O Renascimento Cultural
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O Renascimento Cultural
O Renascimento Cultural 1. O Renascimento “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. (Luís Vaz de Camões - considerado o maior poeta renascentista ) TRANSFORMAÇÕES NO PENSAMENTO No período que se configura como a transição do Feudalismo para o Capitalismo, as artes, o pensamento e o conhecimento científico passaram por um processo de muitas mudanças, que foi denominado Renascimento Cultural. O termo Renascimento deve ser entendido como a retomada (renascer) do estudo de textos da cultura clássica greco-latina. Durante a Idade Média, a alegria, o prazer, o riso eram associados às forças inferiores do mundo sobrenatural. Questionamentos de ordem intelectual ou tentativas de desvendar o funcionamento da natureza eram encarados como heresia (pecado). O Renascimento representou a redescoberta do conhecimento e do estudo fora do âmbito daquilo que era permitido pela Igreja. Os renascentistas preocupavam-se principalmente com as questões ligadas à vida humana. Por isso o movimento é identificado com o Humanismo. O Humanismo preocupou-se em buscar nas pessoas suas belezas, seus aspectos positivos.Esse processo não significou uma ruptura com a religião e com a idéia criacionista,mas mudou a relação entre esses elementos.O mundo não era mais pensado como um lugar de sofrimento e sim um lugar onde o ser humano foi colocado para ser feliz, usufruir dos benefícios e das belezas de tudo o que o rodeia. O Humanismo buscou uma outra maneira de viver distanciada daquele universo mágico e sombrio da Idade Média, e mais condizente com a realidade. A valorização do ser humano resultou na criação de muitas telas e esculturas que valorizavam as formas humanas ou que retratavam corpos nus. Na foto, a escultura David, de Michelangelo, concluída em 1504. O homem é a medida de todas as coisas O Humanismo ou Antropocentrismo colocou a pessoa humana no centro das reflexões. Não se tratava de opor o homem a Deus e medir suas forças. Deus continuou sendo soberano diante do ser humano. Tratava-se na verdade de valorizar as pessoas em si, encontrar nelas as qualidades e as virtudes negadas pelo pensamento católico medieval. Essa idéia de que o homem é a medida de tudo foi criada pelos gregos e, como tudo o que é oriundo daquela cultura, aplicava-se à elite. Na Europa renascentista, a situação era a mesma. Um movimento urbano. . . A vida nas novas aglomerações urbanas que surgiram com o crescimento do comércio na Baixa Idade Média levou ao estabelecimento de novas formas de pensar. Portanto, o Renascimento tem sido entendido como um movimento intelectual eminentemente urbano, expressão da sociedade que habitava as cidades livres. O berço do Renascimento foram as cidades italianas que viviam do comércio, como Veneza, Pisa, Gênova e, principalmente, Florença. Essas cidades italianas mantiveram um contato constante com Bizâncio (Constantinopla), permitindo que os sábios bizantinos fossem responsáveis, em grande parte, pelas mudanças culturais que estamos estudando. Um movimento elitista. . . O Renascimento foi um movimento intelectual e artístico cujas obras estavam ao alcance apenas de pessoas muito ricas. As pessoas que podiam se dedicar somente a estudar grego e latim ou a aprender técnicas de pintura não trabalhavam. O estudo pressupunha que a pessoa fosse alfabetizada, pré-requisito também inacessível à população pobre. Possivelmente, uma grande parcela da população que foi contemporânea dos renascentistas jamais tenha tocado na capa de um livro. O mecenato Os burgueses que haviam conquistado suas riquezas com a exploração do comércio e das atividades bancárias, os nobres que ainda conservavam fortuna ou os reis praticavam o mecenato. Tratava-se da ajuda financeira a artistas e intelectuais para que esses pudessem desenvolver seus trabalhos sem a necessidade de realizar outra tarefa que garantisse sua subsistência. O mecenas era, em geral, um adepto da nova forma de pensar e um apreciador das artes, mas muitos mecenas queriam apenas ganhar prestígio social. Os burgueses: sujeitos históricos do Renascimento “patrocinadores” da cultura renascentista. A impressão de livros a partir da invenção de Gutenberg. Na Europa, durante a Idade Média, os livros eram copiados à mão. O trabalho dos copistas era lento e a qualidade não era boa. Em 1450, o alemão Johannes Gutenberg criou a impressão mecânica, utilizando tipos móveis de metal. A nova técnica tornou inúmeras vezes mais veloz a reprodução de livros. A invenção de Gutenberg permitiu atender à crescente demanda por conhecimento. Mas não devemos nos iludir: o livro não se tornou popular, ao contrário, era ainda muito caro, inacessível para as camadas pobres da população. Os artistas e suas obras Sandro Botticeli A arte do florentino Botticelli é inegavelmente muito bonita. Os principais temas de sua obra foram as cenas religiosas e as cenas mitológicas. Suas criações mais conhecidas são aquelas que retratam temas da Mitologia, como Nascimento de Vênus e Primavera. Uma de suas imagens sacras, Madona da Magnificat, é uma das mais suaves e belas representações da Virgem com o Menino. Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, pintura de cerca de 1485 (galeria degli Uffizi, Florença) Leonardo da Vinci Sua inspiração artística foi notável. Assim como nas ciências, o italiano Leonardo foi versátil também nas artes. Era um bom escultor, desenhista e pintor. Foi o artista que introduziu na pintura o contraste claro/escuro, isto é, o jogo entre as partes claras e as sombras. Suas obras mais conhecidas são as telas A Última Ceia, Mona Lisa (ou La Gioconda) e a Virgem dos Rochedos. Michelangelo Buonarroti Também conhecido como Miguel Ângelo. O artista viveu a maior parte de sua vida em Roma e recebeu de seus contemporâneos o título de divino. O que conhecemos de seus trabalhos permite perceber que o título é merecido. Suas esculturas traduzem movimento e sentimento, como se o artista, ao moldar a pedra, lhe desse alma. Como pintor, Michelangelo também foi brilhante. Suas obras mais conhecidas são as esculturas Pietá, Moisés e David e as muitas pinturas que compõem o teto da Capela Sistina Criação de Adão Pietá Michelangelo Rafael Raffaello Sanzio, ou simplesmente Rafael como ficou conhecido, era pintor e arquiteto. Dedicou-se a pintar imagens sacras, das quais A Virgem com o Menino é uma das mais bonitas, e também figuras femininas. Sua obra mais grandiosa e que expressa seu envolvimento com o pensamento renascentista é a Escola de Atenas. Jesus e a família Madonna Literatura •Dante Alighieri: É considerado pré-renascentista. Sua obra mais importante, A Divina Comédia, é considerada o ponto mais alto atingido pela poesia italiana. •Giovanni Boccaccio: Era escritor e poeta, e seu texto mais conhecido é O Decameron. •François Rabelais: Tornou-se conhecido por dois textos, Gargantua e Pantagruel, onde satiriza o comportamento do clero e os dogmas católicos. •Luís de Camões: A obra mais conhecida do poeta português é Os Lusíadas, um poema épico que narra o heroísmo português na grande aventura que foi a Expansão Marítima. •Miguel de Cervantes: Escreveu Dom Quixot, obra-prima literária e histórica que narra de forma sensível a impossibilidade de manter os valores medievais no mundo burguês em formação, assim como aponta o equívoco histórico da nobreza espanhola que, ao modelo de Quixote, tem a mente povoada de fantasias medievais e não desperta para a realidade dos novos tempos. •William Shakespeare: O mais importante dramaturgo inglês. Seus textos mais conhecidos são Romeu e Julieta, Hamlet, A Megera Domada, Henrique V, Otelo, Rei Lear e Macheth. O Renascimento ocorreu em maior ou menor grau nas várias regiões da Europa. Começou na Itália e se expandiu para França, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Portugal e Holanda. Apesar das diversidades regionais, observamos características comuns e fundamentais do Renascimento. A retomada da cultura clássica Os pensadores do Renascimento queriam, acima de tudo, conhecer, estudar, aprender. O pensamento criado pelo Renascimento originouse da reflexão sobre os textos da Antiguidade combinada com os valores culturais herdados da Idade Média. Os textos da cultura clássica foram vistos como portadores de reflexões e conhecimentos a serem redescobertos. O ideal de universalidade Os renascentistas acreditavam que uma pessoa poderia vir a aprender e saber tudo o que se conhece. Seu ideal de ser humano era, portanto, aquele que conhecia todas as artes e todas as ciências. Leonardo da Vinci, que foi considerado o modelo de homem renascentista, dominava várias ciências e artes plásticas. Ele conhecia Astronomia, Mecânica, Anatomia, fazia os mais variados experimentos, projetou inúmeras máquinas e deixou um grande número de obras-primas pintadas e esculpidas. Da Vinci foi a pessoa que mais conseguiu se aproximar do ideal de universalidade. “Máquina voadora” de Loenardo da Vinci Projeto de Helicóptero realizado por Leonardo da Vinci Pensadores do Renascimento • Erasmo de Roterdã: Nascido nos Países Baixos, é considerado um dos principais humanistas do Renascimento. Seu texto mais conhecido é Elogio da Loucura, no qual faz críticas contundentes aos poderes constituídos, inclusive à Igreja Católica. • Nicolau Maquiavel: O italiano Maquiavel ganhou notoriedade por ter escrito O Príncipe, que traça as diretrizes do poder no Estado moderno. • Thomas Morus: Escreveu uma notável crítica à sociedade de sua época no livro Utopia. O RENASCIMENTO CIENTÍFICO A principal contribuição do Renascimento ao conhecimento científico foi o desenvolvimento da observação e da experimentação. Foi a partir dessas práticas que os renascentistas avançaram no conhecimento. As duas principais figuras do Renascimento Científico foram Leonardo da Vinci e Nicolau Copérnico. Da Vinci inventou inúmeros mecanismos e instrumentos bélicos. Projetou máquinas novas e aperfeiçoou outras já conhecidas. Dedicouse ao estudo da anatomia humana, da Física, da Botânica, da Astronomia. Copérnico contribuiu na ampliação da Matemática, da Mecânica e da Astronomia. Formulou a teoria heliocêntrica que afirma que a Terra gira em torno do Sol, contrariando a doutrina católica medieval que defendia a idéia de que a Terra é o centro do universo. Teoria Heliocêntrica: A Terra gira em torno do Sol. As ciências naturais progrediram graças à contribuição de muitos estudiosos, como Gesner e Rondelet, que investigaram a fauna; o geólogo Georg Bauer, que descobriu novas formas de aproveitamento dos minérios; na Medicina, André Vesálio e Miguel Servet aprofundaram os estudos de Leonardo da Vinci sobre anatomia humana e circulação sangüínea, enquanto Ambroise Paré criava a técnica de usar ataduras para estancar a hemorragia. Desenhos de Leonardo da Vinci sobre a anatomia humana. O Renascimento pode ser dividido em Duocento (1200 a 1299), Trecento (1300 a 1399), Quattrocento (1400 a 1499) e Cinquecento (1500 a 1599). Duocento e Trecento – No século XIII, o gótico começa a dar lugar para uma arte que resgata a escala humana. São as primeiras manifestações do que, mais tarde, se chamaria Renascimento. A principal característica dessa mudança é o surgimento da ilusão de profundidade nas obras, situadas em ambientes arquitetonicamente precisos, dando impressão de existência concreta: é o nascimento do Naturalismo. Quattrocento – No século XV, Piero Della Francesca desenvolve uma pintura impessoal e solene, misturando figuras geométricas e cores intensas. Os artistas concebem a perspectiva de caráter artifício e geométrico que cria a ilusão de tridimensionalidade numa superfície plana. Defendem a técnica e seus princípios matemáticos em tratados. Esculturas como Davi, Madalena e São Jorge estão entre as mais marcantes, por seu poder de produzir tensão emocional. Cinquecento – No século XVI, começa a última fase do Renascimento. Os artistas abandonam a primazia da forma sobre a cor e a perspectiva rigorosa, alongando as figuras, usando cores mais expressivas e contrastes dramáticos de luz e sombra. Surge uma rica pintura narrativa, documentando costumes de época, figuras oníricas, em cenários fantásticos, repletos de simbolismo (O jardim das delícias terrenas) Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram nesse período muitos progressos e incontáveis realizações que superaram a herança clássica. O ideal do humanismo foi sem dúvida o móvel desse progresso e tornou-se o próprio espírito do Renascimento. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição consciente (o re-nascimento) do passado, considerado agora como fonte de inspiração e modelo de civilização. Tudo isso nos faz refletir sobre o que devemos valorizar. Acreditar na nossa própria capacidade, não se limitando a imitar modelos antigos, mas sim, buscar inspiração na natureza que nos cerca.
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