Programa de alfabetização gera frutos em Brazlândia

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Programa de alfabetização gera frutos em Brazlândia
Programa de alfabetização gera frutos em Brazlândia
Fazer com que se entenda a importância dos estudos na vida pessoal e profissional de um
adulto nem sempre é tarefa fácil, principalmente quando se trata de moradores de
comunidades mais vulneráveis, nas quais as oportunidades de crescimento parecem ser
menores. No entanto, mesmo com todas as dificuldades, há quem se esforce para aumentar as
chances de desenvolvimento na vida de dezenas de cidadãos.
É o caso da coordenadora de grupo de Brazlândia, cidade-satélite do Distrito Federal, a 45
quilômetros do Plano Piloto. Há dois anos, Márcia Helena Ramos incentiva alfabetizadores e
alunos a darem continuidade nas aulas do Projeto abcDF (parceria entre o Governo do Distrito
Federal e a Alfabetização Solidária).
Márcia conta que o maior desafio foi encontrar formas atrativas de aproximar os alunos,
fazendo com que todos compreendessem a importância das aulas. "Eles não entendem que a
continuidade dos estudos depende exclusivamente deles". Para alcançar essa aproximação
ela, juntamente com os alfabetizadores, organizou palestras, convidou especialistas para
discutir assuntos que fazem parte do cotidiano dos alunos e promoveu encontros com alunos e
com alfabetizadores.
"Dentre os eventos, tivemos palestras com um médico, que falou sobre alimentação alternativa,
com um professor de Educação Física, que explicou os benefícios do alongamento. A turma
também foi convidada para participar de um encontro espiritual e do jantar surpresa, que
preparamos especialmente para o Natal", conta Márcia orgulhosa de seu trabalho.
A coordenadora faz questão de conhecer todos os alunos pessoalmente. Além de visitar as
salas de aula, percorre as casa dos alfabetizandos, explicando a importância do processo de
alfabetização para um futuro melhor.
Juntas, procuram levar para cada residência esperança e força de vontade para continuação
dos estudos. Márcia explica que alguns alunos pensam em desistir das aulas, não
necessariamente por falta de vontade, mas às vezes por cansaço ou até mesmo doença. "Às
vezes, por falta de condução, falam em deixar os estudos. Mas nós insistimos e, se necessário,
ajudamos", completa.
"Meu objetivo é que cada vez mais alunos passem pela alfabetização e frequentem a
Educação de Jovens e Adultos (EJA), meu desejo é aumentar o número de alunos nas salas
de aula", revela. Dos alunos que participaram da 2ª etapa do programa, oito já foram
encaminhados para a EJA. Márcia explica que ninguém melhor do que o próprio aluno para
fazer a publicidade do programa de alfabetização. No entanto, foi por meio dessa busca de
alunos, batendo de casa em casa, que Márcia apresentou o curso de alfabetização para o
montador de automóvel Lauzimar Fernandes de Deus, de 35 anos.
Natural de Pirenópolis, Goiás, Lauzimar frequentou até a 4ª série do ensino fundamental, ainda
quando pequeno: "tive que parar de estudar muito cedo, pois precisava ajudar meus pais na
roça", lembra.
Há 16 anos, mudou-se para Brasília em busca de oportunidades melhores. Com a correria do
dia-a-dia não conseguiu tempo para estudar. O receio de não encontrar vaga nas escolas
também o impediu de persistir nos estudos.
Casado, com um filho de 11 anos, Lauzimar não hesitou em participar da 2ª etapa do programa
de alfabetização, quando foi convidado pela coordenadora Márcia. "Preferi começar do zero,
pois fazia muito tempo que eu não estudava, não lembrava mais nada do que aprendi quando
criança". Acompanhar os avanços tecnológicos, progredir nos estudos e garantir um bom
emprego foram alguns dos motivos que o levaram a frequentar a sala de aula.
Depois de terminar o curso promovido em parceria com a AlfaSol, no segundo semestre de
2008 deu início às aulas na EJA. Encaminhado para a 3ª série do ensino fundamental, o
montador de automóvel orgulha-se de ser um exemplo para seu filho. "Hoje leio jornal com ele,
discutimos diversos assuntos em casa. Além disso, converso melhor com meus clientes",
revela sobre alguns dos benefícios que encontrou a partir dos estudos.
Com muita expectativa pela frente e algum tempo para completar os estudos, Lauzimar sonha
em terminar o ensino médio e passar em um concurso público. "Os professores nos incentivam
bastante". Para quem acha que o esforço é grande, ele deixa um recado: "Quem tem um sonho
não pode desistir nunca, por maiores que sejam os desafios", finaliza.
Programa de alfabetização gera frutos em Brazlândia. Boletim Municípios/IES, São Paulo, n.
36, jan./fev. 2009