Editorial - Confraria de Cachaca Copo Furado
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Editorial - Confraria de Cachaca Copo Furado
n I G PN A o s i i i i i i i i i i i i i i Informativo da Confraria de Cachaça Copo Furado - Rio de Janeiro, junho/julho 2010 - nº18 Editorial “Pouca Prática” Depois de muitos anos , e pegos de surpresa , ficamos sem o nosso excepcional editor . Mas o show não pode parar e precisamos colocar o jornal na rua, e me vi na posição de escrever este texto de apresentação do jornal e mostrar o que anda acontecendo com a nossa Confraria de Cachaça Copo Furado . Nesta edição de número 18 , vamos ler a carta de despedida do competente Paulo Valente , e o que ela gerou no nosso coração , brilhantemente expressado pelo confrade Luis Carlos de Paula , comprovando que na adversidade brotam frutos que não esperávamos . O mês de maio teve a ExpoCachaça em Belo Horizonte , onde a Confraria de Cachaça Copo Furado foi homenageada pelo serviço que presta à divulgação da Cachaça. O Curso de Análise Sensorial ministrado pelo prof. Luigi Odello , que veio da Itália especialmente para treinar os Confrades como degustadores de Cachaça, junto com suas assistentes Fernanda Seixas e Ivonete . Foi um fim de semana de inteira dedicação à Cachaça . Mas valeu a pena pelo que aprendemos. O mês de junho nos trará o “Seminário da Cachaça do Estado do Rio “, onde a Confraria é uma das realizadoras junto com o SEBRAE , a Cachaças do Vale e a Academia Brasileira da Cachaça. Em julho a eleição da nova diretoria da Confraria e a ida de um grupo de confrades ao “Festival Internacional deCachaça de Salinas”, com direito a visitar o Alambique da Cachaça Havana,vão agitar nosso inverno. Temos a sequência dos artigos do Engels Maciel , que através do jornal esta dando uma verdadeira aula de como fabricar cachaça boa . Bem, como o Jornal é escrito por pessoas competentes , espero que vocês desculpem esta editora “pouca prática “ pelo seu texto. E vamos ao que interessa ! Cláudia Fernandes Amigos Confrades Confrades Amigos Há cerca de sete anos (não tenho muita certeza do tempo) fui, a convite do meu amigo publicitário Paulo Magoulas, a uma reunião de Natal da Confraria na Livraria Letras e Expressões de Ipanema no Bar do Zira. Foi ali que conheci um lugar fantástico, totalmente democrático, e que tinha para mim uma proposta maravilhosa: conhecer, divulgar e preservar a Cachaça de qualidade (na época não sabia bem o que era isso). Eu me identifiquei muito com aqueles loucos e passei a frequentar as reuniões com certa assiduidade. Fui conhecendo melhor as pessoas e a Cachaça de qualidade e fui me envolvendo mais e mais. Um dia, glória das glórias, o Paulo Magoulas me convidou para ser Confrade e aqui peço bênção ao meu Padrinho. Vesti com um puta orgulho a camisa da Confraria de Cachaça Copo Furado. Continuei frequentando as reuniões até que surgiu uma oportunidade genial: ia começar um curso para as pessoas entenderem e conhecerem melhor o que é Cachaça de qualidade. Não tinha muito que pensar. Fiz a inscrição nesta primeira turma, negociando meio sem graça com a Cláudia o pagamento em duas vezes, e fui parar naquele apartamento da Hilário de Gouveia cheio de cultura brasileira, cheio de humanidade, cheio de amizade pelo simples prazer da amizade. Ali eu percebi que poderia e deveria fazer algo além de frequentar reuniões. E lembro que numa das aulas do Kede e do “Dindo” Magoulas eu falei: - “Sou redator de propaganda e uma das poucas coisas que sei fazer direitinho é escrever. Se isso puder ser útil à Confraria, estou à disposição.” O tempo passou, fui conhecendo um pouco mais de Cachaça, fui conhecendo muito mais de pessoas (afinal, transitar na Confraria é uma vasta lição de sociologia, antropologia, psicologia e, principalmente, de respeito às diferenças), até que, após a Cláudia se tornar Presidente, ventilou-se a idéia de se fazer um jornal. E, puxa, aquele meu oferecimento foi aceito. Começamos e estruturar o que veio a se chamar Pinga nos iii (confesso que tenho o maior orgulho de ter participado ativamente desta criação junto com alguns Confrades e Confreiras e, mais ainda, ter batizado o jornal com este nome). O Pinga está no número 17, o que se pensarmos em alguns atrasos que são de lei, temos mais de 36 meses (três anos) de publicação, com material que foi se aperfeiçoando com o tempo e que hoje tem um conteúdo de primeiríssima para a divulgação e o conhecimento sobre Cachaça de qualidade. De novo, que orgulho!!! Tudo isso para dizer que, hoje, infelizmente, estou me afastando um pouco da Confraria. Podem ter certeza que isto está escavando um enorme oco no meu peito. Mas isso é temporário, como tudo é temporário ou não. Amanhã é um outro dia e... Por enquanto, fica um grande beijo a todos e um brinde mudo a cada dose: Unidos beberemos, sozinhos também! Como em todo grupo grande, a gente acaba se aproximando mais de algumas pessoas do que de outras. É fato da vida. Àqueles mais próximos, meu enorme respeito à amizade. E um abraço um pouquinho mais forte! Desculpem se estou saindo sem falar pessoalmente, mas nem sempre é possível fazer as coisas como queremos. Paulo Valente 1 O meu Amigo Valente Paulo seja valente e atente que não vou te deserdar... Como jogar fora sua risada franca, jóia rara depois de vermos o mineirinho Geraes com suas mulheres atrevidas, acanhadas, vividas, casadas, de todos os tipos, e não sobrar nada para nós ?... Uma saideira no Vilarino foi a pedida certa. Assim, você navega de barquinho no meu coração, ao som da Billie, do Miles e da Ella, coisa muito fina... E as memoráveis reuniões e passeios da Confraria? Às vezes, ensaiávamos um pouco de carnaval cantando Lamartine, Braguinha, e a dupla Armando e Klécius ou então, mudando o gênero, sambão de Noel, Ismael e do querido Ary. Quanto atrevimento! Que festa, que alegria! Como esquecer Aquele almoçinho nojentinho Por onde desfilaram roulades, um patê de fígado de ave com pimenta rosa para aumentar nosso apetite. E o festival gastronômico Continuou com ceviche, salada de arroz negro, camarões e maçã verde, e ainda peito de peru ao molho de cerejas e farofa de frutas secas. Como era tempo de Natal, para sobremesa nos deliciamos com a tradicional Bûche Noel e o suíço Basel Leckerli. Precisa lembrar que rolou muita cachaça e o melhor da música nacional e internacional? Nem Vinicius, nem Drumond saberiam descrever tal evento! Quantas horas computadas de fraternal amizade, dependurada em varais do Oreste, anunciando aos quatro ventos que não se precisa ter o mesmo sangue... Cachaçinhas no Tonel e Pinga na boemia Niterói Outras no Enchendo Lingüiça no bucólico Grajaú Quanta magia e sabedoria há dentro de você inesgotável, insondável, incomensurável... Vou parar por aqui. Ainda está cedo para um porre de saudade. Até amanhã, se Deus quiser O Tom, Cartola e Pixinguinha lá em cima, também concordam... PS: o meu carinho também para a grande companheira Verena. Ipanema, 10/5/2010 Luiz Carlos. 2 Como descobrir os segredos da cachaça Nos dias 7, 8 e 9 de maio de 2010, a Confraria de Cachaça Copo Furado brindou seus confrades e confreiras com um curso de Análise Sensorial para Juizes Treinados, ministrado pelo Prof. Luigi Odello do Centro Studi e Formazione Assaggiatori Scari, da Itália, sua assistente Fernanda Seixas e a inestimável ajuda da Ivonete De Santi , ambas da USP- São Carlos . Para o sucesso do curso, assistido por vinte e duas pessoas, a contribuição dada pelos confrades Claudia Fernandes e José Alberto Kede foi fundamental. Tendo já assistido o curso anteriormente, foram responsáveis em orientar o Prof. Odello na escolha dos temas de interesse para a Confraria e selecionando as cachaças a serem degustadas. Além da primorosa organização do curso, pois as dezesseis horas em sala de aula passaram, infelizmente, rapidamente. O foco do curso foi na identificação de parâmetros de análise e da quantificação de substâncias percebidas pelos nossos sentidos na avaliação de diferentes cachaças. Quando em grupo, critérios foram analisados de modo que o parecer melhor representasse a opinião dos avaliadores. Como contribuição ao desenvolvimento da análise sensorial individual, foram discutidas formas de implementá-la, associando as sensações a situações registradas em nosso cérebro. Inicialmente foi aplicado o Teste de Dusay aos participantes, com o objetivo de melhor conhecimento pelo avaliador de fatores que restringem sua avaliação isenta e objetiva da cachaça. Dentre estes, podem ser citados o comportamento normativo e emoções copiados da figura dos pais, e as características individuais desenvolvidas quando em criança, resultando em procedimentos comportamentais seguidos na idade adulta. Cada participante teve acesso ao número de pontos alcançados em cada um dos sete (7) itens analisados, permitindo seu aprimoramento em relação ao que seria esperado e fornecido pelo professor. A seguir, foi discutido como o cérebro processa as informações fornecidas pelos sentidos da visão, gosto, olfato, tato e audição, identificando os fatores que mascaram a sua fidelidade de interpretação. Desta forma, as condições individuais podem ser escolhidas para uma melhor avaliação da cachaça. Uma avaliação da cachaça pelo sistema gustativo pode ser feita com base na quantificação das propriedades de ser doce, salgada, amarga e ácida. Já para o sistema tátil, propriedades de ser adstringente, pungente, picante, ardente e metálica. Para o sistema visual, propriedades de ser límpida e intensa na cor. Finalmente, para o sistema olfativo, podem ser identificados aromas floral, frutado fresco, frutado seco, vegetal, especiaria e madeira. A temperatura da cachaça também influencia na avaliação. Continua na pg. 04 3 Continuação da pg. 03 Com o aumento da temperatura, as sensações de doce e salgado são evidenciadas, a de amargo é diminuída, e a de ácido não é alterada. Testar comparativamente várias cachaças exige do avaliador uma memorização das características sensoriais e de sua quantificação. Foram feitos testes visuais de comparação de áreas de figuras geométricas com a de um padrão previamente memorizado. O mesmo foi feito para a intensidade da cor. O teste mais interessante, entretanto, foi a prova de identificação de aromas em vinte amostras distribuídas. O percentual de acertos era bem menor quando não era fornecida uma lista com o nome dos mesmos. Este teste já havia sido feito pelo confrade Kede em reuniões da Confraria. Uma vez estabelecidas as bases da avaliação de cachaças, foi distribuída uma folha para que as características sensoriais pudessem ser quantificadas numa escala de 0 a 9. Características globais como atração, harmonia, aromas globais, elegância e complexidade eram tamb ém quantificadas e resumiam a avaliação. Os participantes treinaram o questionário em duas amostras de cachaça branca, com os resultados sendo discutidos pelo professor. Finalmente chegou a hora tão esperada pelos participantes, que resumia os conhecimentos adquiridos durante o curso. Foram testadas inicialmente, com o questionário, sete (7) cachaças brancas. Após os comentários do professor e da discussão dos resultados, usando um critério estatístico que conduzisse a um parecer que melhor representasse a opinião do grupo, foram testadas sete (7) cachaças envelhecidas. O mais interessante é que a inclusão em cada grupo de uma cachaça idêntica a uma das outras seis (6) permitia ao avaliador testar sua coerência de avaliação. Os resultados dos testes foram colocados em um programa estatístico desenvolvido pelo grupo do Prof. Odello e analisados estatisticamente com base na experiência adquirida com testes em mais de onze mil pessoas. Foi concluído que o questionário de avaliação era adequado ao grupo e que poderia ser utilizado pelo mesmos para suas avaliações. Também foi concluído que treze (13) dos vinte e dois (22) participantes haviam se desempenhado eficientemente como avaliadores. Sua melhoria poderia ser conseguida com um treinamento posterior. O professor ficou entusiasmado com interesse e o potencial do grupo para avaliações de cachaça. Estamos todos de parabéns por esta iniciativa da Confraria de Cachaça Copo Furado, tendo certeza que ela contribuiu bastante para alcançar seus objetivos. UNIDOS BEBEREMOS. SOZINHOS TAMBÉM. Alcir de Faro 4 Cachaça: O Prazer de Conhecer 4 Por: Engels Maciel AS LEVEDURAS E O PÉ DE CUBA Então, voltando ao nosso assunto, vamos ao que interessa. O que são “leveduras”? As leveduras, como os bolores e cogumelos, são fungos. Apresentam-se caracteristicamente, sob forma unicelular. A etimologia da palavra levedura tem origem no termo latino levare com o sentido de crescer ou fazer crescer, pois as primeiras leveduras descobertas estavam associadas a processos de crescimento (fermentativos) como o de pães e de mostos que provocam um aumento da massa do pão ou do volume do mosto pela liberação de gás e formação de espuma nos mostos. Como células simples, as leveduras crescem e se reproduzem mais rapidamente do que os bolores. São mais eficientes na realização de alterações químicas, por causa da sua maior relação área/volume. As leveduras também diferem das algas, pois não efectuam a fotossíntese, e igualmente não são protozoários porque possuem uma parede celular rígida. São facilmente diferenciadas das bactérias em virtude das suas dimensões maiores e de suas propriedade morfológicas. Estes microrganismos são cultivados em destilarias para produção de etanol (álcool combustível) a partir do açúcar da cana. São também cultivadas a partir do melaço da cana-de-açúcar para serem usadas na fabricação de pães. Assim, são de extrema importância para a produção de álcool (álcool combustível e bebidas alcoólicas), além de outros produtos de grande interesse industrial até para a saúde e alimentação animal. Foi verificado pelos Drs. Octavio Valsechi, Ahmed M. El-Tabey Shehata e Rodolpho de Camargo que não só as enzimas contidas em leveduras como as Saccharomyces Cerevisiae estão atuando no processo de fermentação alcoólica. Existem outras tantas leveduras que possuem propriedades interessantes como, por exemplo, fermentar um número variado de tipos de açúcar, resistir a um maior teor de açúcar e álcool, oxidar fortemente o álcool produzindo compostos que incidirão no aroma das cachaças e outras que simplesmente diminuem o rendimento alcoólico, pois vivem as custas dos açúcares, tendo baixo poder fermentativo. Pode ser entendido como o agente de transformação do açúcar da cana em etanol e produtos secundários, além de transformação de outros componentes do caldo. Os microorganismos são encontrados praticamente em todos os lugares. Seu crescimento e reprodução dependem da disponibilidade de nutrientes, umidade e temperaturas adequadas. A atividade da levedura depende de suas condições vitais que, por sua vez, estão estreitamente relacionadas com sua nutrição. Determinados elementos, além de importantes à própria levedura, ainda favorecem certas reações que ocorrem durante a fermentação alcoólica. Uma das funções dos nutrientes é permitir que a maior fração possível do açúcar seja convertida em novas células na fase de reprodução ou, em etanol na fase de fermentação, minimizando o consumo de açúcar destinado a manter as células vivas. O caldo de cana, embora rico em sais minerais, possui um desequilíbrio entre os mesmos, exigindo uma suplementação adequada de certos elementos, visando uma fermentação satisfatória. Na produção de cachaça artesanal, parte dos nutrientes é encontrada no próprio caldo, mas é necessário que seja enriquecido por meio de outras fontes naturais como o farelo de arroz, o fubá e a farinha de soja. Toda esta fonte de nutrientes tem que estar finamente dividida, ou pulverizada, para que seja mais bem assimilada pelas leveduras. A esta mistura onde deverá ser acrescentado o sumo de limões, damos o nome de “Pé de Cuba”, o qual irá servir, desde que bem tratado, para nutrir as leveduras durante toda a safra. Convém salientar que nem todo o açúcar consumido pelas leveduras é transformado em etanol. Uma parte é incorporada às células, sendo transformada em outras substâncias que podem ter duas finalidades: 1ª - permitir a reprodução celular 2ª - manter as funções normais da própria célula Indico abaixo algumas das funções dos principais componentes minerais: Nitrogênio - favorece a ação das leveduras e o rendimento do processo. Fósforo - em sua ausência não ocorrerá formação de álcool. Enxofre - componente essencial de alguns aminoácidos. Potássio - melhora a tolerância das leveduras a íons tóxicos. Magnésio - agente protetor das células contra as modificações ambientais. Zinco, ferro e cobre estimulam a via metabólica que leva à produção de Etanol. As células que interessam aos produtores de cachaça que se utilizam de matéria prima vegetal ou animal são as denominadas eucariotas (leveduras). Elas são responsáveis pela fermentação alcoólica do caldo de cana, do caldo das frutas e do mel. Estando o caldo pronto para ser adicionado à dorna de fermentação já com correção do brix e pH resta se prestar atenção à temperatura para que as condições sejam favoráveis à propagação e atividade total das leveduras. As mais eficientes para a produção de etanol são as do gênero Saccharomyces e Schizoccharomyces. Em casos excepcionais, quando a propagação e atividade das bactérias são favoráveis podem ocorrer diversos acidentes. Vou citar aqui alguns dos mais comuns em produções artesanais: Fermentação Acética: Bactérias do gênero Acetobacter. O desenvolvimento destas bactérias é favorecido pela aeração do mosto em fermentação. Oxida o etanol por via aeróbica. Fermentação Butírica: Bactérias do gênero Clostridium. Estas bactérias produzem um aumento de acidez que é percebido pelo odor penetrante, característico de ranço. Costumam ocorrer por pouca acidez do mosto e temperaturas elevadas. Fermentação do Dextrânio: Bactérias do gênero Leuconostoc Mesenteróides. Pertencem ao grupo das bactérias do ácido láctico. Aumentam a viscosidade do mosto em fermentação, dificultando o desprendimento de CO2. Produz um aglomerado gelatinoso conhecido como “canjica”. Normalmente ocorrem por má qualidade da matéria prima, temperatura elevada e mosto com pouca acidez. Fermentação do Levânio: Bactérias do gênero Bacillus, Aerobacter e Streptococcus. As condições são idênticas as da fermentação do dextrânio. Realizam a síntese da sacarose formando um polissacarídeo. Com isto abaixa o rendimento da fermentação. Causa um aumento da viscosidade do mosto com formação de grandes bolhas que transbordam das dornas. Todos estes acidentes poderão ser evitados com um controle adequado da fermentação e adotando-se medidas higiênicas. Em resumo, o caldo, bem filtrado, deverá estar em condições tais que a fermentação se processe naturalmente e quase todo o açúcar disponível se transforme em álcool e nos outros compostos que irão se incorporar ao destilado. Agora, a título de curiosidade, alguns conceitos básicos para a produção de uma aguardente de fruta. Dois são os procedimentos básicos para extração do suco das frutas: por pressão ou esmagamento e por difusão ou maceração. Por pressão se extrai o suco natural, sem alterações. Por difusão se artificializa o suco, dissolvendo em volume correspondente de água os princípios contidos nos sucos que são muito concentrados. Pressão: as frutas são descascadas à mão ou mecanicamente e depois fragmentadas e esmagadas em prensa ou moenda. A retirada das cascas é um ponto que se deve atentar, pois algumas contêm óleos essenciais que poderão transportar qualidades indesejáveis ao mosto, como o gosto amargo. Difusão: é um processo de obtenção do mosto das frutas sem o auxílio de prensas ou espremedores. É baseado no princípio da osmose. As frutas, partidas em pequenos pedaços, ficam imersas em uma quantidade de água correspondente ao seu volume. Assim, os elementos que constituem o suco concentrado, principalmente os açúcares, passam para a água. Desta maneira não se perdem os princípios aromáticos e gustativos das frutas. Todavia, fica uma deficiência em sais minerais, que são indispensáveis para a multiplicação e manutenção das leveduras em atividade. Por isso é necessária a adição na etapa de fermentação, de substâncias nutritivas. É importante lembrar que, antes de iniciar a etapa de fermentação, o caldo deve ser bem filtrado, eliminando-se todo o bagaço que contém a pectina que é uma substância resinosa composta de hidratos de carbono e outros elementos que, combinados, têm a propriedade de geleificar sacaroses e outros açúcares em meio ácido. Esta geleificação inibe a fermentação. A pectina está presente em todos os frutos e raízes vegetais em quantidades diferentes.