A implantação de programas de alfabetização de jovens e adultos

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A implantação de programas de alfabetização de jovens e adultos
RESPONSABILIDADE SOCIAL: PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO E INCLUSÃO- PAI
Amanda Celestini Mendonça
Mônica Zero Jacob, colaboradora
Aluna do curso de Pedagogia
FIZO - Faculdade Integração Zona Oeste
Resumo
A implantação de programas de alfabetização de jovens e adultos apresenta alguns
obstáculos para a sua efetivação e desenvolvimento, tais como: a falta de formação específica de
diretores, coordenadores e professores, a falta de materiais de apoio bem elaborados, etc.
Sendo assim, este trabalho visa apresentar algumas propostas desenvolvidas no Programa
de Alfabetização e Inclusão da Faculdade Integração Zona Oeste, que transcendem esses
obstáculos, e mostrar como elas desenvolvem a autonomia do pensar, um dos instrumentos para
a construção dos saberes, e sua aplicação nas mais diversas situações vivenciadas pelos alunos.
Palavras-chave: Alfabetização – Responsabilidade social - Jovens - Adultos
Abstract
Social Responsability: Program of Alfabetizacion and Inclusion - PAI
Adults and teenagers alfabetizacion´s programs presents some problems
for their
improvement, as: directors, coordinators and teachers´s specific graduation, welldone materials,
etc.
This work intent develope the Program of Alfabetizacion and Inclusion of the FIZO –
Faculdade Integração Zona Oeste, that they exceed these obstacles, e to show as they develops
the autonomy of thinking, one of the instruments for the construction of knowing them, e its
application
in
the
most
diverse
situations
lived
deeply
Key-words: Alfabetizacion – Social reponsability - Teenagers - Adults
for
the
pupils.
RESPONSABILIDADE SOCIAL: PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO E INCLUSÃO- PAI
1. Introdução
Amanda Celestini Mendonça
Mônica Zero Jacob, colaboradora
Aluna do curso de Pedagogia
FIZO - Faculdade Integração Zona Oeste
A implantação de programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) pressupõe o
conhecimento de algumas questões históricas que nos esclarecem sobre o porquê das dificuldades
enfrentadas quando da efetivação e desenvolvimento de tais programas.
A educação, ao longo dos anos, antes de constituir-se como instrumento para a formação
do cidadão, restringiu-se à formação de indivíduos capazes de decodificar o código escrito sem
compreendê-lo, isto é, sem interpretá-lo. Tal fato sempre foi viável para a classe dominante que,
detentora de capital e, portanto, de conhecimento, pode fazer desses meros decodificadores a
força propulsora para o seu desenvolvimento econômico, político e, principalmente, social.
Na década de 40, por exemplo, a democratização do ensino visava aumentar as bases
eleitorais com a integração dos imigrantes a quem ensinavam “a leitura e a escrita”. Em 1947,
houve o lançamento da Campanha de Educação de Adultos, cujo principal objetivo era a
capacitação profissional. O aluno era alfabetizado em três meses e fazia o curso primário em sete
meses.
Em meio a essas questões, tenta-se pôr em prática as propostas de Paulo Freire, que
apresenta uma perspectiva conscientizadora, dialógica, da valorização do saber dos educandos, de
resgate da solidariedade e da intencionalidade do ato educativo.
Desse modo, a educação de jovens e adultos assume, dentre outros, o papel de
“(...) propiciar oportunidade de escolarização básica aos jovens e adultos preparando-os
na utilização de diferentes linguagens – verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal – como
meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções
culturais em diferentes contextos sociais e situações de comunicação e condições de acesso
(...)”(Yamasaki, 1999, p.16)
O MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), criado em 1967, vem, segundo
Paulo Freire, para negar o seu método e silenciar o seu discurso. Esse movimento funcionou
como uma grande campanha de cunho nacionalista e assistencialista, que buscava ampliar a base
de legitimidade do Governo de Exceção que havia estabelecido no Brasil através da ruptura da
ordem Institucional vigente no Golpe Militar de 1964. Buscava, também, atenuar as pressões dos
setores populares e acadêmicos e atender a demanda pela escolarização dos adultos. Ao mesmo
tempo pretendia qualificar a mão de obra com uma escolaridade mínima que atendesse à
perspectiva do novo ciclo de desenvolvimento que se iniciava no Brasil nos anos 60 e 70.
Posteriormente, frente à ausência de uma política educacional, outros programas de
alfabetização de jovens e adultos foram desenvolvidos, mas todos apresentavam um cunho
assistencialista, tais como: Fundação Educar (anos 80), que apoiava as iniciativas comunitárias,
estaduais ou municipais; iniciativas de ONG’s , empresas, sindicatos, movimentos populares
organizados, com especial destaque à iniciativa dos acampamentos e assentamentos do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra através de suas escolas.
Apesar desse quadro de iniciativas, verifica-se a ausência de um Plano Nacional de
Educação de Jovens e Adultos. Sendo assim, aqueles que se interessam em trabalhar com esse
tipo de educação enfrentam dificuldades não só quanto às questões políticas e financeiras, como
com a falta de formação específica de diretores, coordenadores e professores, a falta de materiais
de apoio bem elaborados, uma vez que os que circulam na EJA não visam a formação do cidadão,
mas o indivíduo capaz de decodificar a língua, bem como a falta de mão de obra, que em sua
maioria, provém da ação voluntária.
2. Objetivo
Partindo-se, então, das dificuldades encontradas para a implementação de programas de
alfabetização de jovens e adultos, apresentaremos algumas propostas de trabalho que foram
surgindo e postas em prática ao longo dos 3 anos do Programa de Alfabetização e Inclusão (PAI),
desenvolvido pela Faculdade Integração Zona Oeste (FIZO).
3. Programa de Alfabetização e Inclusão (PAI)
O Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos, uma iniciativa estadual, colocada em
prática pela FIZO , além de promover a leitura e a escrita, capacita o aluno a refletir sobre o
mundo que o cerca, possibilitando sua atuação, na sociedade, de forma consciente e crítica.
As aulas são ministradas por alunos e ex-alunos do curso de Pedagogia da FIZO, comprometidos
com os projetos de responsabilidade social da Instituição.
Inicialmente, o Programa atendia aos funcionários da Instituição, que tinham um sonho:
voltar a estudar. Essa oportunidade dada pela Instituição possibilitou a melhora no desempenho
dessas pessoas enquanto prestadoras de serviço e como cidadãs, uma vez que, ao entrarem em
contato com o mundo letrado, ampliaram as suas visões de mundo, a partir das quais novas
perspectivas de vida foram se configurando.
Posteriormente, o público-alvo ampliou-se com a participação da comunidade externa:
parentes, colegas e vizinhos desses funcionários passaram a integrar o corpo discente desse
programa.
A chegada dos alunos no PAI é sempre de forma muito acanhada por estarem na condição
de analfabetos, apesar de sempre dizerem que estudaram há tempos atrás, mas que já se
esqueceram de quase tudo.
Como identificar, então, os conhecimentos que nossos alunos já possuem?
É no diálogo que tudo se inicia. No primeiro contato com este aluno , faz-se um
questionário diagnóstico, o qual nos possibilita saber qual deve ser nosso ponto de partida com
aquele aluno, especificamente.
Não é raro encontrarmos dentre nossos alunos, aqueles que melhoraram o seu padrão de
vida após o ingresso no curso. São evidentes a alegria e satisfação de nossos alunos quando
começam a enxergar o mundo, como eles mesmos relatam.
“Aqui aprendi a ler a letra de mão e fui até promovido no trabalho. Estou tão feliz que
agora tenho mais idéias e são tantas as palavras que aprendi para falar delas que parece que vou
enlouquecer.” (J.R.S., aluno da 4a. série)
4. Como preparamos as aulas?
O PAI, por ser uma iniciativa da Secretaria de Estado da Educação, em parceria com a
SEMESP - Sindicato das Entidades Mantenedora de Estabelecimento de Ensino Superior no
estado de São Paulo e a FIZO Faculdade de Integração Zona Oeste, que visa atender uma
população carente, isto é, sem poder aquisitivo, acaba fornecendo material didático (livros) para
o acompanhamento das aulas.
No entanto, esses livros, como outros voltados para a alfabetização de jovens e adultos,
servem somente como material de apoio para o professor, uma vez que as aulas do PAI-FIZO são
preparadas de acordo com as necessidades dos alunos, identificadas ao longo das aulas, bem
como a partir das sugestões dos próprios alunos que, ansiosos, acabam solicitando a exposição de
assuntos que lhes permitam lidar melhor com as suas tarefas cotidianas.
As percepções tanto do professor, como do aluno quanto aos conteúdos a serem
ministrados, mostram-nos que os livros destinados à educação de jovens e adultos, visam apenas
ensinar a decodificação da língua, e não a sua interpretação e análise.
Desse modo, os planos de aula do PAI-FIZO buscam um diferencial em relação ao
material em circulação, uma vez que são elaborados de modo a adequar os conteúdos do projeto
pedagógico à linguagem do público adulto.
A preparação das aulas tem como ponto de partida as disciplinas: Português e
Matemática. Mas, elas não se encerram em si mesmas. Há uma preocupação em se trabalhar a
interdisciplinaridade, isto é, a conjugação das diferentes ciências (Português, Matemática,
Geografia, História, Ciências e Arte), já que o aluno, em suas intervenções, acaba trazendo
questionamentos que, muitas vezes, não estão aparentemente relacionadas aos assuntos
abordados nas disciplinas ministradas em um determinado momento.
Isso acontece graças à filosofia da Instituição, segundo a qual os conhecimentos dos
alunos são considerados como elementos propulsores de um aprendizado contextualizado e
dinâmico.
5. Socialização das atividades elaboradas e desenvolvidas no PAI-FIZO
5.1. Plano de aula
Passaremos, então, a descrever uma das aulas preparadas, visando a integração dos
conhecimentos dos alunos, com informações ainda ignoradas por eles.
Durante a aula de Português, a professora partiu de uma receita de bolo para verificar
como os alunos interpretavam aquilo que liam, uma vez que uma receita só dá certo se todos os
ingredientes forem colocados nas proporções indicadas.
Partindo dessa primeira etapa da atividade, as questões matemáticas foram introduzidas:
quantidades, medidas, etc.
Posteriormente, perguntou-se aos alunos quais eram as receitas típicas de suas famílias.
Obviamente que as receitas familiares fazem parte de uma tradição cultural de diferentes regiões.
Sendo assim, a partir da fala dos alunos, que indicavam as regiões das quais provêm, foi
possível introduzir as questões da geografia física e humana, da história e da cultura de suas
localidades.
A preparação desses pratos típicos proporcionou: a expressão dos sentimentos dos alunos,
que se emocionavam ao relembrar de suas infâncias; introduzir questões sobre as reações
químicas (por que colocamos fermentos nas receitas de bolo?), questões matemáticas
(quantidades, proporções etc.), interpretação e análise textuais e o trabalho com a coordenação
motora.
No fechamento dessa atividade, houve a socialização dos conhecimentos adquiridos
através de uma exposição, na qual os alunos relataram brevemente algo que lhes marcaram
durante o processo de aprendizagem.
Para comemorar a efetivação do plano de aula, fez-se uma festa, em que cada aluno levou
os pratos típicos de suas regiões.
5.2 Atividades extra-classe
5.2.1 Palestras
Para complementar os assuntos abordados em aula ou para fornecer informações
relevantes aos alunos, promovemos algumas palestras.
Essas palestras são ministradas por professores da FIZO, envolvidos com as propostas
referentes aos projetos de responsabilidade social da Instituição. Dentre os assuntos abordados
temos: filosofia, geografia, história e artes.
Contamos, para tanto, com a ótima estrutura da Instituição: auditórios, salas de vídeo e
sala 3D.
5.2.2 Aulas de Arte
Visando aperfeiçoar a coordenação motora, fazer com que os alunos trabalhem as suas
emoções (expressão e controle) e apresentar uma opção de trabalho, implantamos aulas de Arte.
Nelas, os alunos aprendem, dentre outras atividades, a confeccionar velas, a fazer encadernações
decorativas e a pintar por meio de diferentes técnicas.
6. Considerações finais
A autonomia do pensar é um dos instrumentos para a construção dos saberes. Mas, não
basta saber, é preciso aplicá-los nas mais diversas situações vivenciadas.
Tal aplicação só é possível, no entanto, quando o indivíduo conscientiza-se de que é capaz
de conseguir aprender.
Por isso, um dos maiores empenhos por parte do corpo docente e dos coordenadores é o
de elevar a auto-estima do aluno, acanhado e desvalorizado, que procura o Programa de
Alfabetização e Inclusão da FIZO.
Para tanto, as ações desenvolvidas no PAI- FIZO baseiam-se nas teorias de Paulo Freire,
para quem o aluno não é um mero “depósito bancário”, ou seja, não é apenas um meio de
reprodução de conhecimentos descontextualizados e, portanto, inúteis.
O aluno é, antes de tudo, um interlocutor com quem o professor dialoga e aprende e para
quem mostra o caminho da autonomia do pensamento, a partir do qual se liberta da sua situação
de oprimido.
Dessa forma, as atividades desenvolvidas no referido programa visam ensinar a ler e
escrever, mas, principalmente, ensinar a compreender e a interpretar o que há por trás de um
simples aglomerado de letras.
Intentamos, portanto, formar um cidadão capaz de atuar, para transformar a sua realidade.
A valorização, a importância e o respeito dado a cada aluno são as molas propulsoras para
que este projeto assim se concretize.
7. Referências Bibliográficas
YAMASAKI, A. A.; SANTOS, E. M. A educação de jovens e adultos no Brasil: histórico
e desafios. In: Cadernos de EJA, v. 2, 1999.
FREIRE, P. Conscientização. [S.l.]: Moraes, 1980.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
STRECK, D. R. Paulo Freire: ética, utopia e educação. [S.l.]: [s.c.],1999.
GADOTTI, M.; ROMÃO, J. E. Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta.
[S.l.]: Cortez; Instituto Paulo Freire, 1995.