estudo do caso clínico
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Clinical Case Study Estudo do Caso Clínico Unusual Serum Electrophoresis Pattern in a Woman with Pancreatic Carcinoma Joris R. Delanghe1,a, Marc L. De Buyzere1, Veerle Casneuf2 and Marc Peeters2 Padrão Incomum d Eletroforese Sérica em uma Mulher com Carcinoma Pancreático Joris R. Delanghe1,a, Marc L. De Buyzere1, Veerle Casneuf2 and Marc Peeters2 Departments of1 Clinical Chemistry and 2 Gastroenterology, University Hospital Ghent, Ghent, Belgium. Envie correspondênica para esse autor para: Department of Clinical Chemistry, University Hospital Ghent, De Pintelaan 185 (2P8), B-9000 Gent, Belgium. Fax +32-9-332-4985; e-mail [email protected]. DESCRIÇÃO DO CASO Uma mulher de 51 anos se apresentou com direta grave icterícia progressiva associada com µmol/L). As enzimas citosólicas do fígado, avançado carcinoma pancreático inoparável. alanina aminotransferase (115 U/L) e asparta- Biópsia do fígado revelou metástase de um to aminotransferase (143 U/L) estavam mode- adenocarcinoma moderadamente diferencia- radamente aumentadas. A concentração de do, possivelmente de origem proteína sérica era 68 g/L (intervalo de refe- pancreática. (215 µmol/L, valor de referência <4 Estudos de imagem não mostraram qualquer rência tumor primário no pâncreas mas revelaram uma profunda trombose na veia da extremi- das proteínas séricas (CAPILLARYS 2, Sebia) demonstrou uma baixa fração de albumina dade inferior esquerda e um embolismo pul- juntamente com um acentuado pico adicional monar. Exames dos ossos revelaram metásta- observado entre as regiões β e ses. A paciente começou o tratamento com sultados de imunofixação com anticorpos quimioterapia (gencitabina), radioterapia para contra as cadeias pesadas G, M, e A e as ca- aliviar a dor, e colocação de um stent transhepático percutâneo no sistema biliar direito por deias leves e foram negativos, indicando que essa fração eletroforética adicional não causa da icterícia progressiva. indicou a presença de uma paraproteína. Investigação bioquímica de rotina do soro da paciente revelou bilirrubina total aumentada (275 µmol/L, valor de referência <22 µmol/L), que consistia principalmente de bilirrubina 60–85 g/L), mas eletroforese capilar (Fig. 1). Re- Eletroforese em de gel agarose confirmou o padrão anormal, eliminando a interferência analítica causada por absorbância ultravioleta atípica. Figura 1. Eletroforese Capilar do soro da paciente. A seta aponta para uma acentuada fração adicional presente entre a zona β e . Absorbância é expressa como absorção ultravioleta em 200 nm, o comprimento de onda usado para quantificar as proteínas na eletroforese capilar. Clinical Case Study Estudo do Caso Clínico absorbance – absorbância electrophoretic mobility – mobilidade eletroforética albumin -albumina DISCUSSÃO Paraproteínas são a causa mais comum de da amosrtra pelo uso da eletroforese em gel padrões anormais em resultados de análise corado. eletroforética de proteínas do plasma. Entretanto, padrões anormais da eletroforese da Análises adicionais proteína sérica podem também indicar a presença de proteínas transitórias do plasma se originando de tecidos assim como de substâncias interferentes de não proteínas, agentes de contraste mais comumente iodados e antibióticos mostrando absorção ultravioleta em 200 nm, o comprimento de onda usado Teste de eletroquimioluminescência (Modular E, Roche) do soro da paciente revelou uma concentração excepcionalmente alta do marcador de tumor mucina CA 19–9 (2.2 x 106 kU/L, valor de referência <37 kU/L). A concentração sérica do antígeno carcinoembriônico também estava aumentada (423 µg/L, valor para quantificar as proteínas na eletroforese de referência <3 µg/L). capilar (1). A presença de paraproteínas pode Para analisar mais as mucinas nós usamos ser excluída pelo uso de imunofixação ou imunoeletroforese. A presença de interferências de drogas pode ser excluída por reanálise cromatografia de alta pressão de permeação do gel realizada pelo uso de um avançado sistema de purificação de proteínas da Waters 650E. Nós usamos o classificador automático Clinical Case Study Estudo do Caso Clínico Wisp 712 para injetar 25 µL de soro, e nós molecular fortemente glicosadas (3). A estru- realizamos separações cromatográficas em uma coluna Protein PAK 300 SW de 80 x 300 tura da coluna vertebral da apomucina tipica- mm (Waters Nihon Millipore). As frações obti- Ser/Thr/Prorich contendo séries repetidas de das foram analisadas para CA 19–9, e essa tiras de aminoácidos que constituem poten- análise mostrou que a eluição da fração CA ciais locais de glicosagem O (4). Mucinas são 19–9 refletiu o volume nulo da coluna, um re- sintetizadas ou como glicoproteínas secreta- sultado correspondente a massa molecular de das ou ligadas à membrana. Essas moléculas >1000 kDa. Eletroforese da fração CA 19–9 são amplamente sintetizadas e expressas por isolada confirmou que a mobilidade da glico- células epiteliais dos tratos gastrointestinal, proteína estava na região β- . respiratório, e genitourinário (4). Nas células o O soro da paciente mostrou pronunciados aumentos nas enzimas ligadas à membrana do fígado fosfatase alcalina (1002 U/L,intervalo de referência 30–120 U/L) e glutamiltransferase (1153 U/L, intervalo de mente revela a presença de regiões aumento nas concentrações cAMP aumenta a síntese e liberação do antígeno de carbohidrato 19–9. cAMP está envolvido na expressão de antígeno sialyl Lewis(a) associado a glicoproteína nas células LS174T (5). referência 9–36 U/L). A distribuição da massa A aumentada exposição de epítopos de peptí- molecular da glutamiltransferase e níveis das deos das glicoproteínas da mucina no câncer atividades da fosfatase alcalina (determinados biliopancreático é devido a anormal glicosa- pelo uso de cromatografia por permeação em gem e/ou níveis alterados de transcrição dos gel) também mostraram um caráter macromo- genes da mucina (3). A dosagem do gene Le- lecular: 75.5% de glutamiltransferase sérica e wis [fucosiltransferase 3 (galactosidase 3(4)- 20.5% de atividade da fosfatase alcalina foram L-fucosiltransferase, grupo sanguíneo de Le- atribuiídas a um complexo macromolecular, wis )] aumenta a quantidade de CA 19–9, ao sugerindo que vesículas da membrana esta- passo que a dosagem dos genes secretores a vam presentes no soro (2). Depois que a diminui (6). CA 19–9 I é o marcador de tumor amostra sérica tinha sido extraída com 1- padrão para câncer pancreático (7). Concen- butanol, a fração macromolecular das enzimas trações aumentadas de CA 19–9 também são ligadas à membrana desapareceu. Em con- encontradas em outros cânceres, em pancrea- traste, a distribuição da massa molecular da tite crônica, e em condições gastrointestinais mucina CA 19–9 não se modificou após extra- benignas (7). A maioria das células de tumo- ção do 1-butanol, um achado que argumenta res em carcinomas gastrointestinais, incluin- contra a hipótese de que a aparente alta mas- do adenocarcinomas do estômago, intestino, sa molecular da mucina fosse atribuída a li- e pâncreas, são fortemente positivos para CA gação do lipídeo. 19–9 (8). Na paciente que nós descrevemos o câncer foi acompanhado por colestase. Con- ca 19–9 O CA 19-9 anticorpo monoclonal 1116 NS 19– 9 (usado no teste ) reage com pentassacarídeo sialilado Lea-ativo (lacto n fucopentose II sialilada), que é enzimaticamente sintetizado por sialilação das cadeias de carbohidratos do tipo 1. CA 19–9 contém estruturas oligossacarídeas presentes em mucinas de alta massa trovérsia existe com relação ao papel da colestase como um mecanismo fisiopatológico que afeta as concentrações séricas do CA 19– 9 (7). Pouco é conhecido sobre a heterogeneidade molecular do CA 19–9. No adenocarcinoma de cólon e membranas de plasma de células esse Clinical Case Study Estudo do Caso Clínico antígeno é expresso em várias glicoproteínas cadora da mucina pode afetar o padrão da com massas moleculares variando de tamanho eletroforese sérica. Visto que 1 U do antígeno de ±100 kDa até >200 kDa. No meio de cul- CA19.9 corresponde a aproximadamente 0.8 tura e citosol o epítopo é carregado por uma ng da glicoproteína (10), nós estimamos que única glicoproteína complexa que tem um pe- o soro da paciente continha aproximadamente so molecular muito alto e se parece com a 1.6 g/L de mucinas CA 19–9, correspondendo mucina (5). Formas de massas moleculares a 2.5% da proteína total do soro da paciente, altas de CA 19–9 foram reportadas no soro é a proteína total do soro, que pode ser de- de pacientes com tumores pancreáticos (9). tectada pelo uso da eletroforese padrão. Resolução do caso A paciente mostrou uma resposta bioquímica Depois que nós excluímos a possibilidade de e radiológica parcial ao tratamento (diminuição do soro CA 19–9 de 2.2 x 106 para 5.5 x que o padrão incomum da eletroforese sérica era devido a presença de paraproteínas ou a efeitos analíticos atribuídos a absorção ultravioleta, nós achamos que esse caso ilustra que liberação excessiva de uma proteína mar- 104 kU/L). A diminuição do CA 19–9 correspondeu a uma diminuição na fração eletroforética migrando entre a região β e . A paciente morreu 13 dias após ter dado entrada. PONTOS PARA SEREM LEMBRADOS Interferência de drogas, paraproteínas, e proteínas teciduais podem causar frações adidionais na eletroforese da proteína sérica. Em casos extremos, marcadores de tumores tal como CA 19–9 podem ser tão abundantes no soro ou plasma que eles podem se tornar visíveis como uma fração adicional na eletroforese da proteína sérica. Em tais casos extremos, o laboratório deve ser pró-ativo em investigar mais os resultados inesperados e deve se comunicar adequadamente com a equipe clínica. Primeiro, a presença de paraproteínas deve ser eliminada por imunoeletroforese ou imunofixação. Se eletroforese capilar foi usada, então substâncias interferentes que afetam a absorbância ultravioleta devem ser investigadas (realizando-se eletroforese padrão de gel em paralelo). Investigações imunoquímicas adicionais e caracterizações bioquímicas também podem ser úteis. Agradecimentos Subvenção/Apoio Financeiro: Nada a declarar. Demonstrações Financeiras: Nada a declarar. Referências 1. Bossuyt X. Interferences in clinical capillary zone electrophoresis of serum proteins. Electrophoresis 2004;25:1485-1487. 2. De Broe ME, Roels F, Nouwen EJ, Claeys L, Wieme RJ.. Liver plasma membrane: the source of high molecular weight alkaline phosphatase in human serum. Hepatology 1985;5:118-128. Clinical Case Study Estudo do Caso Clínico 3. Kim YS, Gum JR, Jr, Crawley SC, Deng G, Ho JJ. Mucin gene and antigen expression in biliopancreatic carcinogenesis. Ann Oncol 1999;10:51-55. 4. Moniaux N, Escande F, Porchet N, Aubert JP, Batra SK.. Structural organization and classification of the human mucin genes. Front Biosci 2001;6:D1192-1206. 5. Terracciano D, Mariano A, Macchia V, Di Carlo A.. Analysis of glycoproteins in human colon cancers, normal tissues and in human colon carcinoma cells reactive with monoclonal antibody NCL19–9. Oncol Rep 2005;14:719-722. 6. Goggins MG.. The molecular diagnosis of pancreatic cancer. Von Hoff DD Evans DB Hruban RH eds. Pancreatic Cancer 1st ed. 2005:251-264 Jones and Bartlett Publishers Sudbury. 7. Eskelinen M, Haglund U. Developments in serologic detection of human pancreatic adenocarcinoma. Scand J Gastroenterol 1999;34:833-844. 8. Ringel J, Löhr M.. The MUC gene family: their role in diagnosis and early detection of pancreatic cancer. Mol Cancer 2003;2:9. 9. Wu JT, Chang J. Chromatographic characterization of CA 19–9 molecules from cystic fibrosis and pancreatic carcinoma. J Clin Lab Anal 1992;6:209-215. 10. Del Villano BC, Brennan S, Brock P, Bucher C, Liu V, McClure M, et al. Radioimmunometric assay for a monoclonal antibody-defined tumor marker, CA 19–9. Clin Chem 1983;29:549-552 Comentário Jerry A. Katzmann Department of Laboratory Medicine and Pathology, Mayo Clinic, Rochester, MN. Envie correspondência para o autor para: Department of Laboratory Medicine and Pathology, Hilton 920, Mayo Clinic, Rochester, MN 55905. Fax 507-266-4088; e-mail [email protected]. Os achados anormais da eletroforese da proteína sérica nessa paciente não tiveram impacto em sua infeliz morte rápida, e a identificação correta (ou incorreta) da fração anormal não impactou o tratamento. A detecção dessa anormalidade eletroforética, entretanto, reforça a necessidade de interpretação cautelosa dos padrões da eletroforese da proteína sérica e da urina. Vários padrões "clássicos" da eletroforese sérica requerem testes confirmatórios adicionais para diagnóstico. Ausência de uma banda - 1, por exemplo, sugere doença de deficiência de A1AT; elevação policlonal da fração sugere doença autoimune, infecciosa, ou de figado; albumina diminuída e frações -2 aumentadas sugerem doença nefrótica; e uma banda discreta adicional sugere gamopatia monoclonal. O diagnóstico de gamopatia monoclonal é usualmente confirmado por imunofixação eletroforética. As anormalidades eletroforéticas mais comuns do soro que são detectadas em géis de agarose e são confundidas com gamopatias monoclonais são o fibrinogênio (devido à incompleta coagulação do sangue) e a hemoglobina (devido a hemólise). Os sistemas de detecção ultravioleta usados na eletroforese capilar possuem interferências adicionais que devem ser reconhecidas (por exemplo, agentes de imagens radioopacas assim como alguns antibióticos). Observações diagnósticas iniciais de bandas eletroforéticas anormais devem portanto ser confirmadas por imunotipagem de isótopo de cadeias leve e pesada. Anormalidades eletroforéticas da proteína sérica que sejam proteínas monoclonais podem representar doença significativa e devem ser perseguidas para definir a específica doença proliferativa do plasma que está levando à secreção da imunoglobulina monoclonal. Além Clinical Case Study Estudo do Caso Clínico disso, anormalidades, tal como nesse caso, no devem ser ignoradas e podem fornecer pistas qual não existe gamopatia monoclonal não para a doença. Agradecimentos Subvenção/Apoio Financeiro: National Cancer Institute CA 107476 and CA 62242. Demonstrações Financeiras: Nada a declarar. Comentário Jim D. Faix Department of Pathology, Stanford University School of Medicine, Stanford, CA. Envie correspondência para o autor para: Stanford Clinical Lab at Hillview, 3375 Hillview Av enue, MC:5627, Palo Alto, CA 94304-1204. Fax 650-736-8686; e-mail [email protected]. A presença da imunoglobulina monoclonal noglobulinas podem se mascarar como ban- sérica indica proliferação clonal anormal de das anormais. células do plasma ou de linfócitos. Embora esse achado possa ser um marcador de mieloma múltiplo ou linfoma, ele é frequentemente visto na ausência de quaisquer sinais ou sintomas clínicos, especialmente em pacientes idosos. Nesses casos a presença da imunoglobulina monoclonal sérica é usualmente considerada uma benigna gamopatia monoclonal, mas esse diagnóstico foi renomeado "gamopatia monoclonal de significância indeterminada " porque acompanhamento a longo prazo nesses pacientes tem mostrado um alto risco (aproximadamente 25%) de desenvolvimento de mieloma ou linfoma. O modo tradicional de se detectar imunoglobulina monoclonal sérica tem sido a eletroforese da proteína seguida de inspeção visual (procurando por uma banda anormal). Esse procedimento tem sido automatizado e é agora também realizado por eletroforese capilar para teste de alto rendimento. Não importa como a banda anormal seja visualizada, sua identidade como uma imunoglobulina monoclonal deve ser confirmada pelo uso de anticorpos específicos para cadeias leves e pesadas de imunoglobulinas. Essa confirmação é necessária porque várias proteínas não imu- Fibrinogênio, provavelmente a "pseudo- banda” mais comum, estará presente é claro se a eletroforese da proteína do plasma (em vez do soro) for realizada, mas algum fibrinogênio residual está frequentemente presente em amostras séricas. Outras causas de confusão incluem polimorfismos (tal como bisalbuminemia) e alterações in vitro (tal como degradação do complemento). Proteínas séricas que migram para fora das bandas tradicionais estão usualmente presentes nas concentrações bem abaixo do limite de detecção da rotineira eletroforese da proteína (aproximadamente 1 g/L), mas em alguns pacientes elas alcançam concentrações muito mais altas e podem aparecer como bandas anormais inexplicadas. Essa situação tem sido notada mais frequentemente em pacientes com proteína C reativa aumentada. Os autores desse caso mostraram que marcadores de tumores também podem produzir tal efeito. Embora não esteja exatamente claro porque a eletroforese das proteínas séricas foi realizada nesse caso, os laboratoristas que reexaminarem esses procedimentos podem querer acrescentar elevados marcadores de tumores à lista de coisas que possam imitar uma imunoglobulina monoclonal. Clinical Case Study Estudo do Caso Clínico Agradecimentos Subvenção/Apoio Financeiro: Nada a declarar. Demonstrações Financeiras: Nada a declarar. “This article has been translated with the permission of AACC. AACC is not responsible for the accuracy of the translation. The views presented are those of the authors and not necessarily those of the AACC or the Journal. Reprinted from Clin Chem, 2007; 54: 9 1572-1574, by permission of AACC. Original copyright © 2008 American Association for Clinical Chemistry, Inc. When citing this article, please refer to the original English publication source in the journal, Clinical Chemistry.” “Este artigo foi traduzido com a permissão da AACC. AACC não é responsável pela acurácia da tradução. Os pontos de vista apresentados são aqueles dos autores e não necessariamente os da AACC ou do Jornal. Reimpresso da ClinChem, 2007; 54: 9 1572-1574, por permissão da AACC. Cópia original © 2008 American Association for Clinical Chemistry, Inc. Quando citar este artigo, por favor refira-se à fonte de publicação original em inglês na revista,Clinical Chemistry.”
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