cornal lixadeiras
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VidaBosch Novembro | Dezembro de 2010 | Janeiro de 2011 • nº 23 Recicle a informação: passe esta revista adiante Depois do poste, o bicampeonato Antes de se consagrar na F-1, Fittipaldi destruiu um Porsche nas ruas de São Paulo André Klotz Sem lousa, com diploma Número de matrículas no ensino à distância cresce 600% em três anos Sumário 02 viagem | Que bons ventos o levem para Jericoacoara, no Ceará 08 eu e meu carro | As barbeiragens e manobras incríveis de Emerson Fittipaldi 10 torque e potência | A onda flex está prestes a desaguar no mercado diesel 14 em casa | Insípida, inodora e incolor – e indispensável à decoração editorial 20 tendências | Quem disse que andar de bicicleta significa pedalar? 24 grandes obras | Antes tido como inviável, porto de Rio Grande continua a crescer Vai começar um ano muito especial 26 Brasil cresce | Quando o diploma é de papel, mas as aulas são virtuais O ano de 2010 foi excelente para a VidaBosch. Mas temos certeza de que 2011 será ainda melhor: serão comemorados 125 anos do Grupo Bosch e 150 anos do nascimento do seu fundador, Robert Bosch. Esse duplo aniversário é motivo de orgulho para a Bosch, mas é especialmente importante enfatizar que essa história só pode ser boa se for percebida e levada adiante. Por isso, em todas as edições de 2011 vamos compartilhar com vocês a trajetória da empresa e contar como ela se fortalece do seu passado para superar os desafios do futuro. Assim, reforçamos o compromisso da Bosch para o futuro e o princípio de sua estratégia corporativa, que se resume em apenas quatro palavras: “Tecnologia para a vida”. Um ótimo Natal e um excelente 2011! 44 saudável e gostoso | Maracujá conjuga o doce e o amargo na ponta da língua Boa leitura A Redação 32 atitude cidadã | Por que a primeira infância tem de ser a primeira prioridade 38 aquilo deu nisso | Sistemas automatizados aposentam a ordenha manual 02 26 Produção, reportagem e edição: PrimaPagina (www.primapagina.com.br), tel. (11) 3512-2100 / [email protected] • Projeto gráfico, direção de arte e diagramação: Buono Disegno (www.buonodisegno.com.br), tel. (11) 3512-2122 • Tratamento de imagem e finalização: Inovater • Impressão: Gráfica Ideal • Revisão: Dayane Pal ([email protected]) • Jornalista responsável: Jaime Spitzcovsky (DRT-SP 26479) 32 Destaques on-line | www.vidabosch.com.br tendências eu e meu carro Vídeo O sistema que evita 80% dos acidentes em derrapagens Expediente VidaBosch é uma publicação trimestral da Robert Bosch Ltda., desenvolvida pelo depto. de Corporate and Marketing Communication, Brand Management and Call Center (RBLA/COM1). Dúvidas, reclamações ou sugestões, fale com o SAC Bosch: (011) 21261950 (Grande São Paulo) e 0800-7045446 ou www.bosch.com.br/contato 10 Brasil cresce Site Veja do que os motores de bicicleta são capazes em casa Site A página da Bosch que treina mecânicos de todo o Brasil Site Conheça a linha de bombas pressurizadas da Bosch 2 | VidaBosch | viagem Moldada pelo vento Shutterstock Jericoacoara, no Ceará, deve boa parte de seus encantos às ventanias, que formaram as dunas e transformaram o pacato vilarejo em point para windsurfe e kitesurfe | Por Walterson Sardenberg Sº G viagem rande parte dos visitantes de Jericoacoara, formada por estrangeiros, não consegue pronunciar o nome do lugar como recomenda a prosódia brasileira. Menos ainda o de Jijoca de Jericoacoara, o município cearense a que a vila pertence. Ficou combinado assim: basta falar algo semelhante a “Djerii”, com o acento tônico na segunda silaba, e pronto. Além de mais simples, revela apreço, intimidade. Não há data precisa para o momento em que o vilarejo litorâneo, a 325 quilômetros de Fortaleza, passou de Jericoacoara a “Djerii”. Mas essa troca ocorreu, sem dúvida, na segunda metade dos anos 1980, quando os estrangeiros começaram a descobrir a beleza da singela vila de pescadores. Jeri, como a tratam os 2,5 mil moradores (são mais de 10 mil no verão!), vivia então às escuras – e isso não é apenas uma metáfora. A luz elétrica chegaria apenas em 1998, dez anos depois da bendita água encanada. Isso significa que o vilarejo viveu no breu durante o século das invenções. Hoje, quando algum hóspede da conectada pousada Chili Beach recorre à rede wi-fi ou pluga o seu iPod no aparelho a ele reservado no quarto, decerto não sabe que Jeri, na prática, pulou do século 19 diretamente para o Terceiro Milênio. O ano de 1987 é uma referência constante. Naquela época, um bem informado redator do caderno de turismo do jornal “Washington Post” incluiu Jericoacoara no ranking das dez mais belas praias do planeta. Coincidentemente ou não, pouco depois a atriz Pamela Anderson desembarcou no local – veio posar para uma edição norte-americana da “Playboy”. A equipe da revista, claro, usou como cenário a imagem mais conhecida e também o maior chamariz do vilarejo: a Duna do Pôr do Sol. O nome é autoexplicativo, mas o ritual a que se refere merece descrição. Todo fim de tarde, os visitantes têm um acordo tácito: subir, passo a passo, a viagem | VidaBosch | 5 duna de 30 metros de altura, formada na praia principal, de frente para o mar. Vista de longe, a escalada lembra caravanas de beduínos no deserto. Já a adoração ao Sol, que se põe, exibicionista, sempre diante da duna, com invariável simetria, remete às civilizações pré-colombianas, mas sem o desenlace dos sacrifícios. Tal como ocorre com os grandiosos espetáculos, ele é sempre igual; e a cada dia diferente. O reflexo solar vai transformando os matizes das areias, do rosa ao escarlate, passando pelo laranja, em uma escala de cores digna dos mais sensíveis pintores de marinhas – José Pancetti, por exemplo, se vivo estivesse, daria um jeito de acomodar o cavalete no terreno instável. A praia começou a ficar famosa no final dos anos 1980, quando um jornalista norte-americano a classificou como uma das mais bonitas de todo o mundo Formações de areia e rocha encantam O encontro diário sobre a duna é duplamente romântico: ali iniciam-se as abordagens que, ao menos para os mais jovens ou os mais dispostos, resultarão, mais tarde, nos sacolejos madrugada adentro nas casas noturnas Mama África, Sky, Planeta Jeri e Casa do Forró. As noites de Jeri são esfuziantes a ponto de o proprietário da padaria Santo Antônio dar-se ao direito de trabalhar em um regime mais apropriado a guardas-noturnos ou plantonistas hospitalares: ele abre às 2 da matina; fecha antes das 6. E não tem conversa. Dito assim, pode parecer que Jeri tornou-se quase um centro urbano, capaz de agraciar o visitante com uma vida noturna espelhada em uma metrópole. Esqueça. O vilarejo manteve o juízo. Transformado em área de proteção ambiental, limitou a cobiça da construção civil, embutiu os fios elétricos e deu a sorte de atrair hoteleiros e restaurateurs de bom senso. Eles souberam caprichar no conforto e nos serviços, mas deram preferência a ambientes, digamos, rústico-chiques, de sorte que, à parte raríssimas exceções, não se construiu nada ao estilo Miami ou Cancún. Tem mais: em geral, poucos vão de carro a Jericoacoara. Melhor deixá-lo em Jijoca e completar o trajeto em um veículo coletivo local. Os 23 quilômetros de areia fofa de um ponto ao outro são um óbvio entrave — quando não um impasse para automóveis sem tração 4X4. Além do mais, não haveria muito o que fazer com um carro no vilarejo. Jeri ainda tem apenas quatro ruas grandes: a Principal, a São Francisco, a rua da Praia e a do Forró, descontadas as estreitas travessas. Todas continuam como na época em que os moradores (eram 252 há duas décadas) viviam do peixe farto, do escambo e da agricultura de subsistência. Em outras palavras: o chão das áreas públicas ainda é todo de areia. Não há nem mesmo calçadas. Por isso, preferem-se os jegues ao motor à explosão. A restrição do piso impõe outra: a despeito do figurino ou da idade, cabe ao visitante de juízo optar por sandálias de dedo, dessas mais comuns, embora senhoras de contas bancárias mais exuberantes escolham aquelas desenhadas pelo francês Christian Lou- Jericoacoara proporciona descanso para os turistas e belas paisagens boutin. Desperdício: resistem menos às caminhadas – as senhoras e as sandálias. Ainda nos final da década de 80, uma dita autoridade local resolveu calçar um trecho da rua Principal com paralelepípedos. Um pecado. A bem-aventurada natureza, felizmente, deu cabo da descabida iniciativa. O projeto desandou. Em parte devido às chuvas de março e abril (únicos meses propensos a aguaceiros), mas, sobretudo, em virtude dos ventos e das areias, que, sem clemência, cobriram as pedras. Assim como na canção de Bob Dylan, a resposta para o sucesso de Jericoacoara está, em boa parte, no soprar dos ventos. Deve-se a eles a mística da vila. Não bastasse terem criado a Duna do Pôr do Sol, não descansam, em especial no segundo semestre, levando, segundo a segundo, cada grão de areia para outro destino. Nos meses finais do ano, alísios vindos da África atingem rajadas de até 80 quilômetros. Assim, reformam a geografia, aliviam os visitantes do calor e atraem os adeptos do windsurfe e do kitesurfe (modalidade que mescla surfe e parapente). Eles vêm dos Estados Unidos, da Europa, da Ásia. De todos os continentes. São supercampeões, campeões, apenas adeptos ou agregados. Amam o vilarejo. Comparam as condições de mar e vento de “Djerii” a outros “picos top” — no linguajar da tribo — para a prática desse esporte: Tarifa (Espanha), Estoril (Portugal) e Saint Marteen (Caribe). Trazem amigos, namoradas, namorados e ajudam a espalhar o nome da vila mundo afora, com a mesma frequência com que os ventos removem as areias. Passeios de bugue Fotos Luiz Rocha 4 | VidaBosch | Se o poder dos ventos levou o nome de “Djerii” mundo afora, em contrapartida arrasou uma vila vizinha, Tatajuba. Há três décadas e meia, as 150 casas acabaram soterradas pelas areias. Acordava-se cedo e varria-se o dia inteiro. Até se resignar à fatalidade. Quem conta essa história é Delmira das Chagas Silva, 51 anos, antiga moradora de Tatajuba. Todos os dias, ela parte da Nova Tatajuba, erguida quilômetros adiante, para vender coco gelado na área da vila 6 | VidaBosch | viagem viagem | VidaBosch | 7 Shutterstock Camocim soterrada. É uma das paradas de um dos três passeios oferecidos pelos bugueiros. Este primeiro leva ao longo de adoráveis praias desertas, até a Lagoa do Torto, onde a diversão é acomodar-se nas redes montadas sobre a água límpida, enquanto se espera pelo preparo da lagosta. Ninguém reclama. Quem haveria de? Outro passeio tem por destino a Lagoa Azul, maior e ainda mais cristalina, ideal para um banho reconfortante, embora ainda desprovida de estrutura turística. A terceira cartada dos bugueiros é o caminho até as proximidades da Pedra Furada, rochedo à beira-mar em que, mais uma vez, a ação dos ventos, desta feita em colaboração com a água, impôs sua força, desenhando um arco de intrigante geometria. Sempre eles, os ventos, a mover moinhos, windsurfistas, birutas, veleiros, kitesurfistas, planadores, pipas e alguns dos nossos melhores sonhos. Entre eles, Jericoacoara. Itarema Jericoacoara CE - 202 James Harrison Acaraú 402 CE - 434 CE - 216 CE - 187 Trairi CE - 354 CE - 178 São Gonçalo do Amarante Paracuru Sobral Iraucuba Fortaleza 222 222 Maracanaú CE - 168 CE - 211 Guaraciaba do Norte Pacajus 020 Santa Quitéria CE - 257 A 325 km de Fortaleza, Jericoacoara é ponto ideal para a prática do kitesurfe Canindé CE - 176 404 Como chegar Jericoacoara está localizada no Ceará, 325 quilômetros a oeste de Fortaleza. É preciso dirigir com cautela, pois nem sempre a qualidade das rodovias é a melhor possível. No total, até Jijoca de Jericoacoara, são cerca de quatro horas e meia de viagem. Comece pela rodovia Bezerra de Menezes. Ela o levará à BR-222. Serão 90 quilômetros nessa estrada. No município de Umerim, deve-se entrar à direita no sentido de Itapipoca, já na rodovia CE-354. Há um trevo em Acaraú. Siga à esquerda, rumando para Jijoca. Quase todos os visitantes estacionam o carro nesse município e seguem o trecho final até Jericoacoara (23 quilômetros, na areia) em uma jardineira pública. Motoristas a bordo de valentes 4 X 4 podem seguir por conta própria. Se o carro não tiver esse dispositivo, não tente dirigir, pois você pode acabar com o seu veículo atolado na areia fofa. 020 CE - 060 122 Onde ficar Onde comer Pousada Jeribá A frequência de windsurfistas e kitesurfistas torna o lugar animado e cosmopolita. Mas não pense em alvoroço. Os quartos são modernos, com ar-condicionado silencioso; e o serviço merece menção. Além do mais, fica diante da praia. Rua do Ibama, www.jeriba.com. br. Tel.: (88) 3669-2096 Carcará Aberto há nove anos, ainda é o melhor da vila. Serve pratos fartos (sempre para dois). Aventura-se, com sucesso, em pratos internacionais – ceviche e lula à provençal, por exemplo. Os mais pedidos, com justiça, são aqueles à base de carne-seca. Rua do Forró, 530. Tel.: (88) 3669-2013 Mosquito Blue A piscina fica na frente da praia. Precisa mais? Há quem critique a estrutura graúda (são 80 quartos) e a arquitetura. Mas não há lugar mais confortável. Rua da Farmácia, www.mosquitoblue. com.br. Tel.: (88) 3669-2203 Na Casa Dela Chão de areia e quiosques de palha. Tudo com muito charme. O que haveria de melhor em um praia? A cozinha é regional. Tudo feito com capricho. Rua Principal, 20. Tel.: (88) 3669-2024 Chili Beach Um dos mais novos. Tem quartos amplos e muito bem equipados (até aparelho para plugar o iPhone). Também oferece chalés. Por sinal, enormes. Rua da Igreja, www.chilibeach.com.br. Tel.: (88) 9909-9135 Espaço Aberto Neste restaurante simples e simpático, foi instalada, em 1988, a primeira torneira de Jericoacoara. Os pescados estão na lista de frente do menu. Que tal peixe ao molho de abacate e ervas? Rua Principal, 104. Tel.: (88) 3669-2063 A Bosch na sua vida Arranque perfeito para o verão No verão, os mais de 7 mil quilômetros do litoral brasileiro se tornam um atrativo ainda maior na hora de programar sua viagem. Mas, antes de pegar o carro e se aventurar por aí, é importante checar se o veículo está com tudo em ordem. Afinal, ambientes salinos, típicos das regiões litorâneas, podem acelerar o desgaste de peças e componentes. Para evitar esse incômodo, a Bosch desenvolveu a linha de Cabos de Ignição Premium, aplicável em veículos a gasolina, etanol, flex e GNV. Ela suporta altas temperaturas e tensão elevada, sem falar na resistência ao contato com combustíveis, fluido de freio, óleo de motor e, claro, maresia. “O clima pode agravar problemas no carro. A linha de cabos de ignição passou por remodelação, com inclusão de silicone e EDPM [etileno-propileno-dieno], materiais mais robustos, que evitam fuga de corrente elétrica”, diz Fábio Betarello, coordenador de trade marketing da linha de injeção, ignição e cabos da Bosch. A fuga de corrente é inimiga do sistema de ignição. Betarello explica que o sistema precisa de mais energia que a gerada pela bateria. Portanto, há uma bobina de ignição que amplifica a tensão. Arquivo Bosch Tianguá Para que a corrente elétrica produzida pela bobina seja conduzida às velas de ignição, que vão gerar a faísca necessária para uma boa ignição, os cabos devem garantir que toda a corrente elétrica gerada pela bobina alcance as velas sem perda de potência, sob pena de o funcionamento do motor não ser bem-sucedido. “Não se pode perder energia pelo caminho. Se o material usado for borracha, o ambiente salino pode comprometer o componente”, diz. “E uma falha no sistema de ignição causa falha no veículo”, alerta Fábio Betarello. Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br • Conheça a linha completa de Cabos de Ignição Premium Bosch eu e meu carro | Por Bruno Meirelles Da perda total ao bi de F-1 Emerson Fittipaldi, que destruiu um Porsche nas ruas de SP quando jovem, conta como o amor pelos carros o tornou um ídolo do automobilismo E le tinha como sonho disputar uma prova de Fórmula 1 algum dia. Acabou indo muito além disso. Bicampeão da principal categoria do automobilismo, vencedor duas vezes das temidas 500 milhas de Indianápolis, Emerson Fittipaldi abriu caminho para que o Brasil fosse reconhecido em todo o globo como um celeiro de grandes pilotos. E conseguiu tudo isso da forma de que mais gosta: ao volante. Sua história com os carros começou muito cedo. O pai, Barão Fittipaldi, era radialista e grande incentivador do automobilismo nacional. Levou o filho para o autódromo pela primeira vez quando Emerson tinha só 4 anos. “Assim que eu vi os carros passando, decidi que era isso que eu queria fazer da minha vida”, revela o piloto. Curiosamente, na primeira volta que deu em Interlagos, onde depois venceria por duas vezes o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 (1973 e 1974), o motorista não era ele. “Meu pai pediu para o piloto José Asmuz me levar, e fui sentado no tanque de uma carreteira”, conta. Mesmo hoje, com mais de 60 anos e longe das competições, ele não deixa de lado o prazer de dirigir. E o modelo que atende ao seu gosto exigente é o Chevrolet Malibu, que chegou ao Brasil em meados de 2010. “Ele tem uma característica de carro compacto, similar aos europeus, e é muito gostoso de guiar”, diz. Acostumado a andar em alta velocidade, o piloto não abre mão da segurança nem mesmo fora do autódromo, onde prefere um ritmo mais tranquilo. O carro atende bem a esse requisito, pois conta com itens como controle eletrônico de estabilidade, ABS, direção com assistência elétrica, assistente de frenagem de emergência e seis airbags. “Outro dia estava vindo de Araraquara, pela rodovia dos Bandeirantes, e vi um pessoal de moto passando a mais de 130km/h e com gente na garupa. Se você quer correr de motocicleta ou de carro, vai à federação, a Interlagos. No autódromo você tem toda a segurança para guiar em alta velocidade”, recomenda Fittipaldi, que pilotou em uma época em que os pilotos saíam de casa para disputar um Grande Prêmio, mas não sabiam se voltavam. “Você tinha que conviver com um risco muito alto.” Sua preocupação com a segurança vem desde o inicío sua trajetória na Fórmula 1, há 40 anos. Em seu primeiro ano na categoria, ele perdeu seu companheiro na Lotus, o austríaco Jochen Rindt, em um acidente durante o GP de Monza. Detalhe: Rindt morreu no carro do brasileiro, já que, um dia antes, Emerson destruíra a Lotus do austríaco, tendo de ceder o seu posto. “Foi um fim de semana muito trágico, e era a primeira vez que eu convivia de perto com isso.” Em luto, a Lotus não disputou as duas corridas seguintes, mas voltou no último GP da temporada, em Watkins Glen. E, justamente quando enfrentava as maiores dúvidas sobre a carreira, Emerson conseguiu seu primeiro triunfo. “Para mim, 1970 foi um ano muito especial, porque, vindo de uma tragédia em Monza, eu pude ganhar nos Estados Unidos e ainda garantir o campeonato póstumo para o companheiro. Isso fez com que eu continuasse motivado para a Fórmula 1”, diz. Carros marcantes Ao longo de suas mais de quatro décadas de carreira, Emerson sentou em inúmeros cockpits. No entanto, não tem dificuldades em apontar o carro que mais o marcou: a Lotus que o levou a seu primeiro título na F-1, em 1972. “Era um carro que eu conversava com ele e ele conversava comigo.” Outro que está entre os seus preferidos é o Porsche. Sua história ao lado da marca começou na década de 1960, quando, ao lado do irmão Wilsinho Fittipaldi, importou um modelo da Alemanha. A ideia era primeiro mexer no motor, colocar rodas maiores e preparar o carro para correr. Mas Emerson não resistiu e saiu para dar uma volta com ele na região do Morumbi. “Estava garoando e, logo na segunda curva, eu entrei derrapando, e o poste saiu correndo da calçada e bateu no carro”, brinca. Naquela época, nem o Porsche contava com equipamentos de proteção avançados. Dispunha de cinto de segurança, que Emerson usava. O piloto não se machucou. Saiu do carro e espantou-se com a sorte que teve. O problema maior foi contar para o irmão. “Como o Porsche era nosso, o prejuízo foi para os dois. Mas a batida só aconteceu porque eu estava ansioso para testar o carro. É por isso que eu falo para as pessoas correrem no autódromo”, completa. O incidente não abalou a relação dos irmãos, que em 1968 criaram um carro para disputar a principal prova do automobilismo brasileiro de então: as Mil Milhas de Interlagos. Após meses de trabalho artesanal, nasceu o Fitti-Porsche, famoso pela sua velocidade nos treinos, mas também por quase sempre abandonar as corridas. “Foi o carro mais rápido do Brasil na época”, diz. Em 2008, Emerson escolheu justamente um Porsche quando sucumbiu à saudade das competições e voltou a correr em algumas provas da GT3 (categoria nacional que reúne carros de turismo). “A prova mais divertida que tive nesse breve retorno foi no Rio de Janeiro. Chegamos em segundo, o meu melhor resultado. Foi muito emocionante estar de volta ao lado do meu irmão.” A Bosch na sua vida Mais segurança contra derrapagens As chances de um “poste sair correndo da calçada e bater” em seu carro, como o bem-humorado Emerson Fittipaldi define o acidente sofrido na chuva com o Porsche que importou nos anos 1960, são muito mais remotas hoje em dia. O motorista conta atualmente com sistemas de segurança como o ESP (sigla em inglês para Programa Eletrônico de Estabilidade), eficaz contra derrapagens, responsáveis por cerca de 40% de todos os sinistros com mortes no mundo. O ESP, que pode evitar até 80% dos acidentes decorrentes das derrapagens, segundo estudos internacionais, é resultado de um processo de aprimoramento a partir do ABS, dispositivo que evita o bloqueio das rodas durante a frenagem. Ambos foram introduzidos no mercado pela Bosch. “Além de fazer o que o ABS já realizava, o ESP percebe quando o motorista vira o volante e o carro não obedece. Quando isso acontece, o sistema entra em funcionamento de forma autônoma”, explica Carlo Gibran, gerente de marketing e vendas da divisão Chassis Systems Control da Bosch. Arquivo Bosch André Klotz 8 | VidaBosch | O ESP escolhe qual roda terá de ser freada para auxiliar no processo de estabilização do veículo, diminuindo também o torque do motor. Essa ação ocorre em milésimos de segundos. “O motorista pode pisar até o fim no acelerador que o motor tem sua rotação regulada, voltando ao normal quando preciso”, explica Gibran. Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br • Vídeo mostra como o ESP mantém o automóvel na estrada mesmo em manobras abruptas torque e potência | Por Bruno Meirelles Flex de peso Com motor que funciona com diesel e gás natural, frota de caminhões e ônibus pode passar por mudança tão radical quanto a introduzida nos automóveis flex Konstantin Sutyagin 10 | VidaBosch | Q torque e potência uando os carros flex começaram a ser produzidos em escala industrial, em 2003, pairava certa desconfiança em relação ao álcool — o fantasma da crise de abastecimento da década de 80 ainda assustava o mercado consumidor. Mas as suspeitas foram deixadas para trás pouco tempo depois. Em 2005, os modelos que podiam rodar com qualquer proporção de etanol e gasolina já eram 49% dos veículos novos vendidos no Brasil, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos (Anfavea). Em 2009, a fatia pulou para 84%. Uma revolução parecida pode estar surgindo em outro segmento do mercado: o de ônibus e caminhões. O sistema é diferente — permite que os motores trabalhem com diesel e gás natural —, mas tem apelos semelhantes: ganho ambiental, financeiro e em liberdade de escolha. O Sistema Diesel-Gás, em desenvolvimento pela Bosch em Curitiba e que encontra-se na fase de aplicação em modelos automotivos específicos, pode rodar exclusivamente com diesel ou com até 85% de gás natural veicular — mas não 100%. É que, por não ter vela, o motor precisa do diesel para iniciar o processo de combustão. Depois desse estágio inicial, já é possível rodar com alto percentual de gás. Os principais benefícios são: gasto menor para abastecer, manutenção da potência, flexibilidade de escolha de combustível e, sobretudo, menos emissão de poluentes. Testes feitos por diversos especialistas indicam que o GNV diminui em até 75% a emissão de materiais particulados, os maiores responsáveis por aquelas névoas cinzas vistas em grandes metrópoles. Além disso, o Sistema Diesel-Gás emite na atmosfera 20% menos gás carbônico, um dos gases que mais agravam o efeito estufa, e diminui a emissão de óxido de torque e potência | VidaBosch | 13 nitrogênio, substância que pode causar problemas respiratórios. “O gás natural é um combustível fóssil relativamente puro e queima bem se tiver a tecnologia adequada”, resume Guilherme Wilson, gerente de Operações da Mobilidade da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). Também podem ser usados biodiesel e biometano, combustíveis renováveis e “verdes”, que são a tendência para o futuro. Outro benefício é econômico. Enquanto o metro cúbico do gás natural custa em média R$ 1,20, o litro do diesel para o frotista, que paga menos do que o motorista comum, sai por mais de R$ 1,70. E há redução extra no custo, porque o GNV consome menos — a economia é equivalente a três litros de diesel a cada 100 km percorridos, pelas contas de Roberto Falcão, membro da Comissão de Tecnologia de Motores Diesel da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil). Há diferença no bolso, mas não ao volante. O sistema permite que, com GNV, o veículo mantenha o desempenho do diesel, deixando inalterados aspectos como torque, retomada, potência e dirigibilidade. Se o motorista não for avisado, talvez nem perceba que está guiando com gás natural – exceto pelo ruído, que é menor. Isso acontece porque o aproveitamento do GNV é melhor em sistemas diesel do que nos presentes em carros de passeio. Falcão explica que, em motores do ciclo Otto, como o usado em automóveis a gasolina e álcool, o gás expande e impede a entrada de oxigênio suficiente para uma combustão completa, fazendo com que o carro perca até 20% do rendimento. Como nos motores diesel isso não ocorre, a eficiência é maior. Grandes diferenças A novidade ainda não entrou em série, mas já foi testada em vários veículos, e a Bosch lançará um protótipo até o final do ano. “Estamos iniciando uma história parecida com a dos carros de passeio. Na época,o mercado viu um potencial no álcool, mas era complicado usar só esse combustível por causa das flutuações de preços. En- tão o usuário ganhou o poder de fazer essa escolha”, diz Leonardo Vecchi, chefe da área de desenvolvimento de produtos de inovação da divisão Diesel Systems da Bosch América Latina. Apesar de desempenhar uma função semelhante, o flex para veículos pesados apresenta diferenças importantes em relação ao sistema adotado nos automóveis. Isso se justifica pelo fato de ele trabalhar com dois materiais que não se misturam (um líquido e um gás). Assim, são necessários tanques distintos para armazená-los e injeções separadas para levá-los ao motor, com reflexos no custo de produção. “O que dificulta a adoção do gás nesse setor é que o investimento pesa, pois demanda muitos equipamentos”, afirma Roberto Falcão. Entretanto, por lidar com um combustível mais barato, o investimento no flex pode ser compensado ao longo da vida útil do veículo. A Bosch fez um estudo considerando uma taxa de substituição do diesel pelo gás de 75%, com os preços atuais dos combustíveis e uma rodagem diária de 350 km durante seis dias por semana, em ônibus. A conclusão foi que o novo sistema se paga em 1,2 ano. O representante da Fetranspor também avalia que há potencial para retorno econômico. Porém, esse objetivo deve vir acompanhado de garantia de abastecimento, preço e infraestrutura. O maior problema, avalia Guilherme Wilson, é a falta de uma política de governo clara e orientada para o seu uso em veículo pesados. “Sempre faltou no Brasil uma tecnologia veicular ou de conversão que pudesse dar sustentabilidade técnica ao gás natural neste setor. Isso, a Bosch estará disponibilizando. Precisamos agora de apoio político.” Já há avanços nessa direção, detecta Sidney Oliveira, gerente de vendas e marketing da divisão Diesel Systems da Bosch América Latina e diretor da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva. “A matriz energética é uma política estratégica de governo, que ele controla com impostos. Houve um tempo em que o gás era mais dedicado às usinas para geração de energia, mas hoje, com o pré-sal, os veículos ganharam espaço.” Gás natural veicular emite 75% menos materiais particulados, que são os responsáveis pela formação da fumaça cinza Marcos Peron/kino.com.br 12 | VidaBosch | De todo o gás usado no Brasil em 2009, 44% era importado, principalmente da Bolívia. Esse cenário deve mudar quando os campos recém-descobertos na bacia de Santos entrarem em operação Um dos possíveis obstáculos é a dependência do mercado externo. Os dados mais recentes consolidados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) indicam que a oferta diária de gás natural no Brasil, em 2009, foi de 58 milhões de metros cúbicos. Desse total, 44% era importado, originário sobretudo da Bolívia. A agência não dispõe de dados específicos sobre GNV, um dos subprodutos do gás natural. De qualquer forma, as descobertas recentes estão elevando rapidamente a produção nacional. “Na bacia de exploração em Santos está sobrando gás natural, e logo o país será autossuficiente nesse combustível”, afirma Roberto Falcão. “Precisamos de estrutura como tubulações para atender o aumento de demanda que o flex deve promover.” Vai melhorar Diante desses fatores todos, fica claro que essa não é uma revolução que se dará em prazo muito curto. De qualquer modo, o consumidor brasileiro – e o meio ambiente – perceberão melhorias logo. É que mesmo o diesel produzido e utilizado no país deve ser aprimorado nos próximos anos, com a entrada em vigor de regras mais rígidas para emissão de poluentes. Todo o setor diesel deverá sentir as mudanças. Em 2012 é que começa a valer a sétima fase do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que prevê que os veículos movidos a diesel reduzam em 60% as emissões de óxido de nitrogênio e em 80% os índices de material particulado. Ao mesmo tempo, a Petrobras se comprometeu a produzir um diesel com menos enxofre. O mais comum no Brasil hoje é o diesel com 500 partículas de enxofre por milhão (chamado de S500). Em 2012, deve ganhar espaço o S50 e o S10. 14 | VidaBosch | em casa | Por Chantal Brisac Nada como a água Kheng Guan Toh Um convite à contemplação e ao relaxamento, a água valoriza áreas externas, garante frescor e aguça os sentidos 16 | VidaBosch | em casa em casa | VidaBosch | 17 Shutterstock Neelsky Andries Oberholzer Fontes e aquários levam para casas e apartamentos a sensação de tranquilidade transmitida pela água S eja em um meditativo laguinho ao estilo japonês, em uma convidativa piscina ou numa simples fonte, a água sempre teve seu lugar de destaque na arquitetura e na decoração. Há 3 mil anos, os sábios chineses já falavam da importância desse elemento vital. A prática do Feng Shui, que surgiu na China nessa época, mostra a união dessas duas forças naturais: o vento (feng) e a água (shui). A primeira, sob essa perspectiva, é uma energia invisível e que não pode ser detida; já a segunda, além de visível, pode ser canalizada. Conduzida e usada da melhor forma, sem agredir a natureza, ela traz conforto, relaxamento, frescor e energia, entre outras boas sensações. Com lugar de destaque no paisagismo, a água se integra bem em qualquer espaço externo, deixando os jardins ainda mais bonitos e agradáveis. Enquanto, em um estilo mais solene, as fontes e espelhos d’água pincelam o cenário de pátios e fachadas, antigas ou contemporâneas, riachos e represas fazem parte de recantos pitorescos em sítios e fazendas. Mas como hoje a população está mais concentrada nas cidades e, portanto, convive em espaços reduzidos, é natural que se queira levar as sensações de tranquilidade transmitidas por esse elemento para dentro de suas casas e apartamentos. Surgem assim maneiras pouco convencionais de incorporar a água em pequenos jardins, varandas e até em ambientes internos. Para a arquiteta Renata Fernandes, que trabalha no renomado escritório de Marcelo Faisal, de São Paulo, qualquer projeto que leve em conta o uso da água como elemento ornamental deve ser ecologicamente responsável, preocupandose, por exemplo, em reutilizá-la. “Dentro desse parâmetro, os recursos são variados. Podemos brincar com a ideia em espelhos, cortinas d’água ou mesmo trabalhar a água em colunas, com cilindros, como se fossem verdadeiras esculturas ou tótens aquáticos”, explica Renata. O barulhinho que a água faz enquanto percorre seu caminho produz uma musicalidade relaxante, que tem o dom de deixar o cenário ainda mais prazeroso. Projetos com água ajudam a abafar ruídos desagradáveis da cidade, como o das buzinas no trânsito e das britadeiras em construções, trazem maior umidade à casa e neutralizam poluentes. São ideais nos dias de calor, já que a evaporação do líquido cria minúsculas partículas no ar que deixam o ambiente mais fresco. De acordo com a doutrina do Feng Shui, ter uma fonte em casa traz prosperidade. O movimento do líquido faria com que as energias circulassem positivamente pela casa e ainda aumentaria o poder de foco dos moradores. Vantagens mais palpáveis? A água tem a capacidade de ressaltar a plasticidade do ambiente. O reflexo do céu, das nuvens e da própria luz sobre sua superfície dá sensação de aumento do espaço e é capaz de duplicar imagens de objetos como esculturas e vasos. Ela também atrai animais de estimação, que adoram se aconchegar perto de fontes e espelhos d’água. Quem tem fonte na varanda ou no jardim pode Projetos com água Cascatas e cortinas d’água Podem ser elaboradas nos mais diversos estilos. Com distribuidor, em duas quedas, efeitos espumantes, vários níveis, vertedor (iluminado ou não), em parede, em pedra, em vidro e em roda d’água. Servem para ambientes internos e externos. Fontes interativas Funcionam por meio de um moderno sistema que gera um espetáculo dinâmico de jatos d’água e luz. O grande diferencial é que esse modelo permite a interação entre as pessoas e a água. Ou seja, você pode tocá-la e caminhar entre os jatos. Para isso, o local é coberto por um piso antiderrapante e um conjunto de reservatórios recobertos por grelhas metálicas, por onde saem os jatos de água e os focos de luz, criando efeitos e movimentos de acordo com uma sequência sincronizada. A iluminação pode ser controlada por painéis de comando equipados com temporizadores digitais. Assim, é possível programar os horários de funcionamento – só durante a noite, por exemplo. Aquário com peixes Apesar da atração exercida por suas mais variadas espécies, cores e movimentos, os peixinhos são apenas parte de um ornamento que envolve outros elementos. É um trabalho para equilibrar o modelo de aquário, as plantas aquáticas, a iluminação, o efeito da bomba de oxigênio, o filtro de limpeza, o sistema de aquecimento, pedras de tamanhos variados e outros itens decorativos, como conchas, estrelas e corais nas versões com água salgada. Lago artificial Caso a opção seja por um laguinho, o ideal é colocar carpas, as preferidas pela variedade de cores e longevidade – podem viver até 100 anos. Kinguios, cascudos e tilápias também são muito utilizados. No entanto, há que se ter cuidado para não contrariar algumas regras da natureza. “Algumas espécies são inimigas naturais e não devem ser colocadas em conjunto, como tilápias e carpas”, diz a paisagista Lucia Borges. A higienização mensal é necessária para que o pH da água permaneça equilibrado e micro-organismos não se acumulem, prejudicando os peixes. O uso de plantas aquáticas – caso das ninfeias, sagitárias, alfaces d’água, entre outras – também é essencial, já que muitas espécies ajudam na limpeza. Para auxiliar nesse processo, nada como a orientação de um especialista. 18 | VidaBosch | em casa em casa | VidaBosch | 19 Joe Belanger presenciar o banho diário de passarinhos nesses pequenos espaços refrescantes. “Existem diversos jeitos de aproveitar as incríveis qualidades da água em uma casa, e as fontes, que podem ser bastante simples, são uma dessas formas”, pontua o arquiteto paulistano João Vicente Cunha. Segundo o especialista, vale também usar pedras para amortecer a queda d’água e escolher um motor silencioso, para que não haja ruídos indesejáveis nesse cenário de sonho. Segundo a consultora de Feng Shui Silvana Helena Occhialini, a presença de terra, árvores e água límpida transmite boas sensações. “Hoje, essa arte se escora sob quatro paredes, mas ela não perdeu sua essência. O Feng Shui não é um recurso decorativo, mas uma arte que busca saúde e harmonia”, afirma a consultora. Para ela, as fontes de água são muito bemvindas, especialmente na entrada da casa. Alguns cuidados são necessários. “Além de manter a água limpa e funcionando, é bom colocar gotinhas de água sanitária na fonte para não criar musgo”, explica, lembrando que a filosofia chinesa trabalha com os cinco elementos: água, terra, madeira, fogo e metal. “Em nossa casa, precisamos ter todos os elementos em equilíbrio”, diz. Fontes Vanessa Branco/Divulgação As fontes são um dos objetos mais utilizados por especialistas em Feng Shui.Feitas de diversos materiais, incluindo metais, PVC, cerâmica e bambu, elas podem ser dispostas em pequenos espaços da casa e do apartamento. Há algumas revestidas de fulget (um revestimento também chamado de granito lavado) e com interior de pastilhas de vidro. Existem modelos que podem ser comprados prontos, especialmente os de O motorzinho usado em aquários também é recomendado para fontes. Nelas, o nível da água precisa ser verificado periodicamente – sem água, a bomba quebra cerâmica. As artistas plásticas Vanessa Branco (www.vanessabranco.com.br) e Bia Ferreira da Rosa (www.biaceramica. com.br) produzem belos exemplares de minifontes de cerâmica, ideiais para recantos externos e internos. Já nos projetos paisagísticos, o que conta é a criatividade. Pedras coloridas, troncos de árvores caídas, antigos dormentes de ferrovias... são vários os materiais que podem compor uma fonte ou uma lâmina d’água instalada em um jardim. Plantas especiais para a água também vão bem. Em um projeto recente, a paisagista Gi- gi Botelho concebeu um tanque que fica coberto por plantas aquáticas, como ninfeias e papiros. A água da fonte cai em uma parte repleta de seixos, dando um ar rústico e agradável ao jardim. O minimotor usado em aquários é o mais indicado para as fontes. Ele faz a água vibrar e subir pela bica. Ao cair, provoca um barulhinho relaxante e deixa a fonte aerada, o que a mantém livre de bactérias e mosquitos que se proliferam em águas paradas. Mas o motor deve estar sempre ligado, e o nível da água deve ser observado com frequência. Os modelos expostos ao sol tendem a evaporar rapidamente, por isso pedem abastecimento constante. Sem água, a bomba quebra e será preciso trocá-la. Por isso é importante fazer uma limpeza mais caprichada a cada dois meses, desligando a bomba da tomada, lavando a base com água e sabão neutro e enchendo com água nova. O equipamento por trás da decoração Para fazer uma bela peça de decoração que funcione corretamente, como uma fonte ou um aquário, é necessário ter um maquinário eficaz. A Bosch disponibiliza uma peça no mercado que, aliada a acessórios, é capaz de fazer o adereço funcionar da maneira que se deseja. Na verdade, são dois tipos de bombas que tornam possível que a água flua por uma fonte, por exemplo. “A do tipo fluxostato funciona de acordo com o fluxo de água. Ela pode vir de uma caixa d’água. Já o modelo pressostado (foto ao lado) libera o líquido à medida que diminui a pressão nos canais a que está ligado. Por exemplo, quando uma torneira é aberta”, explica Ricardo Amaral, técnico da divisão de aquecedores da Bosch. No entanto, para que funcionem de forma apropriada, é necessário que estejam ligadas a três acessórios. “A pessoa vai ter de pedir ao técnico que instale a bomba para colocar um controlador, um filtro e um interruptor para ligar e desligar. Só assim a bomba vai liberar o fluxo de água”, enfatiza Amaral. Segundo ele, depois de realizadas essas conexões, é possível fazer com que a fonte tenha uma série de proprieda- Faça você mesmo Que tal criar uma fonte? Acredite, não é complicado. Tudo o que você vai precisar, além de um vaso grande de planta ou uma cuba de PVC, são pedaços de bambus e pedras coloridas. Também é essencial uma bomba submersa de baixa potência, como as usadas em aquário. Para começar, perfure com uma furadeira o pedaço de bambu e coloque na lateral do vaso. Ponha a bomba submersa no vaso e passe por dentro do bambu. Coloque seixos e pedras, encha de água e sua fonte está pronta. Arquivo Bosch A Bosch na sua vida des para funcionar de forma automática. “Quem instalar pode colocar um temporizador ou um sensor de luz. Dessa forma, a fonte pode funcionar à noite e parar quando amanhecer. Dá até para ficar iluminada quando o ambiente estiver escuro”, completa o técnico da divisão de aquecedores da Bosch. Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br Cascatas podem ser usadas em ambiente externo, como piscinas, ou interno • Confira as diferenças de rendimentos das bombas pressurizadoras da Bosch 20 | VidaBosch | tendências | Por Manuel Alves Filho Reforço nas pedaladas Bicicletas motorizadas, como as de propulsor elétrico, se destacam por seu apelo ecológico e garantem mais conforto que as bikes convencionais Shutterstock O trânsito caótico e a deficiência do transporte público, características comuns das grandes e médias cidades brasileiras, têm levado um número crescente de pessoas a buscar alternativas de deslocamento para o trabalho, o estudo ou o lazer. No lugar do automóvel ou do ônibus, elas preferem lançar mão das bicicletas, que aliam atividade física com poluição zero. Essas duas características, porém, acabam às vezes sendo um obstáculo para que essas bikes se disseminem ainda mais: não é todo mundo que tem fôlego para pedalar por muito tempo ou consegue chegar ao trabalho sem suar em bicas. Para contornar esses inconvenientes, há uma alternativa que pode ganhar espaço no mercado: bicicletas motorizadas. Há dois tipos principais. As com motor a combustão – uma espécie de versão contemporânea da antiga mobilete, ciclomotor bastante popular na década de 1980 – conseguem percorrer de 75 a 160 quilômetros com um tanque de gasolina, mas são poluentes (embora menos que as motos) e sofrem a concorrência das motocicletas de menor cilindrada, que estão sendo vendidas com juros cada vez menores a serem pagos em prazos cada vez maiores. Já as de motor elétrico, chamadas de e-bike, criam um novo filão. Rodam menos (cerca de 30 quilômetros), permitem que o ciclista mescle pedaladas com aceleradas e não agridem o meio ambiente, pois não queimam combustíveis fósseis. Numa época em que o tema “mudanças climáticas” não sai da agenda mundial, é um atributo que faz diferença. O Brasil não dispõe de estatísticas oficiais que apontem quantas bikes motorizadas trafegam por suas cidades. Mesmo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) informa não ter dados a tendências tendências | VidaBosch | 23 A manutenção das bicicletas motorizadas sai bem mais em conta do que a das motos respeito, por não contar com associados que produzam esse tipo de veículo. Ainda assim, há pistas de que a frota de magrelas com motor esteja aumentando. Ricardo Rosalem, gerente comercial da MicroMachine, empresa em atividade desde 1997 e que há dez anos fabrica dois modelos com motor a combustão, observa que houve retomada do crescimento das vendas dos veículos motorizados de duas rodas em geral. “Penso que as bicicletas motorizadas também devem se beneficiar dessa tendência, visto que o mercado para elas já é crescente”, prevê. As bicicletas elétricas que circulam no Brasil são em grande parte importadas, sobretudo da China. Em Goiânia, porém, há uma fábrica genuinamente brasileira, embora tenha o nome de Brazil Eletric Bike. Comandada por Marlos de Souza, a empresa atua há cinco anos no mercado nacional, mas também exporta para países da América Latina. Segundo o empresário, as vendas ainda são relativamente tímidas, mas as perspectivas são boas. “Com o trânsito dos centros urbanos cada vez mais caótico e com a pressão social em favor do uso de meios de transportes ambientalmente corretos, estou convencido Bicicletas com motor elétrico, conhecidas como e-bike, alcança velocidade média de 40 km/h e têm autonomia para rodar por 30 quilômetros de que a bicicleta elétrica será um dos veículos do futuro”, afirma. Os modelos produzidos pela empresa goiana desenvolvem velocidades médias em torno de 40 km/h e custam a partir de R$ 2 mil. O tempo de carga das baterias varia de duas a oito horas, dependendo da versão. Uma das características das e-bikes fabricadas por Souza, assegura o empresário, é que elas são verdadeiramente híbridas. “Os veículos podem ser tracionados pelo motor elétrico, pelo condutor, com o auxílio dos pedais, ou pela combinação dessas duas forças”, explica. Os empresários do setor avaliam que esses veículos apresentam vantagens em relação tanto às motocicletas quanto às bicicletas convencionais. A manutenção é mais simples e barata que a das motos; ao mesmo tempo, garantem um deslocamento por grandes distâncias sem causar desgaste ou cansaço como as bicicletas. Pelos cálculos de Souza, o custo-be- nefício proporcionado pelo uso de uma magrela elétrica é excelente. “O gasto é de R$ 0,25 para cada 35 km percorridos. Ou seja, é mais barato do que andar a pé, pois o gasto com arroz, feijão e sola de sapato é muito maior”, propagandeia, de forma bem-humorada. As bicicletas com motor a combustão custam em torno de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil, conforme o modelo. A maioria promete cumprir entre 50 e 80 quilômetros por litro de gasolina, a uma velocidade que pode chegar a 50 km/h. O perfil dos clientes, tanto de um quanto de outro modelo, é bastante variado – homens, mulheres, jovens, adultos. O uso, também – para ir ao trabalho, à escola ou para passear. Norma polêmica Apesar de todas as virtudes, as bicicletas elétricas ou a combustão são alvo de polêmica. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) baixou em 2009 uma resolução equiparando esses veículos a ciclomotores. Assim, pela legislação, eles precisam ser dotados de equipamentos de segurança (tais como espelhos retrovisores de ambos os lados, farol dianteiro, lanterna traseira, velocímetro e buzina). O uso de capacete pelo piloto é obrigatório. Como dito anteriormente, esses veículos não têm autorização para circular por rodovias ou mesmo vias de trânsito rápido, as chamadas expressas. Ou seja, só podem ser usadas em ruas secundárias, de tráfego lento. Seus condutores devem ter, no mínimo, 18 anos, e possuir habilitação para dirigir motocicletas ou a chamada ACC, sigla para Autorização para Conduzir Ciclomotor. O processo de obtenção da ACC é o mesmo da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), informa o coordenador geral de Infraestrutura de Trânsito do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Orlando Moreira da Silva. “O candidato deve ser aprovado na avaliação psicológica, no exame de aptidão física e mental, na prova escrita e no exame prático, realizado em vias públicas”, acrescenta. Os profissionais do setor reclamam. Os fabricantes e revendedores, porém, afirmam que até uma criança pode conduzir a e-bike, da mesma forma que as bicicletas convencionais. “A bicicleta elétrica é inimputável, pois o mesmo Contran que estipulou essas normas também proibiu que esses veículos sejam emplacados. Ora, se não tem placa, como lavrar uma multa?”, questiona Souza. Na prática, elas estão situadas numa dimensão indefinida do trânsito, visto que não equivalem nem às bicicletas convencionais nem às motos. Para o presidente da União de Ciclistas do Brasil (UCB), Antonio Miranda, por desenvolver velocidade muito superior a 25 km/h, teto definido para as ciclovias, as bicicletas motorizadas não podem circular nesses espaços. Lucas Pimentel, presidente da Associação Brasileira de Motociclistas (Abram), entidade que congrega 500 motoclubes do país e representa 43 mil motociclistas, avalia que a principal preocupação em relação ao trânsito das bikes a motor reside na falta de fiscalização por parte dos poderes públicos municipais. Embora a legislação federal determine que as prefeituras devam responder pelo registro e fiscalização desses veículos, isso dificilmente é obedecido. “Eu desconheço cidades que cumpram a determinação.” A Bosch na sua vida Motor ajuda ciclistas no trânsito O trânsito das grandes cidades e o transporte público insuficiente para suprir as necessidades de locomoção da população fazem com que cada vez mais pessoas optem por comprar uma bicicleta. Além de tudo, é uma opção saudável. No entanto, há certa rejeição quando se trata de pedalar longas distâncias. Unindo a praticidade da bicicleta à comodidade oferecida pelas motos, surgem, então, as chamadas “magrelas motorizadas”. O sistema não substitui as pedaladas, apenas as auxilia. O Sistema eBike Bosch é composto por unidade de acionamento, que inclui motor e sensores, uma bateria de íons de lítio recarregável e HMI (Human Machine Interface) localizada sobre o guidão. O motor de 250 watts pesa apenas 2,3 kg e está posicionado de forma estratégica no quadro, permitindo um centro de gravidade baixo e, consequentemente, maior estabilidade ao pedalar. A velocidade máxima é de 25 km/h, o que possibilita que a eBike seja conduzida em ciclovias. O dispositivo é acionado com pedaladas na e-Bike e permite escolher entre quatro modos de apoio – Eco, Tour, Sport e Speed – podendo ser ajustado cada um em três níveis. Portanto, é possível optar entre 12 programas de força de apoio. A opção Eco é a mais econômica e possibilita percorrer até 80 km. Já a Tour é ideal para passeios de longo alcance. A Sport possibilita andar bem no tráfego urbano, e a Speed, que atinge a velocidade máxima de 25 km/h, permite percorrer a distância de 35 km. A bateria do Sistema eBike Bosch foi projetada utilizando a tecnologia de íons de lítio. Tem tamanho e peso reduzidos, levando apenas duas horas e meia para ser completamente carregada. Em uma hora, já está com 50% da carga preenchida. A interface HMI recebe os dados a partir dos três sensores da unidade de acionamento. Assim, dá acesso a informações como velocidade, status da bateria, modos de apoio e distância a ser percorrida. Em breve, a Bosch disponibilizará a HMI Advanced, que contrará com interface USB para carregar telefones celulares e MP3 players. Arquivo Bosch Barone Firenze 22 | VidaBosch | Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br • Veja como o motor funciona em www.bosch-ebike.com grandes obras | Por Rafael Spuldar João Paulo Ceglimski/Divulgação Um porto grande para Rio Grande Obras no segundo maior porto do Brasil vão permitir tráfego de navios maiores e devem consolidá-lo como um dos principais entrepostos do Cone Sul E m meados do século 19, engenheiros e navegadores que visitavam a Barra do Rio Grande duvidavam que o local, contato entre a Lagoa dos Patos e o mar, no sudeste do Rio Grande do Sul, pudesse abrigar um porto. As águas eram muito agitadas, a profundidade era pouca, os trechos navegáveis mudavam de lugar frequentemente. Mesmo planos de aperfeiçoar a estrutura receberam críticas. Tais obras eram tachadas de “inexequíveis” e “mais nocivas do que úteis”. Para a sorte dos gaúchos e do Brasil, esses e outros adjetivos bradados pela burocracia da época do Império logo caíram no ridículo: em 1915 foi inaugurado o cais principal do porto de Rio Grande, a 317 quilômetros de Porto Alegre, substituindo outro local do município que recebia embarcações. Hoje, é o segundo maior do Brasil em movimentação de cargas, atrás apenas de Santos, e está recebendo fortes investimentos federais para obras de ampliação e modernização. Os novos aportes vão consolidá-lo como o “porto do Cone Sul” — sua proximidade com Uruguai e Argentina já lhe dá uma posição estratégica para o transporte continental de cargas. O “superporto” deverá fechar 2010 com o recorde de movimentação de 30 milhões de toneladas; para 2015, a previsão é que chegue a 50 milhões. Os recursos têm potencial para mudar o perfil do empreendimento. Com as obras, navios com mais carga e de dimensão maior poderão embarcar e desembarcar no município de Rio Grande. “Os navios que hoje carregam 40 mil toneladas poderão carregar 80 mil, e isso muda a performance dentro do canal”, destaca o superintendente do porto, Jayme Ramis. Desde 2008, o governo federal investiu R$ 800 milhões em Rio Grande por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que serviram para aumentar o calado (profundidade) do canal do porto e para prolongar os molhes — estruturas de pedra e concreto que avançam da terra para o mar, protegendo a costa e dando mais estabilidade para o leito navegável. A ampliação do molhe oeste já terminou, Assim que estiver concluída, a estatal dará início à produção em forma seriada de oito cascos FPSO (sistema flutuante de produção, armazenamento e transferência de óleo) para plataformas de petróleo submersíveis. A Petrobras, que por contrato tem por dez anos o direito exclusivo de usar o Polo Naval, prevê injetar mais de R$ 12 bilhões no local. A ampliação do porto e a inauguração do polo também chamam a atenção de empresas nacionais e estrangeiras interessadas em construir novos terminais privados e estaleiros em Rio Grande. Segundo o superintendente, já existem estudos de viabilidade e protocolos de intenção nesse sentido. “Estamos trabalhando na preparação do porto de Rio Grande para ser efetivamente o porto do Cone Sul, no sentido de que ele é o único na região com profundidade compatível com grandes navios petroleiros e graneleiros que operam linhas regulares para Europa, Ásia e África”, diz Jayme Ramis. Obra que gera mais obras A ampliação da capacidade do porto está ligada a outras reformas fundamentais pa- e a do leste deve ficar pronta ainda em 2010. Após as obras, cada estrutura ficará com cerca de 4 quilômetros de comprimento. A profundidade do porto será de 42 pés (12,8 metros). Outra etapa do empreendimento é a modernização do cais, com reformas estruturais em uma extensão de 1.125 metros. O projeto, cuja licitação deve sair até o fim de 2010, tem custo estimado em R$ 113 milhões. Barcos fora d’água Os maiores investimentos relativos ao porto de Rio Grande, no entanto, destinam-se não ao percurso das embarcações no mar, mas fora dele. Trata-se do Polo Naval, em especial do dique seco, estrutura portuária destinada a reformas e construção marítimas. Feito em pouco mais de quatro anos, em uma obra que empregou diretamente 1,4 mil pessoas, ele tem 430 mil metros quadrados — o segundo maior do mundo. Lá já está sendo construída a plataforma P-55 da Petrobras. A obra, no auge, deve empregar de 2 mil a 2,5 mil pessoas diretamente. ra o escoamento da produção e dos bens transportados. Uma delas é a duplicação da rodovia BR-392, que liga Rio Grande a Pelotas — no período de safra da soja, por exemplo, o fluxo de caminhões na estrada chega a 1,6 mil por dia. O custo da obra, que já está sendo realizada, fica na casa de R$ 1,2 bilhão. Também está prevista a duplicação da BR-116 entre Pelotas e Porto Alegre – outro trecho tido como essencial para as operações do porto de Rio Grande. O superintendente vê o sistema ferroviário como a grande deficiência para escoamento dos produtos que chegam do mar. Segundo Ramis, a linha férrea que liga Rio Grande à região metropolitana de Porto Alegre faz um desvio muito grande, o que onera demais o transporte por trens. De qualquer modo, o porto estuda uma parceria para integrar-se a uma rede de ferrovias que percorre, além do Rio Grande do Sul, também Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, num trajeto total de 3 mil quilômetros. A ligação poderia ir até o Chile, dando ao Brasil uma opção geograficamente impossível: uma saída ao Pacífico. A Bosch na sua vida Contribuindo para o Polo Naval A ampliação do porto de Rio Grande está ocorrendo paralelamente à construção, no local, do Polo Naval. É lá que serão feitas e reformadas algumas das plataformas mais importantes para a exploração de petróleo no Brasil. Uma das estruturas já em gestação é a P-55, da Petrobras. Nesse processo, estão sendo usadas três ferramentas da Bosch, “para que o resultado seja satisfatório”, diz José Maria da Silva Ramos, supervisor de almoxarifado da QUIP, empresa responsável pela construção e montagem das plataformas em Rio Grande. A Retífica Reta GGS 27 L Professional vem sendo utilizada para fazer a limpeza dos tubos que transportarão óleo e gás do solo do mar até a plataforma. Com sua ponta abrasiva e dispositivo que diminui vibrações, o equipamento desbasta estruturas metálicas e dá bom acabamento nos tubos. A retífica também é importante na montagem das bases da plataforma — formadas por peças e estruturas de metal, ligadas por solda. A ferramenta deixa a solda sem ranhuras, facilitando o encaixe das peças metálicas. A construção da plataforma também recorre a esmerilhadeiras da Bosch. A Esmerilhadeira Angular de 7 polegadas GWS 21-180 Professional é usada nos serviços de corte, desbaste e rebarbação em metais e soldas. Já a Esmerilhadeira Angular 4 ½ pole- Arquivo Bosch 24 | VidaBosch | gadas GWS 6-115 Professional ajuda a garantir a emenda ideal entre as peças de ferro, que vão resultar na montagem da plataforma e alcançar os pontos mais difíceis de acesso. As duas se destacam por serem facilmente manejáveis e por terem uma boa relação entre peso e potência. Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br • Saiba como usar a retificadeira reta da Bosch 26 | VidaBosch | brasil cresce | Por Felipe Lessa Educação high-tech estoura no Brasil Shuttestock Número de matriculados em cursos à distância cresce 600% em três anos e preenche lacuna no ensino superior no país Q brasil cresce Yuri Arcurs uem viveu os anos 80 bem se lembra. A década viu a disseminação de meios pouco convencionais de ensino, com cursos em grandes redes de televisão, por correspondência e até aulas em áudio por meio de fitas cassete, que vinham em revistas para tocar no finado walkman. Só que o método de ensino à distância se disseminou e acompanhou o avanço da tecnologia. Hoje, o negócio é aprender na frente do computador. A popularização da internet banda larga é apontada por especialistas como um dos principais motivos para a recente explosão brasil cresce | VidaBosch | 29 da educação à distância no Brasil. Para se ter ideia, foi registrado um crescimento de 600% no número de alunos matriculados nos cursos superiores on-line entre 2005 e 2008, segundo o censo realizado pela Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed) em 2009. Contudo, ainda existem desafios a serem superados, como a falta de professores qualificados e de material didático adequado. E o avanço tem sido evidente desde então. As ferramentas são as mais variadas possíveis: trabalhos em grupo podem ser feitos em salas de bate-papo, as aulas são assistidas em vídeos transmitidos pela internet e professores tiram as dúvidas por e-mail. Aos poucos, os cursos menos modernos, como os oferecidos pelo Instituto Universal Brasileiro e o Telecurso 2000, estão se atualizando e também utilizando a web. Até o ano passado, essa foi a maneira mais viável encontrada por 649.854 brasileiros para ter acesso à educação superior, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). O perfil de estudante também é variado. Vai desde um chefe de uma família de classe média baixa que busca se atualizar, mas não encontra tempo em sua rotina, até um jovem que sonha em ser veterinário, mas mora numa fazenda do interior de Goiás. Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Roberto da Silva, uma das maiores vantagens é a administração do próprio tempo. Um exemplo disso é o estudante de pedagogia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Marcelo Moura, que não conseguiria conciliar o curso com sua rotina de trabalho. Assim, utiliza as madrugadas e finais de semana para fazer exercícios e ler os textos das aulas. O perfil de quem estuda on-line é bem variado: administrar o próprio tempo é uma das vantagens dessa forma de aprendizado Segundo o MEC, até 2009 cerca de 650 mil brasileiros encontraram na web a maneira mais viável de ter acesso garantido ao ensino superior Por outro lado, as exigências de tempo chegam a ser maiores do que nos cursos presenciais, pois, segundo o estudante, “cada atividade, seja ela um fórum ou um texto dissertativo, conta frequência, e, se você não tiver 75% de presença, não pode fazer as provas presenciais”. “Isso cansa bastante e te obriga a ficar on-line mais ho- ras do que ficaria numa sala de aula”, diz. A possibilidade de desenvolvimento de autonomia em relação aos estudos é vista por Silva como um ponto positivo nesses cursos, já que o aluno tem de se esforçar muito mais e ser bastante ativo para conseguir um bom aproveitamento. “O estudante desenvolve seu próprio saber, exercendo sua preparação por conta própria. Aí, ele apenas utiliza as orientações do professor, mas não depende delas para aprender, como é praxe no ensino presencial”, acrescenta o docente. Moura partilha da mesma opinião em relação ao conhecimento autodi- Zurijeta 28 | VidaBosch | Fotoline brasil cresce brasil cresce | VidaBosch | 31 data, mas sente a falta de mais participação dos professores e tutores, pois “seria muito produtivo que interferissem mais em nossas discussões e textos”. Outro ponto positivo é a variedade da oferta, já que existem cursos para diversas áreas do conhecimento, ainda que o foco seja em ciências humanas e tecnológicas. Segundo o censo da Abed, as formações mais procuradas são administração, pedagogia e tecnologia. Também é possível encontrar cursos na área de biológicas. Além disso, instituições de elite do Brasil já oferecem aulas on-line, como a Unicamp e a USP. Até as universidades de Berkeley, Yale e Harvard, nos Estados Unidos, disponibilizam gratuitamente a bibliografia de parte de seus cursos para estudantes autodidatas, mas não há qualquer vínculo ou diploma emitido pelas entidades. Por outro lado, as aulas on-line não são recomendadas para estudantes com pouca escolaridade, pois a lacuna de formação geral pode não só dificultar o desempenho e o aproveitamento do curso como também mascarar as necessidades de capacitação. “É por isso que essa modalidade tem funcionado melhor na graduação e pósgraduação, e não no ensino fundamental, por exemplo”, explica Roberto. A pouca interação com outros colegas também é vista como um ponto negativo pelo professor, que acredita que o conhecimento é construído de maneira coletiva, a partir de observações e pelos erros próprios e dos outros. “Claro que esse modelo não é perfeito, existem lacunas que jamais seriam preenchidas. Ele é muito bom dentro de um contexto relativamente específico”, afirma. Além disso, o boom no setor não foi acompanhado pela formação de professores capacitados para lidar com esse novo tipo de método de ensino. Na opinião de Fernando Rodrigues de Castro, gerente da unidade de pedagogia do Centro de Educação à Distância (Cead) da Universidade de Brasília (UnB), muitos educadores são obrigados a se adaptar de forma abrupta ao novo método, o que pode comprometer a qualidade do ensino. O mesmo acontece com o desenvolvimento de material didático adequado, que, segundo ele, ge- Instituições renomadas no país já têm aulas on-line, como a Unicamp e USP. Nos EUA, Harvard está entre as que oferecem material na rede ralmente é apenas transposto do mundo off-line para o on-line, não sendo adaptado de acordo com suas peculiaridades. Rede conectada A tecnologia tem sido fundamental para a disseminação desse tipo de ensino, principalmente a popularização da internet em banda larga, que, segundo o MEC, está presente em todos os municípios brasileiros. Outro dado bastante animador é o crescimento do acesso à web, que passou de 13,9 milhões de domicílios em 2008 para 18,3 milhões no ano seguinte, representando um crescimento de 35%, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2009, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGIbr). Segundo o secretário de Educação à Distância do Estado de São Paulo, Carlos Alberto Vogt, a tecnologia é responsável não apenas pela montagem de sistemas de aprendizados mais eficientes, mas também de métodos de avaliação mais rígidos. “Isso deu mais credibilidade aos cursos, que hoje possuem um bom padrão de qualidade e controle pelo governo”, afirma Vogt, responsável pela criação da Universidade Virtual Paulista, em 2008, uma parceria entre as três principais universidades pú- blicas estaduais – Unesp, Unicamp e USP – para cursos semipresenciais. Ainda existe muita desconfiança em relação à qualidade do ensino à distância, tanto por parte dos estudantes como de empresas, preconceito que se deve principalmente ao número espantoso de instituições de baixa qualidade. O MEC iniciou uma fiscalização no setor há dois anos, sendo que foram encontrados 5.163 centros funcionando sem o devido credenciamento e que não cumpriam as exigências mínimas estabelecidas. “É fato que ainda existe muito trabalho a ser feito para consolidar esse tipo de ensino no Brasil, mas boas provas já foram dadas de seu funcionamento, sobretudo na graduação e em cursos de especialização”, finaliza Rodrigues. A Bosch na sua vida Alavanca para o conhecimento O setor empresarial já percebeu o potencial da internet como ferramenta de treinamento, e está investindo fortemente nesse ramo. Por meio do sistema Super Profissionais, a Bosch capacita vendedores, distribuidores e aplicadores (como mecânicos e eletricistas), além de pessoas que participam de seus programas de relacionamento. O sistema surgiu em 2001, estabelecendo parceria por meio de fascículos impressos encaminhados pelo correio. Foi renovado em 2006, diante da necessidade de se criar um canal para levar conhecimento e informação sobre os produtos da empresa para as cerca de 60 mil oficinas independentes do Brasil. Hoje, está disponível tanto em português quanto em espanhol e tornou-se mais do que um curso on-line: gerencia todo o processo de inscrição do Centro de Treinamento Técnico Automotivo da Bosch. De modo a tornar o conteúdo de aprendizado acessível, a plataforma faz uso de recursos como simulações de componentes, vídeos, esquemas, narração em áudio e inúmeras imagens, inclusive mostrando as peças em corte. O treino à distância concentra quase todo o conteúdo teórico dos cursos que a empresa oferece, e se tornou um pré-requisito para quem quer participar das aulas presenciais. “Com isso, nós tivemos um ganho de tempo enorme, pois antes as aulas eram até 70% teoria, e hoje são 80% prática”, Arquivo Bosch 30 | VidaBosch | explica Lúcia Maria Cuque, chefe de treinamento técnico e comercial da Bosch. Outro benefício que a nova metodologia trouxe foi uniformizar o nível dos estudantes que realizam a parte prática do treinamento. “As turmas reuniam pessoas em níveis diferentes de conhecimento, juntando profissionais experientes com iniciantes. Com isso, as aulas precisavam ser interrompidas a todo instante para permitir que todos acompanhassem. Agora as atividades fluem melhor, o que reflete no aproveitamento do curso”, completa. Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br • Navegue pelo site do programa SuperProfissionais Bosch 32 | VidaBosch | atitude cidadã | Por Marianne Piemonte Começando do começo Cuidar da saúde e da educação da criança nos primeiros anos ajuda a prevenir doenças e a criar adultos bem-sucedidos. O resultado? Um país economicamente mais saudável Denis Babenko V ocê vai a uma consulta porque sua pressão está mais alta do que o normal. Senta-se, e o médico logo pergunta: “Até que idade você mamou?” Estranho? Pode parecer, mas ele estaria corretíssimo em querer ter acesso a essa informação. De acordo com o presidente da Associação Paulista de Pediatria, José Hugo de Lins Pessoa, os primeiros seis meses de vida são fundamentais para prevenir doenças que podem surgir na idade adulta, como acidente vascular cerebral (AVC), enfartes e alterações nas paredes das artérias. “É provável que um bebê saudável seja um idoso mais saudável”, diz o especialista, e garante que não exagera. Pessoa ressalta o exemplo dos países nórdicos, em que além da pediatria há a puericultura, que enfatiza a prevenção. “Não se trata de saber qual o remédio para baixar a febre, mas como cuidar do seu bebê e alimentá-lo de maneira que ele não fique doente”, explica. Os benefícios não se restringem ao indivíduo, mas à sociedade: crianças mais saudáveis custam menos ao sistema de saúde quando adultas, pois adoecem menos. Na educação não é diferente. Ao contrário do que se pensa, a aprendizagem começa muito antes de a criança entrar na sala de aula pela primeira vez. A importância da etapa inicial da vida é tão relevante como na saúde. “Esse é um período de constituição de vínculos, desenvolvimento da linguagem, motor e social”, diz Cristina Nogueira Barelli, pedagoga do Instituto Singularidades, voltado à formação de professores de educação básica. Assim, investir em primeira infância, período entre zero e 6 anos, é fundamental, como, aliás, confirma o professor da Universidade de Chicago James Heckman, vencedor 34 | VidaBosch | atitude cidadã atitude cidadã | VidaBosch | 35 Poznyakov Arteretum Blue Orange Studio Crianças que recebem incentivos educacionais desde a primeira infância têm mais chance de serem adultos bemsucedidos (BID): cada dólar investido em crianças de até 6 anos gera uma economia de US$ 7 em assistência social, atendimento a doenças mentais, manutenção de sistemas prisionais e em evasão escolar, de acordo com números citados pelo médico e psicoterapeuta João Augusto Figueiró, do Hospital das Clínicas da USP. “O valor sobe para US$ 15 por pessoa quando se fala em gastos com doenças que continuam a se manifestar na vida adulta, como depressão ou abuso de drogas”, acrescenta ele, que também é presidente do Instituto Zero a Seis, uma organização não governamental que luta para reconhecer a importância de se investir na primeira infância. Metas No Brasil, apesar das visíveis melhoras, como a implantação da licença-maternidade remunerada e prorrogada para seis meses, dados de 2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IB- A Bosch na sua vida Transformação social em um clique O site do Instituto Robert Bosch no Brasil está de cara nova. Responsável por gestão de políticas, diretrizes e recursos de projetos sociais, culturais, ambientais e educacionais mantidos ou apoiados pela Bosch, a instituição oferece agora novas ferramentas digitais para ampliar a interatividade com o público e o acesso ao acervo histórico do grupo. Otavio Antoniacci, gestor do Instituto Robert Bosch no Brasil, destaca que “ficou mais fácil estimular a participação de voluntários”. “A pessoa se cadastra no site, passa a receber newsletters sobre eventos ou cursos e poderá participar de convocações no próprio sistema”, completa. Ele explica ainda que é possível escolher os projetos de que se quer participar, não apenas do instituto como também de entidades parceiras. “Se você estiver interessado em dar aulas de inglês, por exemplo, poderá se inscrever apenas para essa função”, acrescenta o gestor. Mas o site não é voltado apenas ao cadastramento de voluntários. Ele oferece acesso ao BoschDoc, um acervo histórico com registros de temas ligados ao grupo e às comunidades onde a empresa está inserida, desde sua fundação no Brasil, na década de 1950. As antigas campanhas de marketing de ferramentas elétricas Bosch, aquecedores de água e a rede de oficinas autorizadas são exemplos dos temas que podem ser encontrados no arquivo digital do Centro de Memória Bosch, cujo acesso é feito mediante cadastro na página do Instituto Robert Bosch. Lá é possível encontrar também informações e imagens de produtos e tecnologias desenvolvidas pela equipe de engenheiros brasileiros da empresa, além de uma linha do tempo (cronologia da Bosch na Alemanha e no Brasil). “No acervo histórico, o internauta poderá fazer um tour virtual pela sede mundial do instituto, na Alemanha”, conclui Antoniacci. Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br • Descubra as novas ferramentas digitais do site do Instituto Robert Bosch Arquivo Bosch do Nobel de Economia em 2000. “Trata-se de uma rara iniciativa de política pública que promove equidade e justiça social e, ao mesmo tempo, fomenta a produtividade na economia e na sociedade em geral”, escreveu ele em um artigo publicado em 2006 na revista “Science”. Heckman acredita que crianças que recebem incentivos educacionais e desenvolvem capacidades diversas desde a primeira infância terão mais chances de se tornar adultos bemsucedidos. E adultos bem-sucedidos trarão mais desenvolvimento econômico. “A educação é crucial para o avanço de um país e, quanto antes chegar às pessoas, maior será seu e efeito e menos custará ao governo. Tentar sedimentar num adolescente o tipo de conhecimento que deveria ter sido apresentado a ele dez anos antes sai algo como 60% mais caro”, defende o Nobel de Economia. Outra conta impressionante foi feita pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento 36 | VidaBosch | atitude cidadã GE) mostram que entre os 16 milhões de crianças de zero a 5 anos, 62% (cerca de 10 milhões) não frequentam creche nem escola infantil. A proporção varia entre os estados, mas em nenhum o benefício alcança mais da metade das crianças — o que dá uma dimensão da enorme tarefa que o país tem pela frente. A necessidade de priorizar a infância, e também a adolescência e a juventude, está inscrita na própria Constituição de 1988 (artigo 227). Quase sempre, porém, essa determinação não é cumprida, como atestam os números do IBGE. O setor privado tem dado contribuições para que o cenário melhore – desde 1995, por exemplo, a Fundação Abrinq concede o selo “Empresa Amiga da Criança”, que tenta mo- atitude cidadã | VidaBosch | 37 bilizar as empresas para que invistam na área. Entre os compromissos do programa está o incentivo à primeira infância, seja por meio de apoio a programas sociais já existentes ou de doações para fundos de direito de crianças e adolescentes. A gerente executiva da fundação, Denise Cesário, destaca que na base do projeto há incentivo para que as empresas montem suas próprias creches e estimulem o aleitamento materno. Outro passo fundamental foi dado em maio de 2010, com o lançamento do Plano Nacional pela Primeira Infância, elaborado pela Rede Nacional Primeira Infância, formada por organizações não governamentais, setor privado, governo e agências multilaterais, num total de mais de de um indivíduo nos primeiros momentos da vida permanecem inscritos por toda existência nas conexões sinápticas de um adulto. No entanto, os cuidados com a primeira infância constam há apenas 20 anos na Declaração de Direitos da Criança — o documento foi adotado pela ONU em 1959, mas o adendo sobre a primeira fase da vida só foi feito em 1989, com a Convenção sobre os Direitos da Criança. Isso indica que a preocupação com os investimentos nessa área é recente no mundo todo. Os únicos países exemplares são os nórdicos, onde a licença-maternidade pode chegar a um ano e o pai também tem o direito estendido para acompanhar os primeiros momentos de vida do filho. No entanto, segundo o presidente da Associação 70 associados. O documento, entregue à Presidência da República, prevê uma série de metas para 2022 — ano em que se completam dois séculos da independência do Brasil. O plano estabelece, por exemplo, que até esse prazo sejam atendidas na educação infantil todas as crianças de 4 e 5 anos e 70% das crianças de até 3 anos, e que 100% dos professores da área tenham formação específica em nível superior, inclusive em libras (a língua brasileira de sinais). Preocupação recente Figueiró, do Instituto Zero a Seis, conta que há mais de 100 anos existem pesquisas demonstrando que acontecimentos de ordem física, emocional, social e cultural No país, 62% das crianças de zero a 5 anos não frequentam nem creche nem escola infantil — o que indica o desafio que o país precisa enfrentar Paulista de Pediatria, eles ainda pecam no quesito atenção: “Criança que não tem carinho não cresce saudável”, diz Pessoa. Mesmo em regiões desenvolvidas, como o Reino Unido, onde a experiência préescolar resultou em desenvolvimento intelectual mais acentuado, independência, concentração e sociabilidade, há muito a ser feito. A inglesa Sue Gerhardt, pesquisadora e fundadora do Oxford Parental Infant Project (Oxpip), um projeto da Universidade de Oxford que oferece gratuitamente psicoterapia para pais de crianças até 2 anos, iniciou em 2010 uma cruzada contra as creches e berçários britânicos. Ela chama esses lugares de “depósitos de crianças”. “A maioria dos profissionais nesses locais não tem boa formação e são mal remunerados, por isso a rotatividade deles é imensa, o que é muito prejudicial”, diz a pesquisadora. Sue sugere berçários e creches que contem sempre com a participação de um pai ou uma mãe do grupo de crianças, uma espécie de cooperativa. “Só pessoas envolvidas afetuosamente com as crianças vão ajudá-las a crescer”, argumenta. Sem dúvida ainda há muito a ser feito. Já há no Brasil bons projetos e diretrizes para aplicação dos recursos. Mas falta cumprir, de fato, a determinação da Constituição: dar “absoluta prioridade” ao assunto. Dmitry Naumov Exemplares, países nórdicos dão licençamaternidade de até um ano às mães, para acompanhamento ainda maior dos primeiros meses de vida do bebê De pintura a aula de culinária A creche do Santuário Menino Jesus de Praga, em Campinas (SP), começou como um projeto tocado por colaboradores da igreja, em apoio a crianças carentes que moravam nas redondezas do bairro Novo Cambuí. Aos poucos se expandiu. Hoje, 26 anos depois, tornou-se um centro assistencial com capacidade para atender 120 crianças de até 6 anos. Na creche, elas participam de atividades que abrangem todos os níveis de desenvolvimento infantil, conta a pedagoga Rosane Ferreira. “Fazem pintura, colagens, brincam com sucata, tintas e lápis de cor”, afirma. Além disso, assistem a vídeos educativos, aprendem brincadeiras tradicionais – como roda, ciranda e faz-de-conta – e até recebem aulas de culinária, com receitas que não vão ao forno. “Assim elas aprendem lógica matemática, como contar os biscoitos e dividi-los com os coleguinhas, tudo pelo lado lúdico”, acrescenta. A procura pelos trabalhos do centro assistencial é tão grande que há lista de espera, explica a gerente administrativa da instituição, Rosalie Personeni. Atualmente, são 112 as crianças atendidas. “A maioria é de Campinas, e alguns são filhos de trabalhadores de Novo Cambuí”, conta. As demais vagas são reservadas para o Conselho Tutelar, que pode encaminhar menores em situação de risco. Para se manter, a creche conta com o auxílio da prefeitura e de empresas parceiras, como a Bosch. “A Bosch, por meio do Instituto Robert Bosch, dá apoio financeiro para nossas obras e doa alguns brindes para os eventos que organizamos. O Instituto ajudou a financiar uma quadra poliesportiva para as crianças e um parquinho”, detalha Rosalie. Entre as celebrações para recolher donativos estão as famosas festa da pizza e bacalhoada. A creche realiza reuniões bimestrais entre pais e pedagogos, professores e assistentes sociais para discutir assuntos educacionais e referentes às condições de vida de quem tem filhos no local. A saúde das crianças também não é deixada de lado. Entre as atividades realizadas estão cuidados fonoaudiológicos e prevenção a doenças infantis, com orientações sobre higiene e vacinação. Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br • Assista ao vídeo que mostra como a creche apoiada pela Bosch ajuda as crianças Arquivo Bosch A Bosch na sua vida 38 | VidaBosch | aquilo deu nisso | Por Manuel Alves Filho Chutaram o balde Sergej Razvodovskij Sentar no banquinho para tirar manualmente o leite da vaca é algo em extinção. Sistemas automatizados, que controlam o desempenho de cada animal, são responsáveis por mais da metade da produção de leite do Brasil A cena do homem do campo ajeitando o banquinho e amarrando as patas traseiras da vaca para facilitar a tarefa de ordenhar ainda pode ser vista aqui e ali, principalmente nas pequenas propriedades rurais brasileiras. Aos poucos, porém, o trabalho manual vai sendo substituído por equipamentos avançados, que contribuem para ampliar a produção e a qualidade do leite, em boa parte porque melhoram o bem-estar do gado e dos trabalhadores encarregados do seu manejo. Cerca de 60% dos 27,5 bilhões de litros de leite que chegam às prateleiras no Brasil foram extraídos com uso da mecanização e da automação, de acordo com estimativa de Evandro Luiz Schilling, gerente de produtos da GEA Farm Technologies, uma das duas fabricantes de ordenhadeiras mecânicas instaladas no país. “E a tendência é de crescimento desse percentual”, afirma. O setor leiteiro no Brasil vive hoje duas realidades, conforme explica o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez. Sem recursos e sem conhecimento atualizado, os pequenos produtores não empregam tecnologia alguma. “Em geral, nem mesmo sal mineral eles dão aos animais”, relata, referindo-se a um dos elementos necessários à nutrição do gado. Já os proprietários de grandes rebanhos, diz, investem em técnicas e equipamentos modernos, que trazem impactos positivos para a produtividade e os ganhos. Um dos exemplos é o uso de um modelo de ordenhadeira mecânica denominado “carrossel”. De formato circular e com capacidade variável (24 a 80 animais), ele funciona da seguinte forma. Depois de terem os tetos higienizados, as vacas vão sendo acomodadas em compartimentos individuais da máquina, que passa a girar em fluxo contínuo. Ao mesmo tempo em que o leite é extraído por sucção, a ração, previamente formulada por um veterinário, vai sendo liberada para os animais. Um aspecto importante: a sala onde o equipamento está instalado normalmente é climatizada, o que assegura conforto térmico ao gado. “Livre do estresse provocado pelo calor, as vacas aquilo deu nisso aquilo deu nisso | VidaBosch | 41 produzem mais”, observa o presidente da Leite Brasil. Um sistema que tem um mecanismo mais simples é o batizado de “balde ao pé”. O leite é extraído mecanicamente e encaminhado, por meio de um duto, a recipientes que ficam próximos dos animais. Em seguida, os baldes são levados à refrigeração. “Em um estágio um pouco mais avançado, é possível instalar dutos de aço inoxidável que levam o leite até um coletor. Na sequência, com o auxílio de uma bomba sanitária, o produto é transportado, também por canos, até o refrigerador. Dos 27,5 bilhões de litros de leite produzidos anualmente no Brasil, cerca de 60% vêm de ordenhadeiras mecânicas ou automatizadas, segundo estimativa de especialista do setor Esse modelo traz conforto ao trabalhador, que não precisa mais carregar o leite até o local de refrigeração, e maior qualidade ao produto, que fica livre do contato humano e com o ambiente”, detalha Schilling, da GEA Farm Technologies. Quando o rebanho é maior, o processo pode ganhar em sofisticação — e em eficiência. Com o apoio da automação, os sistemas de ordenha podem executar tarefas complementares extremamente importantes para o gerenciamento do negócio. Mais do que extrair o leite e transportá-lo com segurança e higiene, os equipamentos são capazes de aferir, por meio de sensores que monitoram o fluxo do líquido, quanto cada vaca produz e o momento em que o leite acaba. “São dados fundamentais para o pecuarista, que pode acompanhar diariamente o desempenho de cada animal e identificar o momento exato de encerrar o trabalho. Se o leite se esgota e a ordenha continua, isso pode causar problemas de saúde para a vaca, sobretudo ao úbere [mamas]”, esclarece. Há tecnologias ainda mais avançadas que já são utilizadas em outros mercados. Uma dessas formas é o sistema robotizado, que dispensa o trabalho humano durante o processo da extração do leite. “Esses equipamentos ainda não são utilizados no Brasil porque são extremamente caros. Na Europa, porém, já são comuns. Na Suíça, por exemplo, a robotização res- Janet Faye Hastings Em comparação com a ordenha manual, a mecânica melhora o bem-estar do gado Shutterstock 40 | VidaBosch | ponde por metade do leite produzido no país”, afirma Schilling. O gerente de produtos aponta, ainda, o emprego de recursos adicionais que podem ajudar no aumento da produtividade. “As vacas podem ser dotadas de podômetros, iguais aos usados pelos atletas, que medem quantos metros elas se locomovem por dia. Isso ajuda o produtor a identificar se o animal está doente, em virtude da pouca mobilidade, ou se está no cio, período em que ele se movimenta de três a quatro vezes mais do que o normal”, descreve. “Esse último dado é fundamental, pois a vaca tem de ser inseminada no tempo exato. É bom lembrar que, sem um novo bezerro a cada ano, não há produção contínua de leite.” Há ainda alguns casos, raros no Brasil, de produtores que põem música na sala de ordenha para as vacas darem mais leite. Pesquisas na Inglaterra indicam um salto de até 50% na produção quando se toca música clássica para o gado. Uma pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Maria de Fátima Ávila Pires, avalia que os resultados são ainda preliminares. Ela especula que o resultado pode estar mais relacio- 42 | VidaBosch | aquilo deu nisso aquilo deu nisso | VidaBosch | 43 nado ao ordenhador do que aos animais. A especialista cita o que ocorre quando o tradicional radinho de pilha está ligado. “Segundo eles, a música ajuda a acalmar os animais. Quando o aparelho é desligado ou a pilha acaba, eles dizem que as vacas se mostram mais agitadas. Por hipótese, é possível que a música relaxe o ordenhador, que, por sua vez, executará sua tarefa estressando minimamente as vacas”, arrisca. No entender de Maria de Fátima, mais importante do que levar canções suaves ao curral é assegurar ao plantel conforto térmico, boa alimentação e condições sanitárias adequadas. Bicho também “fala” Outra tecnologia recente que pode ajudar a incrementar o setor é um softwa- Podômetros iguais aos usados pelos atletas medem quantos metros as vacas se locomovem, identificando se o animal está doente ou se está no cio. A técnica torna mais precisa a inseminação e garante a produção contínua de leite re capaz de interpretar a vocalização de aves, suínos e bovinos. Desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o programa capta os sons emitidos pelos animais e os traduz, revelando se eles “dizem” estar com frio, fome, calor ou dor. “Nós já fizemos ensaios com gado leiteiro, e foi possível interpretar indicações desse tipo”, afirma uma das integrantes da equipe de pesquisadores, Daniella Jorge de Moura, professora da Faculdade de Engenharia Agrícola daquela universidade. A cientista explica que para chegar ao software foi preciso realizar uma série de estudos em relação ao comportamento dos animais. “Nós pudemos perceber diferenças de espectro para situações distintas, como dor, medo e fome”, afirma a especialista. Ao comparar a vocalização dos animas pertencentes ao rebanho com as emissõespadrão, atesta a professora, o criador terá como identificar quais podem estar com problemas, o que permitirá a adoção de medidas corretivas imediatas. “O software ainda não foi colocado no mercado porque depende de alguns ajustes que facilitarão o seu uso por parte dos criadores. Mas penso que a ferramenta pode vir a ser importante para vários segmentos, inclusive o leiteiro”, prevê. Do para-brisa à ordenhadeira Em princípio, carro e produção de leite fazem parte de dois universos bem diferentes. Mas não é bem assim. Um dispositivo fundamental para não deixar o leite coalhar tem suas raizes na indústria automotiva. Trata-se do motorredutor tipo CEP 310, da Bosch. Desenvolvido originalmente para movimentar os limpadores de parabrisas, o equipamento passou por algumas adaptações — de rotação, tensão e torque, por exemplo — e agora é usado na pecuária. Virou, então, um Sistema Agitador para Tanque de Leite, aplicado em recipientes com capacidade de 150 a 1 mil litros. Assim, pode ser usado tanto na produção familiar quanto por fazendeiros e latifundiários. O motorredutor fica dentro do tanque de leite e tem como função mexer o líquido, fazendo movimento circulares durante o processo de pasteurização, para não separar o soro da gordura e impedir que o leite fique coalhado. Além de serem econômicos e flexíveis, os motorredutores da Bosch não têm cromo nem chumbo, substâncias nocivas à saúde. Uma das vantagens do pequeno motor é permitir que o processo seja feito em tanques menores, a partir de 150 litros (antes, isso só era possível em recipientes de pelo menos Arquivo Bosch A Bosch na sua vida 400 litros). Dessa forma, fica mais fácil a propriedades de médio porte (até 70 litros de leite por dia) aderir ao sistema mecanizado. Sem esse mecanismo, o leite armazenado nos latões tem de ser coletado diariamente. Trabalhando com um equipamento refrigerador, o CEP 310 possibilita que isso seja feito de dois em dois dias, sem grandes oscilações na temperatura e sem deixar o líquido talhar. Shutterstock Conteúdo exclusivo on-line I www.vidabosch.com.br • Veja aplicação de nossos produtos nas empresas Tecnofrio, Frigomor e Asten 44 | VidaBosch | saudável e gostoso | Por Maria Eduarda Mattar Um delicioso paradoxo Maracujá mescla doce e azedo em sua composição; além do sabor único, a chamada “fruta da paixão” possui um efeito calmante Nir Darom S e formos ao vocábulo “doce”, nos melhores dicionários, haverá entre as definições algo como “o que não é amargo”. Do mesmo modo, indo a “amargo” vamos nos deparar com significados que remetem ao contrário do que se dizia no primeiro verbete. Doce e amargo, portanto, são o que as gramáticas chamam de antônimo. Certo? Bom, isso pode valer para os dicionários. Na prática, na ponta da língua — literalmente —, nem sempre é assim. Um caso típico: o maracujá. A fruta, dona de uma combinação bem equilibrada de dois sabores opostos, dá um toque do seu sabor agridoce a vários tipos de pratos da culinária brasileira. Vai na calda, no sorvete, com o peixe ou o frango, na geleia, na musse, na compota e no suco. Acidez não lhe falta: o pH do suco de maracujá varia de 2,8 a 3,3 e a acidez, de 2,9% a 5%. Mas em sua composição há também diferentes tipos de açúcar (de 8,3% a 11,6%), de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Sucos, sorvetes e picolés, compotas e geleias: isso é o clássico do uso do maracujá na nossa culinária”, pontua a chef Ana Luíza Trajano, que é pesquisadora de cozinha brasileira, dona do restaurante Brasil a Gosto, em São Paulo, e autora de livro homônimo, elaborado após suas viagens pelo país para estudar a gastronomia nas diferentes regiões. Nas incursões pelo interior, ela se deparou com vários usos da fruta. Aqui se faz e aqui se come: o país é o principal produtor e consumidor mundial de maracujá. Atrás vêm Colômbia, Peru e Equador, ainda de acordo com a Embrapa. Não por acaso, o poeta Fagundes Varela (1841-1875), expoente do romantismo brasileiro — movimento que buscava ressaltar fatores “típicos” Brasil é o principal produtor e consumidor da fruta no mundo. Das mais de 400 espécies existentes, 200 são nativas do território brasileiro do Brasil — cantou em um de seus textos mais famosos a beleza e os odores da flor do maracujá, justamente o título do poema. (Pelas rosas, pelos lírios, / Pelas abelhas, sinhá, / Pelas notas mais chorosas / Do canto do sabiá, / Pelo cálice de angústias / Da flor do maracujá!). Os versos, que seriam publicados em inúmeras cartilhas escolares ao longo do século 20, mesclavam galanteio amoroso, autocompaixão e valorização do ambiente brasileiro. O jovem escritor (Varela tinha 28 anos quando o poema foi publicado em livro) escolheu bem seu tema. O maracujá era propício para salpicar palavras de coloração brasileira (sabiá, sinhá, manacá, ubá): o vocábulo vem do tupi mara kuya, que significa “alimento na cuia”, em função de sua casca dura e em forma de cuia, na qual pode ser consumido diretamente. É bem verdade que o maracujazeiro não é exclusivo do Brasil — as mais de 400 espécies são nativas da América do Sul —, mas é aqui que se concentra a maioria delas. São cerca de 200, incluindo a principal delas, o maracujá amarelo ou azedo, nomes corriqueiros para a Passiflora edulis Sims, segundo a Embrapa. O nome científico, aliás também ecoado nos versos de Varela, não está ligado ao despertar da libido: o maracujá não tem qualquer efeito nesse sentido. O “passiflora”, que deu origem ao nome que a fruta recebe em outras línguas, como passion fruit, em inglês, refere-se aos elementos presentes na flor que lembram a Paixão de Cristo: os cravos seriam os pregos fincados em Jesus crucificado, os filamentos da coroa seriam a coroa de espinhos, as flores avermelhadas ou arroxeadas seriam o sangue... (“As chagas roxeadas / Da flor do maracujá”, como dizem os versos do poeta romântico). O Brasil exporta e consome mais a fruta in natura, ao passo que outros países se concentram na comercialização do produto em outras formas, como polpa e suco. saudável e gostoso | VidaBosch | 47 De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só em 2009 foram produzidas quase 800 mil toneladas da fruta, 5% a mais do que no ano anterior. A Bahia é o estado líder no setor, mas há boas e viáveis plantações em várias partes do país, diz o cientista agrário e especialista em melhoramento genético Claudio Horst Bruckner, um dos autores do livro “Maracujá: tecnologia de produção, pós-colheita, agroindústria, mercado”. “O maracujá tem ciclo relativamente curto e é o que chamamos de cultura itinerante: quando há uma praga, muda-se o local de plantio”, lembra o especialista sobre a fruta, cujas sementes pegam na maioria dos tipos de solo. “Uma das grandes vantagens é que se acha maracujá o ano inteiro”, atesta Ana Luíza. Em suas viagens, ela notou que a fruta é muito utilizada no interior de São Paulo e de Minas Gerais, onde costuma figurar nas compotas. No Centro Oeste, é mais usado em outros doces. Foi lá que a chef aprendeu a fazer o doce de casca de maracujá, que figurou durante algum tempo no cardápio de seu restaurante. Ela também aconselha o uso com peixes e frango, na forma de calda. E lembra: além da polpa, pode-se usar também a casca na cozinha. Para isso, basta aferventar para tirar o amargor, revela a chef, que produziu as receitas da últimas página desta edição de VidaBosch. Essa versatilidade — tanto de aplicação, quanto de plantio — é a principal vantagem da fruta da paixão. “Às vezes coloco na so- Cíntia Sanchez/Divulgação saudável e gostoso Teresa Azevedo 46 | VidaBosch | bremesa do dia, por exemplo, a mousse de maracujá”, diz a chef Beth Branco, do restaurante Beth Cozinha de Estar, que também utiliza a fruta em pratos salgados. “Acho que vai bem com peixe e frango assado, sempre na forma de molhos”, acrescenta ela, que assina a receita na página ao lado. Calmante natural Além de presentear o paladar com azedo e doce em medidas equilibradas, o maracujá também traz benefícios para a saúde. É calmante natural, como já propagavam nossos avós e comprovam as pesquisas acadêmicas. “Para fazer calmante, usase muito o maracujá amarelo. Suas folhas são usadas em kits de plantas medicinais”, explica Bruckner. A cientista de alimentos Glaucia Pastore, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenou uma pesquisa recente que comprova a faceta calmante do maracujá. “O efeito calmante é bastante conhecido de algumas espécies e é dado pela substância conhecida como passiflorina, que é um conjunto de substâncias de diversas estruturas químicas”, detalha a pesquisadora. O maracujá, segundo ela, tem também presença de vitaminas C e as do complexo B. De acordo com a Embrapa, ele é composto por 8,3% a 11,6% de açúcares totais, 7 a 20 mg/100g de ácido ascórbico (vitamina C), 12,5% a 18%, de sólidos solúveis, além de conter niacina, potássio e outros nutrientes. “Contém ainda uma quantidade apreciável de pectina, que é uma fibra solúvel extremamente importante para a função digestiva e intestinal humana”, complementa Glaucia. Essas substâncias estão tanto na polpa quanto na casca. A pesquisadora afirma que o maracujá também se saiu bem nos estudos sobre potencial antioxidante. “Ele apresentou relevante propriedade de combater os radicais livres”, resume. Em outras palavras, ao combater radicais livres, responsáveis pela oxidação das células, a fruta ajuda a prevenir o envelhecimento. E isso ocorre em função da presença da vitamina C, uma das responsáveis pelo seu famoso sabor cítrico. Mais uma prova de como sua acidez pode ser doce. Filé de frango com ervas e um toque de mostarda ao molho de maracujá Prato a ser preparado para quatro pessoas 8 colheres de sopa de açúcar 2 colheres de sopa de maizena Ingredientes Modo de preparo filé de frango filé de frango 8 filés de frango sem pele Sal a gosto 4 colheres de sopa de mostarda amarela 4 colheres de sopa de ervas variadas bem picadinhas (salsinha, manjericão, mangerona, alecrim, tomilho e sálvia) 4 colheres de sopa de óleo de milho Salgue os filés de frango. Misture bem a mostarda com as ervas e tempere os filés. Em uma frigideira bem quente, coloque duas colheres de sopa com óleo e ponha os filés para fritar. O ideal é fritar dois filés de cada vez e acrescentar óleo aos poucos para que as ervas não queimem. Reserve em um lugar aquecido. molho de maracujá 500 g de maracujá azedo 300 ml de água molho de maracujá Ponha a polpa das frutas para ferver. Assim que levantar a fervura, deixe esfriar um pouco e leve ao liquidificador. Coloque para bater duas ou três vezes na função pulsar. Passe em uma peneira e leve ao fogo em uma panela. Acrescente o açúcar e deixe ferver. Dissolva a maisena em um pouco de água e, com um batedor de arame, acrescente-a dissolvida no molho de maracujá para que engrosse um pouco. Para servir Coloque os filés em uma travessa e jogue por cima o molho de maracujá. O que sobrar de molho pode ser guardado na geladeira, pois ele tem uma durabilidade bem grande. 48 | VidaBosch | saudável e gostoso orta Romeu com T calda de maracujá Ingredientes massa 600 g de Massa Filo 50 g de manteiga sem sal 300 ml de queijo cremoso 150 ml de leite condensado diet 100 ml de creme de leite UHT 5 g de adoçante goiabada 1 kg de goiaba madura 6 colheres de sopa de adoçante 300 ml de água Cravo a gosto Canela a gosto calda de maracujá Modo de preparo para dez porções massa: Corte quatro folhas de massa no diâmetro de 10 cm. Depois, coloque as folhas cortadas em uma forma, uma sobre a outra, alternando as camadas com manteiga. Leve ao forno pré-aquecido a 170 ºC por quatro minutos. queijo cremoso: Coloque no liquidificador e bata. Depois, coloque em um saca puxa (saco feito para confeitar) e leve à geladeira. goiabada: Dissolva o adoçante na água. Tire a polpa da goiaba, coloque na panela e deixe em fogo brando até dissolver. Em seguida, bata. calda de maracujá: Tire o suco da polpa e coloque em um liquidificador junto com o amido e o adoçante. Deixe em fogo brando até que dissolva. Em seguida, deixe esfriar. Para montar as porções, primeiro recheie a massa com o queijo cremoso. Em seguida, adicione a goiabada e finalize com riscos de calda de maracujá. destaque para colecionar Rachel Guedes 1,5 l de polpa de maracujá 6 colheres de sopa de adoçante 3 colheres de sopa de amido de milho
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