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Dois Caderno Este encarte contém casos diversos enviados pelos leitores do Jornal da Imagem • Parte integrante da Edição 373 • SETEMBRO DE 2009 [ Caso 1 ] Figura 1 Reformatação tomográfica do pescoço. Massa de partes moles deformando toda a região cervical História clínica Paciente de 57 anos, sexo masculino, etilista crônico. Aumento volumétrico do pescoço. Figuras 2 e 3 Corte axial do pescoço com contraste. Observe a massa de gordura assimétrica, não encapsulada, posterior e anterior ao subcutâneo e ao redor das glândulas salivares, sem sinal de invasão das camadas musculares [ Caso 2 ] Figura 1 Imagens axiais de angiotomografia de coronárias, mostrando vasos anômalos anteriormente ao tronco da artéria pulmonar e junto à origem das artérias descendente anterior e coronária direita (setas) Figura 2 Reformatação 3D de angiotomografia de coronárias, mostrando vasos anômalos anteriormente ao tronco da artéria pulmonar e junto a origem das artérias descendente anterior e coronária direita (setas) Historia clínica Paciente de 70 anos, sexo masculino, ex-tabagista, hipertenso, assintomático. Realizou angiotomografia de coronárias para controle de revascularização miocárdica. Figura 5 Coronariografia demonstrando vaso anômalo (seta branca) originando-se da artéria coronária direita Figura 3 Imagem reformatada de angiotomografia, demonstrando comunicação entre vaso anômalo (seta branca) e o tronco da artéria pulmonar Figura 4 Coronariografia demonstrando enovelado vascular (seta branca) com origem da artéria descendente anterior. Há grande vaso anômalo ascendente (seta preta) com pequeno jato de comunicação deste com a topografia do tronco da artéria pulmonar (seta curva) 2 | Jornal da Imagem [ Caso 1 ] São Paulo, setembro de 2009 Autores: Dr. Luís Ronan Marquez Ferreira de Souza e Dra. Maysa das Graças Ferreira – Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG. Doença de Madelung (lipomatose cervical) Discussão A doença de Madelung é uma lipomatose simétrica múltipla rara, que acomete as regiões cervicais e de ombros, apresenta associação com etilismo crônico, sexo masculino e descendência mediterrânea. Tem etiologia incerta, mas pode estar associada ao bloqueio da lipólise induzida pela falta de catecolaminas devido a desnervação simpática do tecido adiposo e também a disfunção mitocondrial. Clinicamente se manifesta por uma massa de consistência endurecida, não dolorosa e de crescimento inicial rápido. Pode comprimir estruturas aerodigestivas provocando disfagia e dispnéia e ser acompanhada por hiperuricemia, dislipidemia, anemia macrocítica, neuropatia periférica, intolerância à glicose e acidose tubular renal. Deve, nos casos de apresentação atípica, ser diferenciada de doença linfoproliferativa, obesidade [ Caso 2 ] mórbida e acúmulo congênito de tecido gorduroso observado em indivíduos de determinadas tribos africanas. A TC mostra uma massa de gordura simétrica, não encapsulada, posterior e anterior ao subcutâneo, na sua maioria posterior ao triângulo cervical, ao redor das glândulas salivares e pode atingir fossa supraclavicular, região de músculos paraespinhais, mediastino superior e espaço extrapleural. O pescoço apresenta-se tubular ou oval em seu diâmetro anteroposterior. Não há infiltração de músculos e partes moles, pode haver apenas compressão de glândulas salivares, grandes vasos, traquéia, músculos esternoclidomastóideo e trapézio. A gordura apresenta densidade semelhante à normal. A RM demonstra os mesmos achados da TC, mostrando-se superior apenas na demonstração de envolvimento mediastinal, extrapleural de planos de grandes vasos. A terapia é realizada pela remoção cirúrgica ou lipoaspiração, no entanto apresenta altas taxas de recorrência. Referências bibliográficas 1. Gyl Henrique A. Ramos, Guilherme Luiz Trevizan, Edeli S. Doença de Madelung. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2002; 68(4): 587-590. 2. Zhang XY, Li NY, Xiao WL. Madelung disease: manifestations of CT and MR imaging. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2008; May;105 (5): e57-64. 3. Ahuja AT, King AD, Chan ES, Kew J, Lam WW, Sun PM, King W, Metreweli C. Madelung disease: distribution of cervical fat and preoperative findings at sonography, MR, and CT. AJNR Am J Neuroradiol. 1998;19 (4):707-10. 4. Zhang XY, Li NY. Madelung disease: CT and MRI findings. Zhonghua Kou Qiang Yi Xue Za Zhi. 2007; 42 (3):186-7. 5. Civelek B, Celebioglu S, Ozpolat B. An unusual entity for a plastic surgeon: Madelung syndrome. Plast Reconstr Surg. 2006; 117 (2):693-5. 6. Spitzer JJ. Madelung-like attractions in colloidal crystals Langmuir. 2004 Feb 3; 20 (3):537-9. 7. Uglesić V, Knezević P, Milić M, Jokić D, Kosutić D. Madelung syndrome (benign lipomatosis): clinical course and treatment. 2004; 38(4): 240-3. 8. A. T. Ahuja, A. D. King, E. S. Y. Chan, J. Kew, W. W. M. Lam, P. M. Sun, W. King, and C. Metreweli. Madelung Disease: Distribution of Cervical Fat and Preoperative Findings at Sonography,MR, and CT. AJNR Am J Neuroradiol 1998; 19:707–710. Autores: Drs. Rogério Santaniello, Marcelo Targa Ripari, César Higa Nomura, Fernando Uliana Kay, Rodrigo Bastos Duarte Passos, Rodrigo Caruso Chate e Marcelo Buarque Gusmão Funari – Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Fístula coronária Discussão As fístulas coronárias são anomalias raras com incidência de 0,002% na população em geral e de 0,05% a 0,25% dos pacientes que realizam angiotomografia de coronárias, sendo a segunda anomalia mais frequente destas artérias. Consistem da conexão de uma ou mais coronárias com estruturas vasculares ou câmaras cardíacas. Podem originar-se da artéria coronária direita (55%), coronária esquerda (45%) ou de ambas (5%) e drenar para o ventrículo direito (41%), átrio direito (26%), artéria pulmonar (17%), seio coronário (7%), átrio esquerdo (5%) e ventrículo esquerdo (3%). Outros locais possíveis, porém menos comuns, da drenagem são a veia cardíaca magna e o ânulo tricúspide. As causas são congênitas por persistência dos sinusoides intramiocárdicos ou adquiridas pós-procedimento invasivo, póstrauma ou por neoangiogênese na obstrução coronariana aterosclerótica. Clinicamente, a grande maioria das fístulas coronárias é assintomática sendo achado comum a ausculta de sopro contínuo. Alguns casos podem manifestarse clinicamente com insuficiência cardíaca ou hipertensão pulmonar dependendo da existência e do grau de shunt esquerdo-direito. Outras manifestações relacionadas a fístulas coronárias são: endocardite, arritmia, ruptura da fístula e isquemia. A cineangiocoronariografia, angiotomografia, angioressonância e ecocardiograma são métodos para o diagnóstico, e o tratamento quando necessário pode ser feito via endovascular ou cirúrgica, porém na maioria dos casos a conduta é acompanhamento. Referências bibliográficas 1. Zenooz NA, Habibi R, Mammen L, Finn JP, Gilkeson RC. Coronary Artery Fistulas: CT Findings. RadioGraphics 2009;29:781-789. 2. Abbara S. Coronary fistula. In Abbara S, Walker TG, Imbesi SG, Ng PP, Roberts A. In Diagnostic Imaging.Cardiovascular. Amirsys: 2008.p.110-113. 3. Bogaert J, Dymarkowski S, Taylor AM. Coronary Artery Disease. In Bogaert J, Dymarkowski S, Taylor AM. Clinical cardiac MRI. Springer: 2005.p.416. São Paulo, setembro de 2009 Figuras 1, 2 e 3 Imagens de RM ponderadas em T1 (figura 1) e T2 (figuras 2 e 3) mostram lesão envolvendo os grandes vasos retroperitoneais, a raiz do mesentério e estendendo-se para os espaços perirrenais, além de envolver os ureteres bilateralmente, causando leve dilatação do sistema pielocalicina CadernoDois | 3 [ Caso 3 ] História clínica Paciente do sexo masculino, 56 anos, com queixa de dor mal definida em região lombar há cerca de dois anos. Figuras 4 e 5 Imagens de RM ponderadas em T1 após administração do contraste paramagnético mostram realce da lesão infiltrativa retroperitoneal [ Caso 4 ] História clínica Figura 1 RM no plano sagital, ponderada em T1, após infusão do meio de contraste demonstra coleções com realce anelar intra e extraconais Figura 2 RM no plano axial, ponderada em T1, após a infusão do meio de contraste demonstra coleção com realce anelar ALS, 39 anos, com quadro de dor orbitária, edema e diminuição da acuidade visual à direita há 15 dias. Figura 3 RM no plano coronal, ponderada em T2, demonstrando heterogeneidade na gordura orbitária direita e velamento do complexo etmoidal ipsilateral Figura 5 e 6 TC das órbitas nos planos coronal e axial, após infusão de meio de contraste, demonstra coleções intraconal e palpebral Figura 4 RM no plano axial, ponderação T1 sem contraste, evidencia proptose grau III à direita e material inflamatório intra a e extraconal 4 | Jornal da Imagem [ Caso 3 ] São Paulo, setembro de 2009 Autor: Dr. Daniel Bernal Soto, residente do Hospital São Luiz. Orientadores: Drs. Giuseppe D’Ippólito e Mário Galvão – radiologistas do Hospital São Luiz (SP). Fibrose retroperitoneal Discussão A fibrose retroperitoneal é um processo inflamatório crônico, incomum, que ocorre no retroperitôneo, acometendo pessoas geralmente acima de 40 anos e com uma relação masculino: feminino de 3:1. A maior parte dos casos (> 70%) é idiopática, embora existam indícios de que pode se tratar de uma doença autoimune, enquanto o restante pode ser secundário ao uso de medicações, à radiação, à injúria retroperitoneal, entre outras possíveis causas. Possui duas formas de apresentação: limitada, a mais comum; e extensa, que pode envolver a raiz do mesentério e [ Caso 4 ] órgãos adjacentes, se estender ao tórax provocando uma mediastinite fibrosante ou à pelve, onde pode envolver os vasos ilíacos e os ureteres distais. Os sintomas iniciais são inespecíficos, normalmente um desconforto abdominal ou lombar. Com a progressão da fibrose os efeitos compressivos provocados pela lesão aparecem, podendo ocorrer um aumento da intensidade da dor, inchaço nos membros inferiores e, nos casos mais avançados, um quadro de insuficiência renal causado pela compressão dos ureteres. A ampla disponibilidade da tomografia computadorizada (TC) permitiu uma melhor avaliação da localização, extensão e efeito sobre as estruturas adjacentes. A fibrose retroperitoneal manifestase, na TC, como uma massa de partes moles paraespinhal, bem definida e irregular. Na ressonância magnética (RM) apresenta características de sinal semelhantes a outros processos fibróticos, com hipossinal em T1 e sinal variável em T2, dependendo da atividade ou não do processo inflamatório, assim como o realce, que é mais intenso nos casos de doença em atividade. As complicações mais graves normalmente são a obstrução ureteral extrínseca e a obstrução de grandes vasos (aorta, VCI). O tratamento é feito com corticóides ou com a retirada do possível agente causal. Referências bibliográficas 1. Cronin et al. Retroperitoneal Fibrosis: A Review of Clinical Features and Imaging Findings. AJR 2008; 191: 423-431. 2. Nishimura et al. MR Imaging of Soft-Tissue Masses of the Extraperitoneal Spaces. RadioGraphics 2001; 21:1141–1154. 3. Surabhi et al. Neoplastic and Non-Neoplastic Proliferative Disorders of the Perirenal Space: Crosssectional Imaging Findings. RadioGraphics 2008; 28:1005–1017. Autores: Drs. Luiz Gonzaga da Silveira Filho, Felipe Pinto Ireno, Ana Carolina Sandoval Macedo e Andressa da Silva Ochiuto. Abscesso orbitário Discussão As alterações infecciosas da órbita (celulite e abscesso) respondem por metade das patologias primárias desta região. É fundamental que o radiologista possua um conhecimento adequado para realizar o diagnóstico o mais precoce possível e assim evitar o aparecimento de complicações. A tomografia computadorizada é o exame de primeira linha para a avaliação das afecções orbitárias, sendo a ressonância magnética um exame complementar com excelente resolução de partes moles. Realizar a classificação do processo infeccioso é de extrema importância, pois define o tratamento e o prognóstico. Para essa caracterização utiliza-se o septo orbitário como referência. O septo é uma estrutura fibrosa que se origina no periósteo orbital e se insere na pálpebra e funciona como uma barreira mecânica à disseminação das infecções. O processo que se encontra anterior- mente a esse septo é classificado como pré-septal ou periorbitário, e o que se encontra posteriormente ao mesmo é chamado de orbitário ou pós-septal. Os abscessos pós-septais podem ser de dois tipos: subperiosteal e/ ou intraconal. O primeiro se deve, mais frequentemente, à sinusite etmoidal,onde as células etimoidais são separadas da órbita por apenas uma fina parede óssea perfurada, e se apresenta nos exames de imagem como uma lesão de partes moles com realce periférico pós contraste, localizada junto à parede medial da órbita, adjacente a um complexo etmoidal opacificado, exercendo deslocamento do músculo reto medial. A drenagem cirúrgica é imperativa. O abscesso intraconal é o espectro mais grave das infecções orbitárias. Trauma, cirurgia ou processos metastáticos são as principais etiologias. Antigamente era decorrente principalmente de sinusites, mas com o advento de antibióticos mais eficazes essa complicação não permanece tão frequente. Seu pronto reconhecimento é fundamental, pois pode levar rapidamente à amaurose. Clinicamente o paciente apresenta-se com oftalmoplegia, perda do reflexo pupilar e dor ocular. O aspecto imaginológico é o de uma massa definida de tecidos moles, rechaçando estruturas contíguas e que pode apresentar realce anelar após a infusão do meio de contraste. Pode-se observar ainda realce periférico do nervo óptico. As complicações incluem além da amaurose, trombose da veia oftálmica superior, do seio cavernoso, meningite bacteriana e abscessos durais ou intraparenquimatosos. O tratamento deve ser iniciado prontamente com antibioticoterapia endovenosa e em alguns casos drenagem cirúrgica. Quando estamos diante de um quadro de doença orbitária devemos conhecer além das alterações infecciosas, as inflamatórias (tais como graves, pseudotumor orbitário, neurite óptica), tumorais e vasculares para um diagnóstico preciso que evite intervenções desnecessárias e, principalmente, previna complicações mais graves e nisso o médico radiologista tem papel fundamental. Referências bibliográficas 1. Antas, A.M; Monteiro, M.L.R. Doenças da órbita.Cultura médica, Rio de Janeiro: 134,162164,2002 2. Kroehl L,G.B, Krauss H.R, Winnick, J.Orbital Abcess. Presentation,Diagnosis, Therapy and Sequelae. Ophtalmology, 89(5):493-498, 1982. 3. Lebedis, C.A, Sakay, O. Nontraumatic Orbital Conditions: Diagnosis with CT and MR Imaging in the Emergent Setting. RadioGraphics 2008; 28:1741–1753.
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