TRABALHADORES DA AVIAÇÃO CIVIL: PERSPECTIVAS E LUTAS
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TRABALHADORES DA AVIAÇÃO CIVIL: PERSPECTIVAS E LUTAS
FENTAC/CUT TRABALHADORES DA AVIAÇÃO CIVIL: PERSPECTIVAS E LUTAS Contribuição ao ÍNDICE Apresentação 03 O Setor Aéreo no Brasil 04 Aviação Regular 06 Aviação Não Regular (Táxi Aéreo) 11 Aviação Regular Internacional de Longo Curso 17 Luta pela não contratação de Pilotos Estrangeiros 21 Luta contra a cabotagem 24 Luta contra a concessão dos aeroportos da Rede Infraero 25 Indicadores de desempenho do Transporte Aéreo Nacional 28 Plano de Lutas Unificado 34 2 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br APRESENTAÇÃO A grande missão das entidades sindicais é a construção da unidade dos trabalhadores, defendendo seus direitos e anseios no Executivo, Legislativo, Judiciário e, especialmente, junto às empresas. A Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac/CUT), os sindicatos cutistas de aeroviários, o Sindicato Nacional dos Aeronautas e o Sindicato Nacional de Aeroportuários vêm enfrentando enormes desafios para manter os postos de trabalho, defender a regulamentação das categorias e a segurança operacional. A aviação comercial é um serviço estratégico para o desenvolvimento do país, a soberania e a cidadania. Como contribuição ao debate do 8º Congresso Nacional da CNTT/CUT e do 11º CONCUT, apresentamos um conjunto de textos relacionados à aviação civil e às lutas travadas pelos trabalhadores do setor. Consideramos o apoio dos trabalhadores dos demais ramos do Transporte essencial às nossas lutas, que dizem respeito não só a aeronautas, aeroviários e aeroportuários, mas a todo o povo brasileiro, que precisa deste transporte para se locomover dentro e fora do país. Este texto é uma contribuição ao debate que reúne alguns estudos econômicos e manifestos das entidades a respeito dos assuntos abordados nos últimos dois anos. Seu objetivo é contribuir com as discussões dos trabalhadores da aviação, em prol de uma luta unificada junto à sociedade, governos e legislativos. Rio de Janeiro, 9 de abril de 2012. Fentac/CUT / Sindicato Nacional dos Aeronautas / Sindicato Nacional dos Aeroviários Sindicato Nacional dos Aeroportuários / Sindicato dos Aeroviários de Campinas e Região Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos / Sindicato dos Aeroviários de Pernambuco Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre 3 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br O SETOR AÉREO NO BRASIL A aviação civil brasileira é regulada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que sucedeu o Departamento de Aviação Civil (DAC). Sua gestão, no entanto, encontra-se distribuída também junto a outros órgãos e entidades públicas: Conselho de Aviação Civil (CONAC), Secretaria de Aviação Civil (SAC) – recentemente ligada à Presidência da República e antes pertencente ao Ministério da Defesa –, Departamento de Controle do Tráfego Aéreo (DECEA), Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Há também o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), ligado ao Comando da Aeronáutica. A principal fonte do Direito Aeronáutico é o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), aprovado pela Lei 7.565, em 1986. Atualmente, o Congresso e o governo federal debatem a atualização do CBA e há mais de 200 projetos de lei visando a sua alteração. O setor aéreo é constituído de vários segmentos: aviação experimental e aerodesportiva, aviação de instrução, aviação privada, aviação agrícola, serviços aéreos especializados, táxi aéreo, aviação executiva, aviação regional, aviação regular doméstica e aviação regular internacional. Há também a diferenciação do transporte de carga e passageiros; diferentes tipos de aeronaves (jatos, turbohélices, helicópteros, monomotores e bimotores). No país, há 720 aeródromos públicos e 2697 privados. Dos públicos, 66 são administrados pela Infraero. Em setembro de 2011, 13.883 aeronaves estavam registradas no Brasil. Destas, 918 compunham a frota de aeronaves de táxi aéreo (transporte público não regular); e 505 a frota de transporte aéreo público regular (doméstico ou internacional). A ANAC registrava também, em 2011, 1361 helicópteros certificados e 1278 aeronaves agrícolas. Segundo o Anuário da Agência, publicado em 2010, cerca de 90% dos voos no país são realizados para atender o mercado doméstico. O Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (foto) e o Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, destacam-se entre os que mais realizam operações 4 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br internacionais. Os quatro principais destinos internacionais dos voos que saem do Brasil são Estados Unidos, Argentina, Portugal e França. As companhias aéreas brasileiras atuam com 30 a 170 funcionários (com 8 a 24 pilotos ou copilotos) por aeronave, conforme o tipo de operação (passageiros, carga) e o nível de utilização. O transporte de passageiros compõe 85% da receita das empresas de transporte aéreo regular; e a carga, 8%. Entre os custos, destacam-se o combustível (32%), encargos com pessoal (19%), organização terrestre (14%), arrendamento e manutenção (11%), e despesas comerciais (9%). Das empresas que compõe os dados estatísticos da Agência, 24 empregam 55,9 mil trabalhadores. Somam-se a esses trabalhadores outros milhares de postos de trabalho diretos e indiretos que a indústria fomenta e 36,8 mil profissionais empregados pela Infraero, destes 13,5 mil concursados (aeroportuários) e 23,3 mil terceirizados (aeroviários). Os aeroportos da Infraero transportam cerca de 155,3 milhões de passageiros por ano. A estatal dá conta ainda de 69 grupamentos de navegação aérea, 51 unidades técnicas de aeronavegação e 34 terminais de logística de carga. A TAM e a VRG/Gol lideram o mercado doméstico. Segundo dados da ANAC de fevereiro de 2012, a participação das empresas (em termos de RPK) é de, respectivamente, 39,13% e 34,46%. A terceira no ranking é a Azul Linhas Aéreas, com mais de 10%. No mercado internacional, TAM e VRG/Gol somam 98,81% da participação de empresas brasileiras com, respectivamente, 87,54% e 11,27%. O desempenho do transporte de passageiros no setor de aviação, nos últimos anos, vem registrando aumentos superiores à taxa de crescimento da economia brasileira no que se refere ao desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2010, quando a economia brasileira cresceu 7,5%, o setor aéreo cresceu três vezes mais1. 1 Fonte: Dieese/Fentac-CUT 5 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br AVIAÇÃO REGULAR2 No primeiro semestre de 2011, a aviação doméstica brasileira obteve o maior crescimento de demanda no transporte de passageiros entre os principais países destacados pela IATA (Associação Internacional do Transporte Aéreo). Em julho do mesmo ano, o Brasil estava no topo da lista, com expansão de 19% em relação ao mesmo período de 2010, superando o crescimento registrado na Índia (17,7%), China (7,8%), Austrália (4,4%) e EUA (2,5%). No mundo, o mercado de aviação doméstica cresceu 4% no período. Assim, as perspectivas da IATA relacionadas aos países em crise econômica, como os da Europa e os Estados Unidos, não se aplicaram ao Brasil, onde o cenário, mesmo com cautela, foi tido como bem mais promissor. A análise dos dados de produtividade na Aviação Regular de 2000 a 2010 apontou para um cenário positivo na negociação salarial realizada no final de 2011. A evolução da produtividade, em termos financeiros, obteve um crescimento da receita por funcionário de 9% no comparativo entre 2010 e 2009. 2 Dados econômicos extraídos do texto elaborado pelo economista Cláudio Toledo, assessor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, em outubro de 2011. 6 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br E a produtividade física, através do crescimento do indicador PAX x KM pago por funcionário, também teve resultado positivo de 8% no mesmo período. 7 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br Evolução de emprego para pilotos e comissários da Aviação Regular entre 2000 e 2010 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2010/2000 3.544 3.901 3.915 3.569 3.896 3.788 4.441 4.169 4.488 4.717 5.814 64% 735 120 134 87 74 48 92 40 30 110 154 0% DE VÔO 6.680 8.276 6.109 6.583 7.423 6.775 7.360 7.924 8.907 9.157 11.856 77% TOTAL 10.959 12.297 10.158 10.239 11.393 10.611 11.893 12.133 13.425 13.984 17.824 62% PILOTOS E COPILOTOS DEMAIS TRIPULANTES TÉCNICOS AUXILIARES 8 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br !18.000!! !16.000!! !14.000!! !12.000!! PILOTOS!E!COPILOTOS! !10.000!! DEMAIS!TRIPULANTES!TÉCNICOS! !8.000!! AUXILIARES!DE!VÔO! !6.000!! TOTAL! !4.000!! !2.000!! !"!!!! 2000! 2001! 2002! 2003! 2004! 2005! 2006! 2007! 2008! 2009! 2010! Com base nesses dados, os trabalhadores aeronautas e aeroviários defenderam, na campanha salarial unificada de 2011, reajuste real dos salários e divisão dos lucros das empresas. As negociações com o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA) foram concluídas no final de dezembro, garantindo aos trabalhadores reajuste salarial de 6,5% (com aumento real de 0,33%), 10% de aumento sobre os pisos, cesta básica e ticket alimentação e criação do piso de operador de equipamentos, no valor de R$ 1 mil. O índice acordado foi bem superior ao sugerido pelas empresas no início das negociações. A pressão dos sindicatos cutistas e a mobilização dos trabalhadores venceram a instransigência das companhias aéreas, elevando a proposta inicial de reajuste salarial de 3% e de reajuste sobre os pisos de 6,17%. O piso de operador de equipamentos foi uma importante conquista dos trabalhadores aeroviários e, apesar do valor conquistado ter ficado abaixo das expectativas dos sindicalistas, a sua criação venceu a resistência dos empresários. Além disso, as empresas comprometeram-se a seguir debatendo o valor do piso nas reuniões bimestrais realizadas ao longo do ano entre trabalhadores e SNEA. Para os sindicatos e a Fentac/CUT, mesmo que o aumento real tenha sido tímido em 2011, o reajuste sobre os pisos e demais itens econômicos e a criação do novo piso foram avanços significativos e representaram uma importante vitória, conquistada pela mobilização dos trabalhadores e atuação das entidades sindicais cutistas. 9 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br A liminar arbitrária e excessiva imposta pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), limitando a participação dos trabalhadores na greve em 20%, sob pena de multa de R$ 100 mil dia, influenciou a votação das categorias pela desistência da greve e a favor do acordo. Os sindicatos e os trabalhadores também avaliaram os riscos da ação de dissídio resultar num índice menor do que o negociado com as empresas. Assim, o acordo firmado foi o melhor possível na conjuntura apresentada. Analisando os últimos sete anos, as direções dos sindicatos cutistas do setor avaliam que as campanhas salariais unificadas, reunindo aeronautas e aeroviários, foram bastante vitoriosas. O aumento real acumulado nos salários de aeronautas e aeroviários ultrapassou 8%. Se houvesse maior mobilização dos trabalhadores, ele poderia ter sido ainda maior, em razão do exponencial crescimento da demanda pelo transporte aéreo registrada no país. Contudo, diante das inúmeras dificuldades, o saldo tem sido positivo para os trabalhadores. Reajuste dos salários de aeronautas e aeroviários - Aviação Regular - 2005 a 2011 Ano Reajuste Anual (%) 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 6 5 5 8 6 8,75 6,5 INPC-IBGE (%) (acumulado nov) 5,53 2,59 4,79 7,20 4,17 6,08 6,18 Variação Real (%) 0,45 2,35 0,20 0,75 1,76 2,52 0,33 10 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br AVIAÇÃO NÃO REGULAR (TÁXI AÉREO) 3 Os dados estatísticos do movimento do Aeroporto de Macaé, de 2006 a 2010, indicam um crescimento e desenvolvimento do segmento de táxi aéreo e helicóptero no terminal. Em 2010, por exemplo, houve um crescimento de 13,41% no número de pousos e decolagens de helicópteros no aeroporto. ANO 2006 2007 2008 2009 2010 POUSOS/DECOLAGENS 50.849 56.406 58.163 54.711 62.048 VARIAÇÃO ANUAL (%) 10,93 3,11 (5,95) 13,41 Fonte: INFRAERO A evolução do volume de passageiros, com crescimento de 10,68% em 2010, na comparação com o ano anterior, também foi positiva. ANO 2006 2007 2008 2009 2010 PASSAGEIROS EMBARC/DESEMB 336.843 375.341 362.782 362.087 400.767 VARIAÇÃO ANUAL (%) 11,43 (3,35) (0,19) 10,68 Fonte: INFRAERO Os indicadores demonstram a capacidade das empresas do segmento de conceder aumentos reais (acima da inflação) aos trabalhadores, conforme reivindicação do Sindicato Nacional dos Aeronautas e dos sindicatos de aeroviários. 4 Contudo, afora esses dados, não existem informações públicas oficiais atuais disponíveis sobre o segmento táxi aéreo, ou outros segmentos da aviação civil não regular, 3 Texto elaborado com base nas informações repassadas pelo economista Cláudio Toledo, assessor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, em janeiro de 2012. 4 Texto apresentado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas ao ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, em agosto de 2011. 11 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br como a aviação agrícola. Os últimos dados disponíveis são de 2008 e constam no Anuário da ANAC. Devido à defasagem dessas informações, elas são de pouca ou nenhuma utilidade para os sindicatos de trabalhadores, já que boa parte das empresas não fornece os dados e aqueles poucos fornecidos não permitem mais que uma análise superficial desses segmentos. Após diversas cobranças dos sindicatos de trabalhadores à ANAC sobre as razões que levaram à exclusão dos dados econômicos e estatísticos do táxi aéreo e demais serviços especializados do Anuário da Agência, a partir de 2009, a resposta da sua Ouvidoria foi: “No que se refere aos dados sobre as operações de táxi-aéreo e serviços aéreos especializados, tenho a informar que, infelizmente, os mesmos foram suprimidos desta edição do Anuário mediante conclusão de uma longa análise acerca da relação custo-benefício da publicação dos mesmos, sobre a qual passo a tecer alguns comentários. Segundo estabelece a Portaria nº 218/SPL/1990, alterada pela Portaria DAC nº 689/DGAC, as empresas titulares de autorização para a exploração dos serviços de transporte aéreo não regular, inclusive táxi-aéreo, e dos serviços aéreos especializados estão obrigadas a remeter à ANAC, até o dia 30 de maio do ano subsequente, o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e o Relatório de Dados Econômicos e Estatísticos do exercício encerrado em 31 de dezembro. O Relatório de Dados Econômicos e Estatísticos consiste em informações consolidadas por modelo de aeronave e contempla receitas, custos, despesas e dados estatísticos dos serviços aéreos. De posse de tais documentos, a ANAC realizava críticas básicas para verificar a consistência das informações em relação às Normas Brasileiras de Contabilidade, aos Princípios Fundamentais de Contabilidade e às características dos serviços aéreos. Contudo, no decorrer desses trabalhos verificou-se que muitos documentos apresentavam graves inconsistências quanto à forma, conteúdo e metodologias adotadas na sua elaboração. As inconsistências identificadas apresentavam as características mais diversas possíveis, tais como: falhas na consolidação dos dados por modelo de aeronave; a não correspondência entre os valores apresentados no Relatório de Dados Econômicos e Estatísticos e aqueles apresentados nas Demonstrações Contábeis; a 12 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br ausência de valores de receita de voo e/ou de despesas mandatórias durante o exercício, tais como as despesas com seguro, manutenção, combustível, depreciação e arrendamento; e a ausência da assinatura do administrador e do contabilista responsável, bem como da autenticação da Junta Comercial do Estado no Livro Diário e no Livro Razão. Além disso, as empresas demonstram, ainda, dificuldades em regularizar as inconsistências identificadas nos documentos apresentados e muitas dessas empresas sequer chegam a apresentar as Demonstrações Contábeis e o Relatório de Dados Econômicos e Estatísticos no prazo estabelecido. Apesar dos esforços empregados pela ANAC na análise crítica das informações apresentadas pelas empresas, não foi possível assegurar a confiabilidade e a consistência necessária dada à elevada quantidade de empresas, a falta de um sistema que permita o processamento automatizado da informação e a quantidade limitada de recursos para o processamento manual dos relatórios. Agrega-se a isso o fato de que, historicamente, os dados sobre o segmento de táxiaéreo e de serviços aéreos especializados têm sido pouquíssimo demandados pela sociedade de maneira geral. Quase a totalidade das demandas de dados e informações junto à ANAC é relativa aos serviços de transporte aéreo público regular, o que fez com a Agência focasse seus esforços e recursos no aprimoramento das análises desse segmento”. Há no Brasil, aproximadamente, 5600 municípios. Destes, apenas 124 são atendidos pela aviação regular. Os demais, por via aérea, só podem ser cobertos pelo táxi aéreo. Com os avanços nas descobertas de petróleo em águas profundas (o pré-sal), o táxi aéreo de helicóptero ganhou mais importância, atraindo grandes empresas e capital estrangeiro. Dada a importância geopolítica deste segmento para a integração e o desenvolvimento nacional, é inconcebível a inexistência de informações econômicas e estatísticas que permitam análises e prognósticos que deem sustentação às políticas governamentais. Quantos empregos são gerados direta e indiretamente pelo setor? Como falar em carência de pilotos se não se sabe quantos operam neste segmento? Qual o faturamento e o lucro? Quanto é gerado em termos de arrecadação para o país? A ANAC desconsidera a importância desses dados. 13 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br A Agência apenas informa, através da sua Ouvidoria, que os dados que vinham sendo repassados pelas empresas apresentavam graves inconsistências. Ao invés de tomar providências no sentido de exigir dados mais precisos e seguros, a ANAC abriu mão desse levantamento, publicando uma resolução (nº 191), em junho de 2011, dispensando as empresas de táxi aéreo do fornecimento dos dados estatísticos. Ressalte-se que à época do DAC, os Anuários sempre contemplaram informações sobre este e demais segmentos especializados da aviação. O processo de negociação salarial entre trabalhadores e Sindicato Nacional das Empresas de Táxi Aéreo (SNETA) tem sido caracterizado, historicamente, como muito duro e pouco transparente. A omissão da ANAC apenas fortalece a postura das empresas, que sistematicamente recusam-se a apresentar dados sobre o seu desempenho e os empregos no setor. A pulverização dos trabalhadores, espalhados por todo o território nacional, empregados na sua grande maioria em empresas com número reduzido de funcionários, também dificulta a mobilização das categorias. Com base nos poucos dados disponíveis, seguem abaixo tabela e gráficos referentes ao período de 2000 a 2007, com estatísticas do segmento: PATRIMÔNIO MÉDIO TÁXI-AÉREO - ANAC Nº de Empresas Patrimônio Líquido PATRIMÔNIO MÉDIO EVOL. PATRIMONIAL 2000 195 R$ 105.565.410,00 R$ 541.361,08 100 2002 154 $ 256.689.120,00 R$ 1.666.812,47 308 2004 137 $ 305.913.653,00 R$ 2.232.946,37 413 2006 129 R$ 385.875.220,00 R$ 2.991.280,78 553 2007 135 $ 533.158.133,00 R$ 3.949.319,50 730 14 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br PATRIMÔNIO MÉDIO R$ 4.500.000,00 R$ 4.000.000,00 R$ 3.500.000,00 R$ 3.000.000,00 R$ 2.500.000,00 PATRIMÔNIO MÉDIO R$ 2.000.000,00 R$ 1.500.000,00 R$ 1.000.000,00 R$ 500.000,00 R$ 2000 2002 2004 2006 2007 SALÁRIOS X INPC X PL MÉDIO EVOLUÇÃO PATR. MÉDIO INPC REAJUSTE SALARIAL 630 70,97 2000/2007 55,34 Como se pode ver nas tabelas, no período houve uma evolução de 630% no patrimônio líquido médio das empresas, contra uma inflação medida pelo INPC de 70,97%. Os salários, no entanto, foram reajustados em apenas 55,34%, muito abaixo da inflação e, portanto, sem nenhum ganho real. 15 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br A evolução exuberante do patrimônio médio observada aponta um processo de consolidação do setor, característico do sistema capitalista, com o enriquecimento acelerado das empresas que permanecem no segmento. As perspectivas abertas com as descobertas do pré-sal são incomensuráveis e atraem um número cada vez maior de empresas voltadas ao atendimento às plataformas de petróleo. Em 2011, as negociações visando a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) com o SNETA começaram com muita resistência das empresas. A primeira contraproposta dos empresários foi de reajuste de 3% para os salários e de 5% para os pisos. Ao final das negociações, em janeiro de 2012, foi firmado um acordo que garantiu a inflação integral medida pelo INPC, de 6,18%, aplicada sobre salários e demais itens econômicos, e um aumento de 13% sobre os pisos salariais. 16 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br AVIAÇÃO REGULAR INTERNACIONAL DE LONGO CURSO5 A demanda das companhias aéreas brasileiras no segmento da aviação regular internacional de longo curso permaneceu estagnada de 2005 a 2010, como demonstra o gráfico abaixo: EvoluçãoDMensalDdaDDemanda(2005I2010) MercadoDInternacionalDI TransporteDAéreoDdeDPassageiros 3.000.000 RPK$$% Revenue$PassengersKilometers$(x10³) 2.500.000 2.000.000 1.500.000 1.000.000 500.000 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Nov Dez 2005 2.379.052 2.095.415 2.216.378 2.034.277 1.916.124 2.000.847 2.470.673 2.198.404 2.063.719 2.135.167 1.961.966 2.081.274 2006 2.273.956 1.963.280 2.064.824 1.898.894 1.613.063 1.423.364 1.344.916 1.107.430 941.166 994.810 990.008 1.173.938 2007 1.356.371 1.205.799 1.335.938 1.384.536 1.286.273 1.297.422 1.682.776 1.433.080 1.340.503 1.467.420 1.316.576 1.710.655 2008 2.104.137 1.808.463 1.857.289 1.657.042 1.679.553 1.593.810 2.046.206 1.818.484 1.625.467 1.685.052 1.552.855 1.709.180 2009 1.937.982 1.609.041 1.612.518 1.715.680 1.589.877 1.635.164 1.838.612 1.756.064 1.757.927 1.774.763 1.641.411 1.818.274 2010 2.191.366 1.841.234 1.786.473 1.711.862 1.924.871 1.999.930 2.355.350 2.257.127 2.232.117 2.219.158 1.977.216 2.139.459 Fonte: SNEA 5 Texto apresentado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas ao ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, em agosto de 2011. 17 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br Contudo, incluindo os dados das companhias aéreas estrangeiras, o mercado internacional brasileiro – medido em passageiros transportados – evoluiu de forma bastante favorável, mais que dobrando em seu tamanho nos últimos quinze anos. No período mais recente (de 2005 a 2009), o crescimento observado foi de 28,09%. EVOLUÇÃO DO TRÁFEGO INTERNACIONAL BRASILEIRO (PAX) BRASILEIRAS % ESTRANGEIRAS % TOTAL 1995 3.347.370 54 2.887.897 46 6.235.267 2000 3.751.867 46 4.335.648 54 8.087.515 2005 4.170.533 42 5.697.982 58 9.868.515 2009 4.289.585 34 8.351.375 66 12.640.960 14.000.000" 12.000.000" ! ! 10.000.000" BRASILEIRAS" 8.000.000" ESTRANGEIRAS" 6.000.000" TOTAL" 4.000.000" 2.000.000" 0" 1995" 2000" 2005" 2009" As empresas brasileiras, que em 1995 chegaram a transportar 54% dos passageiros internacionais tendo como origem e destino o Brasil, viram sua participação cair para apenas 34% em 2009. A situação só não foi pior por conta do mercado sul-americano, onde as aéreas brasileiras têm forte inserção. Nos voos de longo curso – Europa e América do Norte – a participação brasileira atingiu níveis inferiores a 20%. Os dados demonstram que as empresas aéreas brasileiras não são competitivas no mercado internacional, como a ANAC insiste em afirmar. 18 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br O desequilíbrio financeiro brasileiro nos gastos com passagens aéreas atinge proporções alarmantes. Nos últimos oito anos, contados desde 2003, o prejuízo acumulado chegou a quase US$ 12 bilhões. Em 2010, o desequilíbrio foi de US$ 2,7 bilhões, segundo dados do Banco Central. A pergunta que surge é o que fazer para recuperar este mercado tão precioso em termos de geração de divisas e de projeção do país como potência no cenário internacional. Porque perdemos cada vez mais participação neste mercado? Uma das razões é a desvantagem em termos de escala. A frota da TAM, por exemplo, é infinitamente inferior à de suas principais concorrentes estrangeiras, ocupando a 13ª posição em um universo de 16 principais concorrentes. A mesma posição é ocupada quando se trata de Passageiros x KM transportados. Contraditoriamente, esses dados figuram na exposição de motivos para a liberação tarifária internacional feita pela ANAC. Outra justificativa é que os custos comparativos em termos de tributos, crédito, acesso a financiamentos, seguros, dentre outros, desfavorecem as empresas nacionais. Foi reconhecendo essas fragilidades que o CONAC determinou: “A operação internacional de empresas aéreas brasileiras é considerada instrumento de projeção econômica e comercial de importância política e estratégica para o País e para a integração regional, devendo ter tratamento fiscal, tributário e creditício semelhante ao das atividades de exportação e de infraestrutura”. (Resoluções 004/2003 e 007/2007). A ANAC, todavia, considerando não ser de sua alçada a isonomia competitiva e contrariando o CONAC, estabeleceu a liberdade tarifária para voos de longo curso, além de negociar acordos de Céus Abertos com a União Europeia e os Estados Unidos. A Agência ‘escancarou’ o mercado internacional brasileiro antes que a Resolução do CONAC fosse equacionada e surtisse os efeitos necessários a uma concorrência mais justa. Como a liberação de preços e os acordos internacionais não deverão ser revistos, resta ao Brasil apenas uma alternativa, caso seja de seu interesse interromper a verdadeira sangria de bilhões em divisas anuais – tão necessárias ao equilíbrio de nossas contas externas 19 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br – no mercado internacional de transporte aéreo: a imediata implantação da Resolução 007/2007, com tratamento fiscal, tributário e creditício semelhante ao das atividades de exportação e de infraestrutura, garantindo condições mais isonômicas de competição às empresas brasileiras. 20 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br LUTA PELA NÃO CONTRATAÇÃO DE PILOTOS ESTRANGEIROS6 Os sindicatos cutistas do setor aéreo são contrários ao projeto de lei que busca alterar o artigo 158 do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), visando permitir a contratação de pilotos estrangeiros no mercado da aviação brasileira. Para as entidades, a iniciativa põe em risco milhares de postos de trabalho e, principalmente, a formação de pilotos no país e a segurança operacional. As entidades defendem o cumprimento das resoluções do Conselho Nacional de Aviação Civil (CONAC) como forma de garantir mãode-obra especializada para o setor aéreo, respeitando as diretrizes contruídas nos últimos anos. No início de seu primeiro mandato, o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva determinou, e o CONAC instituiu por meio da Resolução nº 1 de 2003, o Comitê Técnico de Políticas Públicas. O objetivo era elaborar propostas de diretrizes e ações específicas, visando assegurar o desenvolvimento sustentável e integrado dos pilares do setor de aviação civil: a indústria do transporte aéreo, a indústria aeronáutica, a infraestrutura aeroportuária e a infraestrutura de controle do espaço aéreo. O Comitê, sob a coordenação do Ministério da Defesa, teve a participação de entidades de representação dos empresários, dos trabalhadores – aeronautas, aeroviários e aeroportuários – e do governo, contando com significativas contribuições de técnicos e especialistas dos diversos setores da aviação civil. O trabalho do Comitê, executado durante 30 dias, gerou diretrizes gerais voltadas para a Política Nacional de Aviação Civil (PNAC), estabelecendo um conjunto de ações para promover o desenvolvimento do setor. Estas diretrizes e ações tornaram-se resoluções aprovadas pelo CONAC em 30 de outubro de 2003. No caso específico dos Recursos Humanos, o Comitê encaminhou a proposta a seguir apresentada. 6 Idem 21 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA A FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS A formação de recursos humanos para a aviação deve ser considerada de interesse social, econômico e estratégico, devendo ser objeto de incentivo e fomento por parte do poder público. Os cursos de formação de recursos humanos para a aviação civil devem ser objeto de avaliação periódica por parte do órgão regulador, mediante a avaliação da formação de alunos, sendo as instituições responsáveis passíveis de descredenciamento com base nesse processo. Deverá ser promovida a expansão do Programa de Formação de Recursos Humanos, adicionando-se às fontes de recursos existentes aportes do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Neste programa deverá ser incluído projeto de desenvolvimento de centros de formação e treinamento de recursos humanos, com tecnologias de ponta em simulação. Devem-se criar condições que estimulem a utilização de aeronaves nacionais nas atividades de treinamento de pilotos nos aeroclubes brasileiros. O país possui uma ampla estrutura de aeroclubes e escolas, dispondo de espaço aéreo e centros especializados de treinamento, dotados das mais modernas tecnologias em simulação, com potencial para tornar-se uma referência internacional na formação de recursos humanos para a aviação. Submete-se à aprovação, por este Conselho, a Resolução Nº 015/2003. O CONAC aprovou esta resolução nos termos que seguem: RESOLUÇÃO Nº 15/2003 – DOS RECURSOS HUMANOS O Conselho de Aviação Civil – CONAC, observado o disposto no parágrafo 3º do art. 29 da Lei nº 10.863, de 28 de maio de 2003, RESOLVE: 1. APROVAR as seguintes diretrizes referentes à formação e capacitação de recursos humanos para a aviação civil: 22 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br 1.1 A formação de recursos humanos para a aviação deve ser considerada de interesse social, econômico e estratégico, devendo ser objeto de incentivo e fomento por parte do poder público. 1.2 Os cursos de formação de recursos humanos para a aviação civil devem continuar sendo objeto de avaliação periódica por parte do Departamento de Aviação Civil - DAC (hoje ANAC), mediante a avaliação da formação de seus alunos, podendo as instituições serem descredenciadas com base neste processo. 1.3 A utilização de aeronaves nacionais nas atividades de treinamento de pilotos nos aeroclubes brasileiros deverá ser estimulada e incentivada. 1.4 O Programa de Formação de Recursos Humanos deverá ser ampliado buscando adicionar novos recursos, inclusive mediante parcerias, objetivando ampliar a capacitação profissional na área da aviação civil. 1.5 O poder público deverá estimular a criação de centros de formação e treinamento de recursos humanos com tecnologias de ponta em simulação. 2. RECOMENDAR ao Comando da Aeronáutica por intermédio do DAC (hoje ANAC) e do Departamento de Controle do Espaço Aéreo – DECEA, no âmbito de suas competências, que apresente proposta de ampliação das atividades do Programa de Formação de Recursos Humanos, mediante a elaboração de proposta técnico-financeira que permita a incorporação de novos recursos, conforme as diretrizes aprovadas. Em 2007, em nova convocação, o CONAC reafirmou a resolução e, portanto, ela continua em vigor. Apesar de ela ser do conhecimento do governo, ele ainda não manifestou-se diante do projeto de lei em tramitação na Câmara de Deputados que quer permitir a contratação de pilotos estrangeiros por empresas brasileiras. A ANAC não sabe quantos pilotos existem no Brasil, quantos estão empregados, quantos estão em formação nos setores público e privado, quantas empresas possuem política de formação de pilotos. Nem o governo. Mas é sua obrigação encaminhar essas respostas ao Congresso em tempo hábil para que não seja aprovada uma lei que transfira a estrangeiros empregos altamente qualificados e bem remunerados que poderiam ser perfeitamente supridos por cidadãos brasileiros. 23 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br LUTA CONTRA A CABOTAGEM7 O governo brasileiro e os trabalhadores da aviação precisam estar atentos aos desdobramentos da XIX Assembleia da Comissão Latino Americana de Aviação Civil (CLAC), ocorrida em novembro de 2010, na República Dominicana, com participação ativa da ANAC. No encontro, foi aprovado um acordo multilateral de Céus Abertos para os Estados membros que prevê, em seu artigo 2º, o direito de prestar serviços regulares e não regulares de transporte aéreo, combinados de passageiros e carga, entre pontos do território da parte que tenha concedido o direito de 8ª e 9ª Liberdade. A 8ª Liberdade é o direito de transportar tráfego entre dois pontos no território do outro país (operando um “voo doméstico” neste outro país), como parte de um serviço aéreo proveniente do país que designou a empresa, ou destinado a ele. É chamado de direito de cabotagem. A 9ª Liberdade é o direito de transportar tráfego inteiramente entre dois pontos no território de outro país (operando um “voo doméstico” neste outro país). É chamado de direito de cabotagem pura. O direito de cabotagem para o transporte aéreo jamais foi aceito pelos países desenvolvidos. Os americanos não podem realizar voos domésticos na Europa e vice-versa. No caso da América Latina, o Brasil oferece um mercado potencial de quase 200 milhões de habitantes. Qual a contrapartida dos demais países com esse acordo? O Acordo aprovado na CLAC ainda depende da ratificação dos governos. Os trabalhadores da aviação tem muito interesse em saber se o governo brasileiro pretende ratificá-lo. 7 Idem 24 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br LUTA CONTRA A CONCESSÃO DOS AEROPORTOS DA INFRAERO A Fentac/CUT e os sindicatos cutistas do setor aéreo são contrários à privatização dos aeroportos da Infraero e protestaram contra o leilão de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília – os maiores e mais lucrativos do país – realizado em fevereiro deste ano. Juntos, os três aeroportos respondem por 30% do fluxo de passageiros e 57% da carga movimentada no país, e de janeiro a setembro de 2011, registraram 40 milhões de embarques e desembarques de passageiros. Para o Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) e demais entidades cutistas do setor, o governo federal está promovendo o entreguismo do patrimônio público, desnacionalizando os aeroportos brasileiros, colocando o sistema e a segurança aeroportuária à mercê dos interesses do capital estrangeiro, prejudicando toda a sociedade. As concessões irão prejudicar a manutenção da Rede Infraero, impedindo o cruzamento de recursos entre aeroportos superavitários e deficitários e inviabilizando, em curtíssimo espaço de tempo, a integração regional brasileira por via aérea. Os trabalhadores da aviação civil consideram um absurdo que o governo brasileiro, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), financie até 80% do valor investido na aquisição desses aeroportos. Ou seja, que o povo brasileiro mais uma vez dê dinheiro para que conglomerados estrangeiros tomem posse do patrimônio nacional, utilizando linhas de crédito de juros baixíssimos, oriundas de recursos públicos (dos impostos que cada brasileiro paga), para tirar do controle do país seus principais aeroportos. As entidades sindicais cutistas também foram contrárias à obrigatoriedade de estrangeiros nos consórcios que disputaram a privatização dos três terminais. Diante do fato de que 85% dos aeroportos em todo o mundo são públicos, inclusive os dos Estados Unidos, é inadmissível que o governo brasileiro, sob o argumento de dar celeridade à ampliação da infraestrutura aeroportuária, perca a autonomia na gestão de um serviço essencial ao povo e vital em termos de segurança nacional. 25 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br A parceria com o setor privado nunca foi rejeitada pelos trabalhadores; a venda do patrimônio público sim. A entrega dos nossos principais aeroportos ao capital estrangeiro, financiada com o dinheiro do povo brasileiro, é uma vergonha. As atividades fim da Infraero – operações, segurança aeroportuária, carga aérea, manutenção especializada e navegação aérea – desses três aeroportos precisam permanecer sob a responsabilidade da estatal. Os aeroportos são a parte mais sensível do transporte aéreo e suas operações devem ficar nas mãos do Estado. A Infraero é reconhecida internacionalmente pela sua competência na operação da infraestrutura aeroportuária e tem uma história de 38 anos de serviços prestados à nação. O governo brasileiro vendeu o filé do patrimônio público e está deixando nas mãos da Infraero apenas os aeroportos que precisam ser subsidiados. Hoje, a estatal dá lucro e ele é revertido em investimentos para a ampliação e melhoria dos aeroportos. Com a concessão, isso deixa de valer. Os trabalhadores da aviação entendem que o país tem capacidade de gestão para fazer as mudanças necessárias para atender a ampliação da demanda do Transporte Aéreo brasileiro. Para o Sina e a Fentac/CUT, o estímulo do BNDES à desnacionalização é uma aberração e uma imoralidade financeira que precisam ser barradas pela Justiça. As concessões em andamento já foram alvo de inúmeros questionamentos de ordem jurídica e sucessivos adiamentos na conclusão do processo, especialmente em relação ao aeroporto de Viracopos, em Campinas-SP. Há também questionamentos da competência dos vencedores do leilão para operar e investir nos aeroportos em processo de concessão. Para alguns analistas, os consórcios vencedores frustraram as expectativas do governo federal, que esperava a vitória de grupos mais experientes. Os vencedores, no entanto, apresentaram sócios com experiência na operação de pequenos aeroportos e parecem estar muito mais interessados no dinheiro do BNDES do que nos terminais concedidos. O Sina, após muita luta, conseguiu um acordo com o governo para preservar uma série de direitos dos aeroportuários e participa de uma Comissão Paritária de Transição, 26 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br garantida por reivindicação da entidade, para acompanhar o processo de transferência da gestão desses aeroportos à iniciativa privada. A Comissão também discute a desativação do terminal Augusto Severo, que será substituído pelo aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em construção, e também leiloado. A última reunião aconteceu no dia 3 de abril, em Natal (RN). Outro tema sensível aos aeroportuários e à nação é o processo de reestruturação da Infraero que pode levar à abertura de capital da estatal, em 2012. DATA BASE - Os aeroportuários também estão em meio à campanha salarial para a renovação do Acordo Coletivo de Trabalho com a Infraero (data base 2012/2013). Em assembleias realizadas em março, a categoria aprovou a pauta de reivindicações que será apresentada à estatal. 27 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br INDICADORES DE DESEMPENHO DO TRANSPORTE AÉREO NACIONAL8 Com a predominância do transporte de passageiros na geração de receitas para as empresas (86%), é importante destacar o desempenho do transporte de passageiros nos últimos anos, com crescimento superior ao do PIB brasileiro, principalmente a partir de 2008. Em 2011, mesmo diante da crise financeira internacional, o setor teve 14,7% a mais de passageiros x quilômetros pagos transportados (RPK)9. Em 2009, quando o PIB registrou uma variação negativa de 0,6%, a demanda na aviação cresceu 10,6%. Os dados encontram-se na tabela abaixo: Tabela 1: Crescimento do Produto Interno Bruto da economia brasileira (PIB) e do desempenho do setor de aviação civil nacional Linhas Domésticas e Internacionais - 2006 a 2011 Variação anual Variação anual do PIB do RPK 2006 4,0% -3,81% 2007 6,1% 6,62% 2008 5,2% 14,01% 2009 -0,6% 10,57% 2010 7,5% 22,46% 2011 2,7% 14,65% Anos Fonte: IBGE, Sistema de Contas Nacionais; ANAC, Anuário de Transporte Aéreo 2010 e Dados Comparativos 2010 Os resultados da série revelam que a aviação regular brasileira vem registrando um forte aumento pela procura de passagens aéreas. Avalia-se que, em grande medida, o crescimento da procura está relacionado à expansão da renda. O ponto alto dessa evolução ocorreu no ano de 2010, quando o PIB nacional aumentou em 7,5% e a aviação civil 8 Contribuição do Dieese/Fentac RPK é abreviação do nome em inglês, que significa Passageiros Quilômetros Pagos Transportados, indicador de demanda utilizado pela ANAC. 9 28 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br registrou um avanço de 22,46% no total de passageiros x quilômetros transportados, em relação ao ano de 2009. Em 2011, o desempenho da aviação regular brasileira (14,75%) revelou-se menos expressivo que o resultado de 2010. Ainda sim, foi equivalente a mais de cinco vezes a variação experimentada pelo conjunto da economia brasileira, cuja taxa de crescimento foi de 2,7%. Em uma análise mais detalhada, utilizando como referência os dados divulgados pela ANAC no último Anuário do Transporte Aéreo (2010) e os resultados contidos nos Dados Comparativos acumulados no ano (publicados em dezembro de 2011), verificamos que o total de passageiros x quilômetros pagos transportados (RPK) atingiu 107,8 bilhões, de janeiro a dezembro de 2011, como ilustrado abaixo. Enquanto nas linhas domésticas o total de passageiros quilômetros pagos transportados foi de 81,5 bilhões (proporcionando um crescimento de 15,9%), nas linhas internacionais o total transportado foi de 23,3 bilhões (com crescimento de 11,1% frente aos números de 2010). Gráfico 1: Evolução do Número de Passageiros Quilômetros Pagos Transportados Linhas Domésticas, Linhas Internacionais e Total (000) 2006 a 2011 Fonte: ANAC, Anuário Transporte Aéreo 2010 e Dados Comparativos de dezembro de 2011 Elaboração: Dieese/ Fentac-CUT 29 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br No que se refere às receitas de voos alcançadas pelas empresas, como os últimos dados disponíveis estão no Anuário de 2010, a série histórica trabalhada neste caso é para o período de 2005 a 2010. Acompanhando o desempenho sinalizado acima, as receitas de voo das linhas domésticas, que equivaliam a 64,1% do total da receita em 2005, no ano de 2010 passaram a representar 77,4%. Alguns fatores contribuíram para este resultado, sendo um deles a melhoria da renda interna. Por outro lado, a questão cambial também influiu, passando, em alguns momentos, por um processo de valorização do real e, em outros, por forte desvalorização momentânea, principalmente a partir de setembro 2008. Gráfico 2: Distribuição da Receita Linhas Domésticas e Linhas Internacionais 2005 a 2010 Fonte: ANAC, Anuário Transporte Aéreo 2010 Elaboração: Dieese/ Fentac-CUT O fim das operações da Varig resultou em uma perda significativa da participação das empresas nacionais no transporte de passageiros nas linhas internacionais. No novo quadro composto por cinco empresas com atuação mais expressiva no transporte aéreo brasileiro, a TAM responde por 88,10% e a VRG/Gol por 10,62% do total da demanda nas linhas internacionais (janeiro a dezembro de 2011). 30 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br Quanto às linhas domésticas, a aviação brasileira também tem se caracterizado pela concentração de mercado. A TAM foi responsável por 41,15% da demanda doméstica por voos em 2011. A VRG/Gol, por sua vez, deteve 37,42%. Considerando ainda a participação da Webjet (em processo de aquisição pela Gol) de 5,53% do mercado, TAM e VRG/Gol (e Webjet) juntas somaram 84,10% da demanda total em 2011. Neste quadro, a empresa Azul vem apresentando importante expansão, atingindo no ano de 2011 uma participação de 8,57%. O setor encontra-se, no entanto, em processo de alterações patrimoniais. A TAM está em processo de fusão com a chilena LAN, a Webjet está em processo de incorporação pela VRG/Gol (ainda sem o parecer do CADE). Os gráficos abaixo ilustram esta participação de mercado das empresas aéreas brasileiras em 2010 e 2011: Gráfico 3: Participação das empresas de aviação civil brasileiras no total de Passageiros quilômetros pagos transportados – 2010 e 2011 Fonte: ANAC, Dados Comparativos, 2010 e 2011 / Elaboração: Dieese/Fentac-CUT 31 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br A evolução das empresas de aviação nos últimos anos foi acompanhada pela recomposição dos postos de trabalho. Em 2005, o nível de ocupação registrou 27.775 empregados na aviação. Nos anos seguintes, a tendência de redução nos postos de trabalho, que vinha ocorrendo até então, se inverteu em favor do crescimento da ocupação, elevando o total de empregados para o patamar de 55.890, em 2010. O contingente de pessoal empregado foi ampliado em 101,22% de 2005 a 2010, ou seja, dobrou. Tabela 2: Evolução do pessoal empregado nas empresas brasileiras de Aviação Civil 2005 a 2010 Total de Variação anual Empregados do total 17.164 27.775 - 11.893 23.635 35.528 37,70% 2007 12.133 27.616 39.749 16,84% 2008 13.425 30.738 44.163 11,31% 2009 13.989 35.227 49.216 14,60% 2010 17.824 35.799 55.890 13,56% 67,98% 108,57% 101,22% - Anos Aeronautas Aeroviários 2005 10.611 2006 Evolução 2005/2010 Fonte: ANAC, Anuários do Transporte Aéreo Gráfico 4: Evolução do pessoal empregado nas empresas brasileiras de Aviação Civil 2005 a 2010 Fonte: ANAC, Anuários do Transporte Aéreo / Elaboração: Dieese/Fentac-CUT 32 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br Em termos de participação dos gastos com pessoal na estrutura de custos das empresas, se em 2005, 27.775 empregados correspondiam a 13,9% do gasto com pessoal das empresas, em 2010, 55.890 empregados passam a significar 19,4% da estrutura de custos das empresas. O número de empregados mais que dobrou, mas a participação no gasto variou 5,5 pontos percentuais. Há que se tomar cuidado no tratamento desta informação, pois seria preciso uma análise mais acurada da estrutura de custos das empresas, uma vez que esta tabela trata somente de proporções, e cada item da pauta de custos tem sua participação determinada por quantidades e preços, e a evolução de cada um pode afetar a participação dos demais ao impactar o custo total. Tabela 3: Composição dos custos do conjunto das empresas brasileiras de Aviação Civil 2005 a 2010 - em % DISCRIMINAÇÃO 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Combustível 32,9 33,5 33,5 37,8 29,3 32,4 Encargos com Pessoal 13,9 14,7 14,9 15,0 18,0 19,4 9,4 12,3 13,8 15,7 14,5 14,3 Arrendamento e Manutenção 15,8 14,7 16,9 14,1 16,7 10,7 Despesas Comerciais 14,6 13,5 10,6 7,7 7,8 8,6 Deprec. e Seguro Equip.Vôo 1,4 1,4 1,5 1,4 3,4 4,6 Tarifas Aeroportuárias 1,7 1,6 1,6 1,8 1,9 1,8 Tarifas de Com. e Auxílio 3,5 3,5 3,7 3,0 3,6 3,3 Organização Terrestre 2,7 1,6 0,7 0,5 0,5 1,7 Desp.Dir.Pax e Carga 2,8 1,8 1,6 1,6 1,7 1,6 Deprec. Seg. Aluguel em Geral 1,1 1,1 1,0 1,1 1,5 1,3 Amortizações 0,4 0,2 0,4 0,3 1,3 0,2 TOTAL 100 100 100 100 100 100 Despesas Adm. Diversas e Outras Fonte: ANAC, Anuário do Transporte Aéreo 2010 33 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br PLANO DE LUTAS UNIFICADO10 Uma análise superficial do transporte aéreo brasileiro parece indicar que o setor atravessa um momento excepcional, exceção feita ao problema da infraestrutura aeroportuária, sem condições de atender ao crescimento explosivo da demanda, o que se reflete em aeroportos superlotados e no excesso de aeronaves no solo ou no ar, aguardando na fila, por tempo indeterminado, autorização para pouso ou decolagem. De fato, os dados estatísticos parecem dar sustentação a esta visão otimista: de 2005 a 2010 a demanda mais que dobrou, atingindo um crescimento de 126% em seu segmento doméstico, com a inclusão de milhões de novos usuários; novas empresas chegaram ao mercado; temos uma das frotas mais modernas do mundo; foram gerados mais de 20 mil postos de trabalho para aeronautas e aeroviários (2005/2009), representando um crescimento de 77%. O cenário já favorável fica ainda mais otimista com as perspectivas abertas com a proximidade da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Obviamente, o quadro descrito não poderia deixar de provocar a cobiça estrangeira: diferentemente do Brasil, Europa e Estados Unidos sofrem com os efeitos da crise financeira, com economias estagnadas e mercados deprimidos. Apoiadas por seus respectivos governos, suas empresas aéreas, com excesso de capacidade, voltam seus olhos para o nosso dinâmico mercado, visando capturá-lo. E seus governos agem rapidamente, tudo leva a crer, influenciando a ANAC a escancarar – como já fez – o mercado internacional brasileiro, estabelecendo a total liberdade tarifária para voos de longo curso, além de negociar acordos de Céus Abertos com a União Europeia e os Estados Unidos da América. A Agência foi ainda mais longe: na XIX Assembleia da CLAC, ocorrida em novembro de 2010, na República Dominicana, aprovou um acordo multilateral de Céus Abertos que prevê, em seu artigo 2º, o direito de prestar serviços regulares e não regulares de transporte aéreo, combinados de passageiros e carga, entre pontos do território da parte que tenha 10 Plano de Lutas encaminhado pelos sindicatos cutistas do setor aéreo à CUT, em 29 de junho de 2011 (atualizado). 34 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br concedido o direito de oitava e nona liberdade, ou seja, a cabotagem. Este acordo ainda depende da ratificação dos governos. Ao contrário do segmento doméstico, o Brasil vem perdendo participação na área internacional desde os anos 90. Naquela época, a Varig sozinha detinha mais de 60% deste mercado. Em 2009, a participação brasileira caiu para 34% e, ainda assim, graças ao mercado sul-americano. Nos voos de longo curso (Europa e América do Norte) nossa participação é inferior a 20%. As empresas nacionais operam em franca desvantagem competitiva com as congêneres europeias e norteamericanas em termos de escala (tamanho da frota), escopo (rede de distribuição dos voos) e custos (tributação, crédito, financiamento, seguros, dentre outros). Por conta dessas fragilidades e da consequente perda de participação neste mercado, o CONAC determinou, nas Resoluções 004/2003 e 007/2007: “A operação internacional de empresas aéreas brasileiras é considerada instrumento de projeção econômica e comercial de importância estratégica para o país, devendo ter tratamento fiscal, tributário e creditício semelhante ao das atividades de exportação e de infraestrutura”. Contudo, a determinação do CONAC foi ignorada pela ANAC que, ao liberar totalmente os céus internacionais brasileiros, alegou não ser de sua alçada a construção da isonomia competitiva. Também está em discussão no Congresso Nacional a revisão do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), prevendo a possibilidade de participação majoritária de capital estrangeiro nas empresas aéreas brasileiras e de contratação de tripulantes estrangeiros por até cinco anos. O governo brasileiro já aceitou aumentar a participação estrangeira de 20% para 49% no capital das aéreas nacionais, mas os liberais da ANAC querem mais: querem o controle estrangeiro sobre o nosso transporte aéreo. Quanto à contratação de tripulantes estrangeiros (leia-se pilotos), a intenção é de meramente reduzir o poder de barganha dos trabalhadores em pleno momento de crescimento do setor, ou seja, justamente quando teriam oportunidade de melhorar suas condições salariais. 35 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br Não há nenhuma outra justificativa para isso, pois a aviação regular contratou menos de 1.000 pilotos nos últimos cinco anos, ou seja, menos de 200 por ano. Somente a ANAC forma anualmente mais do que as necessidades dessas empresas. Portanto, não existe falta de pilotos no mercado. O interesse, na verdade, é do setor de táxi aéreo que, por praticar baixos salários, vem perdendo profissionais experientes para as empresas da aviação regular. Desafiando as lutas sindicais mundiais pela redução da jornada de trabalho, as empresas aéreas brasileiras tencionam aproveitar a revisão do CBA para propor o aumento da jornada de trabalho dos aeronautas, desconsiderando suas consequências, apontadas por especialistas das mais renomadas universidades brasileiras, para a saúde do aeronauta e para a segurança de voo. Os trabalhadores da aviação civil acreditam que a privatização dos aeroportos no Brasil é um golpe de misericórdia na esperança de se ter uma estratégia soberana para o setor aéreo. Infelizmente, estamos caminhando, ao longo dos últimos anos, para um processo de precarização e desmonte da aviação brasileira, seja pela política equivocada de “abertura dos céus” patrocinada pela ANAC, que vem permitindo uma verdadeira inversão de valores públicos pautados nas resoluções do CONAC, e a consequente invasão das empresas internacionais, seja pelo desmonte da Rede Infraero, que poderá significar o fim do financiamento cruzado das receitas entre os aeroportos, levando o contribuinte a pagar a conta de operação dos aeroportos não centrais mas que têm um papel fundamental para a integração nacional. Além disso, a perda de controle estratégico e público do setor aeroportuário abre caminho para um monopólio privado que significará o fim dos aeroportos não lucrativos localizados nos pontos mais distantes do país. Também merece o repúdio de todo o movimento sindical a postura da Justiça brasileira que barrou a mobilização dos trabalhadores quando da perspectiva de greve de aeronautas e aeroviários, aprovada em assembleias, em dezembro de 2010. A greve é um direito constitucional dos trabalhadores que não pode ser desrespeitado pela Justiça. Contudo, o Judiciário exigiu um comparecimento de, no mínimo, 80% dos funcionários durante a greve, inviabilizando o legítimo direito de greve dos trabalhadores. 36 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br Ao lado da Central Única dos Trabalhadores (CUT), aeroviários, aeronautas e aeroportuários vêm buscando o apoio da sociedade, dos governos, dos legislativos, a fim de barrar estas propostas nocivas não só aos direitos dos trabalhadores do setor mas à soberania nacional e que, portanto, dizem respeito a todos os brasileiros. Fazem parte das bandeiras de luta dessas categorias: 1 – Dizer não à Cabotagem no mercado doméstico brasileiro, pela não ratificação, por parte do governo brasileiro, do acordo multilateral de Céus Abertos firmado na XIX Assembleia da CLAC e apoiado pela ANAC; 2 – Lutar pela implantação imediata da Resolução 007/2007 do CONAC, concedendo à operação internacional das empresas aéreas brasileiras tratamento fiscal, tributário e creditício semelhante ao das atividades de exportação e de infraestrutura; 3 – Lutar para garantir o controle majoritário do capital nacional nas empresas aéreas brasileiras; 4 – Lutar contra a concessão e privatização dos aeroportos da Rede Infraero e pela manutenção da Infraero como empresa estatal responsável pela gestão dos aeroportos do país; 5 – Dizer não à permissão de contratação de tripulantes estrangeiros para operar na aviação brasileira; 6 – Dizer não ao aumento da jornada de trabalho no setor aéreo; 7 – Repudiar à postura da Justiça brasileira de total desrespeito ao direito de greve previsto na Constituição Federal e lutar pela garantia a todos os trabalhadores brasileiros do direito de reivindicar melhores salários e condições de trabalho; 8 – Garantir assento para representantes dos aeronautas, aeroviários e aeroportuários no Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), a fim de que esses trabalhadores possam influir e fazer ouvir a sua voz, de forma mais efetiva, nos rumos do Transporte Aéreo Nacional; e 9 – Garantir condições decentes de trabalho nos aeroportos e nas empresas do setor aéreo, priorizando sempre a segurança de trabalhadores e usuários do transporte aéreo e o respeito às leis trabalhistas. 37 Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT www.fentac.org.br