. Nos anos 1970, com o crescimento dos movimentos de contracultura, criou-se entre os jovens uma nova sensibilidade para a ecologia e a proteção dos animais. O vegetarianismo e sua versão mais radical, o veganismo, que não admite nenhum alimento de origem animal, começou a entrar na moda, tornando o Hiltl um point da sociedade afluente de Zurique. A ascensão de Rolf ao comando da casa trouxe novos ares ao Hiltl, aproveitando os bons ares da globalização – graças à qual foi possível descobrir culturas de países com pratos vegetarianos mais variados e ricos do que os suíços, tal como Índia, China ou Malásia e toda a cozinha do Mediterrâneo. Todos os anos Rolf dá uma volta ao mundo para descobrir novas receitas. O Hiltl é um fenômeno típico da globalização: ali trabalham pessoas de 40 diferentes países. Detalhe: Rolf Hiltl não é radical, a exemplo de boa parte dos seus clientes. De vez em quando, como bom “flexitariano” que é, degusta um belo filé no prato – fora do Hiltl, é claro. 46 Completamente renovado em 2006, o Hiltl recebe 1.500 clientes em média por dia – e não é um lugar careta, para iniciados. Além do restaurante, o espaço ainda oferece um empório de comidas saudáveis, bar, discoteca (vegetariana, é claro) e miniescola de cozinha. O complexo, por fora, tem um certo ar de balada misturada com loja-boutique, mas as mesas dos dois andares internos costumam ficar lotadas de grupos de famílias, executivos em reunião de negócios e casais de moderninhos. Hoje ícone da gastronomia de Zurique, o Hiltl é incluído em qualquer roteiro de passeios para turistas. À noite, nos fins de semana, sua calçada fica tomada de clientes à espera de uma mesa. Com mais de cem tipos de pratos ovo-lactos e veganos no buffet a quilo servido, diariamente, no almoço e no jantar, acompanhados de uma grande variedade de frutas, sucos e chás feitos na hora, o estabelecimento faz uma homenagem gastronômica à cozinha de todas as partes do mundo. A cidade de Zurique é homenageada em pratos adaptados para vegetarianos, como o Geschnetzeltes, no qual a carne de vitela, ingrediente da receita original, é substituída por cogumelos frescos e seitan servidos com batatas assadas. Outros destaques: a Paella vegetal, sem frutos do mar, e os espetinhos de legumes grelhados. Uma delícia suíça.
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