Trabalho realizado sobre Respostas Hipertróficas Crônicas dos
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Trabalho realizado sobre Respostas Hipertróficas Crônicas dos
Marcelo Vidigal Coscarelli Saulo Rodrigo Parreiras Brandão Respostas Hipertróficas Crônicas dos Flexores de Cotovelo, Submetidos a Dois Protocolos Com Diferentes Níveis de Fadiga Monografia apresentada ao Curso de Educação Física do Centro Universitário de Belo Horizonte, como requisito parcial a apresentação do trabalho de conclusão de curso. Área de Concentração: Saúde. Orientador: José Ribeiro. Belo Horizonte – MG 1º/2006 Ricardo Claudino CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA Monografia intitulada, “Respostas Hipertróficas Crônicas dos Flexores de Cotovelo, Submetidos a Dois Protocolos Com Diferentes Níveis de Fadiga” de autoria de Marcelo Vidigal Coscarelli e Saulo Rodrigo Parreiras Brandão orientado e autorizado para defesa, pelo orientador Orientador: Professor José Ricardo Claudino Ribeiro Belo Horizonte, 16 de Maio de 2006 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA Monografia intitulada, “Respostas Hipertróficas Crônicas dos Flexores de Cotovelo, Submetidos a Dois Protocolos Com Diferentes Níveis de Fadiga” de autoria de Marcelo Vidigal Coscarelli e Saulo Rodrigo Parreiras Brandão orientado e autorizado para defesa, pelo orientador Orientador: Professor José Ricardo Claudino Ribeiro Professor Professor Professora Alessandra de Magalhães Campos Garcia Coordenadora do Curso de Educação Física Belo Horizonte, 16 de Maio de 2006 RESUMO Este trabalho teve como objetivo verificar as respostas hipertróficas dos flexores do cotovelo, submetidos a dois protocolos com diferentes níveis de exigência.. A teoria básica que deu suporte à execução dessa pesquisa foi fundamentada em ACSM (2003), AYESTARÁN e BADILLO (2001), ASCENSÃO (2003), FLECK e KRAEMR (1999), REBEIRO (2005). Com relação às normas de elaboração do trabalho, os parâmetros foram fundamentados em ACSM (2003). A pesquisa caracterizou-se pela investigação do resultado hipertrófico nos flexores de cotovelo em função de dois tratamentos diferentes: fadiga e quebra de ritmo. O conteúdo deste trabalho aborda duas modalidades de tratamento hipertrófico, ajudando na busca de novos métodos e conceitos que visam proporcionar um resultado diferenciado para os praticantes da musculação. A conclusão trás no seu aspecto principal, alinhavada a hipótese previamente estabelecida, a não diferença significativa no resultado hipertrófico dos flexores do cotovelo, submetidos aos dois métodos de treinamento. O resultado obtido demonstra que mais estudos deviriam ser desenvolvidos nesta área, devido a grande quantidade de variáveis que existem inerentes ao processo de hipertrofia sarcoplasmática e ainda em função da pouca disseminação da execução do exercício norteado pelo controle rítmico. Palavras-chave – Hipertrofia, Fadiga, Ritmo de Execução, Flexores de Cotovelo. ABSTRACT This work had as objective to verify the hypertrophy answers of the flexors of the elbow, submitted the two protocols with different levels of requirement. The basic theory that supports the execution of this research was based on ACSM (2003), AYESTARÁN and BADILLO (2001), ASCENSION (2003), FLECK and KRAEMR (1999), REBEIRO (2005). With regard to the norms of elaboration of the work, the parameters had been based on ACSM (2003). The research was characterized for the inquiry of the hypertrophy result in the elbow flexors using of two different treatments: fatigue and execution rhythm. The content of this work approaches two modalities of hypertrophy treatment, helping in the search of new methods and concepts that they aim at to provide a result different for the people who workout. The conclusion in its main aspect, tacked the hypothesis previously established, not the significant difference in the hypertrophy result of the elbow flexors, submitted to the two methods of training. The result demonstrates that more studies would be develop in this area, because the great amounts of variables that still exist inherent to the process of sarcoplasmatic hypertrophy and because of the little dissemination of the execution of the exercise guided for the rhythmic control. Key-words – hypertrophy, Fatigue, Execution Rhythm, Elbow Flexors. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Processo de fadiga...................................................................... 32 Figura 2 – Participação dos sistemas energéticos durante exercício máximo em diferentes durações ................................................. 34 Figura 3 – Resumo das alterações produzidas TRP triptofano/AAN Aminoácidos Neutros através da manipulação dietética ............. 37 Figura 4 – Controle do ritmo de execução ................................................... 48 Figura 5 – Variáveis que interferem na hipertrofia........................................ 51 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Aumento de 1 - RM .................................................................... 53 LISTA DE SIGLAS AACR – Aminoácidos de Cadeia Ramificada ACSM – American College of Sports Medicine ADP – Adenosina Di-Fosfato ATP – Adenosina Tri-Fosfato AMP – Adenosina Fosfato Ca – Cálcio Cl – Cloro EMG – Eletromiografia FAF – Fadiga de Alta Freqüência FBF – Fadiga de Baixa Freqüência HT - Hidroxitriptamina IMF – Índice Muscular de Força IMP – Inosina Monofosfato K – Potássio Mg – Magnésio Na – Sódio NH3 – Amônia PC – Fosfocreatina Pi – Fosfato RM – Repetição Máxima RS – Reticulo Sarcoplasmático SNC – Sistema Nervoso Central UM – Unidade Motora UNI-BH – Centro Universitário de Belo Horizonte TPF – Triptofano TRP – Triptofano LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Dados dos voluntários ................................................................ 45 Tabela 2 – Resultado da pesquisa de campo .............................................. 50 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 12 1.1 OBJETIVO ......................................................................................................... 13 1.2 JUSTIFICATIVA................................................................................................... 13 1.3 HIPÓTESES ....................................................................................................... 14 2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 15 2.1 MÚSCULO ESQUELÉTICO ................................................................................... 15 2.1.1 Estrutura do músculo esquelético ................................................................... 15 2.2 MECANISMO DE CONTRAÇÃO MUSCULAR ............................................................. 15 2.3 TIPOS DE FIBRAS ............................................................................................... 16 2.3.1 Fibras lentas ................................................................................................... 17 2.3.2 Fibras rápidas ................................................................................................. 17 2.4 UNIDADE MOTORA ............................................................................................ 18 2.5 RECRUTAMENTO DAS UNIDADES MOTORAS ......................................................... 19 2.6 FREQÜÊNCIA DE DISPARO .................................................................................. 21 2.7 HIPERTROFIA .................................................................................................... 23 2.8 ADAPTAÇÃO NEURAL ......................................................................................... 25 2.8.1 Coordenação Intermuscular ........................................................................... 27 2.8.2 Coordenação Intramuscular ........................................................................... 28 2.9 VARIÁVEIS INTERVENIENTES............................................................................... 29 2.10 MECANISMOS DE FADIGA ................................................................................... 30 2.10.1 Fadiga Central ................................................................................................ 35 2.10.2 Fadiga Periférica ............................................................................................ 39 3 METODOLOGIA ............................................................................................. 45 3.1 AMOSTRA ......................................................................................................... 45 3.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ................................................................................... 45 3.3 INSTRUMENTO................................................................................................... 45 3.4 PROCEDIMENTOS .............................................................................................. 46 3.4.1 Pré-Testes ...................................................................................................... 46 3.4.2 Medição da força máxima............................................................................... 46 11 3.4.3 Treinamento de força...................................................................................... 47 3.4.4 Pós-Teste ....................................................................................................... 48 3.5 ESTIMATIVA DA COMPOSIÇÃO CORPORAL............................................................. 48 3.6 CUIDADOS ÉTICOS ............................................................................................ 49 4 RESULTADO E DISCUSSÃO ........................................................................ 50 5 CONCLUSÃO ................................................................................................. 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 55 12 1 INTRODUÇÃO O treinamento de força, também conhecido como treinamento com pesos ou treinamento com cargas, tornou-se uma das formas mais conhecidas de exercícios, tanto para o condicionamento de atletas como para melhorar a forma física de não atletas (FLECK e KRAEMER, 1999). Embora o desenvolvimento tecnológico tenha modificado a necessidade de se estar apto a produzir altos níveis de força para as diversas atividades diárias, a força é ainda uma das características físicas essenciais para a sobrevivência humana (KRAEMER e HAKKINEM, 2004). O treinamento com pesos ou musculação passou por uma extraordinária evolução nos últimos 50 anos. Segundo Fleck e Figueira Jr (2003), nas décadas de 30 e 40 era realizado quase exclusivamente por um pequeno número de atletas, em especial os levantadores de pesos olímpicos e fisiculturistas. Nos anos 50 e 60 os mitos de que o treinamento com pesos poderia prejudicar os ossos e tornar a pessoa mais lenta fisicamente mostraram-se infundados e, cada vez mais atletas passaram a adotá-lo como parte do programa de condicionamento físico geral. Durante as décadas de 70 e 80, o treinamento com pesos passou a ser incluído no programa de condicionamento não apenas de atletas, mas também de adeptos ao fitness de ambos os gêneros. Então, a partir de 1990, em conseqüência dos muitos benefícios para a aptidão física e para a saúde, pessoas de praticamente todas as faixas etárias passaram a praticar o treinamento com pesos, que começou a ser adotado também como atividade recreativa, tanto para crianças quanto idosos. Pelos vários benefícios que proporciona, sem duvida continuará com a popularidade em alta no novo milênio. O aumento na procura por esse tipo de treinamento foi causado, em grande parte, pela capacidade de oferecer vantagens à aptidão física e à saúde, que não podem ser facilmente obtidos pelos programas de treinamento aeróbico ou de flexibilidade. Além disso, a sua prática parece aumentar o desempenho tanto do atleta profissional quanto do amador, resultando em uma aparência saudável, aumentando o tônus muscular, a força, o volume muscular e a densidade mineral óssea, desempenha um importante papel na manutenção da taxa do metabolismo basal e, 13 dessa forma, pode ajudar a controlar o peso corporal (FLECK e FIGUEIRA JR., 2003). O princípio da sobrecarga estabelece que, para um tecido ou órgão melhorar sua função, deve ser exposto a uma carga à qual normalmente não esta acostumada. A exposição repetida a uma carga de trabalho esta associada com uma adaptação, por parte do tecido ou do órgão, que resulta em aprimoramento da capacidade funcional. Uma prescrição de exercício específica à intensidade, a duração e a freqüência do treinamento, sendo a interação dessas três variáveis que resulta na sobrecarga cumulativa à qual o tecido ou órgão terá que adaptar-se (ACSM, 2001). A hipertrofia muscular deve-se à hipertrofia de cada fibra muscular isoladamente, devido ao aumento das miofibrilas, das reservas de substrato e, correspondentemente, de sua secção transversal. Entretanto, deve-se notar que os diversos tipos de fibras – (tipo I e tipo II) são diferentemente requisitados, de acordo com o tipo de intensidade do treinamento (WEINECK, 1999). A hipertrofia sofre influência tanto dos hormônios quanto da nutrição, sendo as proteínas contráteis e o sarcoplasma renovado a cada sete a quinze dias. Tendendo ser mais efetiva nas fibras do tipo II, porém, verificada também nas fibras do tipo I. este fenômeno parece ser desencadeado conforme a exigência do treinamento, especialmente para os esforços máximos ou até se atingir a fadiga muscular (Ribeiro, 2005). 1.1 Objetivo Verificar as respostas hipertróficas dos flexores do cotovelo, submetidos a dois protocolos com diferentes níveis de exigência. 1.2 Justificativa Uma das recomendações para atividade (teste) entre os não atletas é que seja submáximas; porém, segundo Fleck, (!999) sugere que para uma maior hipertrofia muscular, as atividades sejam máximas (ACSM, 2000). Verificar a implicação no resultado hipertrófico ao se realizar uma série até a “quebra de ritmo de execução” e até a “falha concêntrica” (fadiga) na flexão do cotovelo (ACSM, 2003, FLECK e KREAMER, 1999). 14 1.3 Hipóteses H0: Não há diferença estatisticamente significativa entre a execução de series de flexão de cotovelo até a falha concêntrica (fadiga) e a execução do mesmo exercício até a quebra do ritmo de execução. 15 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Músculo Esquelético Segundo Powers e Howley (2000), o corpo humano contém mais de quatrocentos músculos esqueléticos voluntários, os quais representam 40-50% do peso corporal total. Segundo Powers e Howley (2000), O músculo esquelético tem 3 funções principais: (1) produção de força para locomoção e respiração (2) produção de força para sustentação postural e (3) produção de calor para exposição ao frio. As fibras musculares individuais são compostas por centenas de filamentos protéicos denominados miofibrilas. As miofibrilas contêm dois tipos principais de proteína contrátil: (1) actina (parte dos filamentos finos) e (2) miosina (principal componente dois filamentos espessos) (POWERS e HOWLEY, 2000). Os motoneurônios se estendem para fora a partir da medula espinhal e inervam fibras musculares individuais. O local onde o motoneurônio e a célula muscular se encontram é denominado junção neuromuscular. A acetilcolina é o neurotransmissor que estimula a fibra muscular à despolarização, sendo este o sinal para o início do processo contrátil (POWERS e HOWLEY, 2000). 2.1.1 Estrutura do músculo esquelético Para Ribeiro (2005) os músculos são subdivididos internamente por camadas de tecidos. O endomísio, o perimísio e o epimísio são fáscias que envolvem, respectivamente, as fibras, os fascículos (que são agrupamentos de fibras ou células musculares) e o músculo. A força gerada por uma unidade musculotendínea é uma combinação da energia gerada pelas pontes transversas com a energia elástica dos tecidos conectivos citados. 2.2 Mecanismo de contração muscular Segundo Ribeiro (2005) o mecanismo de contração muscular segue uma seqüência de eventos que se inicia com o disparo de um impulso elétrico, também denominado de potencial de ação (dependendo da sua magnitude) efetuado por um motoneurônio alfa. Esse mecanismo pode ser interrompido por eventos como: ausência de cálcio; aumento significativo de acidose; ausência de ATP; falta de 16 impulsos elétricos, entre outros. O mecanismo de contração obedece a seguinte seqüência. Potencial de ação; liberação de acetilcolina na fenda simpática; despolarização dos túbulos transversos; liberação do cálcio do retículo sarcoplasmático para o sarcoplasma; a troponina, por ter afinidade maior com o cálcio do que com a actina, resulta no desvio da tropomiosina que estava acoplada a actina, abrindo sítios de ligação da actina; deslizamento e acoplamento dos filamentos pela ligação forte da actina com a miosina produzida pelo fracionamento de ATP em ADP +Pi, provocando o encurtamento dos sarcômeros, enquanto houver impulso elétrico, ATP e cálcio fora do retículo sarcoplasmático (RIBEIRO, 2005). 2.3 Tipos de fibras Segundo Powers e Howley (2000) os tipos de fibras musculares podem ser divididos em três classes: fibras rápidas tipo II e fibras lentas tipo I baseadas em suas propriedades bioquímicas e contráteis. Existem duas categorias de fibra rápida: Tipo IIa e Tipo IIb. Powers e Howley (2000) afirmam ainda que, embora alguns grupos musculares sejam compostos, predominantemente, por fibras rápidas ou lentas, a maioria dos grupos musculares do corpo contém uma combinação igual de fibras lentas e rápidas. A porcentagem dos tipos de fibras contidos nos músculos esqueléticos pode ser influenciada pela genética, pelos níveis hormonais no sangue e pelos hábitos de exercício do indivíduo. Do ponto de vista prático, a composição da fibra dos músculos esqueléticos possui um papel importante no desempenho de eventos de força e de resistência. Devido às diferenças existentes nas proteínas que fazem parte do mecanismo contrátil, as fibras de contração rápidas (IIa e IIb) podem produzir mais força do que fibras de contração lenta (I). Além disso, as de contração rápida podem produzir potência máxima mais alta. Portanto, um atleta com uma maior proporção de fibras rápidas em sua musculatura, será consequentemente mais forte, mais rápido, mais potente do que uma pessoa que possua predominantemente fibras lentas. Isso pode ser observado com corredores de diferentes modalidades como exemplo os maratonistas, que possuem um alto percentual de fibras lentas, e na outra 17 extremidade os corredores de 100m rasos que possuem um alto percentual de fibras de contração rápida (KRAEMER e HAKKINEM, 2004). 2.3.1 Fibras lentas As fibras tipo I (também denominadas oxidativas, lentas ou fibras de contração lenta) contém muitas enzimas oxidativas (isto é, um grande volume de mitocôndrias) e são envolvidas por mais capilares do que qualquer outro tipo de fibra. Possuem concentração de mioglobina mais elevada do que as fibras rápidas (tipo II). A alta concentração de mioglobina, o grande número de capilares e a alta atividade enzimática mitocôndria fazem com que essas fibras possuam grande capacidade de metabolismo aeróbico e alta resistência à fadiga. Em termos de propriedades contráteis as fibras do tipo I possuem uma velocidade máxima de encurtamento mais lenta, em comparação com as fibras rápidas (tipo II). Além disso, elas parecem produzir menor tensão específica, em comparação com as fibras rápidas (POWERS e HOWLEY, 2000). 2.3.2 Fibras rápidas As fibras tipo IIb ( algumas vezes chamadas de contração rápidas ou glicolíticas rápidas) apresentam um número relativamente pequeno de mitocôndrias capacidade limitada de metabolismo aeróbico e são menos resistentes à fadiga, em relação às fibras lentas. No entanto, essas fibras são ricas em enzimas glicolíticas, as quais lhes provêem uma grande capacidade anaeróbica (POWERS e HOWLEY, 2000). A tensão específica das fibras tipo IIb é similar a das fibras tipo IIa, mas é maior do que a das fibras do tipo I. Além disso, a atividade da ATPase da miosina nas fibras tipo IIb é maior do que nos outros tipos de fibras, resultando na maior velocidade máxima de todos os tipos de fibras (POWERS e HOWLEY, 2000). As fibras tipo IIb são menos eficientes do que todos os outros tipos, em relação aos exercícios de resistência. Essa baixa eficiência se deve a alta atividade da ATPase, que acarreta maior consumo energético por unidade de trabalho realizado (POWERS e HOWLEY, 2000). 18 Um segundo tipo de fibra rápida é tipo IIa (também denominada fibra intermediária ou fibra glicolíticas oxidativa rápida). Essas fibras possuem características bioquímicas e de fadiga que se encontram entre as das fibras tipo IIb e tipo I. Por isso, conceitualmente as fibras tipo IIa podem ser vistas como uma mistura das características das fibras tipo I e tipo IIb, no entanto, as fibras tipo IIa são extremamente adaptáveis. Isto é, com o treinamento de endurance, elas podem elevar sua capacidade oxidativa a níveis iguais aos das fibras tipo I (POWERS e HOWLEY, 2000). Para Ribeiro (2005), o treinamento de hipertrofia aumenta a proporção de fibras tipo IIa, ao passo que o treinamento de força máxima favorece um aumento percentual de fibras do tipo IIb. 2.4 Unidade Motora Para que um músculo seja ativado é necessário que haja inervação. O músculo e seus nervos são considerados uma unidade neuromuscular. A função neuromuscular é controlada pelo sistema nervoso central. Um neurônio motor alfa e as fibras musculares que ele inerva são chamados de unidade motora. A unidade motora é o componente funcional básico do sistema neuromuscular (FLECK e KRAEMER, 1999). Segundo Hall (2000), as fibras musculares são organizadas em grupos funcionais de diferentes tamanhos. Um único neurônio motor é capaz de inervar várias fibras musculares formando assim a unidade motora. As fibras de uma unidade motora podem espalhar-se por vários centímetros podendo se encontrar com fibras de outras unidades motoras. Com raras exceções, as unidades motoras estão confinadas a um único músculo e localizadas dentro desse músculo (HALL, 2000). Para Hall (2000), uma única unidade motora pode conter desde menos de 100 a aproximadamente 2000 fibras, dependendo do tipo de movimento que o músculo executa. Os músculos do olho que são extremamente precisos, possuem pequenos números de fibras por unidade motora, já os movimentos mais amplos e vigorosos, como aqueles produzidos pelo gastrocnêmio, representam grandes unidades motoras (HALL, 2000). 19 2.5 Recrutamento das Unidades Motoras A unidade funcional básica do sistema neuromuscular é a unidade motora. Uma unidade motora é composta de um neurônio motor, que parte do sistema nervoso central para o músculo até um ponto em que seus axônios se dividem e se concentram à superfície das fibras musculares. O neurônio e as fibras por ele inervadas são chamados de unidade motora. Cada uma dessas unidades motoras pode conter dezenas ou até centenas de fibras musculares, cada músculo pode possuir centenas de unidades motoras. Para produzir uma determinada ação muscular, o cérebro “recruta” certo percentual de unidades motoras contidas em um músculo. Portanto, aumentar ou diminuir a quantidade de força produzida pelo o músculo, consiste em aumentar ou diminuir o recrutamento de unidades motoras (KRAEMER e HAKKINEM, 2004). Nem todas as unidades motoras de um determinado músculo têm a mesma chance de serem ativadas em um determinado nível de força, uma vez que um determinado músculo do corpo possua um misto de diferentes tipos de unidades motoras com capacidades específicas. Algumas delas são mais adequadas para produzir forças de altas intensidades em uma freqüência rápida sendo assim chamadas de fibras rápidas. Existem outras unidades motoras que tem características de resistência são especializadas em produzir força repetidamente por longo período de tempo e são conhecidas como fibras lentas. O ”principio do tamanho” determina que, em nível mais baixo de ações musculares, somente as unidades motoras lentas serão recrutadas; entretanto, à medida que aumentamos a força, um número maior de unidades motoras rápidas será recrutado (WILMORE e CONSILL, 2001). Além disso, é sabido também que em treinamentos explosivos para atletas de velocidade/potência, as unidades motoras rápidas podem ser recrutadas primeiro e as lentas inibidas, de forma a otimizar o desempenho das ações musculares rápidas (KRAEMER e HAKKINEM, 2004). Segundo Kraemer e Hakkinem (2004), o percentual de tipos de fibras musculares assim como o número e tamanho das fibras encontradas nos músculos de um atleta, ditará, em parte, as capacidades de força, potência, velocidade e resistência 20 aeróbica disponíveis sob recrutamento das unidades motoras. Baseado no princípio do tamanho o treinamento de força recruta ambos os tipos de fibras lentas e rápidas. Para Fleck e Kraemer (1999) a ativação das fibras musculares numa unidade motora deve ocorrer recrutando todas as unidades motoras ou então essa ativação das musculares não ocorre também conhecido como lei do tudo ou nada. Porém os músculos não se comportam dessa maneira, pois, para Fleck e Kraemer (1999), algumas unidades motoras podem ser ativadas no músculo, enquanto outras não. Sem este fenômeno, haveria pouco controle do corpo em relação à quantidade de força a ser produzida em função da carga a ser superada e, como conseqüência, um baixo controle dos movimentos corporais (FLECK e KRAEMER, 1999). Para Carrol et al. apud Souto Maior e Alves (2003), o recrutamento das unidades motoras é determinado, geralmente, pelo tamanho do motoneurônio, que se destaca por agrupar um número aproximado de 10 a 180 fibras por unidade motora de fibras lentas, e 300 a 800 fibras por unidade motora de fibras rápidas (WILLMORE e COSTILL, 1999). Uma das características do maior recrutamento dos motoneurônio é conhecido como principio do tamanho. Desta forma, o início do treinamento de força não estabelece a habilidade de recrutar uma porcentagem elevada de suas unidades motoras, e estas habilidades são fatores determinantes na aquisição de força muscular (FLECK e KRAEMER, 1997; SALE, 1987). Van Cutsen et al. (1998), observaram em seu estudo que, cinco homens realizando dez séries do exercício de dorsoflexão, durante doze semanas, recrutaram de forma ordenada (princípio do tamanho) as unidades motoras nas primeiras semanas de treinamento, passando a um maior recrutamento nas semanas seguintes (antes do treinamento 5,2% depois do treinamento 32,7%). O princípio do tamanho proporciona uma base anatômica para o recrutamento ordenado de unidades motoras específicas, a fim de produzir uma contração muscular uniforme, apresentando o recrutamento dos motoneurônio de forma crescente, do menor para o maior, (BEAR et al., 2002; FLECK et al, 1996; SALE, 1987). Em recente estudo. Aagaard et al. (2002) estudaram 14 homens destreinados, participantes durante 14 semanas de treinamentos de força, que envolveu exercícios intensos para o músculo solear, em que as medidas foram avaliadas por meio do dinamômetro isocinético. A conclusão destacou que a movimentação do motor central aumentou e ocorreu maior excitabilidade dos motoneurônio. Em outro estudo, Larson e Tesch (1998) descrevem que atletas, 21 porém, destreinados especificamente em relação ao treinamento de força, não realizaram tensão máxima no recrutamento de unidades motoras durante o início do treinamento. Um outro mecanismo que representa a adaptação neural é o aumento da estimulação de unidades motoras durante o treinamento de força (graduação de força). Este mecanismo é definido pelo fato de que, quanto maior o estímulo perto da tensão máxima, maior será o número de fibras mobilizadas para realizar aquela força determinada (SALE, 1992; 1987; ACSM, 2002; ENOKA e FLUGLEVAND, 1993) consequentemente um aumento na taxa de recrutamento dos motoneurônio (FLECK et al., 1996; CARROLL et al., 2001) apud Souto Maior e Alves (2003). De acordo com a literatura, os aumentos na atividade gravada através da eletromiografia (EMG) foram medidos depois do treinamento de força, em comparação à atividade do EMG antes do programa de treinamento, indicando que mais unidades motoras foram recrutadas (ENOKA, 1997; MCCOMAS, 1994). Assim, as unidades motoras se tornam ativas sob a influência dos impulsos que saem dos motoneurônios, mediante os quais as fibras musculares se contraem. A taxa dos impulsos do sistema nervoso aumentada faz com que as unidades motoras possam gerar mais força, tornando-se um outro exemplo da adaptação neural (VERKHOSHANSKI, 2001) apud Souto Maior e Alves (2003). 2.6 Freqüência de Disparo Segundo Ribeiro (2005), freqüência de disparo é a quantidade de vezes por unidade de tempo que os impulsos elétricos são enviados à junção neuromuscular. Para Sale apud Ribeiro (2005), uma unidade motora pode aumentar sua tensão gerada pelo aumento da quantidade de impulsos de disparados por segundo. Para cada tipo de fibra existe uma freqüência de disparo. Essa capacidade é treinada preferencialmente com cargas elevadas. Para Kreamer e Hakkinem (2004) as fibras musculares são ativadas por uma serie de impulsos elétricos transmitidos pelo neurônio. Aumentando essa freqüência de impulso, aumenta-se também a força que aquela a unidade motora é capaz de expressar em um determinado exercício. 22 Durante a execução de um exercício voluntário máximo observa-se uma freqüência de disparo maior quando comparados aos exercícios isométricos máximos (KREAMER e HAKKINEM, 2004). Para Kreamer e Hakkinem (2004), a alta freqüência de impulsos resultará em uma taxa aumentada de desenvolvimento de força e essa alta freqüência é registrada durante ações balísticas máximas. Segundo Ribeiro (2005), cargas acima de 85% de 1 RM na maior velocidade possível, permitem o desenvolvimento da força pela coordenação intramuscular. Segundo Enoka apud Ribeiro (2005), o tamanho do grupamento muscular influencia na freqüência de disparo (quanto maior mais sensível). Para Ribeiro (2005), o bíceps braquial da maioria dos indivíduos atinge seu recrutamento máximo com 50% da carga máxima, acima desse percentual a melhora vai ser na freqüência de disparo. A freqüência de disparo tem importante papel no treinamento de qualquer atleta ou praticantes de atividades com pesos, uma vez que na utilização de movimentos explosivos, ou seja, produzir a maior força possível no menor tempo, podem ser melhorados com o aumento da freqüência de disparo (AYESTARÁN e BADILLO, 2001). As conseqüências práticas para o treinamento da freqüência de disparo complementando (AYESTARÁN e BADILLO, 2001). • A força máxima e/ou rápida situa-se em freqüências e porcentagens de recrutamentos importantes. • Deve-se utilizar, portanto, cargas pesadas para alcançar essas freqüências elevadas (50 a 60 Hz) e recrutar fibras do tipo 2A e 2B. • É igualmente necessário desenvolver uma força importante em um tempo muito curto; portanto, deve-se elevar cargas pesadas muito rapidamente, o que exigira freqüências ainda mais elevadas (até 100Hz). • Devem-se utilizar movimentos explosivos; pois com eles, com ou sem cargas adicionais, pode-se conseguir, em tempos muito breves (100 ms), freqüências 23 que chegam até 150 Hz. Com isso, consegue-se a manifestação mais alta de força, em função da resistência a ser vencida, e o IMF máximo. • Portanto, as cargas muito pesadas ou do tipo explosiva parecem interessantes para melhorar a freqüência de estímulo e recrutamento das unidades motoras das UMs no esportista. • O treinamento isométrico produz o recrutamento máximo e a freqüência de estímulo mínima para que cada alcance sua força máxima; mas, dadas as discrepâncias entre esse sistema e o de caráter concêntrico explosivo, na prática nunca deveria ser utilizado o regime isométrico sozinho, mas, sim, uma combinação de ambos por meio do ciclo de treinamento: isso obrigaria o músculo experimentar estímulos diferentes, o que levaria a uma adaptação superior. (AYESTARÁN e BADILLO, 2001). 2.7 Hipertrofia Segundo Ribeiro (2005) a hipertrofia é um aumento da área de seção transversal das fibras musculares, principalmente nas fibras tipo II, aumentando os filamentos de actina e miosina e da adição de novos sarcômeros. Para Platonov (2004), a hipertrofia das fibras musculares do tipo I está relacionada ao aumento de tamanho e do número das miofibrilas e à densidade das mitocôndrias, comporta um aumento de peso específico na massa muscular das fibras do tipo I, e como conseqüência, um aumento um aumento da resistência e uma diminuição das capacidades de velocidade dos músculos. Por outro lado, a hipertrofia das fibras do tipo II conduz um aumento de seu peso específico no músculo em comparação com as fibras do tipo I e ajuda a aumentar a potência muscular (DE VRIES e HOUSH, 1994 apud PLATONOV, 2004). Nesse caso, o caráter da carga determina quais são as fibras musculares que sofrem as mudanças mais importantes. A hipertrofia muscular está relacionada com uma série de mudanças, dentro das quais cabe citar o aumento dos filamentos de miosina e do número de miofibrilas e de capilares sanguíneos na fibra (PLATONOV, 2004). 24 A hipertrofia deve acontecer somente com estímulos em, exercícios com números de repetições entre 8 a12, com uma intensidade média de 40-60% da força máxima em pessoas não treinadas e 60-80% da força máxima em pessoas treinadas (WEINECK, 2003). Velocidade dos movimentos: movimentos lentos e sem interrupção para que haja crescimento máximo da massa muscular; ou ainda velocidade moderada. Séries: 3 a 5 para iniciantes, 5 a 8 para atletas de bom desempenho. Pausas entre as séries: 1 a 2 minutos. (weineck, 2003), contrapondo o autor (Kraemer 2004) sugere que o grau de hipertrofia final pode ser obtido pela realização de repetições múltiplas 6 a 12 em cada série até a falha concêntrica, com curtos períodos de recuperação entre as séries. Para Fleck e Kraemer (1999) a hipertrofia pode variar de músculo para músculo. Kreamer et al, (1995) apud Fleck e Kraemer (1999) complementam afirmando que o total de crescimento depende do tipo de fibra muscular e do padrão de recrutamento. O sarcoplasma nas fibras musculares está constantemente mudando e se renovando a cada 7-15 dias segundo Goldspink (1992). O treinamento de força influencia este processo afetando a qualidade e quantidade de proteínas contráteis que são produzidas. Segundo Fleck e Kraemer (1999), para se obter hipertrofia muscular é necessário um treino de força pesado para que mudanças nos tipos de proteínas contráteis, comecem a aparecer após algumas sessões de treinamento. Estudos com jovens estudantes demonstraram que após nove semanas de treinamento com cargas em diferentes exercícios realizados três vezes por semana utilizando dez a doze repetições demonstraram um aumento significativo de capilares nas fibras tanto do tipo I quanto as do tipo II. O treinamento teve eficácia no aumento da seção transversa (hipertrofia) dos músculos trabalhados (MC CALL et al., 1996). Conforme o passar do treinamento, a quantidade de proteínas contráteis começa a aumentar, aumentando também a área da seção transversa das fibras musculares (FLECK e KRAEMER, 1999). 25 Para que se tenha uma quantidade significativa de hipertrofia é necessário um treinamento por um período mais longo, pois para Fleck e Kraemer (1999), programas de curto prazo (4 a 8 semanas) podem não resultar em mudanças muito grandes no tamanho dos músculos. De acordo com o tipo de treinamento as fibras do tipo IIb são estimuladas, começando um processo de transformação em direção as fibras do tipo IIa que são as que mais geram hipertrofia muscular, devido à mudança na qualidade das proteínas e pela expressão de diferentes quantidades e combinações de tipos de mTPAases (FLECK e KRAEMER, 1999). A transformação do tecido muscular com o exercício pesado de força é uma função do programa e das mudanças subseqüentes nas proteínas contráteis. Todas as fibras parecem hipertrofiar-se, mas não na mesma extensão. Parece que com as fibras do tipo II o processo envolve um aumento na taxa de síntese protéica, e com as fibras musculares do tipo I uma diminuição na taxa de degradação (GOLDSPINK, 1992 apud FLECK e KRAEMER, 1999). programas pesados de treinamento de força em seres humanos parecem hipertrofiar tanto fibras do tipo I quanto fibras do tipo II (PATTON et al., 1995; STARON et al., 1991, apud FLECK e KRAEMER, 1999). As fibras do tipo II conseguem maiores ganhos relativos quando comparadas às fibras musculares do tipo I, tanto em seres humanos como em animais (EDGERTON, 1978; GONYEA e SALE, 1982; PATTON et al. 1995, apud FLECK e KRAEMER, 1999). A hipertrofia e a transformação do tipo de fibra tipo II e os capilares por unidade de área de fibra são afetados pelo tipo de ação muscular e pelo voluma de treinamento (FLECK e KRAEMER, 1999). O padrão de recrutamento neural e a quantidade de tecido muscular recrutado determinam se ocorrem mudanças apenas celulares ou no músculo todo. Quando uma quantidade suficiente de músculo é afetada, a composição do corpo será alterada no indivíduo treinado em força. A quantidade de massa muscular obtida e a transformação de fibra decorrente de um programa de treinamento de força também serão afetadas pelo potencial genético do indivíduo (FLECK e KRAEMER, 1999). 2.8 Adaptação Neural 26 Um estímulo muscular é desenvolvido na parte superior do cérebro e é transmitida ao córtex motor, onde um estímulo para a ativação do músculo é enviado ao controlador de nível mais baixo (medula espinhal ou tronco cerebral). Daí a mensagem é passada para unidade motora para que seja ativada a musculatura que está sendo solicitada em um determinado exercício (FLECK e KRAEMER, 1999). As unidades motoras ativadas satisfazem uma quantidade de força que necessita ser superada. O cérebro através de feedback “ajusta” a quantidade de unidades motoras a serem mobilizadas para a execução ou superação de uma determinada força ( FLECK e KRAEMER, 1999). Varias adaptações decorrentes do treinamento de força podem ser observados nas comunicações entre as muitas partes do sistema neuromuscular. As diferenças na ativação neural dos programas de treinamento de força variadas podem produzir distintos tipos de adaptações, tal como aumentos em força com pouco aumento de hipertrofia muscular ( FLECK e KRAEMER, 1999). O grau em que uma pessoa pode, voluntariamente, ativar os músculos - fluxo neural voluntário máximo pode depender da ativação do músculo em questão, do tipo e tempo (velocidade) da ativação e do estado de treinamento do indivíduo. Além disso, a co-ativação dos músculos antagonistas exerce um papel especifico na determinação da produção de força final dos agonistas envolvidos (KREAMER e HAKKINEM, 2004). Inúmeros fatores, como o tipo e a intensidade de diversos exercícios e a duração do período do treinamento de força determinam a natureza e a amplitude das adaptações funcionais e estruturais no sistema neuromuscular induzidas pelo treinamento (KREAMER e HAKKINEM, 2004). Para Souto Maior e Alves (2003), a força é caracterizada pela habilidade do sistema nervoso de ativar os músculos envolvidos em movimentos específicos. Em conseqüência, os ganhos de força originam-se dentro do sistema nervoso pelo fato da ocorrência das adaptações neurais (MORITANI e DEVRIES, 1979; ENOKA, 1997; MCCOMAS, 1994; CARROLI et al., 2001). A adaptação neural pode ser mal interpretada ou negligenciada, ao projetar programas de treinamento. Quando um indivíduo começa a treinar com pesos, a adaptação preliminar que experimentará 27 será a neurológica. Enoka (1988) discute que os ganhos da força nas primeiras sessões de treinamento com pesos não se deve, necessariamente, a ganhos estruturais no tamanho do músculo, mas não sem a ocorrência das adaptações neurais. O aumento inicial de força muscular se deve primariamente ao aumento da aprendizagem motora ao invés da hipertrofia muscular. Seguindo essas conclusões o ACSM (2000) estudou através de grupos de pessoas destreinados para executarem oito semanas de treinamento com peso e observaram que com o passar do treinamento, os sinais eletromiográficos aumentavam cada vez mais com o passar da pesquisa e esse aumento da atividade eletromiográfica provocava aumentos da força máxima nos indivíduos conclui-se que os aumentos de força muscular se devem muito mais pelas adaptações neurais do que pela hipertrofia muscular nessa fase inicial de treinamento com pesos, uma vez que com o passar das sessões de treinamento, o aumento de força muscular é dada pela hipertrofia muscular. Destaca-se também a importância de se treinar através da amplitude muscular, pois este tipo de exercício apresenta um efeito predominantemente de maior ativação neural, com isso beneficiando a velocidade angular (BABAULT et al., 2003). Assim Sale, apud Souto Maior e Alves (2003), afirmam que existe uma relação do aumento de força muscular através da adaptação neural e a hipertrofia. 2.8.1 Coordenação Intermuscular Para Ribeiro (2005), a coordenação intermuscular é a inteiração cooperativa entre músculos agonistas, antagonistas, estabilizadores e neutralizadores, para a execução de um determinado movimento com maior eficiência mecânica. A coordenação intermuscular é uma variável que parece ser maior quando medida no meio em que foi desenvolvida (Princípio de Especificidade). Para Ribeiro, (2005) à medida que a técnica de um movimento vai sendo aprimorado, com o passar do treinamento e pelas repetições desse mesmo movimento há um fenômeno progressivo de adaptação dos músculos antagonistas a um determinado movimento, reduzindo a magnitude das contrações que estes têm que gerar em função da ação dos agonistas. 28 Um dos métodos mais utilizados para medir a atividade de um músculo na contração muscular é a eletromiografia. Esse método pode auxiliar na quantificação da atividade muscular que esta sendo exercida por uma determinada musculatura. (RIBEIRO, 2005). A maior parte dos ganhos durantes as semanas iniciais de treinamento de força em homens e mulheres não treinados acontece por causa das adaptações das vias neurais facilitadoras e/ou inibidoras que agem em diversos níveis do sistema nervoso. Isso também é verdade para atletas que não tenham participado anteriormente de um programa de força. Com o treinamento de força altera a quantidade e a qualidade da ativação: aumentando a ativação dos agonistas e/ou redução na co-ativação dos antagonistas e/ou aumentando a co-ativação dos sinergistas (KREAMER e HAKKINEM, 2004). Um aumento na ativação máxima dos agonistas é, sem dúvida, um fenômeno desejável que ocorre durante o treinamento de força em atletas submetidos a tal. O sinal eletromiografico teve um aumento após sessões periódicas de treinamento de força esse fenômeno sugere que o numero de unidades motoras recrutadas e/ou sua freqüência de disparo aumentaram. O treinamento também pode levar a diminuição na co-ativação dos antagonistas, contribuindo para o desenvolvimento de força dos músculos agonistas (KREAMER e HAKKINEM, 2004). 2.8.2 Coordenação Intramuscular A coordenação intramuscular consiste em melhorar os processos que facilitam a produção de força como, recrutamento, freqüência de estímulos, sincronização e atividade reflexa do músculo, bem como a redução dos mecanismos inibidores da tensão muscular máxima. Quando se escolhe essa via para o desenvolvimento da força, o objetivo do treinamento é ensinar o esportista a recrutar todas as unidades motoras necessárias para uma freqüência ótima a fim de conseguir a contração máxima. A freqüência de estímulo é um mecanismo complementar a esse recrutamento, com isso, a combinação de ambos permite a gradação da força: diante de um mesmo recrutamento, com mais freqüência de estímulo, maior é a produção de força e potência e mais rapidamente consegue-se a força máxima (AYESTARÁN e BADILLO, 2001). 29 Segundo Ribeiro (2005), com o treinamento de força, as Unidades Motoras de um músculo são ativadas forma mais coordenada, necessitando de uma ativação menor para produzir a mesma força. Um aumento gradual da força ocorre em função de um recrutamento crescente de um número cada vez maior de unidades motoras, sendo estas cada vez mais fortes e finalmente encontram-se as unidades motoras mais fortes, as fibras IIb (WEINECK 1999). Para Souto Maior e Alves (2003), a coordenação intramuscular surge como um dos fatores decorrentes da adaptação neurogência e vem mais uma vez elucidar a função representada pelas unidades motoras nesse processo. A melhora da ativação das unidades motoras é justamente o que permite uma das primeiras alterações adaptativas no sistema neuromuscular (BACURAL et al., 2001). Quanto à melhoria das funções neuromusculares, Weineck (1999) destaca que o aumento da capacidade de um músculo em mobilizar um maior número de unidades motoras causa o aumento da capacidade de se desenvolver força de contração. Segundo Souto Maior e Alves (2003), a ocorrência da coordenação intramuscular se dá na fase da adaptação neural, quando se verifica o aumento da solicitação das unidades motoras. A justificativa para esse fato é que indivíduos não treinados não são capazes de recrutarem todas as unidades motoras exigidas para um determinado movimento ou exigência, em comparação a atletas treinados. Em se tratando de indivíduos treinados e destreinados Weineck (1999) mostra que os treinados são capazes de ativar simultaneamente mais unidades motoras de um músculo. Ao contrario, indivíduos não treinados não conseguem ativar “todas” as suas unidades motoras ativando assim só um percentual de suas fibras, ou seja, “fibras musculares ativáveis” conseguindo então um menor nível de força em relação aos indivíduos treinados. 2.9 Variáveis Intervenientes Segundo Shimidtbleicher apud Ribeiro (2005), o ritmo de execução sofre influência do comprimento e tensão do músculo. Este modelo tem como finalidade ilustrar a relação da força gerada em função do tempo que esta tem para se manifestar. Conforme a magnitude da intensidade nosso sistema muscular precisa de um 30 determinado tempo para recrutar as unidades motoras necessárias para uma determinada geração de força. Assim, podemos perceber a importância do controle da velocidade com que um movimento será executado. Para Ribeiro (2005), o ritmo de execução por si só não determina a condição de trabalho muscular. Deve-se, porém, considerar a quantidade de energia despendida para um movimento ao tentarmos inferir sobre o recrutamento das unidades motoras. Em estudos realizados, Barbosa e Chagas (1999), estudaram a influência do ritmo de execução nas equações preditivas de 1-RM. Em seu estudo, quinze homens e quinze mulheres foram submetidos a um protocolo de repetições máximas, controlando-se o ritmo de execução das fases excêntricas e concêntricas de forma que cada fase fosse executada em 6 segundos, implicando um tempo de doze segundos para cada repetição. Os resultados encontrados foram diferentes dos valores de outros estudos. As diferenças são explicadas por diversos fatores; entretanto, os autores sugeriram que o ritmo de execução foi determinante para justificar as diferenças encontradas. Segundo Fleck e Kraemer (1999), com o treinamento de força, o músculo esta mais forte em todas as velocidades de movimento desde uma ação isométrica ate uma ação realizada em velocidade máxima. Porém, existe discordância entre os estudiosos e treinadores com relação à velocidade ou ritmo ótimo na execução de um determinado exercício. Segundo Fleck e Kraemer (1999), a velocidade na qual o treinamento é realizado aponta para algumas conclusões importantes. Se o programa de treinamento prescreve apenas uma velocidade de movimento, essa deve ser uma velocidade intermediária. Qualquer velocidade de treinamento aumenta a força em uma extensão acima ou abaixo da velocidade de treinamento. O treinamento específico de velocidade pode ser necessário para o desempenho ótimo em alguns esportes que necessitam dessa especificidade. 2.10 Mecanismos de Fadiga 31 A fadiga muscular tem-se revelado como um dos tópicos centrais na investigação em fisiologia do exercício. Uma das principais características do sistema neuromuscular é a sua capacidade adaptativa crônica, uma vez que o sujeito pode adaptar-se às exigências funcionais, a um estímulo como à imobilização, o treinamento ou perante o efeito do envelhecimento. Da mesma forma, consegue adptar-se a alterações agudas, tais como as associadas ao exercício prolongado ou intenso, sendo uma das mais conhecidas o fenômeno habitualmente referido como fadiga muscular (ASCENSÃO et al., 2003). A incapacidade do músculo esquelético de gerar elevados níveis de força muscular ou manter esses níveis no tempo designa-se por fadiga neuromuscular (ASCENSÃO et al., 2003). A fadiga muscular pode ser definida como qualquer redução da capacidade do sistema neuro-múscular de gerar força. O mecanismo responsável pela capacidade da geração de força vai variar de acordo com a demanda da atividade. A fadiga ocorre quando existe uma depleção de substratos metabólitos envolvidos na contração muscular (MARTIN et al., 2001). Os mecanismos de fadiga pode ser desencadeados por uma serie de fatores, tais como tipo de músculo envolvido em uma ação motora, duração de uma contração muscular nível de sobrecarga e tipo de tarefa realizada (ENOKA, et al. apud GARCIA et al., 2004). A fadiga muscular depende do tipo, duração e intensidade do exercício, da tipologia das fibras musculares recrutadas, do nível de treinamento do sujeito e das condições ambientais da realização do exercício e ela tem sido associadas ao declínio de força muscular gerada durante e após os exercícios sub-máximos e máximos (ASCENSÃO et al., 2003). 32 Figura 1 – Processo de fadiga (adaptado de Lehmann et al. apud Rossi e Tirapegui, 1999). Este fenômeno encontra-se ainda relacionado com determinadas alterações de alguns parâmetros eletromiograficos (EMG), nomeadamente durante contrações musculares isométricas e dinâmicas máximas e sub-máximas, bem como com a variação das concentrações intra e extracelulares de alguns metabólicos e íons. A fadiga tem sido igualmente sugerida como um mecanismo de proteção contra possíveis efeitos deletérios da integridade da fibra muscular esquelética. Outros estudos sobre fadiga têm sido realizados no âmbito da recuperação funcional de sujeitos com patologias ou lesões em determinadas estruturas do sistema nervoso e em patologias neuromusculares (ASCENSÃO et al., 2003). Estudos com diferentes níveis de fadiga 25, 50 e 75% de 1RM, demonstraram que a velocidade de condução dos potenciais de ação das unidades motoras, sofreu modificações em diferentes níveis de carga de trabalho. A 50 e 75% do RM foi observado uma queda abrupta da velocidade de condução de potencial de ação de 33 unidades motoras em comparação a 25% do RM. Esses resultados mostram que a redução do pH intracelular, fundamental na permeabilidade da membrana celular e que pode ser decorrente de uma diminuição no aporte sangüíneo pelo aumento no tempo e no nível de contração (GARCIA et al., 2004). A fadiga envolve uma complexidade de mecanismos relacionados com sustentação de uma contração muscular, comprimento do músculo, alterações bioquímicas no interior da célula muscular, duração da contração, nível de sobrecarga, tipo de tarefa executada e motivação. Estas variáveis poderão conduzir a diferentes tipos de estratégias sobre o padrão de recrutamento e variação em freqüência dos potenciais de ação de unidades motoras (ENOKA et al., GANDEVIA, MURTHY et al. apud GARCIA et al., 2004). Tanto a fadiga central como a periférica podem ocorrer em indivíduos que se exercitam em alta intensidade (DAVIS, BAILEY, apud ROSSI, TIRAPEGUI, 2004). As modificações nutricionais envolvendo principalmente carboidratos, proteínas e aminoácidos, podem, junto com outros fatores, alterar a neuro-quimica cerebral (DAVIS, BAILEY, apud ROSSI, TIRAPEGUI, 2004). Assim a fadiga central pode ser tanto relacionada à nutrição como certas desordens como depressão, síndrome prémenstrual, insônia (LIEBERMAN et al. apud ROSSI, TIRAPEGUI, 2004). As alterações do pH, da temperatura e do fluxo sanguíneo, acúmulo de produtos do metabolismo celular, particularmente dos resultantes da hidrólise do ATP (ADP, AMP, IMP, Pi, NH3), a perda da homeostasia do íons Ca+, o papel da cinética de alguns iãos nos meios intra e extracelulares nomeadamente, o K, Na, Cl, Mg, a lesão muscular, principalmente induzida pelo exercício com predominância de contrações excêntricas e o estress oxidativo têm sido algumas das causas sugeridas para a fadiga muscular (ASCENSÃO et al., 2003). 34 Figura 2 – Participação dos sistemas energéticos durante exercício máximo em diferentes durações (adaptado de Mccardle et al. apud Rossi e Tirapegui, 1999). Para Santos, Dezan e Sarraf (2003), a fadiga muscular pode ser classificada conforme o período de sua aparição em aguda, subaguda, e crônica. A fadiga aguda pode ser caracterizada como uma alteração na produção de força esperada em conseqüência da deterioração de um ou vários processos responsáveis pela exitação-contração-relaxamento muscular ocasionando uma diminuição da freqüência de ativação muscular, podendo ocorrer em nível de neurônio ou do motoneurônio como conseqüência de diferentes fatores: Hipoglicemia substancias tóxicas como o íon de amônia e alterações na captação de aminoácidos para a síntese de neurotransmissores. É possível que haja uma diminuição do neurotransmissor (acetilcolina) ou uma falha na propagação do pontecial de ação pela atuação da acetilcolina sobre a membrana pós-simpática. Existindo assim uma alteração na propagação do potencial de ação desde a via nervosa (SANTOS, DEZAN e SERRAF 2003). Para Ascensão et al. (2003), o papel da fadiga neuromuscular na variação da proprioceptividade e do controle motor tem sido, também, a par da influência da idade, só sexo dos sujeitos e da manifestação dos padrões de ativação e coativação de alguns grupos musculares. A fadiga muscular pode resultar de alterações da 35 homeostasia no próprio músculo esquelético, resultado de um decréscimo da força contrátil, independentemente da velocidade de condução do impulso neural (fadiga com origem predominantemente periférica). Pode ser também de origem central, traduzida por uma redução progressiva da velocidade e freqüência de condução do impulso voluntário aos motoneurônio durante o exercício. 2.10.1 Fadiga Central Para Santos, Dezan e Sarraf (2003), o mecanismo de fadiga central relaciona-se aos processos de formulação de padrões motores, transmitindo estes, ao longo do córtex cerebral, cerebelo e junções simpáticas a específicos nervos eferentes dentro da corda espinhal. Esta fadiga pode provir de uma ou mais estruturas nervosas envolvidas na produção ou manutenção do controle da contração muscular. A fadiga central pode ocorrer em nível supra-espinhal, por meio da inibição aferente, desde os fusos neuromusculares, nas terminações nervosas, depressão da excitabilidade do motoneurônio e falhas na sinapse. A maioria dos circuitos neurais utilizados em excesso pode desenvolver uma depressão na sensibilidade destes, sendo verificado em estudos com modelos animais uma diminuição progressiva na força de contração muscular no circuito reflexo-flexor com o aumento de intensidade e período de excitação (SANTOS, DEZAN e SERRAF 2003). A fadiga de origem central pode ser traduzida numa falha voluntária ou involuntária na condução do impulso que promove uma redução do número de unidades motoras ativas e uma diminuição da freqüência de disparo dos motoneurônio (ASCENSÃO et al., 2003). O possível papel do sistema nervoso central (SNC) na origem da fadiga é, habitualmente, estudado com recurso a técnica designada por contrações interpoladas. Neste estudo, a força máxima que o sujeito consegue gerar, voluntariamente, é comparada com a força produzida supra-máxima por eletroestimulação exógena do nervo motor ou do próprio músculo (ASCENSÃO et al., 2003). 36 Alguns estudos realizados pareciam demonstrar que em sujeitos treinados e motivados, a superimposição de um estimulo elétrico supramáximo não se traduzia, habitualmente, num aumento de força em músculos isolados durante a fadiga. Através desse episodio pode-se concluir que o decréscimo da atividade nervosa na condução dos impulsos e, por isso, do sistema nervoso, não representava um fator conducente a instalação de fadiga muscular (ASCENSÃO et al., 2003). Contudo, estudos mais recentes parecem evidenciar a existência de um feedback sensorial que inibe a taxa de descarga dos motoneurônio durante a fadiga, justificando a importância dos mecanismos centrais na manutenção de um determinado nível de força. Esta inibição poderá resultar de um mecanismo de feedback reflexo proveniente dos mecanorreceptores, normalmente dos fusos neuro-musculares e/ou dos órgãos tendinosos de golgi ou das terminações nervosas do tipo III e IV, que parecem ser sensíveis à acumulação de alguns metabólitos a nível muscular durante o exercício (ASCENSÃO et al., 2003). Técnicas recentes, utilizando estimulação eletromagnética transcraniana têm, igualmente, fornecido evidências acerca do papel dos mecanismos superiores do SNC na fadiga, particularmente na diminuição da atividade cortical, na condução corticoespinhal do impulso nervoso, bem como na ativação de áreas cerebrais conducentes a maior produção de dopamina. Efetivamente foi identificado por Gandevia et al. (1992) que os níveis de ativação começam a ser insuficientes, a força gerada pelos músculos flexores do cotovelo pode ser incrementado através da estimulação do córtex motor ou do nervo motor, o que sugere um envolvimento das referidas estruturas na gênese dos mecanismos associados à fadiga com origem central (ASCENSÃO et al., 2003). Adicionalmente tem-se estudado a relação entre o tempo de exercício até a exaustão e a variação da síntese e libertação cerebral de alguns neurotransmissores, normalmente associados a estados/fatores de natureza psicológica como a motivação, a atenção, o humor, e a depressão e também a coordenação neuromuscular. Deste modo têm sido estudadas as alterações da razão serotonina/dopamina, o papel da cafeína enquanto bloqueador dos receptores da adenosina (potente inibidor dos mecanismos de excitação do SNC) em exercícios de longa duração e as conseqüências da administração de diferentes dosagens de alguns aminoácidos de cadeia ramificada (AACR) (leucina, isoleucina e valina) quer 37 enquanto inibidores do aumento da síntese cerebral de serotonina (5- hidroxitriptamina (5-HT)-o metabólitos mais freqüente) devido o aumento das concentrações plasmáticas cerebrais de triptofano (TRP), quer no aumento da toxicidade cerebral, induzida pelo aumento das concentrações de amônia plasmática. (ASCENSÃO et al., 2003). O TRP pode ser encontrado no plasma sobre duas formas. Uma ligada à albumina e a outra de forma livre. Durante a realização de exercícios prolongados este equilíbrio parece ser alterado a favor da forma livre, uma vez, que, por estimulação da lipólise, quando a concentração de ácidos graxos livres aumenta acima de 1mM, estes se se ligam à albumina, contribuindo para o aumento das concentrações de TPF livre, forma sobre a qual estes aminoácidos é transportado através da barreira hemato/encefálica. Com isso ocorre um aumento da concentração de TPF cerebral, aumentando assim as concentrações de serotonina através de sua maior síntese. Sendo assim, uma vez que os AACR e o TPF concorrem pela entrada no cérebro pela mesma via a suplementação ergogénica com este tipo de aminoácido é referida por alguns autores como benéfica no atraso da fadiga em exercícios de longa duração (KREIDER et al. 1993, NEWSHOLME et al., 1992). Figura 3 – Resumo das alterações produzidas TRP triptofano/AAN Aminoácidos Neutros através da manipulação dietética (adaptado por Lyons e Truswell apud Rossi e Tirapegui, 1999) 38 A influência de ingestas ricas em hidratos de carbono na diminuição da razão TRP livre/AACR e o eventual papel dos níveis plasmáticos de colina na síntese de acetilcolina tem sido igualmente estudado com relação à fadiga de origem central. Suplementos ricos em hidratos de carbono parece atrasar a manifestação da fadiga de origem central, uma vez que poderá promover, durante o exercício prolongado, um aumento dos níveis de glicose plasmática com uma conseqüente redução relativa das concentrações de ácidos gordos plasmáticos ligados a albumina. Parecendo favorecer um incremento das concentrações de TPF ligado à albumina, sendo assim uma diminuição das concentrações de TPF livre, com conseqüente diminuição da razão TPF livre/AACR e da produção de 5-HT (DAVIS, BAILEY, 1997). Farris et al. (1998), confirmaram a ação do TPF enquanto potente agente de fadiga com origem central ao verificarem que infusões deste precursor é estimulador da síntese cerebral de serotonina e promoveram reduções na performance de resistência em cavalos e, por isso, se apresentam consistentes com a hipótese de fadiga de origem central. O triptofano é um aminoácido essencial tanto para humanos como animais, porém sua importância não se restringe apenas à contribuição no crescimento e síntese protéica. Como precursor da serotonina cerebral, o triptofano exerce papel fundamental em diversos mecanismos fisiológicos e comportamentais como sono, depressão, ingestão alimentar, fadiga, entre outros. Em relação a atividade física, há envolvimento do triptofano tanto em exercícios de longa como de curta duração. Nos exercícios de longa duração, foi proposto o mecanismo da “hipótese da fadiga central” que se encontra ate agora inexplorado. As dificuldades no estudo da determinação da serotonina residem na obtenção da sua concentração cerebral e de seus metabolitos. Ainda assim, há evidências indiretas de seu papel dentro do desenvolvimento de fadiga associada a esportes de longa duração (ROSSI, TIRAPEGUI,1999, 2004). Outro neurotransmissor normalmente relacionado com a produção de força muscular é a acetilcolina. A taxa de síntese de acetilcolina é determinada pela disponibilidade de seu percussor, a colina. Embora não seja definitiva a sua associação à fadiga de origem central ou periférica, as reduções nas concentrações plasmáticas de colina 39 têm sido recentemente relacionadas com o início da fadiga em exercícios de longa duração (DAVIS e BAILEY apud ASCENSÃO et al., 2003). Contudo, num estudo conduzido por Spector et al a suplementação oral com bitartrato de colina não induziu incrementos, quer no tempo de exercício até a exaustão, quer nos níveis plasmáticos de colina. 2.10.2 Fadiga Periférica Para Ascensão et al. (2003), a fadiga periférica pode ser subdividida em: fadiga de baixa freqüência (FBF) e fadiga de alta freqüência (FAF), sendo evidente algumas particularidades que as diferencia. Assim, a FBF caracteriza-se por uma acentuada diminuição da força gerada pelas fibras, quando estimuladas em baixa freqüência (10-30Hz), comparativamente com freqüências de estimulação elevadas (100Hz); por uma recuperação lenta de força e pela persistência de sinais de fadiga (expressa na diminuição de cerca de 15-20% da tensão máxima gerada pela fibra a partir da primeira hora de recuperação) na ausência de significativos distúrbios elétricos ou metabólicos. No entanto esse tipo de fadiga não é causado apenas pela realização de exercícios com baixa freqüência de estimulação (BINDER et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). Efetivamente, a FBF é, fundamentalmente, caracterizada pela a duração de sua manifestação (horas ou dias), sendo a designação “long lasting fatigue” (BINDER et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). A recuperação da FBF está, provavelmente, relacionada com a taxa de turnover protéico necessário para a reparação das estruturas protéicas musculares lesadas durante e após o exercício. Segundo Binder et al. apud Ascensão et al. (2003), a perda da homeostasia celular do íon Ca+, particularmente o seu aumento citoplasmático, parece ser uma das causas mais prováveis de FBF). Verificaram ainda, que o papel do íon Ca+ na fadiga tem, pelo menos, dois componentes: um componente metabólico, relacionado à glicose na recuperação da primeira hora e o outro componente dependente da elevação das concentrações intracelulares Ca+, cuja recuperação é mais lenta. Assim, após o exercício, a dificuldade de recaptação do Ca+, pode conduzir, em repouso, a uma elevação das concentrações no citoplasma deste íon, contribuindo para acentuá-lo das alterações funcionais do 40 Retículo Sarcoplasmático - RS (WILLIAMS, et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). Estes autores observaram uma diminuição da captação do Ca+ e da atividade das ATPases do RS de 46 e 21% respectivamente, em fibras musculares desmembranadas fatigadas, o que conduz ao aumento dos íons Ca+. Lamb e Cellini apud ASCENSÃO et al (2003) verificaram uma diminuição da funcionalidade do RS de fibras musculares desmembranadas quando as Ca+ eram elevados, referindo que estes resultados poderão ser relevantes na compreensão das bases da FBF. Tem sido observada uma diminuição da freqüência de disparos durante a fadiga, associada a uma lentidão na recuperação, da fibra, no relaxamento, que, hipoteticamente, poderia ser um reflexo periférico desencadeado para proteger as fibras das dificuldades nutricionais desencadeadas pelo exercício (WOODS et al. apud RODRIGUES e GARCIA, 1998). Esta acumulação intracelular de Ca+, normalmente designada por Ca+ overload, estimula a atividade de enzimas proteolíticas (exemplo: enximas lisossômicas) e a fosfolipase A2, contribuindo para a degradação das proteínas e dos fosfolipídios de membrana. Da mesma forma, promove o swelling mitocôndrial e contribui para a disrupção dos túbulos T e do RS (SUPINSK et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). Os níveis elevados de Ca+, conjuntamente com os períodos de isquemia/reperfusão decorrentes do exercício, ativam uma maior produção de espécies reativas de oxigênio, que pode provocar lesão muscular esquelética, através da sua ação sobre algumas estruturas celulares (SUPINSK et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). Essing e Nosek apud ASCENSÃO et al. (2003) referem ainda que o estresse oxidativo, decorrente do exercício, se apresenta como uma das causas da diminuição da capacidade de gerar força pelas fibras musculares, particularmente a associada à FBF. Desta forma, os fatores responsáveis pela FBF estão relacionados com alguns mecanismos subjacentes à lesão muscular esquelética induzida pelo exercício. Por outro lado a FAF é caracterizada por diminuição da força durante períodos de estimulação de alta freqüência (50-100 Hz), e que é reversível quando a freqüência de estimulação diminui; pela diminuição de força, acompanhada pela diminuição da amplitude e duração do potencial de ação e pela diminuição da força, acentuada 41 pelo aumento nas concentrações de Na+ intracelular e K- extracelulares, encontrando-se a recuperação dependente do rápido restabelecimento da homeostasia iônica (JONAS et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). O aumento das concentrações intersticiais de K-, em conseqüência do seu movimento para o exterior da célula durante o potencia de ação, tem sido referido por inúmeros autores como um importante fator no desenvolvimento da fadiga durante o exercício intenso de curta duração (BANGSBO et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). Este aumento poderá resultar da incapacidade de manter o gradiente iônico em torno da membrana sarcoplasmatica das fibras musculares esqueléticas, por falência conjunta ou isolada das bombas de membrana de Na+/K- responsáveis pela recaptação do K- do espaço extracelular para o interior da célula. Verificando deste modo, uma diminuição progressiva da amplitude do potencial de ação, da excitação do sarcolema e dos túbulos T, bem como uma redução na liberação de Ca+ para o citoplasma e da força produzida (MCKENNA et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). As concentrações intersticiais de K- podem aumentar de 5mM em repouso para aproximadamente 13mM durante a fadiga, comprometendo, assim, a tensão gerada pelas fibras musculares isoladas em 10-20% (8mM), 25-75% (10mM) e 60-100% (12,5mM) (JUEL et al. 2000 apud ASCENSÃO et al., 2003). Uma das hipóteses sugeridas por Bangsbo (1997), para a explicação da relação entre a acumulação intersticial de K- e o desenvolvimento da fadiga é a estimulação das fibras nervosas sensitivas do grupo III e IV pelo K-. A estimulação dessas fibras parece promover uma inibição ao nível cortical e dos nervos motores na medula espinhal, impossibilitando a manutenção de uma determinada intensidades de exercício. A diminuição da disponibilidade de substratos energéticos ao músculo esquelético ativo durante o exercício é a hipótese mais abordada por alguns autores para a justificativa da fadiga (DAVIS et al. apud ASCENSÃO et al., 2003). De fato, a influência dos níveis de alguns substratos energéticos na cinética de alguns iãos e atividade de algumas enzimas específicas, designadas habitualmente por ATPases de Na+/K-, de Ca+ e miofibrilares têm sido amplamente estudados (FITTS et al., apud ASCENSÃO et al., 2003). 42 Os processos de transporte ativo responsáveis pelo restabelecimento do ambiente eletroquímico celular e extracelular, parecem ser largamente influenciados, entre outros fatores, pela funcionalidade de algumas bombas de membrana ATP dependentes, nomeadamente as situadas ao nível do sarcolema e do RS (designadas de bombas de Na+/K- e bomba da Ca+ respectivamente). Deste modo, a disponibilidade de substratos energéticos fosfocreatina, glicose sanguínea e glicogênio, para a síntese de ATP para as atividades ATPases especificas, quer as localizadas nas membranas plasmáticas e do RS, quer as miofibrilares, tem sido vista como um fator predisponente para a ocorrência de fadiga.muscular, no entanto existem algumas controvérsias uma vez que não é claro que a depleção de Adenosina Tri-Fosfato e fosfocreatina (PC) musculares seja um fator determinante para fatigabilidade das fibras musculares (THOMPSON apud ASCENSÃO et al., 2003) As reservas intramusculares de ATP e PC nunca são completamente depledadas, sendo sugerido que este mecanismo funciona com o sentido de proteger e manter a integridade celular. Após exercícios exaustivos foram encontrados valores mínimos de 70% e de 10% do valor de repouso para o ATP e PC, respectivamente (ROBERTS apud ASCENSÃO et al., 2003). Segundo Santos, Dezan e Serraf (2003), a fadiga periférica deve-se a uma falha ou limitação de um ou mais processos da unidade motora, isto é, nos neurônios motores, nervos periféricos, nas ligações neuromusculares ou fibras musculares. A especificidade das fibras musculares recrutadas em um determinado desempenho físico pode representar uma importante relação com a origem de fadiga. As fibras de contração rápida apresentam um retículo sarcoplasmático mais desenvolvido do que as fibras de contração lenta, facilitando a liberação de cálcio no interior da célula muscular. Em contra-partida, as fibras de contração lenta possuem um sistema oxidativo mais eficiente para a produção de energia. Em estudo realizado com animais, verificou-se que apenas as fibras de contração lenta diminuíram a força decorrente de sarcoplasmatico. modificações nas propriedades miofibrilares e no retículo 43 O acúmulo de prótons e alterações no pH do músculo, durante esforços de alta intensidade e curta duração, podem ser responsáveis pela produção da fadiga periférica (SANTOS, DEZAN e SERRAF, 2003). Um músculo pode realizar contrações a alta potência com altas concentrações de lactato, desde que o pH mantenha-se próximo a 7,0. Entretanto, quando o pH muscular se apresenta inferior a 7,0 verifica-se uma diminuição da potência muscular, relacionando à etiologia da fadiga periférica com um acúmulo intracelular de prótons. Parece que existe um efeito direto do pH sobre os mecanismos contráteis, uma vez que observado em miofibrilas isoladas e desprovidas de membrana plasmáticas (amienilizadas), que a tensão máxima poderia alcançar-se depois da adição de Ca+ sendo menor a um pH de 6,5 que a um pH de 7,0. A diminuição do pH cistosólico pode provocar um aumento da capacidade do retículo sarcoplasmático para reter Ca+, reduzindo a estimulação do processo contrátil. Em estudo realizado com animais verificou-se que o desenvolvimento da fadiga está associado a alterações funcionais do retículo sarcoplasmático e nas propriedades do aparato contrátil, relacionando as alterações nas pontes cruzadas do ciclo cinético com o aumento de Ca+ sensitivo, ocorrendo uma possível interferência na interação da miosina com a actina, reduzindo a atividade da miosina ATPase. Além disso, o pH recupera-se mais lentamente do que o gradiente eletroquímico para Kou Na+ e está relacionado à atuação do co-transportador lático/H (SANTOS, DEZAN e SERRAF, 2003). Outro aspecto importante, associado com a fadiga periférica, refere-se às propriedades da enzima glicolíticas fosfofrutuquinase. A inibição da atividade dessa enzima por ATP em vitro aumenta notavelmente o pH inferior a 7,0 sendo proposto que a queda do pH intracelular “in vivo” dá lugar a uma inibição do fosfofrutoquinase, a qual determina uma diminuição severa do fluxo glicolítico e de sua velocidade de produção de ATP. (SANTOS, DEZAN e SERRAF, 2003). No componente da fadiga que afetaria o sarcolema existiria uma falha no funcionamento da membrana produzida pelas alterações no gradiente eletroquímico normal, demonstrando que a bomba Na+ /K- está inibida durante o processo da fadiga aumentando os efeitos dos fluxos de Na+ e K-. O fluxo de perda de Ki- é três vezes maior que o de aumento de Na+i, devido um aumento da condutância do 44 sarcolema para K-, modulada pelo aumento de Ca+ e pela diminuição de ATP cistosólico (SANTOS, DEZAN e SERRAF, 2003). 45 3 METODOLOGIA 3.1 Amostra Participaram deste estudo 11 indivíduos com idade entre 18 e 30 anos, do sexo masculino, estudantes do curso de Educação Física do Centro Universitário de Belo Horizonte Uni-bh, aparentemente saudáveis, destreinados (por um período superior a 6 meses). A tabela 1 apresenta as características antropométricas dos voluntários: Idade (anos) Média 24,73 Desvio Padrão 7,78 Coeficiente de Variação 31,47 Massa Corporal (Kg) 77,24 23,54 30,48 Estatura (m) 1,76 0,49 27,94 Tabela 1 - Dados dos voluntários 3.2 Critérios de Inclusão Para a participação nesse estudo os voluntários deveriam ser homens, destreinados (por um período superior a 6 meses), não poderiam apresentar problemas músculoarticulares nos membros superiores, responderem negativamente ao questionário de Prontidão para Atividade Física (Par-Q) (ACSM,2000) e não fazerem uso de substâncias ergogênicas. 3.3 Instrumento Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: • Estadiômetro da marca Welmy, com precisão de 0,5 cm, para a medida da estatura; • Balança da marca Welmy, com precisão de 100 gramas, para a medida da massa corporal; • Compasso da marca lague, com precisão de 0,1 mm, para a medida das dobras cutâneas; 46 • Fita métrica da marca Sanny, com precisão de 1 mm, para medida das circunferências do braço ; • Metrônomo visual; • Step da marca Nimitz, com 10cm de altura; • Halteres da marca Equilíbrio; • Caneta dermográfica; • Caneleiras da marca Tryex. • Protocolo Par-Q e Risco Coronariano 3.4 Procedimentos 3.4.1 Pré-Testes Para realização dessa pesquisa foi utilizado o laboratório de musculação, do Centro Universitário de Belo Horizonte Uni-BH, obedecendo os seguintes passos: 1) Os participantes do programa as receberam informações sobre os procedimentos da pesquisa, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, (anexo...) responderam os questionários: PAR-Q (ACSM, 2000) e Fator de Risco para doença coronariana (ACSM, 1998). 2) Foram tomadas duas medidas para cada dobra cutânea e uma terceira caso a diferença entre as três fosse superior a 2mm (ACSM, 2000). Assim, utilizou-se como valor final a média das três medidas. As medidas das dobras cutâneas dos seguintes pontos foram: subescapular, tríceps, peitoral, axilar média, supra-ilíaca, abdominal e coxa (terço médio femoral), proposto por Jackson & pollock (1993). Em seguida foram medidas e pesados quanto à estatura e a massa corporal total. 3.4.2 Medição da força máxima Num segundo momento foi realizado um teste de 1-RM ou uma repetição máxima (MCARDLE et al., 2003) de flexão de cotovelos unilateral. Os sujeitos foram 47 avaliados quanto à força máxima de flexão de cotovelo de ambos os braços (membro dominante e não-dominante). Os indivíduos permaneciam em pé, com o cotovelo do braço testado apoiado sobre um anteparo vertical de 1,30m de altura, posicionados na axila. A força máxima foi testada a partir do teste de 1RM, durante a flexão total do cotovelo. Os indivíduos realizaram de 3 a 5 tentativas para ambos os membros, em cada situação, com intervalo de 3 a 5 minutos (AYESTARÁN e BADILLO, 2001). 3.4.3 Treinamento de força Dois dias após a segunda visita os voluntários iniciaram o treinamento de força (flexores do cotovelo), duas vezes por semana, durante 6 semanas. Foi utilizado um metrônomo visual (conforme figura 1), onde continha 3 colunas com lâmpadas coloridas, mas apenas uma foi requisitada: azul (ritmo 1 por 2 segundos para as fases concêntrica e excêntrica, respectivamente). Os voluntários executaram 3 séries de flexão de cotovelos limitada pela amplitude de movimento máxima de cada indivíduo, de 10-12 repetições máximas (10-12 RM), utilizando um anteparo vertical de 1,30m de altura, na posição em pé, onde apoiavam a axila na parte superior, com o braço ao longo do mesmo. Para que a estatura dos indivíduos não influenciasse na técnica de execução foram utilizados steps de 10 cm de altura para adequar estas possíveis diferenças. Após a execução das séries de cada membro (dominante ou não-dominante, consecutivamente), foram realizados intervalos de 90 segundos, sendo que a realização da segunda série iniciava-se com o mesmo membro da série anterior, ocorrendo à inversão da ordem de execução no treinamento subseqüente. Os tratamentos 1 e 2 foram definidos entre os membros dominante e não-dominante de forma randomizada entre os voluntários. O período de repouso entre as sessões foi maior ou igual a 48 horas. Tratamento 1: Os indivíduos eram submetidos a um ritmo de execução de 1 para 2 na flexão de cotovelo, ocorrendo à quebra do mesmo ele continuava executando as repetições até a fadiga concêntrica que variava do braço direito para alguns indivíduos e braço esquerdo para outros indivíduos. 48 Tratamento 2: Estes mesmos indivíduos ao quebrarem o ritmo de execução de 1 para 2 variando do braço direito para o braço esquerdo paravam de realizar as repetições. Figura 4 – Controle do ritmo de execução 3.4.4 Pós-Teste Após 48 horas do término do treinamento foram tomadas as medidas da massa corporal, dobras cutâneas, circunferência e o teste de uma repetição máxima (1RM) para verificação dos resultados e posteriores comparações. 3.5 Estimativa da composição corporal Foi utilizado o protocolo de 7 dobras cutâneas para a determinação da composição corporal. As dobras cutâneas medidas foram subescapular, tríceps, peitoral, axilar média, supra-ilíaca, abdominal e coxa (terço médio femoral), proposto por Jackson & Pollock (1993). Foram tomadas duas medidas para cada dobra cutânea e uma 49 terceira caso a diferença entre as três fosse superior a 2mm (ACSM, 2000). Assim, utilizou-se como valor final a média das três medidas. 3.6 Cuidados Éticos O grupo testado foi informado de todos os procedimentos, riscos e o objetivo assinando um “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”, para a coleta dos dados do presente estudo, autorizando a utilização dos dados coletados para o referido trabalho. Além disso, foi respeitado o anonimato dos voluntários e todos eles foram informados que poderiam desistir de participar quando desejassem. 50 4 RESULTADO E DISCUSSÃO Constatou-se através da pesquisa de campo a não diferença significativa de ganho hipertrófico nos flexores de cotovelo, em função dos dois tratamentos utilizados. Conforme tabela abaixo baseada na estatística t de student com um grau de certeza de 95%: AST Pré-Pós F Média 50,98 56,02 Desvio Padrão 17,97 17,64 Coeficiente de Variação 35,2 31,5 N 11 11 Grau de Liberdade 20 Nível de significância (p) 0,05 t - Tabelado 2,048 t - Calculado 0,664 Hipótese aceita H0 Tabela 2 - Resultado da pesquisa de campo AST Pré-Pós QR Dif. F-QR Pré-Pós 50,05 55,06 5,03 5,01 17,2 17,2 3,59 2,74 34,4 31,2 71,4 54,7 11 11 11 11 20 20 0,05 0,05 2,048 2,048 0,683 0,015 H0 H0 A pesquisa inicialmente contou com 14 (quatorze) voluntários sendo que 3(três) abandonaram a pesquisa durante o intervalo das 6 (seis) semanas propostas. Dos onze voluntários que permaneceram durante toda a pesquisa um era canhoto e como os destros fez um tratamento com o braço dominante e o outro com o braço não dominante não influenciando o andamento da pesquisa. Para alcançar tais resultados algumas variáveis foram controladas: alimentação, sono, stress diário, componente genético e supercompensação, dado que as mesmas exerciam influência equivalente em ambos os tratamentos enquanto outras não. Segue figura com exemplos de fatores inerentes ao processo de hipertrofia: 51 Influência Endócrinas Maior Ativação do sistema Nervoso Central Estado Nutricional Hipertrofia Inibição Dos Órgãos Tendinosos De Golgi Genética Recrutamento de Unidade Motora Melhor Sincronização das Unidades Motoras Figuras 5 - Variáveis que interferem na hipertrofia Segundo Fleck e Kraemer (2006), não havendo controle hormonal não é possível aferir a influência desta variável. Pesquisas realizadas por Mccall et al.(1996), em doze universitários do sexo masculino ativos, demonstrou que após nove semanas de treinamento de força com dez repetições máximas, três vezes por semana, obtiveram respostas hipertróficas significativas no bíceps braquial com aumento de 12,7% da área da seção transversal do bíceps braquial. No presente estudo não houve diferença significativa entre a média dos dois tratamentos com valores próximos a 10%. Mostrando a não diferença entre a pesquisa e o presente estudo realizado. 52 Com relação à nutrição Mccall et al.(1996), padronizou uma ingesta de 1,5 gramas de proteína por kg de peso de cada participante compondo um total de 17,7% do total da caloria diária. Para Mccall et al.(1996), as fibras do tipo II teve aumento significativamente maior em relação as fibras do tipo I com aumentos de (17,1%) e (10%) respectivamente. Pode-se observar de forma secundária nos resultados da pesquisa de campo, que o tratamento de fadiga favorece a uma elevação na capacidade máxima do individuo para uma única flexão do cotovelo (1-RM). O aumento do 1-RM submetido ao tratamento de fadiga foi em média 66,67% maior do que comparado a influencia do tratamento de quebra de ritmo. Efeitos de algumas semanas de treinamento de força em uma população determinada observam-se que o ganho de força após algumas semanas de treinamento é superior ao aumento da massa muscular. Isso permite pensar que não só a hipertrofia contribui para a melhora da força, mas que existem, além dela outros fatores intervenientes como, por exemplo: aumento e tamanho do número das miofibrilas, aumento do tamanho do tecido conjuntivo e de outros tecidos não contráteis do músculo; aumento do tamanho e, provavelmente, do número de fibras musculares (AYESTARÁN e BADILLO, 2001). Segundo Fleck e Kraemer (1999) para demonstrar uma quantidade significativa de hipertrofia de fibra muscular, parece que é necessário um período mais longo de treinamento (mais do que oito sessões de treinamento) para aumentar a proteína contrátil contida em todas as fibras musculares. Desse modo programas de curto prazo (4 a 8 semanas) podem não resultar em mudanças muito grandes no tamanho dos músculos. Segundo o ACSM (2003), as alterações da composição corporal podem ocorrer nos programas de treinamento de resistência a curto e médio prazo (6 a 24 semanas). Estas sugestões, apesar quantitativamente, vão de encontro aos nossos achados. de não fundamentadas 53 Aumento de 1-RM Aumento Médio (Kg)) 1,20 1,09 1,00 0,80 0,73 0,60 0,40 0,20 Q.R. Gráfico 1 – Aumento de 1 – RM Fadiga 54 5 CONCLUSÃO O resultado do presente estudo nos permite concluir que não há diferença significativa no ganho de massa corpórea na área da secção transversa nos flexores dos cotovelos submetidos a dois tratamentos hipertróficos distintos: fadiga e quebra de ritmo. A massa variou de 50,98 para 56,02 cm3 nos membros submetidos ao protocolo de fadiga, em quanto no quebra de ritmo variou de 50,05 para 55,06 cm3. Mesmo não sendo objetivo principal do presente estudo, pode-se observar um aumento substancial da capacidade máxima (1-RM), nos indivíduos submetidos ao tratamento de fadiga, a uma razão de 66,67% maior do que os indivíduos sob efeito do protocolo de quebra de ritmo. As maiores dificuldades na realização deste trabalho foram a disponibilidade do laboratório e a dificuldade de acesso aos mesmos materiais de mensuração no pré teste e no pos teste. Apesar dos problemas operacionais, que neste caso não dependem dos participantes da pesquisa, mas sim da infra-estrutura disponibilizada pela faculdade na qual este trabalho foi apresentado, a pesquisa alcançou seu objetivo. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Antônio; MAIOR, Alex Souto. A contribuição dos fatores neurais em fases iniciais do treinamento de força muscular: uma revisão bibliográfica. Revista Matriz, Rio Claro, v. 9, n. 3, p. 161168, set./dez. 2003. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Diretrizes do ACSM para os Testes de Esforço e sua Prescrição 6. ed. Tradução de Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 239p. Título original: ACSM´s Guildelines for Exercise Testing and Prescription. ASCENSÃO, A.; et. al. Fisiologia da fadiga muscular. Delimitação conceptual, modelos de estudo e mecanismos de fadiga de origem central e periférica. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 3, n. 1, p. 108-123, jan. 2003. ASMUSSEN, Erling. Muscle fatigue. 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