VANGUARDAS Artísticas Européias

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VANGUARDAS Artísticas Européias
Data:___/
VANGUARDAS Artísticas Européias
No início do século 20, enquanto o
mundo assistia a mudanças sociais,
econômicas e tecnológicas, a arte
passava a buscar maneiras de expressar a modernidade, a
instabilidade, a fugacidade de um novo presente. Nascem,
assim, as primeiras reações ao modelo poético e estético do
cenário artístico vigente no fim do século 19. Reflexões e
manifestações contrárias a esse modelo surgem das mais
diversas maneiras, mas sempre colocando em destaque a
necessidade de superar o antigo e instaurar, nas artes,
paradigmas compatíveis com um mundo repleto de avanços
tecnológicos, concepções e valores contrastantes com os dos
séculos anteriores. Entram em cena, nesse momento, as
vanguardas europeias, expressão que concentra as diversas
correntes artísticas dos princípios do século 20. A palavra
vanguarda – do francês avant garde, significa o que marcha
na frente. Desejavam estar à frente de seu tempo, serem
visionários e ditarem as novas regras de arte. Essas
vanguardas fazem parte de um movimento aglutinador
dessas novas posturas poéticas, filosóficas e estéticas, o
Modernismo.
algo diferente. Realiza uma exposição de telas no salão de
chá da casa Mappin, local frequentado pela elite paulista.
Marcadas por elementos do Expressionismo alemão, as obras
de Anita fogem à expectativa do público brasileiro de então,
o que causa admiração e repulsa, a um só tempo. Sua
temática também era ousada e pouco convencional para o
momento. Numa sociedade acostumada com a arte que
retrata a beleza convencional e a saúde padrão, Anita propôs,
por exemplo, a pintura de uma mulher com problemas
mentais.
Antipassadismo cultural e liberdade de criação são as
marcas principais da arte moderna. Esse era o princípio que
unia as diversas correntes artísticas que surgiram na
Europa e no Brasil no início do século 20.
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que
veem normalmente as cousas e em consequência fazem a
arte pura (...) adotando para a concretização das emoções
estéticas os processos clássicos dos grandes mestres. (...) A
outra espécie é formada dos que interpretam à luz de
teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica excessiva. São
produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de
decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao
nascedouro.
No
Brasil,
várias
transformações
foram
responsáveis pela criação
do ambiente propício à
instalação das novas ideias
estéticas
na
cultura
brasileira. Entre elas se
destacam o Centenário da
Independência e a Primeira
Guerra Mundial (19141918).
Isso favoreceu a expansão
A boba, Anita Malfatti.
da indústria brasileira e
promoveu o questionamento do sistema político vigente, até
então comandado pela oligarquia ligada à economia cafeeira
rural. Soma-se a isso o deslocamento de artistas e
intelectuais que saem da Europa na condição de refugiados.
No início do século passado, o contexto artístico brasileiro
ainda apresentava forte vínculo com o academicismo
tradicionalista e, sobretudo, com a influência da Belle Époque
francesa. Porém, em São Paulo, assim como no Rio de
Janeiro, já se manifestavam grupos de artistas e pensadores
destinados a alterar esse quadro.
A pintora Anita Malfatti retorna ao Brasil em 1917 após
finalizar uma temporada de estudos em Berlim e outra em
Nova Iorque.
Anita Malfatti, amplamente integrada às novas perspectivas
da arte na Europa e na América do Norte, traz para o país
Literatura - Profª Waleska Gomide Panosso
Anita, ao comentar a exposição, falou que “quando
viram (o público) minhas telas todas, acharam-nas feias,
dantescas, e todos ficaram tristes, não eram os santinhos
do colégio”.
O escritor Monteiro Lobato, que então atuava também
como crítico de arte, após visitar a exposição, escreveu o
artigo Paranoia ou mistificação? que seria, à sua época e às
demais, a base para as discussões sobre as artes de
vanguarda no Brasil. Nesse texto, Lobato afirma:
Apesar do tradicionalismo da crítica local - e do gosto
público também -, os ventos modernistas começavam a
soprar por aqui. Em 1919, o escritor Manuel Bandeira publica
o livro Carnaval. Nele, encontra-se o poema Os sapos, uma
crítica aberta à estética literária vigente no período e
reconhecida pelo gosto tradicional: a dos poetas parnasianos.
CUBISMO
Pablo
Picasso,
Les
Demoiselles
d’Avignon.
Museu de Arte Moderna,
Nova Iorque.
Não pare de sonhar!
O quadro Les Demoiselles
d'Avignon, de Pablo Picasso
(1881-1973), é uma espécie
de marco inicial do Cubismo,
movimento
artístico
oficialmente iniciado em
1907.
A estética cubista nasce, pois,
aplicada à pintura. Seus
preceitos, no entanto, se
estendem
às
demais
manifestações artísticas ao
longo do século 20. Georges
Braque, um dos idealizadores
Página 1
desse movimento, costumava admitir que "Não se imita
aquilo que se quer criar". Tal preceito foi uma das bases do
Cubismo. Os artistas que a ele aderiam não se esforçavam em
imitar a natureza, ou mesmo a perspectiva mais comum, sob
a qual o olhar humano usualmente percebe um ambiente ou
objeto. Aos cubistas não importava explorar um só ponto de
vista em suas obras, mas antes tentar fornecer vários deles,
todas as perspectivas possíveis do olhar sobre um elemento
— e ao mesmo tempo. Isso os levou a segmentar e
fragmentar imagens. Para tanto, frequentemente eram
empregadas nas artes visuais formas geometrizadas,
volumes marcados por arestas, vários planos estilhaçados
e/ou mostrados simultaneamente, à ideia de sólidos
geométricos, cubos. Por isso a designação cubista.
Na literatura, essas técnicas da pintura correspondem à
fragmentação da realidade, à superposição e simultaneidade
de planos – por exemplo – reunir assuntos aparentemente
sem nexo, misturar assuntos, espaços e tempos diferentes.
Assim, a literatura cubista apresenta características como o
ilogismo, humor, instantaneísmo, simultaneidade e
linguagem predominantemente nominal.
hípica
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis
de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails
Neste poema de Oswald de
Andrade pode ser notadas
influências cubistas:
fragmentação da realidade,
a predominância dos
substantivos e flashes
cinematográficos.
O
Cubismo
também
desenvolveu e valorizou a técnica
da colagem nas artes plásticas.
Consistia no aproveitamento de
elementos visuais do cotidiano,
fragmentados, extraídos de seu
contexto original e reagrupados.
Essa técnica foi bastante
valorizada no Modernismo como
um todo, em todas as
manifestações
artísticas:
o
Pablo Picasso, Copo e
reaproveitamento de elementos
garrafa de suze. Papéis
da
cultura
ocidental,
colados,
guache
e
segmentados e reorganizados em
carvão.
novas obras. Na literatura do
Modernismo, é também possível verificar um procedimento
que remete à ideia de colagem: muitos foram os autores que
aplicaram a suas obras literárias trechos de outras obras e
compuseram, com isso, um novo conjunto.
No Cubismo, a colagem representou a liberdade do artista do
jugo da superfície. Ao expor no espaço do quadro elementos
retirados da realidade, como pedaços de jornal e papéis cie
todo tipo, tecido, madeira, objeto. etc.
Leia este poema de Manuel Bandeira, expoente do
Modernismo brasileiro.
Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do
corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o
resto
[do
corpo
nascesse)
Nesse poema, Bandeira se vale de um elemento textual
fragmentado e extraído de seu contexto original. O último
verso de seu poema é um resgate de uma frase bíblica
(Gênesis 1, 2). Com essa "colagem" de um trecho de outro
texto consagrado, Bandeira consegue trazer o impacto da
leitura do elemento da Bíblia, um texto essencial da cultura
ocidental, para sua obra. Isso ao mesmo tempo que dá nova
semântica ao trecho bíblico: o "eu lírico" se apaixona por
Teresa com a mesma força mítica com que os tempos
começam no Gênesis, quando "o espírito de Deus voltou a se
mover sobre a face das águas".
No Brasil, o cubismo manifestou-se, timidamente, nas
pinturas de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti.
Na Europa as principais expressões na pintura foram: Picasso,
Léger, Braque, Gris e Daleunay; na literatura, Apollinarire e
Blaise Cendars.
Algumas obras cubistas
Mulher em frente ao espelho,
Picasso
Guitarra e fruteira, Georges
Braque
Brasil em
Cavalcanti
O mamoeiro, Tarsila do
Amaral
4
fases,
Di
TOME NOTA!
▶No Brasil, das décadas de 1950-60, a técnica cubista
influenciaria o surgimento do Concretismo.
FUTURISMO
Literatura - Profª Waleska Gomide Panosso
Não pare de sonhar!
Página 2
Em 1909, o poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti
(1876-1944) publica o Manifesto Futurista. Essa publicação
marca o início de um dos movimentos mais significativos das
vanguardas, o Futurismo. Nesse texto, o autor aborda uma
série de elementos que viriam a caracterizar a arte do
período. A vontade de apontar a ruptura com as ideias e
valores correntes até então é levada ao extremo. A vanguarda
deveria livrar-se de quaisquer laços com o passado. E, para
isso, seria necessário optar por posições radicais. Leia, a
seguir, algumas das novas regras de pensamento e de fazer
poético que Marinetti propõe em seu manifesto:
[...]
1. Nós queremos cantar o amor do perigo, o hábito da
energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos
essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa,
o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo,
a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o
murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu
de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de
corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes
de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece
correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de
Samotrácia.
5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja
haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no
circuito de sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e
munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos
elementos primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não
tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A
poesia deve ser concebida como um violento assalto contra
as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se ante o homem.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que
haveremos de olhar para trás, se queremos arrombar as
misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço
morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a
eterna velocidade omnipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o
militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos
anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo
da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as
academias de todo o tipo, e combater o moralismo, o
feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho,
pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor
e polifônica das revoluções nas capitais modernas;
cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos
estaleiros incendiados por violentas luas eléctricas: as
estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes:
as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de
suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que
transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de
facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte,
as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os
Literatura - Profª Waleska Gomide Panosso
trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o
voo deslizante dos aviões, cujas hélices se agitam ao vento
como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão
entusiasta.
[...]
O mundo moderno, a era da
industrialização, a exaltação da
máquina e da velocidade, associadas,
e o elogio à tecnologia e à ciência
consolidam-se,
então,
como
características da estética futurista.
Queriam reunir na pintura: som, LUZ e
movimento. Os participantes desse
movimento, como Filippo Marinetti,
Umberto Boccioni, Giacomo Balla,
entre outros, defendiam que a vida
O escritor,
estava em movimento constante e
jornalista
e ativista
frenético. Portanto, a arte do passado,
político
Filippo
entendida
por
eles
como
Tommaso
essencialmente burguesa, não se
conectava com as características mais Marinetti, autor do
Manifesto
marcantes de seu momento histórico e
Futurista,
um dos
cultural. Era, pois, necessário inserir o
mais
importantes
dinamismo e a simultaneidade nas
movimentos
artes. Do mesmo modo, era
artísticos
do início
importante fazer com que a
do
século
20.
perspectiva artística absorvesse os
valores do momento. O que se via era a violência, a
brutalidade da máquina, nada delicado ou sutil. Esse espírito
de época toma-se paradigmático na proposta futurista e
determina a ênfase na ação e na pesquisa do movimento,
como se pode notar no tópico 2 do Manifesto.
Giacomo Balla, Dinamismo de
um cão na coleira
Umberto Boccioni, Formas
únicas de continuidade no
espaço
Observe uma das mais importantes obras do Futurismo –
Dinamismo de um cão na coleira – nela, ficam evidentes os
esforços futuristas por demonstrar a velocidade, o
movimento e o dinamismo das formas. Praticamente o
mesmo ocorre nesta escultura de Umberto Boccioni, um dos
mais ativos representantes futuristas.
Quanto à linguagem, os futuristas propunham:
❶ a destruição da sintaxe, com os substantivos dispostos ao
acaso - as palavras devem ficar em liberdade;
❷ a abolição do adjetivo e do advérbio;
❸ abolição da pontuação, que seria substituída por sinais da
matemática ou musicais (x - : + = > <);
❹ o emprego do verbo no infinitivo;
Não pare de sonhar!
Página 3
❺ em cada substantivo venha imediatamente seguido de
outro, analógico, como homem-torpedo, café-concerto, etc.,
intercalam, como se as vistas de um observador as flagrasse
no mesmo momento.
❻a liberdade absoluta no uso de imagens e analogias
expressas por palavras soltas, sem os fios condutores da
sintaxe, sem limites de pontuação, etc.
As propostas do futurismo tiveram seguidores em todo
mundo, entre os quais o escritor norte-americano Walt
Whitman, o português Fernando Pessoa e os poetas
brasileiros Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Veja, por exemplo, como nos seguintes versos do poema
“Ode triunfal”, de Fernando Pessoa, manifestam-se certos
traços da poesia futurista, como o tom exaltado e
exclamativo, a negação do passado e a exaltação das
máquinas.
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Evidentemente, nem todas essas propostas se firmaram na
literatura. Contudo, o verso livre ficou como uma das mais
importantes contribuições do Futurismo e do Cubismo às
correntes contemporâneas.
O autor paulista Antônio de Alcântara Machado publicou, em
1927, um livro de contos chamado Brás, Bexiga e Barra
Funda. Essa obra, uma das mais importantes da literatura
modernista no Brasil, contém muitos elementos que
demonstram nítida influência do Futurismo. Leia um
fragmento do conto Sociedade. Nele, é perceptível a tentativa
do autor em expressar a simultaneidade de ações.
Sociedade
Na orquestra o negro de casaco vermelho afastava o
saxofone da beiçorra para gritar:
Dizem que Cristo nasceu em Belém...
Porque os pais não a haviam acompanhado (abençoado
furúnculo inflamou o pescoço do Conselheiro José Bonifácio)
ela estava achando um suco aquela vesperal do Paulistano. O
namorado ainda mais.
Os pares dançarinos maxixavam colados. No meio do salão
eram um bolo tremelicante. Dentro do círculo palerma de
mamãs, moças feitas e moços enjoados. A orquestra preta
tonitroava. Alegria de vozes e sons. Palmas contentes
prolongaram o maxixe. O banjo é que ritmava os passos.
— Sua mãe me fez ontem uma desfeita na cidade.
— Não!
— Como não? Sim senhora. Virou a cara quando me viu.
... mas a história se enganou!
As meninas de ancas salientes riam porque os rapazes
contavam episódios de farra muito engraçados. O professor
da Faculdade de Direito citava Rui Barbosa para um sujeitinho
de óculos. Sob a vaia do saxofone: turururu-turururum!
— Meu pai quer fazer um negócio com o seu.
— Ah sim?
Cristo nasceu na Bahia, meu bem...
O sujeitinho de óculos começou a recitar Gustave Le Bon mas
a destra espalmada do catedrático o engasgou. Alegria de
vozes e sons.
... e o baiano criou!
Observe que vários acontecimentos simultâneos podem
ser destacados no texto. Várias cenas de um baile se
entrecortam e interpenetram. A orquestra toca, enquanto
diferentes grupos conversam sobre temas diversos, o
professor recita, o saxofonista toca e canta.
A linguagem também tenta expressar a simultaneidade
em que todos esses acontecimentos transcorrem: entre as
descrições de pequenas cenas, surgem trechos de conversas,
de uma música cantada (em itálico), referências
onomatopeicas ao soar do saxofone enquanto tudo acontece.
As diferentes pequenas cenas, músicas, falar se entrecortam,
Literatura - Profª Waleska Gomide Panosso
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
[...]
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel últimomodelo!
TOME NOTA!
▶ A palavra chave do movimento era “dinamismo” e
procurou reunir visualmente: som, luz e movimento.
▶ Rejeita o moralismo e o passado, exalta a violência e
propõe um novo tipo de beleza, baseado na velocidade.
Algumas obras futuristas
Dinamismo de um ciclista,
Boccioni
Os construtores,
Léger
Voo das andorinhas, G. Balla
O futuro, Giacomo Balla
DADAÍSMO
Não pare de sonhar!
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Fernand
Tendência marcante na Suíça, 1916, o Dadaísmo foi um
movimento cuja característica central era a contestação
radical dos valores e convenções culturais, morais, estéticos,
vigentes no início do século 20. É considerado o mais radical
dos movimentos. Os grupos dadá pautavam suas
manifestações artísticas pelo desejo da ruptura, da liberdade
de criação e, não raro, do choque e do escândalo. Opõem-se
à sociedade materialista, vista como fracassada por promover
a guerra, e propõem ignorar o conhecimento até então
acumulado pela humanidade.
Uma postura nada incomum ao espírito geral das
vanguardas, como se viu até aqui. Mas no caso dadaísta, isso
era levado ao extremo. A começar pelo próprio nome do
movimento. O termo dadá, que o origina, foi encontrado "por
acaso", e não alude, exatamente, a nenhum elemento
específico. É, antes de tudo, uma expressão que remete ao
balbucio dos bebês, um som vocal que não remete a nada.
Ou seja, o termo perfeito para designar um grupo cujos ideais
artísticos passavam por provocar e trabalhar o nonsense,
literalmente, o sem sentido. A expressão não possui nenhuma
correlação lógica com o programa do grupo, daí a subversão,
o aleatório como essência do Dadá.
O poeta Tristan Tzara (1896-1963), autor do Manifesto Dadá,
afirma, nesse documento, que instaura as premissas do
movimento:
Dadá não significa nada. [...] O primeiro pensamento que
volta a essas cabeças é de ordem bacteriológica: encontrar
sua origem etimológica, histórica ou psicológica, pelo
menos. Sabe-se pelos jornais que os negros Krou
denominam a cauda de uma vaca santa: DADÁ. O cubo é a
mãe em uma certa região da Itália: DADÁ. Um cavalo de
madeira, a ama de leite, uma dupla afirmação em russo e
em romeno: DADÁ.
Leia, a seguir, a sugestão de Tristan Tzara para compor um
poema dadá. Ela envolve amplos aspectos.
Receita para fazer um poema Dadaísta
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar
a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que
formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas
do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma
sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do
público.
É importante aqui salientar que na produção desse poema
que devemos estar atentos à concepção dadaísta de obra de
arte: a ruptura total da lógica. Se produzirmos um poema
seguindo esta “receita”, a produção seria com uma sintaxe
possivelmente nada padrão, rompida e sem, portanto, um
sentido linguístico imediato.
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Essa prática seria dadaísta, primeiramente no sentido
irônico, porque mesmo sabendo que
provavelmente o poema resultante não
será pessoal, nem fruto de escolhas
conscientes do autor, diz que o texto "se
parecerá com quem o elaborou". Atribui
ainda o nonsense resultante à
ignorância do vulgo, e não ao processo
que, baseado na aleatoriedade, não
resultará, provavelmente, em um texto
que siga as normas correntes de
Tristan Tzara, um
produção da coerência. Num segundo
dos idealizadores
momento, a prática é paradoxal, uma
do Dadaísmo,
movimento que
vez que ensina a produzir um texto, a
negava o passado,
trabalhar com palavras, prática que,
o presente e o
usualmente, tem como meta primeira
futuro.
produzir um sentido, transmitir uma
mensagem. Se bem sucedida, a receita de Tristan Tzara
promove o exato oposto disso.
A estética dadaísta consagra
como técnica de elaboração de
produtos artísticos o ready-made.
Marcel Duchamp (1887-1968), ao
transformar
qualquer
objeto,
selecionado ao acaso, em obra de
arte, promoveu uma reflexão crítica
Marcel Duchamp. A
sobre o sistema de criação e
fonte. 1917. Readyvaloração da arte de seu período.
made a partir de
Para Duchamp objetos utilitários,
mictório em louça
produtos seriais, sem qualquer
assinado. Obra
frutos
da
original desaparecida peculiaridade,
industrialização e supostamente
sem nenhum valor estético, são retirados de seus contextos
originais e elevados à condição de obra de arte. Para tanto,
basta que sejam alocados a um espaço institucional
reconhecido como artístico, ou, simplesmente, assinados
pelo artista. Essa é, a um só tempo, a receita e a definição do
ready-made. Exemplo clássico desse processo poético é A
fonte, de 1917.
Trata-se de um mictório comum, que Duchamp posiciona
invertido, nomina, assina e expõe entre outras obras de arte,
realizadas por meio de processos, então, "mais
convencionais".
⋆ Na verdade, o urinol de parede, que Duchamp intitulou de
“Fonte” e assinou como sendo de R. Mutt, fabricado pela J.
L. Motta Iron Works Company, nem chegou a ser exibido,
porque foi censurado e a peça original, relegada,
desapareceu.
⋆ Duchamp, a partir de 1940, embora dissesse que o artista
não deve se repetir, mandou fazer várias réplicas desse
urinol para vender a museus, e confeccionou uma caixa
portátil com miniaturas de suas obras para vender também
para museus e colecionadores.
http://www.epochtimes.com.br/um-urinol-de-marcelduchamp-faz-quase-100-anos/#.U7LRT7GFFMw
Não pare de sonhar!
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L.H.O.O.Q., Marcel
Duchamp
Em 1919, ano que se lembrava os
400 anos da morte de Leonardo da
Vinci (1452-1519) que Duchamp
comprou a reprodução barata da
Monalisa na Rue Rivoli e acrescentou
um bigode e um cavanhaque. O
nome da obra, L.H.O.O.Q se
pronunciando letra por letra em
francês (èl ache o o qu) tem a mesma
sonoridade do que a frase Elle a
chaud au cul, que literalmente quer
dizer "Ela tem fogo no rabo". O ready
made L.H.O.O.Q. aponta para as
preocupações na obra de Duchamp
envolvendo
linguagens,
ironia,
trabalho mental e artes plásticas. Só
mesmo os dadaístas...
Observe esta obra de
Raoul Hausmann. Esforçandose para expressar a negação
de todos os valores estéticos e
artísticos
correntes,
os
dadaístas
usam,
com
frequência,
métodos
intencionalmente
incompreensíveis.
Nas
pinturas e esculturas, por
exemplo, aproveitam pedaços
de materiais encontrados
pelas ruas ou objetos jogados
fora.
Algumas obras dadaístas
Roda
de
Duchamp
bicicleta,
Um ruído secreto, Duchamp
TOME NOTA!
▶ Caracteriza-se pelo desejo de destruir as formas de arte
institucionalizadas.
▶ A orientação anarquista e niilista, bem como a falta de
um programa de arte, não permitiu ao movimento longa
duração.
SURREALISMO
Tatlin
em
Hausmann
casa,
Também na literatura modernista essa técnica encontrou
seguidores. Veja um exemplo brasileiro.
Escrito no início do século 20, esse poema Os selvagens,
assinado por Oswald de Andrade, integra o capítulo Pero Vaz
de Caminha, de seu livro Pau Brasil. No entanto, esses versos
nada mais são do que um recorte da carta do próprio Pero
Vaz enviada a Portugal por ocasião do Descobrimento do
Brasil.
Observe as semelhanças e diferenças mais significativas
entre o processo de elaboração de A fonte, de Marcel de
Duchamp, e o poema "Os selvagens", de Oswald de Andrade.
Ambos são ready-made, que se valem, para serem
elaborados, da nova significação de elementos culturais,
artísticos, ou não, previamente existentes.
Os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados.
ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira. p. 18.
Literatura - Profª Waleska Gomide Panosso
O movimento surrealista
procura, como afirma André
Breton (1896-1966), em seu
Manifesto do Surrealismo, de
1924, "resolver a contradição até
agora vigente entre sonho e
realidade pela criação de uma
realidade
absoluta,
uma
suprarrealidade". Essa busca é
uma
contrapartida
à O som do amor, Chirico
racionalidade
extrema
privilegiada pelo conhecimento e pela arte nos fins do século
19. O século 20 se abre para a sondagem psicológica, ao
mundo onírico, ao irracional, ao inconsciente e passa a
valorizar essa esfera irracional. A psicanálise e a obra de
Sigmund Freud (1856-1939) passam a ser amplamente
abordadas por artistas.
A Primeira Grande Guerra era o estandarte da destruição
humana por meio da técnica, para alguns. Notavelmente, o
era aos olhos dos surrealistas. Fazia-se então necessário
voltar o ser humano a suas raízes sonhadoras, negando
processos criativos regrados e racionais. Na literatura,
aparece a técnica da escrita automática. O automatismo dita
que o autor, ao elaborar uma obra, não precisa e não deve
usar a razão. A boa composição, de acordo com essa
perspectiva poética e estética, advém do fluxo de imagens e
palavras que brotam do inconsciente do artista.
O primeiro livro com essa característica foi Os campos
magnéticos, de André Breton, produzido em 1921. Nas artes
visuais, Salvador Dalí estabeleceu relações aparentemente
sem nenhum nexo lógico entre objetos e seres. É essa
justaposição de objetos desconexos e as associações à
primeira vista imprevisíveis que se destacam nas artes
surrealistas.
Não pare de sonhar!
Página 6
Os principais expoentes
desse grupo foram Salvador
Dalí, René Magritte e Joan
Miró. No Brasil: algumas
obras de Tarsila do Amaral.
Temas
comuns:
inconsciente,
ilogismo,
Salvador Dalí, A persistência
absurdo,
imagens
da memória
surpreendentes, sonhos, etc.
Na literatura, o movimento valoriza um procedimento
chamado
escrita
automática,
que
consiste
no
extravasamento dos impulsos
criadores do subconsciente, sem
nenhum controle da razão ou do
pensamento. Outras características
surrealistas que encontramos na
produção literária estão ligadas ao
ilogismo, ao absurdo, às imagens
surpreendentes e à atmosfera
onírica (relativo ao sonho), como
muito bem ficam exemplificadas no seguinte poema de
Murilo Mendes:
Pré-história
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Caiu no álbum de retratos.
No Manifesto do Surrealismo, André Breton ensina como
usar o automatismo para fazer emergir o inconsciente.
[...] Mandem trazer algo com que escrever, depois de se
haverem estabelecido em um lugar tão favorável quanto
possível à concentração do espírito sobre si mesmo. Ponhamse no estado mais passivo, ou receptivo que puderem. Façam
abstração de seus gênios, de seus talentos e dos de todos os
outros. Digam a si mesmos que a literatura é um dos: mais
tristes caminhos que levam a tudo. Escrevam depressa, sem
um assunto preconcebido, bastante depressa para não
conterem e não serem tentados a reler. A primeira frase virá
sozinha, tanto é verdade que a cada segundo é uma frase
estrangeira ou estranha a nosso pensamento consciente que
só pede para se exteriorizar.[...]
O resultado desse processo é sempre um texto em
que as relações lógicas não servem de apoio para o leitor,
porque as imagens criadas não encontram equivalente no
mundo conhecido. Privado das bases racionais de análise,
não resta ao leitor outra saída a não ser entregar-se ao
universo do sonho proposto pelo texto.
TOME NOTA!
▶ Há traços dessa vanguarda em algumas obras de Tarsila do
Amaral, como na tela Abaporu.
▶ Influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud,
enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa.
Literatura - Profª Waleska Gomide Panosso
▶ Defende que a arte deve libertar-se das exigências da lógica
e expressar o inconsciente e os sonhos.
Algumas obras surrealistas
Orfeu trovador cansado,
Chirico
Os amantes, René Magritte
O sono e A tentação de santo Antônio, Dalí
EXPRESSIONISMO
Como o próprio nome
sugere,
essa
corrente
valorizava, acima de tudo, a
expressão do mundo interior do
artista, Nesse sentido, a arte
partia da subjetividade do
indivíduo para o exterior. A
razão é objeto de descrédito.
Não há preocupação com o
belo ou feio. A realidade é
horrível,
necessidade
de
O grito. 1893. Museu deformá-la. Torna-se forma de
Nacional de Oslo. Essa contestação.
tela de Edvard Munch
O Expressionismo nasceu na
transformou-se, em pouco Alemanha, contrapondo-se ao
tempo, em um verdadeiro Impressionismo francês.
marco para as artes Os impressionistas viam as
plásticas
e, artes visuais como uma
principalmente, para o manifestação que deveria se
processo
de
ruptura valer da captação de imagens
artística do início do sensoriais imediatas.
Os
século 20.
expressionistas,
em
contrapartida, afirmavam que a arte, seja visual, seja literária
ou cinematográfica, deveria emanar do artista para a
realidade, ser basicamente fruto de sua expressão, sem
filtros. Desse modo, o movimento expressionista
caracterizou-se pelo uso de cores fortes, pinceladas vigorosas
e formas distorcidas.
O movimento, de grande representatividade na
Alemanha, ocorreu também na França, onde recebeu o nome
de Fauvismo.
Não pare de sonhar!
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Edvard Munch (1863-1944), pintor norueguês, é uma das
maiores referências do movimento expressionista. Seu
quadro, O grito (1893), consagrou-se por conseguir expressar
um novo e contundente modo de observar a realidade, as
sensações de angústia, dor e desespero, vivenciadas por boa
parte dos indivíduos que viviam a transição do século 19 para
o 20.
Observe o desespero do personagem retratado por
Munch. Qual seriam as razões desse desespero? Elas estariam
vinculadas ao momento histórico e cultural vivido pelo pintor?
É importante ressaltar a opressão que o indivíduo diante das
alterações do mundo à época de Munch. O clima que
antecedia a Primeira Guerra Mundial, as mudanças sociais e
econômicas que já se faziam sentir na Europa, o crescimento
das cidades, a mecanização crescente, o ritmo moderno que
se impunha e quebrava com modelos e expectativas de vida
mais pacatos e estáveis à época são elementos que podem
ser discutidos ao se observar esta obra de arte.
Na literatura, o expressionismo apresenta linguagem
fragmentada, frases nominais, despreocupação com rimas ou
estrofes, combate à fome, à inércia do mundo burguês.
Leia um fragmento do poema expressionista “O meu
tempo”, do poeta alemão Wilhelm Klemm:
Tome nota!
▶ Pela deformação ou exagero das figuras, buscava a
expressão dos sentimentos e emoções do autor.
▶ Anita Malfatti e Lasar Segall criaram muitas obras dentro
das características dessa vanguarda.
▶ Preocupavam-se mais com as emoções do observador do
que com a realidade externa.
▶ Não se importaram com as noções de belo ou feio.
▶ Caracteriza a arte criada sob o impacto do sofrimento
humano.
Durante e depois da Primeira Guerra, assumiu um caráter
mais social e combativo, denunciando os horrores da guerra,
as condições de vida desumanas das populações carentes,
etc.
Anotações importantes!
Cantos e metrópoles, lavinas febris,
terras descoradas, polos sem glória,
Miséria, heróis e mulheres da escória,
Sobrolhos espectrais, tumulto em carris.
Soam ventoinhas em nuvens perdidas.
Os livros são bruxas. Povos desconexos.
A alma reduz-se a mínimos complexos.
A arte está morta. As horas reduzidas.
Artistas importantes: Edvard Munch. No Brasil: Lasar
Segall, Cândido Portinari e Anita Malfatti.
Algumas obras surrealistas
O último dia, Edvard Munch
Enterro na rede, Cândido
Portinari
Pogrom, Lasar Segall
O homem amarelo, Anita
Malfatti
Literatura - Profª Waleska Gomide Panosso
Não pare de sonhar!
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