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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Divisão Biblioteca Central do ITA/CTA Pelegrini, Marina Estudo teórico da estrutura molecular, da espectrocopia vibracional e da reatividade de hidrazinas e aminas/ Marina Pelegrini. São José dos Campos, 2007. Número de folhas no formato 144f. Tese de doutorado – Física Atômica e Molecular Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2007. Orientadores: Prof. Dr. Francisco Bolívar Correto Machado 1. Hidrazina. 2. Aminas. 3. Espectros vibracionais.4. Estrutura molecular. I. Centro Técnico Aeroespacial. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Divisão de Ciências Fundamentais. II.Título REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Pelegrini, Marina. Estudo teórico da estrutura molecular, da espectrocopia vibracional e da reatividade de hidrazinas e aminas. 2007. 144f. Tese de doutorado – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos. CESSÃO DE DIREITOS NOME DO AUTOR : Marina Pelegrini TÍTULO DO TRABALHO: Estudo teórico da estrutura molecular, da espectrocopia vibracional e da reatividade de hidrazinas e aminas TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese / 2007 É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta tese e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese pode ser reproduzida sem a sua autorização. ___________________________ Marina Pelegrini Departamento de Química – ITA, Praça Marechal Eduardo Gomes, 50 - Vila das Acácias CEP 12228-900 – São José dos Campos – SP – Brasil iii Estudo Teórico da Estrutura Molecular, da Espectroscopia Vibracional e da Reatividade de Hidrazinas e Aminas Marina Pelegrini Composição da Banca Examinadora Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Prof. Dr. Dr. Dr. Dr. Dr. Dr. Dr. Koshun Iha Francisco Bolivar Correto Machado Arnaldo Dal Pino Júnior Jayr de Amorim Filho Fernando Rei Ornellas Sylvio Roberto Accioly Canuto Itamar Borges Júnior ITA Presidente - IEFQ/ITA Orientador - IEFQ/ITA Membro interno - IEFF/ITA Suplente interno - IEFF/ITA Membro externo - IQ/USP Membro externo - IF/USP Suplente externo – DQ/IME iv Dedico esta tese à pessoa que faz com que todas as realizações tenham mais sentido, minha filha Lavínia. v Agradecimentos Ao Prof. Dr. Francisco Bolivar Correto Machado, que sempre se mostrou solícito a me orientar na resolução dos problemas e dúvidas inerentes ao trabalho científico, e cuja orientação se estendeu além do campo da pesquisa, fazendo surgir respeito e amizade, os quais são definitivos e marcantes nos âmbitos científico e pessoal. Ao Prof. Dr. Orlando Roberto Neto pela prontidão em sempre nos auxiliar com suas lúcidas sugestões. Ao colega Dr. Leonardo Tsuyoshi Ueno, que no período em que esteve no Departamento de Química, foi um grande colaborador no desenvolvimento do projeto. Aos coordenadores da Pós-Graduação, Prof. Dr. Tobias Frederico e Prof. Dr. Koshun Iha, pelo apoio e incentivo. Ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica/Departamento de Química pelo auxílio constante no desenvolvimento do projeto. Aos colegas de pesquisa no Laboratório, Vladir, Luiz, Roberta. Ao colega Silvio, que sempre prestou sua ajuda em momentos críticos. Aos professores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Aos professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP. Ao Centro Nacional de Computação Científica de Alto Desempenho de Campinas (CENAPAD) pelo tempo de computação disponível. Aos técnicos do suporte do Centro de Computação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. À Fundação Casimiro Montenegro/ITA por seu auxílio no início do período do Doutorado. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela concessão da bolsa de estudos de Doutorado. vi Resumo O desenvolvimento desta tese se baseou em dois enfoques de estudo. Um dos enfoques é a caracterização energética de reações elementares que podem estar envolvidas na decomposição da molécula hidrazina, a qual desperta especial interesse por se tratar de uma molécula cuja decomposição é exotérmica e utilizada como combustível em foguetes e lançadores de satélites, além de outras muitas aplicações. Neste estudo teórico, as estruturas conformacionais, a espectroscopia vibracional e a energética dos reagentes, produtos e estados de transição de dezenove reações elementares foram caracterizadas utilizando-se a metodologia CCSD(T)-CBS//MP2-cc-pVTZ, onde CBS é uma extrapolação para o limite do conjunto de funções base. O outro enfoque deste estudo consiste na caracterização das estruturas conformacionais e da espectroscopia vibracional das aminas substituídas: metilamina, dimetilamina e trimetilamina. Para cada uma dessas aminas caracterizou-se três confôrmeros, os quais são resultados de movimentos de rotação interna de um grupo metila e de inversão do grupo amina. Desta forma, foi possível obter as barreiras de energia para rotação interna e para inversão. Numa primeira etapa, realizou-se um estudo sistemático com o método CCSD(T) para a molécula metilamina com os conjuntos de funções base de correlação-consistente de Dunning. Na etapa seguinte, realizou-se cálculos de otimização de geometrias utilizando-se métodos da Teoria do Funcional da Densidade [B3LYP, B3P86 e BP86], seguidos de cáculos CCSD(T) para obter as barreiras de energia de rotação e de inversão, para as moléculas metilamina, dimetilamina e trimetilamina. vii Abstract The development of this thesis is based on two subjects of study. One of them is the energetic characterization of the elementary reactions which could be involved in the decomposition of the hydrazine molecule. This molecule has special interest because its decomposition is exothermic and it is used as rocket fuel of satellites, in addition to many other applications. In this theoretical study, the conformacional structures, the vibrational spectroscopy and the energetic of the reagents, products and transition states of nineteen elementary reactions have been characterized by using the CCSD(T)/CBS//MP2/cc-pVTZ methodology. The CBS term means an extrapolation procedure providing the results to the basis function set limit. The other focus of this work consists in the characterization of the conformacional structures, and vibrational spectroscopy of substituted amines: methylamine, dimethylamine and trimethylamine. For each one of these amines, we have studied three conformacional structures, which results from internal rotation movements by one of the methyl groups and of the nitrogen inversion process. Therefore, the energy barriers of rotation and inversion movements were also obtained. In the first step, it has been performed a systematical study using the CCSD(T) method and the correlation – consistent basis set of Dunning in the calculation for the methylamine molecule. In the next step, the geometry optimization of the methylamine, dimethylamine and trimethylamine molecules were carried out using the Density Functional Theory [B3LYP, B3P86 and BP86] and the barrier heights were obtained using the CCSD(T) method. viii Sumário Geral 1 − Introdução...........................................................................................................................1 2 − Métodos da Química Quântica..........................................................................................7 2.1 − Métodos de Correlação Eletrônica................................................................................9 2.1.1 − Teoria de Perturbação de Møller-Plesset (MP2)........................................................9 2.1.2 − Método Coupled Cluster (CC)...................................................................................14 2.1.3 − Teoria do Funcional da Densidade (DFT)................................................................18 2.2 – Estudo da cinética das reações – cálculo das constantes de velocidade....................22 3 − Detalhes Computacionais.................................................................................................25 4 − Resultados e Discussão.....................................................................................................29 4.1 − Estudo das reações envolvidas na decomposição da molécula hidrazina.................29 4.2 − Estudo das geometrias, freqüências vibracionais e barreiras de energia das moléculas metilamina, dimetilamina e trimetilamina.........................................................72 4.2.1 − Metilamina...................................................................................................................72 4.2.2 − Dimetilamina...............................................................................................................84 4.2.3 − Trimetilamina.............................................................................................................97 5 − Conclusões.......................................................................................................................115 6 − Atividades Complementares..........................................................................................119 7 − Referências Bibliográficas..............................................................................................121 ix Sumário das Tabelas Tabela 1: Barreiras de energia clássicas, ΔV # , barreiras de energia com correção do pontozero, ΔV0# , energias de reação clássicas, ΔE , energias de reação com correção do ponto zero, 0 ΔE 0 , entalpias, ΔH 298 , e energia livre de Gibbs, ΔG298 ..........................................................60 Tabela 2: Constantes de velocidade k (T ) e energias de ativação Ea calculadas para as reações I – XIX, nas temperaturas de 298 K e 1000 K.............................................................65 Tabela 3: Freqüências vibracionais harmônicas (cm−1) das moléculas envolvidas nas reações I − XIX calculadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ.............................................................71 Tabela 4: Parâmetros geométricos das conformações estrelada, eclipsada e planar da molécula metilamina.................................................................................................................74 Tabela 5: Barreiras de energia de rotação interna do grupo metila, e de inversão do grupo amina na molécula metilamina.................................................................................................79 Tabela 6: Barreiras de energia de rotação interna do grupo metila, e de inversão do grupo amina na molécula metilamina calculadas com diferentes metodologias DFT........................81 Tabela 7: Freqüências vibracionais harmônicas, em cm−1, da conformação estrelada da molécula metilamina.................................................................................................................82 Tabela 8: Valores do ângulo θ formado entre o nitrogênio do grupo amina e o plano H(10)-CN-C-H(5) na molécula dimetilamina........................................................................................86 Tabela 9: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula dimetilamina otimizados com o método BP86.........................................................................88 Tabela 10: Parâmetros geométricos para as conformações planar (inversão NH) e estrelada (rotação CH3) de dimetilamina otimizados com o método BP86.............................................89 Tabela 11: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula dimetilamina otimizados com o método B3P86.......................................................................90 x Tabela 12: Parâmetros geométricos para as conformações planar (inversão NH) e estrelada (rotação CH3), de dimetilamina otimizados com o método B3P86..........................................91 Tabela 13: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula dimetilamina otimizados com o método B3LYP......................................................................92 Tabela 14: Parâmetros geométricos para as conformações planar (inversão NH) e estrelada (rotação CH3), de dimetilamina otimizados com o método B3P86.........................................93 Tabela 15: Barreiras de energia para rotação interna do grupo metila e de inversão do grupo NH na molécula dimetilamina..................................................................................................94 Tabela 16: Barreiras de energia para rotação interna do grupo metila e de inversão do grupo NH na molécula dimetilamina calculadas com métodos DFT..................................................95 Tabela 17: Freqüências vibracionais para a estrutura fundamental da molécula dimetilamina..............................................................................................................................96 Tabela 18: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula trimetilamina calculados com o método BP86.......................................................................100 Tabela 19: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula trimetilamina calculados com o método B3P86.....................................................................100 Tabela 20: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula trimetilamina calculados com o método B3LYP....................................................................102 Tabela 21: Parâmetros geométricos da conformação estrelada (rotação CH3) da molécula trimetilamina calculados com o método BP86.......................................................................103 Tabela 22: Parâmetros geométricos da conformação estrelada (rotação CH3) da molécula trimetilamina calculados com o método B3P86.....................................................................104 Tabela 23: Parâmetros geométricos da conformação estrelada (rotação CH3) da molécula trimetilamina calculados com o método B3LYP....................................................................105 xi Tabela 24: Parâmetros geométricos da conformação planar (inversão) da molécula trimetilamina calculados com o método BP86.......................................................................106 Tabela 25: Parâmetros geométricos da conformação planar (inversão) da molécula trimetilamina calculados com o método B3P86.....................................................................107 Tabela 26: Parâmetros geométricos da conformação planar (inversão) da molécula trimetilamina calculados com o método B3LYP....................................................................108 Tabela 27: Barreiras de energia para rotação interna do grupo metila e de inversão do nitrogênio na molécula trimetilamina.....................................................................................110 Tabela 28: Barreiras de energia para rotação interna do grupo metila e de inversão do nitrogênio na molécula trimetilamina calculadas com métodos DFT.....................................111 Tabela 29: Freqüências vibracionais harmônicas (cm-1) para a estrutura fundamental da molécula trimetilamina...........................................................................................................113 xii Sumário das Figuras Figura 1: Diagrama de energia potencial. Valores obtidos utilizando-se metodologia CCSD(T)/CBS//MP2/cc-pVTZ.................................................................................................32 Figura 2: Estrutura do estado de transição TSI........................................................................33 Figura 3: Ilustração dos isômeros da molécula diazina (N2H2)...............................................35 Figura 4: Estruturas de equilíbrio para reagentes e produtos das reações I – XIX otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ..........................................................................................66 Figura 5: Estruturas de equilíbrio para reagentes e produtos das reações I – XIX otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ..........................................................................................67 Figura 6: Estruturas dos estados de transição das reações I – VI otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ .............................................................................................................68 Figura 7: Estruturas dos estados de transição das reações VII – XII otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ .............................................................................................................69 Figura 8: Estruturas dos estados de transição das reações XIII – XIX otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ .............................................................................................................70 Figura 9: Ilustração das conformações da molécula metilamina.............................................73 Figura 10: Ilustração das conformações da molécula dimetilamina........................................86 Figura 11: Ilustração das conformações da molécula trimetilamina........................................98 xiii Sumário das Curvas de Coordenada de Reação Íntrinseca (IRC) Curva I : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação I.......................................34 Curva II : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação II....................................37 Curva III : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação III.................................39 Curva IV : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação IV.................................40 Curva V : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação V....................................42 Curva VI : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação VI.................................44 Curva VII : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação VII..............................45 Curva VIII : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação VIII...........................46 Curva IX : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação IX.................................47 Curva X : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação X....................................48 Curva XI : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XI.................................50 Curva XII : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XII..............................51 Curva XIII : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XIII...........................52 Curva XIV : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XIV...........................53 Curva XV : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XV..............................54 Curva XVI : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XVI...........................55 Curva XVII : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XVII.........................57 Curva XVIII : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XVIII......................59 Curva XIX : Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XIX...........................59 1 1 − Introdução A utilização de métodos da química quântica e da dinâmica química molecular tornouse uma ferramenta importante na análise, na interpretação e na compreensão de vários sistemas de interesse químico, físico e biológico. Estudos em sistemas moleculares mais complexos, envolvendo aglomerados moleculares, reações químicas, espectroscopia eletrônica e vibracional, incluindo átomos do terceiro período e metais tornaram-se possíveis com o crescente desenvolvimento de modernos computadores, juntamente com o desenvolvimento de métodos numéricos e metodologias apropriadas para a descrição da correlação eletrônica. De modo geral, o desenvolvimento do presente projeto abordou dois enfoques de trabalho, o estudo da estrutura conformacional, da espectroscopia vibracional e da energética das espécies envolvidas em reações elementares que descrevem a decomposição da molécula hidrazina, e o estudo das estruturas conformacionais, freqüências vibracionais e barreiras de energia envolvidas em movimentos internos das aminas substituídas: metilamina, dimetilamina e trimetilamina. Compostos de nitrogênio têm um papel crucial na química de combustão. Hidrazina e seus derivados formam um importante grupo de moléculas com aplicações em uma ampla variedade de processos químicos. Elas podem ser utilizadas como intermediários para a produção de outras classes úteis de compostos orgânicos e inorgânicos, como anti-oxidantes, em emulsões fotográficas, como constituintes de plásticos, na indústria farmacêutica, como inseticidas, como combustível em foguetes e lançadores de satélites [1], e são também empregadas como inibidores de corrosão em estruturas de aço [2]. Neste trabalho, o principal interesse no estudo da hidrazina está relacionado com sua decomposição, portanto, este estudo compreende a caracterização de diversas reações elementares envolvidas em sua 2 decomposição. Um entendimento da seqüência de passos na cinética de decomposição da hidrazina é de fundamental interesse também para o desenvolvimento de catalisadores mais eficientes para aplicações espaciais. A entalpia de formação padrão da hidrazina é positiva, portanto se trata de um composto endotérmico, cuja decomposição pode levar à auto-ignição, detonação, ou pode ainda ser estabilizada como uma chama sem qualquer oxidante [3]. A decomposição catalítica da hidrazina tem sido bastante estudada [4-7], porém a seqüência de passos da reação global é muito pouco conhecida. Neste sentido, o desenvolvimento deste projeto consistiu no estudo das reações químicas envolvidas no processo de decomposição desta molécula, através da caracterização das estruturas moleculares, das freqüências vibracionais e da energética de reagentes, produtos e estados de transição envolvidos nas reações propostas. A decomposição da hidrazina é prevista para ocorrer por dois caminhos de reação [8], através de dissociações sucessivas das ligações N−H, ou através da quebra da ligação N−N. A reação (1) deve representar a reação global de decomposição desta molécula: 2N2H4 → N2 + H2 + 2NH3 (1) De acordo com estudo experimental sobre a decomposição da hidrazina, realizado na presença de catalisadores [9], a preferência por um dos dois caminhos reacionais de quebra da ligação, N−H ou N−N, depende do metal utilizado como catalisador. Neste trabalho de Doutorado, estudou-se um total de dezenove reações que estão envolvidas na decomposição da hidrazina através de dissociações sucessivas das ligações N−H, levando à formação de N2, através da quebra da ligação N−N, levando à formação de NH3, e das reações envolvidas na decomposição de NH3 a N. O propósito deste estudo é traçar os possíveis caminhos de reação que levam à decomposição da molécula hidrazina sem a presença de catalisador, e assim, tornar possível a identificação das barreiras de energia de ativação para os diversos caminhos. Muitas das 3 reações estudadas envolvem radicais livres, inclusive átomos de hidrogênio, que são relevantes neste processo de decomposição, especialmente nos passos de iniciação da decomposição. Estas reações (I − XIX) são apresentadas abaixo. As reações estudadas neste trabalho são aquelas em que foi possível determinar as estruturas dos estados de transição, pois todas as reações foram caracterizadas com relação aos pontos estacionários correspondentes aos reagentes, produtos e estados de transição. (I) N2H4 ⎯⎯→ NNH2 +H2 (II) ⎯→ N2H2(trans) + 2H2 N2H4 + H2 ⎯⎯ (III) ⎯→ N2H3 + H2 N2H4 + H ⎯⎯ (IV) ⎯→ NH3 + NH2 N2H4 + H ⎯⎯ (V) ⎯→ HNNH3 N2H4 ⎯⎯ (VI) ⎯→ N2H2(trans) + H N2H3 ⎯⎯ TSI TSII TSIII TSIV TSV TSVI ⎯→ N2H2(cis) + H (VII) N2H3 ⎯⎯ TSVII (VIII) HNNH3 ⎯⎯⎯→ N2H2(trans) + H2 TSVIII (IX) ⎯→ N2H2(cis) + H2 HNNH3 ⎯⎯ (X) ⎯→ NH3 + NH3 HNNH3 + H2 ⎯⎯ (XI) ⎯→ NNH + H2 N2H2(trans) + H ⎯⎯ TSIX TSX TSXI ⎯→ NNH + H2 (XII) N2H2(cis) + H ⎯⎯ TSXII (XIII) N2H2(cis) ⎯⎯⎯→ N2 + H2 TSXIII (XIV) NNH2 ⎯⎯⎯→ N2 + H2 TSXIV ⎯→ N2 + 2H2 (XV) NNH2 + H2 ⎯⎯ TSXV 4 (XVI) NNH ⎯⎯⎯→ N2 + H TSXVI (XVII) NH3 + H ⎯⎯⎯→ NH2 + H2 TSXVII (XVIII) NH2 + H ⎯⎯ ⎯→ NH + H2 TSXVIII (XIX) NH + H ⎯⎯⎯→ N + H2 TSXIX As reações citadas acima foram estudadas através da otimização da geometria de equilíbrio das espécies envolvidas e dos respectivos cálculos de freqüências vibracionais. Estes cálculos foram realizados com o método de Teoria de Perturbação em Segunda Ordem de Møller-Plesset (MP2) [10] e o conjunto de funções base cc-pVTZ de Dunning [11]. As energias foram refinadas empregando cálculos single point utilizando-se o método CCSD(T) [12], juntamente com uma extrapolação do conjunto de funções base. O outro enfoque deste trabalho foi o estudo da estrutura molecular, espectroscopia vibracional e barreiras de energia envolvidas em movimentos internos das aminas substituídas, metilamina, dimetilamina e trimetilamina. Estas moléculas formam um interessante grupo de moléculas devido à sua importância em síntese orgânica e em processos biológicos, bem como sua eficiência como inibidores de corrosão do alumínio [13]. Além de sua importância tecnológica, essas moléculas são ricas em fatores estruturais, os quais são conseqüência dos movimentos dos grupos metila e dos átomos de hidrogênio no grupo amina. A molécula metilamina é caracterizada por dois movimentos internos de grande amplitude, a inversão do grupo amina e a rotação interna ao longo da ligação C−N. Estes movimentos estão fortemente acoplados dando origem a uma estrutura espectroscópica rovibracional relativamente complexa. Um dos objetivos deste trabalho foi calcular as barreiras 5 de energia para a rotação interna do grupo metila e para a inversão do grupo amina, sendo para isso necessária a descrição de três confôrmeros da molécula metilamina. A molécula dimetilamina também é um exemplo de molécula não-rígida devido a quatro modos de vibração de grande amplitude. Essas vibrações correspondem à rotação interna do grupo metila, à inversão do nitrogênio do grupo amina e ao modo de vibração da torsão CNC [14]. Neste estudo, caracterizou-se três confôrmeros da molécula dimetilamina, a conformação do estado fundamental, a conformação do estado de transição para rotação de um grupo metila e a conformação de transição para inversão do grupo amina. Desta maneira foi possível calcular as barreiras de energia para os movimentos de rotação de um grupo metila e de inversão do grupo amina. A inversão pode ser entendida como o tunelamento do átomo de hidrogênio do grupo amina através do plano CNC da molécula. Analogamente ao estudo realizado com as moléculas metilamina e dimetilamina, três confôrmeros foram caracterizados para a molécula trimetilamina. Um confôrmero é o estado fundamental da molécula, os outros dois são estados de transição, um deles é o estado de transição para inversão do nitrogênio e o outro é o estado de transição para rotação de um grupo metila nesta molécula. Estes confôrmeros foram caracterizados neste estudo em termos de geometria, freqüências vibracionais harmônicas e energia. A primeira parte do estudo que trata sobre as aminas foi dedicada à molécula mais simples, metilamina [15], onde realizou-se cálculos de parâmetros geométricos e de energias relativas utilizando o método CCSD(T) e método de extrapolação do conjunto de funções base. Para esta molécula realizou-se também cálculos utilizando-se métodos da Teoria do Funcional da Densidade, e observou-se que estes métodos apresentaram resultados bastante satisfatórios já com uma base média como cc-pVTZ. Desta maneira, para as aminas com mais átomos, realizou-se estudos com três métodos híbridos da Teoria do Funcional da Densidade, 6 B3LYP, B3P86 e BP86, utilizando as bases de correlação consistente de Dunning, que comparativamente oferecem bons resultados para as propriedades calculadas a um custo computacional relativamente baixo. A seguir, realizou-se ainda cálculos single point utilizando o método CCSD(T) e as energias foram extrapoladas utilizando método de extrapolação [16]. Desta forma, procurou-se comparar estes resultados das barreiras energéticas com aqueles realizados com os métodos do Funcional Densidade. 7 2 - Métodos da Química Quântica Nesta seção são apresentados alguns dos fundamentos dos métodos teóricos utilizados neste trabalho. Grande parte das informações sobre os métodos estudados e descritas nesta seção foi retirada dos livros Introduction to Computational Chemistry [17], Physical Chemistry [18], e Chemical Kinetics [19], além de outros artigos referenciados no decorrer desta seção. O princípio para o estudo teórico de sistemas químicos é a resolução da equação de Schrödinger: ∧ H Ψ = EΨ (2) Essa equação é basicamente dependente do número de elétrons, do número de núcleos, suas cargas e da separação entre todas essas partículas. Porém, como é sabido, a sua resolução apresenta grandes dificuldades na medida em que se aumenta o número de variáveis e os acoplamentos entre elas. Dessa maneira, é necessário utilizar técnicas de aproximação para a sua resolução. A primeira aproximação a fazer é a aproximação Born-Oppenheimer. A importância desta aproximação é permitir separar o movimento eletrônico do movimento nuclear considerando-os independentes. Como justificativa utiliza-se o fato que os núcleos são milhares de vezes mais pesados que os elétrons, e assim pode-se considerar que os elétrons em uma molécula se movimentam no campo dos núcleos fixos. Desta forma, o ∧ operador hamiltoniano pode ser simplificado, o termo K N da equação (3), de energia cinética ∧ dos núcleos, deve ser negligenciado e o termo de repulsão núcleo-núcleo, V NN , é um termo constante. ∧ ∧ ∧ ∧ ∧ ∧ H = K N + K e + V NN + V Ne + V ee (3) 8 O método Hartree-Fock é um outro exemplo de aproximação. Uma descrição mais detalhada sobre o método Hartree-Fock pode ser encontrada em minha Dissertação de Mestrado [20]. O método Hartree-Fock descreve a função de onda como um produto antissimetrizado de spin-orbitais através de um único determinante, o determinante de Slater. Na aproximação ∧ Hartree-Fock, o termo de repulsão eletrônica, V ee , do operador hamiltoniano (3) é descrito como a energia potencial de repulsão entre um elétron e uma distribuição contínua de carga, ou seja, os elétrons são tratados como partículas independentes e a interação instantânea é substituída pela interação entre um elétron e um campo médio que representa o movimento dos outros elétrons. Portanto, o método Hartree-Fock não considera o que se convencionou chamar de correlação eletrônica. A energia de correlação eletrônica foi definida por Löwdin [21] como a diferença de energia exata não-relativística e a energia Hartree-Fock, calculada pelo método Hartree-Fock-Roothaan. Muitos métodos da Química Quântica utilizam a aproximação Hartree-Fock como ponto de partida para se obter funções de onda mais completas, eles são os chamados métodos pós-Hartree-Fock. Deste modo, estes métodos possibilitam a inclusão de correlação eletrônica. O método Hartree-Fock determina a melhor função de onda tentativa de apenas um determinante, dentro de um dado conjunto de funções base. Portanto, uma das maneiras de melhorar os resultados Hartree-Fock é escrever uma função de onda tentativa que contenha mais que um determinante de Slater. Como a solução Hartree-Fock (HF) fornece cerca de 99% da resposta correta para a energia eletrônica, principalmente na região de equilíbrio, os métodos de correlação eletrônica geralmente utilizam a função HF como ponto de partida para incluir os efeitos de correlação. Embora o erro absoluto introduzido pelo formalismo HF seja 9 pequeno, o valor da energia de correlação é da ordem de grandeza de algumas das propriedades de interesse químico, como, por exemplo, a energia de dissociação. Uma função de onda multiconfiguracional genérica pode ser escrita como: Ψ = a0φ HF + ∑ aiφi (4) i =1 Os vários métodos de correlação eletrônica diferem pela maneira como calcular os coeficientes ai das outras configurações. 2.1 - Métodos de Correlação Eletrônica Os métodos correlacionados utilizados neste trabalho foram Teoria de Perturbação em Segunda Ordem de Møller-Plesset (MP2) [10], o método Coupled-Cluster com excitações simples e duplas com algumas contribuições de excitações triplas (CCSD(T)) [12], e métodos da Teoria do Funcional da Densidade, onde foram utilizados os funcionais B3LYP, B3P86 e BP86 [22,23]. Deste modo, nesta seção apresentamos a teoria destes métodos de maneira sucinta. 2.1.1 Teoria de Perturbação de Møller-Plesset (MP2) Nos métodos de teoria de perturbação, o problema a ser resolvido deve diferir apenas aproximadamente de um problema de resolução já conhecida, ou seja, a solução de um dado problema deve ser próxima à solução de um problema já resolvido. Isto é descrito matematicamente por definir um operador hamiltoniano do sistema sendo constituído por duas partes, um hamiltoniano de referência H0 não-perturbado, e uma perturbação H´. É necessário que o termo que representa a perturbação seja pequeno em relação ao hamiltoniano não-perturbado. 10 O operador hamiltoniano pode ser descrito da seguinte forma: ∧ ∧ ∧ H = H 0 + λ H´ (5) Nesta equação, λ é um parâmetro variável que determina a força da perturbação. E a equação de Schrödinger perturbada pode ser escrita como: ∧ H Ψ = EΨ (6) ∧ ∧ onde E é a energia do sistema perturbado. Se λ for igual a zero, então H = H 0 , e E = E0, que é o sistema não-perturbado. Conforme a perturbação vai diferindo de zero para um valor finito, a nova energia e função de onda também mudam continuamente e podem ser escritas como expansões de Taylor em potências do parâmetro de perturbação λ: E = λ 0 E0 + λ 1 E1 + λ 2 E2 + λ 3 E3 + ... (7) Ψ = λ 0 Ψ 0 + λ 1Ψ1 + λ 2 Ψ 2 + λ 3 Ψ 3 + ... (8) As funções Ψ1, Ψ2, Ψ3..... e as energias E1, E2, E3..... são as correções em primeira, segunda, terceira, etc ordem. Desta forma, combinando as equações (7) e (8) com a equação (6), e agrupando os termos de mesma potência, obtém-se: λ 0 : H 0 Ψ 0 = E0 Ψ 0 λ 1 : H 0 Ψ1 + H ´Ψ 0 = E0 Ψ1 + E1Ψ 0 λ 2 : H 0 Ψ 2 + H ´Ψ1 = E0 Ψ 2 + E1Ψ1 + E2 Ψ 0 n λ n : H 0 Ψ n + H ´Ψ n −1 = ∑ Ei Ψ n −i (9) i =0 A correção de energia em n-ésima ordem é então obtida multiplicando-se à esquerda por Φ*0 e integrando, que é a função de onda do sistema não-perturbado, para se obter: En = Φ 0 H ´ Ψ n −1 (10) 11 Portanto, deve-se notar que é necessária a função da (n-1)-ésima ordem para se calcular a energia da n-ésima ordem. A função Ψn pode ser expandida em termos de um conjunto de auto-funções do hamiltoniano não-perturbado: Ψ n = ∑ cn Φ n (11) n E a correção em primeira ordem em (10) se torna: ( H 0 − E0 )(∑ cn Φ n ) + ( H ´− E1 )Φ 0 = 0 (12) n Multiplicando a equação (12) à esquerda por Φ*0 e integrando, obtém-se a expressão para a correção de primeira ordem na energia: c0 E0 − c0 E0 + Φ 0 H ´ Φ 0 − E1 = 0 E1 = Φ 0 H ´ Φ 0 (13) A equação (13) acima mostra que a correção de primeira ordem na energia é uma média do operador perturbado sobre a função de onda não-perturbada. Através de fórmulas análogas podemos encontrar as correções para a perturbação em segunda ordem. Substituindo Ψ 2 = ∑ d n Φ n na equação (9) para a correção em segunda ordem obtém-se as expressões para n E2 . Usando a condição de normalização intermediária c0 = d 0 = 0 , a perturbação de energia em segunda ordem é dada por: ( H 0 − E0 )(∑ d n Φ n ) + ( H ´− E1 )∑ cn Φ n = E2 Φ 0 n n d 0 E0 − d 0 E0 + ∑ cn Φ 0 H ´ Φ n = E2 n E2 = ∑ cn Φ 0 H ´ Φ n = ∑ n k ≠0 Φ0 H´ Φk Φk H´ Φ0 E0 − Ek (14) 12 A última expressão na igualdade da equação (14) é obtida multiplicando e integrando à esquerda por uma função qualquer Φ*k que não seja Φ*0 . A correção de energia em segunda ordem é escrita em termos das funções de primeira ordem (cn ) e de elementos de matriz do operador perturbação sobre a função de onda não-perturbada. No caso particular da teoria de Møller-Plesset, a escolha do hamiltoniano nãoperturbado H 0 é soma dos operadores de Fock f , equação (15). O operador de Fock f i é definido como a soma do operador hamiltoniano do caroço hi e o potencial eletrônico efetivo υ iHF . H 0 = ∑ f i = ∑ ⎡⎣ hi + υiHF ⎤⎦ i (15) i Nesta expressão, hi é o operador que representa a energia cinética do caroço e a energia potencial de atração entre núcleo e o elétron i , e υiHF é o potencial eletrônico Hartree-Fock efetivo definido em termos dos operadores de Coulomb e de Troca [20]. A perturbação H ´ é dada por: H ´= ∑ rij−1 − ∑υiHF i< j (16) i A função de onda Hartree-Fock é uma autofunção do hamiltoniano não-perturbado, ou seja, H 0 Ψ 0 = E0 Ψ 0 , e substituindo H 0 pela sua expressão em (15), de acordo com a teoria Hartree-Fock obtém-se que E0 = ∑ ε a , onde ε a é a energia orbital. a A energia em primeira ordem E1 , de acordo com a equação (13), e usando a função de onda Hartree-Fock é: E1 = Ψ 0 H ´ Ψ 0 E1 = Ψ 0 ∑r i< j −1 ij Ψ0 − Ψ0 ∑υ i HF i Ψ0 (17) 13 Desta forma, podemos concluir que a soma da energia de ordem zero, que é a soma das energias orbitais ε a , com a energia de primeira ordem corresponde à energia HartreeFock: EHF = E0 + E1 . Portanto, a energia de correlação é introduzida apenas a partir da perturbação em segunda ordem com esta escolha de H0. A solução de mais baixa energia para o problema não-perturbado é a função de onda Hartree-Fock; soluções com energia mais altas devem ser representadas por determinantes de Slater excitados. A correção de energia em segunda ordem, equação (14), envolve elementos de matriz do operador perturbação entre a referência Hartree-Fock e todos os possíveis estados excitados. Desde que a perturbação é um operador de dois elétrons, todos os elementos de matriz que envolvam excitações triplas, quádruplas, etc. são zero. Deste modo, a correção de energia em segunda ordem, que é a primeira contribuição para a energia de correlação, envolve uma soma sobre todos os determinantes duplamente excitados, o que está representado na equação (18), onde se mostra a promoção de dois elétrons dos orbitais ocupados i, j para os orbitais virtuais a, b. E2 = ∑∑ i < j a <b Φ 0 H ´ Φ ijab Φ ijab H ´ Φ 0 E0 − Eijab (18) Na prática do cálculo MP2, verifica-se que para sistemas com aproximadamente 100 a 150 funções base, pode-se realizar cálculos com custos computacionais similares ao método Hartree-Fock, sendo esta uma das grandes vantagens do método MP2. Outro aspecto positivo deste método é o fato dele ser consistente no tamanho, ou, size-consistent, o que significa que a energia calculada para um sistema molecular onde os átomos estão infinitamente separados, supermolécula, deve se igualar à soma das energias obtidas para cada átomo individualmente, ou seja, quando as energias são calculadas separadamente. 14 O método MP2 tipicamente recupera cerca de 80-90% da energia de correlação do sistema. Para que o método MP2 possa reproduzir bons resultados é necessário que a função de onda Hartree-Fock seja suficientemente bem descrita. Uma desvantagem do método MP2 é que não há garantia sobre o valor obtido para energia, pois é possível que o autovalor obtido possa ser menor ou maior do que a energia exata; diferentemente do procedimento variacional, como no método Interação de Configurações, onde a energia obtida é sempre superior à energia exata. Porém, o interesse sobre o sistema químico normalmente não é em valores de energias absolutas, e sim em diferenças de energias. 2.1.2 Método Coupled-Cluster (CC) O método Coupled-Cluster tem se tornado, nos últimos anos, um dos métodos de correlação eletrônica mais atraentes em cálculos de estrutura eletrônica, pois proporciona resultados apurados especialmente para funções de onda que são descritas adequadamente por uma única referência. A idéia do método Coupled-Cluster é tratar um sistema de muitos elétrons separandoos em vários aglomerados (clusters) com poucos elétrons. Primeiramente, calcula-se as interações entre os elétrons de um mesmo aglomerado e depois entre diferentes aglomerados. A função de onda eletrônica no método Coupled-Cluster é representada da seguinte maneira: Ψ e = eT Φ 0 (19) onde Φ 0 é uma função de um único determinante, usualmente é a função de onda HartreeFock, e T é o chamado operador cluster, definido como: T = T1 + T2 + T3 + ... , (20) 15 O operador Tn atua sobre a função de onda Hartree-Fock gerando determinantes excitados: oc . vir . T1Φ 0 = ∑∑ tia Φ ia i a oc . vir . T2Φ 0 = ∑∑ tijab Φ ijab (21) i < j a <b Nestas expressões, i,j são spin-orbitais ocupados, enquanto a,b são spin-orbitais virtuais a serem ocupados após excitação. Os coeficientes tia , tijab são denominados amplitudes. O operador exponencial da equação (18) pode ser escrito da forma: 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 1 1 ⎛ ⎞ eT = 1 + T1 + ⎜ T2 + T12 ⎟ + ⎜ T3 + T2T1 + T13 ⎟ + ⎜ T4 + T3T1 + T22 + T2T12 + T14 ⎟ + .... 1 ⎠ ⎝ 6 ⎠ ⎝ 2 2 24 ⎠ ⎝ (22) O primeiro parênteses corresponde às excitações duplas, onde o termo T 2 é chamado de termo conectado e T12 é o termo desconectado. Os parênteses a seguir dizem respeito a excitações triplas e quádruplas. A expressão para a energia Coupled-Cluster ( ECC ) deve ser obtida substituindo a função de onda (19) na equação de Schrödinger, e multiplicando à esquerda por Φ*0 e integrando: Φ 0 HeT Φ 0 = E Φ 0 eT Φ 0 Φ 0 HeT Φ 0 = E Φ 0 1 + T1 + T2 + ... Φ 0 ECC = Φ 0 HeT Φ 0 (23) Como o operador hamiltoniano contém somente integrais de um e dois elétrons, na equação abaixo a expansão de eT inclui apenas as excitações simples e duplas: ECC = Φ 0 H (1 + T1 + T2 + 1 2 T12 )Φ 0 ECC = Φ 0 H Φ 0 + Φ 0 H T1Φ 0 + Φ 0 H T2Φ 0 + 1 Φ 0 H T12 Φ 0 2 16 ECC = E0 + ∑∑ tia Φ 0 H Φ ia + ∑∑ (tijab + tia t bj − tib t aj ) Φ 0 H Φ ijab i (24) i < j a <b a onde o primeiro elemento de matriz é zero, de acordo com o teorema de Brillouin. A energia de correlação Coupled-Cluster é, então, determinada pelas amplitudes simples e duplas e pelas integrais de dois elétrons. As equações para as amplitudes são determinadas multiplicando a equação de Schrödinger à esquerda e integrando por um determinante unicamente excitado ( Φ em ) : * Φ em HeT Φ 0 = ECC Φ em eT Φ 0 (25) Desenvolvendo a equação (25) de modo que se obtenha as amplitudes, é possível calcular a energia e a função de onda. Os procedimentos Coupled-Cluster devem ser sempre truncados, pois caso todos os operadores fossem incluídos na expansão da função de onda teríamos o equivalente a um cálculo full CI. Na prática, isso é impossível mesmo para sistemas relativamente pequenos. O procedimento CCSD (Coupled-Cluster Simples e Duplas), por exemplo, utiliza o operador Cluster T = T1 + T2. Um aspecto importante do método Coupled-Cluster é que excitações de ordem maior que o truncamento do operador T fazem parte da equação de amplitude. A inclusão destes termos é que faz com que o método seja consistente no tamanho. Para se obter a precisão química requerida de um bom método, geralmente é necessário ir além da aproximação CCSD. O método CCSDT é muito dispendioso computacionalmente, o custo computacional é igual a n8, onde n é o número de orbitais moleculares, o que torna muito caro com o uso de um conjunto base adequado. Para uma comparação, o método CCSD é um processo iterativo com custo computacional de n6. Para evitar este alto custo computacional do cálculo CCSDT, e ainda incluir os efeitos de excitações conectadas mais altas, diferentes aproximações têm sido propostas, uma delas é o 17 método CCSD(T). Neste método, os efeitos de excitações triplas conectadas são estimados utilizando a Teoria de Perturbação e incluindo-a no cálculo CCSD. O custo computacional do método CCSD(T) é de um processo iterativo com custo igual a n6 (CCSD) mais dois passos equivalentes a n7. É importante ressaltar que o procedimento CCSD(T) tem reproduzido valores em energia de cálculos full CCSDT. Portanto, o método CCSD(T) proporciona a melhor combinação entre custo computacional e exatidão nos resultados, permitindo a utilização de grandes conjuntos base. O método Coupled-Cluster é um método monoconfiguracional, ou seja, a função de onda contém um único determinante de referência, geralmente a função de onda HartreeFock. Deste modo, os resultados serão melhores se a função de onda de ordem zero for suficientemente “boa”. Para avaliar se o sistema de interesse pode ser bem descrito por uma função de onda monoconfiguracional, Lee e Taylor [24] sugeriram utilizar o diagnóstico T1 (T1-diagnostic), o qual é definido como a norma do vetor amplitude t1 dividido pela raiz quadrada do número de elétrons: T1 = t1 N (26) Nesta definição, o número de elétrons corresponde ao número de elétrons de valência, pois é esperado que apenas os elétrons de valência sejam importantes para os efeitos de correlação. De acordo com Lee e Taylor [24], valores de T1 menores que 0,02 indicam que o sistema pode ser adequadamente descrito por métodos de correlação eletrônica que se baseiam em um único determinante de referência. 18 2.1.3 Teoria do Funcional da Densidade (DFT) A base para a Teoria do Funcional da Densidade surge a partir da demonstração dada por Hohenberg e Kohn [25], de que a energia eletrônica do estado fundamental é completamente determinada pela densidade eletrônica. A função de onda para um sistema de N elétrons contém 3N coordenadas. A densidade eletrônica é dada pelo quadrado da função de onda, integrada sobre as 3(N-1) coordenadas eletrônicas, dependendo apenas de 3 coordenadas, independentemente do número de elétrons. Portanto, enquanto a complexidade da função de onda aumenta com o número de elétrons, a densidade eletrônica tem o mesmo número de variáveis independentemente do sistema. O objetivo dos métodos DFT é então construir funcionais que conectam a densidade eletrônica com a energia do sistema. O primeiro sistema onde se aplicou o uso de funcionais para se obter energias cinéticas e de troca foi um sistema de gás de elétrons sem interação, que ficou conhecido como modelo de Thomas-Fermi-Dirac (TFD). Porém, este modelo de gás uniforme não previa estados ligados, e não representa adequadamente a energia cinética. A base para o uso dos métodos DFT em química computacional foi a introdução de orbitais realizada por Kohn e Sham [26]. O método Kohn-Sham (KS) usa um sistema de referência fictício, denotado pelo subscrito s, que contém o mesmo número de elétrons que a molécula de interesse, que representa o sistema real, mas que difere da molécula em: a) os elétrons no sistema de referência não interagem, e b) cada elétron no sistema de referência experimenta a mesma função de energia potencial υs(xi,yi,zi). No sistema real, os elétrons experimentam atração pelos núcleos, o que não está presente no sistema de referência. Para permitir a inclusão de spin e satisfazer o requerimento de anti-simetria do princípio de Pauli, a função de onda do estado fundamental do sistema de referência é um 19 determinante de Slater de spin-orbitais, um para cada elétron, e o hamiltoniano do sistema de referência é dado pela soma dos hamiltonianos individuais: =2 HS = − 2me ∧ n n n ∧ KS ∑ ∇ + ∑υ ( x , y , z ) ≡ ∑ h i =1 2 i i =1 S i i i i (27) i =1 ∧ KS Os orbitais Kohn-Sham θ iKS são auto-funções de h i . A densidade de probabilidade ρ para uma função de onda é a soma das densidades de probabilidades individuais, e, por definição, o sistema de referência tem a mesma densidade de probabilidade que a molécula: 2 N ρ = ρS = ∑ θ i =1 KS i (28) O sistema de referência e a molécula têm a mesma densidade de probabilidade, mas não têm a mesma energia do estado fundamental. Kohn e Sham derivaram a seguinte equação para a energia E e : E e = K e , S + V Ne + J + V NN + E xc [ρ ] (29) onde K e , S é a energia cinética eletrônica média do sistema de referência, representada pelo primeiro termo da equação (27). V Ne é a energia potencial média de atração entre núcleos e elétrons na molécula, seu valor pode ser calculado da densidade de probabilidade, que é a mesma tanto para o sistema de referência como para a molécula e é calculada dos orbitais de Kohn-Sham usando a equação (28). J é energia clássica de repulsão elétrica entre os elementos infinitesimais de carga de uma nuvem eletrônica hipotética de densidade de probabilidade ρ ( x, y, z ) . V NN é a energia de repulsão internuclear, é uma constante que depende das cargas nucleares e das distâncias internucleares. E xc [ρ ] é chamado funcional energia de correlação e troca, e ele é definido como a soma de duas diferenças: a) entre a energia cinética eletrônica média na molécula e no sistema de referência ; e b) entre a energia 20 potencial média de repulsão intereletrônica V Ne na molécula e a energia de auto-repulsão J. E xc [ρ ] = K e − K e, S + Vee − J (30) As duas diferenças na equação (30) são quantidades relativamente pequenas, e comparam os termos do sistema de referência com os termos do sistema real. Essas duas diferenças não são zero devido a dois fatores: a) ao requerimento que as funções de onda sejam antissimétricas com respeito à troca, pois a troca (“exchange”) produz efeitos sobre a energia, e b) porque as correlações instantâneas produzem efeito sobre a energia, o que não é considerado no sistema de referência. Dessa maneira, o funcional energia de correlação e troca E xc [ρ ] pode ser separado em duas partes, uma de troca facilmente, e o termo de correlação εc εx, que no caso do gás homogêneo é obtido que é complexo e não pode ser determinado exatamente. E xc [ρ ] = ∫ d 3 rρ (r )[ε x ( ρ (r )) + ε c ( ρ (r ))] (31) O principal problema nos métodos DFT é conseguir expressões apropriadas para descrever os termo de correlação e troca. Os métodos DFT diferem entre si na forma do funcional de correlação e troca. Uma das aproximações para o termo de correlação e troca E xc [ρ ] é a Aproximação de Densidade Local (LDA), em que é assumido que a densidade é localmente tratada como um gás de elétrons homogêneo; esta aproximação se aplica adequadamente considerando que a densidade eletrônica varia muito lentamente com a posição. A energia de troca para um gás de elétrons uniforme é dada pela fórmula de Dirac: ε xLDA [ ρ ] = −cx ρ 1 3 (32) 21 Em sistemas reais, a densidade não é homogênea. Um refinamento do método LDA é a denominada Aproximação Generalizada em termos do Gradiente (GGA), pois as energias de correlação e troca não dependem somente da densidade eletrônica local, e são expressas em termos do gradiente da densidade de carga total. Alguns dos funcionais são chamados de funcionais híbridos. São aqueles em que é adicionada ao termo de correlação e troca E xcGGA , uma expressão usada para a energia de troca Hartree-Fock, aE xHF , estimada utilizando-se orbitais KS ao invés de orbitais Hartree-Fock, onde a é um parâmetro empírico cujo valor foi escolhido para otimizar o desempenho de E xc . O método B3LYP é classificado como um método híbrido, pois a expressão para a energia de troca inclui um termo de energia de troca exato. No método B3LYP, Becke [22] foi quem propôs a correção para a energia de troca E x do método LDA, onde o número 3 corresponde ao número de parâmetros (a, b, c) que são determinados por ajuste de dados experimentais. A energia de troca B3 é definida como: ExcB 3 = (1 − a) ExLDA + aExexata + bΔExB88 + EcLDA + cΔEcGGA (33) Para a energia de correlação, Lee, Yan e Parr (LYP) [23] propuseram a forma do funcional de correlação. Este funcional não prediz qualquer correlação para spins paralelos. A fórmula do funcional de correlação de Lee, Yan e Parr, está sendo omitida neste texto por ser um tanto extensa e ser necessário esclarecer alguns dos termos pertencentes à fórmula. Entretanto, a formulação destes funcionais pode ser encontrada de forma detalhada nas Referências [22] e [23]. Em geral, métodos DFT (GGA) resultam em geometrias e freqüências vibracionais de moléculas estáveis de qualidade comparável ao método MP2, com custo similar ao do método Hartree-Fock. 22 2.2 – Estudo da cinética das reações – cálculo das constantes de velocidade. Os cálculos ab initio permitem obter uma série de propriedades estruturais e energéticas, mas uma grande parte da dificuldade nas determinações de constantes de velocidade é adotar um critério para que a estrutura de transição de uma reação esteja bem descrita estruturalmente e energeticamente. Pois as alturas das barreiras de reações não são diretamente observáveis, e tanto medidas experimentais como teóricas apresentam significativas incertezas. Os cálculos das constantes de velocidade das reações I − XIX são baseados na teoria convencional do estado de transição TST (transition state theory) que foi originalmente introduzida por Eyring [27], Evans e Polanyi em 1935 [28]. A teoria do estado de transição convencional assume que a reação química entre os reagentes procede via um estado de transição e requer informações de energia potencial somente nas regiões correspondentes aos reagentes e aos estados de transição, levando a uma grande simplificação dos cálculos. A TST usa a aproximação de Born-Oppenheimer, e assume que se pode identificar uma superfície que claramente separa reagentes e produtos, e que o ponto de menor energia nesta superfície divisora é o ponto de sela. Na TST convencional, todas as trajetórias provenientes dos reagentes que passam através da superfície divisora formam produtos, ou seja, os reagentes que chegam aos estados de transição certamente tornam-se produtos, pois se assume que não há recruzamentos, e considera-se um sistema de “quase-equilíbrio” entre as espécies do estado de transição e dos reagentes. Pode-se melhorar os resultados significativamente utilizando-se uma variação da teoria convencional, a Teoria Variacional do Estado de Transição (VTST). A VTST se baseia em variar alguma coordenada do estado de transição de modo a minimizar o valor da 23 constante de velocidade, que passa a ter uma dependência da coordenada reacional s além de ser uma função da temperatura (T ) , k (T , s ) . A constante de velocidade da teoria do estado de transição convencional é expressa [29] como: ⎛ − V0# ⎛ N A k BT ⎞ Q # k (T ) = ακ tun ⎜ ⎟ A B exp⎜⎜ ⎝ h ⎠Q Q ⎝ k BT ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ (34) onde α é o fator de degenerescência, N A é o número de Avogadro, k B e h são respectivamente, as constantes de Boltzmann e de Planck. O termo k B T h que aparece na expressão tem dimensão de freqüência (s−1), e é de grande importância na teoria cinética, seu valor é cerca de 6 x 1012 s−1 a 298 K. O termo κ tun é o fator de correção de tunelamento que pode ser expresso pela fórmula da teoria da perturbação de Wigner [30], κ tun 1 ⎛ hcν i = 1 + ⎜⎜ 24 ⎝ k B T ⎞ ⎟⎟ ⎠ 2 (35) em que o fator de tunelamento é descrito em termos da freqüência vibracional imaginária do estado de transição, ν i . O fator de correção de tunelamento κ tun é também conhecido como coeficiente de transmissão; este fator insere nos cálculos a possibilidade de que nem toda estrutura de transição se converta em produtos. Para um coeficiente de transmissão igual à unidade significa que não há recruzamentos e, que, portanto, toda estrutura de transição se converte em produto. Q A e Q B representam as funções de partição dos reagentes com o zero de energia coincidindo com a energia do ponto zero das moléculas reagentes [29]. Q # é a função de partição do complexo ativado com o movimento translacional ao longo da coordenada reacional sendo omitido. A altura da barreira de energia com correção do ponto zero é um 24 parâmetro que deve ser calculado com bastante cautela e é representado por V0# . O problema de se calcular a constante de velocidade fica reduzido a obter funções de partição para os reagentes e para o complexo ativado. Desta forma, é então necessário se conhecer a natureza do complexo ativado. A constante de velocidade pode também ser expressa em termos de um tipo de constante de equilíbrio, K # , k (T ) = κ tun (k B T h) K # (36) Na verdade, a constante K # é uma constante de “quase-equilíbrio”, visto que não se faz necessária a caracterização dos produtos, considerando-se apenas o equilíbrio suposto entre o estado de transição e os reagentes. A interface com a Termodinâmica é obtida se a constante de equilíbrio para a formação do estado de transição é expressa em termos da energia livre de Gibbs, − ΔG = RT ln K (37) Esta equação expressa o princípio de que as moléculas tendem a reagir se elas passarem para um estado de energia livre mais baixa, e a expressão para k (T ) se faz em termos de propriedades termodinâmicas: k (T ) = κ tun k (T ) = κ tun ⎛ − ΔG # ⎞ Vm k B T ⎟⎟ exp⎜⎜ h ⎝ RT ⎠ ⎛ ΔS # Vm k B T exp⎜⎜ h ⎝ R ⎛ − ΔH # ⎞ ⎟⎟ exp⎜⎜ ⎝ RT ⎠ ⎞ ⎟⎟ ⎠ (38) Vm representa o volume molar, e ΔG # é um tipo de energia livre de ativação, mas com o modo vibracional da coordenada de reação do estado de transição sendo desconsiderado. 25 3 − Detalhes Computacionais As otimizações de geometria das espécies envolvidas nas reações de decomposição da hidrazina (reações I − XIX) foram realizadas utilizando-se o método de Teoria de Perturbação em Segunda Ordem de Møller-Plesset, MP2 [10], e o conjunto de funções base pertencente à hierarquia de bases de correlação consistente cc-pVTZ de Dunning [11]. A freqüências vibracionais harmônicas também foram calculadas utilizando-se o método MP2 para caracterizar os pontos estacionários como mínimos (número de freqüências imaginárias = 0) ou pontos de sela (número de freqüências imaginárias = 1). E para o estudo da dinâmica das reações, realizou-se cálculos MP2 de coordenada de reação intrínseca (IRC) com o objetivo de traçar os caminhos de energia mínima partindo-se da estrutura do estado de transição em direção aos reagentes e produtos, e assim certificar-se da correlação entre as estruturas de transição e dos pontos de mínimo. Um passo de 0,02 amu1/2bohr foi utilizado no procedimento IRC. Depois de realizadas as otimizações de geometria com a metodologia MP2/cc-pVTZ, cálculos de energia single point foram realizados utilizando-se o método Coupled-Cluster com excitações simples e duplas e contribuição de triplas, CCSD(T) [12], com os dois conjuntos de funções de base atômica, cc-pVTZ e cc-pVQZ de Dunning. A fim de estimar o que se conhece como o valor limite do conjunto base completo, “complete basis set (CBS)”, empregou-se o método de extrapolação introduzido por Halkier et alli. [31]: E (CBS ) = ( E (n) × n 3 ) − ( E (n − 1) × (n − 1) 3 ) n 3 − (n − 1) 3 (39) onde E (n ) é a energia ou outra propriedade calculada com a base nZT , e E (CBS ) representa o valor de energia no limite CBS. Nessa aproximação, n é igual a 4, o qual representa a base 26 quádrupla-zeta e E (n ) representa a energia eletrônica CCSD(T). Os valores de energia obtidos com esta extrapolação serão denotados ao longo deste trabalho como CCSD(T)/CBS. As propriedades energéticas que estão sendo apresentadas na seção 4.1 deste trabalho para as reações (I − XIX), são a energia eletrônica de reação ( ΔE ), a energia eletrônica de reação com correção do ponto zero ( ΔE 0 ), as alturas das barreiras de energia sem e com correção do ponto zero, respectivamente iguais a ( ΔV # ) e (ΔV0# ) , entalpias de reação a 0 298,15 K (ΔH 298 ) , e as energias livre de Gibbs ( ΔG 298 ). Utilizando a energética das reações propostas, os parâmetros moleculares das espécies envolvidas e os valores das freqüências vibracionais, empregou-se a teoria do estado de transição, descrita na seção 2.2 a fim de calcular as constantes de velocidade e a energia de ativação das reações I − XIX. Neste trabalho, as constantes de velocidade e as respectivas energias de ativação das reações bimoleculares foram estimadas utilizando-se o código POLYRATE 9.3 [32]. Este programa foi desenvolvido e é aplicado para reações que se caracterizam por duas espécies reagentes e dois produtos, desta maneira, para o cálculo das constantes de velocidade para reações unimoleculares, empregou-se a expressão de Arrhenius, que é dada por: k (T ) = κ tun k BT exp − ΔG # RT h (40) onde R é a constante universal dos gases, k B é a constante de Boltzmann, h é a constante de Planck, T é a temperatura, e ΔG0# é a mudança de energia livre de Gibbs dos reagentes para o estado de transição, κ tun é um fator para correção de tunelamento obtida pela fórmula da teoria de perturbação de Wigner [30]. As energias de ativação para estas reações 27 unimoleculares foram estimadas a partir do gráfico de ln k (T ) versus 1 , que resulta em T uma reta, cuja tangente é igual a − Ea , sendo Ea a energia de ativação. R O valor da correção de tunelamento para as reações I − XIX é da ordem de unidades, chegando no máximo à ordem de uma dezena nas temperaturas mais baixas como 298 K; nas temperaturas mais elevadas, 1000 K, os valores diminuem significativamente. Para o estudo das moléculas metilamina, dimetilamina e trimetilamina, apresentados na seção 4.2, foram realizados cálculos com a Teoria do Funcional da Densidade nas aproximações B3LYP, B3P86 e BP86, utilizando-se diferentes conjuntos de funções base, todas pertencentes à hierarquia de bases correlação consistente de Dunning, cc-pVnZ, com n = 2, 3, 4 e 5. Para a estimativa das barreiras de energia de rotação interna e de inversão foi utilizada a extrapolação do conjunto base introduzida por Halkier et alli [31] apresentada como equação (39). Apenas para a molécula metilamina realizou-se cálculos de otimização de geometria com o método CCSD(T) com o objetivo de verificar a convergência dos conjuntos bases ccpVDZ, cc-pVTZ e cc-pVQZ de Dunning em relação à geometria de equilíbrio, freqüência vibracional e barreiras de rotação desta molécula. Realizou-se ainda um estudo da importância da correlação caroço-valência utilizando o conjunto base cc-pCVTZ. Considerando a adição dos efeitos da extensão dos conjuntos base até cc-pVQZ e a correlação caroço-valência, podese obter resultados extrapolados, considerados os melhores resultados para os parâmetros geométricos, como demonstrado por Martin e Taylor [33]. Desta forma, no estudo da molécula metilamina com o método CCSD(T), também se calculou o efeito da correlação de elétrons internos, a partir da extrapolação representada pela equação (41), E ≈ E (cc − pVQZ , valence) + E (cc − pCVTZ , full ) − E (cc − pCVTZ , valence) 41) 28 Este estudo permitiu verificar o desempenho de diferentes aproximações dos métodos DFT com diferentes conjuntos de funções base e, no caso da molécula metilamina, os resultados foram comparados àqueles obtidos com o método CCSD(T). Para estudar as barreiras de rotação e inversão das moléculas metilamina, dimetilamina e trimetilamina, realizou-se cálculos single point utilizando o método CCSD(T) e os conjuntos bases cc-pVTZ e cc-pVQZ com as geometrias otimizadas pelo método B3LYP/cc-pVQZ. Neste estudo, utilizou-se o método de extrapolação de Halkier et alli [31] para obter os valores correspondentes ao limite do conjunto base, equação (37), como também estimou-se a contribuição da correlação caroço-valência utilizando cálculos com a base ccpCVTZ. Para as moléculas dimetilamina e trimetilamina, estudos comparativos também foram realizados utilizando-se os métodos da Teoria do Funcional da Densidade. Todos os cálculos de estrutura eletrônica foram realizados com o programa GAUSSIAN 98 [34]. 29 4 − Resultados e Discussão 4.1 - Estudo das reações envolvidas na decomposição da molécula hidrazina Para estudar os possíveis passos elementares da reação global de decomposição da molécula hidrazina, considerou-se reações na ausência e na presença de hidrogênio radical e molecular. As reações I − XIX foram analisadas pela caracterização dos reagentes, produtos e estados de transição. (I) N2H4 ⎯⎯→ NNH2 +H2 (II) ⎯→ N2H2(trans) + 2H2 N2H4 + H2 ⎯⎯ (III) ⎯→ N2H3 + H2 N2H4 + H ⎯⎯ (IV) ⎯→ NH3 + NH2 N2H4 + H ⎯⎯ (V) ⎯→ HNNH3 N2H4 ⎯⎯ (VI) ⎯→ N2H2(trans) + H N2H3 ⎯⎯ TSI TSII TSIII TSIV TSV TSVI ⎯→ N2H2(cis) + H (VII) N2H3 ⎯⎯ TSVII (VIII) HNNH3 ⎯⎯⎯→ N2H2(trans) + H2 TSVIII (IX) ⎯→ N2H2(cis) + H2 HNNH3 ⎯⎯ (X) ⎯→ NH3 + NH3 HNNH3 + H2 ⎯⎯ (XI) ⎯→ NNH + H2 N2H2(trans) + H ⎯⎯ TSIX TSX TSXI ⎯→ NNH + H2 (XII) N2H2(cis) + H ⎯⎯ TSXII (XIII) N2H2(cis) ⎯⎯⎯→ N2 + H2 TSXIII (XIV) NNH2 ⎯⎯⎯→ N2 + H2 TSXIV 30 ⎯→ N2 + 2H2 (XV) NNH2 + H2 ⎯⎯ TSXV (XVI) NNH ⎯⎯⎯→ N2 + H TSXVI (XVII) NH3 + H ⎯⎯⎯→ NH2 + H2 TSXVII (XVIII) NH2 + H ⎯⎯ ⎯→ NH + H2 TSXVIII (XIX) NH + H ⎯⎯⎯→ N + H2 TSXIX O diagrama de energia eletrônica de reação ao longo dos passos reacionais na aproximação CCSD(T)/CBS é apresentado na Figura 1 com valores de energias relativas à hidrazina. A Figura 2 apresenta a representação geométrica da estrutura do estado de transição denominado neste trabalho como TSI, o qual se refere à reação I (N2H4 ⎯⎯→ NNH2 TSI +H2). A Figura 3 se refere às estruturas geométricas dos três confôrmeros da molécula diazina, N2H2. As estruturas de equilíbrio para os pontos de mínimos (reagentes e produtos) são apresentadas nas Figuras 4 e 5, e as estruturas de equilíbrio para os pontos de sela (estados de transição) são apresentadas nas Figuras 6, 7 e 8. A Tabela 1 contém os valores de energia eletrônica de reação ( ΔE ), e de energia eletrônica de reação com correção do ponto zero ( ΔE 0 ), as barreiras de energia clássicas 0 ) , e energia livre (ΔV # ) , e com correção do ponto zero (ΔV0# ) , as entalpias de reação (ΔH 298 de Gibbs (ΔG298 ) a 298,15 K, calculadas com o método MP2/cc-pVTZ, e com a aproximação CCSD(T)/CBS. 31 Os valores citados ao longo do texto correspondem aos valores calculados com a extrapolação CCSD(T)/CBS de acordo com a equação (39) apresentada na seção Detalhes Computacionais. Os valores de energia MP2 são listados apenas na Tabela 1. As constantes de velocidade obtidas para as temperaturas de 298 K e 1000 K, juntamente com os valores de energia de ativação encontram-se na Tabela 2. Os valores de energia de ativação foram estimados a partir dos gráficos de ln k (T ) versus 1 T , nas temperaturas de 298, 500, 650, 800 e 1000 K. Na Tabela 3 são apresentadas as freqüências vibracionais harmônicas calculadas com o método MP2/cc-pVTZ para todas as espécies envolvidas nas reações. As estruturas encontradas para os estados de transição foram confirmadas como sendo estruturas que conectam reagentes e produtos através de cálculos de coordenada de reação intrínseca, IRC, cujos resultados foram obtidos com a metodologia MP2/cc-pVTZ e são mostrados nas Curvas I a XIX. A fim de descrever em mais detalhe cada reação estudada, os gráficos de coordenada de reação intrínseca são ilustrados ao longo do texto. Todas as curvas de coordenada de reação intrínseca das reações estudadas confirmam as estruturas dos pontos estacionários, e comprovam a correlação entre os estados estacionários, reagentes e produtos. 32 33 Antes de iniciar a discussão sobre as reações elementares estudadas neste trabalho, podemos fazer uma comparação entre o valor experimental do calor de formação a 298 K da molécula hidrazina, que é igual a 22,8 ± 0,2 kcal.mol−1 [35], e o resultado obtido com o método CCSD(T)/CBS empregado neste estudo, cujo valor é igual a 22,2 kcal.mol−1. A comparação com valores obtidos experimentalmente desta e de outras propriedades se mostra animadora, sugerindo que os resultados calculados para barreiras de energia de ativação e para outras propriedades são de qualidades semelhantes e, portanto, devem descrever apropriadamente estas propriedades. A reação I descreve a formação da molécula iso-diazina (NNH2) diretamente da molécula hidrazina, caracterizada por uma alta barreira de energia, ΔV0# = 76,2 kcal.mol−1, sendo uma reação endotérmica de considerável valor, com ΔE 0 = 47,2 kcal.mol−1, o que termodinamicamente é um processo bastante desfavorável. A estrutura do estado de transição TSI é resultado de uma ligação entre os dois átomos de hidrogênio que estão ligados no mesmo átomo de nitrogênio na hidrazina, veja a Figura 2 abaixo. Nesta estrutura, a distância de ligação H−H formada é igual a 0,865 Å, uma das ligações N−H na hidrazina sofrem um aumento de 30% e a outra ligação N−H aumentou cerca de 56%, o que é uma Figura 2: distorção considerável na estrutura da Estrutura do estado de transição TSI hidrazina, compatível com a alta barreira de energia de ativação. 34 Esta reação é um dos passos elementares em um estudo prévio G2M(MP2) [36] sobre a hidrogenação da molécula N2 a fim de produzir amônia; neste estudo anterior, a altura da barreira de energia para esta reação (ΔV0# ) é igual a 73,7 kcal.mol−1. A curva de coordenada de reação intrínseca para a reação I, N2H4 → NNH2 + H2, (Curva I). Nesta curva, a coordenada de reação apresentada se refere à ligação N−H a ser quebrada na molécula hidrazina para a formação dos produtos. As estruturas moleculares apresentadas nos gráficos correspondem aos resultados dos cálculos IRC realizados para todas as reações estudadas, utilizando-se o método MP2/cc-pVTZ. Curva I: Curva de coordenada de reação intrínseca para a reação I, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. 35 Cálculos de coordenada de reação intrínseca confirmam que o estado de transição TSI correlaciona-se com os reagentes e produtos da reação I. A estrutura molecular deste estado de transição pode ser considerada tardia, pois sua geometria se assemelha à geometria molecular dos produtos da reação. A Curva I, que representa a curva de coordenada de reação intrínseca para a reação I, revela claramente como o caráter da ligação N−N varia conforme a reação evolui dos reagentes aos produtos. Observa-se que essa ligação no estado de transição começa a apresentar um caráter de dupla ligação, evoluindo para a dupla ligação na molécula NNH2. Figura 3: Ilustração dos isômeros da molécula diazina (N2H2). Distâncias em Å e ângulos em graus. Geometrias otimizadas com o método MP2/cc-pVTZ. trans-N2H2 cis-N2H2 NNH2 N−N = 1,256 N−N = 1,252 N−N = 1,211 H−N = 1,028 H−N = 1,034 H1−N = 1,037 N−N−H = 105,4 N−N−H = 111,6 H2–N = 1,036 H−N−N−H = 180,0 H−N−N−H = 0,0 N−N−H= 123,8 A espécie NNH2, também denominada como iso-N2H2, é um dos isômeros da molécula diazina (N2H2), onde os dois átomos de hidrogênio estão ligados ao mesmo átomo de nitrogênio. A Figura 3 apresenta os três isômeros da molécula diazina com os seus respectivos parâmetros geométricos otimizados com o método MP2/cc-pVTZ. Evidências experimentais recentes [37] revelam que a ligação NN tem considerável caráter de dupla 36 ligação na espécie NNH2. Este fato pode ser observado na Figura 3, pois a distância de ligação NN em NNH2 é bem menor, 1,211 Å, que no seu isômero trans-N2H2, com r = 1,256 Å. A reação II descreve a decomposição da hidrazina na presença de H2 (N2H4 + H2 → N2H2(trans) + 2H2), e, até onde sabemos, não há estudos na literatura investigando esta reação. Esta reação é um processo endotérmico, ΔE 0 = 23,2 kcal.mol−1, caracterizado por uma alta barreira de ativação, cerca de 70 kcal.mol−1, já que este estado de transição corresponde a uma colisão simultânea entre dois átomos de hidrogênio da hidrazina e os dois átomos de hidrogênio da molécula H2, o que deve ser um evento raro. Entretanto, de acordo com as reações propostas, várias moléculas H2 devem ser formadas ao longo das diversas reações, e, portanto, a reação II deve fazer parte do processo de decomposição da hidrazina. A curva de coordenada de reação intrínseca para a reação II, N2H4 + H2 → transN2H2+ 2H2, é apresentada a seguir, onde os pontos da curva se referem à ligação N−H a ser rompida. As estruturas moleculares correspondentes aos cálculos IRC são apresentadas na Curva II, onde a formação de duas moléculas de H2, e a evolução da formação da dupla ligação N−N são claramente evidenciadas por estes cálculos. 37 Curva II: Curva de coordenada de reação intrínseca da reação II, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. A reação III se refere a uma reação de abstração de um átomo de hidrogênio da molécula N2H4, porém só foi possível caracterizar um estado de transição para a primeira abstração de H na molécula hidrazina, quando na presença de um radical hidrogênio, como representado pela reação III, N2H4 + H→ N2H3+ H2. Em estudo prévio [36], o estado de transição para esta primeira abstração de H na hidrazina também foi caracterizado somente na presença do radical hidrogênio. Estudos experimentais [3] demonstram que o valor da energia de dissociação ( D0 ) correspondente à reação, N2H4 → N2H3 + H, é igual a 80,8 ± 0,3 kcal.mol−1, enquanto nosso valor de ΔE0 para esta mesma reação é 81,3 kcal.mol−1. Um valor igual a 81,2 kcal.mol−1 foi 38 obtido para esta dissociação em um estudo teórico recente [38], relatando a energética de azo- compostos. Neste estudo prévio foi utilizado um alto nível de cálculo, CCSD(T)/CBS//CCSD(T)/aVTZ. A excelente concordância entre o valor obtido neste trabalho com os outros resultados teóricos e experimentais indica que os valores de energias de ativação para as reações estudadas devem reproduzir resultados verossímeis, pois como é difícil comparar os valores de energias de ativação com trabalhos experimentais, a comparação entre os resultados de energética deve ser uma boa ferramenta para se considerar que os valores de barreiras estão bem descritos. A reação entre N2H4 e H pode conduzir à quebra da ligação N−H, como a reação III (N2H4 + H → N2H3 + H2), ou à quebra da ligação N−N, como descrito na reação IV (N2H4 + H → NH3 + NH2), onde ambas as reações são processos exotérmicos. A produção de N2H3 e H2, reação III, ocorre através do estado de transição TSIII, onde o hidrogênio radical se combina com o átomo de hidrogênio da hidrazina quebrando a ligação N−H e formando uma nova ligação H−H. No estado de transição TSIII, a ligação N−H a ser quebrada na reação é alongada em 16% comparando-se com a estrutura da hidrazina, e a ligação H−H a ser formada tem o valor de 0,977 Å. 39 Curva III: Curva de coordenada de reação intrínseca da reação III, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. O estado de transição para a reação IV descreve a interação entre o átomo de nitrogênio na hidrazina e o radical H levando à quebra da ligação N−N, conduzindo à formação de NH3 e NH2. A reação IV, N2H4 → NH3 + NH2, está bem descrita pela Curva IV. As estruturas dos estados de transição e produtos demonstram com clareza a quebra da ligação N−N e a formação de NH3 através da formação da ligação N−H. Na estrutura do estado de transição IV, a ligação N−N é cerca de 11% mais alongada (r = 1,607 Å) que na estrutura da hidrazina (r = 1,435 Å), e a ligação N−H que será formada em NH3 é cerca de 24% mais alongada (r = 1,327 Å) que na molécula NH3 (r = 1,011 Å). 40 Curva IV: Curva de coordenada de reação intrínseca da reação IV, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. Embora, a reação IV seja mais exotérmica ( ΔE 0 = −42,4 kcal.mol−1) que a reação III ( ΔE 0 = −19,6 kcal.mol−1), sua barreira de energia é ligeiramente maior que a barreira da reação III. A barreira de energia de ativação ( ΔV0# ) da reação III é igual a 6,45 kcal.mol−1, enquanto que a reação IV é caracterizada por uma barreira igual a 11,7 kcal.mol−1. A reação IV tem um papel fundamental na formação da molécula NH3 e descreve um importante processo de evolução de calor, e em ambas as reações há produção de radicais, N2H3 e NH2, os quais têm papel de destaque num processo de combustão, pois são espécies muito reativas. O valor de ΔE 0 para a reação IV, −42,4 kcal.mol−1, pode ser comparado ao valor experimental [36], igual a −41,3 kcal.mol−1, e a outro estudo teórico prévio, o qual relata 41 um valor de −43,8 kcal.mol−1, utilizando o método G2M(MP2) [36]. Estas comparações demonstram que a metodologia de cálculo utilizada neste trabalho deve conduzir a resultados igualmente bem descritos de energias de ativação. É sabido que reações bimoleculares têm barreiras de energia de ativação mais baixas que reações unimoleculares [18], e as reações III e V neste estudo são bons exemplos desta afirmação. A altura da barreira para a reação III (N2H4 + H → N2H3 + H2) é bem menor que para a reação V (N2H4 → HNNH3). O valor da altura da barreira, ΔV0# , é de somente 6,45 kcal.mol−1 para formação de N2H3, enquanto que, para a formação de HNNH3, a altura da barreira ΔV0# é igual a 63,4 kcal.mol−1. A espécie HNNH3 é resultado da isomerização de N2H4, a qual se realiza via TSV obtido pela migração 1,2-H na hidrazina. N2H4 é uma molécula bastante estável e, portanto, este processo requer uma considerável quantidade de energia. Entretanto, de acordo com este estudo, a molécula HNNH3 deve levar à formação de NH3, através da reação X, e à formação de N2H2, através das reações VIII e IX, que representam passos elementares que liberam grande quantidade de calor. A curva V de coordenada de reação acompanha os passos da isomerização de N2H4. 42 Curva V: Coordenada de reação intrínseca da reação V, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. A Curva V demonstra claramente que o estado de transição realmente correlaciona-se com os reagentes e produtos da reação. Na estrutura de transição, um átomo de hidrogênio deve posicionar-se próximo ao centro da ligação N−N migrando para o outro átomo de nitrogênio. Estudos experimentais e teóricos [37,39-42] confirmam que a molécula diazina (N2H2) tem uma estrutura planar, onde o isômero trans é a estrutura mais estável, mas os isômeros cis e iso também são estruturas possíveis. Os três isômeros são considerados neste estudo, ver Figura 3. Evidências experimentais para cis-diazina e iso-diazina são muito escassas [37,43], porém estudos teóricos [39,44,45] indicam que o isômero cis é entre 5 – 8 kcal.mol−1 mais alto em energia que o isômero trans, de mais baixa energia, enquanto que a diferença de 43 energia entre os isômeros trans e iso relatadas em estudos teóricos anteriores [39,45] variam entre 24 – 29 kcal.mol−1. Neste estudo, a diferença de energia eletrônica com correção do ponto zero na aproximação CCSD(T)/CBS entre os isômeros trans e cis da molécula diazina é igual a 4,8 kcal.mol−1, e a diferença entre trans e iso-diazina é igual a 24,0 kcal.mol−1. Experimentalmente [43], a energia de isomerização cis-trans é igual a 5,2 ± 0,2 kcal.mol−1. O valor experimental para o calor de formação a 298 K da molécula trans-N2H2, cujo valor é ≥ 46,6 ± 0,8 kcal.mol−1 [46] pode ser comparado com nosso resultado de ΔH 298 para a reação que representa a formação padrão de N2H2, que neste estudo é igual a 47,2 kcal.mol−1, em ótima concordância com o resultado experimental. Os processos de formação dos isômeros da diazina através do radical N2H3, reações VI e VII, são endotérmicos, enquanto que as formações destes isômeros através da espécie intermediária HNNH3 são exotérmicas. Os valores de ΔE 0 para as reações VI (N2H3 → N2H2(trans) + H) e VII (N2H3 → N2H2(cis) + H) são iguais a +49,9 e +45,0 kcal.mol−1, respectivamente. A reação VII foi também previamente estudada utilizando-se a metodologia G2(MP2) [35], e pode ser comparado ao nosso resultado, sendo o valor de ΔE 0 no estudo anterior igual a 47,2 kcal.mol−1. Estudos de espectros de fotoionização [46] mostram que o valor de D0 (HNNH−H), igual a 43,8 ± 1,1 kcal.mol−1, está em ótima concordância com o nosso valor de ΔE0 obtido para a reação N2H3 → N2H2 + H, que é igual a 45,0 kcal.mol−1. As curvas de coordenada de reação que descrevem a formação dos isômeros cis e trans de N2H2, reações VI e VII, são apresentadas abaixo (Curvas VI e VII). As reações VI e VII descrevem a dissociação da ligação N−H na estrutura molecular da molécula N2H3. Em ambos estados de transição, TSVI e TSVII, a distância da ligação N−H 44 a ser quebrada é de 1,67 Å, e os ângulos diedros destas estruturas desviam cerca de 2° da planaridade. Através das estruturas moleculares das curvas é possível notar claramente a formação da ligação dupla N−N e o distanciamento do átomo de hidrogênio, resultando nos produtos destas reações. Curva VI: Curva de coordenada de reação intrínseca, reação VI, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. 45 Curva VII: Coordenada de reação intrínseca, reação VII, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. As reações VIII (HNNH3 → N2H2(trans) + H2) e IX (HNNH3 → N2H2(cis) + H2) descrevem a interação entre dois átomos de hidrogênio da mesma molécula (HNNH3) que formam uma ligação produzindo a molécula de hidrogênio. São reações caracterizadas por barreiras de transição relativamente altas, cerca de 36 kcal.mol−1, que têm valores muito próximos entre si. As estruturas destes dois estados de transição têm valores muito semelhantes para distâncias e ângulos de ligação. Os valores de ΔE 0 para as reações VIII (HNNH3 → N2H2(trans) + H2) e IX (HNNH3 → N2H2(cis) + H2) são iguais a −20,8 e −16,0 kcal.mol−1, respectivamente. Até onde sabemos, não há outros trabalhos teóricos na literatura sobre as reações VI (N2H3 → N2H2(trans) + H) e IX (HNNH3 → N2H2(cis) + H2). 46 Para as reações VIII e IX, nas estruturas de transição a ligação N−N tem um caráter de dupla ligação e a geometria dos produtos evidencia a liberação da molécula H2. Até o momento, pode-se concluir que, embora a formação de N2H3 tenha vantagem sobre a formação de HNNH3, a produção dos isômeros N2H2 via o intermediário HNNH3 é mais fácil, do ponto de vista energético, de ocorrer do que via N2H3, desde que aqueles processos são exotérmicos com mais baixas barreiras de ativação. Curva VIII: Curva de coordenada de reação intrínseca, reação VIII, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. 47 Curva IX: Curva de coordenada de reação intrínseca, reação IX, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. A formação da molécula NH3 via TSX requer o ataque de dois átomos de hidrogênio sobre o átomo de nitrogênio na molécula hidrazina e a subseqüente quebra da ligação N−N. Os dois átomos de hidrogênio devem atacar o mesmo átomo de nitrogênio pois a ligação H−H é menor que a ligação N−N. Desta maneira, antes da molécula hidrazina sofrer o ataque pela molécula H2, a formação da espécie HNNH3 se realiza, permitindo assim um desimpedimento espacial para a os dois átomos de hidrogênio da molécula H2 atacar o átomo de nitrogênio na espécie HNNH3, levando à formação de duas moléculas NH3, em acordo com a reação X. A altura da barreira ΔV0# para esta reação é igual a 22,8 kcal.mol−1, sendo esta reação altamente exotérmica, ΔE0 igual a −89,2 kcal.mol−1. 48 Neste estudo, a molécula HNNH3 é o intermediário do processo global, N2H4 + H2 → 2NH3, com valor de ΔH obtido experimentalmente para esta reação global igual a −44,7 kcal.mol−1 [36], em excelente concordância com nosso resultado de ΔH igual a −45,0 kcal.mol−1. Outros valores teóricos existentes na literatura para esta entalpia de reação são iguais −46,2 kcal.mol−1 utilizando o método G2(MP2) [36], e −44,4 kcal.mol−1 utilizando a metodologia CCSD(T)/CBS//CCSD(T)/aVTZ [38]. Na estrutura de transição TSX, as duas ligações N−H a serem rompidas têm praticamente o mesmo valor, r = 1,55 Å, e se encontram cerca de 35% mais alongadas que na estrutura do reagente HNNH3, a distância da ligação N−N que será rompida está cerca de 23% mais alongada quando comparada ao reagente. Sendo uma reação unimolecular, esta reação tem uma barreira de ativação relativamente baixa 22,8 kcal.mol−1. Curva X: Curva de coordenada de reação intrínseca, reação X, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. 49 A reação XI (N2H2(trans) + H → NNH + H2) é bem caracterizada na literatura através de cálculos ab initio de alto nível de estrutura eletrônica e de dinâmica [47-50]. Esta é uma das reações selecionadas para testar diferentes metodologias de dinâmica molecular nestes estudos, com valores apurados para constantes de velocidade baseados na teoria do estado de transição convencional (TST) e na teoria variacional do estado de transição (VTST). Entretanto, estudos sobre a reação de abstração de um átomo de hidrogênio do isômero cisN2H2 por um átomo de hidrogênio (reação XII) não foram ainda relatados na literatura. Ambas as reações (XI e XII) de N2H2 com um átomo de H são exotérmicas, ΔE 0 = −37,9 e −42,7 kcal.mol−1, para os isômeros trans e cis, respectivamente, e estas reações são caracterizadas por barreiras de energia bastante baixas, ΔV0# = 3,4 e 3,5 kcal.mol−1. Nos artigos publicados na literatura, pode-se encontrar estas propriedades calculadas para a reação XI com os métodos MRCI//CASSCF, cujos valores correspondem a ΔH 0 = −37,34 kcal.mol−1 e ΔE # = 4,29 kcal.mol−1 [47], com o método G2 com os valores de ΔH 0 = −40,3 kcal.mol−1 [50], e com método G2(MP2), que relata os valores de ΔE = −37,5 kcal.mol−1 e ΔE # = 4,1 kcal.mol−1 [36]. Todos os valores relatados concordam que esta reação é caracterizada por um estado de transição cuja estrutura é mais próxima à estrutura dos reagentes que dos produtos. As geometrias dos estados de transição TSXI e TSXII são bastante semelhantes às estruturas das moléculas reagentes. A ligação H−H a ser formada é ainda bastante alongada nestes estados de transição, sendo cerca de 35% maior que a ligação H−H na molécula H2, e a ligação N−H a ser rompida tem o valor apenas cerca de 8% maior que na estrutura da molécula reagente, para ambas as reações. As curvas de coordenada de reação intrínseca para as reações XI e XII são apresentadas a seguir (Curvas XI e XII). 50 A estrutura molecular do estado de transição correspondente à Curva XI demonstra que a ligação H−H que será formada é mais curta (rH−H=1,091 Å) que na estrutura de transição da Curva XII (rH−H=1,221 Å). Por este motivo, é que a ligação entre os átomos de hidrogênio aparece explicitamente na figura do estado de transição da Curva XI. Desta maneira, pode-se afirmar que a estrutura de transição da reação XI se assemelha mais aos produtos da reação do que a estrutura de transição da reação XII. Curva XI: Curva de coordenada de reação intrínseca da reação XI, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. 51 Curva XII: Curva de coordenada de reação intrínseca da reação XII, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. A reação XIII descreve um processo unimolecular (N2H2(cis) → N2 + H2), onde o estado de transição TSXIII é conseqüência de uma distorção da espécie reagente N2H2(cis). A estrutura do estado de transição é obtida através de uma distorção de aproximadamente 50° do ângulo N−N−H, e as distâncias das ligações N−H devem ser alongadas por 17% e 33%. Dessa maneira, o ponto de sela é considerado tardio, ou seja, sua estrutura é mais semelhante à estrutura dos produtos do que do reagente, em acordo com uma alta barreira de energia de ativação, cerca de 90 kcal.mol−1. Esta reação é exotérmica por 53,8 kcal.mol−1. Os valores de energia podem ser comparados com outros estudos teóricos, cálculos G2(MP2) [36] 52 caracterizaram ΔV0# = 90,7 kcal.mol−1 e ΔE 0 = −53,7 kcal.mol−1, e outro estudo CCSD(T)/CBS//CCSD(T)/aVTZ [38] caracterizou ΔE 0 = −53,2 kcal.mol−1. A curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XIII é apresentada abaixo (Curva XIII). Através da ilustração da estrutura molecular, Figura 8, é possível notar que o estado de transição ainda tem um caráter de dupla ligação para N−N, enquanto que a estrutura dos produtos revela a formação de uma tripla ligação N−N, o que caracteriza a molécula N2. Curva XIII: Curva de coordenada de reação intrínseca, reação XIII, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. A decomposição da molécula iso-diazina produzindo as moléculas N2 and H2 pode ocorrer de acordo com as reações XIV (NNH2 → N2 + H2) e XV (NNH2 + H2 →N2 + 2H2). Esta decomposição é exotérmica por 73,0 kcal.mol−1. De um ponto de vista energético, o 53 processo bimolecular (XV) é mais favorável que o processo unimolecular (XIV), desde que o estado de transição TSXV se encontra cerca de 28 kcal.mol−1 acima dos reagentes, enquanto que a barreira para se atingir o estado de transição TSXIV é de 52 kcal.mol−1. A estrutura TSXV corresponde a uma colisão simultânea entre os dois átomos de hidrogênio de NNH2 com os dois átomos de hidrogênio da molécula H2. As curvas de coordenada de reação intrínseca para estas duas reações são apresentadas nas Curvas XIV e XV. Pode-se notar que a estrutura do estado de transição TSXIV é bastante tardia, visto que a coordenada de reação escolhida, que no caso é a distância da ligação N−H a ser quebrada, deve sofrer um alongamento de 0,8 Å para atingir a barreira de ativação. A estrutura TSXIV se forma também pela distorção de cerca de 50° de um dos ângulos N−N−H. Curva XIV: Coordenada de reação intrínseca, reação XIV, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. 54 Curva XV: Coordenada de reação intrínseca, reação XV, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. O último passo para a dissociação das ligações N−H é representado pela reação XVI (NNH→ N2 + H). Esta reação tem sido bastante estudada por diferentes metodologias [44,5153], que caracterizam a geometria e a energética dos reagentes, estado de transição e produtos. Esta caracterização foi estudada com particularidade por Walch et alli [54,55] utilizando a metodologia CASSCF/CCI com o conjunto base de orbitais atômicos naturais (ANO). Outros estudos prévios também foram realizados utilizando-se os métodos GVB-CI [51], MCSF/CI [44], MP3/MP4 [52], onde são relatados valores de energia de dissociação e alturas das barreiras de ativação para esta reação. O nível de teoria mais alto utilizado no estudo desta reação foi CCSD(T)/aug-cc-pVQZ [53], o qual relata os valores de ΔE = −3,8 kcal.mol−1 e 55 ΔV # =10,7 kcal.mol−1, estes resultados estão em boa concordância com os valores obtidos neste trabalho pela aproximação CCSD(T)/CBS, ΔE = −4,5 kcal.mol−1 e ΔV # =10,1 kcal.mol−1. Neste trabalho, todos os outros valores de energia para a reação XVI obtidos em estudos teóricos anteriores são apresentados na Tabela 1. A Curva XVI descreve o caminho da reação NNH → N2 + H através da coordenada de reação N−H; esta distância de ligação no estado de transição é igual a 1,353 Å, enquanto que na estrutura do reagente, NNH, esta distância é igual a 1,049 Å. As ilustrações das estruturas moleculares apresentadas na Curva XVI demonstram claramente a dissociação da ligação N-H. Curva XVI: Curva de coordenada de reação, reação XVI, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. 56 As reações XVII, XVIII e XIX descrevem processos de abstração de hidrogênio passo a passo da molécula NH3 até N. A reação de abstração de hidrogênio da amônia, (XVII) NH3 + H → NH2 + H2, tem sido extensivamente estudada experimentalmente [56-59] e teoricamente [60-65]. Estes estudos têm como principal objetivo cálculos de dinâmica, visto que esta reação tem um papel fundamental na química da pirólise da amônia e em processos de combustão a altas temperaturas. Collins et alli [56] calcularam diferenças de energia com uma variedade de métodos e de conjuntos de funções base. Existem também outros estudos teóricos utilizando os métodos CCSD(T) [64], MP2/SAC4-A1 [65], UCCSD(T) [61], MP4, CASSCF e CAS-MRCI [62], cujos resultados encontram-se apresentados na Tabela 1 junto com os nossos valores. No presente estudo, o ponto de sela para esta reação está 14,2 kcal.mol−1 acima dos reagentes e a energia eletrônica da reação com correção do ponto zero é igual a 2,7 kcal.mol−1. Calores de reação experimentais para a reação XVII calculados a 0 K são dados nas Tabelas JANAF [66], iguais a 3,9 ± 1,5 kcal.mol−1 e 2,1 ± 0,6 kcal.mol−1. O resultado obtido neste estudo com a extrapolação CCSD(T)/CBS, ΔE 0 , reproduz muito bem estes valores obtidos experimentalmente. O valor experimental [66] da energia de reação a 298 K, igual a 4,32 ± 1,5 kcal.mol−1, também pode ser comparado com nosso resultado de ΔH 298 , que é igual a 4,8 kcal.mol−1. A curva de coordenada de reação intrínseca para a reação XVII é apresentada abaixo (Curva XVII), confirmando que a estrutura de transição realmente correlaciona-se com os reagentes e produtos da reação, ocorrendo a dissociação da ligação N−H, e a formação da ligação H−H, produzindo a molécula H2. 57 Curva XVII: curva de coordenada de reação intrínseca, reação XVII, calculada com o método MP2/cc-pVTZ. As reações XVIII e XIX são processos exotérmicos com baixas barreiras de ativação e devem representar passos importantes em processos de combustão já que descrevem reações envolvendo espécies radicais e juntas liberam cerca de 35 kcal.mol−1. A reação XVIII, NH2 + H → NH + H2, é caracterizada por uma estrutura de ponto de sela planar localizada a 6,4 kcal.mol−1 acima dos reagentes, sendo exotérmica por 11,0 kcal.mol−1. A estrutura de transição TSXVIII é planar, a distância da ligação H−H a ser formada é igual a 0,934 Å e a distância da ligação N−H a ser rompida é igual a 1,222 Å. O produto NH da reação XVIII deve interagir com hidrogênio radical e gerar o radical N, de acordo com a reação XIX, NH + H → N + H2, que é exotérmica por cerca de 25,0 58 kcal.mol−1. O estado de transição XIX tem uma estrutura linear que é mais semelhante à estrutura dos reagentes em acordo com uma baixa barreira de energia, ΔV0# =2,0 kcal.mol−1. Os resultados obtidos para a reação XIX são comparados a outros resultados teóricos e experimentais, ver Tabela 1. Resultados obtidos utilizando-se o método CAS(7,6)/cc-pVTZ [67] sobreestimam de maneira significativa os valores da barreira de energia de ativação ΔV0# = 7,4 kcal.mol−1, e também o valor da energia de reação. Por outro lado, cálculos realizados utilizando-se a metodologia QCISD(T) [68] caracterizaram a barreira de energia de ativação bastante baixa, apenas 0,53 kcal.mol−1. No trabalho experimental mais recente sobre a reação XIX [69], a barreira foi estimada a partir da formulação da Lei de Arrhenius, e revela um valor bastante baixo, igual a 0,3 kcal.mol−1, enquanto outro estudo experimental mais antigo [70] revela um valor de ΔV0# igual a 1,5 kcal.mol−1, sendo este último o valor de barreira de energia de ativação mais próximo ao calculado neste trabalho. As curvas de coordenada de reação intrínseca para as reações XVIII e XIX são demonstradas a seguir (Curvas XVII e XIX), onde é possível acompanhar o caminho de reação. Comparando-se os valores de variação de energia eletrônica calculados com o método MP2/cc-pVTZ e aqueles calculados com a extrapolação CCSD(T)/CBS, verifica-se que a diferença média em energia entre os dois métodos é igual a 4,6 kcal.mol−1. As maiores diferenças entre os valores de energia calculados com os dois métodos foram observadas para as reações que contêm as espécies radicais NNH e NNH2, com a diferença variando entre 7 e 13 kcal.mol−1. 59 Curva XVIII: Coordenada de reação intrínseca para a reação XVIII.(MP2/cc-pVTZ). Curva XIX: Coordenada de reação intrínseca para a reação XIX.(MP2/cc-pVTZ). 60 A Tabela 1 apresentada a seguir traz as propriedades energéticas das reações I − XIX calculadas com o método de otimização de geometria MP2/cc-pVTZ, e os resultados dos cálculos single point utilizando-se o método CCSD(T), e a extrapolação do conjunto de funções base conforme descrito pela equação (38) da Seção 3. Tabela 1: Barreiras de energia clássicas, ΔV # , barreiras de energia com correção do ponto- zero, ΔV0# , energias de reação clássicas, Δ E , energias de reação com correção do ponto zero, 0 0 Δ E 0 , entalpias, ΔH 298 , e energia livre de Gibbs, ΔG298 .Todos os resultados estão em kcal.mol−1. ( I ) N2H4 ⎯TSI ⎯→ NNH2 +H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 87,9 80,4 61,2 51,0 52,8 44,0 CCSD(T)/CBS 83,7 76,2 57,5 47,2 49,1 40,3 73,7a (II) N2H4 + H2 43,0a ⎯TSII ⎯ ⎯→ N2H2(trans) + 2H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 67,5 65,1 32,9 23,2 25,0 16,6 CCSD(T)/CBS 72,2 69,8 32,8 23,2 25,0 16,6 (III) N2H4 + H TSIII ⎯⎯⎯ → N2H3 + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 13,3 11,8 -13,7 -15,9 -13,9 -23,6 CCSD(T)/CBS 8,0 6,4 -19,6 -21,8 -19,8 -29,6 5,2a -23,9a 5,93b 21,75b 61 (IV) N2H4 + H ⎯TSIV ⎯ ⎯→ NH3 + NH2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 16,0 17,7 -37,4 -37,3 -35,2 -47,0 CCSD(T)/CBS 10,0 11,7 -42,5 -42,4 -40,2 -52,0 10,7a (V) N2H4 -43,8a ⎯TSV ⎯ ⎯→ HNNH3 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 69,6 65,5 48,2 47,5 47,5 47,1 CCSD(T)/CBS 67,4 63,4 44,7 44,1 44,1 43,6 60,5a (VI) N2H3 40,9a ⎯TSVI ⎯ ⎯→ N2H2(trans) + H ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 59,9 54,8 46,6 39,1 38,9 40,3 CCSD(T)/CBS 55,4 50,2 52,5 45,0 44,9 46,2 ⎯TSVII ⎯⎯→ (VII) N2H3 N2H2(cis) + H ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 66,3 60,7 52,0 44,2 44,0 45,3 CCSD(T)/CBS 61,3 55,8 57,7 49,9 49,7 51,0 53,6a 47,2a ⎯TSVIII ⎯⎯→ (VIII) HNNH3 N2H2(trans) + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 40,4 34,6 -15,3 -24,3 -22,5 -30,4 CCSD(T)/CBS 41,0 35,5 -11,8 -20,8 -19,0 -25,5 35,0a (IX) HNNH3 22,5a ⎯TSIX ⎯ ⎯→ N2H2(cis) + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 41,2 35,3 -9,9 -19,2 -17,4 -25,4 CCSD(T)/CBS 42,0 36,0 -6,7 -16,0 -14,2 -22,2 62 ⎯TSX ⎯ ⎯→ NH3 + NH3 (X) HNNH3 + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 24,4 24,6 -96,7 -92,7 -92,7 -95,2 CCSD(T)/CBS 22,7 22,8 -93,1 -89,2 -89,1 -91,7 24,6a -87,2a (XI) N2H2(trans) + H ⎯TSXI ⎯ ⎯→ NNH + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 12,4 13,4 -29,4 -31,1 -28,9 -38,6 CCSD(T)/CBS 4,4 3,4 -36,3 -37,9 -35,8 -45,5 4,29c 4,1a -36,5d -37,5a -37,34c -40,3d ⎯TSXII ⎯⎯→ NNH + H2 (XII) N2H2(cis) + H ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 8,3 10,4 -34,9 -36,1 -34,0 -43,7 CCSD(T)/CBS 1,5 3,5 -41,5 -42,7 -40,7 -50,3 (XIII) N2H2(cis) ⎯TSXIII ⎯⎯→ N2 + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 98,6 91,4 -52,7 -60,6 -58,9 -66,2 CCSD(T)/CBS 97,1 90,0 -45,9 -53,8 -45,1 -54,8 90,7a (XIV) NNH2 -53,7a ⎯TSXIV ⎯⎯→ N2 + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 53,2 48,2 -75,6 -83,2 -81,5 -88,5 CCSD(T)/CBS 56,7 51,6 -65,4 -73,0 -64,3 -73,6 51,7a -73,5a 63 (XV) NNH2 + H2 ⎯TSXV ⎯⎯→ N2 + 2H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 23,4 21,4 -75,6 -83,2 -81,5 -88,5 CCSD(T)/CBS 29,6 27,6 -65,3 -73,0 -64,3 -73,6 28,3a -73,5a (XVI) NNH ⎯TSXVI ⎯⎯→ N2 + H ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 9,5 4,9 -17,8 -24,5 -24,8 -22,5 CCSD(T)/CBS 10,1 5,4 -4,5 -11,1 -11,4 -9,2 10,5f 5,7a -14,4f -11,4a 10,7g 5,8f -3,8g -11,3i 11,3h -24,1e -3,9h NH3 + H ⎯TSXVII ⎯⎯→ NH2 + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 21,6 20,4 11,0 7,9 9,9 1,1 CCSD(T)/CBS 15,4 14,2 5,9 2,7 4,8 -4,0 (XVII) j j 14,7 5,09 15,4k 5,89k 24,17l 1,94l 16,56m 5,26m 17,68n 3,28n 15,75o 6,0o 11,37±2,5p Valores 3,9±1,5q 4,32±1,5q Experimentais 2,1±0,6q 2,87±2,0r (XVIII) NH2 + H ⎯TSXVIII ⎯ ⎯→ NH + H2 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 11,9 11,2 -7,7 -8,6 -6,8 -15,1 CCSD(T)/CBS 7,1 6,4 -10,1 -11,0 -11,0 -17,6 (XIX) NH + H TSXIX ⎯⎯⎯ → N + H2 64 ΔV # ΔV0# ΔE ΔE 0 0 ΔH 298 0 ΔG298 MP2/cc-pVTZ 5,5 5,2 -27,3 -25,7 -25,7 -22,1 CCSD(T)/CBS 2,3 2,0 -26,6 -24,9 -23,2 -21,3 7,4s -29,5s 0,53t Valores 0,3u -24,3u experimentais 1,5v -20,1v b c G2M(MP2)//MP2/6-31G**[36]; G2M(MP2)//B3LYP/6-31+G[71]; CASSCF/MRCI[47]; e f g G2/MP2[50]; GVB-CI[51]; MP4//MP3/6-31G**[52]; CCSD(T)/aug-cc-pVQZ[53]; h CASSCF/CCI[55]; iMCSCF-CI[44]; jUCCSD(T)/aug-cc-pVTZ[61]; kCCSD(T)/cc-pVQZ[64]; l CASSCF/pVTZ[62]; mCAS-MRCI/pVTZ[62]; nMP4[62]; oMP2/SAC4A1[65]; p[72]; q[66]; rΔH300 s t u [73]; CAS(7,6)/cc-pVTZ[67]; QCISD(TQ)/cc-pVTZ//QCISD/cc-pVDZ[68]; Valores v experimentais[69]; Valores experimentais[70]. a d As constantes de velocidade estimadas nas temperaturas de 298 e 1000 K são tabeladas a seguir juntamente com os valores já calculados teoricamente e experimentalmente para algumas das reações estudadas. Muitas das reações estudadas aqui foram caracterizadas previamente através da metodologia G2M(MP2)//MP2/6-31G no trabalho de Mebel e Hwang [36]. Os valores de energias de ativação estimados a partir da interpolação dos gráficos de ln k (T ) versus 1 T também são listados na Tabela 2, onde as temperaturas empregadas nestes gráficos foram 298, 500, 650, 800 e 1000 K. Os valores das constantes de velocidade obtidos neste trabalho estão bastante condizentes com outros valores calculados previamente. É importante ressaltar que a estimativa das constantes de velocidade é uma tarefa difícil, pois a energia da estrutura de transição deve estar muito bem descrita, já que a constante de velocidade é uma função exponencial da barreira de energia. Desvios nos cálculos das barreiras de energia de apenas 1 kcal.mol−1 modificam o valor de k (T ) em aproximadamente uma ordem de grandeza. 65 Tabela 2: Constantes de velocidade k (T ) e energias de ativação Ea calculadas para as reações I – XIX, nas temperaturas de 298 K e 1000 K. Valores entre parênteses referem-se à ΔV0# . propriedade é dado em s−1 para as reações unimoleculares, e em k (T ) cm3.molécula−1.s−1 para as reações bimoleculares. k (298) Reação ⎯TSI ⎯→ NNH2 +H2 N2H4 ⎯TSII ⎯ ⎯→ N2H4 + H2 -3 2,03 x10 3,84x10-3 a 7,12x10 7,09x10-41 a 2,90x10-59 1,38x10-27 ⎯TSV ⎯ ⎯→ HNNH3 ⎯TSVI ⎯ ⎯→ N2H2(trans) +H 4,0x10-24 3,50x102 ⎯⎯⎯→ N2H2(trans) + H2 3,45x10-28 2,28x10-26 1,69x10-13 a 3,87x10-13 2,13x101 6,85x101 3,92x105 a 5,05x105 ⎯TSIX ⎯ ⎯→ N2H2(cis) + H2 5,29x10-14 2,84x105 3,02x10-27 a 8,15x10-29 2,65x10-13 a 2,64x10-13 b 6,68x10-13 c 0,3x10-13 1,56x10-15 a 8,57x10-16 ⎯⎯ ⎯→ N2H3 +H2 ⎯TSIV ⎯ ⎯→ N2H4 HNNH3 k (1000) 6,44x10-14 2,55x10-14 8,88x10-18 a 1,27x10-18 2,10x10-33 a 2,85x10-31 N2H4 + H N2H3 N2H2(trans) + 2H2 TSIII N2H4 + H N2H3 -43 a NH3 + NH2 ⎯⎯ ⎯→ N H (cis) + H TSVII 2 HNNH3 2 TSVIII HNNH3 + H2 N2H2(trans) + H ⎯⎯ ⎯→ NNH + H2 N2H2(cis) NNH2 + H2 NNH NH3 + H a 5,59x10-12 a 1,40x10-11 b 1,22x10-11 TSXII ⎯⎯⎯ → NNH + H2 1,47x10-12 1,57x10-11 ⎯TSXIII ⎯⎯→ 1,86x10-52 2,95x10-6 a 4,60x10-25 1,55x10-24 a 1,78x10-28 6,41x10-18 8,9x108 3,40x109 2,78x1012 2,59x1012 1,18x10-13 d 9,9x10-14 e 1,11x10-13 N2 + H2 ⎯TSXIV ⎯⎯→ N2 + H2 NNH2 NH + H NH3 + NH3 TSXI N2H2(cis) + H NH2 + H ⎯⎯ ⎯→ TSX 6,95x10-12 4,93x10-12 1,58x10-13 a 1,13x10-13 1,38x100 a 2,84x100 a ⎯TSXV ⎯⎯→ N2 + 2H2 ⎯TSXVI ⎯⎯→ N2 +H a 2,31x10-19 2,34x10-20 ⎯TSXVII ⎯⎯→ NH2 + H2 e 2,48x102 5,22x102 a 76,6 (76,2) 68,0 (69,8) 5,5 (6,4) 10,8 (11,7) 63,8 (63,4) 50,2 (50,2) 56,0 (55,8) 35,6 (35,5) 36,3 (36,0) 22,7 (22,8) 4,3 (3,4) 2,8 (3,5) 89,8 (90,0) 51,9 (51,6) 26,2 (27,6) 5,3 (5,4) 13,2 (14,2) ⎯TSXVIII ⎯ ⎯→ NH + H 5,42x10-14 3,56x10-12 ⎯⎯⎯ → N+H 3,28x10-12 5,47x10-13 h 1,53x10-12 i 3,15x10-12 5,1 (6,4) 1,33x10-11 9,12x10-12 g 1,30x10-11 0,9 (2,0) 2 TSXIX 2 f f Ref.[36]; bRef. [47]; c k (T = 300) Ref. [49]; dValor experimental contido na Ref. [65]; e Ref. [65]; fRef.[67]; gRef.[68]; hRef.[74], iValor experimental Ref.[74]. a Ea (kcal.mol−1) 66 Figura 4: Estruturas de equilíbrio para reagentes e produtos das reações I – XIX otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ. Distâncias em Ǻ, ângulos em graus. N2H4 N2H3 N−N = 1,341 N−N = 1,435 N−H1 = 1,005 N−H i = 1,013 N−H2 = 1,008 N−Hο = 1,010 N−H3 = 1,018 N−N−Hi = 111,3 H1−N−H2 = 114,8 N−N−Ho = 106,7 N−N−H1 = 113,6 Hο−N−Hi = 107,0 N−N−H2 = 120,4 Hi−N−N−Ho = 89,6 N−N−H3 = 105,4 H1−N−N−H3 = 167,0 trans-N2H2 cis-N2H2 N−N = 1,256 N−N = 1,252 H−N = 1,028 H−N = 1,034 N−N−H = 105,4 N−N−H = 111,6 H−N−N−H = 180,0 H−N−N−H = 0,0 NNH2 HNNH3 N−N = 1,451 N−H1 = 1,021 N−H2 = 1,026 N−N = 1,211 H1−N = 1,037 H2–N = 1,036 N−N−H= 123,8 N−H3 = 1,026 N−H4 = 1,015 N−N−H1 = 101,6 N−N−H2 = 116,1 N−N−H3 = 116,1 N−N−H4 = 105,1 H2−N−H3 = 106,6 H3−N−H4 = 106,1 H1−N−N−H4 = 179,8 H1−N−N−H3 = 63,0 67 Algumas comparações com resultados experimentais foram relatadas ao longo do texto e, como pôde ser notado, a metodologia de aproximação empregada nos cálculos de energia leva a resultados bastante satisfatórios, embora seja difícil realizar este tipo de comparação para os resultados concernentes à barreira de ativação, pois as alturas das barreiras de reações não são diretamente observáveis, e medidas experimentais apresentam significativas incertezas. Figura 5: Estruturas de equilíbrio para reagentes e produtos das reações I – XIX otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ. Distâncias em Ǻ, ângulos em graus. NNH NH3 N−N = 1,143 N−H = 1,011 N−H = 1,049 H−N−H = 105,9 N−N−H = 120,9 NH2 NH N−H = 1,022 H−N−H = 102,5 N2 H2 68 Figura 6: Estruturas dos estados de transição das reações I – VI otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ . Distâncias em Ǻ, ângulos em graus. TSI ⇒ N2H4 → NNH2 +H2 TSII ⇒ N2H4 + H2→ N2H2(trans) + 2H2 N−N = 1,288 N−N = 1,314 H1−N = 1,011 H1−N = 1,027 H2−N = 1,012 H2−N = 1,027 H3−N = 1,587 H3−N = 1,418 H4−N = 1,310 H6−N = 1,418 H3–H4 = 0,865 H3−H4 = 0,868 N−N−H1 = 120,9 H5−H6 = 0,868 N−N−H2 = 122,0 H4−H5 = 1,227 N−N−H3 = 109,2 H1−N−H3 = 95,0 N−N−H4 = 111,0 H4−H5−H6 = 118,9 H3−N−N−H1 = 76,8 H3−H4−H5−H6 = 20,4 H4−N−N−H1 = 111,9 H1−N−H3−H4 = −83,0 TSIII ⇒ N2H4 + H → N2H3 + H2 N−N = 1,401 N−H1 = 1,008 N−H2 = 1,008 N−H3 = 1,019 N−H4 = 1,191 H4−H5 = 0,977 H5−H4−N = 162,3 H3−N−H4 = 98,6 TSIV ⇒ N2H4 + H → NH3 + NH2 N−N = 1,607 N−H1 = 1,327 N−H2 ; N−H5 = 1,018 N−H3 ; N−H4 = 1,017 N−N−H1 = 152,6 H−N−H1 = 95,9 H2−N−H5 = 103,3 H3−N−N−H5 = 179,8 H5−H4−N−N = 74,9 TSV ⇒ N2H4 → HNNH3 TSVI ⇒ N2H3 → N2H2(trans) + H N1−N2 = 1,597 N−N = 1,202 N1−H1 = 1,436 H1−N = 1,027 N2−H1 = 1,078 H2−N = 1,027 N1−H2 = 1,023 H3−N = 1,679 N2−H3 = 1,007 N−N−H1 = 107,8 N2−H4 = 1,006 N−N−H2 = 109,7 N1−N2−H1 = 61,3 N−N−H3 = 127,8 H2−N1−N2 = 99,2 H1−N−N−H2 = 178,5 N1−N2−H3 = 115,8 69 Figura 7: Estruturas dos estados de transição das reações VII – XII otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ . Distâncias em Ǻ, ângulos em graus. TSVII ⇒ N2H3 → N2H2(cis) + H TSVIII ⇒ HNNH3 → N2H2(trans) + H2 N−N = 1,198 N−N = 1,306 H1−N = 1,031 N−H1 = 1,023 H2−N = 1,032 N−H2 = 1,017 H3−N = 1,676 N−H3 = 1,050 N−N−H1 = 112,6 H3−H4 = 1,341 N−N−H2 = 115,6 N−N−H1 = 105,2 N−N−H3 = 125,0 N−N−H2 = 115,9 H1-N-N-H2 = 2,4 N−H3−H4 = 95,1 H1−N−N−H3 = 27,6 TSIX ⇒ HNNH3 → N2H2(cis) + H2 TSX ⇒ HNNH3 + H2 → NH3 + NH3 N−N = 1,301 N−N = 1,878 H1−N = 1,023 N−H1 = 1,011 H2−N = 1,022 N−H2 = 1,011 H3−N = 1,057 N−H3 = 1,009 H3−H4 = 1,302 N−H4 = 1,554 N−N−H3 = 121,2 N−H5 = 1,555 N−H3−H4 = 97,6 N−H6 = 1,027 H2−N−H3 = 109,2 H4−H5 = 0,805 N−N−H3−H4 = 104,6 H4−N−H5 = 75,0 H1−N−N−H2 = 1,3 H4−N−H6 = 85,2 H1−N−H2 = 109,7 H2−N−H3 = 109,0 H2−N−N−H4 = 11,5 TSXI ⇒ N2H2(trans) + H → NNH + H2 H5−H4−N−N = 165,3 TSXII ⇒ N2H2(cis) + H→ NNH + H2 N−N = 1,173 N−N = 1,174 H1−N = 1,033 H1−N = 1,038 H2−N = 1,143 H2−N = 1,102 H2−H3 = 1,091 H2−H3 = 1,221 H1−N−N = 108,5 N−N−H1 = 114,3 N−N−H2 = 107,9 N−N−H2 = 112,9 N−H2−H3 = 172,1 N−H2−H3 = 160,7 H1−N−N−H2 = 180,0 H1−N−N−H2 = 0,0 70 Figura 8: Estruturas dos estados de transição das reações XIII – XIX otimizadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ . Distâncias em Ǻ, ângulos em graus. TSXIII ⇒ N2H2(cis) → N2 + H2 TSXIV ⇒ NNH2 → N2 + H2 N−N = 1,207 N−N = 1,143 H1−N = 1,241 N−H1 = 1,010 H2−N = 1,545 N−H2 = 1,775 H1−H2 = 1,258 H1−H2 = 1,537 H2−H1−N = 133,5 N−N−H2 = 124,9 H2−N−N = 112,5 N−N−H1 = 175,4 N−N−H1−H2 = 0,0 N−N−H1−H2 = 180,0 TSXV ⇒ NNH2 + H2 → N2 + 2H2 TSXVI ⇒ NNH → N2 + H N−N = 1,135 N−N = 1,105 H1−N = 1,276 N−H = 1,353 H4−N = 1,276 N−N−H = 123,0 H2−H1 = 1,170 H3−H4 = 1,170 H2−H3 = 0,877 N−N−H = 136,9 H1−H2−H3 = 111,7 H2−H1−N−H4 = 0,0 TSXVII ⇒ NH3 + H → NH2 + H2 TSXVIII ⇒ NH2 + H → NH + H2 H1−N = 1,022 H1−N = 1,030 H2−N = 1,022 H2−N = 1,222 H3−N = 1,329 H2−H3 = 0,934 H3−H4 = 0,859 H1−N−H2 = 98,4 H2−N−H1 = 103,2 N−H2−H3 =164,2 H2−N−H3 = 97,8 H1−N−H2−H3 = 0,0 N−H3−H4 = 157,8 H2−N−H3−H4 = 52,3 TSXIX ⇒ NH + H → N + H2 N−H = 1,139 H−H = 1,076 N−H−H = 180,0 71 Tabela 3: Freqüências vibracionais harmônicas (cm−1) das moléculas envolvidas nas reações I − XIX calculadas utilizando o método MP2/cc-pVTZ. Moléculas N2H4 422 1143 1315 Freqüências 1350 1680 1693 852 1031 3510 N2H3 570 747 1152 1294 1503 1670 3502 3559 3712 HNNH3 388 861 1016 1051 1463 1501 1664 1686 N2H2(trans) 1345 1347 1513 1621 3323 3357 N2H2(cis) 1277 1363 1552 1558 3203 3284 NNH2 1054 1341 1650 1733 3131 3162 NNH 1040 2826 2976 NH3 1086 1686 1686 3515 3657 3659 NH2 1560 3448 3551 NH 3394 N2 2194 H2 4527 TSI 1614i 339 655 887 1042 1257 1297 TSII 1666i 549 615 740 1056 1094 1394 1569 2261 2854 3365 3388 2378i 293 431 664 816 3494 3557 3672 1803i 232 568 3488 3574 3588 TSV 1525i TSVI 3516 3625 3629 3311 3351 3452 3560 1408 1698 2884 3474 3591 1189 1212 1296 1305 1310 1377 1077 1174 1254 1404 1530 1648 1680 744 1043 1144 1153 1354 1381 1557 1628 3474 240 760 912 954 1393 1474 1564 2900 3452 3580 3706 1590i 495 535 1343 1416 1574 2016 3345 3376 TSVII 1632i 504 546 1318 1390 1555 1980 3232 3301 TSVIII 1066i 728 775 843 1116 1238 1379 1506 1622 3114 3428 3546 TSIX 1083i 721 767 809 1133 1241 1411 1495 1608 3042 3419 3468 TSX 1195i 75 435 448 595 689 769 1106 1132 1418 1654 1668 3448 3506 3516 3661 3682 TSXI 2531i 427 602 1288 1487 1547 1580 2976 3291 TSXII 1681i 339 511 1388 1496 1637 1784 3180 3321 TSXIII 3180i 818 1013 1308 1709 2390 TSXIV 1848i 742 815 1290 2078 3636 TSXV 1924i 303 575 885 1230 1231 1267 1384 1573 1863 2231 2660 TSXVI 2242i 787 2780 TSXVII 1823i 691 710 1102 1228 1564 2188 3443 3550 TSXVIII 2260i 678 953 1287 1699 3416 TSXIX 1880i 832 832 1537 TSIII TSIV 139 72 4.2 - Estudo das geometrias, freqüências vibracionais e barreiras de energia das moléculas metilamina, dimetilamina e trimetilamina Nesta seção, os resultados e as principais conclusões serão apresentados e discutidos em três subitens de acordo com a molécula a ser tratada; Metilamina (4.2.1), Dimetilamina (4.2.2) e Trimetlamina (4.2.3). 4.2.1 - Metilamina • Otimização das geometrias moleculares A molécula metilamina (CH3NH2) é caracterizada por dois movimentos internos de grande amplitude, a inversão do grupo amina e a rotação interna ao longo da ligação C−N. Estes movimentos são fortemente acoplados um com outro e com a rotação pura da molécula resultando em complicados espectros de microondas e infravermelho, tornando difícil a atribuição destes espectros e a análise destes movimentos [75]. A molécula metilamina pode apresentar-se sob diversos confôrmeros. Neste trabalho, tivemos especial interesse em caracterizar as barreiras de energia de rotação de um grupo metila e de inversão do grupo amina. Desta maneira, se fez necessária a descrição de três confôrmeros, conforme ilustrado na Figura 9. A estrutura mais estável desta molécula é a conformação estrelada. O estado de transição que é resultado da rotação interna do grupo metila é denotado como conformação eclipsada. A separação dessas conformações é uma pequena barreira de energia, denominada por barreira de rotação interna do grupo metila. O outro movimento a ser estudado para esta molécula é a inversão do grupo amina, o qual gera uma estrutura intermediária denominada como conformação planar. O movimento 73 de inversão do grupo amina através da estrutura planar permite passar da conformação estrelada para a conformação eclipsada. Figura 9: Ilustração das três conformações da molécula metilamina Estrelada (λ=0) Planar (λ=2) Eclipsada (λ=1) As três conformações da molécula metilamina pertencem ao grupo de ponto de simetria Cs. A conformação estrelada (λ = 0) é a estrutura de equilíbrio do estado fundamental da molécula metilamina. A conformação eclipsada (λ = 1) representa o estado de transição da rotação interna, e a conformação planar (λ = 2) representa o estado de transição para a inversão do grupo amina. Otimizações de geometria foram realizadas para as três conformações. A barreira de energia para inversão do grupo amina é cerca de 3,5 kcal.mol−1 mais alta que a barreira de energia da rotação interna do grupo metila. A estrutura intermediária entre os dois confôrmeros da metilamina (estrelada e eclipsada) é caracterizada por duas freqüências imaginárias. Nesta estrutura, os dois átomos de hidrogênio do grupo amina são coplanares à ligação C−N, resultando num ângulo reto entre o grupo amina e um dos átomos de hidrogênio do grupo metila, denotado por Ha. 74 Para a otimização da molécula metilamina utilizou-se neste estudo, os métodos CCSD(T) e os métodos da Teoria do Funcional da Densidade B3LYP, B3P86 e BP86 com os conjuntos bases de correlação-consistente de Dunning: cc-pVDZ, cc-pVTZ, cc-pVQZ e ccpV5Z, e também com os valores obtidos na extrapolação [r ≈ r (cc-pVQZ, valência) + r (ccpCVTZ, full) – r (cc-pCVTZ, valência)], equação (40), a qual considera o efeito da correlação de elétrons internos, designada correlação caroço-valência, cv. Na Tabela 4 são apresentados os valores dos parâmetros de geometria para as três conformações da molécula metilamina. Tabela 4: Parâmetros geométricos das conformações estrelada, eclipsada e planar da molécula metilamina. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. Conformação Estrelada (λ=0) * Métodos CN NH CHa CH NCHa NCH CNH BP86 cc-pVDZ BP86 cc-pVTZ BP86 cc-pVQZ BP86 cc-pV5Z B3P86/cc-pVDZ B3P86/cc-pVTZ B3P86/cc-pVQZ B3P86/cc-pV5Z B3LYP/cc-pVDZ B3LYP/cc-pVTZ B3LYP/cc-pVQZ B3LYP/cc-pV5Z CCSD(T) cc-pVDZ CCSD(T) cc-pVTZ CCSD(T) cc-pVQZ CCSD(T) cc-pCVTZ (valência) CCSD(T) cc-pCVTZ (full) CCSD(T)-extrapolação cv CASSCF/6-31++G** [76] BP86/6-311G(d) [77] MP2/6-311+G [78] Exp. [79] Exp. [80] 1,471 1,471 1,470 1,470 1,456 1,456 1,455 1,455 1,464 1,464 1,463 1,464 1,470 1,467 1,464 1,467 1,032 1,022 1,021 1,021 1,021 1,012 1,011 1,011 1,022 1,013 1,011 1,011 1,025 1,013 1,012 1,013 1,121 1,108 1,106 1,106 1,110 1,098 1,097 1,097 1,112 1,098 1,097 1,096 1,113 1,097 1,096 1,097 1,111 1,099 1,098 1,098 1,102 1,090 1,090 1,089 1,103 1,091 1,090 1,089 1,107 1,091 1,090 1,091 116,7 115,8 115,6 115,4 116,2 115,4 115,3 115,2 116,1 115,4 115,2 115,0 116,2 115,3 115,0 115,4 109,3 109,2 109,2 109,1 109,4 109,3 109,3 109,4 109,4 109,3 109,2 109,2 109,0 109,0 109,0 109,0 108,7 109,7 110,0 110,3 109,3 110,3 110,7 110,8 109,4 110,4 110,7 110,9 108,8 109,6 109,9 109,5 1,465 1,462 1,4520 1,4719 1,459 1,4714 1,471± 1,012 1,011 1,0000 1,0247 1,010 1,0096 1,019± 1,095 1,094 1,0910 1,1120 1,092 1,0987 1,101± 1,090 1,088 1,0840 1,1020 1,086 1,0987 1,101± 115,3 114,9 114,58 116,13 115,0 113,90 110,5± 109,0 109,1 109,28 109,11 109,1 113,90 110,5± 109,6 110,0 112,00 109,35 110,6 110,27 111,5± 75 0,7 0,7± 0,7 0,003 Conformação Eclipsada (λ=1) ** 0,006 0,003 0,003 Métodos CN BP86 cc-pVDZ 1,479 BP86 cc-pVTZ 1,478 BP86 cc-pVQZ 1,478 BP86 cc-pV5Z 1,477 B3P86/cc-pVDZ 1,463 B3P86/cc-pVTZ 1,463 B3P86/cc-pVQZ 1,461 B3P86/cc-pV5Z 1,460 B3LYP/cc-pVDZ 1,472 B3LYP/cc-pVTZ 1,472 B3LYP/cc-pVQZ 1,468 B3LYP/cc-pV5Z 1,470 CCSD(T) cc-pVDZ 1,476 CCSD(T) cc-pVTZ 1,473 CCSD(T) cc-pVQZ 1,469 CCSD(T) cc-pCVTZ (val.) 1,473 1,470 CCSD(T) cc-pCVTZ (full) 1,467 CCSD(T)-extrapolação cv BP86/6-311G(d) [77] 1,4798 Conformação Planar (λ=2) *** Métodos CN BP86 cc-pVDZ 1,437 BP86 cc-pVTZ 1,440 BP86 cc-pVQZ 1,440 BP86 cc-pV5Z 1,442 B3P86/cc-pVDZ 1,428 B3P86/cc-pVTZ 1,430 B3P86/cc-pVQZ 1,430 B3P86/cc-pV5Z 1,431 B3LYP/cc-pVDZ 1,435 B3LYP/cc-pVTZ 1,437 B3LYP/cc-pVQZ 1,438 B3LYP/cc-pV5Z 1,439 CCSD(T) cc-pVDZ 1,440 CCSD(T) cc-pVTZ 1,439 1,438 CCSD(T) cc-pCVTZ (val.) 1,436 CCSD(T) cc-pCVTZ (full) CCSD(T) cc-pVQZ 1,438 BP86/6-311G(d) [77] 1,441 NH 1,029 1,019 1,018 1,018 1,018 1,009 1,008 1,008 1,020 1,010 1,009 1,009 1,021 1,010 1,008 1,009 1,008 1,007 1,0214 CHa 1,115 1,103 1,101 1,101 1,104 1,093 1,092 1,092 1,106 1,093 1,092 1,092 1,107 1,092 1,091 1,091 1,090 1,090 1,1046 CH 1,112 1,101 1,010 1,099 1,103 1,092 1,091 1,091 1,104 1,092 1,091 1,090 1,108 1,092 1,091 1,092 1,091 1,090 1,1038 NCHa 110,8 110,7 110,6 110,6 111,0 110,9 110,9 110,9 111,0 110,8 110,9 110,7 111,4 110,9 110,8 110,9 111,0 110,8 110,7 NCH 112,8 112,2 112,1 112,0 112,6 112,1 112,0 112,0 112,5 112,0 112,0 111,8 111,9 111,7 111,7 111,7 111,7 111,7 112,4 CNH 109,2 110,4 110,8 111,1 110,0 111,1 111,5 111,8 110,0 111,1 111,6 111,8 110,0 110,6 111,1 110,6 110,7 111,1 110,3 NH 1,014 1,006 1,006 1,006 1,005 0,997 0,997 0,997 1,006 0,998 0,998 0,998 1,007 0,997 0,997 0,996 0,996 1,008 CHa 1,125 1,110 1,109 1,108 1,113 1,10 1,099 1,098 1,105 1,10 1,098 1,098 1,116 1,098 1,098 1,097 1,097 1,114 CH 1,113 1,101 1,101 1,100 1,103 1,092 1,091 1,091 1,115 1,092 1,091 1,091 1,108 1,092 1,092 1,091 1,091 1,104 NCHa 115,5 114,8 114,7 114,5 115,1 114,6 114,5 114,3 115,1 114,5 114,4 114,2 114,8 114,3 114,3 114,3 114,1 114,9 NCH 111,0 110,6 110,6 110,5 110,9 110,6 110,6 110,5 110,8 110,5 110,5 110,4 110,6 110,4 110,4 110,4 110,3 110,6 CNH 121,20 121,16 121,19 121,21 121.16 121,12 121,17 121,19 121,15 121,13 121,17 121,20 121,02 121,01 121,01 121,00 121,08 121,26 * Ha denota o H na posição anti-simétrica ao par isolado do nitrogênio. ** Ha denota o H na posição simétrica com relação ao par isolado do nitrogênio. *** Ha denota o H em posição ortogonal ao plano NH2. Nas três conformações da molécula metilamina, os grupos metila são assimétricos com relação à distância das ligações C−H, onde uma dessas ligações, CHa, é diferente das outras 76 duas. Na conformação estrelada, o Ha é antissimétrico ao par isolado do nitrogênio. Na conformação eclipsada, o Ha encontra-se na posição simétrica com relação ao par isolado do nitrogênio, e na conformação planar, Ha denota o hidrogênio em posição ortogonal ao plano NH2. Os valores de distância de ligação, de modo geral, diminuem conforme se aumenta o tamanho do conjunto de funções base. Os valores de distância de ligação C−N são subestimados pelos cálculos utilizando o método CCSD(T). Este parâmetro calculado pela estimativa de extrapolação caroço-valência, cv, é igual a 1,4621 Å, enquanto que o valor experimental é igual a 1,4714 Å [79], uma diferença de 0,009 Å. As estimativas de extrapolação devem fornecer os nossos melhores resultados, pois se trata da metodologia com maior correlação eletrônica, considerando também os efeitos de correlação caroço-valência. É interessante notar que, embora os cálculos CCSD(T) subestimem o parâmetro C−N em relação ao valor experimental, os métodos MP2/6-311+G [78] e CASSCF/6-31++G** [76] subestimam ainda mais estes valores, que são respectivamente iguais a 1,459 e 1,4520 Å Os resultados MP2/6-311+G [78], para a conformação eclipsada, são bastante próximos dos nossos valores CCSD(T) com extrapolação caroço-valência, sendo que a maior diferença entre estes valores se dá para a distância de ligação C−N, uma diferença de 3,1x10-3 Å. Deve-se notar que os valores obtidos com o método BP86, com as bases cc-pVTZ e cc-pVQZ, apresentam valores bastante próximos aos experimentais. O método B3P86 é aquele que mais subestima o valor da distância da ligação C−N, quando comparado ao valor experimental, a diferença é de cerca de 0,016 Å. O método B3LYP também subestima este valor por cerca de 0,008 Å. 77 De modo geral, a utilização destes métodos DFT para a otimização das geometrias moleculares apresenta ótimos resultados quando utilizados com as bases cc-pVTZ e ccpVQZ, onde já é observada a convergências dos valores dos parâmetros geométricos. Através dos resultados obtidos para a conformação estrelada da metilamina, que podem ser comparados a dados experimentais, acredita-se que os valores dos parâmetros geométricos devem representar satisfatoriamente os dois outros confôrmeros de transição, e conseqüentemente as barreiras de energia de rotação e inversão, com discutido a seguir. • Barreiras de energias de rotação interna e inversão As barreiras de energia dos movimentos internos das três aminas foram obtidas partindo-se da otimização de geometria B3LYP/cc-pVQZ, seguida por cálculos de energia single point CCSD(T). Apenas para a molécula metilamina foi possível obter valores das barreiras de energia diretamente da otimização de geometria CCSD(T). Desta maneira, foi feita uma comparação entre estes resultados, a fim de averiguar o desempenho das diferentes aproximações utilizadas. As energias CCSD(T) foram extrapoladas para o limite do conjunto base completo (CBS) utilizando o procedimento de extrapolação proposto por Halkier et alli [31], onde são utilizadas as bases cc-pVTZ e cc-pVQZ, e portanto, na equação n = 4, E (CBS ) = ( E (n) × n 3 ) − ( E (n − 1) × (n − 1) 3 ) n 3 − (n − 1) 3 (4.2.1a) 78 Outra extrapolação do conjunto base, utilizada na estimativa de barreiras de energia, considera a adição dos efeitos da extensão da base até cc-pVQZ e a correlação caroçovalência, com as bases cc-pCVTZ de Dunning [11], E (cv) ≈ E (CBS ) + E (cc − pCVTZ , full ) − E (cc − pCVTZ , valence) (4.2.1b) onde os valores de energia E (cv) podem ser chamados de “melhores valores estimados”. Os efeitos de correlação não-dinâmica na função de onda eletrônica da molécula metilamina foram estimados com o método CCSD e a base cc-pVQZ utilizando o diagnóstico de Lee e Taylor [24], conhecido como “τ1 diagnostic”, neste estudo τ1 é igual a 0,008. Geralmente, moléculas com valores de τ1 menores do que 0,020 são consideradas adequadas para serem apropriadamente descritas por métodos monoconfiguracionais como o método CCSD(T). Desta forma, este resultado indica que a função de onda eletrônica de CH3NH2 pode ser adequadamente determinada pelo método CCSD(T). Apenas para a molécula metilamina foi possível realizar as extrapolações dos conjuntos base com otimização de geometria utilizando o método CCSD(T). A Tabela 5 apresenta os resultados para as barreiras de energia da molécula metilamina utilizando as extrapolações dos conjuntos de funções base mencionados acima. Os cálculos realizados apenas com o método B3LYP/QZ, sem qualquer tipo de extrapolação, subestimam as barreiras de energia, principalmente para a barreira de inversão. Esta característica é notada também para os outros métodos DFT. Os valores calculados utilizando-se o método CCSD(T) para as duas barreiras de energia convergem para os valores experimentais conforme se aumenta o tamanho do conjunto de funções base. 79 Tabela 5: Barreiras de energia de rotação interna do grupo metila, e de inversão do grupo amina na molécula metilamina. Valores em kcal.mol−1. Metilamina *ΔE de rotação *ΔE de inversão do grupo metila do grupo amina B3LYP/cc-pVQZ 1,86 4,57 CCSD(T)/cc-pVTZ 2,10 (2,10) 6,109 (6,18) CCSD(T)/cc-pCVTZ valence 2,08 (2,08) 6,121 (6,19) CCSD(T)/cc-pCVTZ full 2,07 (2,07) 5,985 (6,04) CCSD(T)/cc-pVQZ 1,96 (1,95) 5,532 (5,56) CCSD(T)/CBS (Eq. 4.2.1a) 1,87 (1,84) 5,110 (5,11) CCSD(T)/cv (Eq. 4.2.1b) 1,86 (183) 4,974 (4,95) BP86/6-311+G(2df) [77] 1,967 4,852 MP2/6-311+G(2df,2pd) [78] 2,01 Exp. 1,956 [79] 4,826 [81] Exp. 2,053 [82] 5,555 [82] Método *Os valores entre parênteses referem-se ao cálculo realizado com otimização de geometria CCSD(T). Os valores entre parênteses na Tabela 5 referem-se aos cálculos de otimização de geometria com o método CCSD(T). É possível notar que os valores das barreiras de energia são bastante próximos quando se faz uso de um cálculo single point sobre a otimização B3LYP/QZ com relação à otimização CCSD(T), com diferença de, no máximo, 0,07 kcal.mol−1. Esta observação também se aplica quando se faz uso das extrapolações dos conjuntos de funções base. É possível ainda notar que os cálculos de otimização CCSD(T) com ambas extrapolações subestimam ainda mais os valores da barreira de rotação quando comparados aos valores experimentais. Os métodos de extrapolação fundamentados na geometria molecular obtida com o método B3LYP apresentaram ótimos resultados quando comparados aos valores extrapolados 80 calculados com a otimização CCSD(T), pois a geometria obtida com o método B3LYP/QZ é muito boa, enquanto que se pode ajustar de maneira eficiente a correção para energia utilizando-se um método mais rigoroso. As barreiras de rotação e inversão haviam sido investigadas previamente utilizando-se um cálculo BP86/6-311+G(2df) [77] e demonstram que esta metodologia também conduziu a resultados bem próximos aos resultados experimentais. Na Tabela 6, encontram-se também apresentados os valores dessas barreiras obtidos com os métodos B3LYP, B3P86 e BP86 e as diversas bases de correlação consistente de Dunning [11]. Os métodos da Teoria do Funcional da Densidade demonstram que, quando se aumenta o tamanho do conjunto de funções base para cc-pVQZ e cc-pV5Z, os valores das barreiras de energia diminuem continuamente distanciando-se dos valores experimentais, ou seja, estes métodos proporcionam resultados mais próximos aos valores experimentais com a base cc-pVTZ. Desta forma, de maneira geral, para a descrição das barreiras de energia, os melhores resultados DFT são aqueles obtidos com o conjunto base cc-pVTZ. Quando comparadas aos valores experimentais, as barreiras de energia calculadas com os métodos DFT e a base cc-pV5Z apresentam valores subestimados, principalmente para a barreira de inversão, onde a maior diferença com relação ao experimental é de 1,2 kcal.mol−1. 81 Tabela 6: Barreiras de energia de rotação interna do grupo metila, e de inversão do grupo amina na molécula metilamina calculadas com diferentes metodologias DFT. Valores em kcal.mol−1. ΔE de rotação do grupo ΔE de inversão metil do grupo amina BP86/cc-pVDZ 2,42 6,48 BP86/cc-pVTZ 1,96 5,21 BP86/cc-pVQZ 1,89 4,87 BP86/cc-pV5Z 1,85 4,65 B3P86/cc-pVDZ 2,40 6,09 B3P86/cc-pVTZ 1,95 4,84 B3P86/cc-pVQZ 1,89 4,55 B3P86/cc-pV5Z 1,86 4,36 B3LYP/cc-pVDZ 2,38 6,16 B3LYP/cc-pVTZ 1,93 4,89 B3LYP/cc-pVQZ 1,86 4,57 B3LYP/cc-pV5Z 1,82 4,35 Exp. 1,956 [79] 4,826 [81] Exp. 2,053 [82] 5,555 [82] Método Na Tabela 7 são apresentadas as freqüências vibracionais harmônicas calculadas para a conformação mais estável, conformação estrelada. Nesta Tabela, os métodos DFT são apresentados apenas com os valores utilizando-se a base cc-pVTZ, pois de modo geral, quando comparados aos valores experimentais, os resultados com a base cc-pVTZ são bastante satisfatórios. 82 Tabela 7: Freqüências vibracionais harmônicas, em cm−1, da conformação estrelada da molécula metilamina. cc-pVTZ cc-pCVTZ BP86 CCSD(T) cc-pVQZ CCSD(T) CCSD(T) Exp. CCSD(T) [81] valência full B3LYP B3P86 NH2 wag. 843 841 824 860 862 863 857 780 CN str. 1053 1077 1027 1069 1067 1071 1071 1044 CH3 rock 1173 1172 1138 1183 1184 1186 1183 1130 CH3 s-def. 1459 1452 1406 1458 1458 1460 1461 1430 CH3 d-def. 1498 1492 1447 1509 1509 1511 1510 1474 NH2 sci. 1665 1660 1613 1665 1665 1667 1667 1623 CH3 s-str. 2960 2979 2881 2999 2999 3005 3003 2820 CH3 d-str. 3053 3073 2982 3081 3081 3087 3085 2962 NH2 s-str. 3492 3520 3392 3505 3503 3509 3511 3360 Torsion 303 304 299 303 305 306 303 264 CH3 rock 977 974 948 975 976 978 976 972 NH2 twist. 1350 1348 1310 1357 1358 1360 1356 1335 CH3 d-def. 1519 1513 1469 1526 1526 1528 1526 1485 CH3 d-str. 3087 3110 3019 3112 3113 3120 3119 2985 NH2 a-str 3567 3600 3469 3591 3587 3593 3595 3424 A’ A´´ O método da Teoria do Funcional da Densidade BP86 apresenta os menores valores para todos os modos de freqüências vibracionais harmônicas, e são mais próximos aos valores experimentais, com exceção para o modo de vibração CH3 rock, onde os valores B3P86 e B3LYP para este modo vibracional é praticamente o mesmo que o resultado experimental. Utilizando o método BP86, as diferenças entre os valores experimental e teórico variam de 7 cm−1, para a vibração CN str., a 66 cm−1 para a vibração CH3 s-str.. Utilizando-se o método CCSD(T) estimou-se também o efeito da correlação dos elétrons do “caroço” no cálculo das freqüências vibracionais com o conjunto de funções base 83 cc-pCVTZ, e analisando os resultados obtidos com os conjuntos de funções base cc-pVTZ, cc-pVCTZ core e full, e cc-pVQZ, observa-se que os valores de freqüências vibracionais não se alteram significativamente com a mudança dos conjuntos base. Cálculos de parâmetros geométricos e de energias relativas foram realizados utilizando-se o método CCSD(T) e uma extrapolação do conjunto de funções base, desta forma uma avaliação sistemática dos métodos DFT com diferentes conjuntos de função base foi realizada, observando que os métodos da Teoria do Funcional da Densidade apresentaram resultados bastante satisfatórios com uma base média como cc-pVTZ. Este estudo confirma que os métodos DFT são bastante adequados para ser utilizada tanto para o cálculo de parâmetros geométricos como para cálculos de freqüências vibracionais de moléculas poliatômicas, o que está em acordo com o trabalho de Csonka et alli [77]. Entretanto, para as barreiras de energia de rotação interna e inversão da molécula metilamina, os métodos DFT não apresentam resultados satisfatórios quando aumentamos o tamanho do conjunto de funções base até cc-pV5Z, pois os resultados se distanciam dos valores experimentais, concluindo-se que, de modo geral, os valores mais próximos ao experimental para as barreiras de energia são aqueles calculados com o conjunto de funções base cc-pVTZ. Desta maneira, sabendo que o custo computacional seria extremamente dispendioso, a otimização de geometria e freqüências vibracionais não foram obtidos com o método CCSD(T) para as moléculas dimetilamina e trimetilamina. Para estas moléculas realizou-se estudo com os três métodos da Teoria do Funcional da Densidade, B3LYP, B3P86 e BP86, que comparativamente oferecem bons resultados para as propriedades calculadas, utilizando as bases de correlação consistente de Dunning [11], e as extrapolações dos conjuntos base. Para as barreiras de rotação e inversão das moléculas dimetilamina e trimetilamina, utilizando as geometrias otimizadas com o método B3LYP e o conjunto base cc-pVQZ, 84 cálculos single point foram realizados com o método CCSD(T) com vários conjuntos bases, permitindo utilizar métodos de extrapolação e também estimar os efeitos da correlação caroço-valência. 4.2.2 - Dimetilamina • Otimização das geometrias moleculares A molécula dimetilamina ((CH3)2NH) é um exemplo de molécula não-rígida devido a quatro modos de vibração de grande amplitude. Essas vibrações correspondem à rotação interna do grupo metila, à inversão do nitrogênio do grupo amina e ao modo de vibração da torsão CNC [14]. A molécula dimetilamina já foi caracterizada por espectroscopia de microondas [83], por espectroscopia Raman e infravermelho [84,85] e por espectroscopia óptica para investigar a perturbação dos níveis de energia devido à interação torsão-rotação [86,87]. Há alguns estudos teóricos sobre dimetilamina na literatura, com relação à sua estrutura, à barreira de inversão e freqüências torsionais da molécula [14,88-90]. Nestes estudos, foram utilizados os métodos MP2 e MP4. Até onde sabemos, o espectro vibracional puro desta molécula não foi completamente elucidado como o foi para a molécula metilamina [81]. No estudo sobre freqüências vibracionais realizado por Steele et alli [91], utilizando a técnica de King e Crawford [92], são assinaladas 17 freqüências vibracionais, enquanto que no presente estudo obteve-se um total de 24 freqüências vibracionais harmônicas. O estudo de absorção no infravermelho realizado por Stewart [93] para caracterização do espectro vibracional de aminas também não assinala todas as freqüências vibracionais para dimetilamina. 85 Neste estudo, caracterizou-se três confôrmeros da molécula dimetilamina, a conformação do estado fundamental, a conformação do estado de transição para rotação de um grupo metila e a conformação de transição para inversão do grupo amina. Estas conformações estão ilustradas na Figura 10 A estrutura do estado fundamental é denotada como conformação eclipsada, visto que os átomos de hidrogênio dos grupos metila se sobrepõem, Figura 10. A estrutura do estado de transição para rotação do grupo metila é denotada como conformação estrelada, pois os átomos de hidrogênio-metila não se sobrepõem. E a estrutura do estado de transição para inversão do grupo amina é denotada como conformação planar, pois os átomos H(10)-C-NH(1)-C-H(5) estão contidos no mesmo plano. Analogamente à molécula metilamina, a inversão do grupo amina leva a um grande desdobramento dos níveis rotacionais [83]. Essa inversão pode ser entendida como um tunelamento do hidrogênio amino entre posições energeticamente equivalentes, uma de cada lado do plano CNC. O estado de transição para essa inversão, caracterizado por uma freqüência imaginária, tem uma estrutura em que o hidrogênio do grupo amina forma um plano com o grupo CNC. Na estrutura da conformação estrelada, um grupo metila sofre uma rotação de cerca de 60°, esta estrutura é caracterizada por uma freqüência imaginária, assim como a conformação planar. Observa-se que na estrutura de transição para inversão do grupo amina (conformação planar), os átomos H(10)-C-N-C-H(5) são coplanares com o hidrogênio H(1) do grupo amina, já para a estrutura fundamental este hidrogênio forma um ângulo θ de 54,6° [83] com o plano H(10)-C-N-C-H(5). Os valores do ângulo θ calculados pelos métodos DFT neste trabalho têm seus valores listados na Tabela 8 e podem ser comparados ao valor obtido experimentalmente. 86 Figura 10: Ilustração das conformações da molécula dimetilamina. Conformação eclipsada – fundamental Conformação estrelada – rotação CH3 Conformação planar – inversão NH Tabela 8: Valores do ângulo θ, formado entre o hidrogênio do grupo amina e o plano H(10)- C-N-C-H(5), na molécula dimetilamina Métodos BP86 BP86 B3P86 B3P86 B3LYP B3LYP Exp. [83] cc-pVTZ cc-pVQZ cc-pVTZ cc-pVQZ cc-pVTZ cc-pVQZ θ 54,6° 54,2° 53,8° 53,8° 53,7° 53,4° 54,6° De maneira geral, todos os métodos descrevem de maneira apropriada este ângulo, sendo que o valor mais coincidente com o experimental foi calculado com o método BP86. A seguir, são descritas as geometrias de equilíbrio, as freqüências vibracionais do estado fundamental e as barreiras de energia para rotação de um grupo metila e para a 87 inversão do grupo amina da molécula dimetilamina. A barreira para inversão é cerca de 1,5 kcal.mol−1 mais alta do que a barreira para a rotação. As Tabelas 9 e 10 apresentam os resultados dos parâmetros geométricos obtidos com o método BP86, juntamente com os valores experimentais, obtidos através da técnica de espectroscopia de micro-ondas [83]. As Tabelas 11 a 14 apresentam estes resultados obtidos com os métodos B3P86 e B3LYP. A estrutura molecular do estado fundamental obtida a partir do espectro de microondas revela dois tipos de ligações C−H não-equivalentes, as ligações C−H existentes no plano CNC são cerca de 0,0015 Å mais curtas que as outras ligações, enquanto que os cálculos teóricos indicam uma estrutura em que há três valores diferentes de distâncias das ligações C−H, onde o menor valor para a distância C−H corresponde à ligação formada no plano CNC. Os três métodos DFT utilizados sobre-estimam as distâncias de ligação C−H. Comparando-se os valores das distâncias de ligação N−H e C−N, os melhores resultados foram obtidos com o método BP86. Os métodos B3LYP e B3P86 subestimam os valores destas ligações, enquanto que o método BP86 com os conjuntos de funções base cc-pVTZ e cc-pVQZ fornecem valores muito próximos aos experimentais. De maneira geral, os ângulos de ligação calculados teoricamente têm valores com ótima concordância aos valores experimentais. 88 Tabela 9: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula dimetilamina otimizados com o método BP86. Distâncias de ligação em Ǻ, ângulos em graus. Conformação eclipsada (Cs) Parâmetros geométricos R (H1-N2) R (N2-C3) R (N2-C7) R (C3-H6) R (C7-H9) R (C3-H4) R (C7-H8) R (C3-H5) R (C7-H10) A(C3,N2,C7) A(N2,C7,H8) A(N2,C3,H4) A(H1,N2,C7) A(H1,N2,C3) A(N2,C3,H5) A(N2,C7,H10) A(N2,C3,H6) A(N2,C7,H9) A(H4,C3,H5) A(H8,C7,H10) A(H4,C3,H6) A(H8,C7,H9) A(H5,C3,H6) A(H9,C7,H10) |D(1,2,3,4)| |D(1,2,7,8)| |D(1,2,3,5)| |D(1,2,7,10)| BP86 cc-pVDZ BP86 cc-pVTZ BP86 cc-pVQZ BP86 cc-pV5Z Exp. [83] 1,030 1,021 1,020 1,020 1,019 ±0,007 1,462 1,461 1,460 1,460 1,462 ±0,005 1,124 1,112 1,111 1,111 1,098 ±0,004 1,112 1,101 1,100 1,100 1,084 ±0,005 1,110 1,099 1,098 1,098 1,098 ±0,004 112,26 112,58 112,72 112,82 112,2 ±0,2 109,4 109,3 109,3 109,3 108,2 ±0,3 108,5 109,2 109,4 109,6 108,9 ±0,3 109,9 109,8 109,8 109,8 109,7 ±0,3 114,9 114,3 114,2 114,1 113,8 ±0,3 107,6 107,6 107,6 107,6 109,0 ±0,2 106,9 107,3 107,4 107,4 107,2 ±0,3 108,1 108,3 108,3 108,3 109,0 ±0,2 174,0 172,4 172,0 171,7 56,4 54,6 54,2 53,8 54,6 ±0,4 89 Tabela 10: Parâmetros geométricos para as conformações planar (inversão NH) e estrelada (rotação CH3) de dimetilamina otimizados com o método BP86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação planar Parâmetros geométricos R (H1-N2) R (N2-C3) R (N2-C7) R (C3-H6) R (C7-H9) R (C3-H4) R (C7-H8) R (C3-H5) R (C7-H10) A(C3,N2,C7) A(N2,C7,H8) A(N2,C3,H4) A(H1,N2,C7) A(H1,N2,C3) A(N2,C3,H5) A(N2,C7,H10) A(N2,C3,H6) A(N2,C7,H9) A(H4,C3,H5) A(H8,C7,H10) A(H4,C3,H6) A(H8,C7,H9) A(H5,C3,H6) A(H9,C7,H10) |D(1,2,3,4)| |D(1,2,7,8)| |D(1,2,3,5)| |D(1,2,7,10)| BP86 VDZ BP86 VTZ BP86 VQZ BP86 V5Z Conformação estrelada Parâmetros BP86 BP86 BP86 VDZ VTZ VQZ geométricos 1,014 1,006 1,006 1,006 R (H1-N2) 1,027 1,018 1,018 1,435 1,435 1,435 1,436 R (N2-C3) 1,473 1,472 1,471 1,123 1,110 1,110 1,109 R (N2-C7) 1,462 1,461 1,460 1,123 1,110 1,110 1,109 R (C3-H5) R (C3-H6) 1,114 1,102 1,102 1,109 1,098 1,098 1,098 R (C3-H4) 1,113 1,102 1,101 120,7 120,6 120,5 120,4 R (C7-H8) 1,112 1,101 1,100 113,0 112,8 112,7 112,5 R (C7-H9) 1,124 1,112 1,111 119,6 119,7 119,7 119,8 R (C7-H10) 1,110 1,099 1,099 110,0 109,9 109,9 109,8 (C3,N2,C7) 114,1 114,3 114,5 113,0 112,8 112,7 112,5 (H1,N2,C7) 108,6 109,3 109,6 107,0 107,2 107,3 107,4 (H1,N2,C3) 109,0 109,7 110,0 106,3 106,7 106,8 106,9 D(7,2,3,4) 5,2 5,0 4,8 107,0 107,2 107,3 107,4 D(3,2,7,10) 176,3 176,2 176,3 119,6 119,5 119,5 119,6 0,0 0,0 0,0 0,0 90 Tabela 11: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula dimetilamina otimizados com o método B3P86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. Parâmetros geométricos R (H1-N2) R (N2-C3) R (N2-C7) R (C3-H6) R (C7-H9) R (C3-H4) R (C7-H8) R (C3-H5) R (C7-H10) A(C3,N2,C7) A(N2,C7,H8) A(N2,C3,H4) A(H1,N2,C7) A(H1,N2,C3) A(N2,C3,H5) A(N2,C7,H10) A(N2,C3,H6) A(N2,C7,H9) A(H4,C3,H5) A(H8,C7,H10) A(H4,C3,H6) A(H8,C7,H9) A(H5,C3,H6) A(H9,C7,H10) |D(1,2,3,4)| |D(1,2,7,8)| |D(1,2,3,5)| |D(1,2,7,10)| Conformação eclipsada B3P86 B3P86 B3P86 B3P86 cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ cc-pV5Z 1,019 1,011 1,010 1,010 1,448 1,447 1,446 1,446 1,113 1,102 1,101 1,101 1,103 1,092 1,092 1,092 1,100 1,090 1,090 1,089 112,6 112,8 112,9 113,0 109,5 109,4 109,4 109,4 109,0 109,8 109,9 110,0 110,0 110,0 110,0 110,0 114,6 114,1 114,0 114,0 107,3 107,5 107,5 107,6 107,0 107,3 107,4 107,4 108,1 108,3 108,3 108,3 173,4 171,8 171,7 171,5 55,7 54,0 53,8 53,6 91 Tabela 12: Parâmetros geométricos para as conformações planar (inversão NH) e estrelada (rotação CH3) de dimetilamina otimizados com o método B3P86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação planar Parâmetros geométricos R (H1-N2) R (N2-C3) R (N2-C7) R (C3-H6) R (C7-H9) R (C3-H4) R (C7-H8) R (C3-H5) R (C7-H10) A(C3,N2,C7) A(N2,C7,H8) A(N2,C3,H4) A(H1,N2,C7) A(H1,N2,C3) A(N2,C3,H5) A(N2,C7,H10) A(N2,C3,H6) A(N2,C7,H9) A(H4,C3,H5) A(H8,C7,H10) A(H4,C3,H6) A(H8,C7,H9) A(H5,C3,H6) A(H9,C7,H10) |D(1,2,3,4)| |D(1,2,7,8)| |D(1,2,3,5)| |D(1,2,7,10)| B3P86 VDZ B3P86 VTZ B3P86 VQZ B3P86 V5Z Conformação estrelada Parâmetros B3P86 B3P86 B3P86 VDZ VTZ VQZ geométricos 1,004 0,997 0,997 0,997 R (H1-N2) 1,016 1,008 1,007 1,425 1,424 1,424 1,424 R (N2-C3) 1,458 1,456 1,455 1,112 1,100 1,010 1,099 R (N2-C7) 1,448 1,446 1,446 1,112 1,100 1,010 1,099 R (C3-H5) R (C3-H6) 1,104 1,093 1,093 1,010 1,010 1,089 1,089 R (C3-H4) 1,103 1,093 1,092 120,6 120,4 120,4 120,3 R (C7-H8) 1,102 1,092 1,091 112,9 112,6 112,6 112,5 R (C7-H9) 1,113 1,102 1,101 119,7 119,8 119,8 119,8 R (C7-H10) 1,101 1,091 1,090 110,0 110,0 110,0 110,0 (C3,N2,C7) 114,4 114,7 114,8 112,9 112,6 112,6 112,5 (H1,N2,C7) 109,2 109,9 110,2 107,1 107,2 107,3 107,3 (H1,N2,C3) 109,6 110,4 110,6 106,5 106,8 106,9 107,0 D(7,2,3,4) 4,4 4,2 4,1 107,1 107,2 107,3 107,3 D(3,2,7,10) 176,9 176,8 176,9 119,5 119,5 119,5 119,6 0,0 0,0 0,0 0,0 92 Tabela 13: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula dimetilamina otimizados com o método B3LYP. Distâncias de ligação em angstrons, e ângulos de ligação em graus. Conformação eclipsada Parâmetros geométricos R (H1-N2) R (N2-C3) R (N2-C7) R (C3-H6) R (C7-H9) R (C3-H4) R (C7-H8) R (C3-H5) R (C7-H10) A(C3,N2,C7) A(N2,C7,H8) A(N2,C3,H4) A(H1,N2,C7) A(H1,N2,C3) A(N2,C3,H5) A(N2,C7,H10) A(N2,C3,H6) A(N2,C7,H9) A(H4,C3,H5) A(H8,C7,H10) A(H4,C3,H6) A(H8,C7,H9) A(H5,C3,H6) A(H9,C7,H10) |D(1,2,3,4)| |D(1,2,7,8)| |D(1,2,3,5)| |D(1,2,7,10)| B3LYP cc-pVDZ B3LYP cc-pVTZ B3LYP cc-pVQZ B3LYP cc-pV5Z 1,021 1,012 1,011 1,011 1,455 1,455 1,454 1,454 1,115 1,102 1,101 1,101 1,104 1,092 1,091 1,091 1,102 1,090 1,089 1,089 112,8 113,2 113,3 113,4 109,5 109,5 109,5 109,5 109,0 109,7 109,9 110,0 109,9 109,8 109,8 109,8 114,6 114,1 114,0 113,9 107,4 107,6 107,6 107,7 107,1 107,4 107,5 107,5 108,1 108,3 108,3 108,3 173,4 171,6 171,3 171,2 55,6 53,7 53,4 53,2 93 Tabela 14: Parâmetros geométricos para as conformações planar (inversão NH) e estrelada (rotação CH3), de dimetilamina otimizados com o método B3P86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação planar Parâmetros geométricos R (H1-N2) R (N2-C3) R (N2-C7) R (C3-H6) R (C7-H9) R (C3-H4) R (C7-H8) R (C3-H5) R (C7-H10) A(C3,N2,C7) A(N2,C7,H8) A(N2,C3,H4) A(H1,N2,C7) A(H1,N2,C3) A(N2,C3,H5) A(N2,C7,H10) A(N2,C3,H6) A(N2,C7,H9) A(H4,C3,H5) A(H8,C7,H10) A(H4,C3,H6) A(H8,C7,H9) A(H5,C3,H6) A(H9,C7,H10) |D(1,2,3,4)| |D(1,2,7,8)| |D(1,2,3,5)| |D(1,2,7,10)| Conformação estrelada Parâmetros B3LYP B3LYP B3LYP B3LYP B3LYP B3LYP B3LYP VDZ VTZ VQZ VDZ VTZ VQZ V5Z geométricos 1,006 0,998 0,997 0,997 R (1-2) 1,018 1,009 1,008 1,431 1,431 1,431 1,432 R (2-3) 1,466 1,465 1,464 1,113 1,100 1,100 1,099 R (2-7) 1,455 1,454 1,454 1,113 1,100 1,100 1,099 R (3-5) R (3-6) 1,106 1,093 1,093 1,101 1,089 1,089 1,089 R (3-4) 1,104 1,092 1,092 120,7 120,7 120,6 120,6 R (7-8) 1,104 1,092 1,091 112,9 112,6 112,5 112,4 R (7-9) 1,115 1,102 1,101 119,6 119,6 119,7 119,7 R (7-10) 1,102 1,090 1,090 110,0 109,9 109,9 109,9 A(3,2,7) 114,6 115,0 115,1 112,9 112,6 112,5 112,4 A(1,2,7) 109,1 109,8 110,1 107,1 107,3 107,3 107,4 A(1,2,3) 109,5 110,3 110,5 106,5 106,8 107,0 107,0 D(7,2,3,4) 4,5 4,4 4,3 107,1 107,3 107,3 107,4 D(3,2,7,10) 176,8 176,7 176,7 119,6 119,5 119,5 119,6 0,0 0,0 0,0 0,0 94 • Barreiras de energias de rotação interna e inversão Da mesma maneira como foi realizado para a molécula metilamina, as barreiras de energia para movimentos internos foram estimadas realizando-se cálculos de extrapolação, onde utilizou-se a otimização de geometria B3LYP/cc-pVQZ e cálculos single point CCSD(T), seguidos das extrapolação dos conjuntos de funções base, como descrito pelas expressões (4.2.1a) e (4.2.1b). Tabela 15: Barreiras de energia para rotação interna do grupo metila e de inversão do grupo NH na molécula dimetilamina. Valores em kcal.mol−1. Dimetilamina Método ΔE de rotação do grupo CH3 ΔE de inversão do grupo NH B3LYP/cc-pVQZ 2,99 4,23 CCSD(T)/cc-pVTZ 3,20 6,14 CCSD(T)/cc-pCVTZ valence 3,20 6,14 CCSD(T)/cc-pCVTZ full 3,20 6,01 CCSD(T)/cc-pVQZ 3,15 5,62 CCSD(T)/CBS 3,11 5,25 CCSD(T)/cv 3,11 5,12 Exp. 3,029 [84] 3,013 [85] 4,4 ± 1 [83] Como já discutido para metilamina, o aumento do conjunto base e a inclusão da correlação do caroço reduzem os valores das barreiras de energia. A inclusão da correlação do caroço é mais importante na estimativa da barreira de inversão. Nossos resultados, incluindo a extrapolação CBS e a correlação do caroço, cv, indicam uma barreira de rotação interna igual a 3,11 kcal.mol−1, em boa concordância com os resultados dos espectros Raman e infravermelho, respectivamente iguais a 3,029 kcal.mol−1 [84] e 3,013 kcal.mol−1 [85]. O 95 resultado teórico MP2/6-31G(df,p) calculado previamente para a barreira de rotação é igual a 3,434 kcal.mol−1 [88]. O melhor resultado estimado, CCSD(T)/cv, para a barreira de inversão, é igual a 5,12 kcal.mol−1, o qual é significativamente maior que o resultado experimental obtido a partir do espectro de microondas, 4,4 ± 1 kcal.mol−1 [83], porém é importante ressaltar que o valor experimental para esta propriedade tem uma incerteza bastante alta. Estudos teóricos utilizando os métodos MP2/6-31G(d,p) e MP4/6-31G(d,p)//MP2/6-31G(d,p) resultaram em valores respectivamente iguais a 6,599 and 6,294 kcal.mol−1 [89]. A seguir, na Tabela 16, são apresentados os resultados de barreiras de energia obtidos com diferentes métodos DFT e diferentes conjuntos de funções base. Tabela 16: Barreiras de energia para rotação interna do grupo metila e de inversão do grupo NH na molécula dimetilamina calculadas com métodos DFT. Valores em kcal.mol−1. ΔE de rotação ΔE de inversão do grupo CH3 do grupo NH BP86/cc-pVDZ 3,41 5,53 BP86/cc-pVTZ 3,04 4,68 BP86/cc-pVQZ 2,99 4,42 B3P86/cc-pVDZ 3,37 5,36 B3P86/cc-pVTZ 3,04 4,51 B3P86/cc-pVQZ 3,00 4,26 B3LYP/cc-pVDZ 3,37 5,36 B3LYP/cc-pVTZ 3,03 4,48 B3LYP/cc-pVQZ 2,99 4,23 Exp. 3,029 [84] 4,4 ± 1 [83] Método 3,013 [85] Os resultados para as barreiras de rotação e de inversão da molécula dimetilamina podem ser comparados aos valores experimentais, e de maneira geral todos cálculos DFT 96 forneceram excelentes resultados. Ao comparar os valores para a barreira de rotação, observase que os valores cc-pVTZ apresentam erro de apenas 0,4% a 0,9% com relação aos valores experimentais, e que são coincidentes, 3,04 kcal.mol−1, utilizando-se qualquer dos métodos DFT. Assim como obtido para metilamina, observa-se que o aumento do conjunto base proporciona uma diminuição da barreira de energia, principalmente para a barreira de inversão, o que demonstra que o cálculos DFT ainda não convergem com a base cc-pVQZ, e que, à medida que se aumenta o conjunto base o valor da barreira de energia diminui gradativamente. Na Tabela 17 encontram-se apresentados os valores calculados para freqüências vibracionais harmônicas do estado fundamental da molécula dimetilamina juntamente com os modos de atribuição experimentais [91]. Tabela 17: Freqüências vibracionais para a estrutura fundamental da molécula dimetilamina. Valores em cm−1. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=T,Q) Modos de vibração observados experimentais [91] A’ CH3 twist. 250 A” CH3 twist. 290 A’ C2N def. 397 A’ NH def. 724 A’ CN str. 930 A” CN str. 1024 A" CH3 def. 1078 A’ . CH3 def. 1155 A" CH3 def. A’ CH3 def. 1245 A" CH3 def. A’ CH3 def. 1404 A" CH3 def. A" CH3 def. A’ CH3 def. 1466 A’ CH3 def. A" CH3 def. 1496 A" CH str. BP86 VTZ 229 251 366 749 920 998 1062 1143 1130 1226 1387 1414 1423 1435 1441 1467 1467 2839 BP86 VQZ 230 251 367 745 919 999 1063 1143 1132 1225 1388 1414 1423 1435 1441 1466 1467 2840 B3P86 VTZ 230 256 377 769 956 1032 1100 1184 1189 1266 1433 1461 1469 1481 1487 1512 1514 2937 B3P86 VQZ 232 258 378 767 956 1032 1101 1184 1190 1266 1434 1461 1470 1481 1488 1511 1514 2939 B3LYP VTZ 230 258 381 766 939 1036 1100 1187 1166 1268 1442 1469 1477 1488 1469 1518 1519 2921 B3LYP VQZ 230 258 381 761 938 1036 1101 1187 1167 1267 1443 1470 1477 1488 1495 1517 1518 2923 97 A’ A’ A" A’ A" A’ CH str. CH str. CH str. CH str. CH str. NH str. 2802 2855 2912 2967 3355 2842 2969 2971 3021 3021 3422 2843 2968 2970 3021 3021 3422 2940 3057 3059 3110 3109 3553 2941 3056 3058 3109 3109 3550 2925 3041 3041 3088 3088 3523 2927 3041 3042 3089 3089 3524 As freqüências vibracionais harmônicas foram atribuídas partindo-se das freqüências fundamentais observadas em fase gasosa [91]. Como esta molécula tem uma estrutura nãorígida, pelo espectro Raman e infravermelho foi possível observar 17 bandas, enquanto que o presente estudo evidencia todos os 24 modos de vibração. Comparando-se os resultados entre os três métodos DFT utilizados, o método BP86 fornece valores bem menores de freqüências vibracionais harmônicas. 4.2.3 - Trimetilamina • Otimização das geometrias moleculares A estrutura mais estável da molécula trimetilamina ((CH3)3N) pode ser classificada de acordo com o grupo de ponto de simetria C3v. Os resultados obtidos neste estudo e em trabalhos prévios, teóricos [94,95] e experimentais [96-98], indicam que os grupos metila na molécula trimetilamina são assimétricos com relação às distâncias de ligação CH. A molécula trimetilamina exibe a maior diferença conhecida nas distâncias de ligação C−H. Esta diferença incomum é atribuída ao efeito do par isolado trans, lone pair trans effect, pois as distâncias de ligação CH mais alongadas, ou mais fracas, ocorrem para os átomos de hidrogênio que estão em posição trans ao par isolado do nitrogênio. Esse efeito tem sido objeto de interesse de vários estudos [97-100]. 98 Analogamente ao estudo realizado com as moléculas metilamina e dimetilamina, três confôrmeros foram caracterizados para a molécula trimetilamina. Um confôrmero é o estado fundamental da molécula, os outros dois são estados de transição, um deles é o estado de transição para inversão do nitrogênio e o outro é o estado de transição para rotação de um grupo metila nesta molécula. Figura 11: Ilustração das conformações da molécula trimetilamina. Conformação eclipsada – fundamental Conformação estrelada – rotação CH3 Conformação planar – inversão A estrutura do estado fundamental para a trimetilamina, Figura 11, pode ser denominada de conformação eclipsada, pois uma visão lateral da estrutura molecular nos mostra que os grupos metila sempre se sobrepõem um ao outro. A estrutura de transição para rotação de um grupo metila corresponde a uma rotação de cerca de 60° de um grupo CH3. De 99 acordo com a Figura 11, a rotação ocorre no grupo metila do carbono C(2). Esta conformação será denotada como estrelada, pois uma visão lateral demonstra que as estruturas dos grupos metila não se sobrepõem. A estrutura de transição para inversão do nitrogênio será denotada como conformação planar, pois nesta estrutura, o nitrogênio se encontra no mesmo plano que os três átomos de carbono. No estudo realizado sobre a molécula metilamina, cálculos de otimização de geometria e de energias relativas foram feitos utilizando-se os métodos CCSD(T) e DFT, seguidos de extrapolações do conjunto de funções base, e foi observado que os métodos DFT apresentaram resultados bastante satisfatórios com uma base média como cc-pVTZ. Métodos da Teoria do Funcional da Densidade possuem a vantagem de serem significativamente mais baratos do ponto de vista computacional, desta maneira, para as moléculas maiores, como dimetilamina e trimetilamina, optou-se por realizar cálculos de otimização de geometria DFT, seguidos de extrapolações para os valores de energia. As Tabelas 18 a 20 apresentam valores de parâmetros geométricos para a conformação mais estável desta molécula (eclipsada), empregando-se os métodos BP86, B3P86 e B3LYP, respectivamente. As Tabelas 21 a 23 apresentam valores de parâmetros geométricos para o estado de transição para rotação de um grupo metila (estrelada); e as Tabelas 24 a 26 apresentam estes valores obtidos para a estrutura de transição para inversão do nitrogênio, conformação planar. 100 Tabela 18: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula trimetilamina calculados com o método BP86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação eclipsada Parâmetros geométricos BP86 VDZ BP86 VTZ BP86 VQZ BP86 V5Z Exp. [101] R(1,2); R(1,3); R(1,4) 1,459 1,458 1,457 1,457 1,451 ±0,003 R(2,6); R(2,7); R(3,9) R(3,10); R(4,12); R(4,13) 1,110 1,010 1,099 1,099 1,088 ±0,008 R(2,5); R(3,8); R(4,11) 1,126 1,115 1,114 1,114 1,109 ±0,008 A(2,1,3); A(2,1,4); A(3,1,4) 111,1 111,3 111,4 111,4 110,9 ±0,6 A(1,2,5); A(1,3,8); A(1,4,11) 113,4 113,0 113,0 113,0 111,7 ±0,4 A(6,2,7); A(9,3,10); A(12,4,13) 108,0 108,2 108,2 108,2 108,6 ±0,8 A(1,2,6); A(1,2,7); A(1,3,9) A(1,3,10); A(1,4,12); (1,4,13) 109,9 109,8 109,8 109,8 110,1 ±0,5 A(5,2,6); A(5,2,7); A(8,3,9) A(8,3,10); A(11,4,12); A(11,4,13) 107,7 107,9 108,0 108,0 108,1 ±0,7 Tabela 19: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula trimetilamina calculados com o método B3P86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação eclipsada B3P86 B3P86 B3P86 B3P86 cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ cc-pV5Z 1,446 1,444 1,443 1,443 1,101 1,091 1,090 1,090 R(2,5); R(3,8); R(4,11) 1,116 1,105 1,104 1,104 A(2,1,3); A(2,1,4); A(3,1,4) 111,3 111,5 111,5 111,5 A(1,2,5); A(1,3,8); A(1,4,11) 113,2 112,9 112,8 112,8 A(6,2,7); A(9,3,10); A(12,4,13) 108,0 108,1 108,1 108,1 110,0 110,0 109,9 109,9 Parâmetros geométricos R(1,2); R(1,3); R(1,4) R(2,6); R(2,7); R(3,9) R(3,10); R(4,12); R(4,13) A(1,2,6); A(1,2,7); A(1,3,9) A(1,3,10); A(1,4,12); (1,4,13) 101 A(5,2,6); A(5,2,7); A(8,3,9) A(8,3,10); A(11,4,12); A(11,4,13) 107,8 107,9 107,9 107,9 Para a estrutura fundamental da molécula trimetilamina, pertencente ao grupo de ponto de simetria C3v, observa-se que quando se aumenta o tamanho do conjunto de funções base, os valores de distância de ligação diminuem, como esperado. Essa diminuição nos valores é bem maior quando se aumenta o conjunto base de cc-pVDZ a cc-pVTZ, sendo cerca de 0,1% para o parâmetro C−N, e cerca de 1% para as ligações C−H. É importante notar que os valores para os parâmetros geométricos convergem com a base cc-pVTZ, pois a variação nestes valores quando se utiliza os conjuntos base cc-pVQZ e cc-pV5Z é pequena, cerca de 0,05%. Os cálculos realizados utilizando os métodos BP86 e B3P86 resultam em valores idênticos de parâmetros geométricos quando se altera a base de cc-pVQZ para cc-pV5Z. A estrutura de transição para a rotação do grupo metila, pertencente ao grupo de ponto de simetria Cs, é caracterizada por distâncias de ligação C−N distintas, ou seja, para o grupo metila que sofre a rotação, a ligação C−N tem um valor maior que as outras duas ligações C−N, sendo a diferença nos valores destas ligações cerca de 0,014 Å com os três métodos DFT utilizados. Na estrutura de transição, as ligações C−H, que são equivalentes na estrutura fundamental, tornam-se não-equivalentes para esta estrutura, e os ângulos de ligação também. 102 Tabela 20: Parâmetros geométricos da conformação fundamental (eclipsada) da molécula trimetilamina calculados com o método B3LYP. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação eclipsada B3LYP B3LYP B3LYP B3LYP cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ cc-pV5Z 1,453 1,452 1,451 1,451 1,102 1,091 1,090 1,090 R(2,5); R(3,8); R(4,11) 1,117 1,105 1,104 1,104 A(2,1,3); A(2,1,4); A(3,1,4) 111,5 111,8 111,8 111,8 A(1,2,5); A(1,3,8); A(1,4,11) 113,3 113,0 112,9 112,8 108,0 108,1 108,1 108,1 109,9 109,9 109,9 109,9 107,8 107,9 108,0 108,0 Parâmetros geométricos R(1,2); R(1,3); R(1,4) R(2,6); R(2,7); R(3,9) R(3,10); R(4,12); R(4,13) A(6,2,7); A(9,3,10); A(12,4,13) A(1,2,6); A(1,2,7); A(1,3,9) A(1,3,10);A(1,4,12);A(1,4,13) A(5,2,6); A(5,2,7); A(8,3,9) A(8,3,10); A(11,4,12); A(11,4,13) 103 Tabela 21: Parâmetros geométricos da conformação estrelada (rotação CH3) da molécula trimetilamina calculados com o método BP86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação estrelada BP86 BP86 BP86 BP86 cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ cc-pV5Z R (1,2) 1,472 1,471 1,471 1,471 R (1,3) (1,4) 1,458 1,456 1,456 1,456 R (2,5) 1,114 1,103 1,102 1,102 R (2,6) (2,7) 1,113 1,102 1,102 1,101 R (3,8) (4,11) 1,127 1,116 1,115 1,115 R (3,10) (4,12) 1,110 1,099 1,099 1,098 R (3,9) (4,13) 1,111 1,010 1,099 1,099 A (2,1,3) (2,1,4) 112,8 112,9 113,0 112,9 A (3,1,4) 111,8 111,9 112,0 111,9 A (1,2,6) (1,2,7) 111,7 111,5 111,5 111,4 A (1,2,5) 111,7 111,5 111,4 111,4 A (5,2,6) (5,2,7) 107,5 107,7 107,7 107,8 A (6,2,7) 106,5 106,8 106,8 106,9 A (1,3,8) (1,4,11) 114,0 113,5 113,4 113,3 A (1,3,9) (1,4,13) 109,7 109,7 109,7 109,7 A (1,3,10) (1,4,12) 110,1 110,0 110,0 110,0 A (9,3,10) (12,4,13) 107,5 107,7 107,7 107,8 A (11,4,13) (8,3,9) 107,5 107,8 107,8 107,8 A (11,4,12) (8,3,10) 107,8 107,9 108,0 108,0 Parâmetros geométricos 104 Tabela 22: Parâmetros geométricos da conformação estrelada (rotação CH3) da molécula trimetilamina calculados com o método B3P86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação eclipsada B3P86 B3P86 B3P86 B3P86 cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ cc-pV5Z R (1,2) 1,458 1,456 1,456 1,456 R (1,3) (1,4) 1,445 1,443 1,442 1,442 R (2,5) 1,104 1,094 1,093 1,093 R (2,6) (2,7) 1,104 1,093 1,093 1,093 R (3,8) (4,11) 1,116 1,105 1,104 1,104 R (3,10) (4,12) 1,101 1,091 1,090 1,090 R (3,9) (4,13) 1,101 1,091 1,091 1,091 A (2,1,3) (2,1,4) 113,0 113,2 113,2 113,2 A (3,1,4) 112,0 112,1 112,2 112,2 A (1,2,6) (1,2,7) 111,6 111,4 111,4 111,4 A (1,2,5) 111,8 111,6 111,6 111,6 A (5,2,6) (5,2,7) 107,5 107,7 107,7 107,7 A (6,2,7) 106,5 106,7 106,8 106,8 A (1,3,8) (1,4,11) 113,8 113,3 113,3 113,3 A (1,3,9) (1,4,13) 109,8 109,8 109,8 109,8 A (1,3,10) (1,4,12) 110,2 110,2 110,1 110,1 A (9,3,10) (12,4,13) 107,4 107,6 107,7 107,7 A (11,4,13) (8,3,9) 107,6 107,8 107,8 107,8 A (11,4,12) (8,3,10) 107,8 107,9 108,0 108,0 Parâmetros geométricos 105 Tabela 23: Parâmetros geométricos da conformação estrelada (rotação CH3) da molécula trimetilamina calculados com o método B3LYP. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q,5) Conformação estrelada B3LYP B3LYP B3LYP B3LYP cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ cc-pV5Z R (1,2) 1,466 1,464 1,464 1,464 R (1,3) (1,4) 1,452 1,450 1,450 1,450 R (2,5) 1,106 1,094 1,093 1,093 R (2,6) (2,7) 1,104 1,093 1,092 1,092 R (3,8) (4,11) 1,117 1,105 1,104 1,104 R (3,10) (4,12) 1,102 1,090 1,090 1,090 R (3,9) (4,13) 1,102 1,091 1,090 1,090 A (2,1,3) (2,1,4) 113,2 113,3 113,4 113,3 A (3,1,4) 112,2 112,4 112,4 112,4 A (1,2,6) (1,2,7) 111,6 111,5 111,5 111,4 A (1,2,5) 111,7 111,5 111,4 111,4 A (5,2,6) (5,2,7) 107,5 107,7 107,7 107,7 A (6,2,7) 106,6 106,8 106,8 106,9 A (1,3,8) (1,4,11) 113,7 113,4 113,3 113,2 A (1,3,9) (1,4,13) 109,8 109,8 109,8 109,8 A (1,3,10) (1,4,12) 110,2 110,1 110,1 110,1 A (9,3,10) (12,4,13) 107,5 107,7 107,7 107,7 A (11,4,13) (8,3,9) 107,6 107,8 107,8 107,8 A (11,4,12) (8,3,10) 107,8 107,9 108,0 108,0 Parâmetros geométricos Para as três moléculas caracterizadas neste trabalho pelos métodos DFT, observa-se que o método BP86 resulta em valores bastante subestimados para distâncias de ligação. 106 Tabela 24: Parâmetros geométricos da conformação planar (inversão) da molécula trimetilamina calculados com o método BP86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q) Conformação planar BP86 BP86 BP86 cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ R(1,2) 1,438 1,438 1,438 R(1,3) 1,442 1,440 1,440 R(1,4) 1,439 1,438 1,438 1,122 1,111 1,110 R(2,5); R(3,8); R(4,11) 1,109 1,098 1,097 A(2,1,3) 122,9 122,8 122,8 A(2,1,4) 117,0 117,2 117,2 A(3,1,4) 120,1 120,0 120,0 A(1,2,6); A(1,2,7) 112,8 112,5 112,5 A(1,2,5) 110,2 110,2 110,2 A(1,3,9); A(1,3,10) 113,4 113,0 113,0 A(1,3,8) 109,4 109,4 109,4 A(1,4,12); A(1,4,13) 112,8 112,5 112,5 A(1,4,11) 110,1 110,0 110,0 0,0 0,0 0,0 Parâmetros geométricos R(2,6); R(2,7); R(3,9) R(3,10); R(4,12); R(4,13) D(3,1,4,11); D(2,1,3,8); D(3,1,2,5) 107 Tabela 25: Parâmetros geométricos da conformação planar (inversão) da molécula trimetilamina calculados com o método B3P86. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q) Conformação planar B3P86 B3P86 B3P86 cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ R(1,2) 1,428 1,426 1,426 R(1,3) 1,431 1,429 1,429 R(1,4) 1,429 1,427 1,427 1,111 1,100 1,100 R(2,5); R(3,8); R(4,11) 1,099 1,089 1,089 A(2,1,3) 122,8 122,8 122,8 A(2,1,4) 117,1 117,2 117,2 A(3,1,4) 120,0 120,0 120,0 A(1,2,6); A(1,2,7) 112,7 112,5 112,4 A(1,2,5) 110,2 110,2 110,2 A(1,3,9); A(1,3,10) 113,2 113,0 112,9 A(1,3,8) 109,5 109,5 109,6 A(1,4,12); A(1,4,13) 112,7 112,5 112,5 A(1,4,11) 110,1 110,0 110,0 0,0 0,0 0,0 Parâmetros geométricos R(2,6); R(2,7); R(3,9) R(3,10); R(4,12); R(4,13) D(3,1,4,11); D(2,1,3,8); D(3,1,2,5) 108 Tabela 26: Parâmetros geométricos da conformação planar (inversão) da molécula trimetilamina calculados com o método B3LYP. Distâncias de ligação em Ǻ, e ângulos em graus. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q) Conformação planar B3LYP B3LYP B3LYP cc-pVDZ cc-pVTZ cc-pVQZ R(1,2) 1,435 1,434 1,434 R(1,3) 1,438 1,437 1,437 R(1,4) 1,436 1,434 1,434 1,112 1,100 1,100 R(2,5); R(3,8); R(4,11) 1,100 1,089 1,089 A(2,1,3) 122,9 122,8 122,8 A(2,1,4) 117,1 117,3 117,3 A(3,1,4) 120,0 120,0 120,0 A(1,2,6); A(1,2,7) 112,6 112,4 112,4 A(1,2,5) 110,3 110,3 110,3 A(1,3,9); A(1,3,10) 113,2 112,9 112,8 A(1,3,8) 109,6 109,6 107,1 A(1,4,12); A(1,4,13) 112,6 112,4 112,4 A(1,4,11) 110,1 110,1 110,1 0,0 0,0 0,0 Parâmetros geométricos R(2,6); R(2,7); R(3,9) R(3,10); R(4,12); R(4,13) D(3,1,4,11); D(2,1,3,8); D(3,1,2,5) 109 • Barreiras de energias de rotação interna e inversão A investigação das alturas das barreiras de rotação interna do grupo metila na molécula trimetilamina e outras moléculas de estrutura C3v tem sido objeto de estudos experimentais [101-103] e teóricos [94,95], onde o método mais correlacionado já utilizado nos estudos das barreiras de energia de trimetilamina é MP4(SDQ) com a base aug-cc-pVTZ [95]. Neste estudo prévio foram realizados cálculos de coordenada de reação intrínseca (IRC) que confirmam a estrutura Cs piramidal como sendo o estado de transição para a torsão de um grupo metila. A altura da barreira de inversão estimada para a molécula trimetilamina é igual a 8,19 kcal.mol−1, valor derivado do modelo de campo de força obtido por Weston [104], e igual a 8,29 kcal.mol−1 quando calculado a partir do espectro de fluorescência [105]. Utilizando a mesma metodologia usada para as moléculas metilamina e dimetilamina, as barreiras de energia para movimentos internos foram estimadas realizando-se cálculos de extrapolação, onde utilizou-se a otimização de geometria B3LYP/cc-pVQZ e cálculos single point CCSD(T), seguidos das extrapolação dos conjuntos de funções base, como descrito pelas expressões (4.2.1a) e (4.2.1b). Na Tabela 27 encontram-se apresentados os valores de barreiras de energia calculados com as extrapolações dos conjuntos de funções base para os dois movimentos internos da molécula trimetilamina. 110 Tabela 27: Barreiras de energia para rotação interna do grupo metil e de inversão do nitrogênio na molécula trimetilamina. Valores em kcal.mol−1. Trimetilamina Método ΔE de rotação ΔE de inversão do grupo CH3 B3LYP/cc-pVQZ 3,92 7,45 CCSD(T)/cc-pVTZ 4,26 9,70 CCSD(T)/cc-pVQZ 4,27 9,65 CCSD(T)/cc-pCVTZ valence 4,28 9,73 CCSD(T)/cc-pCVTZ full 4,28 9,63 CCSD(T)/CBS 4,27 9,61 CCSD(T)/cv 4,28 9,51 SCF/TZP [94] MP4(SDQ)/aug-ccpVTZ [95] 4,0 [95] 3,63 [101] Exp. 4,06 [102] 4,40 [103] 7,86 [94] 9,4 [95] 8,19 [104] 8,29 [105] A inclusão da correlação dos elétrons internos é mais importante na estimativa da barreira de inversão, como observado também para a molécula dimetilamina. O valor CCSD(T)/cv para a barreira de rotação é igual a 4,28 kcal.mol−1, enquanto que os resultados experimentais são iguais a 3,63 [101], 4,06 [102] e 4,40 [103] kcal.mol−1. Neste estudo, os valores obtidos com as extrapolações do conjunto base estão bastante próximos ao valor obtido a partir do espectro de microondas [103], diferindo apenas 0,12 kcal.mol−1, e os resultados desta barreira obtidos com as extrapolações CBS (4.2.1a) e cv (4.2.1b) são praticamente iguais entre si. Para a inversão, nosso resultado CCSD(T)/cv é igual a 9,51 kcal.mol−1, o qual é bastante similar ao resultado teórico MP4(SDQ)/aug-cc-pVTZ [95], igual a 9,4 kcal.mol−1. A 111 barreira de inversão experimental estimada mais recentemente é igual a 8,29 kcal.mol−1 [105], cerca de 1,3 kcal.mol−1 menor que os valores obtidos com as extrapolações do conjunto de funções base. As barreiras de energia também foram estimadas com os métodos da Teoria do Funcional da Densidade e são apresentadas na Tabela 28. Tabela 28: Barreiras de energia para rotação interna do grupo metila e de inversão do nitrogênio na molécula trimetilamina calculadas com métodos DFT. Valores em kcal.mol−1. Método ΔE de rotação ΔE de inversão do grupo CH3 BP86/cc-pVDZ 4,22 7,70 BP86/cc-pVTZ 3,94 7,42 BP86/cc-pVQZ 3,93 7,47 B3P86/cc-pVDZ 4,20 7,72 B3P86/cc-pVTZ 3,99 7,47 B3P86/cc-pVQZ 3,98 7,51 B3LYP/cc-pVDZ 4,17 7,66 B3LYP/cc-pVTZ 3,92 7,37 B3LYP/cc-pVQZ 3,91 7,45 3,63 [101] Exp. 4,06 [102] 4,40 [103] 8,19 [104] 8,29 [105] As barreiras de rotação calculadas com os métodos DFT, de maneira geral, apresentam resultados próximos ao valor experimental, 4,06 kcal.mol−1 [102], enquanto que os resultados obtidos com o método CCSD(T) e com posterior extrapolação do conjunto base, apresentados na Tabela 27, concordam melhor com o maior valor experimental para esta barreira de rotação, 4,40 kcal.mol−1 [103]. 112 De maneira geral, os valores calculados com os métodos DFT para a barreira de inversão são subestimados cerca de 1,3 kcal.mol−1, enquanto que os valores obtidos com os métodos de extrapolação resultam em valores superestimados cerca de 1,3 kcal.mol−1, relativamente ao valor experimental. Desta forma, pode-se concluir que as barreiras de inversão são subestimadas quando calculadas utilizando-se os métodos DFT. A Tabela 29 apresenta os valores obtidos para freqüências vibracionais harmônicas. Espectros de infravermelho e Raman foram realizados conjuntamente com cálculos ab initio [98] e os 33 modos de vibração foram atribuídos. Na Tabela 29 são apresentados os valores das freqüências vibracionais harmônicas calculadas neste trabalho e os valores obtidos por espectro IR [98], quando não especificado, com as respectivas descrições dos modos vibracionais. 113 Tabela 29: Freqüências vibracionais harmônicas (cm−1) para estrutura fundamental da molécula trimetilamina. (Conjuntos Base: cc-pVnZ; n=D,T,Q) Modos de vibração a2 torsion e torsion e torsion a1 sym. NC3 def. e asym. NC3 def. a1 sym. NC3 str. a2 CH3 rock” e asym. NC3 def. BP86 VQZ 252 260 260 B3P86 VTZ 252 265 265 B3P86 VQZ 254 267 267 B3LYP VTZ 251 264 264 B3LYP VQZ 252 265 265 367,8 340 343 349 352 354 357 423,5c 404 404 405 405 416 416 418 418 420 420 422 422 828,2 810 811 851 852 829 830 1046,3 1026 1026 1030 1079 1079 1159 1258 1258 1386 1386 1426 1428 1026 1026 1030 1079 1079 1160 1258 1258 1386 1386 1426 1427 1064 1070 1070 1117 1117 1203 1314 1314 1432 1432 1473 1473 1064 1070 1070 1118 1118 1205 1314 1314 1432 1432 1473 1473 1057 1057 1071 1120 1120 1207 1306 1306 1442 1442 1482 1482 1056 1056 1071 1121 1121 1208 1306 1306 1443 1443 1482 1482 1444c 1428 1427 1473 1473 1483 1483 1452,5 1437 1435 1481 1480 1491 1490 1458,7 1447 1447 1493 1493 1502 1502 1471c 1460 1460 2809 2809 2824 2977 2977 1458 1458 2809 2809 2824 2975 2975 1505 1505 2908 2908 2921 3064 3064 1504 1504 2909 2909 2921 3063 3063 1512 1512 2894 2894 2909 3049 3049 1511 1511 2895 2895 2909 3048 3048 2980 2978 3067 3066 3054 3053 2976,7 3020 3020 3109 3109 3088 3088 2980,9 3024 3024 3023 3023 3112 3112 3112 3112 3093 3093 3093 3093 252a 269b 1043,3 e CH3 rock’ 1103,3 a1 CH3 rock’ 1186,0 e CH3 rock” 1275 e sym. CH3 def. e asym. CH3 def. a1 sym. CH3 def. a2 asym. CH3 def. a1 asym. CH3 def. e asym. CH3 def. 1409 1443,7 e CH str. 2775,9 a1 CH str. 2775,9 2953,0 e sym. CH str. a1 sym. CH str. a2 asym. CH2 str. e asym. CH2 str. a BP86 VTZ 250 258 258 Exp. [98] 2953,0 freqüência estimada de medidas de microondas [106]. b banda IR na Ref. [107]. [98]. c espectro Raman 114 O método BP86 apresenta valores bastante subestimados para as freqüências vibracionais com valores abaixo de 2000 cm−1, tanto em relação aos outros métodos como em relação aos valores obtidos experimentalmente. Entretanto, deve-se reafirmar que as freqüências vibracionais calculadas são harmônicas, enquanto que os resultados experimentais correspondem a freqüências anarmônicas. As freqüências vibracionais que são atribuídas aos modos vibracionais de estiramento C−H, cujos valores são maiores que 2000 cm−1 são superestimados por todos os métodos e conjuntos de funções base utilizados. A análise dos resultados de barreiras de energia, parâmetros geométricos e freqüências vibracionais mostrou que os valores praticamente não se alteram quando se aumenta o conjunto de funções base a partir de cc-pVTZ, sendo este o conjunto base mais apropriado para se utilizar em conjunto com métodos DFT para o cálculo das propriedades estudadas. Os principais resultados dos estudos relacionados com as moléculas metilamina, dimetilamina e trimetilamina realizados com o método CCSD(T) foram colocados em forma de artigos e submetidos para publicação [15,16]. 115 5 - Conclusões A primeira parte deste trabalho refere-se ao estudo das possíveis reações que devem fazer parte do mecanismo de decomposição global da molécula hidrazina. Como estratégia para o ataque do problema, tentou-se localizar todos os estados de transição possíveis que caracterizam as reações envolvidas na decomposição global, e o resultado desta busca foi a caracterização de 19 passos elementares que ocorrem tanto na ausência como na presença de hidrogênio radical e molecular, onde foi observado que as reações que ocorrem na presença de hidrogênio radical são em geral mais favoráveis energeticamente, com barreiras de ativação mais baixas quando comparadas a reações unimoleculares. Alguns resultados de energética puderam ser comparados a valores experimentais de energias de dissociação, para assim testar se a metodologia descreve de maneira satisfatória as diferenças de energia, pois nem sempre é possível comparar as diferenças de energia de ativação. Constatou-se que os resultados deste trabalho concordam muito bem com os dados experimentais. Estudos experimentais [3] demonstram que o valor de D0 para a reação de dissociação, N2H4 → N2H3 + H é igual a 80,8 ± 0,3 kcal.mol−1, enquanto que nosso valor de ΔE0 para esta mesma reação é 81,3 kcal.mol−1. Estudos espectrométricos de fotoionização [46] mostram que o valor de D0 (HNNH−H) é igual a 43,8 ± 1,1 kcal.mol−1, o qual pode ser comparado ao nosso valor de ΔE0 para a reação N2H3 → N2H2 + H, igual a 45,0 kcal.mol−1. Para o processo global, N2H4 + H2 → 2NH3, o valor de ΔH calculado neste trabalho é igual a −45,0 kcal.mol−1, enquanto que experimentalmente o valor de ΔH para esta reação é de −44,7 kcal.mol−1 [36]. Os resultados citados correspondem aos valores calculados na 116 aproximação CCSD(T)/CBS e demonstram que a metodologia deve ser adequada também para o cálculos de barreiras de energias de ativação. Os passos de iniciação para a decomposição da molécula hidrazina podem ocorrer tanto pela quebra da ligação N−N, como da ligação N−H, onde se verificou que a quebra da ligação N−N (IV) é caracterizada por uma barreira de ativação cerca de 5 kcal.mol−1 mais alta, mas esta reação é cerca de 20 kcal.mol−1 mais exotérmica que a reação de quebra da ligação N−H (III). Ambas as reações ocorrem na presença de hidrogênio radical e produzem espécies radicalares, o que deve possibilitar maior sustentabilidade ao processo, pois radicais são espécies reativas e facilitam a ocorrência dos passos subseqüentes. Outro passo de iniciação é a isomerização de N2H4 a HNNH3 (V), sendo que esta última espécie pode levar à formação de NH3 e de N2H2. A formação das espécies N2H2 envolve passos endotérmicos, porém a reação destas moléculas com hidrogênio radical pode levar à formação do radical NNH e, subseqüentemente à formação da molécula N2, através de reações exotérmicas. A formação da molécula NH3 pode se dar através das reações IV e X, e os passos elementares subseqüentes de abstração de hidrogênio até a formação da espécie radical N são representados pelas reações XVII, XVIII e XIX. A segunda parte deste trabalho consistiu em caracterizar as geometrias de equilíbrio, as freqüências vibracionais harmônicas e as barreiras de energia de movimentos internos das aminas substituídas: metilamina, dimetilamina e trimetilamina. A molécula metilamina foi estudada com o método CCSD(T) com diferentes conjuntos de função base da hierarquia de correlação-consistente de Dunning e também com os métodos da Teoria do Funcional da Densidade. Foram estudadas três conformações desta molécula, sendo possível estimar as barreiras de rotação interna do grupo metila e barreira de inversão do grupo amina. Deste estudo, pôde-se comparar os resultados obtidos com o método 117 CCSD(T) e com os métodos DFT, e concluiu-se que, de maneira geral, os métodos DFT em conjunto com uma base média como cc-pVTZ apresentam resultados bastante satisfatórios para todas as propriedades calculadas, e quando aumenta-se o tamanho do conjunto de funções bases, os valores de barreiras de energia parecem se afastar dos resultados experimentais. Os valores experimentais para barreira de energia de rotação interna do grupo metila e barreira de inversão do grupo amina são respectivamente iguais a 1,956 kcal.mol−1 [79] e 4,826 kcal.mol−1 [81], enquanto que os valores calculados pelo método CCSD(T), seguidos de extrapolação do conjunto de funções base, são iguais a 1,830 e 4,954 kcal.mol−1, e os valores obtidos com o método B3LYP/cc-pVTZ são iguais a 1,932 e 4,894 kcal.mol−1. Uma boa alternativa encontrada para descrever as propriedades energéticas, com um custo computacional mais adequado às moléculas maiores, foi utilizar as geometrias moleculares obtidas com métodos DFT, e fazer uma extrapolação em energia com cálculos single point CCSD(T) e extrapolação dos conjuntos de funções base. Desta maneira, realizouse a caracterização das moléculas dimetilamina e trimetilamina utilizando-se os métodos DFT: BP86, B3P86 e B3LYP, com posteriores extrapolações em energia. A molécula dimetilamina pode apresentar-se sob vários confôrmeros devido à sua estrtura não-rígida. Neste trabalho, foram caracterizados três confôrmeros desta molécula, sendo possível calcular as barreiras de energia para rotação de um grupo metila, e para inversão do grupo amina. A barreira de inversão estimada experimentalmente [83] é igual a 4,4 ± 1 kcal.mol−1, enquanto que os resultados obtidos neste trabalho com os métodos BP86/cc-pVTZ, B3P86/cc-pVTZ e B3LYP/cc-pVTZ foram, respectivamente, iguais a 4,68, 4,51 e 4,48 kcal.mol−1. Em geral, o aumento do conjunto base além de cc-pVTZ subestima os valores da barreira de energia de inversão. 118 Os valores para a barreira de rotação calculados com estes métodos DFT, BP86/ccpVTZ, B3P86/cc-pVTZ e B3LYP/cc-pVTZ foram coincidentes e iguais a 3,04 kcal.mol−1, o que reproduz muito bem a barreira de rotação calculada experimentalmente, igual a 3,029 kcal.mol−1 [84]. As barreiras de energia foram também estimadas utilizando-se o método de extrapolação, CCSD(T)/cv//B3LYP/cc-pVQZ, onde o valor para a barreira de inversão é igual a 5,120 kcal.mol−1, que está dentro do erro experimental citado acima, e para a barreira de rotação, o valor obtido é igual a 3,107 kcal.mol−1, valor que difere apenas 0,08 kcal.mol−1 do valor experimental. Analogamente, para a molécula trimetilamina caracterizou-se três confôrmeros, sendo possível estimar a barreira de rotação de um grupo metila e a barreira de inversão. A barreira de inversão experimental para a molécula trimetilamina é igual a 8,29 kcal.mol−1 [105], e os resultados obtidos neste trabalho com os métodos BP86/cc-pVTZ, B3P86/cc-pVTZ e B3LYP/cc-pVTZ foram, respectivamente, iguais a 7,42, 7,47 e 7,37 kcal.mol−1, onde se observa que os métodos DFT resultam em valores de energia cerca de 0,9 kcal.mol−1 menores que o experimental. Esta barreira calculada com a extrapolação CCSD(T)/cv//B3LYP/cc-pVQZ é igual a 9,505 kcal.mol−1. Os valores para a barreira de rotação calculados com os métodos BP86/cc-pVTZ, B3P86/cc-pVTZ e B3LYP/cc-pVTZ são, respectivamente, iguais a 3,94, 3,99 e 3,92 kcal.mol−1. Os valores experimentais variam de 3,63 a 4,40 kcal.mol−1 [101-103], e utilizando-se a extrapolação CCSD(T)/cv//B3LYP/cc-pVQZ, a barreira de rotação é igual a 4,275 kcal.mol−1. De maneira geral, observou-se que os métodos da Teoria do Funcional da Densidade reproduziram muito bem os valores de diferenças de energia experimentais, quando utilizados com o conjunto de funções base cc-pVTZ. 119 6 - Atividades Complementares No decorrer das atividades desenvolvidas no projeto de Doutorado, deu-se também continuidade e a conclusão de alguns trabalhos que fizeram parte do projeto de Mestrado sobre o Estudo de Estados Eletrônicos de Moléculas Diatômicas. Até a conclusão do projeto de mestrado, nossos principais resultados sobre as espécies CaC, BeB, MgB, CaB e CaN foram colocados em forma de artigos e publicados [108-110]. A seguir, os estudos referentes às moléculas BeC, MgC, CaC, BeF, MgF e CaF foram refinados e as principais conclusões destes estudos foram publicadas nos artigos das referências [111, 112]. Além das disciplinas que constam na ementa para a conclusão do curso de Doutorado, resultados preliminares deste trabalho de Doutorado foram apresentados em alguns Congressos. Também, durante este período deu-se a participação em cursos e escolas, como especificado a seguir: • M. Pelegrini, O. Roberto-Neto, F. B. C. Machado. Theoretical investigation of the reactions involved in the decomposition of N2H4. XII International Congress of Quantum Chemistry, 2006, Kyoto. • M. Pelegrini, O. Roberto-Neto, F. B. C. Machado. Estudo da geometria e da espectroscopia vibracional das moléculas metilamina, dimetilamina e trimetilamina utilizando métodos do funcional da densidade. III Workshop em Física Molecular e Espectroscopia, 2005, Belo Horizonte. • M. Pelegrini, O. Roberto-Neto, F. B. C. Machado. Investigação teórica das reações envolvidas na decomposição de N2H4 a N2H2 e NH3. XIII Simpósio Brasileiro de Química Teórica, 2005, São Pedro. 120 • M. Pelegrini, O. Roberto-Neto, F. B. C. Machado. Estudo teórico da decomposição da molécula hidrazina. XXVI Congresso Latinoamericano de Química e 27a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2004, Salvador. • M. Pelegrini, O. Roberto-Neto, F. B. C. Machado. Estudo da geometria e da freqüência vibracional da molécula metilamina pelo método Coupled Cluster. XII Simpósio Brasileiro de Química Teórica, 2003, Caxambú -MG. ♦ Columbus in Rio: Um curso de Química Quântica sobre Métodos Multireferência, Superfícies de Energia, Estados Excitados e Dinâmica..Columbus in Rio: Um curso de Química Quântica sobre Métodos Multireferência, Superfícies de Energia, Estados Excitados e Dinâmica. 2005. ♦ II Escola de Computação de Alto Desempenho para Sistemas Complexos.II Escola de Computação de Alto Desempenho para Sistemas Complexos. 2005. A parte deste trabalho de Doutorado referente ao estudo das barreiras de rotação e inversão, geometrias moleculares e espectroscopia vibracional de aminas pode ser encontrada na forma de um artigo já publicado [15], e outro que foi submetido para publicação [16], cujo processo está em andamento. Os resultados referentes à decomposição da molécula hidrazina estão sendo colocados em forma de um artigo a ser submetido em breve para publicação. 121 7 - Referências Bibliográficas [1] AUDRIETH, L. F.; OGG, B. A. 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B.; LIU, G.; LIASHENKO, A.; PISKORZ, P.; KOMAROMI, I.; GOMPERTS, R.; MARTIN, R. L.; FOX, D. J.; KEITH, T.; AL-LAHAM, M. A.; PENG, C. Y.; NANAYAKKARA, A.; GONZALEZ, C.; CHALLACOMBE, M.; GILL, P. M. W.; 124 JOHNSON, B.; CHEN, W.; WONG, M. W.; ANDRES, J. L.; HEAD-GORDON, M.; REPLOGLE, E. S.; POPLE, E J. A.;GAUSSIAN, INC., PITTSBURGH PA, 1998. [35] CHASE M. W., NIST-JANAF Tables, J. Phys. Chem. Ref. Data, 4. ed., v. 9, n.1, 1998. [36] HWANG, D.; MEBEL, A. M. Reaction mechanism of N2/H2 conversion to NH3: a theoretical study. J. Phys. Chem. A, v. 107, p. 2865, 2003. [37] SYLWESTER, A. P.; DERVAN, P. B. Low-temperature matrix isolation of H2NN electronic and infrared characterization. J. Am. Chem. Soc., v. 106, p. 4648, 1984. [38] MATUS, M. H.; ARDUENGO, A. J.; DIXON, D. A. The heats of formation of diazene, hydrazine, N2H3+, N2H5+, N2H and N2H3 and the methyl derivatives CH3NNH, CH3NNCH3, and CH3HNNHCH3. J. Phys. Chem. A, v.110, p. 10116, 2006. [39] DYKSTRA, C. E. 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PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR: ab initio, reações químicas, estados de transição, propriedades termodinâmicas, cinética química, métodos DFT. 9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO: Hidrazina; Aminas; Estrutura molecular; Espectros vibracionais; Coeficientes de reatividade; Reações químicas; Cinética das reações; Estado de transição; Propriedades termodinâmicas; Físico-Química; Química 10. APRESENTAÇÃO: X Nacional Internacional Tese de Doutorado, ITA, São José dos Campos, 2007. 144 páginas. 11. RESUMO: O desenvolvimento desta tese se baseou em dois enfoques de estudo. Um dos enfoques é a caracterização energética de reações elementares que podem estar envolvidas na decomposição da molécula hidrazina, a qual desperta especial interesse por se tratar de uma molécula cuja decomposição é exotérmica e utilizada como combustível em foguetes e lançadores de satélites, além de outras muitas aplicações. Neste estudo teórico, as estruturas conformacionais, a espectroscopia vibracional e a energética dos reagentes, produtos e estados de transição de dezenove reações elementares foram caracterizadas utilizando-se a metodologia CCSD(T)-CBS//MP2-cc-pVTZ. Onde CBS é uma extrapolação para o limite do conjunto de funções base. O outro enfoque deste estudo consiste na caracterização das estruturas conformacionais e da espectroscopia vibracional das aminas substituídas: metilamina, dimetilamina e trimetilamina. Para cada uma das aminas caracterizou-se três confôrmeros, os quais são resultados de movimentos de rotação interna de um grupo metil e de inversão do grupo amina. Desta forma, foi possível obter as barreiras de energia para rotação interna e para inversão. Numa primeira etapa, realizou-se um estudo sistemático com o método CCSD(T) para a molécula metilamina com os conjuntos de funções base de correlaçãoconsistente de Dunning. Na etapa seguinte, realizou-se cálculos de otimização de geometrias utilizandose métodos da Teoria do Funcional da Densidade [B3LYP, B3P86 e BP86], seguidos de cálculos CCSD(T) para obter as barreiras de energia para as moléculas metilamina, dimetilamina e trimetilamina. 12. GRAU DE SIGILO: (X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO