Jornal da Imagem
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Parte integrante da Edição nº 357 – Maio de 2008 Jornal da Imagem Caderno 2 Este encarte contém casos diversos enviados pelos leitores do Jornal da Imagem Caso 1 Figura 3 – TC mão direita demonstra melhor a ossificação heterotópica Figura 1 – Radiografia em AP da mão direita demonstra aumento de partes moles entre os 4° e 5° metacarpo, acompanhado de reação periosteal contínua e regular na face medial do 4° metacarpo Figura 2 – RM cortes coronais T1(a), T2 com fat sat (b) e pós-contraste (c): tumoração mal definida na musculatura interóssea do 4° espaço interdigital com sinal semelhante ao músculo em T1. Presença de fino halo peri-lesional com marcado hipossinal em todas as seqüências. Nas seqüências em T2 e pós-contraste, há extensa área de alteração de sinal e realce das partes moles vizinhas e da medular óssea do 4° metacarpo Figura 4 – RX mão direita (controle evolutivo), mostra fusão da ossificação de partes moles ao periósteo satélite, evolutivamente • H istória clínica Paciente do sexo feminino de 35 anos, com dor e aumento de volume na face lateral da mão direita há seis semanas, sem trauma associado. Caso 2 • H istória clínica Paciente do sexo masculino, 51 anos, com icterícia de início recente, sem queixas de febre e mínimo desconforto abdominal. Figura 1 – RM do abdome superior. Coronal FFE Balance. Note lesão sólida, com intensidade de sinal intermediária, promovendo dilatação das vias biliares, em íntimo contato com o duodeno Figura 2 – RM do abdome superior. Axial, TSE, T2 (TE150). A lesão (seta) é de aspecto vegetativo no interior do colédoco distal Figura 3 – RM do abdome superior. Axial, SE, T1 com contraste. Observe o realce discreto da lesão Figura 4 – Colangio-Ressonância (apnéia/ SENSE). Note a “falha de sinal” no colédoco distal e a dilatação moderada das vias biliares assim como do ducto pancreático Jornal da Imagem 2 São Paulo | MAIO | 2008 Caso 1 Caso cedido pelos Drs. Marco Túlio Gonzalez, Alípio Gomes Ormond Filho, Carlos Homsi e Xavier MGRG Stump. Hospital Oswaldo Cruz e Hospital do Coração Miosite Ossificante Circunscrita (MOC) Diagnóstico Miosite Ossificante Circunscrita (MOC). Diagnóstico Diferencial Pré-mineralização: • Abscesso • Sarcoma de partes moles Pós-mineralização: • Ossificação secundária (pós-trauma, pós-operatório). • Ossificações heterotópicas (para-articulares). • Distróficas. Discussão É uma afecção muscular local de etiologia desconhecida caracterizada por uma “modificação” celular e uma proliferação mesenquimatosa intensa, de duração limitada, que resulta na formação de osso não neoplásico. O termo miosite é impróprio porque não se trata de uma inflamação muscular primária, mas de uma metaplasia de células do tecido conjuntivo. A miosite ossificante circunscrita (MOC) é uma patologia rara que acomete adolescentes e adultos jovens em 75% dos casos, frequentemente após um evento traumático. A apresentação clínica se caracteriza pelo aparecimento, em alguns dias ou semanas, de uma tumefação dolorosa com reações inflamatórias locais como rubor e edema e, às vezes gerais, como febre e leucocitose, lembrando um abscesso. Seu ciclo evolutivo é relativamente curto e de resolução espontânea em poucas semanas. Durante este período é possível reconhecer a distribuição zonal do processo de ossificação, dividida em fases: Fase inicial: (pseudo-inflamatória), com proliferações das células mesenquimatosas e pleomorfismo celular predominando na periferia da lesão, observada nas três primeiras semanas. Fase intermediária: (pseudo-tumoral), onde há transformação das células me- Caso 2 senquimatosas em osteoblastos que depositam tecido osteóide da periferia para o centro da lesão (forma centrípeta), vista entre a 3ª e 6ª semana de evolução. Fase de maturação (resolução): após a 6 – 8ª semana, com o aparecimento de osso lamelar bem diferenciado e medular gordurosa entre as trabéculas. Na fase pré-ossificação, os aspectos histológicos e radiológicos podem se assemelhar a um sarcoma de partes moles, devido à alta celularidade e pleomorfismo. A biópsia por agulha deve ser desaconselhada para que erros diagnósticos não resultem em tratamentos catastróficos. Tanto a USG quanto a RM são capazes de reconhecer o comportamento zonal da MOC desde o período pré-calcificação, enquanto o Rx e a TC avaliam melhor a fase de ossificação até a resolução para osso maduro. A hiperatividade cintilográfica da miosite ossificante circunscrita é superior a encontrada na maioria dos demais processos patológicos de partes moles. Identificadas as etapas evolutivas da MOC, o seu tratamento consiste em uma atitude conservadora com o emprego de analgésicos e AINH no período sintomático. Quando a lesão está completamente madura, ela é, muitas vezes, de dimensões reduzidas e assintomática, sendo desnecessária qualquer intervenção. Referências bibliográficas 1.Malghem J, Lecouvet F, Galant CH, Maldague B, Vande Berg B. Myosite ossificante circonscrite. Tumeurs et pseudo-tumeurs 327-344. 2.Drape JL, Benacerraf R. Myosite Ossificante Circonscrite. Affections non Tumorales des Parties Mollles 521-536. 3.Bernard M, Coumbaras M, Zeitoun F, Arrivé L, Tubiana JM, Le Hir P. Spectre Radiologique Évolutif de la Myosite Ossificante Circonscrite. J Radiol 2003; 84:54-6. Caso cedido pela Dra. Maysa das Graças Ferreira e pelo Dr. Luís Ronan MF de Souza Neoplasia Periampular Diagnóstico Neoplasia Periampular. Discussão São neoplasias que acometem a região compreendida entre a cabeça do pâncreas e o duodeno. O principal tumor envolvido é o adenocarcinoma de pâncreas, responsável por 80% das neoplasias pancreáticas, e atinge especialmente pessoas acima de 40 anos. No entanto existem outras causas, como colangiocarcinoma de localização distal e o tumor de papila. Devido à localização, tais tumores provo- cam a obstrução da drenagem de bile, o que leva à icterícia percebida pelo paciente, aumento das enzimas canaliculares, acolia fecal e, em muitos casos, à vesícula palpável. A ultra-sonografia é o primeiro exame solicitado devido ao baixo custo e disponibilidade. Podem ser visualizadas dilatação intra e extra-hepáticas das vias biliares, massas hipoecóicas, na maioria das vezes homogêneas e/ou irregularidade no contorno pancreático. A colangiopancreatografia endoscópica retrógada (CPRE) e colangiopancreatografia percutânea são métodos de imagem invasivos, já utilizados no diagnóstico destes tumores. A colangio ressonância (CRM) e a tomografia computadorizada com multidetectores (TC) são os métodos de imagem mais utilizados para avaliação destas lesões, permitindo avaliar a existência de cálculos e o estadiamento da lesão, já que tumores que invadem vasos, linfonodos, com metástases, extensão extra-capsular e/ou maiores que 2 cm são irrescecáveis. O tratamento das neoplasias periampulares é cirúrgico, realiza-se a pancreatoduodenectomia (cirurgia de Whipple), que nas últimas décadas têm diminuído a mortalidade e a morbidade de tal afecção. Referências bibliográficas 1.Hong SS, Kim TK, Sung BK, Kim PN, Ha HK, Kim AY, Lee MG. Extrahepatic spread of hepatocellular carcinoma: a pictorial review. Eur Radiol (2003) 13:874-882. 2.L. Van Hoe, K. Mermuys, P. Vanhoenacker. MRCP pitfallas.Abdom Imaging (2004) 29:360-387. 3.J. H. Lim, C.K. Park. Pathology of cholangiocarcinoma. Abdom Imaging (2004) 29:540-547. Caderno 2 3 São Paulo | MAIO | 2008 Caso 3 • H istória clínica Paciente 41anos, do sexo feminino, com dor precordial anginosa de início recente. Figura 1 – (CRA 16) Artéria coronária direita mostrando trajeto intramiocádico atrial Figura 2 – (CAU 20) Artéria coronária direita proximal com trajeto intra-atrial Figura 3 – (CAU 29) Artéria coronária direita intramiocárdica com visualização da porção proximal direita e do ramo marginal direito Caso 4 • H istória clínica Paciente de 78 anos com sensação de massa na região cervical direita há vários meses. Figura 2 – Ao Doppler o nódulo apresentase difusamente hipervascularizado Figura 3 – Artéria Carótida Comum Direita Figura 4 – Artéria Carótida Externa Direita Figura 5 – Artéria Carótida Interna Direita Figura 1 – Nódulo hipoecogênico, heterogêneo, ovalado e bem delimitado, localizado na bifurcação da carótida comum direita medindo 3,8 x 3,5 x 2,4 cm Jornal da Imagem 4 São Paulo | MAIO | 2008 Caso 3 Caso cedido pelos Drs. Jailson Rodrigues Lopes, Luís Filipe de Souza Godoy e pela Dra. Cíntia de Souza Lima Moraes. Hospital Sírio Libanês Ponte miocárdica de Artéria Coronária Direita Diagnóstico Ponte miocárdica de Artéria Coronária Direita. Discussão A ponte miocárdica é uma anomalia congênita no qual se tem uma porção muscular cobrindo um segmento de artéria coronária. O tecido miocárdico cobertor chama-se ponte miocárdica (PM) e o segmento interno é o segmento tunelizado. A prevalência em estudos de angiografia convencional varia de 0,5 a Caso 4 4,5% e em tomografia computadorizada de 64 canais foi de 28 %. As pontes miocárdicas são mais comuns no segmento médio da artéria coronária descendente anterior esquerda, seguida pela coronária direita , mas até a veia coronária também apresenta pontes. Uma das conseqüências da PM é a compressão sistólica, a qual tem relevância com a profundidade e não com sua extensão intramuscular. O segmento proximal das pontes pode apresentar um grau maior de lesões ateroescleróticas em relação a outros trechos. A PM é considerada uma afecção benigna sem grandes repercussões clínicas, todavia pode ser associada com angina instável, infarto agudo do miocárdio, distúrbios de condução e mal súbito. Este diagnóstico pode ser suspeitado em pacientes com baixo risco para aterosclerose coronariana que se apresentam com dor torácica típica de isquemia cardíaca. Este diagnóstico pode ser acompanhado de terapia medicamentosa se o pacinte for sintomático , devendo a terapia medicamentosa ser a primeira escolha com o uso de ino- trópicos negativos , em casos refratários pode ser realizada miotomia cirúrgica ou a colocação de stent no segmento tunelizado. Referências bibliográficas 1.Leschka, S. et al. Myocardial Bridging: Depiction Rate and Morphology at CT Coronary Angiography—Comparison with Conventional Coronary Angiography. Radiology, jan 2008. 2.Mohlenkamp, S. et al. Update on myocardial bridging. Circulation. 2002, 106;2616-2622. Caso cedido pelo Dr. Luis Filipe de Souza Godoy (R2) e pela Dra. Ana Carolina Nersessian Paraganglioma do Corpo Carotídeo Diagnóstico Paraganglioma do Corpo Carotídeo Discussão O Paraganglioma do corpo carotídeo, também conhecido como glomus carotídeo ou quemodectoma, tem origem nas células quimioreceptoras localizadas na bifurcação da artéria carótida comum. Tais células de origem neuroectodérmica estão espalhadas pelo corpo ao nascimento em associação com o sistema nervoso autônomo. Estes tecidos tendem a regredir até a puberdade, permanecendo apenas na medula adrenal, ao longo da cadeia aorto-simpática e em determinadas regiões da cabeça e pescoço. Tumores originários destas células e de localização extra-adrenal são denominados paragangliomas. Os paragangliomas da cabeça e pescoço pertencem ao grupo dos não-cromafim e normalmente não secretam catecolaminas. Podem acometer primáriamente o bulbo jugular (glomus jugular), a orelha média (glomus timpânico), o nervo vago (glomus vagal) e o corpo carotídeo (glomus do corpo carotídeo). Os paragangliomas do corpo carotídeo tendem a surgir por volta dos 45 aos 55 de vida, acometendo igualmente ambos os sexos. Costumam crescer lentamente e não causar sintomas, a não ser pelo crescimento de uma massa palpável e móvel na região lateral do pescoço. Os exames de imagem são o método de escolha para o diagnóstico dos tumores glômicos da cabeça e pescoço, e este pode ser feito com ultra-sonografia, TC e RM. A angiografia é reservada para os casos de dúvida, avaliação pré-operatória ou embolização. Na ultra-sonografia identifica-se um nódulo geralmente hipoecogênico localizado na bifurcação das carótidas. Ao Doppler há hipervascularização do nódulo ou massa. O diagnóstico diferencial é feito com linfadenopatias inflamatórias e tumorais, que também podem se mostrar hipervascularizadas nesta localização. À TC observa-se uma massa localizada na bifurcação da carótida comum deslocando as artérias carótidas interna e externa. Tal lesão apresenta forte realce após administração do meio de contraste. O estudo por RM demonstra uma lesão isointensa em T1 e hiperintensa em T2, na localização característica, e assim como na TC pode ser visualizado o intenso realce pelo meio de contraste. Na angiografia pode ser observada a grande vascularização intrínseca do tumor que provém de ramos regionais da carótida externa incluindo as artérias ascendente faríngea e occipital. O tratamento de escolha para estes tumores é cirúrgico. Devido a sua grande vascularização a embolização é comumente utilizada para reduzir a perda sanguínea intra-operatória. Referências bibliográficas 1.Rao, A.B. From the Archives of the AFIP: Paragangliomas of the Head and Neck: Radiologic-Pathologic Correlation: Radiographics 1999; 19: 1605-1632. 2.Derchi, L.E. Carotid Body Tumors: US evaluation. Radiology 1992; 182: 457-459. 3.Koeningsberg, R.A. Glomus Tumor (Head and Neck): www.emedicine.com, jan, 2008.
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