Aula 15
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Boltzmann como boa aproximação das distribuições quânticas Quando o no médio de partículas por estado quântico é muito menor do que 1, as distribuições quânticas se confundem com a clássica n(ε 2 ) g (ε 2 ) = e Fator de Boltzmann: n(ε 1 ) g (ε 1 ) − ε 2 −ε 1 kT Que fornece o no relativo de partículas por estado quântico a duas energias diferentes Podemos usá-lo para determinar a razão de ocupação de estados em um sistema quântico, quando ε >> kT acima do estado fundamental. Exemplo: colisões térmicas de átomos em um gás à temperatura T os estados excitados são pouco populados ⇒ podemos usar o fator de Boltzmann para determinar as populações relativas e determinar as correspondentes intensidades de transição. Ou vice-versa, como discutimos no caso da determinação de temperatura de estrelas a partir da observação de espectros. Vamos usar o fator de Boltzmann para estudar o funcionamento do LASER. Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation Amplificação de Luz pela Emissão Estimulada de Radiação FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 1 Exercício O primeiro estado excitado do H, E2, está a 10,2 eV acima do estado fundamental E1. Qual é a razão entre o no de átomos no primeiro estado excitado e o no de átomos no estado fundamental a) a temperatura ambiente T=300 K? b) à temperatura da superfície do sol T=5.800K? O no de átomos em um estado de energia E é dado por: n( E ) = Ag ( E )e − E / kT A razão entre o no de átomos no 10 estado excitado − E 2 / kT n Ag e g 2 −( E2 − E1 ) / kT o 2 2 e o n de átomos no estado fundamental: = = e − E1 / kT n1 Ag1e g1 no estado fundamental g1 a degeneração levando em conta o spin é: 2 no estado excitado g2 a degeneração levando em conta l=0 é: 2 e l=1 é 6 ambos com dois estados de spin, tem um total de 8. Então g2/g1=8/2=4 e n 2 FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 n1 = 4e −( E2 − E1 ) / kT 2 Vejamos as energias a) T=300K kT~0.026eV b) T=5800K kT~0.5eV n2 = 4e −(10, 2) / 0.026 = 4e −392 ≈ 10 −171 ≈ 0 n1 n2 = 4e −(10, 2 ) / 0,5 = 4e 20, 4 ≈ e −19 ≈ 10 −8 n1 Conclusão a) T=300K devido a grande diferença de energia entre os dois estados em comparação com a energia térmica kT, existem poucos átomos de H no 1º estado excitado. Explica porque o H na Tamb não emite nenhum tipo de radiação b) T=5800K na superfície do sol, ~1015 átomos em cada mol de H atômico se encontra no estado excitado FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 3 Processos para transição entre 2 estados atômicos na presença de um campo eletromagnético: fóton de v = (ε2 – ε1)/h Vida média típica de um estado excitado atômico é 10 ns. Alguns estados, por conta do momento angular elevado, podem ter vidas médias da ordem de ms, sendo chamados de metaestáveis. Processos de interação da radiação com o átomo. E como estes 3 processos estão relacionados quantitativamente? Suponhamos 1 conjunto de átomos, com n1 átomos no estado ε1 e n2 no estado ε2, com ε2 > ε1, em equilíbrio térmico com radiação eletromagnética de densidade de energia espectral ρ(v), a uma temperatura T. A probabilidade (por átomo e por unidade de tempo) de que um átomo no estado 1 faça uma transição para o 2 (absorção), deve ser proporcional a ρ(v) em v = (ε2 – ε1)/h. A taxa de emissão estimulada também é proporcional a ρ(v) em v = (ε2 – ε1)/h. Mas a emissão espontânea não. As taxas de transição também dependem das características dos estados, por causa dos elementos 4 de matriz de dipolo elétrico, FNC etc.0376 - Física Moderna 2 Aula 15 A probabilidade, por unidade de tempo, de haver uma transição do estado 1 para o 2, pode ser escrita como: R1→ 2 = B12 ρ (v) , onde B12 é um coeficiente que inclui a dependência das funções de onda dos estados 1 e 2. Já a probabilidade de que um átomo no estado 2 faça uma transição para o 1 é uma soma de 2 termos: a probabilidade de emissão espontânea, A21, e a de emissão estimulada, B21ρ(v). Assim: R2→1 = A21 + B21 ρ (v) . Como o sistema está em equilíbrio térmico, as taxas de 1 → 2 e de 2 → 1 devem ser iguais: n1 R1→2 = n2 R2→1 . Substituindo: A21 B21 n1 B12 ρ (v) = n2 [A21 + B21 ρ (v)] ⇒ ρ (v) = n1 B12 −1 n2 B21 Vamos usar o fator de Boltzmann, com hv = ε2 – ε1, para avaliar a razão n1/n2, considerando g(ε2) = g(ε1): n1 =e n2 ε 2 −ε 1 kT =e hv kT Substituindo em ρ(v): ρ (v) = A21 B21 B12 hv kT e −1 B21 Mas essa expressão deve ser consistente com a obtida por Planck para a radiação de corpo negro: FNC 0376 - Física Moderna 2 5 Aula 15 8πv 2 hv 8πhv 3 1 ρT (v) = 3 hv kT = c e −1 c 3 e hv kT − 1 Vimos: ρ (v ) = A21 B21 B12 hv kT e −1 B21 Planck Portanto: B12 =1 B21 e A21 A 8πhv 3 = = B21 B c3 Esses são os coeficientes A e B de Einstein, que publicou trabalho sobre esse assunto em 1917. Só temos a razão entre eles, mas A pode ser calculado (MQ, como vimos em Moderna 1). O resultado de que B12 = B21 é muito interessante, pois mostra que os processos de emissão e absorção (estimulados) são iguais e só dependem das características físicas do átomo. A razão entre o coeficiente de emissão No entanto: espontânea (A21) e o coeficiente de emissão estimulada (B21) varia com ν3 quanto maior a diferença de energia entre 2 níveis, mais provável fica a emissão espontânea em relação à estimulada. A21 A 8πhv 3 = = B21 B c3 FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 6 Como B12 =1 e B21 A21 A = B21 B temos também que: e ρ (v ) = A21 B21 B12 hv kT e −1 B21 A21 = e hv kT − 1 B21 ρ (v) ⇒ para átomos em equilíbrio térmico, emissão espontânea >> estimulada, se hv >> kT, que é a condição usual em átomos e moléculas. A emissão estimulada pode ser importante se hv ≈ kT, ou se hv << kT. espontânea estimulada taxa de emissão n2 A + n2 Bρ (v) A n2 n2 hv kT = e = = 1 + taxa de absorção n1 Bρ (v) Bρ (v) n1 n1 Quando hv << kT, temos: taxa de emissão n2 hv kT n2 hv n2 = e ≅ 1 + ≈ taxa de absorção n1 n1 kT n1 FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 7 Se o sistema está em equilíbrio térmico ⇒ Boltzmann ⇒ n2 << n1. Mas fora do equilíbrio vale tudo. Se invertermos a população, fazendo n2 > n1, teremos emissão > absorção, fazendo com que a radiação na freqüência v = (ε2 – ε1)/h, seja amplificada. Só que esse processo faz a população mudar. Para manter o processo é necessário manter a população invertida, por meio da injeção de energia no sistema. Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation Existem vários tipos de laser, mas todos têm algumas características comuns: 1) Uma fonte de energia (pulsada ou contínua) capaz de produzir inversão de população entre níveis atômicos. No caso do laser de He-Ne essa fonte é uma descarga elétrica, que transfere energia aos átomos por meio de colisões atômicas. No caso de lasers que usam cristais, é usada iluminação intensa e de espectro largo, processo conhecido como bombeamento ótico. 2) Um material cujos átomos tenham pelo menos 3 níveis de energia: o estado fundamental; um estado intermediário com meia-vida, ts, relativamente longa (metaestável); e um terceiro estado, de energia mais alta, para bombeamento. FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 8 Notem que um sistema de 2 níveis não é sujeito a inversão de população, pois, com bombeamento ótico intenso, poder-se-ia, no máximo, atingir uma situação em que as populações dos 2 níveis fossem iguais. Bombeamento mais intenso apenas aumentaria a taxa de transições tanto de 1 → 2 quanto de 2 → 1, pois as probabilidades de transição são iguais, como vimos. Para que possa haver inversão de população, a absorção de energia deve ser feita por uma transição diferente daquela que sofrerá a emissão estimulada. Daí a necessidade de 3 níveis, pelo menos. 3) Um método que contenha os fótons emitidos inicialmente no meio, de forma que eles possam estimular transições em outros átomos. Isso, em geral, é feito por meio de espelhos nas extremidades do sistema, de forma que os fótons atravessem o meio muitas vezes. Dessa forma, o laser pode ser entendido como um ressoador ótico. a oscilação consiste de uma onda plana refletida entre os espelhos das extremidades. Essas ondas que caminham em direções opostas formam uma onda estacionária com nós nos espelhos. Para que luz de alta intensidade seja extraída, um dos espelhos é semi-transparente. A realização física desse processo é representada na figura abaixo e requer a escolha de um elemento com níveis de energia com as propriedades adequadas. FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 9 ~10-8seg Transição rápida sem emissão de ≈ ~10-3seg Diferença de energia E3-E1 Em equilíbrio térmico a população dos estados é: n3<n2<n1 Bombeamento ótico (iluminação intensa) com 5500A estimula-se a absorção dos fótons pelo átomo no estado fundamental, aumenta a população do nível de energia E3 e despopula o nível E1. Emissão espontânea, traz os átomos de E3 para E2, reforça a população deste estado com tempo de vida longo Resulta: n2 > n1 inversão de população A emissão do fóton, n2 n1 de 6943A estimula novas transições, emissão estimulada >> absorção estimulada, 6943A será reforçado, feixe coerente FNC 0376 - Física Moderna 2 10 intenso Aula 15 Na prática o laser é um bastão cilíndrico com extremidades oticamente planas paralelas e refletoras (uma delas parcialmente refletora) Os fótons emitidos que não se deslocam ao longo do eixo, escapam pelos lados antes de estimular emissões. Os fótons que se movem exatamente ao longo do eixo são refletidos várias vezes e são capazes de estimular emissões repetidamente. O no de fótons cresce rapidamente. Lâmpada de bombeamento ótico FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 11 Problemas: 1) quando 1 átomo emite um fóton, decaindo para o estado fundamental, o que acontece em seguida? Se tudo correr bem, o bombeamento ótico vai levá-lo de volta para o estado excitado e o processo continua. Mas isso pode demorar um pouco para ocorrer. Nesse caso, esse átomo pode absorver um fóton do laser, de forma a voltar para o estado ε2. Isso diminui a intensidade do laser, prejudicando o processo. 2) Condição de início de oscilação (ou condição de laser). A emissão laser pode ser sustentada se o aumento do número de fótons, por passagem no laser, for maior que a redução provocada por perdas (emissão do laser, absorção no meio, espalhamento por impurezas, etc.) Vamos juntar todos os processos de perda em uma única constante de tempo: I = I 0e −t t p I dI ⇒ =− tp dt perda Antes de calcularmos os ganhos, lembremos da taxa de transição induzida, que é proporcional ao coeficiente B de Einstein: Ri = ρ(v,T)B. ρ ( v, T ) c 3 ρ (v, T )c 3 A 8πhv 3 A= = ⇒ Ri = 3 3 8πhv 8πhv 3t s B c onde ts = A-1 é a meia-vida para emissão espontânea. FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 12 O ganho em intensidade da cavidade, devido a transições estimuladas, vai ser dado pela diferença entre a emissão estimulada do nível 2 → 1 e a absorção do 1 → 2. o 3 2 dI = (n2 − n1 )hvcRi dt ganho J x m/s x (n átomos)/m = W/m onde hvc é o que cada fóton contribui para a intensidade, Ri a taxa de transição induzida e n2 (n1) a densidade de população do nível 2 (1). Para que haja funcionamento sustentado do laser: I dI dI ≥ ⇒ (n2 − n1 )hvcRi ≥ tp dt ganho dt perda Substituindo Ri e lembrando que I = cρ, temos: 8πv 2t s ∆N c densidade de n2 − n1 = 3 = população crítica c tp V Essa expressão nos permite determinar a potência necessária para iniciar o funcionamento do laser. Mas, antes, devemos analisar os ... FNC 0376 - Física Moderna 2 Aula 15 13
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