Intoxicação por carne de baiacu possui alta taxa de mortalidade

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Intoxicação por carne de baiacu possui alta taxa de mortalidade
Saúde
© Beth Swanson
Saúde
Intoxicação por
carne de baiacu
possui alta taxa
de mortalidade
Há casos no
Brasil e em
países como
Taiwan, China
e Japão
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UnespCiência
O
baiacu ou peixe-bola (pufferfish, boxfish) é um peixe ósseo de distribuição
cosmopolita. Existem cerca de 120 espécies e
a maioria delas é encontrada em regiões tropicais e subtropicais, incluindo espécies fluviais. Quando ameaçados por predadores, estes
peixes podem ingerir água ou ar e aumentar o
volume corporal, tomando formato esférico, o
que dificulta a ação de peixes maiores.
Adicionalmente, são considerados animais
venenosos devido ao fato de poderem armazenar tetrodotoxina (Ttx) e outras neurotoxinas.
A Ttx é toxina letal provavelmente sintetizada
pelas bactérias contidas nos alimentos ingeridos pelos peixes.
“Ela é acumulada e utilizada como arma
de defesa”, explica Vidal Haddad Junior, professor do Departamento de Dermatologia da
Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, e autor de diversos trabalhos científicos
sobre o tema.
“Mais do que relatar casos ou fazer discussões acadêmicas, as pesquisas têm por finalidade mostrar que não é só no Japão que pes-
soas morrem por comer carne de peixes-bola.
Um alerta sobre o tema pode elevar o nível de
informação no país e mostrar que não apenas
pescadores se intoxicam, ocorrendo casos em
vítimas que compram o peixe em mercados”,
diz o professor.
De fato, apesar da toxidade, algumas espécies de peixes-bola são consideradas uma
iguaria. No Japão, por exemplo, o fugu, nome
popular do peixe, é um prato caro e preparado
por cozinheiros treinados e licenciados. Apesar
dos cuidados na preparação, envenenamentos
fatais por fugu são comuns no Japão, ocorrendo cerca de 50 mortes anualmente. A ingestão de carne de baiacu pode ser acidental ou
intencional (tentativa de suicídio).
A intoxicação por baiacus possui alta taxa de
mortalidade. Intoxicações por baiacus são mais
comuns no Sudeste Asiático, Taiwan, China
e Japão, mas também há relatos de casos nos
EUA e na Austrália. No Brasil, onde existem
poucos estudos clínicos sobre os envenenamentos e traumas causados por animais aquáticos,
os baiacus-lisos da família Tetrodontidae são
os mais consumidos.
TOXINA
A tetrodotoxina é encontrada nas vísceras
(especialmente gônadas, fígado e baço) e na
pele do peixe. É uma toxina termo-estável,
que não sofre ação de cocção, lavagem ou
congelamento. O nível da toxina é sazonal, e
as maiores concentrações são encontradas nas
fêmeas no pico da época reprodutiva, fazendo
com que a ingestão dos peixes seja mais perigosa no momento anterior e durante o período
reprodutivo.
A toxina age bloqueando o lócus extracelular
dos receptores de sódio voltagem dependente,
impedindo a despolarização e a propagação do
potencial de ação nas células nervosas. Esta
ação ocorre nos nervos periféricos motores,
sensoriais e autonômicos. A toxina tem ainda
ação depressora no centro respiratório e vasomotor do tronco encefálico. A morte pode
ocorrer devido a paralisia muscular, depressão
respiratória e falência circulatória.
ASPECTOS CLÍNICOS
Os sintomas geralmente se iniciam dentro de 6
horas, mas em alguns pacientes podem demorar
até 20 horas para se manifestarem. Parestesias
periorais, fraqueza da musculatura facial e extremidades, dor abdominal, sialorreia, náuseas, vômitos e diarreia surgem precocemente.
Os pacientes podem apresentar disfunção
motora com fraqueza muscular, hipoventilação
e disartria. Um quadro de paralisia ascendente
ocorre de 4 a 24 horas e paralisia nas extremidades é seguida por paralisia nos músculos
respiratórios. “Existem textos que relacionam o
efeito paralisante da Ttx com o mito dos zumbis e do vodu no Haiti”, diz Haddad.
Tardiamente há disfunção cardíaca e no
Trabalhos científicos
do professor Vidal
Um alerta sobre o tema pode elevar o nível
de informação e mostrar que não apenas
pescadores se intoxicam, ocorrendo casos em
pessoas que compram o peixe em mercados
Sistema Nervoso Central, com hipotensão
arterial e arritmias, coma e convulsões. Bradicardia refratária a tratamento, bloqueio do
nodo átrio-ventricular e bloqueios de ramo
podem ser fatais.
Pacientes com intoxicações graves podem
apresentar coma profundo, pupilas fixas e não
reativas, apneia e ausência de reflexos do tronco encefálico. Os acidentados que sobrevivem
à fase aguda da intoxicação (primeiras 24h),
geralmente se recuperam sem sequelas, mas a
melhora definitiva pode levar dias para ocorrer.
O diagnóstico é baseado na história clínica e
no relato de consumo alimentar.
TRATAMENTO
Não há antídoto para a Ttx e o tratamento é
voltado aos sinais e sintomas manifestados.
Medidas de desintoxicação como lavagem
gástrica e carvão ativado podem ser úteis em
fases iniciais. Em casos graves, deve-se utilizar a ventilação mecânica e medicações ionotrópicas.
Contatos com o
docente: haddadjr@
fmb.unesp.br
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