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ABS-CAMPINAS CONFRARIAS DE DEGUSTAÇÃO Módulo 11 – Regiões Encontro 44 Tema: Borgonha Texto elaborado por: Bruno Vianna Borgonha é região de sonho, de amor à terra, de luta contra as desfeitas do clima, de busca incessante pelas pequenas sutilezas que fazem a diferença de um terroir a outro e que quando atingidas criam vinhos sublimes, que encantam os sentidos e a alma. Necessitam prática e conhecimento para serem melhor compreendidos e desfrutados. Os vinhos mais caros do mundo são originários da Borgonha, como o Richebourg de Henry Jayer e o ícone Romanée-Conti. Há um enorme desequilíbrio entre a pequena produção e a grande procura pelos melhores exemplares da região, provenientes de parcelas muito pequenas. O Romanée Conti tem apenas 1,8ha plantados, o que é comum na Borgonha! Esta situação é muito contrastante com Bordeaux, onde as propriedades são muito maiores; o fenômeno de aumento de preços para pequenas produções ocorreu também em Bordeaux com o advento dos chamados vins de garage nos anos 1990s, com volumes minúsculos, que atingiram níveis de preços altíssimos, como o Le Pin. Os vinhos são essencialmente varietais, elaborados com Pinot Noir nos tintos e Chardonnay nos brancos Há uma alta variabilidade nos vinhos, dependendo de 3 fatores: vinhedo, produtor e safra Os vinhos primam pela elegância, com alto frescor, e não pela potência Os vinhos de qualidade superior envelhecem muito bem, desenvolvendo um bouquet inigualável As regiões vinícolas estão agrupadas em 6 áreas, mostradas na figura a seguir, distribuídas nos seguintes 4 départements: - Yonne a) CHABLIS ET GRAND AUXERROIS - Côte-d’Or b) CÔTE DE NUITS c) CÔTE DE BEAUNE - Saône-et-Loire d) CÔTE CHALONNAISE e) MÂCONNAIS - Rhône f) BEAUJOLAIS A Borgonha é a segunda região mais famosa do mundo, atrás de Bordeaux, com características muito especiais, seja na sua reputadíssima culinária, seja mesmo na complexidade das variáveis que influenciam na compreensão e na escolha de seus vinhos, classificados em 100 AOC, quase o dobro de Bordeaux. Uma área 4 vezes menor está pulverizada em milhares de vinhedos, trabalhados por 3.850 produtores. O Beaujolais, do ponto de vista geográfico, é uma continuação natural dos vinhedos do Mâconnais, com certas características comuns, sendo incluído como parte da região da Borgonha. Utiliza a cepa Gamay para os vinhos tintos e rosés, bem como a Chardonnay para os brancos, cepas claramente borgonhesas. Além disso, nove dos dez crus de Beaujolais podem classificar seus vinhos como Bourgogne. Algumas características são muito marcantes na Borgonha: São os vinhedos mais retalhados da França 1 A BORGONHA E SUAS 5 REGIÕES VITÍCOLAS (EXCLUINDO BEAUJOLAIS) 2 Por outro lado, historicamente, o Beaujolais nunca pertenceu à província da Borgonha e sim à de Lyon. Adicionalmente, a composição geológica dos seus terroirs é diferente, com predominância de granito, como no Rhône, ao invés de calcário, como na Borgonha. Devido à grande diferença de caráter dos vinhos e de seu posicionamento no mercado, os vinhos de Beaujolais são tutelados e promovidos por uma entidade diferente, a INTER BEAUJOLAIS, www.beaujolais.com, ao invés do BIVB (Bureau Interprofessionel des Vins de Bourgogne), www.vins-bourgogne.fr, que cuida das demais áreas. o Clos de Bèze, iniciando o trabalho dos monges viticultores, que pacientemente desbravaram e delimitaram os melhores vinhedos da Borgonha. Por essa razão, na maioria das publicações encontramos estatísticas para o Beaujolais separadas do restante da Borgonha e as utilizamos também desta forma aqui neste texto, referindonos aos dados da Borgonha sem incluir o Beaujolais. A outra ordem religiosa que teve importância fundamental na vitivinicultura da Borgonha foi a dos Cistercianos, fundada em 1098, cujo nome deriva de Citeaux, nome do seu primeiro mosteiro, localizado a oeste da comuna de Nuits-St-Georges. Já no primeiro ano de fundação, os Cistercianos receberam doações de vinhas e em 1110 receberam parte do Clos de Vougeot, comprando o restante até o ano de 1336 e cercando o terreno com um muro. “Clos” adquiriu o significado de vinhedo cercado por muro. Em contraste com os Beneditinos, considerados amigos da luxúria e ostentação, os Cistercianos eram muito austeros, organizados e foram os grandes descobridores do terroir da Borgonha, ao longo de séculos de observação minuciosa e trabalho da terra, identificando os diferentes crus. Em 1118, compraram dos Beneditinos vinhedos no departamento de Yonne, produzindo um apreciado vinho branco, que passou a ser conhecido como Chablis. Em 910, a ordem dos Beneditinos fundou uma abadia em Cluny, no Mâconnais. Era o início da reforma beneditina, que avançou rapidamente; por volta de 1273, chegaram a possuir todos os vinhedos de Gevrey-Chambertin, além dos de Vosne-Romanée hoje conhecidos como RomanéeConti, La Romanée, La Tâche, Richebourg e Romanée St-Vivant, além de outros na Côte de Beaune. Alguns dados importantes sobre a Borgonha (fontes: BIVB - 2015): 28.841ha de vinhedos, em 3 departamentos 3.850 vinicultores, 300 negociantes e 17 cooperativas 100 denominações de origem Produção: 1,4 milhões de hl/ano 61,3% brancos, 29,4% tintos, 0,3% rosés, e 9% espumantes (Crémant de Bourgogne) 1. História A história do vinho da Borgonha é muito antiga, pois quando os romanos conquistaram a Gália em 51 aC encontraram os Celtas na região da Borgonha já produzindo vinho. Nos séculos XII e XIII, os vinhos brancos eram mais apreciados que os tintos. Os vinhos de Yonne chegavam muito facilmente aos consumidores de Paris, por transporte fluvial, enquanto que os de Beaune, por terra, tinham muita dificuldade em chegar ao seu destino e eram pouco conhecidos. Até o século XV, vinhos da Borgonha eram somente os de Yonne. Os vinhos de Beaune só passaram a brilhar após 1305, quando o papa Clemente V Os primeiros documentos relativos à viticultura são datados do ano 312, escritos por produtores que se queixavam ao imperador Constantino O Grande de problemas nos vinhedos, reivindicando uma redução nos impostos. Em 630, o duque da Borgonha doou à abadia de Bèze uma vasta propriedade em Gevrey-Chambertin, que se tornou 3 mudou a sede do papado para Avignon; a corte papal era conhecida pela extravagância e corrupção, passando a demandar o vinho de Beaune, situado mais ao norte, que tinha a melhor das reputações, tornando-se símbolo de status entre os duques Valois, que governaram a Borgonha por 4 gerações, entre 1363 e 1477. Com a depressão econômica do final dos anos 1920s, muitos pequenos produtores de uvas faliram e a solução foi a criação de cooperativas, ainda hoje muito ativas no Mâconnais e em Chablis, onde La Chablisienne engarrafa um terço dos vinhos. Outra solução foi o produtor engarrafar seu próprio vinho, ao invés de entregá-lo aos negociantes, criando nos anos 1930s o conceito de “Engarrafado na Propriedade” (Mis en bouteille au Domaine). Já preocupado com a qualidade dos vinhos produzidos na sua região, o primeiro duque, Philippe le Hardi, em 1395, ordenou que toda a uva Gamay fosse arrancada, privilegiando a Pinot Noir, considerada mais fina. 2. Geografia, Clima e Solos Com latitude em torno de 47oN e longe de massas de água, o clima é continental frio. Comparado com Bordeaux, que tem clima marítimo e está situado em latitude mais baixa (cerca de 45oN), os invernos na Borgonha são mais rigorosos e os verões ligeiramente mais quentes, mas curtos e variáveis. Entre as cepas tintas, a Borgonha só oferece condições propícias para as de amadurecimento precoce, como é o caso da Pinot Noir. A Chardonnay se adapta muito bem a essas condições e tem muito mais regularidade ano a ano para sua completa maturação. Na corte de Luis XIV, o Rei Sol, o prestígio dos vinhos da Borgonha era tal que seu médico, Fagon, passou a prescrever Borgonha, ao invés de Champagne, como o mais recomendado para a saúde do rei. Com a melhoria das estradas no início do século XVIII, o comércio de vinhos se expandiu e surgiram os primeiros Negociantes da Borgonha, entre os quais Champy (1720) e Bouchard Père et Fils (1731). A partir de 1791, logo após a Revolução Francesa, as vinhas das abadias eram declaradas bens nacionais e foram vendidas à burguesia local e parisiense, como por exemplo Clos de Vougeot, Clos de Tart e Romanée Saint-Vivant. Os vinhedos passaram a ser retalhados a partir de então, devido à lei da igualdade de herança entre irmãos, prevista no Código Napoleônico. Como resultado, há hoje uma infinidade de vinhedos pequenos, explorados ao mesmo tempo por inúmeros agricultores. O Clos de Vougeot, embora de área considerada grande para a Borgonha, é um bom exemplo: com 50ha, tem 81 produtores, cada um explorando sua pequena área. Do ponto de vista geológico, a Borgonha tem a dominância de camadas de rochas calcárias formadas quando grande parte da França era fundo de mar. A rocha mãe sofreu transformações, erosões e deslocamentos sísmicos ao longo de milhões de anos, de modo que em diferentes vinhedos há exposição de diferentes camadas de calcário ou marna (calcário e argila, com boa drenagem), recobertas com solo superficial de profundidade e fertilidade variáveis. Na Côte d’Or, considerada a parte mais nobre da Borgonha vinícola, os vinhedos se distribuem sobre as encostas de exposição leste, com certo viés para o sul, seguindo uma falha geológica de 35 milhões de anos. A phylloxera chegou à Borgonha primeiramente em um vinhedo de Meursault, em 1878. A partir de então, foi necessário arrancar as vinhas existentes e substituí-las por enxertos com raízes americanas, mas só os melhores vinhedos mereceram o investimento de replantio. 4 3. Classificação dos Vinhos produção. Dentre as 100 AOCs, há 33 Grand Cru, 44 Villages (incluindo os 1er Cru, pois estes não têm AOC própria) e 23 Regionais. Os Grand Cru são responsáveis por apenas 1,3% da produção total. Os 640 climats 1er Cru representam 9,9% do total, os Villages 37,8% e os Regionais 51%. Os vinhos da Borgonha, mais do que qualquer outra região, são classificados de acordo com a noção de origem, levando em conta o terroir de cada vinhedo, independentemente de seus proprietários. Em 1855, Dr. Lavalle publicou uma classificação informal dos melhores vinhedos, em “História e Estatísticas da Côte d’Or”, que foi formalizada em 1861 pelo Comitê de Agricultura de Beaune, já dividindo os vinhedos em 3 classes de qualidade. O cadastro das propriedades da Borgonha foi criado no século 19, registrando os chamados lieu-dit, parcelas de terreno com um nome, muitas vezes secular, caracterizado por algum aspecto topográfico ou histórico. Os lieu-dits vitícolas têm nomes que lembram tipos de vegetação, solo, terreno, etc. É um conceito cadastral. A figura ilustra também a predominância dos vinhos brancos em todos os níveis, exceto nos Grand Crus. O pouquíssimo rosé produzido restringe-se às categorias Comunais e Regionais. Segundo o BIVB, a produção se divide em 61% brancos, 29% tintos e rosés e 10% espumantes (Crémant de Bourgogne). O viticultor utiliza o termo climat para se referir a suas “parcelas de terra precisamente delimitadas, com condições geológicas e climáticas específicas que, combinadas ao trabalho dos homens e traduzidas pelas duas grandes cepas borgonhesas, deram origem a um excepcional mosaico de crus hierarquizados e mundialmente reconhecidos” (BIVB). Climat se aplica apenas aos vinhedos de qualidade superior, classificados como 1er Cru e Grand Cru. 4. Variedades de Uvas, Viticultura e Vinificação Ao longo dos séculos, a produção foi concentrada em suas duas cepas de melhor expressão: Pinot Noir para os tintos e rosés e Chardonnay para os brancos, tendo sido abolidas várias cepas ao longo do tempo, como a Gamay, em 1395, determinação esta que não foi totalmente cumprida, pois esta cepa tinta predomina atualmente no Maconnais sobre a Pinot Noir na razão de 3 para 1. Outra cepa expulsa foi o Melon de Bourgogne, que foi encontrar seu terroir de excelência no Muscadet, Vale do Loire, mas ainda permanece residualmente em Vézelay, departamento de Yonne, em vinhos de menor expressão. A classificação dos vinhos da Borgonha distingue 4 tipos de AOC: AOC Regionais AOC Comunais (Villages) AOC Comunais (Villages) 1er Cru AOC Grand Cru As AOC regionais são as mais simples e menos exigentes, podendo produzir vinhos provenientes de toda ou parte de uma região. As demais exigem a produção com uvas de uma única comuna ou de um pequeno número de comunas. A pirâmide a seguir exemplifica bem a estratificação da A figura a seguir ilustra a proporção das cepas nos vinhedos borgonheses. 5 inteiros no tanque de fermentação. Utiliza-se frequentemente, para o manuseio do chapéu, a técnica de pigeage, que é mais delicada que a remontagem. A maturação costuma ser de 18 meses, mas a madeira é predominantemente de segundo ou terceiro uso. 5. Áreas Vitivinícolas a) CHABLIS ET GRAND AUXERROIS Chablis é a área mais ao norte da Borgonha, situada a 160km de Beaune, com clima continental frio e muito sujeito a geadas de primavera, que podem colocar a perder boa parte dos novos brotos e da produção. Entre as principais soluções para evitar as geadas, usam-se os aquecedores a óleo e os aspersores, que espirram água a partir do momento em que a temperatura cai abaixo do ponto de congelamento. A Aligoté permanece como cepa branca secundária, permitida apenas nas AOCs: Bouzeron (Côte Chalonnaise) - comunal Bourgogne Aligoté – regional Côteaux Bourguignons (até 2013 conhecida como Bourgogne Grand Ordinaire) - regional Crémant de Bourgogne - regional No departamento de Yonne, no Auxerrois, é utilizada também uma pequena quantidade de Sauvignon Blanc (AOC Saint-Bris) e da uva tinta César, em corte com a Pinot Noir (AOC Irancy). Persiste ainda uma quantidade mínima de Pinot Beurot (Pinot Gris) e Pinot Blanc, utilizadas no Crémant de Bourgogne. O solo dos melhores vinhedos é bastante particular, argilo-calcário muito branco, com presença marcante de fósseis marinhos. Provém do período Jurássico Superior, há 180 milhões de anos, de época denominada Kimeridiana. A camada seguinte é da era Portlandiana, que não dá aos vinhos a mesma elegância; aflora em terrenos destinados aos vinhos mais simples (Petit Chablis). Os vinhedos da Borgonha são plantados em alta densidade, cerca de 10.000 plantas/ha, podendo chegar a um máximo de 12.000 plantas/ha. Os vinhos são sempre brancos, muito minerais (pedra de isqueiro), com uma acidez marcante e um certo caráter salgado ao final de boca. Utiliza-se espaldeira baixa com poda Guyot simples. Com menor frequência, utiliza-se também Cordon de Royat, quando se deseja reduzir o vigor. Os vinhos de Chablis são divididos em 4 categorias, de acordo com o vinhedo de procedência: Chablis Grand Cru Chablis 1er Cru Chablis Petit Chablis Os vinhos brancos são em geral desengaçados, não passam por maceração pré-fermentativa e são fermentados em recipiente de carvalho, que lá é de 228 litros (ao invés de 225 litros, como as barricas de Bordeaux) e é chamado de pièce ou tonneaux. Lá permanecem sobre as borras finas (sur lies). Apesar de haver formalmente uma única AOC Chablis Grand Cru, de 105ha, há 7 climats diferentes, todos adjacentes, com exposição Os vinhos tintos são fermentados com ou sem desengace, sendo comum uma parte de cachos 6 sudoeste, próximos ao centro da comuna de Chablis: Bougros Preuses Vaudésir Grenouilles Valmur Le Clos Blanchot longo das encostas, provocando diferenças no cultivo, moduladas também pelo mesoclima de cada vinhedo em particular. Dentro da AOC Chablis, há cerca de 40 climats classificados em 1er Cru, sendo muitos deles pouco conhecidos. Há alguns anos, foram agrupados de forma a poder utilizar os nomes mais prestigiados, a seguir: Mont de Milieu, Montée de Tonnerre, Fourchaume, Vaillons, Montmains, Beauroy, Côte de Léchet, Vauligneau, Vaudevey, Vaucoupin, Vosgros, Les Fourneaux, Côte de Vaubarousse, Berdiot, Chaume de Talvat, Côte de Jouan e Les Beauregards. Os melhores vinhedos estão situados onde a inclinação do terreno é maior e onde o solo se torna mais pedregoso e menos argiloso, com boa drenagem e melhor exposição ao sol. De modo geral, estes pontos situam-se próximos da meia altura da encosta, com cerca de 250 a 300 metros de altitude, abrigando os 1er Cru. Apenas em algumas comunas teremos condições excepcionais que darão origem aos 32 Grand Crus da Côte d’Or. Em outros níveis da encosta, as condições serão menos favoráveis e teremos as AOC comunais; finalmente, as áreas mais baixas, planas e férteis serão destinadas aos vinhos mais simples, de AOC regionais. Chablis normalmente não passa por carvalho, para preservar o intenso frescor e pureza aromática que o caracterizam. Outros produtores utilizam alguns meses de estágio em carvalho acreditando que adiciona mais complexidade, mas em geral o uso de barricas novas é muito reduzido, para não impactar o vinho com aromas de baunilha. b) CÔTE DE NUITS Os solos mais favoráveis à Chardonnay são em geral de coloração mais esbranquiçada, enquanto que a Pinot Noir prefere os mais avermelhados, ricos em ferro. No departamento de Côte d’Or, encontram-se as duas áreas consideradas mais nobres da Borgonha: Côte de Nuits e Côte de Beaune, com encostas numa extensão de 50km, na direção sul, a partir de Dijon, capital do departamento, com exposição para o leste, até Chagny (ver figura na página 2). A meio caminho, situa-se Beaune, a cidade central da Borgonha. Côte de Nuits é a área mais privilegiada para os vinhos tintos, onde a Pinot Noir encontra sua melhor expressão, embora produza também um pouco de vinho branco em algumas das comunas. É lá que estão localizados 24 dos 25 Grand Crus tintos. De acordo com o mapa da página 2, listamos a seguir as principais comunas da Côte de Nuits, no sentido de norte a sul, indicando a coloração dos A figura a seguir ilustra as encostas ao longo do caminho, paralelas à Estrada Nacional. As várias camadas de solos, com diferentes proporções de calcário e argila, afloram de várias maneiras ao 7 vinhos, por ordem de predominância em cada comuna: tinto(T), branco (B) e rosé(R): Marsannay (T/R, B) Gevrey-Chambertin (T) Morey-St-Denis (T,B) Chambolle-Musigny (T) Vougeot (T, B) Vosne-Romanée (T) Nuits-St-George (T,B). Meursault (B, T) Puligny-Montrachet (B, T) Chassagne-Montrachet (B,T) St-Aubin (B, T) Santenay (T, B) A AOC Côte de Beaune diz respeito a uma área específica de 34ha na comuna de Beaune, para tintos e brancos. Já a AOC Côte de Beaune-Villages pode ser utilizada alternativamente por produtores de 14 comunas da Côte de Beaune (Beaune não está incluída), apenas para vinhos tintos. Fixin, Brochon, Comblanchien, Premeaux-Prissey e Corgoloin podem ser comercializados como Côtesdu-Nuits Village (T, B), mas Fixin (T,B) pode também utilizar sua própria denominação. A tabela abaixo apresenta todos os Grand Crus da Borgonha, identificando as áreas de comunas, bem como o estilo de vinho. c) CÔTE DE BEAUNE A Côte de Beaune está situada na parte sul da Côte d’Or, onde as encostas continuam, mas são um pouco mais suaves, pois as rochas calcárias são mais macias, tendo se desgastado mais que na Côte de Nuits. É mais larga e mais longa que a Côte de Nuits, com uma superfície de 6.000ha. Voltadas também para o leste, as encostas são mais recortadas, formando vales transversais denominados combes, que apresentam vinhedos de exposição sul ou sudeste. Enquanto na Côte de Nuits a Pinot Noir reina absoluta, na Côte de Beaune reinam tanto a Chardonnay quanto a Pinot Noir em grandes proporções. Entretanto, aqui vamos encontrar o suprassumo da expressão da Chardonnay, com 7 Grand Crus exclusivos de brancos. Com a exceção do Musigny branco, muito raro, produzido na Côte de Nuits, e do Chablis Grand Cru, todos os outros Grand Crus brancos da Borgonha estão situados na Côte de Beaune. OS 33 GRAND CRUS DA BORGONHA ÁREA COMUNA GRAND CRU Chablis (1) Chablis (1) Chablis Grand Cru Chambertin Chambertin-Clos de Bèze Chapelle-Chambertin Griottes-Chambertin Ruchottes-Chambertin Latricières-Chambertin Mazis-Chambertin Charmes-Chambertin Mazoyères-Chambertin Clos Saint-Denis Clos de la Roche Clos de Tart Clos des Lambrays Gevrey-Chambertin (9) Morey-St-Denis (4) Côte de Nuits (24) (Morey-St-Denis e ChambolleMusigny) (1) Chambolle-Musigny (1) Vougeot (1) Vosne-Romanée (6) Flagey-Échezaux (2) Aloxe-Corton (3) Côte de Beaune (8) Puligny-Montrachet (2) (Puligny-Montrachet e Chassagne Montrachet) (2) Chassagne-Montrachet (1) BRANCO (B), TINTO (T) B T T T T T T T T T T T T T Bonnes-Mares T Musigny Clos de Vougeot Romanée-Conti La Romanée Richebourg Romanée-St-Vivant La Tache La Grande Rue Échezaux Grands-Échezaux Corton Corton-Charlemagne Charlemagne Chevalier-Montrachet Bienvenue-Bâtard-Montrachet Montrachet (Le Montrachet) Bâtard-Montrachet Criots-Bâtard-Montrachet T, B T T T T T T T T T T, B B B B B B B B Apenas 2 Grand Crus permitem vinhos tintos e brancos, mas a área plantada de Chardonnay nos dois casos é pequena. No Musigny são apenas 0,6ha e no Corton são 4,5ha. Seguem as principais comunas, do norte para o sul: Chorey-lès-Beaune (T, B) Savigny-lès-Beaune (T, B) Beaune (T, B) Pommard (T) Volnay (T) Auxey-Duresses (T,B) Um Borgonha comunal de bom produtor e boa safra deve estar em sua melhor forma em cerca de 3 a 5 anos, um 1er Cru em 5 a 10 anos e um Grand 8 Cru precisa de 10 anos para desenvolver um bouquet complexo e inigualável. Os estilos variam muito de uma comuna a outra. Gevrey-Chambertin, Vougeot, Nuits-St-Georges, Corton e Pommard em geral produzem vinhos robustos e longevos, enquanto Chambolle-Musigny, Vosne-Romanée e Volnay primam mais pela elegância e finesse. Entretanto, na mesma comuna há variações importantes de acordo com o terroir e o produtor. Mercurey destaca-se pela boa relação qualidade / preço, tendo rendimento máximo semelhante aos vinhos comunais da Côte d’Or, enquanto as outras AOC podem produzir mais. O vinho regional Bourgogne Côte Chalonnaise é principalmente tinto, de Pinot Noir. e) MÂCONNAIS Ao sul da Côte Chalonnaise está o Mâconnais, que se estende até a cidade de Mâcon, importante centro de comercialização de vinhos. É uma área ainda mais esparsa que a Côte Chalonnaise, entremeada de pradarias e outros cultivos, emergindo a vinha sempre que as condições de clima e solo a favoreçam. É uma área essencialmente produtora de vinhos brancos. As suaves colinas se acentuam para o sul, culminando com o afloramento das impressionantes rochas calcárias de Solutré-Pouilly e Vergisson, nas encostas das quais são produzidos os melhores vinhos brancos do Mâconnais e um dos melhores da Borgonha, o Pouilly-Fuissé, AOC que abrange 4 comunas: Solutré-Pouilly, Vergisson, Fuissé e Chaintré, com uma grande área de produção (760ha). Não há climats classificados em 1er Cru, mas o vinho tem corpo e suculência, por um preço muito inferior aos brancos da Côte d’Or. Os vinhos brancos comunais mais prestigiados, como Meursault, Puligny-Montrachet e ChassagneMontrachet, levam dois a três anos para se livrar do impacto da madeira e exaltar a qualidade da fruta e sua mineralidade. Meursault tende a ser mais potente, com mais madeira e toques tostados, enquanto Puligny-Montrachet em geral é mais delicado e elegante. d) CÔTE CHALONNAISE Seguindo na direção sul, entramos no departamento de Saône-et-Loire, onde os vinhos da Borgonha são produzidos em duas áreas: Côte Chalonnaise e Mâconnais. A Côte Chalonnaise derivou seu nome da comuna de Chalon-sur-Saône. Lá, deixamos de ter continuidade das encostas da Côte d’Or voltadas para o leste. O perfil do terreno é mais irregular, apresentando encostas em diversas orientações. São 5 AOC principais, mais esparsas, separadas entre si por bosques e campos: Bouzeron (brancos de Aligoté) Rully (tintos e brancos leves e frutados, bem como Crémant de Bourgogne) Mercurey (tintos estruturados que chegam a rivalizar com os da Côte de Beaune) Givry (semelhante a Mercurey, mas mais leves, lembrando o estilo do Volnay) Montagny (apenas brancos, com bom corpo) Pouilly-Vincelles e Pouilly-Loché são brancos mais delicados, situados próximos, um pouco mais a leste. San-Véran também é AOC exclusiva de brancos, que abrange 8 comunas, em 680ha. ViréClessé tornou-se AOC em 1999, exclusiva de brancos, por destacar-se em uma faixa de afloramento calcário. Mâcon e Mâcon-Villages são os vinhos regionais de maior volume na região, com 3.245ha para brancos e 485ha para tintos. MâconVillages é AOC reservada apenas para vinhos brancos. Nos vinhos tintos Mâcon, são permitidas as cepas Gamay e Pinot Noir; no entanto, como os vinhos elaborados com Pinot Noir podem ser rotulados como AOC Bourgogne, que alcança melhores 9 preços, resta à Gamay assumir a frente da AOC Mâcon, para tintos. No geral, entre as cepas tintas plantadas do Mâconnay, predomina a Pinot Noir. Lyon, com solos mais frios e argilosos, sem o mesmo potencial para o total amadurecimento das uvas. Como consequência os vinhos são mais leves e simples, classificados como AOC Beaujolais e responsáveis por aproximadamente metade de toda a produção. Comparando com a Côte d’Or, o Mâconnais recebe nos vinhedos mais sol, menos chuva e corre menor risco de geadas. A viticultura é semelhante, exceto pelo uso disseminado de condução em lira. É vizinho do Beaujolais, o que explica a predominância de Gamay nas uvas tintas. f) Superior em qualidade, a AOC Beaujolais-Villages é reservada para as encostas das colinas situadas no norte, abrangendo 38 comunas. Quando o vinho é produzido com uvas cultivadas em apenas uma das comunas, é possível acrescentar no rótulo o nome da comuna. Geralmente os vinhos comercializados por negociantes utilizam cortes de uvas de diferentes comunas, sendo, portanto, etiquetados simplesmente com Beaujolais-Villages, sem nome de comuna. BEAUJOLAIS Do sul de Mâcon até as proximidades de Lyon, já no departamento do Rhône, uma única cepa, a Gamay, dá origem a um vinho com espírito muito distinto do restante da Borgonha, o que lhe confere uma imagem totalmente à parte. Dez comunas do norte, pela qualidade destacada dos vinhos, receberam suas próprias denominações, constituindo os crus de Beaujolais. De norte para o sul, são: St-Amour Juliénas Chénas Moulin-à-Vent Fleurie Chiroubles Morgon Reignié Brouilly Côte de Brouilly O nome vem da comuna de Beaujeu, fundada no século X, nas colinas a oeste da região, que era dominada pelos Duques de Beaujeu. Dependendo da safra, a produção total pode suplantar a do restante da Borgonha. O vinho é um grande sucesso, de estilo leve, muito frutado e extremamente refrescante. Monges Beneditinos desenvolveram a vitivinicultura no Beaujolais desde o século VII. A área ganhou mais notoriedade a partir do banimento da uva Gamay do ducado da Borgonha, encontrando nos solos graníticos de Beaujolais bem melhores condições de desenvolvimento do que no calcário. 98% das uvas cultivadas no Beaujolais são Gamay. Entretanto, uma pequena quantidade de vinho branco, Beaujolais blanc e Beaujolais-Villages blanc, é produzida, baseada em Chardonnay. Também pode ser encontrada uma pequena produção de Beaujolais rosé, elaborado com Gamay. Pequenas plantações residuais de Aligoté ainda são permitidas até 2024. De fato, na parte norte, as suaves colinas do Maçiço Central apresentam substrato granítico e de xisto, com algum componente calcário. A camada superficial do solo é arenosa, proporcionando calor e fácil drenagem, o que contribui para o completo amadurecimento da Gamay. Com o aumento da demanda, a área de produção foi expandida para o sul, abrangendo terrenos mais planos e férteis do “Baixo Beaujolais”, em direção a Os vinhedos são densamente plantados (entre 9 e 13mil pés/ha). O sistema de condução tradicional é 10 o gobelet, também conhecido como vaso ou bush vine, comumente encontrado desde o Beaujolais até o sul da França e também na Espanha. É um sistema adequado para vinhas de baixo vigor. Mais recentemente, muitos vinhedos têm sido convertidos em Guyot unilateral, que proporciona maior eficiência e permite vinhas com maior vigor, como nos terrenos mais férteis do Baixo Beaujolais. remetem a banana. Após prensagem, o vinho de prensa é adicionado ao corte. A fermentação malolática é geralmente realizada. O Beaujolais Nouveau é engarrafado imediatamente, para estar disponível simultaneamente em todo o mundo na terceira quinta-feira de novembro, na tradicional festa “Le Beaujolais Nouveau est arrivé”, que já foi muito forte entre os anos 1980s e 1990s, mas tem decrescido em intensidade. A fermentação do Beaujolais é tradicionalmente feita com Maceração Semi-carbônica, em que cachos inteiros são despejados na cuba de fermentação; a parte de baixo (cerca de 20%) acaba sendo esmagada pelo peso dos demais cachos e o suco inicia a fermentação, desprendendo gás carbônico, que sobe entre os cachos, privando-os de oxigênio. Como reação, os cachos sufocados sofrem uma fermentação intracelular, resultando em um vinho muito frutado e com aromas que Normalmente, um Beaujolais é consumido até um ano, um Beaujolais-Villages em 2 anos e um Cru, dependendo do produtor e da safra, principalmente se for elaborado em estilo mais borgonhês, pode recompensar uma guarda de até 10 anos. ******* 11