rapel ou aparelhamento e não alta visão
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VidaBosch Outubro|Novembro|Dezembro de 2005 • nº 4 Levando os amigos para a cozinha Paulinho da Viola: do estúdio à oficina As curvas saborosas da pêra Um mergulho na beleza: os mistérios de Bonito 1 Rachel Guedes Haroldo Palo Jr./Kino.com.br VidaBosch Valorizar a cultura é parte da nossa cultura 02 20 Ao chegar à sua quarta edição, a VidaBosch consolida-se não só como uma fonte de informações sobre entretenimento, qualidade de vida e tecnologia, mas também como fonte de cultura. Afinal, as reportagens da revista têm se esforçado por, sempre que possível, mostrar as pessoas, os costumes e as ações humanas que estão por trás dos assuntos abordados. É por isso que, por exemplo, temos uma seção chamada eu e meu carro, em que personalidades de diferentes áreas falam sobre sua relação com o automóvel. Nesta edição, nosso entrevistado é Paulinho da Viola, que, além de compositor fundamental para nossa cultura, é um mecânico de mão cheia. É por isso, também, que no texto sobre a maravilhosa Bonito (MS) falamos das tradições dos vaqueiros da região, e que destacamos a aventura humana por trás da construção e da navegação do Brasil 1, o primeiro barco brasileiro a disputar a mais longa regata do mundo. É também por isso que escolhemos tratar de assuntos como cozinhas integradas à sala (elas têm tudo a ver com calor humano) e o crescimento dos produtos de cosméticos entre os homens. Rachel Guedes Hector Etchebaster/2DL Essa preocupação com os elementos de nossa cultura reflete, claro, uma postura da própria Bosch. Não só porque a qualidade dos nossos produtos e serviços está ligada à qualidade das pessoas que os produzem, mas porque eles têm como razão de ser atender aos interesses humanos – atender a você. Além disso, a cultura é um dos pilares de nossa política de responsabilidade social. É por isso que criamos uma seção chamada atitude cidadã e é por isso que, neste quarto número, fizemos questão de abordar o tema incentivo cultural. Boa leitura! Ellen Paula 30 40 02 10 12 14 20 26 30 36 40 44 46 viagem O que há de mais bonito em Bonito eu e meu carro Paulinho da Viola, um mecânico nas horas vagas torque e potência casa e conforto Frota de caminhões cresce e envelhece Integrada à sala, cozinha vira lugar de bate-papo saudável e gostoso tendências Oficina suja e com pôster de mulher é coisa do passado grandes obras Brasil cresce Barco brasileiro estréia na maior regata do mundo Os homens se rendem aos produtos cosméticos atitude cidadã Na cultura, apoio das empresas garante o espetáculo aquilo deu nisso áudio As curvas, os sabores e os nutrientes da pêra A história dos freios ABS começa nas ferrovias Kbps, CD-R, CR-RW... Decifre as letras e curta a música VidaBosch é uma publicação trimestral da Robert Bosch Ltda., desenvolvida pelo departamento de Marketing Corporativo (ADV). Se você tiver dúvidas, reclamações ou sugestões, fale com o Serviço de Atendimento ao Consumidor Bosch: 0800-7045446 ou www.bosch.com.br/contato Presidente: Edgar Silva Garbade • Gerente de Marketing Corporativo: Ellen Paula G. da Silva • Produção e edição: PrimaPagina (www.primapagina.com.br), rua Campos Bicudo, 98, 3° andar, CEP 04536-010, São Paulo, SP, tel. (11) 3066-5115, fax (11) 3167-4141 / e-mail: [email protected] • Projeto gráfico e diagramação: Renata Buono Design ([email protected]), tel. 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A 330 quilômetros de Campo Grande, Bonito oferece muito mais do que pode sugerir seu nome. Quem chega pode estar só ou com a família, pode ser um aventureiro de plantão ou um apaixonado por descanso, não importa, há de encontrar o que fazer. Ela fica na extremidade leste da Serra da Bodoquena, que demarca a transição natural entre o Pantanal – a maior planície inundável do planeta – e o planalto ao sul do Estado. Considerada um dos lugares de natureza mais exuberante do país, a região, vista do alto, parece um imenso tapete misturando áreas de pastagens, vegetação do Cerrado e remanescentes de matas tropicais. Os cientistas já identificaram mais de 300 espécies de aves, 200 de peixes, 1.300 de plantas e 50 de mamíferos nesse pedaço encravado no sudoeste do Mato Grosso do Sul. Tamanduá-bandeira, lobo guará, tucano, orquídeas e piraputangas estão entre as mais de 50 espécies de mamíferos, 300 espécies Bonito oferece mais de 50 atrações naturais para todos os gostos e bolsos; o número salta para 90 se forem incluídos os municípios vizinhos de Jardim e Bodoquena. Mergulhar em rios de água cristalina na companhia de cardumes, meditar em grutas desenhadas pelo tempo, caminhar por trilhas no meio da mata ao som de araras e de uma infinidade de outros pássaros, projetar-se dependurado em cordas de rapel em abismos ou simplesmente esquecer do mundo com um revigorante banho de cachoeira. Programas como esses atraíram, no ano passado, mais de 74 mil visitantes. Diante da infinidade de programas, vale a pena começar a desvendar Bonito por suas cavernas. A mais famosa delas, a do Lago Azul, está a 20 quilômetros do centro da cidade. Nela, uma caminhada de 100 metros – com a companhia silenciosa de projeções esculpidas pela ação de aves, 1.300 de plantas e 200 de peixes da região da água e do tempo sobre a pedra, as espeleotemas (formações minerais que ocorrem em cavernas, a exemplo das estalactites, estalagmites, colunas e cortinas) – leva ao final da trilha, onde está o lago que dá nome à gruta. A luz tênue sobre uma grande galeria se projeta na água e revela um azul profundo. Profundo mesmo: estima-se que entre a superfície da água e o fundo do lago haja 90 metros – o que faz da gruta uma das maiores cavidades inundadas da Terra. Descoberta por um índio terena em 1924, a caverna chama a atenção de turistas e pesquisadores do mundo inteiro. Em 1992, uma expedição composta por pesquisadores franceses e brasileiros – com a ajuda de espeleo-mergulhadores (do grego spelaion, caverna) – encontrou na gruta o que se tornaria uma das mais significativas coleções de fósseis de mamíferos da América do Sul. Entre eles es- tão o tigre-de-dentes-de-sabre, um mastodonte e uma preguiça gigante – que teriam habitado a região no período chamado pelos paleontólogos de Pleistoceno (entre 1,8 milhão de anos e 11 mil anos atrás). Hoje, os fósseis estão no Museu Natural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em Bonito, quase todos os locais interessantes estão em propriedades privadas que têm acesso por estradas de « 4 7 viagem Bosch Marcos André/Opção Brasil Imagens Franklin Nolla/Kino.com.br Luiz Cláudio Marigo/Opção Brasil Imagens « REGIÃO É rica em águas cristalinas devido à concentração de calcário Zig Koch/Opção Brasil Imagens terra e exigem acompanhamento de guias. Para dar conta do desafio de tornar a região um destino ecoturístico badalado, preservando o meio ambiente, foi implantado um esquema de parceria que envolve proprietários de sítios turísticos, agências, guias e prefeitura. Como ocorre em quase todos os atrativos de Bonito, as visitas à Gruta do Lago Azul são feitas somente com guias autorizados. e da fragilidade, a gruta do Lago Azul foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o que faz com que o acesso seja rigorosamente controlado. Os grupos não passam mais que três horas no local. O passeio pode ser contratado na maior parte dos operadores de turismo da cidade. A maioria das pessoas que planejam visitar Bonito tem afixada no imaginário a idéia de inquietos cardumes saracoteando por águas translúcidas. A região, rica em águas cristalinas devido à concentração de calcário, mantém uma grande diversidade de fauna e flora. O Aquário Natural Baía Bonita está a sete quilômetros da cidade e é um cartão-postal. A flutuação por águas límpidas é um dos programas imperdíveis. O passeio começa com uma caminhada pela mata ciliar, onde é possível observar a vegetação e animais silvestres até a chegada ao rio. Antes de cair na água, há um treinamento com os guias para a familiarização com snorkel, máscara e pés-de-pato. Cardumes de piraputangas, curimbas e dourados acompanham o visitante durante a descida do rio Baía Bonita até o Aquário, que já foi um viveiro de sucuris. As pedras calcárias que estão no leito do rio refletem a luz do sol em tons Luciano Candisani/Kino.com.br Por conta de sua beleza singular Algumas atrações de Bonito: caminhadas pelas matas, banhos de cachoeira, rafting no rio Formoso, conversas com os vaqueiros e, na fazenda Baía das Garças, a vista imperdível da Serra da Bodoquena que oscilam entre o azul e o prateado – o que torna espetacularmente nítida a observação da vegetação subaquática, que ondula ao sabor da corrente. Boa parte dos atrativos de Bonito está nas dezenas de fazendas que integram a prática do turismo à tradicional pecuária da região. A fazenda Baía das Garças, a 54 quilômetros de Bonito, é um desses locais que apostaram na harmonia entre a atividade econômica tradicional e o ecoturismo. É lá que está uma das maiores cachoeiras da região. Depois aparência, o vaqueiro da região é uma figura bem peculiar. O chapéu de abas grandes é sempre de palha, pois o feltro, comum em outras regiões do interior, é um desconforto nas altas temperaturas que dominam boa parte do ano. Jeans surrado, cinto com facão e botinas de couro com elástico compõem o figurino desses homens que matam a sede sorvendo o tereré (água gelada misturada à erva-mate). Personagens como esses são comuns na Estância Mimosa, a 24 quilômetros de Bonito, que também vive de turis- de uma trilha rústica, o visitante chega ao ponto mais alto, uma queda d’água com desnível de 120 metros, de onde é possível avistar a Serra da Bodoquena – um horizonte de montanhas e matas virgens. A dobradinha pecuária-turismo facilita uma imersão cultural por um mundo que, para quem vive na cidade grande, só é familiar nas páginas de livros ou nas cenas de filmes. É fácil ver peões acostumados ao trabalho com o gado que, em alguns casos, se convertem em guias. Na mo e pecuária. Depois da recepção na sede, parte-se para uma caminhada pela mata ciliar do rio Mimoso. No trajeto, há nove quedas d'água, seis locais para banho em cachoeiras e piscinas naturais, e uma plataforma com seis metros, de onde se salta para dentro de um poço natural. No caminho, é possível avistar tucanos, araras, macacos, cutias e tamanduás entre perobas, aroeiras e jatobás centenários. Orquídeas e bromélias completam a cena. Para quem prefere doses mais gene- rosas de adrenalina, o Abismo Anhumas (a 23 quilômetros da cidade) não é apenas um passeio, mas a própria aventura. Uma fenda na rocha é o portal de entrada para uma descida de 72 metros em rapel que leva a uma caverna e a um lago de 24 quilômetros quadrados e 80 metros de profundidade. As águas são translúcidas. Lá embaixo, a flutuação permite a perfeita visão de animais e plantas subaquáticos. Quem tem comprovação de curso de mergulho básico pode mergulhar até 18 metros de profundidade num roteiro « 6 8 9 viagem Bosch « DESCOBERTA por mochileiros na década de 80, Bonito já foi visitada pelo ator Harrison Ford preestabelecido. A aventura começa na véspera, com o treinamento de rapel e a familiarização com a parafernália (mosquetões, descensores stop, cordas de segurança, luvas e capacetes). A descida, que pode ser contratada em agências, é monitorada por guias experimentados e dura um dia. Bebidas energéticas e alimentos leves são indispensáveis. O programa, no entanto, só é indicado para quem tem preparo físico e dispõe de boas condições de saúde. Quem tem problemas cardíacos, de obesidade ou diabetes não pode fazer o passeio. Por causa da segurança e da preservação ambiental, o acesso é restrito a 16 pessoas por dia. Outra opção de aventura – que exige menos do preparo físico – é o rafting (descida de corredeiras em botes de borracha) Paulo Altafin pelo rio Formoso. Ao longo dos oito quilômetros, são percorridas três cachoeiras e duas corredeiras para terminar na Ilha do Padre. É um passeio meio “Indiana Jones”. Aliás, bastante “Indiana Jones”: o ator Harrison Ford, que viveu o personagem no cinema, de fato fez esse passeio quando esteve em Bonito, em 1997. mantém um site com informações atualizadas com dezenas de opções de hotéis e pousadas, oferecendo, inclusive, acesso às páginas desses estabelecimentos, email e telefones de contato. E uma dica importante: não deixe a hospedagem para a última hora, pois os preços das diárias flutuam de acordo com a época do ano. Além disso, na alta temporada ou nos feriados prolongados um lugar para ficar em Bonito costuma ser bastante disputado. Após um dia cheio de peripécias, a culinária típica da região, oferecida na maioria das fazendas, é um alento. Ela inclui arroz carreteiro, pratos à base de peixe e até mesmo jacaré. Em todas as fazendas, redários na sombra fazem a delícia dos visitantes cansados. Os pratos à base de peixe são as estrelas do cardápio. O pintado à urucum é uma opção imperdível: leve e tenro, o filé de pintado à doré é preparado no forno, coberto com molho de urucum (coloral), creme de leite e mussarela fatiada. Outra peculiaridade é o caldo de piranha, um ensopado fartamente temperado com ervas da região. Para quem deseja arriscar, uma opção exótica é a moqueca de filé de jacaré. A avenida Pilad Rebuá, a principal da cidade, concentra a maior parte dos restaurantes. É ali também que ferve a vida noturna de Bonito, basicamente movida por barzinhos e boa conversa. Antes de viajar, a internet pode ser uma aliada. O Conselho Municipal de Turismo de Bonito (www.bonito-ms.com.br) Onde se hospedar Zagaia Eco Resort Hotel Rodovia Bonito / Três Morros km 01 Tel.: (67) 255-1280 • www.zagaia.com.br Pousada do Sol Rua Pérsio Shaman, 710 Tel.: (67) 255-1297 • www.pousadadosolms.com.br Pousada Chão de Pedra Rua Soldado Desconhecido, 580 Tel.: (67) 255-1902 • www.chaodepedra.com.br Albergue da Juventude Rua Lúcio Borralho, 716 Tel.: (67) 255-1462 • www.ajbonito.com.br Onde comer A Bosch na sua vida Fotos Arquivo Bosch Peixaria Pantanal Rua Pilad Rebuá, 1908 / Centro • Tel.: (67) 255-2763 Bonito oferece mais de 50 atrações naturais para todos os gostos e bolsos Casarão Rua Pilad Rebuá, 1835 / Centro • Tel.: (67) 255-1970 Tapera Rua Pilad Rebuá, 1961 / Centro • Tel.: (67) 255-1757 A Bosch na sua vida Para ir longe Para ver distante Em regiões em que há muitas estradas de terra, como Bonito, é preciso dar atenção especial ao filtro de ar, dispositivo fundamental para garantir bom rendimento e vida longa ao veículo. Sua principal função é separar e eliminar as partículas contidas no ar aspirado pelo motor. Dessa forma, somente o ar limpo entrará nos cilindros, o que contribui para reduzir o desgaste de componentes como pistão, anéis e bielas. O filtro de ar deve ser trocado periodicamente, conforme recomendação do manual de cada automóvel, mas, se o veículo transitar por locais onde há grande concentração de poeira – estradas de terra, por exemplo –, a substituição deve ser feita com maior freqüência. A Bosch disponibiliza no mercado brasileiro sua linha de filtros, capazes de filtrar 99% das impurezas do ar, além de garantir maior durabilidade e desempenho ao motor. Um acessório de segurança importante para trafegar em estradas de terra, principalmente à noite ou sob chuva, é o farol auxiliar. Instalado à frente do pára-choque, ele tem a função de iluminar distâncias que os faróis comuns geralmente não atingem – em média, os faróis auxiliares têm capacidade de produzir um feixe de luz com um alcance cerca de três vezes maior que o de equipamentos convencionais. A Bosch disponibiliza no mercado brasileiro uma linha de faróis auxiliares que inclui o modelo Navigator, capaz de iluminar a uma distância de até 400 metros, cerca de quatro vezes maior que o conseguido por dispositivos comuns. Facilmente adaptável a qualquer veículo nacional, o Navigator tem um corpo em aço inoxidável, resistente a fortes impactos e à ação corrosiva do tempo, características importantes para quem faz trilhas e viagens por terra. 10 eu e meu carro Bosch 11 Ricardo Ayres/Photocamera POR RICARDO LOPES p aulo César Baptista de Farias já era músico com disco gravado quando começou a se interessar por carros. Tinha ele 25 anos de idade, e já era conhecido pelo apelido que o consagrou: Paulinho da Viola. Embora essa relação com automóveis tenha começado tardiamente, logo se tornou muito forte – as aulas da auto-escola despertaram nele uma paixão pelos carros, em especial pela mecânica. Ainda assim, só tirou carteira de habilitação dois anos mais tarde. Seu primeiro carro foi um Fusca 68, marrom claro. “Era um belo carro e mesmo sendo de segunda mão nunca me Paulinho do volante O cantor Paulinho da Viola começou a se interessar por carros só depois dos 25 anos de idade, mas logo tomou gosto pela coisa e virou até mecânico nas horas vagas leza de manter viva algumas lendas”. Atualmente, está restaurando dois modelos Karmann Ghia, um aberto (conversível) e um fechado. “Acho esse carro muito bonito”, afirma. Mesmo sem se considerar um aficionado, adora encontros e festivais de colecionadores. Rachel Guedes Isso não quer dizer que ele tenha mania de passado: já se rendeu às mordomias dos modelos modernos. Seu carro do dia-a-dia é um Chevrolet Astra; tem dois anos de uso, e, embora o músico mantenha a revisão em dia, pretende trocá-lo. “Antes de comprar um carro novo, saio coletando informações com amigos e parentes. Depois, vejo o que mais me agrada dentre os que tiveram bons comentários”, conta. Na sua garagem tem também um Peugeot 405, que divide com a esposa e os filhos. Para Paulinho, o veículo ideal deve ser econômico, mas o primordial é o conforto e a segurança. “Nunca priorizei carros luxuosos, mas sim confortáveis”, resume. Ele acha importante verificar os freios e a direção constantemente. Para fazer a manutenção, escolhe as concessionárias para serviços que estão em garantia, mas para consertos específicos prefere lojas especializadas. “Os carros estão com muita eletrônica e isso exige a necessidade de gente certa com ferramentas certas”, comenta. Para fazer um alinhamento ou balanceamento de rodas, um ajuste no sistema de freios ou um trabalho na direção, prefere uma oficina de confiança. Outro item que Paulinho acha importante na conservação de um automóvel é a escolha de um bom posto de combustível. “O combustível adulterado pode trazer vários problemas, por isso é importante eleger um bom posto e se manter fiel”, recomenda. Essa preocupação com a manutenção do carro se reflete também na preocupação com o trânsito. “Não gosto de correr. Gosto de observar ao meu redor e acho que um bom motorista deve respeitar a direção e dar preferência ao pedestre”, afirma. O que ele não gosta mesmo é de engarrafamentos. Para enfrentálos, recorre, claro, à música. “O trânsito parado me aborrece muito, mas com certas músicas fico calmo”, explica Paulinho. A Bosch na sua vida Do pedal para a roda Em uma seringa, o líquido pressionado pelo êmbolo é empurrado para fora. No sistema de freagem de um carro, acontece algo parecido. Só que a força é transferida pelo pedal e o líquido usado é um composto chamado fluido de freio, que pressiona as pinças, que, por sua vez, apertam o disco e fazem o veículo parar. Como é fundamental para o funcionamento adequado do automóvel, o produto deve ser verificado durante as revisões periódicas. A Bosch, que comercializa no Brasil uma linha de fluidos de freio de alta performance, recomenda que o composto seja trocado a cada 10 mil quilômetros ou uma vez por ano. A principal vantagem dos fluidos da Bosch é sua elevada resistência a temperaturas altas, o que evita que o líquido ferva e perca sua eficiência. Arquivo Bosch Paulinho da Viola em seu automóvel, no Rio de Janeiro: “Nunca priorizei carros luxuosos, mas sim confortáveis” deu problemas”, recorda. Depois, vieram automóveis como Dodge Polara, Chevrolet Opala, Ford Belina, entre outros. Mas houve dois casos diferentes, que o marcaram por breve tempo. O primeiro foi por um mau motivo: um Volkswagen TL ano 70, azul. “O carro era novo, mas entrava água por baixo. Foi o maior transtorno”, diz ele. O outro marcou por um bom motivo: um Chevette ano 86 a álcool, comprado zero, que está na garagem até hoje. “Sempre tentei me desfazer desse carro, mas nunca consegui. Meus filhos não deixavam”, esclarece. Além disso, o veículo se mostrou um bom negócio: a manutenção é barata e o Chevette revelou-se eficiente. O mais importante, porém, foi que nele Paulinho conseguiu pôr em prática seus dotes de mecânico. O gosto por mecânica havia nascido seis anos antes. No começo dos anos 80, Paulinho tinha comprado um Chevrolet 1934. O dono dessa preciosidade lhe apresentou um mecânico chamado Manoel Martins, proprietário de uma oficina de carros antigos. Paulinho se encantou com o espaço e passou a freqüentá-lo entre duas e três vezes por semana. Ia cedinho e ficava por lá o dia todo, mexendo em seu Chevrolet. “Pegava no batente e me sentia recompensado. Aprendi muito com seu Martins, e essa experiência me fez saber cuidar do meu carro, do velho e também dos novos” afirma. O aperfeiçoamento, no entanto, veio mesmo com o Chevette. Com 88 mil quilômetros rodados, o motor fundiu por descuido na manutenção. O músico, então, se aventurou a desmontá-lo. “Desmontei tudo, depois levei para a retífica e, em seguida, fiz a montagem”, diz. Um amigo mecânico vistoriou e, para sua grata surpresa, viu que o serviço estava impecável. “O som do motor funcionando era harmônico, principalmente naquela época em que se acertava o ponto de ignição e o carburador pelo ouvido”, recorda. E o melhor: o carro rodou mais de 100 mil quilômetros; continua na garagem e agora Paulinho já desistiu de vendê-lo. “O Chevette já faz parte da família”, resume. Porém, Paulinho avisa: “Não sou colecionador de carros, apenas aprecio a be- Do tanque para o motor O dispositivo responsável por fazer o combustível sair do tanque, atravessar o carro e chegar ao motor é a bomba de combustível. Gasolina e álcool de má qualidade podem danificar esse dispositivo, o filtro e o carro pode até deixar de funcionar. Para aumentar a vida útil da bomba e garantir seu bom funcionamento, é importante usar combustível de boa qualidade e procedência e trocar o filtro regularmente. A Bosch fabrica bomba de combustível para veículos a gasolina, álcool e bi-combustível, com tecnologia de ponta adaptada ao mercado brasileiro. 12 torque e potência Bosch 13 G. Evangelista/Opção Brasil Imagens o bordão “sem caminhão, o Brasil pára” nunca esteve tão em alta. O número de veículos de carga pesada rodando pelas ruas e estradas brasileiras cresce a cada ano, o que torna o segmento fundamental no transporte dos mais variados artigos produzidos no país. Mesmo assim, essa expansão vem acompanhada de um outro aumento: o da idade média da frota. As estimativas, ainda que divergentes, apontam para o mesmo quadro. Um estudo divulgado recentemente pela Truk Consultoria em Transportes, por exemplo, indica que, em 1992, os caminhões leves (até 4,5 toneladas) que trafegavam pelas pistas do país tinham, em média 8,9 anos; em 2005, a média, subiu para 14,2 anos. A situação é ainda mais grave entre os caminhões médios (entre 4,5 e 9 toneladas): o tempo de rodagem passou de 14 para 22,4 anos nesse período. “A frota cresceu e envelheceu”, resume José Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCAM). Segundo estimativa do próprio dirigente, na soma de todas as categorias a idade média dos caminhões que rodam pelo país está em 18 anos. “O caminhoneiro não tem dinheiro para comprar um caminhão novo”, justifica. Frota brasileira de caminhões envelheceu nas últimas décadas e tem, em média, pelo menos 14 anos de idade Um veículo desses, zero quilômetro, dificilmente sai por menos de R$ 150 mil. Segundo Lopes, um modelo similar com 18 anos de uso e em bom estado pode valer na revenda até R$ 80 mil. Dessa forma, para trocar por um veículo novo, o caminheiro teria de desembolsar pelo menos R$ 70 mil. “Os caminheiros não têm hoje condições de cobrir essa diferença”, afirma Lopes. Mesmo assim, o número de caminhões continua a crescer no país: a frota era de 1,364 milhão em agosto deste ano, segundo levantamento da Agência Nacio- nal de Transportes Terrestres (ANTT). Desse total, 765 mil eram de propriedades de caminhoneiros autônomos e 599 mil pertenciam a cooperativas e empresas de transporte. São essas últimas que têm sustentado a expansão do mercado: segundo dados da ANTT, havia em agosto 106 mil empresas de transportes de cargas no país. “Esse número é bem maior do que se imaginava antes de sair essa pesquisa”, afirma Lopes. “Em 1974, tínhamos cerca de 1 milhão de caminhões rodando no país, quase todos eles de autônomos”, lembra. O tráfego de caminhões mais velhos acaba gerando pelo menos dois problemas preocupantes. O primeiro está relacionado ao meio ambiente: os veículos antigos tendem a ter um motor desregulado, o que pode resultar numa emissão de poluentes acima do normal. O segundo aspecto é a segurança, que fica comprometida devido à falta de manutenção adequada nos caminhões mais velhos. Uma falha no sistema de freios, por exemplo, poderia colocar em perigo não só motorista e passageiros do caminhão, mas também outros veículos e até mesmo pedestres. “O caminhoneiro não tem condições de fazer manutenção preventiva. Ele faz apenas a manutenção corretiva”, reconhece Lopes. Segundo ele, o elevado valor cobrado pelas peças e mão-de-obra nas grandes concessionárias faz a maioria dos caminhoneiros procurar oficinas com preço mais em conta e um serviço de baixa qualidade. “A nossa realidade é bem diferente daquele seriado da TV”, comenta Lopes, referindo-se ao seriado Carga Pesada, da Rede Globo, protagonizado pelos atores Antônio Fagundes e Stênio Garcia. Para reverter o atual quadro, defende o presidente da associação dos caminhoneiros, seria necessário haver um programa do governo que incentivasse a renovação da frota. Segundo ele, a entidade estuda atualmente a elaboração de uma proposta viável nesse sentido. “Precisamos de um programa de incentivo e linhas de financiamento que garantam ainda a retirada das ruas dos caminhões com elevado tempo de uso”, sugere. A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Os vovôs da estrada POR GUILHERME PREZIA Para durar uma vida Muitos caminhões fabricados há mais de 30 anos ainda rodam pelas ruas e estradas do Brasil. Essa frota ainda utiliza o sistema mecânico de injeção de combustível. Para atendê-los, a Bosch comercializa no Brasil sistemas mecânicos para motores diesel, cuja principal característica é a durabilidade – alguns deles são capazes de chegar facilmente a 1 milhão de quilômetros rodados. Essa resistência é garantida por um controle de qualidade ao longo de todo o processo de fabricação, o que possibilita que apenas um em cada um milhão de sistemas produzidos pela Bosch apresente algum tipo de falha. Para funcionar por um logo tempo sem quebrar, o dispositivo é composto por materiais de alta resistência, como aço e alumínio. Da mesma forma, materiais menos resistentes – como plástico e borracha – são empregados em quantidade reduzida, para não prejudicar a vida útil da injeção. A Bosch produz há 50 anos sistemas de injeção mecânicos a diesel, presentes hoje em cerca de 95% da frota nacional. 15 Rachel Guedes 14 casa e conforto Bosch P O R N AT H A L I A BA R B OZ A Quando sofá rima com fogão Integrada à sala de estar, a cozinha gourmet resgata o prazer de reunir os amigos para uma refeição d e volta à cozinha. O bom e velho hábito de reunir as pessoas em torno de comida saborosa e boa conversa está em alta, resgatando o prazer dos encontros entre amigos. Integrada à sala de visitas, a prosaica cozinha agora recebe o pomposo nome de “espaço gourmet”. Se antes ela ficava estrategicamente escondida de outros cômodos da casa, agora é uma extensão do ambiente de estar e um dos espaços de convivência por excelência. Nele, a idéia não é “fazer comida” e, sim, praticar gastronomia. Nas últimas décadas, houve um aumento do tempo que as pessoas passam dentro de casa e do número de atividades desenvolvidas nesse espaço, aponta uma pesquisa do grupo Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de Vida (Nomads), ligado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da USP de São Carlos. Fatores como a violência das ruas têm contribuído para esse enclausuramento. Antes escondida dos outros cômodos, cozinha agora pode ser uma extensão da sala de estar, como no espaço preparado por Teresinha Nigri Basiches na Mostra Artefacto 2005,em São Paulo « 16 casa e conforto Bosch 17 O desejo de integrar a cozinha aos ambientes de estar, de acordo com Issa, veio com a mesma força da mudança de hábitos promovida pelo home theater tempos atrás. “O espaço gourmet serve bem tanto a quem mora sozinho e consome apenas congelados quanto a quem tem a culinária como hobby e adora convidar os amigos para um demorado batepapo”, afirma a arquiteta Telma Sabadin. A decoradora Bety Neumann destaca que muitos de seus clientes são homens que moram sozinhos e que convidam pessoas para jantar em casa. Num espaço gourmet, o visual conta tanto quanto a tecnologia. “As pessoas estão investindo muito mais na cozinha. Antes era o item do projeto em que se deveria economizar. De repente, virou uma das estrelas da casa”, afirma Bety. Segundo ela, num apartamento em que se gastem R$ 500 mil para decorar, pelo menos R$ 70 mil são investidos num espaço gourmet equipado. “Um projeto desse tipo pode consumir de 8% a 15% do orçamento total, dependendo do nível social do interessado”. « O PROJETO deve satisfazer as quatro etapas do trabalho do cozinheiro: armazenar, preparar, cozinhar e servir Entre os eletrodomésticos, o fogão é a estrela principal, com destaque para o cooktop (fogão de mesa) e o forno elétrico. A escolha do modelo ideal é pessoal e deve ser feita de acordo com as necessidades do cozinheiro. Alguns chegam a optar por produtos de apenas duas bocas. Em geral, segundo Bety, o gosto de quem vai montar um espaço gourmet segue duas direções. “Ou eles querem a ultramoderna linha de eletrodomésticos de inox ou o visual antigo, com chaleiras e máquinas de café que lembrem a casa da vovó”, afirma a decoradora. « Cozinha gourmet é espaço de convivência por excelência e não deve ter televisão, recomenda o arquiteto Ricardo Issa A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Fotos Rachel Guedes O lado bom da história é que isso levou as pessoas a redescobrirem o prazer de receber os amigos em casa. “Muitos dos clientes que pedem um espaço gourmet já praticam esse conceito em suas casas, mas de forma improvisada”, revela o arquiteto Ricardo Issa, criador do Espaço Gourmet, em exibição na Mostra Artefacto 2005, na loja da marca de móveis na rua Haddock Lobo, em São Paulo. Criando tendência A inovação e o design são alguns dos aspectos cada vez mais valorizados nos eletrodomésticos. O desenho diferenciado e a tecnologia de ponta devem unir praticidade, eficiência e um visual que combine com a sofisticação crescente das cozinhas atuais. De olho nessa tendência, a Bosch patrocina mostras de decoração no Brasil. Uma delas é a Artefacto, que acontece todo ano nas principais capitais brasileiras; seus espaços são projetados por arquitetos renomados e revelam tendências atuais na decoração. A mostra de São Paulo está retratada nas páginas desta matéria; as do Rio de Janeiro e Goiânia podem ser conferidas no endereço www.boscheletrodomesticos.com.br Nesses eventos, a Bosch, além de patrociná-los, exibe sua linha de eletrodomésticos com acabamento externo em inox, que inclui fogões, lavalouças, fornos, coifas e refrigeradores. 18 casa e conforto Bosch vidros e espelhos ecoam o barulho e, portanto, devem ser evitados numa cozinha integrada à sala “De frente para a sala, os eletro- A Bosch na sua vida Arquivo Bosch domésticos mais modernos acabaram agregando uma função estética ao ambiente, pois hoje são também um objeto de decoração”, diz o arquiteto André Moral. Alguns cuidados, no entanto, devem ser tomados na hora de aparelhar a cozinha. “Fuja das geladeiras barulhentas”, avisa Issa, que se diz “radicalmente contra” o uso de televisores nesses ambientes. “É um espaço de convivência por excelência. É imperdoável apelar para uma TV de plasma!”. Os especialistas recomendam cuidado com os pontos elétricos, já que alguns eletrodomésticos oferecem apenas a versão de 220V. “Nada de usar benjamins. E é bom planejar onde irão as tomadas adicionais, que ligarão os acessórios, como a batedeira ou uma cafeteira”, lembra Telma Sabadin. Não é possível pensar apenas em aspectos da decoração e esquecer de detalhes técnicos, alerta Ricardo Issa. A forte reverberação típica da cozinha tradicional é o primeiro deles. “Você não agüenta ficar por cinco minutos num ambiente desses”. É preciso lembrar que com a cozinha integrada à sala de estar haverá interferência sonora entre os espaços. Por isso, convém que a cozinha gourmet não só abandone as paredes, mas também o tradicional revestimento de azulejos, além de muito vidro e de espelhos, que fazem ecoar o barulho. Para absorver o som, é recomendável o uso de madeira, palha, lã e couro, este último com parcimônia. “Assim, o espaço fica mais agradável e sem o aspecto de hospital”, sugere Issa. Bom e bonito A Bosch oferece uma linha de eletrodomésticos que acompanha a evolução dos projetos de arquitetura e decoração e tem entre suas principais características o design diferenciado, a versatilidade e a facilidade de uso. É o caso do novo Forno Elétrico Digital da Bosch, que oferece oito diferentes funções para assar, grelhar, gratinar e descongelar alimentos. O equipamento conta com um sistema de autolimpeza exclusivo, o Ecoclean. Sua vantagem está nas paredes internas do forno, revestidas com um esmalte esponjoso que absorve com eficiência os resíduos dos alimentos. Esse dispositivo elimina melhor a gordura, o que é um recurso importante para quem mora em pequenos apartamentos, como aqueles que conjugam sala e cozinha num mesmo ambiente, ou têm uma cozinha gourmet. tada para os convidados. Um tampo de corian (material não poroso, com alta resistência térmica) não é para qualquer bolso. Então, pode-se optar por áreas de mármore (para as panelas quentes e a manipulação de massas), tampos de inox ou ainda de madeira. E importante: uma boa coifa é imprescindível. Rachel Guedes « AZULEJOS, Como em qualquer cozinha, o importante é ter um bom projeto espacial, que confira ao ambiente um conceito funcional de estação de trabalho. O projeto deve satisfazer as quatro etapas do trabalho do cozinheiro: armazenar (em armários, geladeira e freezer); preparar (bancada e pia); cozinhar (forno, fogão, microondas); e servir. Além de uma mesa grande e de cadeiras confortáveis, é importante que haja uma bancada de trabalho tipo ilha, vol- 19 A madeira tem presença constante nos projetos do arquiteto Moral, que opta quase sempre pela laqueação em preto, branco ou até em cores vivas para os móveis. “É possível usar folhas de wengé, freijó ou linheiro. Madeira maciça rústica também vai muito bem”, sugere. Num de seus projetos, Moral pôs abaixo paredes internas de um apartamento de três dormitórios para integrar a cozinha à sala e a um escritório. O balcão central foi laqueado em preto e acompanhado por pedra preta. “A bancada é a estrela do ambiente. Por isso preferi ocultar os acessórios”, conta. No teto, a iluminação vai além da escolha de uma luz mais quente. “Uma lâmpada atrás da bancada de trabalho dá sombra e dificulta a vida do usuário”, lembra Issa, que recomenda deslocar os focos de luz para pontos específicos da cozinha, como a bancada e a pia. “Pode ter velas, também, pois elas conferem um grau de aconchego e intimidade que tem tudo a ver com a proposta do espaço gourmet”. No chão, segundo a decoradora Bety Neumann, se os pisos estiverem integrados, uma possibilidade é erguer um deck na cozinha, com uma base de alumínio sobreposta por ripas de madeira, que podem ser retiradas para efetuar a limpeza. Já para Telma, a transição entre pisos diferentes pode ser feita por um estágio intermediário, feito de uma soleira, pastilhas de vidro ou mármore. “O único inconveniente da cozinha integrada à sala é a fritura. Mesmo que haja um exaustor, a família terá de se adaptar a isso”, lembra Moral. Por isso, para a sala de estar, o ideal é revestir os estofados com capas laváveis. E o tapete deve seguir a mesma tendência das capas, o que exclui o sisal da lista de preferidos dos gourmets. Uma boa cozinha gourmet não pode prescindir de mesa grande, cadeiras confortáveis e uma bancada de trabalho tipo ilha, voltada para os convidados 21 Gettyimages 20 saudável e gostoso Bosch POR CARINA MARTINS A musa da cozinha Com suas formas curvilíneas e um certo ar feminino, a pêra atraiu a atenção de inúmeros artistas da Renascença, que a usaram como musa para quadros a textura singular e macia de algumas variedades garantiulhe o apelido de fruta-manteiga. A versatilidade e a resistência fizeram dela um dos primeiros produtos cultivados e vendidos pelo homem, além de importante definidor de rotas comercias no mundo antigo. Afinal, já por volta do ano 5000 a. C. o tino comercial do chinês Feng Li foi atraído por ela, a ponto de o comerciante ter largado tudo para se dedicar exclusivamente à venda em massa da fruta. Mais tarde, os romanos fizeram extensas culturas para obter seus frutos e o valor pago por eles nos mercados. Já suas formas curvilíneas e um certo ar feminino garantiram a atenção de inúmeros artistas da Renascença, que a usaram como musa para quadros. E todas essas qualidades, aliadas evidentemente a seu sabor, fizeram com que Homero, na Odisséia, chamasse-a de presente dos deuses. Trata-se da singela e poderosa pêra. Apesar de popular, é comum ser ofuscada por outras frutas, mais chamativas, mais comuns, mais óbvias (alguns diriam que mais vulgares). “Entre bananas,/Supervenientes/E maçãs lhanas/Rubras, contentes/A pobre pêra:/Quem manda ser a?”, diz Vinicius de Moraes em “A Pêra”. A força da pêra é sutil. Não é à toa que na brincadeira infantil ela corresponda ao afeto mais singelo, mas não menos significativo — dar as mãos. As outras alternativas do jogo (uva, maçã e salada mista) podem até parecer mais tentadoras. Mas nenhuma bate a solidez das mãos dadas, muito menos o beijo na boca da despersonalizada salada mista. Ora, quem fica de mãos dadas sabe que não há necessidade de apressar o beijo — ele vai chegar no tempo certo. Nada mais importante para as frutas do que a maturação. « Celebrada por artistas tão diversos como Homero, Vinicius de Moraes e pintores da Renascença, é nas receitas que a pêra exibe toda sua versatilidade 23 Rachel Guedes 22 saudável e gostoso Bosch os dentes. Não precisa abrir, cortar ou descascar. Não precisa esperar demais para amadurecer, nem comer logo antes que apodreça – ela dura muito tempo. Não lambuza nem despedaça. Não precisa nem mesmo de cuidados específicos de armazenagem – basta um lugar fresco e seco. A pêra vem pronta do pé, e permanece assim por uma longa vida útil. Na geladeira, perde um pouco do aroma e sabor, mas dura ainda mais. em vitamina C e complexo B, que ajuda o organismo a digerir melhor os nutrientes E os apreciadores de pêra sabem disso: esperar o momento certo é fundamental para aproveitar o melhor dela. Desde o sabor até o valor nutritivo, tudo muda se a fruta for comida no momento errado. Quando passada, perde cerca de três quartos do valor de seus nutrientes. Verde, faz mal para o estômago porque se torna indigesta. Mas, na hora certa, é excelente – para o paladar e para o corpo. Escolher a pêra certa é simples. A fruta de boa qualidade tem casca firme, mas não dura (se estiver muito dura significa que foi colhida cedo demais e logo ficará murcha, esfarelada e sem sabor). Tem aparência limpa, sem cortes, machucados, manchas ou picadas de insetos. Para o consumo imediato, compre pêras tenras, sem marcas marrons que indiquem apodrecimento. A versatilidade é a marca registrada da pêra na cozinha: ela vai bem, por exemplo, com saladas e queijos A doce, macia e forte pêra tem todas as características que fazem com que uma fruta seja perfeita. Entre elas, razões menos românticas e mais práticas do que as que moviam Homero, os artistas da Renascença e as crianças que amam em segredo. A pêra é assim: sutil, elegante, inspiradora. Mas, acima de tudo, prática. Espécie de prima chique da maçã (de quem perde em popularidade, mas ganha em atributos), é uma daquelas frutas de design perfeito que basta pegar e enfiar A Bosch na sua vida Nessa área, a versatilidade é a marca registrada da fruta, seja em pratos salgados, como saladas ou acompanhando queijos; em sobremesas, como tortas, cozidos, sorbets; ou mesmo como suco e geléia. Dá para assar, cozinhar, picar, bater, gelar, esquentar (“melhor assada ou cozida para manter os nutrientes”, alerta Alessandra). Pêra vai bem com quase tudo. “É uma fruta extremamente versátil”, garante o chef Marcílio Duarte, do Café Antiqüe, em São Paulo, fã da fruta em suas receitas. Na gastronomia, a pêra ganha uma nova aliada às suas muitas qualidades: a elegância. Talvez seja a origem – veio das regiões temperadas e precisa de geada para dar frutos – que faça um contraponto sutil e elegante ao sabor marcante e ao colorido alegre das frutas tropicais. A pêra é mais discreta, mas não menos poderosa. A cor pálida de seu interior serve para que chefs divirtam-se, colorindo a fruta ao cozinhá-la no vinho, ou com açafrão, e criando bases para sobremesas que são verdadeiras obras de arte. O sabor singular, mas leve, abrilhanta queijos fortes. A textura garante tortas incríveis. A pêra sabe ser coadjuvante. Sua qualidade não é ofuscar o brilho de outros ingredientes, mas sim ressaltá-los. O resultado é uma gama de pratos de dar água na boca – e cheios de vantagens. As sobremesas convencem até quem só acredita em doces à base de chocolate. A delícia clássica de uma torta de pêra ou da fruta cozida é irresistível. E, como sempre, além de seu charme, a pêra conta ainda com motivos práticos a seu favor. “Entre uma torta de pêra e uma de chocolate, a melhor opção é mil vezes a de pêra”, garante Alessandra Caviglia. “Mesmo que o valor calórico seja similar, o de gordura é incomparável. Para se ter uma idéia, 100 gramas de pêra contêm 0,5 grama de gordura, contra 35 gramas do chocolate”. E ainda é uma delícia. A Bosch na sua vida Porta refrigerada Fotos Arquivo Bosch Se muitas vezes os apelos da pêra são práticos, os benefícios também podem ser. Além de vitamina C, a fruta é rica em complexo B, por exemplo. Essa substância é importante porque, segundo a nutricionista Alessandra Caviglia, ajuda o organismo a metabolizar melhor os nutrientes que ingere – nada mais prático. Além disso, tem quase tanto potássio quanto uma banana-maçã, o que é uma ótima notícia para quem sofre de câimbras (causadas pela falta desse mineral no organismo) e para quem faz uso de diuréticos, como os hipertensos (a pêra repõe o potássio perdido com o líquido eliminado pelo corpo). Pela mesma razão, é ainda um bom lanchinho para quem gosta de malhar ou praticar esportes. Mas não são apenas vitaminas e minerais que a fruta oferece. A pêra tem em abundância um outro elemento extremamente prático, muitas vezes ignorado e Para ser conservada por mais tempo, frutas como a pêra devem ser colocadas na geladeira. A falta de uma refrigeração adequada pode prejudicar o poder nutricional de frutas e verduras ou até mesmo estragá-las. O mesmo ocorre com vários tipos de alimentos. Foi pensando nisso que a Bosch desenvolveu refrigeradores com porta refrigerada. Através de um sistema de tubulações, o ar refrigerado circula de forma uniforme por todos os compartimentos, inclusive pelas prateleiras da porta. O recurso foi especialmente planejado para melhorar o grau de conservação de alimentos que estragam com maior rapidez e, geralmente, ficam na porta do refrigerador – como ovos, iogurtes, temperos e queijos, entre outros. Porta ampla Uma das principais dificuldades no preparo de receitas é acertar o ponto de cozimento. Além da experiência do cozinheiro, é importante contar com um acessório que possibilite acompanhar com precisão o andamento da comida no forno. Para facilitar a vida do consumidor nesse aspecto, a Bosch desenvolveu em sua linha de fogões uma porta de forno com design moderno e uma área ampla de vidro, que permite observar o alimento dentro do compartimento, sem que haja a necessidade de abrir sua porta. Além de ajudar a retirar o assado na hora certa, o recurso elimina a necessidade de se puxar a porta, evitando que a diferença de temperatura prejudique o resultado final da receita. Para impedir o superaquecimento da parte externa, a porta é isolada com dois vidros, e o forno é projetado para fazer uma circulação forçada do ar, aumentando, assim, a segurança para o consumidor. « « FRUTA É RICA tão low-profile quanto ela: a água. “É importante falar disso, porque a água dos alimentos faz diferença na alimentação das pessoas, sim”, diz Alessandra, que é nutricionista da academia de ginástica Companhia Athletica, em São Paulo. “Ajuda a complementar a hidratação, o que é importante especialmente em épocas quentes ou para pessoas com mais facilidade para desidratar, como idosos e crianças”. Todas essas vantagens, é bom que se diga, são apenas aquelas que se referem à pêra como ela veio ao mundo. Porque existem muitas outras. Ao chegarmos à parte sobre a inegável vocação gastronômica da fruta, o leque de possibilidades e vantagens da pêra se abre ainda mais. É justamente aí que ela mostra seu verdadeiro talento. 25 Fotos Rachel Guedes 24 saudável e gostoso Bosch RECEITAS Pêra cozida ao açafrão e especiarias Ingredientes • 8 pêras maduras • 1 g de açafrão espanhol em pó • 400 g de açúcar refinado • 900 ml de água filtrada • estrela de anis • 1 cravo-da-índia • 3 grãos de pimenta negra • 1 cm de canela • 1 grão de cardamomo • 400 g de sorvete de baunilha Modo de preparo O chef Marcílio Duarte: criatividade na torta de pêra e amêndoas (acima) e na pêra ao molho de açafrão (ao lado) Descasque as pêras e coloque-as em uma panela com a água, o açúcar e as especiarias. Deixe cozinhar em fogo brando por 30 minutos, retire-as e reserve-as. Deixe o líquido reduzir até ficar espesso e coe. Mergulhe as pêras na redução e leve à geladeira. Retire o centro das pêras e fatie-as; sirva uma pêra por pessoa com uma bola de sorvete de baunilha e regue a pêra com a redução. « Torta de pêra e amêndoas Opção clássica Para o chef Marcílio Duarte, do restaurante Café Antiqüe: pêra deve ser usada sem excesso de açúcar: “se usar demais, tira a graça da fruta” o chef Marcílio Duarte comanda as caçarolas do sofisticado Café Antiqüe, um dos restaurantes franceses mais queridos de São Paulo, conhecido por sua cozinha impecável e ambiente charmoso, acoplado a um antiquário. Marcílio usa a fruta com freqüência em seu restaurante. “Eu adoro com roquefort, clássica”, diz, citando o exemplo de sua salada de endívias, pêra e roquefort. Ele dá as dicas para quem quer usar a fruta na cozinha, sem erros. “Na minha opinião, a melhor para sobremesas é a pêra d’anjou. Ela tem a textura e a coloração ideais, porque não desmancha e fica branquinha”, afirma. Já para saladas, a preferida do chef é a William, companheira perfeita para queijos fortes. O erro mais comum na hora de preparar, segundo ele, é exagerar no açúcar. “Se usar demais, tira a graça da fruta”, explica. Segundo Marcílio, a medida ideal é usar 600 gramas para um litro de água. Carregar no doce é desnecessário – as qualidades da pêra são sutis. Sua apreciação também deve ser. Veja ao lado duas receitas que ele preparou especialmente para a VidaBosch. Café Antiqüe – r. Haddock Lobo, 1416, Cerqueira César. São Paulo - SP Ingredientes • 250 g de farinha de trigo • 85 g de açúcar refinado • 125 g de manteiga sem sal • 15 ml de água gelada • 4 pêras maduras cortadas em 8 fatias Modo de preparo Junte a farinha, o açúcar e a manteiga, misture bem e acrescente água gelada. Deixe descansar por 30 minutos. Distribua em quatro fôrmas (12 cm por 1 cm). Leve ao forno a 180 graus por 25 minutos. Reserve. Ingredientes para o creme • 185 g de manteiga sem sal • 95 g de açúcar • 45 g de clara de ovos • 85 g de farinha de amêndoas • 1/5 fava de baunilha • raspas de limão Modo de preparo Junte todos os ingredientes em uma batedeira. Distribua a mistura nas massas já assadas, distribua as fatias de pêra, polvilhe açúcar de confeiteiro e leve ao forno por 25 minutos. Sirva com sorvete de baunilha. Rendimento: quatro porções. 26 tendências Bosch O fim do mecânico de ouvido Graxa por todos os cantos e diagnósticos improvisados são itens em extinção nas oficinas; deram lugar a equipamentos modernos e técnicos especializados 27 Outra cena, cada vez mais comum, indica a evolução do setor de reparação automotiva. O cliente chega à oficina e é recebido por um atendente. Depois de conversar sobre a falha do carro, vai aguardar a verificação do defeito em uma sala de espera, com direito a água e cafezinho. Alguns minutos depois, a causa do problema é identificada, e ele fica sabendo com precisão o que será necessário fazer no seu carro. A estrutura moderna, os equipamentos digitais de diagnóstico, o bom atendimento e a limpeza do local também ajudam a tranqüilizar o cliente. O contraste entre as duas cenas é realçado não só pela infra-estrutura. Outro ponto essencial é o profissional responsável pelo êxito do conserto e que muitas vezes fica no anonimato: o mecânico. Essa peça fundamental na manutenção de um automóvel passou nos úl- timos anos por uma grande evolução, no intuito de acompanhar os avanços tecnológicos do setor. O aprimoramento foi um requisito frente à modernização de máquinas e equipamentos, mas está ligado também, segundo profissionais do setor, à entrada de jovens nesse mercado de trabalho – na faixa dos 35 anos, eles têm grau de instrução elevado, se comparado ao de outras épocas. Com a concorrência, os demais profissionais também sentiram necessidade de acompanhar a evolução. Bom para todo mundo. Um levantamento recente do Instituto Nacional para Excelência de Serviço Automotivo (ASE Brasil, que está presente no país desde 1996 e certifica a capacitação dos mecânicos) apontou que 95% dos trabalhadores da área têm curso profissional ou especialização. Ou se- ja: há uma grande preocupação do mecânico em se manter atualizado. Um dado importante da pesquisa é que 87% dos profissionais entrevistados dispõem de pelo menos um computador em sua oficina. A internet, importante fonte de informação, também tem se disseminado: 80% afirmaram possuir acesso à rede e 79% têm e-mail. “Com o avanço da tecnologia na engenharia automotiva, os reparadores ficariam fora do mercado caso não se atualizassem”, resume o presidente da ASE Brasil, Geraldo Luiz Santo Mauro. O estudo, afirma, mostra que as oficinas estão informatizadas e capacitadas para atender às exigências dos clientes e já não podem ser vistas como um ambiente desorganizado. A própria exigência do consumidor influenciou essa evolução. “Hoje, o cliente também tem mais informação técnica e consciência dos direitos de consumidor”, diz Santo Mauro. Segundo Laércio Bisi, gerente da Tecnicar, uma oficina da capital paulista, o cliente está mais exigente e sabe exatamente o que procura. “O que ajuda na proliferação dessas informações são as revistas técnicas e especializadas, além da internet, que disponibiliza bastante conhecimento”, aponta. Um tipo de consumidor em especial teve papel fundamental nesse cenário: as mulheres, que correspondem a 46% do público que procura os serviços de reparação de automóveis, segundo dados da ASE. “As mulheres são mais exigentes e buscam oficinas que, além de oferecer bons serviços, tenham boa aparência. Essa evolução no setor aproximou o público feminino”, afirma Santo Mauro. Assim, não faz mais sentido a figura do Fotos Rachel Guedes POR RICARDO LOPES 0 cliente chega a uma oficina qualquer para resolver falhas no carro e verificar alguns barulhos estranhos. O mecânico observa a situação, coça a barba e abre o capô com as mãos sujas de graxa. Olha as engrenagens, ouve o ronco do motor e dá o veredicto: “É, tem jeito não. Tem que trocar a peça”. Mesmo sem detalhar qual é o defeito, olha o carro a certa distância, abaixa a frente do automóvel, depois a traseira, e passa o orçamento: “Tem que mexer aqui, ali também e essas peças são difíceis de encontrar”, comenta, citando uma confusa lista de componentes. Cenas como essa ainda podem ser vistas em algumas oficinas brasileiras, mas são cada vez mais raras. E, quando ocorrem, mostram que esse tipo de profissional está com os dias contados. “O mecânico precisa saber lidar com os equipamentos de precisão, que estão cada vez mais sofisticados”, afirma Rogério Gomes, na profissão há 18 anos « 28 tendências Bosch 29 Antigamente, ter apenas o 1º grau já era o suficiente, afirma Luiz Augusto Franco da Rocha, proprietário da oficina Carbofreio, também de São Paulo. “Hoje, não é mais assim, e até mesmo com 2º grau já não serve. O mecânico atual tem de correr atrás de informação o tempo todo e também ter noções de outras línguas, pois muitos dados técnicos de carros importados não constam em português”, diz. Os donos de oficina e professores da área concordam que a habilidade manual ainda é um diferencial importante para os mecânicos, mas é preciso ter profundo conhecimento técnico. Para Franco da Rocha, o profissional ideal deve, em primeiro lugar, demonstrar interesse pela informação. Ele afirma que a habilidade Ciclo benéfico: a evolução dos carros estimulou a evolução dos equipamentos de diagnóstico, que estimulou a especialização do mecânico « MULHERES, que agora freqüentam mais as oficinas, são mais exigentes com atendimento e com a limpeza do ambiente mecânico sujo de graxa em uma oficina repleta de pôsteres com mulheres nuas. “A apresentação da oficina é uma forma de atender bem, já que os clientes atuais são mais rigorosos. As mulheres freqüentam a oficina mecânica regularmente, sem medos nem constrangimentos” diz Virginio Rodrigo dos Santos, chefe de oficina da Joaquim Gonçalves Centro Automotivo, em São Paulo. “Em muitos casos, essas clientes são mais informadas que muitos homens. Por isso, a limpeza e o atendimento também são prioridades. A grande diferença é que para atender uma mulher é preciso ser mais educado e mais cordial”, completa. A opinião é compartilhada por Bisi, da Tecnicar, que vê nessa tendência de se preparar para atender o sexo feminino um dos grandes impulsionadores dos avanços nas oficinas. “Hoje, cerca de 35% dos nossos clientes são mulheres”, afirma. “Isso exige outro tipo de atendimento, com um vocabulário diferente, sem muitos termos técnicos, para facilitar a compreensão”, explica. “Essa atitude de esclarecer de maneira simples o funcionamento da peça a ser substituída é que conquista a confiança”, diz ele. O desenvolvimento da tecnologia automotiva é outro fator que vem incentivando a modernização das oficinas. “O mais interessante é que mesmo os carros mais simples já possuem sensores modernos, o que exige da oficina o preparo adequado a todo instante”, explica Bisi. “Uma coisa puxa a outra”, diz Santos, que aponta a evolução dos carros como estímulo à evolução dos equipamentos de trabalho e, em conseqüência, à especialização do mecânico. Não por acaso, várias empresas e instituições criaram cursos e programas de aperfeiçoamento. O principal formador de profissionais desse setor é o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). A pesquisa da ASE apontou que 71% dos mecânicos passaram pelas salas de aula dessa entidade. “Os postu lantes ao cargo de mecânico começam manual é importante, mas não garante carreira promissora se o técnico não tiver conhecimentos de física, química, elétrica e eletrônica. “O patrimônio mais importante do mecânico atualmente é a informação. Então, se ele não tiver informação, não tem ferramenta de trabalho”, resume. Para Bisi, o talento hoje em dia não dá mais resultados se o profissional não estiver atualizado. Ele dá um exemplo: “Um conserto de média dificuldade na parte elétrica feito em uma oficina padrão deve durar cerca de 15 a 20 minutos com o amparo de equipamentos sofisticados. Já em uma oficina desestruturada, provavelmente levará dois dias”. Isso implica que o mecânico precisa ser capaz de manejar equipamentos de precisão e saber interpretar os dados para fazer o conserto adequado, enfatiza o mecânico Rogério Gomes, na profissão há 18 anos, hoje na oficina Carbofreios. “Além dos novos componentes dos carros, o mecânico precisa saber lidar com os equipamentos de precisão, que também estão cada vez mais sofisticados”, afirma. Como bom veterano no ofício, ele tem no currículo uma lista extensa de cursos, incluindo treinamentos oferecidos pela Bosch. O professor Ulisses Miguel, técnico de ensino da escola Senai Conde José Vicente de Azevedo, em São Paulo, diz que informática é matéria básica para o mecânico de hoje. “O mercado também exige do profissional procedimentos técnicos de qualidade e segurança”, aponta. O ouvido apurado serve para identificar de onde vem o barulho ou qual é a provável área afetada, mas depois disso é preciso trabalhar em conjunto com os equipamentos. “Regular um carro hoje em dia apenas pelo ouvido é praticamente impossível. Antigamente, para os carros com carburador até era possível, mas os sistemas de injeção e os sensores atuais exigem calibrações precisas”, diz Bisi. É, parece que o mecânico da primeira cena ficou apenas na lembrança. Serviço: Mesmo os carros mais simples já são equipados com sensores modernos, o que obriga as oficinas a ter equipamentos sofisticados de diagnóstico Quer saber onde fica uma boa oficina mecânica próxima de você? Acesse o site da rede Bosch Service: www.boschservice.com.br A Bosch na sua vida Arquivo Bosch Fotos Rachel Guedes como ajudantes, na maioria das vezes quase sem formação. Por isso, os cursos de especialização enriquecem bastante o currículo”, afirma Bisi. Oficinas modernas em todo o Brasil Os sistemas eletrônicos estão cada vez mais presentes nos veículos. Avalia-se que 17% do custo total de um carro que sai de fábrica hoje esteja relacionado a equipamentos e sistemas eletrônicos. Para 2010, a estimativa é de que essa proporção atinja 35%. Dispositivos mais sofisticados exigem mão-de-obra treinada e especializada para fazer manutenção e conserto. Para acompanhar essa tendência, foi criada a rede Bosch Service de oficinas. Tendo rapidamente ganho expressão nacional, ela se estende a todos os Estados do país, num total de 1.300 lojas. A principal característica da rede é a variedade de serviços de mecânica: desde manutenção da injeção eletrônica até reparos na suspensão do veículo. Para qualificar os funcionários das oficinas, a Bosch oferece cursos em seu Centro de Treinamento, localizado em Campinas (SP). Além de dar uma noção geral sobre manutenção veicular, esses cursos ensinam como usar os modernos equipamentos de diagnóstico, ferramenta indispensável para o mecânico nos dias de hoje. 30 grandes obras Bosch 31 Hector Etchebaster/ZDL O Brasil POR RICARDO MEIRELLES no ‘Everest da Vela’ Regata de volta ao mundo terá pela primeira vez um barco brasileiro; competição dura oito meses e cruza quatro oceanos o iatismo é o esporte que mais trouxe medalhas olímpicas ao Brasil (14), e é um iatista o atleta brasileiro que mais subiu ao pódio em Olimpíadas (Torben Grael, cinco vezes). Logo, os velejadores brasileiros são figurinhas carimbadas na mais famosa das regatas de volta ao mundo, certo? Ledo engano. Nas oito edições da hoje chamada Volvo Ocean Race, o país só marcou presença em quatro e, ainda assim, apenas com seus mares e portos – Rio de Janeiro (três vezes) e São Sebastião serviram de ponto de parada dos navegadores estrangeiros. Só agora, na nona edição, 33 anos após o primeiro grupo de iatistas estrear a corrida, o Brasil coloca seu primeiro barco na competição. Não por acaso, chama-se Brasil 1. A dificuldade maior ao longo dessas três décadas não foi juntar dez marmanjos dispostos a navegar por oito meses, passando por quatro oceanos e quatro continentes e enfrentando ondas de até dez metros, icebergs e tempestades. um dos timoneiros e reguladores de velas do Brasil 1. O “1” no nome da embarcação não é apenas um sinal de que o Brasil está na competição pela primeira vez; ele também pretende indicar a posição em que o barco brasileiro quer cruzar a linha de chegada, após percorrer 57,8 mil quilômetros (o equivalente a sete vezes a extensão do litoral brasileiro). Fonseca, por exemplo, descarta a idéia de que participar da Volvo Ocean Race já é o bastante. “Estamos entrando para ganhar”, resume. A composição da equipe, a sofisticação da estrutura e o ânimo dos tripulantes indicam que eles, de fato, não estão para brincadeira. O comandante, por exemplo, é Torben Grael, que não é só o maior medalhista olímpico do Brasil, mas também o velejador que mais vezes subiu ao pódio na história das Olimpíadas. Na mais recente delas (Atenas, 2004), levou o ouro. Ele chegou a participar da regata de volta ao mundo entre 1997 e 1998, numa etapa na Austrália, mas esta é a primeira vez que faz o trajeto todo. O companheiro de Torben em Atenas, em Sidney (2000, bronze) e em Atlanta (1996, ouro), Marcelo Ferreira, será um dos reguladores de velas. A mesma função terá outro O desafio principal foi conseguir « Barco brasileiro tem 21,5 metros de comprimento, 5,7 metros de largura em sua área mais ampla e é capaz de alcançar até 70 quilômetros por hora patrocínio. “Só depois de 14 medalhas olímpicas é que a vela brasileira pôde convencer patrocinadores e levantar os cerca de US$ 15 milhões necessários para ter um barco competitivo na Volvo Ocean Race”, resume o velejador Robert Scheidt, que não participa da regata, mas é porta-voz da competição no país. “Não faltou vontade antes. O difícil foi conseguir dinheiro”, concorda André Fonseca, 32 grandes obras Bosch mais difícil, entre a Nova Zelândia e o Brasil, velejadores precisam se amarrar ao barco para não cair na água gelada O desafio maior é o trecho entre a Nova Zelândia e o Brasil. “É bem difícil, porque passa em latitudes próximas ao Pólo Sul, onde não há rotas comerciais, é o mar mais desolado do planeta e qualquer socorro está a centenas de milhares de milhas de distância”, resume Robert Scheidt. “É justamente nesse trecho que os barcos conseguem desenvolver as maiores velocidades devido aos ventos fortes, mas é aí também que enfrentam ondas gigantes, icebergs e temperaturas negativas. Cair na água pode significar morte por hipotermia. Por isso, todos pre- Hector Etchebaster/ZDL medalhista brasileiro, Kiko Pellicano, ganhador do bronze nas Olimpíadas de Atlanta (categoria Tornado). Como regulador de velas, e também como timoneiro, embarcarão no Brasil 1 André Fonseca (duas vezes campeão mundial da classe Snipe Junior) e João Signori (campeão sulamericano nas categorias Finn e Laser). Mas não apenas brasileiros subirão no Brasil 1. Seis estrangeiros compõem a tripulação, e todos eles têm no currículo a Volvo Ocean Race ou a Whitbread (nome da competição nas sete primeiras edi- dã (Holanda) e deve terminar em 17 de junho de 2006, em Gotemburgo (Suécia), parando ao todo em nove países (veja o percurso na página 31). O primeiro colocado em cada um desses trechos ganha sete pontos; o segundo seis, o terceiro cinco e assim por diante. Os portões de pontuação (pontos perto dos quais os barcos são obrigados a passar, como Fernando de Noronha) também entram na contagem. Ao final, o barco que somar mais pontos em cada um dos trechos é campeão – ainda que não chegue em primeiro em Gotemburgo. O Brasil 1, comandado pelo iatista Torben Grael: projeto de US$ 15 milhões foi construído em Indaiatuba, com tecnologia de ponta cisam se amarrar ao barco. Os icebergs só podem ser vistos de dia, à noite ficam invisíveis. É preciso ir sempre um homem na proa, observando a água”, descreve o velejador. A aventura do Brasil 1, porém, não começará quando os ventos espanhóis estufarem as velas de cores azul, amarela e branca, marcadas pelo nome dos patrocinadores da empreitada. A peripécia começou há cerca de três anos, quando a empresa de marketing esportivo Vela Brasil começou a fazer os primeiros contatos em busca de patrocínio. Outra etapa fundamental, a construção do veleiro, teve início em outubro de 2004. Essa é quase uma aventura à parte: a embarcação tem 21,5 metros de comprimento e 5,7 metros de largura em sua área mais ampla, precisa ser leve a ponto de alcançar até 70 quilômetros por hora, resistente para suportar choques contra ondas enormes e navegar 926 quilômetros por dia. Nos barcos que competem na Volvo Ocean Race é preciso “usar fibra de carbono e muito equipamento eletrônico”, comenta Robert Scheidt. É como se fosse a Fórmula 1 da vela, compara. Cerca de 30 pessoas envolveram-se nessa fase, que em sua maior parte ocorreu no estaleiro ML Boatworks, em Indaiatuba (interior de São Paulo). O primeiro passo foi encomendar o trabalho de um grande campeão da Volvo Ocean Race: o neozelandês Bruce Farr, que venceu seis das oito edições da prova sem pôr os pés na água – foi o projetista dos barcos. O processo de construção propriamente dito começou com a confecção do molde do casco e do convés. “É como se tivéssemos de fazer dois barcos”, conta Ricardo Ermel, da equipe de apoio do Brasil 1. “Um, o molde, de madeira, e o outro, o barco propriamente dito, de fibra de carbono”, explica. As madeiras foram cortadas a laser, para garantir eficiência e precisão. Com o molde pronto, construíram-se dois fornos de 25 metros, para aquecer o carbono e garantir a resistência da embarcação. Entre uma camada e outra de fibra de carbono foram colocadas espuma e placas de nomex (um material leve e resistente). « « NO TRAJETO ções): o neozelandês Andy Meiklejohn (proeiro e regulador de velas), o irlandês Demian Foxall (timoneiro e regulador de velas), o espanhol Roberto Bermudez (timoneiro), o neozelandês Stuart Wilson (regulador de velas) e a australiana Adrienne Cahalan (navegadora). Completam a equipe o norueguês Knud Frostad (timoneiro) – que vai subir no barco apenas no trajeto entre Wellington (na Nova Zelândia) e Rio de Janeiro, o mais espinhoso da regata – e o brasileiro Eduardo Penido, ouro na Olimpíada de Moscou (1980) na classe 470, que será o velejador reserva. A tripulação fez testes com o barco n’água entre junho e agosto, no Rio de Janeiro e em Ilha Bela. Em 20 de agosto, partiu para Cascais, em Portugal, o último destino antes da Volvo Ocean Race. A competição – que pelo seu grau épico de dificuldade é chamada de “Everest da Vela” – começa em 5 de novembro, em Sanxenxo (Espanha), segue em pequena regata para Vigo (também na Espanha), depois Cidade do Cabo (África do Sul), Melbourne (Austrália), Wellington (Nova Zelândia), Rio de Janeiro, Baltimore e Annapolis (Estados Unidos), Nova York (Estados Unidos), Portsmouth (Reino Unido), Roter- 33 A Bosch na sua vida No time do Brasil 1 A possibilidade de o Brasil inscrever pela primeira vez um barco na mais famosa regata de volta ao mundo foi proporcionada pelo apoio de 18 empresas e do governo federal. Orçado em mais de US$ 15 milhões, o projeto brasileiro contou com suporte dos setores mais diversos – de companhia aérea a academia de ginástica. A Bosch é um dos apoiadores oficiais do Brasil 1, e numa área fundamental: a empresa cedeu cerca de 100 ferramentas elétricas e a bateria e 400 acessórios que serão usados a bordo, para serviços de emergência, ou nas paradas, para manutenção mais demorada. O pacote inclui máquinas como esmerilhadeiras, furadeiras, plainas, serra tico-tico e serra circular, e acessórios como lâminas de serra e brocas para metal, madeira e concreto. Em junho, ainda antes de a equipe brasileira embarcar rumo à Europa, a empresa fez um treinamento aos profissionais envolvidos com o Brasil 1, para mostrar como utilizar e manter as máquinas ao longo da competição. Durante a Volvo Ocean Race, as ferramentas e os acessórios serão colocados em dois contêineres, que viajarão de navio e percorrerão todos os destinos de parada. Em cada um desses pontos, a tripulação sai do barco e a equipe de apoio entra nele, fazendo uma revisão geral e reforçando os ajustes que tiveram de ser feitos com urgência em alto-mar. Nessas paradas, a rede de revendedores da Bosch estará disponível aos velejadores do Brasil 1. As condições adversas que os barcos enfrentam nos oito meses da Volvo Ocean Race exigem que a tripulação leve a bordo algumas máquinas e acessórios para fazer consertos de emergência. Diante da necessidade de conjugar leveza e eficiência, a equipe brasileira acabou optando por levar ferramentas elétricas da Bosch no Brasil 1. A maioria das máquinas cedidas aos velejadores brasileiros é movida a bateria. Com isso, a equipe se livra dos fios enormes que seriam necessários para dar conta das dimensões do barco (21,5 metros de comprimento, mastro de 31,5 metros de altura). Outra vantagem é que uma mesma bateria serve em vários tipos de ferramentas, o que dispensa o embarque de muitos componentes. A linha de ferramentas a bateria da Bosch é composta principalmente de furadeiras, parafusadeiras e esmerilhadeiras, todas leves e robustas, que podem ser usadas em vários tipos de materiais. 35 Fotos Divulgação 34 grandes obras Bosch Na Volvo Ocean Race, a mais famosa regata de volta ao mundo, barcos percorrem 57,8 mil quilômetros e enfrentam ondas de até dez metros, icebergs e tempestades « BRASIL 1 terá a bordo computadores, fax, internet, telefone por satélite, GPS e dez câmeras de vídeo Montados separadamente e de cabeça para baixo, o casco e o convés foram unidos, sete meses depois do início das obras. As fases seguintes foram pintura (dez horas só para pintar o casco), montagem das ferragens no convés e instalação de alguns equipamentos internos. Após 35 mil horas de trabalho, o Brasil 1 saiu do estaleiro de Indaiatuba e foi levado à Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Em razão das dimensões e do peso do barco, o trajeto de 640 quilômetros demorou três dias, com o Brasil 1 colocado em uma carreta de 24 metros. No Rio, foram instaladas peças fundamentais: mastro (de 31,5 metros de altura), quilha (4,4 toneladas), leme, cabos e sistemas eletrônicos. Em 23 de junho, ainda sem vela, a embarcação foi batizada e, duas semanas depois, velejou pela baía da Guanabara. Enquanto os tripulantes testavam o barco durante o dia, a equipe de apoio fazia à noite os acertos finais na estrutura. O processo de construção salienta uma das características do Brasil 1, e mesmo de outros barcos da Volvo Ocean Race: trata-se de aventura, sim, mas muito bem planejada – nada a ver com os antigos navegantes que, com equipamentos precários, lançavam-se em busca de terras desconhecidas, temendo os deuses da tormenta. Os velejadores que vão encarar o “Everest da Vela” viajarão munidos de dois computadores, um equipamento de segurança chamado epirb, que emite sinais sobre a localização do barco, telefone por satélite, fax, internet, GPS e dez câmeras de vídeo. Sim, além de se preocuparem com ventos, ondas, rotas, regulagens e obstáculos como icebergs e baleias, os navegantes ainda precisam queimar a pestana com a edição e o envio de imagens para os organizadores da prova. Toda a comunicação com a terra firme é feita via satélite. “A tecnologia é um dos pontos fortes do barco”, resume Ricardo Ermel, falando sobre a embarcação brasileira. Essa parafernália eletrônica é alimentada por um gerador de eletricidade de 18 hp. Além dele, o Brasil 1 tem ainda um outro motor (de 55 hp), usado apenas para atracar e desatracar, ou em casos de emergência. Mas o motor fundamental mesmo são as velas: podem ser usadas 11 em cada uma das nove etapas e 24 durante toda a prova, para serem trocadas de acordo com as condições climáticas. O barco navega 24 horas por dia, com exceção das sete paradas nos oito meses de competição. “Os velejadores se revezam em turnos de quatro horas. É preciso velejar 24 horas sem parar, pois cada segundo é muito importante”, destaca Scheidt. A correria é tama- nha que alguns consertos são feitos com o barco em movimento – um dos tripulantes (André Fonseca) fez até curso especial de mergulho para fazer os reparos embaixo d’ água. Para aumentar a velocidade, uma das preocupações é diminuir o peso, e, portanto, levar o mínimo de bagagem possível. Assim, nada de geladeira: os atletas levam comida desidratada (como arroz e feijão) e um dessanilizador (que purifica a água salgada). Um fogão a gás e uma panela de pressão dão conta do recado – a dieta espartana dos velejadores não comporta receitas complicadas. A economia de bagagem inclui eliminação ao máximo de fios: todas as ferramentas usadas na reparação do barco são portáteis. “Imagine o tanto de fio que seria necessário para fazer um conserto no pico do mastro, que tem mais de 20 metros de altura”, comenta Ermel. Todas essas preocupações visam garantir não apenas que o Brasil 1 dê a volta ao mundo com rapidez e segurança, mas também que cumpra a tarefa hercúlea à frente de adversários de peso: os barcos holandeses ABN Amro 1 (comandado pelo neozelandês Mike Sanderson) e ABN Amro 2 (comandado pelo francês Sebastien Josse), o sueco Ericsson Racing Team (comandado pelo inglês Neil McDonald), o norte-americano Piratas do Caribe (comandado por Paul Cayard, dos Estados Unidos), o espanhol Movistar (comandado pelo holandês Bouwe Bekking) e o australiano Premier Challenge (comandado por Grant Wharington, da Austrália). 36 Brasil cresce Bosch 37 Indústria de cosméticos cresce e conquista o interesse de um público que, antes, passava longe das prateleiras de produtos de beleza: os homens s Beleza para todos os gostos (e sexos) e um passeio pelas ruas e praias do Brasil não for suficiente, os números do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos deixam claro: os brasileiros e as brasileiras são muito vaidosos. Enquanto a indústria nacional teve expansão média anual de 2,4% entre 2000 e 2004, a produção de artigos de beleza cresceu quase três vezes mais (8,2%), de acordo com relatório da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). O setor é fortemente voltado ao consumidor feminino, mas os homens têm uma responsabilidade maior nesse crescimento do que muitos imaginam. O Brasil possui o sexto mercado do mundo em cosméticos masculinos. Cada vez mais, os brasileiros estão descobrindo produtos desse tipo e ficando convencidos dos benefícios de usá-los. O administrador de empresas paulistano Renato Suk, de 29 anos, é um deles. Todos os meses, Suk gasta de R$ 250 a R$ 350 em produtos de beleza. Seu ritual diário, além do perfume, inclui desodorante com hidratante, gel para fazer a barba – também com hidratante –, xampu e condicionador especial para iluminar cabelos claros, pós-barba que combate o envelhecimento, protetor solar, adstringente para limpar a pele e uma emulsão especial para cuidar da área dos olhos. Em dias de festa, seu cabelo ainda ganha um tratamento especial, com gel, cera ou spray fixador. Todo o processo ocupa cerca de uma hora e meia, todos os dias. O modelo Marcio Barbosa diz não ser um consumidor compulsivo de produtos cosméticos, mas usa com freqüência sabonete com hidratante e condicionador leave-in, que dispensa enxágüe e dá forma aos cabelos. Esses cuidados com a aparência mostram que Barbosa e Suk estão entre os consumidores que fazem o comportamento do setor ser classificado como “excepcional” por João Carlos Basílio da Silva, presidente da ABIHPEC. Há outros fatores por trás desse desempenho positivo. Um deles é a emancipação feminina. As mulheres são as principais consumidoras dos chamados produtos de beleza e, na medida em que vão ganhando espaço no mercado de trabalho, não apenas têm mais dinheiro para gastar com cosméticos como precisam mais deles. “O mercado está cada dia mais competitivo, o que exige uma apresentação cada vez melhor. Para se manterem nele, as mulheres precisam mais de produtos cosméticos do que precisariam se estivessem em casa, cuidando dos filhos”, afirma Silva. Outro ponto por trás do sucesso do ramo são os preços, mais baixos em comparação com produtos de outras indústrias. “Em um país onde a renda per capita em média é muito baixa, o preço é fundamental”, diz o presidente da ABIHPEC. Os preços menores se justificam pela alta competitividade. O mercado interno brasileiro do setor movimenta US$ 14 bilhões ao ano, segundo a associação. Ou seja: “1% desse mercado corresponde a US$ 140 milhões. É muito dinheiro e ninguém quer perder nenhum milímetro de espaço”, diz Silva. Quem ganha com a briga entre as empresas é o consumidor. “Há 10 anos, era impossível comprar um xampu de qualidade por menos de US$ 10. Hoje, encontramos bons xampus muitas vezes por até menos que US$ 2”, compara. Por fim, o crescimento do ramo de cosméticos se explica também por serem produtos que praticamente não apresentam rejeição entre a população. “Se você pega a porcentagem da renda do mês que famílias brasileiras das classes A e B gastam com cosméticos, você vai ver que é a mesma que famílias das classes C e D gastam. Algo em torno de 2%”, afirma Renato Garcia, professor de economia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, autor de um estudo sobre o setor de cosméticos encomendado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Se, entre as mulheres, a rejeição a produtos de beleza é praticamente nula, de acordo com Silva, entre os homens ela está diminuindo cada vez mais. “Tudo começou com o protetor solar”, conta ele. “Os homens foram convencidos da importânFotos Rachel Guedes Crescimento dos últimos anos levou o Brasil ao sexto lugar no mercado mundial de cosméticos para homens « POR MARÍLIA JUSTE 39 38 Brasil cresce Bosch « CLASSES C e D usam cosméticos tanto quanto classes A e B, segundo estudo encomendado pelo Ministério do Desenvolvimento Fotos Rachel Guedes cia de usar protetor solar para a saúde. A partir daí, foram os cremes hidratantes. E, aos poucos, eles se convenceram de que é importante se cuidar”, afirma. “Um homem que não cuida da pele hoje demonstra uma grande burrice, uma grande falta de conhecimento dos benefícios para sua saúde”, argumenta. Foi reconhecendo essa importância que Renato Suk começou a cuidar da própria aparência. “No começo da adolescência, eu era largado, gordo e desajeitado. Isso passou a me incomodar. Com o tempo, passei a me cuidar. Primeiro, um regime; depois, roupas novas, cabelo arruma- Arquivo Bosch A Bosch na sua vida Mais de 200 embalagens por minuto A Bosch tem uma presença importante no segmento de embalagens de cosméticos (como sabonetes, batons, cremes e perfumes). As máquinas disponíveis fazem serviços variados, e entre elas se destacam as encartuchadoras. Há dois modelos, entre os vários existentes, capazes de montar as caixas que acondicionam os produtos. A CAR T5 é um projeto alemão, nacionalizado recentemente, capaz de fazer até 100 caixas por minuto. O outro é a Contina/CUK, que faz até 250 embalagens por minuto, de forma contínua; da sua última versão foram vendidas, no Brasil, mais de dez unidades e, nas versões anteriores, mais de 40. “A embalagem de um produto cosmético é muito importante, pois ela é a apresentação desse produto”, enfatiza Otávio Silveira, da Unidade de Negócios Farmacêuticos e Cosméticos da Divisão Tecnologia de Embalagem da Bosch, em Alphaville (Barueri-SP). A caixa é desenhada para a máquina, chegando desmontada e empilhada em pacotes. A função da encartuchadora é armar a caixa, introduzir o produto e fechá-la, com cola quente ou por encaixe das tampas. Esse processo pode ser totalmente automático ou semiautomático, com algumas etapas feitas por funcionários na linha de produção. Quando o produto a ser inserido é muito pesado – como vidros de perfumes – o fundo já vem montado e preso, ou é fechado com cola quente. A máquina, então, insere-o na embalagem e a do”, conta o administrador de empresas. “Aí você começa a descobrir como é bom ser notado por qualidades positivas. Passei a curtir me cuidar para ter uma aparência jovem, saudável e para que, se alguém quisesse me notar, que notasse por coisas boas, e não ruins”, diz. O professor Ronaldo Tuccori, de 49 anos, costuma levar os óleos trifásicos (usados tanto no banho quanto como perfume e hidratante, compostos por três óleos que não se misturam) para suas aulas de Química em um cursinho de Campinas (SP). Além de ensinar princípios químicos a partir dos óleos, ele conta aos estudantes que usa esses produtos e defende que os homens precisam cuidar da aparência. “As meninas acham o máximo. A maioria dos meninos diz que é frescura, faz pose de machão. Mas, de vez em quando, sempre vem um pedindo conselho, querendo saber que xampu eu uso”, conta. Esse aumento no interesse masculino pela beleza reflete-se também nas clínicas de estética. Quatro anos atrás, empresários paulistanos perceberam a mudança de atitude dos homens e criaram um centro de estética exclusivamente masculino, a Garagem. “Oferecemos tratamentos de estética facial, corporal e capilar para homens de todas as idades”, explica o sócio da empresa Enrico Damasceno. O sucesso foi tanto que hoje a loja possui 4 mil clientes cadastrados e planeja abrir duas franquias até o final do ano – uma também em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. Os serviços oferecidos vão desde cortes de cabelo e barba até drenagens linfáticas, tratamentos contra gordura localizada e massagens. O presidente da ABIHPEC avalia que essa tendência terá bons resultados no futuro. “Hoje, quando você vê um homem de 50 anos e uma mulher de 50 anos, o aspecto deles é muito diferente. Porque a mulher aprendeu a se cuidar desde cedo, ela tem uma aparência melhor”, afirma Basílio da Silva. “Os homens mais jovens estão percebendo isso agora e no futuro serão mais bonitos e saudáveis do que seus pais e avôs são hoje”, prevê. Renata Ferreira, coordenadora de marketing da Memphis, uma empresa de produtos de higiene pessoal e cosméticos de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, acredita que o aumento do interesse masculino por cosméticos tem muito a ver com o acesso à informação. “Hoje existe uma abertura maior para conhecer os benefícios que esses produtos trazem ao bem-estar de homens e mulheres. Com isso, os homens se permitiram cuidar de suas aparências”, diz. Aproveitando o crescimento do setor, a Memphis, cuja produção se concentra principalmente em sabonetes, está preparando o lançamento de uma linha de cremes hidratantes para a próxima temporada de verão. Entre os produtos mais procura- O administrador de empresas Renato Suk: uma hora e meia por dia para cumprir o ritual de cuidados à pele e ao cabelo dos pelo consumidor brasileiro, de acordo com a ABIHPEC, estão os voltados a cuidados com o cabelo, especialmente as tinturas – usadas tanto por homens quanto por mulheres. Segundo Márcia Corrêa, gerente de informações e pesquisas quantitativas da marca L’Oreal, são exatamente as tinturas para cabelos que estão impulsionando as vendas da empresa. Ao lado delas, estão os protetores solares – o que corresponde também aos dados apresentados no relatório da ABIHPEC sobre o crescimento do setor. Para Silva, o interesse dos homens em cosméticos é mais uma prova de que o mercado tende a crescer. “Hoje, esses produtos abrangem uma camada de pessoas bem maior que há 20 ou 30 anos. E ainda assim a possibilidade de crescimento é enorme. Os homens que usam esses produtos ainda são poucos, mas eles estão aumentando. Só mostra o potencial de expansão dessa indústria”, afirma. O presidente da ABIHPEC reivindica, porém, a redução da carga tributária que incide sobre o setor. Para ele, a evolução da tecnologia de criação de novos produtos permitiu que eles deixassem de ser apenas supérfluos. “No passado, um batom era simplesmente decorativo. Hoje, há batons que trazem enormes benefícios à saúde, com hidratantes e protetores solares que combatem o surgimento de cânceres, por exemplo”, explica. “Esse batom paga, hoje, oito vezes mais impostos que a gravata que eu estou usando. O critério de necessidade dos tributaristas brasileiros precisa ser reciclado”, defende. 40 atitude cidadã Bosch 41 Fotos Rachel Guedes P O R A L A N I N F A N T E Leis de incentivo ajudam a financiar cultura com recursos suficientes para fazer 20 montagens como a de “O Fantasma da Ópera” Espetáculo garantido Incentivo à cultura por meio da Lei Rouanet cresceu 12% em 2004 e deve bater recorde em 2005, beneficiando espetáculos como os da Orquestra Sinfônica de Campinas e o apetite das empresas pelos patrocínios culturais continuar como está, os guias de literatura, teatro, cinema e exposições ficarão cada vez mais gordos. Os investimentos em produções artísticas devem ultrapassar R$ 500 milhões este ano, só por meio da principal medida de captação de recursos junto ao setor privado, a Lei Rouanet, segundo a Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. Esse montante seria suficiente para financiar mais de 60 filmes como “Cidade de Deus”, que custou R$ 8,2 milhões, ou para bancar os gastos de quase 20 montagens da temporada brasileira de “O Fantasma da Ópera”, o mais caro espetáculo já realizado no país, com um orçamento estimado em R$ 26 milhões. A explicação para esses investimentos culturais em larga escala está nas isenções fiscais oferecidas pelas leis de incentivo municipais, estaduais e federal, que, na prática, permitem que o setor privado canalize para projetos artísticos parte dos recursos que gastaria com pagamento de impostos. Essas medidas têm dado novo gás à chamada indústria criativa, que engloba todos os tipos de manifestações culturais, do artesanato ao cinema. No Brasil, esse setor responde por cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), mas tem potencial para chegar a 7%, segundo estimativa do ministro da Cultura, Gilberto Gil. Além de estimular o crescimento da produção artística brasileira nas mais diversas áreas, esses instrumentos de captação de recursos junto à iniciativa privada « s trazem vantagens tanto para o público, que tem à disposição uma maior riqueza de elementos e programas culturais, quanto para as empresas patrocinadoras, que ganham visibilidade com sua imagem vinculada a projetos ligados à arte e ao entretenimento – e isso sem desembolsar nada ou consideravelmente menos do que gastariam se não houvesse a isenção de pelo menos parte dos impostos. O esquema tem dado certo. Cresce a cada ano o número de empresas que recorrem às leis de incentivo para patrocinar iniciativas culturais. Isso inclui cinema, literatura, música, programas não-comerciais de rádio e televisão, fotografia, artes cênicas (teatro, dança, circo, óperas, mímica, fantoches), artes plásticas, gravuras, coleção de selos, folclore, artesanato e até 42 atitude cidadã Bosch « INVESTIMENTOS em produções artísticas por meio da Lei Rouanet devem ultrapassar R$ 500 milhões em 2005 43 Fotos Divulgação mesmo a restauração de bibliotecas, de museus e do patrimônio histórico arquitetônico e arqueológico. Em 2004, 1.729 empresas usaram a Lei Rouanet para financiar produções artísticas – um aumento de 28% em relação ao registrado em 2003 (1.347). Essa elevação teve reflexo no número de projetos que conseguiram captar recursos no setor privado, que também subiu quase 28%, de 1.529 para 1.953, e no volume de recursos captados, que apresentou uma alta de quase 12%, passando de R$ 428 milhões para R$ 479 milhões no mesmo período, segundo o Ministério da Cultura. Sem patrocínio, “O Quebra-Nozes” (à esquerda, ao alto), “Pedro e o Lobo” (à esquerda,abaixo) e “O Fantasma da Ópera” dificilmente sairiam do papel Essa escalada é resultado do maior conhecimento das leis de incentivo pelo empresariado, afirma Katia Rocha, consultora de marketing da Art Cultural. “As empresas desconheciam o funcionamento da Lei Rouanet, tinham receio de expor seus balanços financeiros. Conforme a foram conhecendo, viram que seus mecanismos são simples”, defende. Segundo ela, sem esse instrumento de captação de recursos A Bosch na sua vida Da ópera ao sapateado O incentivo à cultura é um dos três pilares da política sociocultural da Bosch, que também se apóia na educação básica e profissionalizante de adolescentes, e na saúde, através do meio ambiente. “Os projetos artísticos patrocinados são selecionados de acordo com critérios rigorosos, que levam em consideração desde a seriedade de seus executores, o conteúdo e a maturidade do projeto, até os benefícios que a iniciativa pode trazer para a comunidade”, afirma Alexandre Boldrin, analista de Relações Corporativas da empresa. Entre os projetos que a Bosch apóia atualmente está a montagem brasileira de “O Fantasma da Ópera”, considerado um dos maiores musicais da Broadway, já realizado em 116 cidades de 21 países e em nove línguas diferentes. Encenado por 38 atores, cantores e bailarinos e por 17 músicos, o espetáculo começou a ser apresentado em abril, em São Paulo, e deve continuar em cartaz até o final do ano que vem. A realização de “O Fantasma da Ópera” no Brasil permite que um público maior no país tenha acesso ao musical. “O custo do ingresso em São Paulo é bastante reduzido em comparação aos preços praticados na Europa ou nos Estados Unidos”, defende Boldrin. “Além disso, a temporada nacional permite que artistas brasileiros tenham a oportunidade de participar de uma grande produção inter- nacional e coloca o Brasil definitivamente no circuito de apresentações da Broadway”, completa. A Bosch também patrocina desde 2002 a Orquestra Sinfônica de Campinas, uma das dez maiores do Brasil, com 82 músicos permanentes. Para viabilizar a realização dos 36 concertos da temporada 2005 com ingressos a preços populares, a empresa investiu R$ 200 mil. O patrocínio ainda permitiu que a orquestra “investisse num repertório de ponta e trouxesse grandes artistas, como o violoncelista brasileiro Antonio Menezes, o maestro suíço Karl Martin e o pianista polonês Piotr Paleczny”, afirma Henrique Lian, maestro da orquestra. O terceiro projeto incentivado pela Bosch é o Dança e Cidadania, que dá aulas gratuitas de balé clássico e sapateado americano para 450 crianças de bairros da periferia de Campinas (SP). Além de contribuir para a melhoria da postura corporal dos freqüentadores, a iniciativa investe na profissionalização de jovens bailarinos. Cerca de 20 adolescentes integram o chamado grupo de elite, que recebe treinamento especial diário da coreógrafa e coordenadora do projeto, Lúcia Teixeira. Em dezembro, todas as crianças que participam da iniciativa apresentarão duas peças – “O Quebra-Nozes” e “La Fille Mal Gardée” – acompanhadas pela Orquestra Sinfônica de Campinas. muitos projetos não sairiam do papel. “Sem patrocínio é muito difícil”, frisa. O secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, Sérgio Xavier, concorda. Para ele, a Lei Rouanet é a única alternativa para milhares de projetos. “Ela viabiliza um acesso bem maior a recursos. Para se ter uma idéia, em 2004, o dinheiro captado junto à iniciativa privada superou o orçamento do próprio Ministério da Cultura. O orçamento das secretarias de Cultura estaduais e municipais em geral também é bastante reduzido. Então, o papel das empresas é fundamental para o avanço desse setor”, destaca. Ainda não foram criadas fórmulas para calcular o retorno trazido pelo apoio a iniciativas culturais, mas ele certamente é considerável. Prova disso é que 58% dos consumidores de classes A e B se recordam das marcas que patrocinam filmes, exposições, peças, shows e outros eventos, segundo uma pesquisa do instituto Ipsos Opinion feita em cinco capitais brasileiras. Nas classes C, D e E, no entanto, esse número diminui para 36%. As em- presas que investem em produções artísticas, para Xavier, não estão simplesmente aproveitando parte do dinheiro que gastariam com o pagamento de impostos para a divulgação de sua marca, mas, sim, impulsionando um setor estratégico para o Brasil. “Os países que investiram em cultura estão prosperando. Nos Estados Unidos, a segunda maior fatia do PIB pertence à indústria do audiovisual, atrás somente da indústria bélica. Duvido que os Estados Unidos tivessem a influência que têm no mundo sem a música e o cinema”, afirma. A indústria criativa é a “grande arma deste novo século”, segundo o secretário. “Se o Brasil quiser ser líder mundial em alguma coisa, a cultura é a maior alternativa. O país possui uma diversidade imensa e a cultura permeia quase tudo. Eu costumo dizer às pessoas que imaginem um apagão cultural, um dia sem livros, novela e música. Seria horrível”, argumenta. “Nesse contexto, as leis de incentivo têm uma importância decisiva”. PATROCÍNIO Entenda as leis de incentivo à cultura Permitir às empresas que utilizem, em projetos artísticos, parte do dinheiro que gastariam com tributos. É esse o espírito das leis de incentivo, sejam elas municipais, estaduais ou federal. A proposta é simples: como no orçamento da maioria dos governos os recursos destinados à cultura são geralmente escassos, os artistas e produtores, em vez de recorrer ao Estado, procuram patrocínio na iniciativa privada, com o atraente argumento de que, sem desembolsar nenhum centavo além do que gastaria em impostos, o empresário poderá vincular sua marca àquele livro, show, produção de artesanato, ou outra ação desse tipo. A Lei Rouanet é o principal instrumento de captação de recursos para iniciativas culturais no Brasil. Por meio dela, as empresas que pagam a alíquota de 15% no Imposto de Renda de Pessoa Jurídica podem investir em produções até 4% do imposto devido e deduzir o valor na hora de pagar o Fisco. Por exemplo, uma empresa que tem um lucro líquido de R$ 200 mil e teria de pagar R$ 30 mil de imposto de renda pode investir até R$ 1,2 mil em projetos culturais aprovados pelo Ministério da Cultura. Esse valor, de R$ 1,2 mil, será deduzido na conta final do Leão. Ou seja, caso o empresário aplique os R$ 1,2 mil em produções artísticas, basta que ele apresente essas notas fiscais ao governo e, ao invés de R$ 30 mil, terá de pagar R$ 28,8 mil em impostos. A verba investida só não é abatida em 100% nos investimentos em filmes de ficção – que já têm uma lei de incentivo específica – e em projetos de música popular. Nesses casos, a dedução é de 30% do valor aplicado. Pessoas físicas também podem patrocinar iniciativas culturais, com um desconto de, no máximo, 6% do imposto de renda. Além da Rouanet, existem as leis de incentivo à cultura estaduais, que geralmente oferecem descontos no Imposto sobre Comércio de Mercadorias e Serviços (ICMS), e municipais, que dão isenção aos investidores em Imposto sobre Serviços (ISS) ou Imposto Municipal sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). 44 aquilo deu nisso Bosch A origem do ABS, considerado o sistema de freios mais moderno da atualidade, remonta às ferrovias do início do século 20 e 45 m uma das cenas mais fes- tejadas do filme Homem Aranha 2, o herói aracnídeo tenta parar um trem em alta velocidade. Depois de muito esforço e muita teia gasta, o personagem vivido pelo ator Tobey Maguire consegue deter a locomotiva desgovernada e evitar um grave acidente. Mesmo com elevada dose de ficção, a situação mostra que para frear um veículo em movimento é necessária muita força. Por esse motivo, o sistema de freios sempre foi, no mundo real, alvo de estudos e experimentações. Não por acaso, foi nas ferrovias que surgiu o embrião do que hoje é considerado o que há de mais moderno em sis- Divulgação temas de freagem para automóveis – o Antilock Braking System (ABS). O desenvolvimento do dispositivo, que evita o bloqueio das rodas durante uma freada brusca, começou no início do século 20. Na época, os trens reinavam absolutos como o meio de transporte mais rápido do planeta, mas a tecnologia de freagem não acompanhava o ritmo da potência crescente dos motores a vapor que impulsionavam as locomotivas. Era preciso desenvolver um sistema de freios mais eficiente, que fosse capaz de parar o comboio em curto intervalo de tempo. Foi analisando o comportamento das rodas do trem durante uma freada de Do trilho para o asfalto O Antilock Braking System (ABS) evita o bloqueio das rodas durante uma freada brusca emergência que os projetistas chegaram à primeira conclusão importante: o problema não estava na falta de força do sistema, ao contrário, havia excesso de força, que travava as rodas e prejudicava o desempenho de frenagem e a estabilidade do trem. A primeira tentativa de corrigir isso se deu em 1908, quando o britânico J.E. Francis apresentou o dispositivo chamado regulador de prevenção de deslizamento. Outras propostas semelhantes surgiram nas décadas seguintes, mas a falta de recursos tecnológicos impediu que os inventos saíssem da prancheta e se tornassem um acessório produzido em escala industrial. Só na década de 70 um projeto na área saiu da gaveta – com aplicação não nos trens, mas nos carros. Na época, a Bosch deu início ao desenvolvimento de um sistema antibloqueio para veículos de passeio. A idéia central era criar um dispositivo eficiente e, ao mesmo tempo, viável do ponto de vista econômico. Para isso, a empresa apostou na fabricação de um sistema gerenciado por módulo eletrônico, com funcionamento semelhante ao de um computador, com leitura e processamento de informações. Foi levando em conta esses fatores que, em 1978, a Bosch lançou o primeiro sistema antibloqueio de rodas produzido em larga escala no mundo. Batizado pela companhia de Antilock Braking System, ele equipou inicialmente o modelo Classe S da Mercedes Benz. Meses depois, a BMW incorporou o acessório nos modelos da série 700. Aos poucos, ele difundiu-se mesmo entre os automóveis menos luxuosos. 1995 P R E Z I A 1993 G U I L H E R M E Gettyimages P O R Assim como nos sistemas atuais, o modelo lançado pela Bosch em 1978 era composto por três unidades básicas: sensores de movimento nas rodas, unidade hidráulica e unidade de processamento central. Para avaliar o risco de travamento em uma das rodas, a unidade de processamento compara o movimento das rodas dianteiras e das traseiras. Se detectar risco de travamento em uma delas, alivia momentaneamente a pressão dos freios por meio da ação da unidade hidráulica. O primeiro modelo de ABS comercializado pela Bosch pesava 6,3 quilos e possuía 140 componentes. Com o passar dos anos, esses números foram caindo; a geração mais recente do ABS – lançada em 2003 – chegou a 1,6 quilo, com apenas 16 componentes. De acordo com Geraldo José Gardinalli, do setor de Engenharia de Aplicação ABS da Bosch, a redução do número de componentes, além de deixar o sistema mais leve e compacto, contribuiu para reduzir o risco de eventuais falhas. Outra evolução está na capacidade da unidade de processamento, que passou de 2 kbytes em 1978 para 128 kbytes em 2003. Na prática, esse aumento representou um ganho significativo de desempenho. Segundo Gardinalli, o aprimoramento do processador resultou em melhoria da performance do ABS. Além disso, com mais memória o dispositivo executa mais funções, como, por exemplo, diagnosticar eventuais falhas no sistema. A evolução técnica possibilitou que o ABS conquistasse um importante mercado. Em 1978, quando foi lançado, ele equipava apenas 0,02% dos veículos saídos de fábrica. Vinte e cinco anos depois, em 2003, essa participação chegou a 69%. Na Comunidade Européia, essa proporção já chega a 100%. No Brasil, o ABS está presente, hoje, em 12% dos carros novos nacionais. A Bosch aprimora o sistema, reduzindo o peso e o tamanho do acessório, além de aumentar a capacidade do processador central. No mesmo ano, o ABS chega ao mercado brasileiro através do Volkswagen Santana. 29% dos automóveis novos vendidos no ano são equipados com ABS. A Bosch aperfeiçoa o sistema, reduzindo mais ainda as dimensões e o peso do equipamento (para 2,6 quilos). A unidade de processamento tem sua memória ampliada para 24 kbytes. 2003 A Bosch lança o primeiro sistema ABS produzido em larga escala para a indústria automobilística: o ABS2, que equipou inicialmente o Mercedes Classe S. Pesava 6,3 quilos e tinha 140 componentes. 1989 O britânico J.E.Francis apresenta o regulador de prevenção de deslizamento, projetado para locomotivas. Nas décadas seguintes, surgiram propostas similares, mas pouco viáveis. 1978 1908 Evolução do ABS O ABS chega a 69% dos veículos produzidos no mundo. A Bosch coloca no mercado uma nova versão, ainda mais leve (1,6 quilo), compacta e com maior capacidade de processamento (128 kbytes). 46 áudio Blaupunkt POR GUILHERME PREZIA 47 Para digerir a sopa de letrinhas Decifrar siglas como MP3, Kbps, CD-R e CD-RW não é difícil e abre caminho para gravar até 700 minutos de música em um só disco ‘r No mundo da eletrônica, as siglas estão em toda parte e servem para designar principalmente recursos e sistemas que tentam facilitar a vida do consumidor. Uma das cada vez mais freqüentes é MP3 (Moving Picture Experts Group Audio Layer-3), abreviatura usada para identificar um formato compacto de arquivos digitais de música. Na prática, esse sistema permite gravar num único CD (aliás, Compact Disc) de áudio até 700 minutos de música, sem que haja grande perda de qualidade em relação ao formato convencional. A maioria dos novos aparelhos de CD para carro já está preparada para executar discos com músicas em MP3. Para dominar de vez o tema é importante conhecer uma outra sigla: Kbps (kilobytes por segundo). Essas quatro consoantes juntas podem assustar, mas o termo é simples: ele indica a qualidade de compressão do arquivo. Quanto maior a quantidade de Kbps, melhor será a qualidade de áudio. Porém, quanto melhor a qualidade, maior também será o tamanho do arquivo – ou seja, ocupará mais espaço no disco ou em outra mídia em que estiver gravado. Um bom equilíbrio entre qualidade e tamanho pode ser obtido em MP3 que tenham entre 128 e 192 Kbps. Um arquivo desse tipo com música de cinco minutos, gravada com qualidade de 128 Kbps, Ilustração Orlando ipe o CD para MP3 em 128 Kbps e utilize um CD-R de qualidade para fazer a gravação”. A frase pode parecer conversa de analistas de sistemas, mas se refere a um dos procedimentos mais comuns quando o assunto é música: gravar um CD com arquivos de MP3. Ainda parece complicado? Pode até ser, mas fica mais simples quando se entende o significado de cada uma das siglas que envolvem o processo. « 48 áudio Blaupunkt « PARA GRAVAR o MP3 em um disco compacto é necessário ter um gravador de CDs e um programa específico vai ter tamanho próximo a cinco megabytes. Isso significa que é possível colocar num CD cerca de 140 músicas, com cinco minutos cada. Usando não MP3, mas arquivo convencional (.wav, como os usados nos discos musicais lançados em escala industrial), daria para gravar pouco mais de dez músicas. Essa redução de tamanho nas músicas resulta em diversas vantagens para o usuário. A principal é a comodidade, uma vez que não há necessidade de o motorista ficar trocando de discos enquanto dirige. Além de contribuir para aumentar a segurança ao volante, o sistema MP3 também ajuda a economizar espaço no porta-luvas, pois não é preciso carregar aquele tradicional estojo de CDs. Falta agora, para entender a frase lá de cima, saber o significado do termo rip, que, em inglês, pode significar “rasgar”, “abrir”, “rachar”. No Brasil, foi logo adaptado e virou o verbo ripar. Ripar um disco significa pegar aquele velho CD de música empoeirado na prateleira, copiar suas músicas e transformá-las em arquivos MP3. O processo torna possível, por exemplo, juntar todos os CDs de estúdio dos Beatles, transformá-los em MP3 e colocá-los num único CD (que, geralmente, comporta 700 megabytes, ou 700 minutos de música no formato MP3). Qualquer computador equipado com uma entrada (drive) de CD é capaz de ripar um disco. Para isso, é necessário usar um programa específico que transforma o formato tradicional das músicas do CD (.wav) em MP3. As versões mais atuais e completas do Windows Media Player já vêm com essa função. Outra opção é instalar o programa Audiograbber (www.audiograbber.com), um dos mais usados para ripar CDs. Feito isso, no entanto, só é possível ouvir as músicas no computador. Para gravar o MP3 em um disco compacto é necessário ter um gravador de CDs e um programa para controlar a gravação – o mais usado é o Nero (www.nero.com). As versões mais completas do programa executam todo o processo: transformam o formato convencional em MP3 e gravam o MP3 em um outro CD. Na hora da gravação, o usuário vai se deparar ainda com outras duas siglas: CD-R (CD-Recordable) e CD-RW (CD-ReWritable). Em ambos os casos elas se referem a CDs de gravação, os “CDs virgens”, comumente encontrados em vários supermercados e lojas do país. O CDR é o mais barato, mas nele só é possível fazer uma única gravação. Já no CD-RW podem-se apagar e regravar novos dados, assim como acontecia com as antigas fitas cassete ou de VHS. Nessa etapa, à qualidade e ao tamanho do arquivo junta-se um terceiro fator importante: a velocidade de gravação. “Quanto maior for a velocidade, maior a chance de perder o CD”, afirma Aroaldo Veneu, autor do livro “Como fazer CDs de alta qualidade” (Editora Campus). O usuário determina a velocidade no próprio software de gravação. A maioria dos CD-R pode ser gravada em velocidade de até 48X (mais uma letra, agora para indicar a rapidez do gravador: um dispositivo de 1X é capaz de gravar 50 kilobytes por segundo). No entanto, é preferível gravá-los em velocidades inferiores, como 24X ou 32X. Outro fator importante, segundo Veneu, é a qualidade do CD-R utilizado. O recomendável é utilizar discos de marcas conhecidas; na dúvida, há programas que servem para checar a qualidade do disco. O mais conhecido deles é o CD-R Identifier, que pode ser obtido no endereço www.cd-rw.org/software/cdr_software /cdr_tools/. Fotos Arquivo Bosch Versátil e retrátil Uma das características do tocador de DVD Aspen IVDM 7003 é a versatilidade: o aparelho é capaz de reproduzir música gravada em formato convencional e em MP3, roda CDR, CD-RW e CD comum e, claro, discos de DVD. Mas o grande chamariz desse aparelho – lançado no Brasil pela Bosch, por meio de sua marca Blaupunkt – é um outro recurso tecnológico: sua tela de cristal líquido de sete polegadas, que tem um mecanismo retrátil. Assim, toda vez que o DVD player é desligado, o monitor recolhe-se automaticamente para dentro do aparelho. Além de prático, o dispositivo é especialmente útil para evitar roubos. A tela possui também um moderno sistema de controle touch screen: o motorista aciona todos os comandos por meio de um simples toque no monitor. Ao encostar o dedo na tela, pode-se regular o volume, por exemplo, ou avançar faixas e alterar configurações, entre outras opções. O sistema de áudio faz jus a esse conjunto de tecnologia de ponta: o aparelho exibe filmes no modo 5.1, que divide a reprodução em seis canais, numa estrutura semelhante à dos avançados home theaters e à das salas de cinema.
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