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hipertexto Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, outubro de 2007 – Ano 9 – Nº 59 Jaqueline Sordi/ Hiper Gabriela de Oliveira/Hiper Congresso de jornalismo vê aquecimento global Enfim, ambiente é pauta na imprensa Página 8 Rafael Codonho/ Hiper Diariamente,em sala de aula, Hohlfeldt transfere aos alunos da Famecos uma longa experiência em jornalismo, literatura e pesquisa acadêmica Hohlfeldt é o patrono da Feira do Livro 2007 Mototáxi, uma das alternativas de transporte Criatividade chinesa nas ruas de Pequim Página 5 Parceria no futebol: frustração e dívidas Ele é escritor, jornalista, crítico literário e professor de graduação e pós Páginas 2 e 3 Vinícius Carvalho/ Hiper Superação A arte na ponta dos pés Fernanda Fell/ Hiper Página 11 Sociedade Cresce a cruzada pela Lei Seca no Estado Primeiro foi o cigarro, agora ganha força entre os abstêmios a campanha para banir a bebida Gaúcha radicada em Santa Catarina, Rita Boz produz pinturas vendidas na Europa. Pag. 9 Páginas 6 e 7 2 abertura Porto Alegre, outubro de 2007 Especial/ Feira do livro 2007 Editorial Artigo Todas as emoções estão aqui O mito do mercado editorial gaúcho Por Lidiana de Moraes, editora Chegou a época do ano em que Porto Alegre respira um ar diferente. No dia 26 de outubro começou a 53ª Feira do Livro. Enquanto a Praça da Alfândega fica repleta de estandes, os visitantes do evento sentem na pele a sensação de participar de uma ocasião tão tradicional. Muito se discute quanto ao hábito dos brasileiros como leitores, mas os 53 anos de história da Feira de Porto Alegre não escondem o interesse que pelo menos os gaúchos têm pelo mundo das palavras. O mote da edição de 2007, “Todas as emoções estão aqui”, não poderia representar melhor a busca daqueles que permitem se perder em meio às páginas de um livro. Mais do que uma simples ação, ler é uma experiência completa, que mexe com todos os sentidos dos seres humanos e nos enriquece como cidadãos em constante processo de transformação. O patrono da Feira deste ano é o professor, jornalista, escritor e político Antônio Hohlfeldt. Ser patrono representa ser apaixonado pelas letras e trabalhar para que elas atinjam profundamente o maior número de pessoas e, neste ponto, a escolha do professor da Famecos não poderia ter sido melhor. Quando estava na 6ª série, lembro que um dos livros que tive de ler chamava-se O Cavaleiro da Rosa no Supermercado, escrito por Hohlfeldt. Logo estava submersa no mundo daquele jovem que teve que trabalhar como empacotador para ajudar a família. Para marcar ainda mais a experiência literária que eu havia tido, o escritor foi se encontrar com os seus jovens leitores de uma cidadezinha da serra gaúcha. Pela primeira vez me vi na situação de pedir um autógrafo para alguém. Mais tarde o escritor passou a ser meu professor. Como aluna, deixei de lado o local de trabalho de Alexandre e transitei por terras mitológicas, cidades em guerra e sertões, sempre guiada por grandes reportagens. É dessa forma, independente da profissão, que é possível tornar-se uma referência para aqueles que prezam o valor de um bom livro. Seja lembrando das histórias que delineavam mundos fantásticos na minha infância ou vendo as crianças que correm pela área de literatura infanto-juvenil, é perceptível e irrefutável a importância de criarmos o hábito da leitura desde cedo. No fundo não são os livros que nos acompanham, somos nós que nos integramos a eles. Como disse John Kieran: “Eu sou uma parte de tudo o que li”. Por Cássia Oliveira O Rio Grande do Sul é referência nacional em matéria de leitura. Enquanto o brasileiro lê, em média, 1,8 livro por ano, o gaúcho lê 5,5. Nenhum lugar do Brasil é palco de tantos encontros literários como a cidade de Passo Fundo ou promove maior feira do livro do que Porto Alegre. Com freqüência, se ouve que o mercado editorial regional é exemplo de auto-suficiência. Mas a idéia de que o Rio Grande do Sul mantém um mercado que supriria a falta de espaço no centro do país, é, na verdade, um grande mito. “Isso é uma falácia. O que acontece é que a maioria dos escritores gaúchos publica apenas no RS e contenta-se com isso”, explica a professora e escritora Regina Zilberman. O escritor gaúcho Charles Kiefer admite que, de fato, há um ciclo fechado de autores, obras e público. Mas o consumo de livros de escritores locais pelos próprios gaúchos não é suficiente para movimentar o mercado regional. Os leitores daqui também lêem escritores nacionais. As editoras e livrarias dependem, e muito, do mercado nacional. Luís Fernando Araújo, editor da Artes e Ofícios, conta que o RS representa apenas 35% das vendas da editora. Kiefer completa que uma editora, para ter um mercado na mão, precisa trabalhar com uma literatura que só vende aqui. “Isso vale apenas para a Martins Livreiros, que sobrevive só com o mercado gaúcho. Aí é autosuficiente.” O próprio governo do Estado há 20 anos não adquire obras para bibliotecas públicas. “Não tem política alguma para reposição das obras e compras de novidades para as bibliotecas públicas e escolares, ao contrário de estados como o Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Espírito Santo”, reclama Araújo. Quem traz os livros para o Estado é o governo federal, que compra de editoras do centro do país. Nesse ponto, se evidenciam as conseqüências da falta de projeção nacional de escritores gaúchos. Kiefer, durante toda sua carreira, publicou em editoras locais. Porém, agora, na Record, editora de fora do Estado, entra no Plano Nacional de Biblioteca Escolar, projeto criado em 1997 pelo Ministério da Educa- hipertexto ção em parceria com a Secretaria de Ensino Fundamental (SEF). Foi na última década que algumas editoras nacionais passaram a publicar obras gaúchas. Charles Kiefer conta que, em 1995, começou a migração dos autores para o centro do país. Atualmente, com as multinacionais entrando no mercado brasileiro (Sangwkrtilhana, Santa Maria, Planeta, entre outras, que adquiriram a Ática, a Moderna, a Objetiva, etc.), as editoras nacionais acabam buscando alternativas nos escritores fora do eixo Rio-São Paulo, e dando vez aos gaúchos. Aliás, para Kiefer, um segundo mito da literatura gaúcha seria a velha desculpa do “podia ter publicado lá e não publiquei porque não quis”. Ele próprio admite não ter ido para uma editora nacional antes por motivos contratuais. A situação gaúcha acaba virando uma bola de neve. A auto-suficiência é, na opinião de Regina Zilberman, sinal de fraqueza, na medida em que muitos escritores são lidos apenas pelo público gaúcho. E os escritores, por sua vez, contentam-se em limitar sua publicação às fronteiras do Rio Grande do Sul talvez por acreditarem na suposta auto-suficiência. Proposta de uma Reforma Ortográfica gera polêmica entre lingüistas Tamara Carvalho/ Hiper Por Natasha Centenaro A reforma ortográfica pretende unificar as diferentes grafias da Língua Portuguesa nos países que falam o idioma. O português é a quinta língua mais falada no mundo, mas é a única que mantém duas grafias oficiais, a do Brasil e a de Portugal. O Congresso brasileiro mostrou sinais de interesse na padronização da língua quando aprovou as mudanças do acordo de 1990. Na época era necessário que pelo menos três países ratificassem a proposta. Isso só ocorreu em 2006, com a confir- mação de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. A previsão para que a mudança entre em vigor é no início de 2008, ainda sem data definida. A principal discussão que envolve intelectuais e gramáticos é sobre as vantagens ou desvantagens para o país quando colocar em prática a proposta. Para os estudiosos favoráveis, as duas ortografias da Língua Portuguesa dificultam a efetivação do idioma como oficial na Organização das Nações Unidas (ONU) e prejudicam o intercâmbio cultural, com a redução de circulação de livros, inclusive científicos e didáticos, por causa da necessidade de revisão e adaptação para um “outro português”. Destaca-se também o ensino da língua, pois a norma utilizada e que serve de referência na comunidade internacional é a de Portugal, diferentemente da empregada no Hipertexto Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira Brasil. Com a grafia unificada, a norma se padroniza e o ensino se torna o mesmo em ambos. Nessa corrente pró-mudança, a presença do presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça, intensifica a aplicabilidade da reforma. Gilberto Scarton, lingüista e professor da PUCRS, argumenta que a reforma ortográfica não é implantada porque não é essencialmente necessária. “A reforma não é implantada por conservadorismo, é difícil mudar hábitos lingüísticos, inclusive dos próprios usuários da língua. Mas ela não se faz neces- sária, é importante para colocar o Português em contexto de idioma mundial”. O professor é favorável às mudanças para alcançar a máxima unificação possível e, assim, garantir visibilidade e difundir o Português como língua estrangeira fortalecida. “Favorável, mas não entusiasta da reforma ortográfica”, frisa. Os críticos do processo defendem a manutenção da ortografia, sem alteração. Alguns indicam uma perda significativa da grafia do modo brasileiro, pois as modificações cedem muito mais em relação às perdas portuguesas. Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000 Diretora da Famecos: Mágda Cunha Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane Finger Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia. Professores Responsáveis: Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo). ESTAGIÁRIOS: Gerente de produção: Thais Silveira Editora: Lidiana de Moraes Editora de Fotografia: Fernanda Fell Editor de Arte: Bruno Gazola de Paoli Editora de Texto: Camila Schaedler Repórteres: Ariane Jorej, Bernhard Friedrich Schlee, Bruna Ostermann, Bruna Weis Scirea, Bruno Gazola de Paoli, Cássia Sírio de Oliveira, Camila Alves Schaedler, Camila Rinaldi, Clarissa Leite Caum, Fernando Rotta Weigert, Guilherme Zauith, Helena Wilhelm Eilers, Igor Elias Carrasco, Jamille Callai, Luciana Birck, Maurício Círio, Natasha Centenaro, Patrícia Lima, Rafael Lopes Codonho, Raiza Ismério Roznieski, Tatiana Feldens, Thiago Oliveira, Vinícius Roratto Carvalho, Yara Tropea. Repórteres Fotográficos: Andressa Vargas Griffante, Daniela Curtis do Lago, Fernanda Faria Correa, Fernando Sá Correa, Gabriel Pozzobom Silveira, Gabriela M de Oliveira, Ingrid Guerra , Jaqueline O. Sordi, Jessica Tarantino de Carvalho, Karoline Sara Danardi, Laís Cerutti Scortegagna, Lucas Soares Costanzi, Pedro de Oliveira, Raissa Genro, Tamara Carvalho, Vinicius Roratto Carvalho. hipertexto Porto Alegre, outubro de 2007 Especial/ Feira do livro 2007 Antônio Hohlfeldt Gabriela de Oliveira/Hiper entrevista “Fazer literatura exige história e narrativa” Por Fernando Rotta Weigert e Clarissa Caum Para contar uma história, não basta um bom discurso. A criança é conquistada com boa história e narrativa qualificada, sustenta Antônio Carlos Hohlfeldt, patrono da 53ª Feira do Livro de Porto Alegre. O escritor, jornalista, professor e político foi escolhido dentre nove nomes destacados, como Juremir Machado, Luiz Coronel, Jane Tutikian e Luis Augusto Fisher. Ele substitui Alcy Cheuíche e sua escolha resultou da votação entre ex-patronos, representantes da área cultural, diretores da Câmara Rio-Grandense do Livro e universidades. Hohlfeldt se apresenta com “um militante da questão cultural” e considera que, nos anos 70, houve uma virada do jornalismo cultural brasileira, quando a imprensa aderiu ao modelo da indústria cultural, abandonou os suplementos culturais e reduziu os espaços para a crítica. “A política literária ficou na academia. O grande problema é que, daqui a 30 anos, quem quiser saber o que ocorria na cena cultural de Porto Alegre não vai ter onde buscar essas informações”, alerta. Formado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e com mestrado e doutorado em Literatura pela PUCRS, foi professor na Unisinos e Ulbra. Já trabalhou no Correio do Povo e no Diário do Sul, na área de jornalismo cultural. Foi assessor nas Secretarias Municipal de Cultura (1972) e Estadual da Cultura, Desporto e Turismo do Estado (1978-1981). Também trabalhou na seção da Rádio Canadá Internacional, foi assessor de imprensa da Fundação Sinfônica de Porto Alegre e do Instituto Goethe (1976). Hohlfeldt já publicou 23 livros infantis e ainda carrega uma bagagem de atuação política. Foi vereador em 1983, reconduzindo à Câmara por cinco vezes, e vice-governador na gestão de Germano Rigotto (2002-2006). Atualmente, é professor na Faculdade de Comunicação Social da PUC e crítico de teatro no Jornal do Comércio. Em entrevista ao Hipertexto, o novo patrono expõe seus pontos de vista sobre literatura, jornalismo e política, áreas em que atua. Hiper: É um sonho ser patrono da feira do livro? Desde que me convidaram para ser um dos 10 patronáveis, tinha 10% de chance de me tornar um. Como tenho muitas atividades, além da literatura, achava que não tinha muita chance ser escolhido. Imaginei alguém mais vinculado à produção literária. Foi uma surpresa e ao mesmo tempo uma alegria. A escolha me dá responsabilidade pelos outros nove, pelos antigos patronos e pelo evento em si. Quais são as atividades de um patrono? Uma série de atividades: fazer visitas aos autores e bancas; ir aos lançamentos dos livros; enfim, estar fisicamente presente na feira. Eu quero propor atividades descentralizadas, como ir a algumas escolas de periferia, levando doações de livros para as bibliotecas; visitar crianças em hospitais, promovendo momentos de leitura. Mostrar que a feira não se concentra só na praça, ela “anda” um pouco. Tiveste influência de alguém para ser assim? Não. Quando fiz testes vocacionais, apontava que poderia ser desde médico até professor, o que não me ajudou em nada. Mas sempre gostei de escrever, então transformei isso gradualmente na vontade de ser jornalista. Acabei fazendo jornal e Letras por um absoluto acaso. Letras porque um amigo queria cursar e fiz vestibular. Entrei para o Correio no momento que o jornalismo foi dado como profissão. Tudo foi bem casual, apesar de lá adiante sempre ter a idéia da literatura. Que ano começaste a dar aula? Desde guri eu dava aulas particulares, porque eu era bom aluno, aí ganhava o meu dinheiro. Quando estava na faculdade, fiz estágio obrigatório no Colégio Aplicação (Ufrgs) e comecei a lecionar no IPV, primeiro curso pré-vestibular de Porto Alegre. Na volta do Canadá, dei aula no curso de Jornalismo da Unisinos. No início dos anos 80, substituí um professor na PUCRS. Como surgiu a idéia de escrever para crianças? No final da década de 70, surgiu no Brasil uma literatura realmente voltada às crianças, quando ocorreu uma mistura de realidade com fantasia. Até então havia basicamente o Monteiro Lobato. Livros que causaram polêmica entre 1970 e 1980 foram “O menino e o pinto do menino” e “Os rios morrem de sede” de Vander Piroli. Na época, eu fazia critica literária no Caderno de Sábado do Correio do Povo. A partir dessas publicações, me interessei pelo assunto. De onde veio a idéia do primeiro livro infantil? Eu era professor na Unisinos e me envolvi com a questão dos índios no estado. Escrevi a história de uma experiência que vivi em uma aldeia. Então, surgiu meu primeiro livro, Porã (1980). Em 1981, foi lançada “A Guerra de Porã”. Ao escrever para o público jovem, existe a preocupação de que sejam potenciais leitores futuros? Penso nisso, por que sou um militante da questão cultural. Mas quando vou escrever, meu objetivo é contar uma história. Não adianta fazer “discurso” se eu não tenho uma boa narrativa, que prenda a criança. Quando escrevo, duas fases me preocupam muito: as primeiras linhas que definem se, realmente, o leitor irá ler o livro e o final, pois quando a leitura termina, o que se lembra é o fim. A história provoca uma espécie de memória. Por que hoje és o único critico de teatro? Tem um motivo histórico, que é a virada do jornalismo cultural dos anos 70, quando se adere ao modelo da indústria cultural e se abandona os suplementos culturais. Há poucos remanescentes: Rascunho, do Paraná, Suplemento, de Minas Gerais. A política literária ficou na academia. O grande problema é que, daqui a 30 anos, quem quiser saber o que ocorria na cena cultural de Porto Alegre não vai ter onde buscar essas informações. Como a política entrou na tua vida? Eu sempre fui muito ligado à política. Em 1974, escrevia no Correio, mas me incomodei com o Dops (Departamento de Organização Política e Social, do regime militar) e a partir disso viajei para o Canadá. Voltei em 1975, quando decidi participar da vida partidária, pois quando Eu sou... Curioso e organizado Escrevo... No meu Sítio. Nas horas vagas leio... Muita coisa, mas em especial poesia. Livro de cabeceira: Não tenho um especifico, leio de livros infantis até Gabriel Garcia Marques. Estou escrevendo no momento... Sobre as palestras de cinema do projeto “Fronteiras do Pensamento” Último livro infantil que escrevi... “O velhinho que virou criança” – História do nascimento de Mário Quintana até as primeiras namoradas. Projetos futuros... Estudar os jornais do período em que Portugal e Espanha estiveram unidos. Ver como foi a evolução do jornalismo em Portugal e no Brasil. abertura 3 estava fora do Brasil convivi com exilados políticos (brasileiros e chilenos). Havia muitos chilenos, pois acabara de ocorrer o golpe (1973) do General Pinochet, no país. Me filiei ao PT, logo após seu surgimento, e acabei sendo o primeiro vereador do partido. Ter sido governador do estado influenciou nas outras atividades? Sempre influencia, não sei exatamente em que, mais do que em 10 anos na universidade. Viajei muito pelo Rio Grande, como vice, conheci estruturas. Interfere, no mínimo, como experiência de estar do outro lado da comunicação, não como jornalista, mas sendo fonte. Ver como a autoridade tem que se comportar junto ao jornalista, porque, às vezes, o mais importante eles não perguntam. Sendo político, escritor e crítico, como administras essas diferentes funções? São momentos diferentes. Assim que eu troco o espaço físico, eu também troco o registro, a cabeça. Para fazer história infantil, tu tens que mergulhar naquele mundo, naquela lógica. Já me acostumei com essa troca, pois desde muito cedo exerço diferentes funções. O mercado de livros para criança é interessante. Obviamente, ninguém fica rico com isso. Se eu me concentrasse mais, daria uma sobrevivência razoável, mas como escrevo livros a cada dois/três anos, tenho uma produção razoável, nada que dê autonomia financeira. Sobre a Feira do Livro de Porto Alegre? A diferença da feira do livro daqui é que é na praça. Nos outros lugares do mundo é em lugares fechados, paga-se ingresso para entrar. Aqui, os escritores ficam no meio do público. A criação da feira do livro infanto-juvenil – no cais do porto - é outra questão interessante. Tem programações especiais e a criança não se perde no meio da feira. Os balaios de livros é outro elemento de que gosto muito, inclusive montei boa parte de minha biblioteca a partir deles. É um conjunto de elementos que faz da feira de Porto Alegre um evento especial. Começa a 53ª No dia 26 de outubro começou a 53ª Feira do Livro de Porto Alegre. O evento que ocorrerá até o dia 11 de novembro contará com 165 expositores: 117 na Área Geral, localizada na Praça da Alfândega, 31 na Área Infantil e Juvenil, no Cais do Porto e 17 na Área Internacional, na Avenida Sepúlveda. Além da venda de livros, serão realizadas sessões de autógrafos, oficinas e outros eventos divulgados através da Voz do Poste, um sistema de alto-falantes instalados na Praça da Alfândega. O horário de funcionamento se estenderá das 13h às 21h, com entrada franca. O espaço dedicado às crianças funcionará das 9h às 21h. 4 economia Porto Alegre, outubro de 2007 hipertexto Empresas gaúchas As razões do sucesso e do crepúsculo Grupos econômicos são vendidos para capital de fora, enquanto outros não param de crescer Fotos Ingrid Guerra/ Hiper Por Bernhard Friedrich Schlee Sinônima de aviação comercial por anos, a Viação Aérea Riograndense (Varig) surgiu no Rio Grande do Sul em 1927 e por isso era considerada gaúcha. Quase 80 anos depois, afundada em dívidas, entrou em crise e, em julho de 2006, foi comprada por outra companhia aérea, a Gol. Deixou de ser gaúcha e não foi a única. Nos últimos anos, grandes e pequenas empresas nascidas no Estado foram engolidas: o Grupo Ipiranga e a Caldas Júnior são exemplos. Enquanto isso, outras empresas genuínas do Rio Grande do Sul conseguem sobreviver e, ainda, progridem com sucesso como o Grupo Gerdau. Por que tantas empresas definham e são vendidas e outras não param de crescer? O Grupo Gerdau, um dos maiores produtores de aço do mundo e maior empresa do sul do país (como indica a revista Amanhã em sua edição Grandes&Lìderes), expandiu suas atividades, atuando em 13 países e, agora, volta sua atenção para a Ásia. Além da Gerdau, ainda se pode citar Borrachas Vipal, Grendene e o Grupo RBS. Entre os diversos fatores que agem para que esse panorama ocorra, se destaca a globalização, por criar uma competitividade muito mais acirrada entre as empresas, principalmente quando entra em cena o mercado asiático, com seus produtos de baixo custo. “Algumas empresas que conseguem se preparar para conviver com a área internacional, como é o caso da Gerdau, com base nos Estados Unidos e em vários lugares, têm condições para competir, e essa competitividade permite que possa concorrer”, afirma Antônio Carlos Coitinho Fraquelli, economista da Fundação recortes Professores acorrentados Uma comissão de professores, servidores ligados à educação, alunos e pais representando o CpersSindicato ficaram seis horas, dia 11 de outubro, acorrentados em frente ao Palácio Piratini até serem recebidos pelo chefe da Casa Civil, deputado Luiz Fernando Záchia. Os manifestantes queriam discutir com o governo questões como investimento em educação, salários, falta de pessoal nas Sinônimos de sucesso, Varig e Gerdau traçaram caminhos muito diferentes: a gaúcha da aviação enfrentou dura crise e a líder do aço não pára de crescer de Economia e Estatística. Fraquelli destaca ainda que é importante que a empresa saiba se encaixar no contexto da globalização. “Se possuir uma mentalidade regional, como algumas empresas gaúchas, provavelmente será engolida por uma organização que cobre uma área nacional ou até mesmo internacional”, prevê. A inflação também é um agente relevante. Ao ter que lidar com uma inflação que atinge níveis astronômicos, como ocorreu no final dos anos 1980, torna-se difícil criar estratégias de mercado concretas. Segundo Fraquelli, todas essas empresas que conviveram com o período da superinflação sofreram as conseqüências. “Quando você está voltado só para o mercado interno, não tem referência externa, corre apenas para equilibrar preços. Não é o que acontece com a empresa voltada para o exterior, como é o caso da Gerdau”, exemplifica. As empresas que atuam no mercado interno, como a Varig, passam por dificuldades nessas situações. Apesar da série de fatores externos que interferem no rumo que uma empresa toma, é, internamente, ou seja, na sua própria gestão, que se decide se ela afunda ou decola. Se não possui capacidade de se precaver, de agir de acordo com o rumo do mercado financeiro, de acompanhar a globalização, não há nada que possa ser feito para salvá-la, garantem os especialitas de mercado. Assim algumas empresas gaúchas acabaram engolidas. “As empresas gaúchas dormiram em berço esplêndido porque não perceberam ou não acreditaram ou não se prepararam para o processo de globalização da economia. A economia, hoje, já é uma economia global”, explica Leandro Antonio de Lemos, professor da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da PUCRS. Ao mesmo tempo em que uma empresa fecha suas portas devido à ineficiência de gestão, outras obtêm sucesso ao identificar a situação do panorama econômico mundial e se adequarem a ele. O diretor de redação da revista Amanhã, Eugênio Esber, considera que o fator que define o sucesso ou o fracasso da organização é sua gestão: “Tudo se resolve numa empresa, para o bem e para o mal, pela gestão. Uma empresa que tem problemas financeiros provavelmente é por má gestão. Uma empresa com produto tecnologicamente defasado é por má gestão”. Para ele, o que vai determinar o sucesso de umas e o fracasso de outras é a qualidade das decisões que uma empresa toma ao longo do tempo. “Seus gestores devem perceber oportunidades e definir uma forma correta de explorá-las. É importante identificar ameaças e perceber de que maneira neutralizá-las. Só assim, cresce a capacidade da empresa de construir vantagens em relação aos concorrentes”, enumera.. Sem sotaque O fato de uma empresa ser gaúcha importa ou não? Esber é da opinião de que se uma empresa gaúcha não consegue competir, e a alternativa de sobrevivência é ser incorporada por um grupo pernambucano, cearense, mineiro ou paulista, as pessoas não darão “a menor pelota” para o fato de ser controlada por não-gaúchos. “Elas querem é que a empresa invista no Estado, gere empregos, recolha impostos, movimentando a economia local, e seja próspera”, diz. A “desgauchização” das empresas também pode gerar alguns problemas, pois as de fora não possuem a mesma preocupação social do que as oriundas do próprio Estado. Lemos entende que algumas empresas transnacionais não têm o vínculo com a comunidade local e podem destruir o meio-ambiente, o tecido local de relacionamentos. “Pode ser que essas empresas transnacionais não tenham carinho, cuidado, esse zelo de querer preservar e incentivar a cultura local”, supõe. O futuro das empresas gaúchas é incerto. Não é possível dizer se surgirão mais Varigs ou Gerdaus. Depende delas e da habilidade de enfrentar os problemas, da capacidade de gerenciar as crises e de aproveitar as oportunidades. Quando sua competência ou ineficiência tornarem-se evidentes, se saberá o caminho. As crises sempre são precursoras da falência de grandes empresas, mas saber contorná-las é garantir a sobrevivência no mundo dos negócios. É a aurora de um futuro promissor, ou o crepúsculo. Thais Silveira escolas, além do pacote contra o déficit do Estado. Záchia explicou, após receber ofício como pedido de agendamento da conversa, que os servidores serão recebidos pelo governo. Parte do grupo permaneceu na Capital para participar do 20° Encontro de Educação do CpersSindicato, de 11 a 14 de outubro, no Teatro Dante Barone, na Assembléia Legislativa. País das indenizações Para cada jornalista que trabalha nos cinco principais grupos de comunicação brasileiros (Folha de S. Paulo, Organizações Globo, Grupo Abril, O Estado de S. Paulo e Editora Três), existe cerca de um pedido de indenização de pessoas citadas em reportagens. Se a estimativa da ONG “Article 19”, de Londres, for comprovada, o Brasil baterá o recorde mundial. Segundo o editor do site que realizou a pesquisa, Márcio Chaer, os processos caíram de 3.342 para 3.133 entre 2003 e 2007, mas o valor médio das indenizações subiu de R$ 20 mil para R$ 80 mil. Tragédia em Santa Catarina A segunda maior tragédia rodoviária do Sul do Brasil ocorreu em Santa Catarina na noite do dia 9 de outubro. Na BR-282, em Descanso, no sentido São Miguel do Oeste-Maravilha, dois acidentes mataram 27 pessoas e deixaram 88 feridos. A primeira colisão foi entre um ônibus e uma carreta onde morreram 11 pessoas e outras 40 ficaram feridas. Logo após, policiais rodoviários e bombeiros chegaram ao local e sinalizaram a rodovia. Duas horas depois, um caminhão MercedesBenz, guiado por Rosinei Ferrari a mais de 100km/h, ignorou os cones sinalizadores, trafegou por pelo menos 1,5 quilômetro na contramão, colidiu em uma ambulância, arrastou dois caminhões de bombeiros e um guincho, matando 16 pessoas e ferindo mais 50. Entre os atingidos, policiais, bombeiros, socorristas, médicos, enfermeiros que prestavam socorros a vítimas do outro acidente e repórteres que faziam cobertura. hipertexto mundo 5 Porto Alegre, outubro de 2007 Crônica da China Os estranhos carros de Pequim Por Rafael Codonho Lembranças da China Para conhecer uma cidade e seus habitantes, a melhor escolha é conversar com o taxista. Na China, não é diferente. Os motoristas de táxi de Pequim gostam de bater papo com os estrangeiros, mas o sotaque, recheado de “erres”, dificulta um pouco. Uma coisa engraçada é que ao menor “ni hao” (oi, em chinês), o interlocutor nem pensa em reduzir a velocidade da fala ou evitar palavras difíceis. Resta sorrir e concordar, além de supor que a pessoa seria incapaz de estar te xingando. A bandeirada na capital chinesa custa 10 yuans (R$ 2,40) e é mantida por bastante tempo, até chegar a um limite e começar a aumentar o preço. Como a tarifa do metrô custa 4 yuans (R$ 0,96), o táxi é uma boa escolha para curta e média distâncias e, é claro, quando não tem trânsito congestionado. O taxista de Pequim é conhecido por seu mau humor, mandarim difícil de ser entendido e picaretagem. Comprovei os três. Quando se deparam com um estrangeiro, geralmente pensam ser um turista recém-chegado e há grande possibilidade de terem o maior lucro possível. Eles dão voltas e mais voltas e pegam os caminhos mais longos. Um amigo de Seattle volta para casa com amigos chineses e, após todos serem deixados em casa, ele indicou o endereço para o taxista. Passou alguns segundos e o motorista apertou um botão que acelera o taxímetro. O norte-americano recém-chegado a Pequim, como estava sozinho, preferiu evitar problemas e pagou o preço exorbitante. Quando o passageiro desceu do carro, o taxista retirou a placa “táxi” do carro e a guardou. Era um táxi falso. Na China, há outro tipo de táxi, chamado heiche (carro negro). O “negro” indica do que se trata: é táxi ilegal. Parece um carro normal, não há indicadores de que se tratar de um táxi. Costumam ficar perto de faculdades, shoppings, estações de trem, entre outros locais movimentados. Quando alguém chega perto, oferecem a corrida com certa discrição. A polícia, ao se deparar com um carro negro, não hesita em prender o motorista. A vantagem do táxi ilegal é que o preço pode ser determinado antes, isto é, não há mais perigo de ser enrolado com muitas voltas. No cenário chinês, existem as sanlunche (carro de três rodas), que circulam em todas as cidades que visitei. São adaptações de bicicletas e motos para comportar de dois a quatro passageiros. O preço varia conforme a quantidade de pessoas e costuma ser três vezes mais barato que o táxi convencional. São adequadas para conhecer a paisagem da cidade e percorrer distâncias curtas, mas cada uma tem seu potencial: a bicicleta oferece um passeio de volta ao tempo; a moto é ágil e costura o já complicado trânsito. As vantagens se contrapõem com sua fragilidade. Há menos de três anos, uma estudante da minha universidade foi vítima fatal de um acidente, enquanto estava no veículo. Geralmente, os motoristas dessas bicicletas e mototáxis migraram do interior, onde eram camponeses. Nas cidades, encontram um trabalho mais rentável. Em Pequim, a maioria desses veículos é ilegal e, com freqüência, são apreendidos pela polícia. Na capital chinesa, apenas em poucos pontos turísticos, o veículo é legalizado e o preço supera o do táxi por ser exótico. Em outras cidades, como Changxing, no interior da província de Zhejiang, sudeste da China, os motoristas vestem uniformes, seguindo a lei que autoriza a profissão. A experiência com estes motoristas faz com que os estrangeiros sempre perguntem antes o preço da corrida. Quando isto não ocorre, a Fotos Rafael Codonho/ Hiper Mototáxi, um dos múltiplos veículos da cidade, circula próximo à Universidade de Comunicação da China chance de haver inflação é grande e foi isto que aconteceu comigo diversas vezes. Na mais emblemática, quando cheguei ao ponto desejado, ofereci ao condutor mais do que o normal, devido ao esforço em pedalar. O que se assemelhava a um esboço de felicidade foi transformado quando ele desceu da bicicleta e indicou oito com a mão, exigindo 8 yuans, quase o equivalente ao preço de um táxi normal. Respondi que não ia pagar tanto, pois sempre me locomovia com este veículo e sabia o preço. Ele começou a ficar mais nervoso e gritou que eram duas pessoas. Vendo que ele parecia estar fora de controle, entreguei 10 yuans e falei que ficasse com o troco. Uma retirada covarde. As histórias nem sempre são cômicas. Um senhor muito idoso, com o corpo visivelmente debilitado, mantinha uma bicicleta-táxi e trabalhava todos os dias. O preço cobrado por ele era abaixo dos seus colegas. Certo dia, se envolveu num acidente e quebrou a perna. Além de ficar meses sem trabalhar, gastou 10 mil yuans (R$ 2.400) no tratamento, sem nenhum apoio do sistema de saúde pública, que cobre apenas os funcionários do governo. Foto Vinicius Carvalho/ Hiper Feira das Profissões reúne milhares de jovens Mais de 16 mil pessoas visitaram os estandes da Feira das Profissões 2007 da PUCRS. O público teve a oportunidade de conhecer detalhes sobre os 71 cursos da Instituição e conferir o desafio de robôs, experimentos do Museu de Ciências e Tecnologia, atividades do Parque Esportivo, entre outros. Também foi realizado o Concurso Vestibular Simulado da PUCRS, que teve mais de 2 mil participantes. Os estudantes responderam a 45 questões inéditas, das 9h às 12h, simultaneamente no Campus Central e nas cidades de Uruguaiana, Alegrete, Quaraí e Itaqui. Após, as questões foram comentadas e corrigidas pelos professores. Todos os que fizeram o simulado terão direito a um desconto de 50% na inscrição do Vestibular de Verão da PUCRS. (Thais Silveira) 6 sociedade Porto Alegre, outubro de 2007 Lei Seca, os dois lados da polêmica Secretário gaúcho de Segurança propõe uma Lei Seca para combater a violência, a exemplo do que fez a cidade paulista de Diadema. Críticos asseguram que não basta a medida Por Fernando Rotta Weigert Álcool é sinônimo de violência? A Organização Mundial da Saúde (OMS) registra que 78% das mortes em acidentes de trânsito no Brasil têm a presença de uso de bebidas alcoólicas. Uma em cada três pessoas que morre na região da Grande Porto Alegre apresenta álcool no sangue. Além de ser responsável por mais de 60 doenças. Todos estes motivos avalizam o secretário da Segurança, José Francisco Mallmann, em sua cruzada pela aprovação de uma “Lei Seca” para todo o Estado. A idéia inicial do secretário era que os dez municípios mais violentos fizessem leis municipais, proibindo o consumo de bebidas alcoólicas, da meia-noite às seis da manhã, nos finais de semana. Depois de encontrar resistência nas cidades, Mallmann decidiu criar uma lei estadual. O esboço da lei prevê a restrição à venda de bebidas alcoólicas, de domingo a quinta, a partir da meianoite. Nas sextas, sábados e feriados, depois da uma hora da manhã. A proposta continua em discussão, sem que o governo do Estado a adote e a converta em projeto de lei. O secretário de Segurança defende a proposta com base em uma experiência no interior de São Paulo. A cidade paulista de Diadema era uma das mais violentas do Brasil, e hoje é um exemplo de segurança pública, segundo dados do Sindicato hipertexto Laís Cerutti Scortegagna/ Hiper Idéia de 1919 Proposta é restringir o horário de venda de bebida alcoólica no Estado Médico do Rio Grande do Sul (Simers). No município, como explica Ana Maria Martins, coordenadora das Políticas Públicas para o Álcool do Simers, a Lei de Fechamento de Bares fui estipulada às 23h. “Antes de colocar a lei em prática, a secretária de Segurança de Diadema, Regina Miki, fez mais de 100 reuniões com a comunidade para discutir a questão e obter apoio. Depois do amplo debate, instituíram então a lei com fiscalização”, assegura Ana Maria. A fiscalização ocorre de forma aleatória. Para o estabelecimento ser fechado definitivamente tem que sofrer quatro autuações. Hoje, dos 4,8 mil bares da cidade, apenas 32 funcionam durante o horário de restrição, pois cumprem os requisitos impostos pela Prefeitura, como segurança própria e isolamento acústico. Contudo, os resultados da restrição à venda de bebidas naquela cidade são contestados. “É uma falácia o modo como a Lei Seca de Diadema é apresentada por aqueles que estão de acordo com a medida”, reage Daniel Antoniolli, presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Porto Alegre. “O que aconteceu naquela cidade foi uma mudança estrutural na polícia. Os índices de violência já eram menores dois anos antes de ser implantada a medida”. A deputada estadual Stela Farias (PT) também se posiciona contrária ao secretário e alega que a lei como única medida de segurança pública não basta. Lembra que, em Diadema, a ação funcionou, pois não foi isolada, houve um amplo levantamento da criminalidade e um investimento pesado na inteligência da Polícia. “Dizer que a lei seca diminuiu a violência é simplificar o caso”, contrapõe. No Estado Dos mais de 400 municípios gaúchos, apenas quatro aderiram à sugestão do secretário: Dois Irmãos, Santa Rosa, Canela e Vacaria. Em Canela, restaurantes e estabelecimento que funcionam dentro de hotéis e pousadas, base do turismo, ficam fora da restrição de horário. Bares e lanchonetes só poderão funcionar até 22 horas, reabrindo às 6 horas. Boates e danceterias ficam abertas até às 22h de segunda a quinta, domingo e feriado. Sexta, sábado e véspera de feriado, funcionam até as 4 horas. Lanchonetes, casas de chá e de sucos servem bebida alcoólica até às 22 horas, podendo funcionar até a meia-noite. “Ao respeitar situações peculiares, Canela fortalece a legislação”, lembra Floriovaldo Nunes, diretor de Relações Comunitárias da SSP, em entrevista ao site do Simers. Para Antoniolli, aprovar a lei em cidades que têm ampla atividade comercial durante a noite é provocar o fim da vida noturna do lugar. A Assembléia Legislativa está dividida quanto à medida. Para a deputada Stela Farias, falta uma política de Estado para combater a violência. “Em Diadema, por exemplo, a cultura de paz passa por todas as secretarias. No Rio Grande do Sul, cada vez que entra um novo secretário, ele vem com uma medida salvadora, a lei simplesmente não adianta”, rechaça a parlamentar. O deputado Giovani Cherini (PDT), em artigo, defendeu a medida, pois O termo “Lei Seca” é mundialmente famoso porque, em 1919, os Estados Unidos adotaram a restrição à bebida álcoolica. A lei que vigorou naquele país por quase 14 anos condenava a fabricação, venda, transporte, importação e exportação de bebidas alcoólicas em toda a área dos EUA e dos territórios judicialmente submetidos a eles. Entretanto, a medida foi amplamente burlada. Criaram-se fábricas de bebidas clandestinas, e o crime organizado viu no contrabando uma oportunidade de faturar altas quantias. A cidade mais afetada pelos gansters foi Chicago. O grande chefão da Máfia naquela época, Al Capone, no entanto somente pôde ser acusado de sonegação de impostos, pois a justiça se mostrou incapaz de reunir provas criminais contra ele. Em dezembro de 1933, o presidente Franklin Roosevelt revogou a lei, levando boa parte dos delinqüentes à falência. crê que ela terá um efeito imediato. “Apenas quatro municípios gaúchos adotaram a medida: Canela, Vacaria, Santa Rosa e Dois Irmãos, estes dois últimos com registro de redução de 50% nos delitos”. O país hoje gasta 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) com perdas causadas pelo álcool, e a indústria de bebidas recolhe apenas 3,5%, conforme o Simers. Mas Diadema é o único município que mostra êxito na questão. Em Recife, a única capital em se tentou implantar a lei, um ano depois foi revogada. Faltou fiscalização e também se formou um comércio paralelo de bebidas, o que baixou a qualidade do produto. Os opositores à medida alegam que outras leis já existem, como as que proíbem a venda de bebidas alcoólicas para menores de idade e dirigir após ter bebido. O presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares lembra que a polícia não tem contingente para defender a população, logo, como fará para controlar a venda de bebidas? Os defensores rebatem dizendo que ela terá um efeito imediato, pois será proibida a venda para todos, e as prefeituras poderão firmar acordos com a SSP para fiscalizar os estabelecimentos. Enquanto a polêmica segue, vale lembrar que Diadema, quando aprovou a lei, tinha 80 % da população favorável à medida, o que não acontece no Estado. O município paulista é considerado uma cidade dormitório e tem em média 380 mil habitantes. As grandes cidades do Estado, como Porto Alegre e Caxias, têm populações maiores e intensa vida noturna. Por enquanto, a Lei Seca segue em discussão, mas o que se nota é que onde ela já é fato não há consenso sobre sua eficácia. hipertexto diversão 7 Porto Alegre, outubro de 2007 Gabriela Oliveira/ Hiper Seminário alerta para o uso de álcool na adolescência Por Luciana Birck Os jovens começam a ingerir bebidas alcoólicas cada vez mais cedo. As conseqüências são aumento de acidentes de trânsito, da violência, de brigas, principalmente nas madrugadas dos finais de semana. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas e suas conseqüências foram debatidos no 3º Fórum Qualidade de Vida e Saúde, realizado dias 4 e 5 de outubro, em Porto Alegre. Uma das palestrantes foi a psiquiatra Analice Gigliotti, que contextualizou o problema: “Vivemos no país que é o terceiro maior produtor de bebidas alcoólicas do mundo. Aqui se compra e se consome bebidas sem fiscalização efetiva. Diante disso, é complicado controlar o abuso do consumo de álcool”. O problema do álcool inicia com o consumo social. “Os jovens começam a beber para fazer parte de um grupo, por curiosidade, prazer, influência dos pais, pela cultura do beber social ou por incontáveis motivos. O uso precoce da bebida está ligado às maiores causas de morte na adolescência”, alertou o psiquiatra Félix Kessler. Ele explica que quanto mais cedo o Vinícius Carvalho/Hiper Mallmann: cruzada contra bebida jovem tem contato com as drogas, mais cedo seu cérebro assimila. “O prazer imediato, sem postergação, torna-se um hábito, um valor”. Ele chama a atenção das pessoas para as propagandas de bebidas alcoólicas que trazem personagens infantis. As crianças são estimuladas desde cedo, preparadas psicologicamente para consumir bebidas. Quando chegam à adolescência já estão com a idéia de que beber cerveja é legal. “Estatísticas mostram que crianças e adolescentes começam a beber entre 10 e 12 anos. Precisamos reverter essa situação”, propõe. Com o cigarro quase banido do convívio social, agora é o álcool que ultrapassa os limites da conveniência. Os críticos alertam que ele não é pe- rigoso só para quem bebe. Qualquer pessoa pode sofrer as conseqüências da violência e dos acidentes de trânsito causados pelo consumo abusivo de álcool. O promotor de Justiça do Ministério Público Estadual da Infância e Juventude, Miguel Velásquez, acredita que o álcool possa ter o mesmo destino do cigarro. “Há algum tempo, as pessoas diziam ser impossível combater o fumo, porque fumar era uma questão cultural. O álcool caminha nesse sentido. Há pouco tempo era glamourizado e agora passa a ser visto como nocivo”. O álcool é causador de mais de 60 doenças, segundo o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers). Entre elas, estão cirrose, demência, miocardite, desnutrição, hipertensão arterial, infarto e certos tipos de cânceres. As propagandas de bebidas mostram o lado descolado, divertido e prazeroso de beber com os amigos e fazem questão de não alertar os consumidores para os riscos da ingestão de bebidas alcoólicas. A propaganda é eficiente na venda de bebidas, mas o problema está no fato de que o enfoque são os jovens, principais vítimas de acidentes e mortes causadas pelo álcool. Hoje já existem campanhas que informam as pessoas sobre o perigo do abuso alcoólico, mas não são suficientes para conscientizar a sociedade. O médico Jairo Bouer critica a legislação brasileira: “Há um exagero na publicidade. Teria que ter uma regulamentação maior. Só existem leis rigorosas para bebidas de alto teor alcoólico. As de baixo teor nem são consideradas como bebidas”. Para ele, é irreal pensar em uma sociedade sem álcool. “É preciso fazer com que o jovem aprenda a beber. Essa situação que estamos vivendo só será revertida quando cada um entender os riscos do álcool.” No 3º Fórum Qualidade de Vida, foram levantadas algumas soluções como a redução da oferta de bebidas alcoólicas, dificultar as vendas, restringir a propaganda focada nos jovens e criar campanhas de conscientização dos males causados pela bebida. José Francisco Mallmann, secretário de Segurança do Estado, finalizou o evento sugerindo que a Lei Seca seja adotada e que haja uma fiscalização eficaz. Para isso, o dinheiro arrecadado com multas deveria ser revertido para a própria polícia. Mallmann exemplifica: “Quando o uso do cinto de segurança em automóveis se tornou obrigatório, as pessoas se obrigaram a usá-lo, porque havia fiscalização e multa para quem desobedecesse a lei. O que aconteceu? Hoje há a cultura do uso do cinto. Pode ser assim também com o problema do alto consumo de bebidas alcoólicas. Cria-se uma lei e aplicam-se multas pesadas em quem deixar de cumpri-la”. Pepsi on Stage O chão tremeu ao som de Black Eyed Peas A musa da música Pop, Fergie, em apresentação no Pepsi on Stage ao lado dos companheiros do Black Eyed Peas Por Camila Rinaldi Quatro mil e cem metros quadrados. Capacidade para seis mil pessoas. Lounge, pista e treze metros de palco. Uma mega infra-estrutura, igualada a lugares como Amsterdã, na Holanda, Albany e Indianápolis, nos Estados Unidos, também em Porto Alegre. Estas e outras vantagens estão no Pepsi On Stage. Localizado na Avenida Severo Dullius, n.º1995, em frente ao Aeroporto Salgado Filho, é o local de grandes produções, shows nacionais e internacionais da Capital. Ali houve a única apresentação da banda americana Black Eyed Peas no país em 2 de outubro, no Pepsi On Stage. Com direito a tombos e canções de outras bandas como Sweet Child O´Mine, do Guns N´Roses, o Black Eyed Peas oferece três turnês em uma. Como assim? Além das músicas com Apl.de.ap e Taboo, Fergie e Will.I.am estão construindo uma sólida carreira solo. Durante o show, que diga-se de passagem teve um inicio britânico, a cantora mostrou canções do seu álbum solo The Dutchess, pelo qual recebeu, durante a coletiva de imprensa, o disco de ouro conquistado com a venda de 50 mil cópias só no Brasil. Entre os sucessos estavam: Glamorous, Big Girls don´t Cry, London Bridge e Fergalicious. Will.I.am, que acabou de lançar Songs About Girls, cantou a música de trabalho: I got it from my Mama. Com um público estimado de três mil pessoas, grande parte formada por jovens entre nove e 14 anos, acompanhados pelos pais, a turnê Black, Blue and You foi embalada pelos maiores sucessos da quarteto. O chão tremeu ao som de Shut up, Let´s get Started, Don’t Phunk with my Heart, My Humps, Pump it, Where is the Love?, e Hey Mama, está última uma parceria com o brasileiro Sérgio Mendes. Pitada brazuca Os guris da Banda Mr. Marx subiram ao palco um pouco depois da metade do show para cantar a música More ao lado dos integrantes do BEP. O baixista Alexandre Martins, 18 anos, o baterista Luis Fernando Martins, 14, o guitarrista Hikari Sacamoto, 19, e o vocalista Guilherme Brodt, 18, foram os vencedores de um concurso de bandas de colégios da Capital, promovido em agosto, numa parceria entre a Pepsi e o Kzuka. “Fiquei sabendo do concurso e a gente foi tocar no colégio. Uma semana depois já estávamos na final, aí entramos no concurso, tocamos e estamos aqui... é uma loucura!”, diz Luis Fernando. No palco, a versão rock de More feita pelos gaúchos não pôde ser bem entendida pelo público, devido à acústica do local e aos ensaios que não ocorreram. Contudo, percebia-se a excitação e a incredulidade dos meninos no palco. A tensão era tamanha que Fergie, vocalista do BEP, tentava se aproximar dos garotos para cantar abraçada a eles, mas os quatro não conseguiam sair do lugar e pareciam estar grudados feito irmãos siameses. Acústica Com estrutura de acesso para pessoas com necessidades especiais, como rampas e banheiros adaptados, equipamentos de segurança, ambulância equipada e apta a prestar os primeiros socorros e estacionamento com e sem manobrista, o Pepsi On Stage parece um local ideal para shows do porte de bandas como Black Eyed Peas, porém, peca no quesito qualidade sonora. 8 natureza Porto Alegre, outubro de 2007 Meio ambiente ganhou pauta no jornalismo hipertexto Foto Fernanda Corrêa/ Hiper A imprensa supera o preconceito e investe na cobertura do assunto Por Tatiana Feldens “As mudanças no clima do planeta só entraram na agenda internacional quando a imprensa superou o preconceito para com ambientalistas e cientistas e se engajou na cobertura do tema. Deu-lhe primeiras páginas, investiu na procura de especialistas e destacou cenários sombrios do IPCC, grupo de cientistas reunidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para avaliar a questão. Resultado: a opinião pública, os políticos, os gestores públicos e as grandes empresas privadas finalmente se pronunciaram, e o assunto não sai mais da pauta”. A afirmação do jornalista Carlos Tautz, da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, resume a questão central abordada pelo 2º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, realizado na segunda semana de outubro na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e o tratamento dispensado pela mídia impressa às questões com o agravamento dos efeitos produzidos pelo aquecimento global no mundo. Muitas críticas foram tecidas aos meios de comunicação. Profissionais do Estado, do Brasil e, até mesmo do exterior, conduziram o debate ao longo dos três dias de Congresso. O jornalista Eduardo Geraque, do caderno de Ciências do jornal Folha de São Paulo, compara a mídia de São Paulo com a da Cidade do México (México). “Naquele país, as discussões sobre meio ambiente estão mais presentes. Quando há eleição, questionam-se as políticas ambientais que serão adotadas pelos candidatos”. Segundo Geraque, ao contrário da mídia brasileira, a mexicana se envolve com qualquer medida adotada pelos governantes. O jornalista atribui isso ao fato de que, na Cidade do México, a cultura ambiental faz parte do dia-a-dia das pessoas, que se mobilizaram, a partir da década de 80, em decorrência dos altos níveis de poluição. Nas redações dos jornais brasileiros, “não existe alguém pensando a questão ambiental”, explica Geraque, acrescentando que, “além da cobertura não ser constante, é muito fragmentada”. No México, há repórter e editor voltados apenas para meio ambiente, mesmo que não haja um espaço físico reservado, diariamente, específico para isso. “Os jornalistas são incentivados a escrever sobre o tema para as demais editorias e há uma cobrança do leitor pela publicação dessas matérias. Nenhum dos jornais de grande circulação do país – Folha, Estadão e Globo – lança mão do sistema”, aponta Geraque. Falta “olhar sistêmico” dos profissionais brasileiros, por isso “a cobertura ambiental é muito mal feita na imprensa de hoje. Falta o repórter interligar os fatos com as questões sociais, culturais e econômicas do país. Falta trazer a questão para o dia a dia do leitor”. Segundo ele, é preciso construir uma cultura em que o problema ambiental tenha trânsito livre na temática ecológica das redações e não seja abordado apenas quando grandes desastres acontecem. Parcialidade Wilson da Costa Bueno, jornalista e professor da Pós-graduação em Comunicação Social da UMESP e do curso de jornalismo da ECA/ SP, conhecido pela posição crítica, destacou quatro síndromes que considera “as mais dramáticas do ponto de vista da nossa cobertura ambiental: a síndrome da isenção, do zoom, do bandaide e da baleia encalhada”. O jornalista acredita que a pretensa objetividade jornalística acaba por tornar a cobertura ambiental despolitizada. “Ser imparcial e ouvir todos os lados é impossível. No jornalismo ambiental é preciso assumir posição”, pondera. Bueno critica a proposta de jornalismo isento na cobertura de questões ambientais. “Não existem fontes isentas tentando passar as duas visões de uma mesma questão. Sempre estão comprometidas com algo ou com alguma empresa. É preciso sempre verificar quem de fato são as fontes”. Assim como Geraque, cobrou uma abordagem globalizada (zoom maior) dos assuntos tratados. “Precisamos parar de ver a questão ambiental meramente pela visão econômica. É preciso ser sistêmica”. Bueno exemplifica com a questão dos biocombustíveis. “Propagam os benefícios do etanol, mas não associam que cada vez mais incentivam o uso do automóvel. Para atingir a sustentabilidade é preciso ensinar a não usar”, alerta. Outra síndrome apontada pelo jornalista diz respeito às soluções Eduardo Geraque, da Folha de SP, e Wilson da Costa Bueno, da USP, palestraram no segundo dia do Congresso cosméticas propagadas pelos meios de comunicação. “Não é possível que ainda se privilegie o conserto às abordagens educativas”, sintetiza Bueno. A notícia inusitada e esotérica continua sendo mais importante. “A mídia nunca deixa de noticiar a baleia que encalhou, mas não discute a pesca indiscriminada desses animais”, critica. Bueno apresentou uma pesquisa que realiza sobre o “Meio Ambiente na Mídia Impressa’, focando a Folha de São Paulo, o Estadão, O Globo e JB. Constatou que os homens dominam a cobertura das questões ambientais, “o que significa que perdemos e muito do olhar feminino e isso faz muita diferença”. De acordo com o estudo, a maioria dos artigos feitos por colaboradores são assinados por professores, jornalistas, políticos e autoridades. “Artigos es- critos por representantes de ONGs são muito reduzidos”, informa. Para ele, o jornalista ambiental deve estar comprometido com o leitor e não com determinadas empresas. “Não adianta o profissional que atua na editoria de Economia achar que plantação de eucalipto é floresta. Também não há qualquer avanço se, no caderno de Ciência e Tecnologia, forem entrevistados somente cientistas e não ter uma visão social, com olhar voltado para o povo e o meio ambiente”. Ocupação da Amazônia A cobertura das mudanças climáticas sob o ponto de vista brasileiro “é um desafio que vai deixar a mídia com muita dor de cabeça”. A opinião é do britânico Adrian Cowell, que se dedica a documentar a destruição da floresta amazônica. O documentarista apresentou, no Congresso, partes de filmes em que reconstituiu os principais eventos que marcaram a ocupação da Amazônica por agricultores, promovida pelo regime militar, a partir da década de 80, até a situação atual, em que o governo tenta delinear estratégias de monitoramento e melhoria do aproveitamento de áreas, ao mesmo tempo em que luta contra a depleção causada pelas madeireiras e pela criação extensiva de gado. Na avaliação do jornalista uruguaio Vitor Bacchetta, da Rede de Comunicação Ambiental da América latina e do Caribe (CALC), o desafio para o jornalismo ambiental é contribuir para a tomada de consciência e abrir caminho em direção a mudanças de verdade, em harmonia com o ambiente, com equidade e justiça social. Conselho Tutelar Novos guardiões dos direitos das crianças Por Ariane Jorej O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que o Conselho Tutelar dever ser o guardião dos direitos nele consignados. Conscientes disso, em 30 de setembro, quase 70 mil pessoas escolheram os novos conselheiros tutelares que deverão atuar até 2010, em Porto Alegre. Mais de 450 candidatos disputaram as 50 vagas disponíveis. O voto não era obrigatório, mas os votantes estavam cientes da importância desse ato. Crianças e adolescentes em situação de rua é um problema social, e o conselheiro tutelar existe para atuar em benefício da sociedade. Algumas inovações na escolha dos novos conselheiros foram postas em prática, como exigir que os candidatos tenham o ensino fundamental completo e um certificado de 80 horas em cursos, seminários ou palestras sobre o tema da criança e do adolescente. Antes, não era exigido nenhum grau de escolaridade como pré-requisito, qualquer pessoa podia se candidatar. O líder da bancada do PT na Câmara Municipal de Porto Alegre, Adeli Sell, acredita que a qualificação do conselheiro ainda não é a ideal. “Atualmente, a qualificação é péssima. Talvez melhore um pouco agora, depois da nova lei que aprovamos aqui, com exame sem consulta, tanto que vários conselheiros atuais nem passaram na prova”, ressaltou o vereador. Mas passar em um exame não significa garantia de ser um bom conselheiro. O próprio vereador afirma que há casos envolvendo conselheiros com drogas lícitas. “Temos denúncias de conselheiros que têm problemas de alcoolismo, o que é uma patologia, teria que ser tratada, uma pessoa assim não tem condições de exercer devidamente sua função”, afirmou Adeli. Os integrantes do Conselho atuam, principalmente, a partir do recebimento de denúncias de violação de direitos, como violência física, psicológica e sexual, negligência e abandono. Verificados elementos de descuido familiar, agressões ou abusos sexuais, os conselheiros devem buscar, nas Promotorias Especiais da Criança e do Adolescente do Ministério Público, apoio para levar adiante os processos. Além disso, devem denunciar essas questões ao Departamento da Criança e do Adolescente (DECA). O conselheiro pode ser reeleito somente uma vez. O salário de um conselheiro ultrapassa os R$ 4 mil, com vale-transporte e vale-refeição. O plantão centralizado do Conselho Tutelar funciona em horário comercial no Centro de Porto Alegre, na Rua Demétrio Ribeiro, 581, e tem um plantão noturno e nos finais de semana. hipertexto artes 9 Porto Alegre, outubro de 2007 Inspiração e sensibilidade com os pés Artista plástica expôs na Câmara de Vereadores, seu talento especial ao pintar telas Fernanda Fell/ Hiper Por: Patrícia Lima Nascer sem os membros superiores não a deixou incapaz de ser feliz e levar a vida como as pessoas que se dizem “perfeitas”, conta a artista plástica Rita Boz, que pinta quadros com os pés. Aos 43 anos, ela é um exemplo de superação da dificuldade. A gaúcha de Flores da Cunha vive há 20 anos em Palhoça, Santa Catarina. Vítima da Talidomida, medicamento ingerido por gestantes com efeito colateral que provoca danos físicos ao feto, Rita não possui os braços, porém, não se privou de casar, ter uma filha, hoje com 16 anos, cuidar da casa e trabalhar fora. “Quando a menina nasceu, cuidava dela com os pés, sempre fiz todo o trabalho de casa com os pés”, revelou. A arte surgiu aos 38 anos, quando, nas folgas do trabalho como telefonista de um banco em Florianópolis, fazia rabiscos e recebia incentivos dos colegas para fazer um curso. Por meio da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés (APBP), realizou um curso de dois meses para obter conhecimentos básicos de sombra, luz e aproximação. A partir daí, desenvolveu uma técnica própria utilizando tinta a óleo e colagens. Obras abstratas Os quadros de Rita, todos pintados com os pés, variam do abstrato ao figurativo, retratando paisagens, elementos da natureza e imagens sem forma definitiva. “Não gosto de me inspirar em ninguém, prefiro fazer o que me vem à cabeça. Quando surge a inspiração vou criando”. diz. Suas obras são conhecidas e vendidas em vários países do mundo, como Alemanha, Itália e Portugal, através da ABPB, que mantém sua filial na Suíça. “No começo pintava a óleo e eram telas mais figurativas. Depois, pela necessidade de enviálas ao exterior e a tinta a óleo demorar muito mais tempo na secagem, mudei a técnica para tinta acrílica. Agora, já faço um trabalho mais abstrato”, explica. A artista exibe suas telas re- gularmente em Florianópolis e já fez exposições em Curitiba. Em setembro, esteve em Porto Alegre, quando divulgou seu trabalho na Câmara dos Vereadores e vendeu quase todas as obras. Ela conta que gosta de ser convidada para palestrar em escolas, pois tem a possibilidade de incentivar outras pessoas a fazer alguma arte. “Meu trabalho é voltado para o social, para as pessoas se sensibilizarem e verem que muitas pessoas que têm todas as condições e se dizem perfeitas, muitas vezes, não são felizes. Mesmo tendo uma deficiência, a gente pode ser feliz e passar isso para outras pessoas”, conclui Rita. Rita Boz superou limitação física e produz quadros usando os pés Associação reúne artistas em 60 países Fundada por Arnulf Erich Stegman, em 1956, no Principado de Leichtenstein, a Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP) não é uma associação beneficente, mas sim uma sociedade de membros especiais importantes. Possui mais de 700 artistas em 60 países. Todos seus integrantes aprenderam a pintar sustentando o pincel com a boca ou com os dedos dos pés, por não possuírem as mãos. Os artistas entram para associação como bolsistas e se mantêm com Andressa Griffante/ Hiper Bienal amplia espaços e mostra arte em diálogo com o público Por Bruna Ostermann A 6ª edição da Bienal do Mercosul, que iniciou em setembro e vai até o dia 18 de novembro, tem fortes apelos para ser visitada. O primeiro e evidente é as inovações, entre essas, a divisão em três espaços: Cais do Porto, Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs) e Santander Cultural. O segundo motivo para comparecer é que, neste ano, as instalações vão além das exposições de arte contemporânea com o projeto curatorial da Biena, 2007. O projeto está baseado em uma proposta pedagógica que é vista na própria amostra. Há um cuidado com o visitante, percebido nos espaços reservados para descanso. As obras estão divididas em espaços fechados, para que haja uma distinção de quando se passeia e quando se vê arte e, ainda, têm uma explicação textual. Existe também um espaço para o artista dialogar com o público, expondo suas idéias, contextualizando o seu trabalho, de forma que o espectador tenha voz ativa para críticas e sugestões. Em cada mostra se encontram diversos mediadores, que trabalham com a intenção de ligar a idéia do artista com o público e mediar o diálogo. Entre outras instalações, há 20 estações pedagógicas, com salas de aula, bibliotecas e oficinas, destinadas especialmente a estudantes e artistas locais. “A preocupação mais intensa com o público foi baseada em um projeto pedagógico que invoca uma participação efetiva dos visitantes, de forma que eles não recebam apenas as informações passivamente”, explicou o curador-geral Gabriel Perez-Barreiro, doutor em História e Teoria da Arte, nascido na Espanha. “A proposta se estende a uma internacionalização, é uma Bienal a partir do Mercosul, trabalhando o diálogo entre os países que participam e o resto do mundo”, completou. A Bienal do Mercosul apresenta 67 artistas, vindos de 23 países, expondo seus trabalhos divididos em seis mostras. Três são exposições monográficas, que este ano substituem a exposição do artista homenageado. A obra do uruguaio Francisco Matto e do brasileiro-sueco Öyvind Fahlström estão no Margs e a mosGabriel Pozzobom Silveira/ Hiper locais A 6ª Bienal do Mercosul funciona todos os dias da semana, das 9h às 21h, com entrada franca. O Margs fica na Praça da Alfândega, o Santander Cultural é na Rua Sete de Setembro 1028, e o Cais do Porto é na Avenida Mauá 1050. Artistas explicam obras aos visitantes que ganham salas pedagógicas a venda de pinturas em forma de cartões, calendários e outros artigos. A principal preocupação da APBP é incentivar pessoas com essas deficiências a terem uma atividade e se aperfeiçoarem nela, proporcionando-lhes uma bolsa de estudos. Perez-Barreiro, curador geral da 6ª Bienal, na abertura, em setembro tra de Jorge Macchi se encontra no Santander Cultural. As outras três mostras, Conversas, Zona Franca e Três Fronteiras estão expostas nos armazéns do Cais do Porto. A primeira traduz as relações entre os artistas do Mercosul e o cenário global, a partir de obras de arte. “A escolha dos artistas também ocorreu de forma diferenciada, pelos curadores do projeto, para dar melhor a idéia de diálogo”, como conta um destes curadores, Moacir dos Anjos. Nessa mostra se destacam as obras de Jesús Rafael Soto Venez, com seu trabalho Cubo de Nylon; Magdalena Átria, que criou um trabalho abstrato todo composto com massa de modelar recortada, denominado Uma vez, cada vez, todas as vezes; e o vídeo de Peter Fishli e David Weiss, Do jeito que as coisas vão, como conta o mediador Emanuel Alves. O projeto Zona Franca traz ao público trabalhos recentes de artistas brasileiros, americanos, alguns europeus e asiáticos considerados marcantes na atualidade. Obras polêmicas são encontradas nessa exposição, como A Lot(e), de Nelson Leirner, que se detém especialmente a uma crítica aos Estados Unidos. Além deste, outra obra que surpreende o público é a de Harrell Fletcher, que expõe fotos sobre a Guerra do Vietnã e textos bastante efêmeros. Por fim, a mostra Três Fronteiras trata de um programa internacional que abrange artistas que residem na zona da tríplice fronteira do Mercosul: Paraguai, Brasil e Argentina. Os trabalhos mais visitados, segundo o mediador Alex Sandre Andrade, são: Máramo Posto de Troca, de Daniel Bozhkov,e Projeto T.axi, de Jaime Gili. 10 esporte hipertexto Porto Alegre, outubro de 2007 Surfe é ensinado de pai para filho Nova geração de surfistas investe em família no esporte para garantir a carreira no mar Helena Wilhelm Eilers/Hiper Brincadeira de criança é busca pela profissionalização no esporte Por Helena Wilhelm Eilers Nos anos 70, quando o surfe se difundiu no Brasil, muitas mães ficavam de cabelo em pé ao imaginar que seus filhos pudessem ser surfistas, até então sinônimo de desocupado e possível maconheiro. Hoje isso mudou. Aqueles que na época eram “desocupados” viraram pais de família e agora têm a possibilidade, não só de passar sua experiência, mas também o espírito desse esporte para os filhos, possibilitando uma completa interação e fazendo com que a recente geração de surfistas radicalize nas ondas do litoral do Rio Grande do Sul Em um Estado onde o inverno é rigoroso, a água é gelada com a famosa cor “chocolatão” e o vento sopra insistentemente, muita gente pode se desencorajar até a molhar o pé. Porém, o que pode parecer loucura para uns é diversão para outros, e é com esse sentimento que o esporte continua crescendo no Estado, através das gerações. Álvaro de Bortoli é um exemplo disso, pai de João Pedro e Mariana, de 11 e 10 anos, ele sempre incentivou os dois a surfarem. Com três anos de idade os irmãos já davam seus primeiros passos e os primei- ros tombos em cima da prancha. A esposa de Álvaro, Andrea Gervine, sempre apoiou o esporte e os acompanha em todos os campeonatos, nos quais as crianças participam desde os cinco anos de idade. Ela, porém, prefere ver tudo da areia, seu único contato com o surfe foi quando estava grávida dos dois “acho que é por isso que eles são surfistas hoje, foi meu surfe barriguda”, brinca. O investimento valeu a pena e os dois já acumulam prêmios nas suas recém começadas carreiras: João Pedro é bicampeão gaúcho e foi bicampeão Billabong Colegial na categoria Petiz, na qual pessoas até 10 anos de ambos os sexos competem. Mariana é uma das poucas meninas que disputa nessa categoria, mas já com discurso de profissional contorna a situação “é difícil, mas às vezes eu consigo uma boa colocação”. Na Petiz ela está em 3º lugar no ranking da Federação Gaúcha de Surf e foi campeã no Billabong Colegial 2006 pelo colégio Maria Auxiliadora de Canoas. A família de Canoas procura ir todos os finais de semana para praia, mas pegar onda não é a única atividade deles. Super atletas, também praticam tênis, ginástica olímpica, judô, futebol, andam de skate entre outros, e a mãe garante, são competitivos em tudo “chegam a disputar até quem chega para escovar os dentes Ascensão do judô primeiro!”. E essa competitividade rendeu frutos, entres premiações e patrocínio, diminuindo um pouco o conhecido “pai”trocínio. Também entre os mais novos competidores gaúchos estão Mauí, de 12 anos e Gabriel Machado, de 11. Os dois guris estão liderando o ranking nas categorias Grommetz (até 12 anos) e Petiz. Eles que começaram a competir no ano passado, mostram que vieram com força total, para o orgulho do pai, Reinaldo Petzold Machado. Mauí e Gabriel tiveram a sorte de aprender a pegar onda não só com o pai, mas com dois talentos do surf profissional, os também irmãos Alejo e Santiago Muniz. Além disso, cristãos de carteirinha, dedicam a Deus suas consecutivas vitórias Os pequenos competidores garantem que participar dos campeonatos é pura diversão, e apesar de todos serem adversários dentro da água, fora são amigos ligados pelo mesmo sentimento de amor ao mar. Os pais também se apegam ao estilo grande família. Andréa e Álvaro garantem estar sempre com a casa cheia de crianças. Petzold, pai de Mauí e Gabriel, comenta: “Nós acabamos amando e torcendo da mesma maneira para os meninos que correm aqui, mesmo que tu queira que teu filho chegue em primeiro.” Mas ser surfista não é só viver de bons momentos, ainda mais se tratando do Rio Grande do Sul. “A água é muito gelada, principalmente quando a gente vai correr no Cassino”, reclama Mauí. Também é preciso levar em conta a falta de reconhecimento que ainda existe aqui no Sul. Álvaro lembra um recente episódio envolvendo Rodrigo Dornelles “Pedra”, único gaúcho participante do mundial de surfe, o WCT (World Championship Tour). Voltando de viagem, Pedra chegou no Aeroporto e nenhum táxi queria levá-lo até a rodoviária por causa das pranchas. Quando conseguiu chegar à rodoviária teve que pagar uma taxa para o transporte e quando voltou o ônibus já tinha ido embora. “Algumas empresas começam a se destacar e dar um pouco de incentivo, mas isso não está nem perto de outros países.” conclui. Apesar das dificuldades Mauí e Gabriel não escondem a vontade de se tornarem profissionais com o apoio dos pais. Um dos destaques do surf gaúcho, Vinícius Fornari, também acredita nos novos talentos: “Um dia eu fui um deles e sempre contei muito com o apoio dos meus irmãos. Como eu não tenho irmão mais novo tento passar essa pouca experiência para essa molecada e que se Deus quiser eles se tornem mais um surfista para representar o nosso Estado”. Gabriel Pozzobom Silveira/Hiper Equipe da Sogipa, comandada pelo treinador Antônio Carlos Pereira acumula três títulos mundiais Por Bernhard Friedrich Schlee O ano de 2005 foi histórico para o judô nacional. João Derly de Oliveira Nunes Junior conquistou o campeonato mundial na categoria meio-leve no Egito. Um feito inédito no país. Em 2007, a situação não só se repetiu como melhorou. No mundial de judô do Rio de Janeiro, João Derly se tornou bicampeão mundial e Tiago Camilo, na categoria meio-médio, também ganhou a medalha de ouro. Em comum, os dois possuem o local de treinamento: o departamento de judô da Sociedade de Ginástica Porto Alegre (Sogipa). O judô na Sogipa pode ter tido grande destaque apenas recentemente, mas o trabalho que vem sendo feito é de longa data, propiciando as vitórias: “o crescimento na Sogipa, os últimos resultados, eles são frutos de um trabalho bem planejado, um trabalho estruturado que nós estamos desenvolvendo há muitos anos”, afirma Antônio Carlos Pereira, o Kiko, treinador da equipe de judô da Sogipa. Dentre as contribuições para que o esporte ganhasse esse patamar está a boa estrutura da Sogipa, um forte trabalho de base, a amizade entre os atletas, a vontade da equipe de procurar atingir os seus sonhos e o treinamento duro, como confirma o judoca de categoria leve, Luiz Francisco Camilo: “os atletas, os técnicos, todos os que estão aqui no clube vivem o sonho de fazer a Sogipa campeã do mundo. E um acreditar no trabalho do outro, se sentir motivado, não ter briga dentro do grupo, cada um tem seu espaço e ninguém tira o brilho de cada um aqui, todo mundo brilha junto. Quando a gente consegue resultados como esses aí que estamos alcançando, no pan-americano e no mundial, só provam que o trabalho está sendo bem feito”. Outro fator se destaca: o treinador da equipe, Antônio Carlos Pereira. Kiko começou treinando crianças, em 1986. Mas o seu treinamento era diferente, pois era quase comparável ao dos adultos. Esse sistema de treino faz com que muitas crianças acabem abandonando o judô, mas as que ficam conseguem chegar à sênior, o posto mais elevado do judoca. O treinador dos juvenis, Jefferson Carvalho ressalta a eficácia o acompanhamento que torna os atletas mais regrados e frisa a importância de Kiko: “Eu acho que deve ter uns dois ou três professores aqui, no Brasil, que sabem tanto ou mais que ele de judô. Só que nenhum deles tem a força de vontade que ele tem de cuidar do cara o tempo todo, de ir atrás, abraçar os guris, ficar cuidando deles mesmo”. Tiago Camilo se referindo ao Dedicação e amizade ajudam a Sogipa a treinar campeões do judô treinador, diz que ele é “um cara que tem visão do judô, tem acompanhado a evolução do judô e está muito em cima de cada um e trabalhando no que a gente tem que melhorar. Muito atuante e sempre nos orientando e mostrando o caminho”. Segundo Luiz Francisco Camilo, “Eu acho que a maior característica do Kiko é a amizade que ele tem com os atletas. Ele vive o nosso sonho às vezes mais do que nós mesmos. Então, eu acho que isso é um fator determinante para que nós alcancemos esses grandes objetivos aí. Com certeza, a vontade e a dedicação do Kiko são fatores primordiais para essas conquistas”. Agora, o próximo grande desafio da equipe de judô da Sogipa é a Olimpíada de Pequim. A dedicação do grupo pôde ser comprovada quando Tiago Camilo recusou um cachê de 100 mil dólares para lutar na Sibéria e na Armênia para se focar nos treinamentos para a competição que acontecerá ano que vem na China: “o dinheiro não é objetivo agora, o sonho é mais importante, maior que tudo” afirma o atleta. hipertexto Esporte 11 Porto Alegre, outubro de 2007 Os clubes topam tudo por dinheiro Convênios com empresas garantem balanço de contas e sobrevivência de clubes brasileiros Pedro Revilion/Hiper A montadora General Motors, instalada no Rio Grande do Sul, mantém parceria com o Sport Clube Internacional Por Thiago Oliveira Os clubes de futebol do Brasil amargam colapsos financeiros e somam dívidas astronômicas já há alguns anos. Debilitadas economicamente e até mesmo por causa da polêmica Lei Pelé, as instituições passaram a vender seus jogadores para o exterior. Com isso, a qualidade dos times caiu, fato que resultou na fuga do público dos estádios, inclusive em função do crescimento das receitas por televisão . Más administrações quebraram os times. A solução foi recorrer a quem tinha dinheiro: as empresas privadas. Assim, diversas corporações, nacionais e estrangeiras, passaram a investir nos clubes, como patrocinadoras ou dividindo a administração dos departamentos de futebol. O jornalista Hilton Mombach, do jornal Correio do Povo, acha ótima a idéia das parcerias, mas alerta para a redação dos contratos: “os clubes não podem ficar com as dívidas caso o parceiro quebre. Nem vice-versa. Como se resolve isto? Não sei. A ISL era bilionária quando assinou com o Grêmio, que passou a pagar salários de até US$ 200 mil mensais, montou um time milionário e, quando a empresa suíça quebrou, o clube gaúcho ficou com todos os encargos. No caso da MSI, sabia-se: era lavagem de dinheiro. Política e politicagem. A melhor parceria por aqui ainda se dá entre a dupla (Gre-Nal) e o Banrisul, mas este paga pouco”. No Brasil, a experiência pioneira desses convênios foi o contrato entre a empresa de laticínios italiana Parmalat e o Palmeiras, em 1992. Esse talvez seja o único exemplo cujo sucesso tenha sido mútuo: naquele mesmo ano, a Parmalat faturava US$ 80 milhões e, poucos anos mais tarde, rendia mais de US$ 1 bilhão, apenas no Brasil, além lucrar em cima da valorização do passe dos jogadores que comprava e vendia. E o Palmeiras saiu de uma espera de 16 anos sem ganhar título e passou a ter um time vencedor. O final da década de 90 também foi agitado. Em 1997, o Corinthians firmou convênio com o banco Excel-Econômico por R$ 5 milhões anuais. No Sul, a General Motors, que instalou uma fábrica em Gravataí, região Metropolitana de Porto Alegre, passou a patrocinar Grêmio e Internacional, e a Sanyo investiu no Coritiba. No ano seguinte, o Banco Opportunity comprou 51% do Bahia, a empresa Nations Bank assinou contrato com o Vasco e investiu US$ 30 milhões, e a ISL acertou com o Flamengo e com o Grêmio, enquanto o grupo italiano Cragnotti fechava negócio com o São Paulo. Em 1999, a empresa de investimentos norte-americana HMTF assinou um contrato de 10 anos com o Corinthians para injetar R$ 53 milhões, com a previsão de construção de um estádio multiuso de 45 mil lugares. Também fez convênio com o Cruzeiro. A parceria mais recente, feita em 2004 com a empresa MSI, foi também entre os corintianos. Parcerias desastrosas Resultados desastrosos não faltam: ao se depararem com o descalabro nas administrações, alguns investidores romperam seus contratos, vítimas também do baixo poder aquisitivo dos brasileiros e da incontrolável pirataria. Fernando Horacio da Matta, jornalista esportivo e professor da Fundação Mudes, é taxativo: “restou a televisão como o único financiador”. Apesar de algumas propostas serem ligeiramente diferentes, todas essas empresas colocaram muito dinheiro no futebol brasileiro para, teoricamente, montar grandes equipes. Mas no mundo capitalista não existe caridade: esses parceiros esperavam retornos financeiros, que viriam da venda de jogadores ao Exterior e do marketing junto à população. Em Porto Alegre, o Ministério Público teve de optar por fazer um pedido de diligências no caso que apura o desvio de R$ 555,8 mil da empresa suíça ISL que não chegaram aos cofres do Grêmio. O endosso dos cheques resultou na condenação em primeiro grau por estelionato de José Alberto Guerreiro, presidente do clube na época, e Wesley Cardia, representante da empresa no país, além de Jamel Nasser, doleiro envolvido no caso. Os três tiveram as penas convertidas em prestação de serviços comunitários e ressarcimento financeiro ao Estado. A multinacional faliu internacionalmente, abandonou também o Flamengo e reclama na Justiça um buraco de US$ 80 milhões do que injetou no clube rubro-negro. O Nations Bank deixou o Vasco e pede judicialmente o ressarcimento de quase 30% dos US$ 150 milhões aplicados. Em apenas dois anos de vínculo, o clube até conseguiu títulos, mas os projetos, principalmente de reformas no Estádio São Januário, não foram concluídos. Alberto Dualib, presidente do Corinthians, forçou a assinatura de contrato com a MSI sobre conselheiros corintianos, sem dar maior transparência à proposta. Parceria fechada, o clube recebeu investimentos de mais de R$ 100 milhões, jogadores como Gustavo Nery, Nilmar, Carlos Tevez e Javier Mascherano, além do polêmico título do Campeonato Brasileiro, em 2005. No entanto, os problemas já eram evidentes, com acusações surgindo constantemente: jogadores problemáticos, lavagem de dinheiro da máfia russa, investigações da Polícia Federal, seis trocas de treinadores e a velha promessa de um estádio. Em 24 de julho de 2007, o Conselho Deliberativo do Corinthians aprova, por 241 votos a 0, o fim da parceria. “Nossos clubes devem verdadeiras fortunas, e as empresas e investidores estão cada vez mais distantes e com medo de serem enganados como no passado”, afirma Renato Chvindelman, pós-graduado em Marketing pela ESPM - SP. Quem se arrisca a uma nova parceria no futebol? 12 ponto final Porto Alegre, outubro de 2007 hipertexto Cuba, uma ilha de contradições Fotos Jaqueline Orgler Sordi/ Hiper Por Jaqueline Orgler Sordi Enviada especial Vermelho. É assim que essa pequena ilha, localizada estrategicamente entre a América do Norte e a América do Sul, recepciona seus visitantes. Paredes, placas, teto e chão. Tudo vermelho. A cor se tornou símbolo de uma grande revolução, de um estilo de vida, e de um país singular que vive sua história nos dias de hoje. Dona de uma beleza natural única, Cuba é uma mistura de alegria, cor, bons índices de cultura e saúde, mas pobre de infra-estrutura e de bases econômicas. Carlos Alberto, 57 anos, é taxista. Formado em engenharia mecânica, optou pela profissão atual por ser a única forma de ganhar dinheiro dentro do país. Carlos, assim como todos cubanos, reage da mesma forma ao ser questionado sobre Fidel Castro: “Está bem e descansando em sua casa. Ele é o nosso chefe.” Essas poucas palavras demonstram a admiração, ou medo, que o povo tem de seu comandante. O taxista explica que “um a cada três cubanos nasceu durante ou depois da revolução. Sendo assim, não temos como não gostar de Fidel Castro e dos revolucionários. Aqui temos pouco, mas nada nos falta”. Os habitantes da ilha vivem de forma quase precária. Prédios antigos e mal cuidados tomam conta das cidades. Contradizendo essa imagem, é possível observar hospitais bem desenvolvidos, universidades bem cuidadas e um povo exalando saúde. Em Cuba, todas as crianças vão à escola. O índice de analfabetismo é quase zero. Depois de formados no ensino médio e de servirem ao exército por dois anos, todos têm direito ao ingresso na Universidade, optando pelo curso que desejarem. Apesar do grande investimento do país em educação, os cubanos já formados e qualificados optam por trabalhar em atividades de turismo, uma vez que neste setor podem obter algum ganho maior do que em outras profissões. O salário de um médico, por exemplo, fica em torno de 300 pesos cubanos, o equivalente a 20 dólares por mês, e não é muito diferente do recebido por outros trabalhadores que ganham em torno de 15 dólares ao mês. Parece estranho, mas lá é possível, sim, viver com um salário ilusório. Isso porque, todo mês, o governo fornece a cada cidadão um bloco. Nele, consta uma lista de alimentos, com suas respectivas quantidades. Essa é a comida que recebem durante os próximos trinta dias, e que é suficiente para mantêlos alimentados. Uma peculiaridade dessa divisão é que vizinhos criaram o hábito de trocar alimentos com País é pobre em infra-estrutura e bases econômicas, como em habitação Nas ruas, a improvisação de um “automóvel”, a pedal seus amigos quando necessário. Visam, assim, seu bem-estar e o do próximo. Além disso, eles têm escola, assistência à saúde e transporte (precário) que são oferecidos pelo governo, e muitas famílias também ganham moradia. O salário é usado para alimentação, compra de vestuário, móveis, reformas e entretenimento. Em toda ilha, é possível observar que a maioria dos carros é antiga, das décadas de 60 e 70. Carlos Alberto esclarece que cubanos não podem comprar um carro novo, mas somente trocar com seus companheiros. Não há lojas de automóveis, nem oficinas de conserto. Carros novos que trafegam em áreas turísticas, como Varadero, são importados pelas empresas que atuam nesse setor associadas ao governo cubano. Diante de um acidente entre dois veículos, o taxista acrescenta: “Não há onde consertar carros, porque o nosso povo não teria como pagar para tal”. E o que acontecerá com os dois motoristas que bateram? “Eles terão que botar seus carros no lixo se não conseguirem consertar com as próprias mãos”. O sistema de Cuba não permite o acesso do cidadão ao mundo exterior. O povo não pode sair do país e toda informação que entra na ilha é controlada. Cidadãos têm acesso a apenas quatro canais de televisão, todos do governo. Existem apenas dois jornais diários, de poucas alimentos. Parecem tendas do século 19. Mais modernas são as lojas para turistas. Outdoors existem, mas exibem fotos e frases pró-revolução. Policiais são encontrados nas esquinas, monitorando os passos de muita gente. Estar em Cuba é como estar no Big Brother de George Orwell, porém com humanos excepcionalmente treinados cumprindo a função das câmeras. A pequena páginas, também pertencentes ao estado. A internet, tão comum para o mundo ocidental, não é permitida para o desfrute do povo. É possível encontrá-la somente em hotéis exclusivos para turistas, onde cubanos só entram como trabalhadores. No país não há propagandas nem um comércio efetivo. Mesmo em Havana, as poucas casas comerciais existentes vendem basicamente grande ilha, localizada na entrada do Golfo do Méxi#o, exala alegria de um povo culto, porém ignorante das inovações mundiais. Conformados às necessidades básicas atendidas, olham para o horizonte cercado pelo mar, revelando a vontade de querer mais. Mostram uma curiosidade exagerada pelos estrangeiros e um amor incondicional pelo seu país. Cuba é assim, uma ilha de contradições.
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