Constituição do Marco Regulatório Para o Mercado Brasileiro de
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Constituição do Marco Regulatório Para o Mercado Brasileiro de
Constituição do Marco Regulatório Para o Mercado Brasileiro de Aviação Regional Alessandro V. M. Oliveira4 Lucia Helena Salgado e Silva♣ Abril de 2008 NECTAR – Núcleo de Estudos Em Competição e Regulação do Transporte Aéreo. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Email: [email protected]. Webpage: http://www.nectar.ita.br. 4 ♣ IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Email: [email protected]. 2 Índice Sumário Executivo ..................................................................................................... 8 Capítulo I - Estágio Atual da Regulação, Diagnóstico da Cobertura Aérea e Demarcação de Mercados Aéreos Regionais I.1 A Importância da Aviação Regional para o País ............................................ 14 I.2 O Estágio Atual da Regulação do Transporte Aéreo no Brasil ..................... 15 I.3 Diagnóstico da Cobertura Aérea Aviação Regular no Brasil ........................ 17 I.4 Identificação e Demarcação do Mercado de Linhas Regionais...................... 32 I.4.1 Princípios Econômicos Norteadores de uma Demarcação de Mercados ..... 34 I.4.2 A Demarcação dos Mercados na Prática ..................................................... 43 I.4.2.1 Demarcação com Base na Companhia Aérea ......................................... 45 I.4.2.2 Demarcação com Base na Aeronave ...................................................... 47 I.4.2.3 Demarcação com Base nos Aeroportos .................................................. 48 I.4.2.4 Demarcação com Base na Ligação Aérea .............................................. 49 I.4.2.5 Mercado de Linhas Essenciais (MLE) ................................................... 52 I.5 Estudo de Identificação e Quantificação do MLR no Brasil .......................... 54 I.5.1 Procedimentos de Demarcação ..................................................................... 54 I.5.2 Exemplos Identificação de Mercados na Prática .......................................... 59 I.5.3 Resultados do Processo de Demarcação: Quantificação do MLR ............... 64 3 Capítulo II - Estudo da Demanda Potencial e Identificação de Oportunidades para a Aviação Regional Brasileira II.1. Estudo da Demanda por Transporte Aéreo a partir de um Modelo de Escolha das Microrregiões do IBGE ...................................................................... 71 II.1.1 Modelagem dos Determinantes da Presença da Aviação Regular .............. 72 II.1.2 Análise das Elasticidades do Modelo de Escolha ........................................ 76 II.2 Estudo dos Estágios da Indução de Demanda de Destinos Indutores e Roteiros Turísticos Brasileiros ............................................................................... 79 II.2.1 Os Estágios dos Potenciais de Indução de Demanda .................................. 79 II.2.2 Classificação de Microrregiões, Destinos Indutores e Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Geração de Demanda ................................................... 84 Capítulo III - A Competitividade das Operadoras e a Necessidade de Fomento ao Investimento em Infra-Estrutura no Mercado de Linhas Regionais III.1 Características da Aviação Regional: Motivações para o desenho de mecanismos regulatórios específicos para o setor ................................................. 99 III.1.1 Transporte Aéreo Regional em Perspectiva Histórica ............................. 100 III.1.2 Planejamento de Linhas Aéreas Regulares .............................................. 103 III.1.3 Perfil Geral das Empresas Aéreas Regionais........................................... 108 4 III.2 Estudo dos Fatores Associados à Competitividade da Aviação Regional 112 III.2.1 Presença de Barreiras Estruturais à Entrada .......................................... 116 III.2.2 Adicional Tarifário – descontinuidade do recolhimento .......................... 117 III.2.3 Querosene de Aviação (QAV) – alto custo ............................................... 119 III.2.4 Condutas anticompetitivas no transporte aéreo ....................................... 124 III.2.5 Acesso a Crédito ....................................................................................... 126 III.2.6 Desempenho recente do Setor................................................................... 127 III.2.7 Os Gargalos de Infra-estrutura ................................................................ 133 III.2.8 A Necessidade de Incentivo às Alianças Estratégicas .............................. 136 Capítulo IV - Proposta de Marco Regulatório Específico para o Mercado de Linhas Regionais IV.1 Falhas de mercado e necessidade de regulação .......................................... 141 IV.2 O Estágio Atual da Regulação do Transporte Aéreo no Brasil ................ 145 IV.2.1 O Atual Marco Regulatório do Transporte Aéreo .................................... 146 IV.2.2 A Política de Flexibilização da Aviação Comercial Brasileira ................ 148 IV.2.3 Legislação em Vigor Sobre a Concessão de Linhas Aéreas ..................... 153 IV.3 Por um Marco Regulatório para o Transporte Aéreo Regional ............... 161 IV.3.1 Pontos para o Desenho de um Marco Regulatório para o Transporte Aéreo Regional ............................................................................................................... 161 IV.3.2 Detalhamento das Propostas de Reformulação da Resolução 2 da ANAC ............................................................................................................................. 170 IV.4 Marco Regulatório: Considerações Finais .................................................. 175 Referências Bibliográficas ..................................................................................... 179 5 Índice de Figuras Figura 1 – Operações Aeroportuárias 1998-2008: Brasil .......................................... 19 Figura 2 – Operações Aeroportuárias 1998-2008: Região Norte .............................. 22 Figura 3 – Operações Aeroportuárias 1998-2008: Região Centro-Oeste .................. 23 Figura 4 – Operações Aeroportuárias 1998-2008: Região Sudeste ........................... 24 Figura 5 – Operações Aeroportuárias 1998-2008: Região Sudeste ........................... 25 Figura 6 – Operações Aeroportuárias 1998-2008: Região Sul .................................. 26 Figura 7 – Aeroportos Operados ................................................................................ 27 Figura 8 – Aeroportos Operados ................................................................................ 28 Figura 9 – Aeroportos Operados ................................................................................ 29 Figura 10 – Microrregiões Cobertas .......................................................................... 30 Figura 11 – Municípios Cobertos .............................................................................. 30 Figura 12 – Pib per Capta das Microrregiões Cobertas ............................................. 31 Figura 13 – Demarcações Possíveis de Mercados Regionais .................................... 44 Figura 14 – Demarcação com Base na Companhia Aérea......................................... 46 Figura 15 - Demarcação com Base na Aeronave ....................................................... 48 Figura 16 – Demarcação com Base nos Aeroportos .................................................. 49 Figura 17 - Demarcação com Base na Ligação Aérea ............................................... 51 Figura 18 – Mercado de Linhas Essenciais ............................................................... 53 Figura 19 – Evolução da Ligação Belém (PA) – Manaus (AM) ............................... 60 Figura 20 – Evolução da Ligação Manaus (AM) – Manicoré (AM) ......................... 61 Figura 21 – Evolução da Ligação Manaus (AM) – Cruzeiro do Sul (AC) ................ 62 Figura 22 – Evolução da Ligação Porto Velho (RO) – Costa Marques (RO) ........... 63 Figura 23 – Etapa Média de Vôo (Quilômetros) ....................................................... 68 Figura 24 – Percentual de Mercados Intra-Regionais ................................................ 68 Figura 25 – Elasticidades Estimadas ......................................................................... 76 Figura 26 – Estágios da Demanda por Vôos Regulares em uma Localidade ............ 80 Figura 27 - Estágios da Demanda por Vôos: Características..................................... 82 Figura 28 - Estágios da Demanda por Vôos Regulares: Elasticidades ...................... 83 Figura 29 – Estágios da Demanda por Vôos Regulares: Exemplos .......................... 83 Figura 30 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Norte ..................................................................................................... 85 Figura 31 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Nordeste ................................................................................................ 87 6 Figura 32 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região C-Oeste ................................................................................................. 90 Figura 33 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Sudeste .................................................................................................. 92 Figura 34 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Sul ......................................................................................................... 94 Figura 35 – Episódios de Entrada no Transporte Aéreo .......................................... 102 Figura 36 - Malha da TRIP no Período Pré-Liberalização (entre 1998-2000) ........ 107 Figura 37 – Malha da TRIP no Período Pós-Liberalização (entre 2006 e 2008)..... 107 Figura 38 - Suplementação Tarifária – Arrecadação e Distribuição ....................... 118 Figura 39 – Distribuição Geográfica do Consumo .................................................. 120 Figura 40 - Refinarias Produtoras de QAv .............................................................. 122 Figura 41 – Evolução do Tráfego das Companhias Aéreas Regionais .................... 128 Figura 42 – Malha Aérea – Número de Cidades Servidas no Território Nacional .. 129 Figura 43 – Evolução das Taxas de Lucratividade Operacional – Companhias Aéreas Regionais ............................................................................................ 130 Figura 44 – Número de Aeronaves por Fabricante – Companhias Aéreas Regionais ............................................................................................................ 131 Índice de Tabelas Tabela 1 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998-2008: Brasil ..................... 20 Tabela 2 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998-2008: Norte ...................... 22 Tabela 3 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998-2008: Centro-Oeste ......... 23 Tabela 4 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998-2008: Nordeste ................ 24 Tabela 5 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998-2008: Sudeste .................. 25 Tabela 6 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998-2008: Sul ......................... 26 Tabela 7 – Check-list: Belém (PA) – Manaus (AM) ................................................. 60 Tabela 8 – Check-list: Ligação Manaus (AM) – Manicoré (AM) ............................. 61 Tabela 9 – Check-list: Manaus (AM) – Cruzeiro do Sul (AC) .................................. 62 Tabela 10 – Check-list: Ligação Porto Velho (RO) – Costa Marques (RO) ............. 63 Tabela 11 – Classificação das Ligações Quanto à Densidade de Tráfego................. 65 Tabela 12 – Demarcação de Mercados ...................................................................... 66 Tabela 13 – Share de Pax e Pkx.Km do Mercado de Linhas Regionais.................... 67 Tabela 14 – Sumário Comparativo das Características de MLT e MLR................... 69 Tabela 15 – Resultados das Estimações .................................................................... 75 7 Tabela 16 – Destinos Indutores de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Norte ......................................................................................... 86 Tabela 17 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Norte ................................................................... 86 Tabela 18 – Destinos Indutores de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Nordeste ................................................................................... 88 Tabela 19 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Nordeste.............................................................. 89 Tabela 20 – Destinos Indutores de Acordo c/ o Estágio de Indução de Demanda: Região C-Oeste ..................................................................................... 91 Tabela 21 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Centro-Oeste ....................................................... 91 Tabela 22 – Destinos Indutores de Acordo c/ o Estágio de Indução de Demanda: Região Sudeste ..................................................................................... 92 Tabela 23 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Sudeste ................................................................ 93 Tabela 24 – Destinos Indutores de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Sul............................................................................................. 95 Tabela 25 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Sul ....................................................................... 95 Tabela 26 – Estágios de Indução de Demanda: Quadro Resumo .............................. 96 Tabela 27 - Fatores influentes no planejamento de linhas e seus aspectos correspondentes .................................................................................. 105 Tabela 28 - Cidades Servidas por Companhias Aéreas Regionais (2005) .............. 110 Tabela 29 – Cobertura Aérea em Termos de Municípios Atendidos ...................... 111 Tabela 30 – Dados Comparativos de Evolução do Tráfego Aéreo.......................... 132 8 Sumário Executivo O presente estudo buscou propiciar uma ampla investigação das características, problemáticas e aspectos econômicos relevantes concernentes ao transporte aéreo regional no Brasil. Lançou-se mão de um conjunto de instrumentos de pesquisa qualitativa e quantitativa, que envolveu uma análise da evolução histórica do setor, estudos da legislação e da regulação do transporte aéreo em vigor e de sua evolução ao longo do tempo, coletas de estatísticas e levantamento de séries históricas, estudos da cobertura do transporte aéreo ao longo do território nacional a partir de abordagem geo-referenciadas, modelagem econométrica de demanda e estudo de potenciais de alavancagem de tráfego aéreo regular, além de uma consulta a um painel de especialistas. Este conjunto de atividades proporcionou escopo e profundidade ao estudo em uma escala inédita para este importante segmento do setor de transporte aéreo brasileiro. A seguir, algumas das conclusões e das considerações finais do trabalho são elencadas. Primeiramente, a partir de uma análise da malha aeroportuária brasileira no período recente, elaborou-se um diagnóstico, um “raio-x” da situação geográfica atual da aviação regular no país, analisando os aspectos de qualidade de cobertura aérea ao longo do território nacional. Foi constatado que o País apresentou visível queda na cobertura aérea no período entre 1998 e 2008, havendo encerramento de operações em aeroportos de todas as regiões do país, e em número superior ao número de operações iniciadas no mesmo período. A região Norte foi a que perdeu mais cobertura, em termos absolutos (-13). Ao todo, foram menos quarenta e quatro aeroportos operados em todo o Brasil (queda de 22%). Apontou-se um aumento da concentração das operações aéreas nos aeroportos grandes e médios, em detrimento dos aeroportos locais. As justificativas para isso foram que, com a liberalização do setor, as empresas passaram a competir de forma mais intensa, e passaram a explorar de forma mais eficiente as operações ao longo de suas malhas aéreas, em detrimento da cobertura ao longo do território nacional. Constatou-se que a queda na cobertura é um indicador de que o transporte aéreo teve seu potencial de alavancagem do desenvolvimento sócio, econômico e turístico comprometido, com potencial perda da 9 geração de encadeamentos e spillovers em termos de desenvolvimento regional, crescimento sustentável do país, etc. Do ponto de vista das políticas públicas, a queda na cobertura aérea do país é preocupante, e, uma vez diagnosticada, deve ser tratada com mecanismos de incentivo à operação regional. Em segundo lugar, efetuou-se uma metodologia de identificação de mercados que permitiu uma clara demarcação da aviação regional brasileira. Com essa proposta metodológica, proporcionou-se o desenvolvimento de um instrumento que permite distinguir os mercados tipicamente operados pelas grandes companhias aéreas domésticas, aqui denominado de Mercado de Linhas Tronco, MLT, de dois importantes tipos de mercados de aviação regional: o Mercado de Linhas Regionais, MLR, e do Mercado de Linhas Essenciais, MLE. O objetivo de uma demarcação de mercados, em situação de plena vigência de um regime de regulação liberal, mais pró-mercado, é o de atender à necessidade de melhor estudar o setor e permitir a sua maior indução – dada a sua importância para o desenvolvimento das localidades e para a integração nacional, como visto anteriormente. Com uma demarcação dos mercados, não se objetiva propiciar um retorno ao regime regulatório estrito, com concessão de monopólios ou controle de entrada ou acesso, mas sim permitir uma maior compreensão do funcionamento do setor para a propositura de políticas públicas, de fomento e para alavancagem dos investimentos privados. Foi, assim, efetuada uma estimativa da magnitude do Mercado de Linhas Regionais (MLR) no Brasil, a partir da metodologia proposta para identificação de mercados. Importante enfatizar que a metodologia proposta, como qualquer outra metodologia que se conceba, é desenvolvida a partir da arbitragem de pontos de cortenão estando isenta de problemas de arbitrariedade no exercício de segregação dos mercados. De qualquer maneira, tem-se que a metodologia proposta apresenta vantagens sobre as propostas de cálculos tradicionais. 10 Em terceiro lugar, promoveu-se um estudo de demanda, com desenvolvimento de modelagem econométrica da presença de transporte aéreo regular no Brasil, tendo como unidade de análise as microrregiões do IBGE. A partir do estudo dos determinantes da presença ou não de vôos regulares nas microrregiões brasileiras, foi possível apontar um conjunto de variáveis explicativas com considerável poder preditivo das potencialidades de atração de vôos regulares pelas localidades brasileiras. Foi também possível identificar as microrregiões com alto e médio potenciais de geração de demanda por transporte aéreo. Por fim, tornou-se viável a extração de uma métrica de sensibilidade às políticas de crescimento das localidades (a elasticidade-PIB), que permite apontar quais microrregiões apresentam maior retorno ao investimento público ou privado que vise fomentar o turismo e o crescimento econômico. Com base nas probabilidades e elasticidades-PIB estimadas, efetuou-se uma classificação de microrregiões, bem como de Destinos Indutores e Roteiros Turísticos do Ministério do Turismo, visando apontar os estágios da indução de demanda por transporte aéreo de cada uma delas. Foram, assim, classificadas as localidades em “Estágio Inicial”, “Estágio de Crescimento” e “Estágio de Maturidade”. Os dois primeiros tipos foram considerados prioritários no sentido da alavancagem do crescimento e do desenvolvimento sustentável do turismo no País. O apontamento de microrregiões de potencial aqui desenvolvido permite um embasamento maior para os caminhos de expansão a serem trilhados por companhias regionais quando da revisão de suas malhas aéreas. Adicionalmente, este exercício de análise quantitativa é fundamental para o subsídio a políticas públicas de fomento e indução do desenvolvimento turístico e para a promoção de investimentos em infraestrutura aeroportuária ao longo do território nacional. Proporciona bases, portanto, para o planejamento de ações de companhias aéreas, ANAC e governo. 11 Em quarto lugar, e com vistas a alavancar uma discussão sobre as especificidades, problemas e necessidades de fomento e de desenho de mecanismos regulatórios específicos para o transporte aéreo regional brasileiro, buscou-se promover um estudo da competitividade do setor. Com esta finalidade, efetuou-se uma survey, com envio de questionário e condução de entrevistas junto a um painel de especialistas e membros representativos do setor de transporte aéreo no Brasil. Foram identificados os seguintes fatores restritivos da competitividade das empresas regionais: ausência de regras claras e estáveis para conferir horizonte a decisões de investimento de longo prazo no setor, baixo poder de barganha por parte das companhias regionais em contratações, compras e encomendas, alto custo e dificuldades logísticas associadas ao querosene de aviação (QAV), existência de condutas anticompetitivas do tipo predatórias por parte das grandes companhias aéreas e dificuldades de acesso a crédito e ao mercado de capitais. Como resultado deste e de outros problemas, o desempenho econômico-financeiro recente do setor foi ruim, não obstante o expressivo crescimento do tráfego e da proporção entre do tráfego de passageiros das companhias regionais sobre o total do mercado, que atingiu mais de 4%. De fato, o crescimento das companhias regionais tem sido expressivo e sempre acima do total do mercado desde 2003, atingindo a excelente marca dos 47,6% em 2005. Esta parte do trabalho permitiu também identificar fatores que configuram vantagens competitivas para as empresas integrantes do MLR, em particular a capacidade de oferecerem serviços a localidades que as empresas integrantes do MLT encontram dificuldades para fazer. Fatores de demanda, que privilegiam a integração de vôos e fatores de oferta, como potenciais eficiências a serem exploradas, com compras conjuntas e facilitação de acesso a financiamentos são outros elementos que apontam para a existência de complementaridades a serem exploradas em parcerias ou outras formas de associação. 12 Em quinto lugar, efetuou-se um apanhado das necessidades de ajuste do atual marco regulatório do transporte aéreo, no sentido de alavancar a competitividade das companhias regionais, bem como de afastar as potenciais falhas de mercado. Assim, levantou-se um conjunto de pontos para o desenho de um marco regulatório para o transporte aéreo regional, sendo que o principal alvo de nossa proposta regulatória é a revisão da Resolução 2, de 3 de julho de 2006 da ANAC, sobre os mecanismos de concessão de slots em aeroportos congestionados. Foram propostas, dentre outras, medidas de desincentivo às condutas predatórias, do tipo hit-and-run (barreiras à saída, com o estabelecimento de vigência mínima de HOTRAN para aeroportos e linhas regionais) e para o incentivo às alianças entre companhias aéreas regionais e principais, no sentido de alavancar o tráfego de alimentação de redes. O conjunto de medidas que formam a proposta de marco regulatório tem o objetivo de viabilizar a compatibilização de interesses públicos, como ampliação do serviço de transporte aéreo, integração territorial e desenvolvimento de localidades regionais com o interesse privado de buscar rentabilidade adequada para o capital investido. As medidas propostas visam alterar, por meio de incentivos regulatórios, o cálculo racional de adoção de estratégias, tornando mais custosas práticas que geram perda de bem-estar e estimulando práticas geradoras de externalidades positivas. Finalmente, uma proposta de regulação econômica deve considerar erros e acertos do passado, evitando substituir a decisão empresarial pela decisão administrativa e buscando criar incentivos à decisão empresarial capaz de elevar o bem-estar da sociedade. 13 Capítulo I Estágio Atual da Regulação, Diagnóstico da Cobertura Aérea e Demarcação de Mercados Aéreos Regionais 14 I.1 A Importância da Aviação Regional para o País O Transporte Aéreo Regional tem um papel fundamental no desenvolvimento econômico de qualquer país ou região. Essa importância é alavancada em países ou blocos continentais, como o Brasil, que depende da integração entre as regiões para garantir um desenvolvimento econômico sustentável e equânime. Dentre os papéis desempenhados pela aviação regional no Brasil, tem-se, em especial, a prestação de serviços a regiões remotas e de fronteira na Amazônia, o desenvolvimento das localidades ao longo do território nacional, a promoção de maior universalização do acesso ao transporte aéreo e o fomento da indústria do turismo. De fato, a aviação regional apresenta importância estratégica para o desenvolvimento de um país, ensejando estudos detalhados que embasem políticas públicas de fomento. Por apresentar um reconhecido efeito multiplicador sobre a atividade econômica, a prestação de serviço aéreo regional proporciona às comunidades atendidas a realização de negócios e serviços e a indução de turismo, contribuindo para o crescimento sustentável das regiões e alavancagem das oportunidades de trabalho e da qualidade de vida. No caso brasileiro, as dimensões continentais do território, com mais de oito milhões de km2 de área territorial e mais de cinco mil municípios, por si só justificam a relevância de se tratar a aviação regional como elemento de elevada importância para a própria integração nacional. Segundo Bettini (2007), deve-se ressaltar também, no que tange ao papel da aviação regional como indutor do desenvolvimento, que a mesma possibilita a “(...) catalisação do processo de desenvolvimento de um país, especialmente ao possibilitar a fixação de populações em regiões interioranas, uma vez que serve de suporte às atividades econômicas que podem ser realizadas nestes locais: um fenômeno recentemente observado é a forma como empresas aéreas regionais acompanharam a migração da fronteira agrícola do 15 Brasil, movendo-se constantemente para as regiões Centro-Oeste e Norte” (Bettini, 2007). Atualmente, um a cada quatro passageiros regulares domésticos nos Estados Unidos voam com uma companhia aérea regional, sendo que o número de vôos regionais representa a metade do total de vôos regulares daquele país. No Brasil, a relação passageiros das regionais é de apenas um para vinte e dois passageiros1, o que mostra a enorme potencialidade de crescimento, desenvolvimento e alavancagem do turismo ainda a ser explorada pelo setor no País. Pelas razões acima expostas, compreende-se que a promoção e fomento da atividade do transporte aéreo regional pode ser vista como algo passível de estudo, sendo o setor potencialmente contemplável com o desenho de políticas públicas específicas, distintas dos regulamentos voltados para as companhias aéreas principais. No entanto, para que a hipótese da necessidade de um marco regulatório específico para o transporte aéreo regional seja testada, é antes necessário que se proceda a um profundo diagnóstico do papel da aviação regular no País, bem como uma distinção clara do que seria aviação regional,e m contraposição às linhas principais do transporte aéreo. Este trabalho visa preencher essa lacuna e lidar com esses temas referentes ao transporte aéreo regional. I.2 O Estágio Atual da Regulação do Transporte Aéreo no Brasil O setor de transporte aéreo no Brasil passou por duas grandes reformas regulatórias ao longo dos últimos 35 anos: a introdução da regulação estrita (a era da “competição controlada”), entre o final dos anos 1960 e início da década 1970, e a Política de Flexibilização da Aviação Comercial (a era do “livre mercado”), introduzida no início da década de 1990. Ao longo destas quatro décadas de políticas governamentais para o setor, estes foram os dois marcos regulatórios mais notáveis, e que influenciam o debate com relação à regulação do setor ainda hoje. Com a liberalização dos anos 1990 e, mais 1 Fonte: Anuário ABETAR (2007). 16 recentemente, com o advento da Lei de criação da Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC (Lei n. 11.182, de 27 de setembro de 2005), alcançou-se o resultado em que o transporte aéreo é, hoje em dia, um setor com alto grau de desregulamentação econômica, onde, na maioria das situações, as companhias aéreas competem livremente por posições no mercado. Dado que o setor possui atualmente um marco regulatório mais liberal, tem-se que o adequado entendimento da dinâmica desta indústria passa por uma maior compreensão de como se processa a concorrência entre as empresas participantes do mercado. Os principais dispositivos legais referentes ao atual arcabouço regulatório do transporte aéreo podem ser encontrados tanto na Carta Magna brasileira, como no Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer) – Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 –, e na Lei da ANAC – Lei 11.182, de 27 de setembro de 2005. A Constituição Federal, em seu Art. 212, inciso XII, estabelece que compete à União “XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: (...) c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária. (...)” No que tange aos aspectos de regulação econômica do setor aéreo, tem-se que as principais normas que tratam da questão foram expedidas no contexto da chamada Política de Flexibilização da Aviação Comercial Brasileira. A Política de Flexibilização foi um conjunto de ações governamentais adotadas a partir do início dos anos 1990 com o objetivo de gradativamente remover os controles sobre variáveis econômicas do setor. A Política de Flexibilização do setor começou efetivamente a partir de 1992, dentro do chamado “Programa Federal de Desregulamentação” do Governo Collor (Decreto 99.179, de 15 de março de 1990), apesar de elementos de liberalização de preços por meio de bandas tarifárias já estarem vigentes desde 1989. Representando o estabelecimento de um novo marco regulatório da aviação comercial, esta reorientação de políticas foi implementada a partir de uma seqüência 2 Artigo que elenca as competências da União. 17 de portarias expedidas pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), ao longo da década de 1990 e início dos anos 2000. A liberalização do setor aconteceu de forma gradual, e nas linhas do programa governamental de desregulamentação dos setores regulados e da própria economia brasileira. Pode-se dizer que foi implementada em três rodadas, respectivamente, em 1992, 1998 e 2001, em uma trajetória muito semelhante aos “pacotes” de liberalização promovidos pela União Européia (UE); com a abordagem européia, seguida pelo DAC, houve uma ênfase na graduação das políticas, de forma a se tentar evitar seus potenciais efeitos “danosos” de curto prazo, sobretudo em termos de um forte acirramento da competição no mercado, como aconteceu com a desregulamentação norte-americana, a partir de 1978. O objetivo do presente estudo é fazer um apanhado pormenorizado da evolução recente do marco regulatório do transporte aéreo brasileiro, com vistas a apontar problemas e necessidades de ajustes. Esta tarefa constitui o ponto de chegada deste trabalho, e será apresentada, mais adiante, no Capítulo IV. I.3 Diagnóstico da Cobertura Aérea Aviação Regular no Brasil Uma análise da malha aeroportuária brasileira no período recente é de extrema relevância dado que pode proporcionar análises quanto à necessidade de se ter políticas específicas para o transporte aéreo regional. A presente seção visa elaborar um diagnóstico, um “raio-x” da situação geográfica atual da aviação regular no país, analisando os aspectos de qualidade de cobertura ao longo do território nacional. Visa, portanto, promover uma análise geo-referenciada do posicionamento das companhias aéreas regulares domésticas, com ênfase sobretudo nas operações fora dos aeroportos grandes e médios. Esta análise visa identificar com maior clareza os problemas estruturais no setor e, mais especificamente, como ele vem desempenhando o papel de desenvolvimento das localidades pelo País afora. Permite, portanto, um mapeamento das oportunidades da aviação regional brasileira. 18 Para efeitos desta análise, será necessário efetuar uma padronização na classificação de aeroportos, a partir de um ranking dos mesmos. Será adotada, com esta finalidade, a definição de “hub grande”, “hub médio” e “hub pequeno” adotada pela Federal Aviation Administration, FAA, dos Estados Unidos. Segundo a FAA, para um aeroporto ser considerado “hub grande”, ele deve movimentar mais do que 1% dos embarques e desembarques de passageiros de um País. Os aeroportos “hub médios” da FAA são aqueles que movimentam entre 0,25% e 1% do total dos passageiros, enquanto os “hubs pequenos” são aqueles que movimentam entre 0,05% e 0,25%. Abaixo dos 0,05% de participação da movimentação de passageiros no total do sistema aéreo, o aeroporto é considerado “não-hub”; para efeito das análises aqui empreendidas, denominaremos esses aeroportos de “locais”. Importante enfatizar que o conceito de “hub” utilizado pela FAA para efetuar a classificação entre “hub grande”, “hub médio” e “hub pequeno”, não se atém à característica de conectividade dos aeroportos. Desta forma, por essa classificação, os hubs não são necessariamente aqueles aeroportos centróides em uma estrutura de rede centro-raios (rede “hub-and-spoke”3), ou agregador de passageiros em conexão. Os aeroportos “hub”, segundo a classificação da FAA adotada aqui, são aqueles aeroportos com significativa participação no volume de passageiros movimentados no País, em contraposição aos aeroportos locais, que são aqueles com pequena participação em nível nacional, restritos à operação regional. 3 O sistema hub-and-spoke é uma configuração de rede na qual a companhia aérea oferece a maioria de seus vôs de/para o mesmo aeroporto (o "hub"), e assim oferece uma ampla gama de possibilidades origem-destino envolvendo conexão. Exemplo: ao invés de oferecer vôos non-stop entre Los Angeles e Nova York, entre Phoenix e Washington, entre Las Vegas e Boston, uma companhia aérea ofereceria essas rotas por meio de uma conexão em Chicago. 19 A Figura 1 a seguir apresenta uma fotografia da malha aeroportuária brasileira no período entre 1998 e 2008. Nela, é apresentado o mapa do Brasil e a localização dos aeroportos que tiveram alguma movimentação com vôos regulares no período. Utiliza-se as legendas para aeroportos classificados como “hubs grandes”, para “hubs médios”, para “hubs pequenos” e para “aeroportos locais”. A Figura 1 também apresenta os aeroportos que apresentaram início de operações ( ), aqueles que tiveram operação encerrada (*), bem como aqueles que tiveram operação regular iniciada mas encerrada no período (*). # ( r # # $ # r rò # r # Y # # # # # # # r # ( # # ò ( # r ( ## # $ # r ò # ( # r # r # # òr ò # # r r # r r rr # # Y # # ( ò # # ( $ $ # # # # # # Y # Yr r r$ ( r # # ## # # # Y # r # $ # # ò # Y r rrr r # # ( # # # ( # Y r r ò ( $r $ r r r( rr r r ( r( ( r r r# r r Y # Y # Y# #( $$ r Y Y r r( r r# Y $ $ r r$ (rò # Y ( r $ # # # # # ## # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # # $ # Y # # # # # # # Legenda: = Hub Grande; = Hub Médio; = Hub Pequeno; = Aeroporto Local * = Operações Encerradas * = Operações Frustradas = Operações Iniciadas Figura 1 – Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Brasil # Y $ # Y $ ( ò # ò # # # ( ( # # r # r( # r # # ò r # # ( # # ò òr # # r r ò # # $ r $ # òr # # Y r r # r # # # # # r # $ r # r ( # rr ( # r # # # ( r$ # # r # Y # # # 20 Pode-se perceber, por meio da Figura 1, como o país apresentou queda na cobertura aérea no período entre 1998 e 2008. De fato, houve encerramento de operações em todas as regiões do país, e em número superior ao número de operações iniciadas. A Tabela 1 a seguir apresenta uma sistematização das informações de cobertura ao longo do território nacional. Nela, é também possível observar a variação de diversos indicadores entre o “Pré-Liberalização” – período aqui definido como os anos anteriores à Terceira Rodada de Liberalização de 2001 (janeiro de 1998 – janeiro de 2000) – e o “Pós-Liberalização” – os anos mais recentes, englobando o período entre janeiro de 2006 e janeiro de 2008. Essa contraposição entre pré e pós-Liberalização será mantida nas análises das figuras e tabelas a seguir, e é de fundamental importância para um maior entendimento de como se processou o ajuste das malhas das companhias aéreas a partir da concessão de maiores graus de liberdade no mercado por parte das autoridades regulatórias brasileiras desde os anos 1990 (a “Política de Flexibilização da Aviação Comercial”), conforme visto na Seção I.2. Tabela 1 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Brasil Pre‐ Liberalização Pos‐ Liberalização Variação Var% Aeroportos Operados 199 155 ‐44 ‐22.1% Microrregiões Cobertas 166 131 ‐35 ‐21.1% Municípios Cobertos 1,821 1,437 ‐384 ‐21.1% PIB Agricultura Coberto (R$ bilhões 2005) 44.6 36.7 ‐7.9 ‐17.7% PIB Indústria Coberto (R$ bilhões 2005) 391.1 365.6 ‐25.5 ‐6.5% PIB Serviços Coberto (R$ bilhões 2005) 893.0 851.9 ‐41.1 ‐4.6% PIB Total Coberto (R$ bilhões 2005) 1,570.8 1,486.9 ‐83.8 ‐5.3% População Coberta (milhões 2005) 113.3 104.7 ‐8.6 ‐7.6% Cobertura Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e NECTAR. “Pre-Liberalização” = período entre 1998 e 2000; “Pós-Liberalização” = período entre 2006 e 2008. 21 Na Tabela 1, é possível visualizar não apenas a variação no número de aeroportos operados, mas também de importantes indicadores construídos a partir da metodologia de divisão territorial proposta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE: número de microrregiões, de municípios, PIB (agricultura, indústria e serviços) e população coberta pelo transporte aéreo regular. A metodologia de cálculo desses indicadores pode ser descrita pelos seguintes passos: 1. Os aeroportos operados pela aviação regular, constantes do sistema HOTRAN do antigo Departamento de Aviação Civil, DAC, e do atual regulador, a Agência Nacional de Aviação Civil, ANAC, são identificados a partir de extrações mensais de HOTRAN desde 1998; 2. Para cada aeroporto constante no HOTRAN é atribuída uma microrregião do IBGE a que pertence, de acordo com sua localização territorial; 3. O número de microrregiões “cobertas” pelo transporte aéreo regular é igual ao número de microrregiões em que foram observados aeroportos com operação regular; 4. O número de municípios “cobertos” pelo transporte aéreo regular é igual ao número de municípios pertencentes à microrregião onde foram observados aeroportos com operação regular; 5. O PIB “coberto” (agricultura, indústria e serviços) e a população “coberta” pelo transporte aéreo regular é igual ao PIB e a população das microrregiões onde foram observados aeroportos com operação regular. As Figuras e Tabelas a seguir apresentam um mapeamento das operações regulares nas cinco regiões do País, destacando a variação nos indicadores sócio-econômicos das microrregiões do IBGE nos períodos pré e pós-liberalização do transporte aéreo. Analisadas em conjunto, proporcionam grande detalhamento da cobertura do modal aéreo. 22 Figura 2 – Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Região Norte Tabela 2 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Norte Pre‐ Liberalização Pos‐ Liberalização Variação Var% Aeroportos Operados 59 46 ‐13 ‐22.0% Microrregiões Cobertas 41 33 ‐8 ‐19.5% Municípios Cobertos 248 214 ‐34 ‐13.7% PIB Agricultura Coberto (R$ bilhões 2005) 6.5 5.5 ‐1.0 ‐15.2% PIB Indústria Coberto (R$ bilhões 2005) 27.2 26.7 ‐0.5 ‐1.9% PIB Serviços Coberto (R$ bilhões 2005) 47.5 44.8 ‐2.8 ‐5.9% PIB Total Coberto (R$ bilhões 2005) 93.0 88.4 ‐4.6 ‐4.9% População Coberta (milhões 2005) 11.4 10.4 ‐1.0 ‐8.7% Cobertura Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e NECTAR. “Pre-Liberalização” = período entre 1998 e 2000; “Pós-Liberalização” = período entre 2006 e 2008. 23 Figura 3 – Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Região Centro‐Oeste Tabela 3 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Centro‐Oeste Pre‐ Liberalização Pos‐ Liberalização Variação Var% Aeroportos Operados 31 22 ‐9 ‐29.0% Microrregiões Cobertas 24 18 ‐6 ‐25.0% Municípios Cobertos 232 162 ‐70 ‐30.2% PIB Agricultura Coberto (R$ bilhões 2005) 12.0 9.7 ‐2.3 ‐19.3% PIB Indústria Coberto (R$ bilhões 2005) 19.9 17.1 ‐2.8 ‐14.3% PIB Serviços Coberto (R$ bilhões 2005) 107.4 102.1 ‐5.3 ‐4.9% PIB Total Coberto (R$ bilhões 2005) 158.5 146.9 ‐11.6 ‐7.3% População Coberta (milhões 2005) 9.5 8.3 ‐1.2 ‐12.3% Cobertura Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e NECTAR. “Pre-Liberalização” = período entre 1998 e 2000; “Pós-Liberalização” = período entre 2006 e 2008. 24 Figura 4 – Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Região Sudeste Tabela 4 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Nordeste Pre‐ Liberalização Pos‐ Liberalização Variação Var% Aeroportos Operados 35 29 ‐6 ‐17.1% Microrregiões Cobertas 31 26 ‐5 ‐16.1% Municípios Cobertos 366 274 ‐92 ‐25.1% PIB Agricultura Coberto (R$ bilhões 2005) 6.8 6.0 ‐0.8 ‐11.8% PIB Indústria Coberto (R$ bilhões 2005) 42.7 42.2 ‐0.5 ‐1.1% PIB Serviços Coberto (R$ bilhões 2005) 105.4 101.5 ‐3.9 ‐3.7% PIB Total Coberto (R$ bilhões 2005) 181.4 175.7 ‐5.8 ‐3.2% População Coberta (milhões 2005) 24.3 22.3 ‐2.0 ‐8.2% Cobertura Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e NECTAR. “Pre-Liberalização” = período entre 1998 e 2000; “Pós-Liberalização” = período entre 2006 e 2008. 25 Figura 5 – Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Região Sudeste Tabela 5 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Sudeste Pre‐ Liberalização Pos‐ Liberalização Variação Var% Aeroportos Operados 42 32 ‐10 ‐23.8% Microrregiões Cobertas 39 30 ‐9 ‐23.1% Municípios Cobertos 516 417 ‐99 ‐19.2% PIB Agricultura Coberto (R$ bilhões 2005) 9.5 8.2 ‐1.3 ‐13.3% PIB Indústria Coberto (R$ bilhões 2005) 230.8 218.2 ‐12.6 ‐5.5% PIB Serviços Coberto (R$ bilhões 2005) 493.1 476.7 ‐16.4 ‐3.3% PIB Total Coberto (R$ bilhões 2005) 881.1 846.6 ‐34.5 ‐3.9% População Coberta (milhões 2005) 50.3 47.8 ‐2.5 ‐4.9% Cobertura Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e NECTAR. “Pre-Liberalização” = período entre 1998 e 2000; “Pós-Liberalização” = período entre 2006 e 2008. 26 Figura 6 – Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Região Sul Tabela 6 – Resumo das Operações Aeroportuárias 1998‐2008: Sul Pre‐ Liberalização Pos‐ Liberalização Variação Var% Aeroportos Operados 32 26 ‐6 ‐18.8% Microrregiões Cobertas 31 24 ‐7 ‐22.6% Municípios Cobertos 459 370 ‐89 ‐19.4% PIB Agricultura Coberto (R$ bilhões 2005) 9.8 7.3 ‐2.5 ‐25.5% PIB Indústria Coberto (R$ bilhões 2005) 70.5 61.5 ‐9.1 ‐12.9% PIB Serviços Coberto (R$ bilhões 2005) 139.6 126.9 ‐12.7 ‐9.1% PIB Total Coberto (R$ bilhões 2005) 256.8 229.4 ‐27.4 ‐10.7% População Coberta (milhões 2005) 17.8 15.8 ‐2.0 ‐11.1% Cobertura Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e NECTAR. “Pre-Liberalização” = período entre 1998 e 2000; “Pós-Liberalização” = período entre 2006 e 2008. 27 As Figuras 7 a 12 a seguir apresentam a síntese da análise de cobertura geográfica e dos indicadores sócio-econômicos que configuraram o diagnóstico da aviação regular ao longo do transporte aéreo regional. A Figura 7 apresenta um gráfico com o número de aeroportos operados no pré e pós-liberalização. De fato, houve nítida perda na qualidade da cobertura com a liberalização do setor, conforme apontam quase todos os indicadores levantados. Houve queda no número de aeroportos operados em todas as regiões do país, sendo que a região Norte foi a que perdeu mais cobertura, em termos absolutos (-13). Ao todo, foram menos quarenta e quatro aeroportos operados em todo o Brasil (queda de 22%). 199 155 59 31 22 Centro‐Oeste 35 29 Nordeste 46 Norte aeroportos 9800 42 32 32 26 Sudeste aeroportos 0608 Figura 7 – Aeroportos Operados Sul Brasil 28 A Figura 8 e a Figura 9 a seguir permitem um entendimento de como se efetivou a queda na cobertura do país, ocasionando concentração das operações aéreas nos “hubs grandes” e “hubs médios”, em detrimento dos aeroportos locais. Dos quarenta e quatro aeroportos com operações encerradas, temos que a grande maioria (72%) é constituída de “aeroportos locais”. De fato, o número de aeroportos locais caiu de 137 para 105 (-32 aeroportos), conforme mostra a Figura 8. 137 105 19 16 Hubs Grandes 19 24 14 Hubs Médios Pré‐Liberalização (1998‐2000) 20 Hubs Pequenos Aeroportos Locais Pós‐Liberalização (2006‐2008) Figura 8 – Aeroportos Operados A operação dos demais tipos de aeroportos também caiu porque o número de aeroportos com fatia de mercado acima de 1% (“hub grande”), de 0,25% (“hub médio”) e 0,05% (“hub pequeno”) caiu, dado que os principais aeroportos do País (sobretudo Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília) passaram a concentrar maior participação no sistema. De qualquer forma, a queda no número de aeroportos locais foi muito mais expressiva que as demais quedas, e esse fator pode ser atestado pela Figura 9, que apresenta a participação de mercado de cada um dos tipos de aeroportos: 29 83.3% 84.0% 10.9% 11.8% 4.2% 3.2% Hubs Grandes Hubs Médios share9800 Hubs Pequenos 1.6% 1.0% Regionais share06‐08 Figura 9 – Aeroportos Operados Como pode ser observado, enquanto a fatia de mercado de “hubs grandes” e “hubs médios” aumentou com a liberalização do setor aéreo, a fatia de mercado dos “hubs pequenos” e “locais” caiu expressivamente. Os “aeroportos locais” tiveram participação em queda de 37%, caindo de 1,6% para apenas 1% dos movimentos de passageiros no sistema aéreo doméstico brasileiro. A Figura 10 e a Figura 11 apresentam gráficos com o número de microrregiões cobertos pela aviação regular e o número de municípios dessas regiões, outro tipo de indicador que apresentou queda considerável ao longo de todas as regiões do País. 30 166 131 41 24 31 18 Centro‐Oeste 26 Nordeste 33 Norte microrregiões9800 39 30 Sudeste 31 24 Sul Brasil microrregiões0608 Figura 10 – Microrregiões Cobertas 1,821 1,437 516 366 232 274 162 Centro‐Oeste Nordeste 417 459 370 248 214 Norte municipios9800 Sudeste Sul Brasil municipios0608 Figura 11 – Municípios Cobertos Por fim, a Figura 12 apresenta um gráfico com a variação no PIB (Produto Interno Bruto) per capta das microrregiões cobertas pela aviação regular. Pode-se perceber que houve incremento no PIB per 31 capta de todas as regiões do País. Isso é indicativo de que, não apenas as companhias aéreas encerraram operações nas pequenas e médias localidades pelo país afora, como estão concentrando seus vôos nas localidades com maior renda e, portanto, maior demanda potencial. 17,526 17,703 17,662 16,703 14,422 14,495 13,866 7,477 Centro‐Oeste 7,884 Nordeste 8,124 14,203 8,462 Norte Pré‐Liberalização Sudeste Sul Brasil Pós‐Liberalização Figura 12 – Pib per Capta das Microrregiões Cobertas Todos os fatores acima apontados no diagnóstico da cobertura aérea da aviação regular no Brasil são fortemente indicativos de uma maior eficiência das companhias aéreas brasileiras. De fato, com a liberalização do setor, as empresas passaram a competir de forma mais intensa, e tiveram que explorar de forma mais eficiente as operações ao longo de suas malhas aéreas. Por outro lado, entretanto, a queda na cobertura é um indicador de que o transporte aéreo teve seu potencial de alavancagem do desenvolvimento sócio, econômico e turístico comprometido, com potencial perda da geração de encadeamentos e spillovers advindos da maior cobertura aérea (desenvolvimento regional, crescimento sustentável do país, etc). Do ponto de vista das políticas públicas, a queda na cobertura aérea do país é preocupante, e, uma vez diagnosticada, deve ser tratada com mecanismos de incentivo à operação regional. 32 I.4 Identificação e Demarcação do Mercado de Linhas Regionais A presente seção visa propiciar uma metodologia de identificação de mercados que permita uma clara demarcação da aviação regional brasileira. Com essa proposta metodológica, tem-se em mãos um instrumento que permite distinguir os mercados tipicamente operados pelas grandes companhias aéreas domésticas, aqui denominado de Mercado de Linhas Tronco, MLT, de dois importantes tipos de mercados de aviação regional: o Mercado de Linhas Regionais, MLR, e do Mercado de Linhas Essenciais, MLE. A primeira pergunta a que se tenta responder é “para quê demarcar?”. Trata-se de uma pergunta relevante, dado que o mercado de transporte aéreo doméstico atual é caracterizado pelo livre mercado. De fato, a lei da ANAC instituiu a livre mobilidade das operadoras certificadas, o que faz com que empresas “tronco” e empresas “regionais” possam coexistir nos diversos mercados aéreos. A grande função de um exercício de delimitação de mercados é para se promover um estudo mais detalhado do comportamento de cada segmento da aviação, visando compreender a necessidade ou não do desenho de mecanismos de fomento e de políticas públicas próprias. No passado, no período regulatório estrito ao qual o setor aéreo estava sujeito por todo o mundo e inclusive no Brasil, a tarefa de demarcação e distinção de mercados era de extrema importância na condução rotineira da regulação por parte das autoridades. De fato, havia regimes regulatórios de preços, concessão de linhas, subsídios, dentre outros aspectos da regulação técnica e econômica, e que eram reconhecidamente distintos para as operadoras do MLT e do MLR. Nos Estados Unidos, por exemplo, havia as trunk carriers (companhias aéreas principais), as local service carriers (companhias aéreas locais) e as commuters, e cabia ao Civil Aeronauthics Board (CAB) estabelecer regulações em separado para cada tipo de operadora aérea. 33 Tem-se, portanto, que o objetivo de uma demarcação de mercados, em situação de plena vigência de um regime de regulação liberal, mais pró-mercado, é o de atender à necessidade de melhor estudar o setor e permitir a sua maior indução – dada a sua importância para o desenvolvimento das localidades e para a integração nacional, como visto anteriormente. Com uma demarcação dos mercados, não se objetiva propiciar um retorno ao regime regulatório estrito, com concessão de monopólios ou controle de entrada ou acesso, mas sim permitir uma maior compreensão do funcionamento do setor para a propositura de políticas públicas, de fomento e para alavancagem dos investimentos privados. A delimitação aqui proposta se atém aos vôos que constituem o chamado transporte aéreo regular doméstico, ou seja, aquele operado exclusivamente por companhias aéreas certificadas com o rótulo de regulares – isto é, aquelas que se comprometem a manter a regularidade e pontualidade com uma programação horária de vôos registrada junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) –, operando vôos entre aeroportos domésticos. São excluídos da análise os vôos efetuados por aviação não-regular (fretamentos) e a aviação geral (os táxi-aéreos e a aviação corporativa, como os jatos particulares). 34 I.4.1 Princípios Econômicos Norteadores de uma Demarcação de Mercados Delimitar o campo de atuação da aviação regional é tarefa que aparenta ser fácil, mas que se mostra, na prática, complexa e sujeita a definições arbitrárias. Trata-se de uma “arte” o desenvolvimento de uma conceituação que possibilite, ao mesmo tempo, minimizar as arbitrariedades e manter todas as características usualmente levantadas pelos analistas experientes ao definir este mercado. Segundo Bettini (2007), em geral, os estudos promovem a seguinte simplificação na delimitação dos mercados regionais: “Usualmente, atribui-se a nomenclatura de aviação regional à atividade explorada de maneira regular que (...) utiliza aeronaves de capacidade inferior a cem passageiros e as utiliza em ligações com cidades que possuam densidade de tráfego (ou seja, número de passageiros por unidade relevante de tempo) reduzida” (Bettini, 2007). Contudo, como o próprio autor ressalta, esta definição é, ao mesmo tempo, arbitrária e difusa. Arbitrária porque envolve a fixação de um tamanho de aeronave em termos de número de assentos. Por um lado, o tamanho de cem assentos é amplo o suficiente para abarcar todas as aeronaves que reconhecidamente operam a aviação regional, como o EMB-120, EMB-145, CRJ-200. Por outro, ela induz a pensar que uma empresa regional não possa ter, em sua frota, aeronaves maiores que permitam economias de densidade para trechos mais densos. E difusa porque envolve o conceito de “densidade de tráfego reduzida” ou, como também é freqüente no meio profissional e na literatura, “média e baixa densidade de tráfego”. Esse conceito requer um ponto de corte para ser implementado pela regulação na prática – o que acaba por envolver arbitrariedade adicional. De fato, observa-se com certa freqüência os casos de empresas aéreas reconhecidamente regionais operando aeronaves de capacidade superior a cem lugares e/ou voando entre cidades com densidade de tráfego reconhecidamente elevada: por exemplo, a TAM quando era 35 regional e a Rio Sul (antiga empresa regional do grupo Varig), operavam grandes frotas de Fokker F100 (108 assentos) e de Boeing B737-500 (120 assentos), respectivamente. Outra empresa da época do SITAR e que posteriormente chegou a operar com aeronaves de capacidade superior a cem assentos foi a Taba, que operou com dois Fokker F100. A Rico Linhas Aéreas opera uma frota de três B737-200s na região amazônica. Por outro lado, são também freqüentes são os casos de empresas aéreas de porte nacional, como atualmente a Gol e a Tam, ou a Varig, no passado, com operações em cidades que tradicionalmente seriam incluídas na categoria de baixa densidade de tráfego. Dentre outras, são atualmente ou já foram servidas por uma ou mais das empresas aéreas nacionais: as cidades de Caxias do Sul (RS), Joinville (SC), Navegantes (SC), Maringá (PR), Londrina (PR), Ribeirão Preto (SP), São José do Rio Preto (SP), Uberlândia (MG), Corumbá (MS), Dourados (MS), Petrolina (PE), Imperatriz (MA), Marabá (PA), Santarém (PA) e Cruzeiro do Sul (AC). A partir de uma abordagem econômica, a aviação regional possui sua dinâmica marcada por algumas questões que dão contornos característicos ao funcionamento da demanda e da oferta nesta atividade econômica. Talvez o aspecto que melhor caracteriza a aviação regional advém de sua avaliação em relação às chamadas economias de densidade. Como ocorre em todos os processos produtivos, o oferecimento de assentos-quilômetros (unidade básica de produto em atividades de transporte) está sujeito a certas vantagens que podem emergir quando se opta pela produção de uma elevada quantidade. O raciocínio presente por trás desta afirmação baseia-se na constatação de que, em um processo produtivo representativo, há certos custos que são variáveis e certos outros que são fixos4. 4 “Variáveis” ou “fixos” avaliados em relação ao nível de produção com que a empresa opta por operar em um período relevante de análise. 36 Em atividades de transporte – e a aviação regional caracteriza-a bem – também existem custos das duas naturezas: o custo com o consumo de combustível é um exemplo de custo variável, pois depende diretamente do nível de produção que a empresa estabelece; os salários e encargos da alta direção são exemplos de custo fixo, por independer do nível produtivo (discreto). Geralmente, os custos são avaliados em relação a algum parâmetro, e não por seu valor absoluto. Dentre as métricas comumente utilizadas, estão o custo por número de viagens realizadas, por distância voada5 ou ainda por número de passageiros transportados. Portanto, em referência a cada um desses três parâmetros, existirão custos variáveis e outros fixos. Pelas características que definem a aviação regional (fez-se menção à utilização de aeronaves de pequena capacidade, mas deve-se também mencionar a geralmente pequena etapa média de vôo), esta atividade é sensível aos custos fixos em relação a dois dos três parâmetros acima citados: número de passageiros transportados por vôo e distância voada. Combinando-se os dois parâmetros em uma métrica bastante utilizada em contabilidade aeronáutica – passageiro-quilômetro – percebe-se que, em resumo, a aviação regional possui desvantagens intrínsecas para ratear custos fixos por passageiro e por quilômetro voado. Em suma, a aviação regional reúne os ingredientes para ocupar uma situação desconfortável quanto a custos operacionais médios. Esta realidade foi estudada e revelada para o caso norte-americano por Caves, Christensen & Tretheway (1984). Em seu estudo, os autores encontraram evidências de que a desvantagem de custos que empresas aéreas regionais apresentavam em face de empresas de grande porte decorria não do tamanho absoluto das empresas, mas sim às características operacionais que cada grupo de empresa apresentava. Neste aspecto, destacavam-se a utilização de aeronaves de pequena capacidade e a pequena etapa média (distância média de um vôo típico da empresa) realizada por empresas aéreas regionais. 5 À distância voada se dá o nome de “etapa”. 37 Para além da posição desconfortável quanto a seus custos operacionais médios, a situação potencial das empresas aéreas regionais se agrava quando se utiliza uma característica já ressaltada no item anterior – a pequena etapa média – e se contempla este elemento a partir de um olhar da demanda por serviços de transporte aéreo. Vê-se que o mesmo fator que traz dificuldades referentes aos custos contribui também para impor certos limites às condições de demanda. Algo que decorre da operação aérea em etapas relativamente pequenas é que a exposição a modais substitutos para a realização das viagens aumenta: havendo a possibilidade de se utilizar trens, ônibus ou veículos próprios para percorrer o trajeto desejado, todos estes meios passam a rivalizar com o transporte aéreo, sendo, aos olhos do consumidor, bens substitutos. Este é conhecido como um “short-haul problem” da aviação. Em seu levantamento sobre os estudos (e resultados obtidos) a respeito de elasticidades-preço e elasticidadesrenda em transportes, Oum, Waters, II & Yong (1992) recordam-nos do seguinte fato: sob certas condições, os consumidores do transporte aéreo avaliam-no e realizam sua escolha não somente em termos absolutos (realizar uma viagem ou não a realizar), mas também de maneira relativa: partindo-se da decisão de viajar, qual meio escolher. Ou seja, devem ser estudadas as elasticidades próprias e as cruzadas. Dessa forma, uma segunda peculiaridade do transporte aéreo regular regional é que sua viabilidade precisa se assentar desejavelmente – pelo lado da demanda – em um de dois contextos: operar em regiões onde não haja uma exposição acentuada a outros modais substitutos6 e/ou onde existam consumidores que dão elevado valor a seu tempo em número suficiente para dar viabilidade econômica à atividade, ou seja, consumidores que estejam dispostos a optar pelo transporte aéreo com o objetivo de minimizar seu tempo em trânsito e maximizar seu tempo no destino. Para a compreensão desta afirmação, contribui recordar que a demanda por serviços de transporte é, em geral, uma demanda derivada. 6 Novamente, a região amazônica é um exemplo de contexto em que isto ocorre: em determinadas regiões, a única alternativa ao transporte aéreo é o transporte fluvial. 38 Devido às peculiaridades que atuam sobre a oferta e a demanda por transporte aéreo regional – elevados custos operacionais e elevada exposição a modais substitutos – tornam-se coerentes as menções recorrentes a um terceiro traço que aparentemente caracteriza o serviço aéreo regional: o tema da necessidade de suplementação tarifária para um conjunto de empresas do setor. Uma breve recordação da evolução histórica até os dias atuais (Guimarães & Salgado 2003, Gomes et. al. 2002), com declarações públicas de dirigentes de empresas regionais, são suficientes para que se perceba o quão antigo e, simultaneamente, o quão presente é o tema do subsídio à exploração do transporte aéreo regional. Em tempos passados, a suplementação tarifária vinha atrelada a uma postura mais ampla de estímulo e de regulação da atividade. Até 1992, a aviação regional brasileira operou sob o marco do Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional (SITAR). Dentre outros aspectos, este balizamento legal incluía o estabelecimento de monopólios regionais e a proibição de guerras tarifárias entre as empresas aéreas presentes no mercado, assim como severas restrições à entrada de novas empresas7. Ainda hoje, porém, o assunto da suplementação tarifária aparece de maneira recorrente, mesmo que proposto como instrumento isolado (ou menos ambicioso) de política pública de fomento à atividade. Destacados estes três elementos fulcrais – desfavorecimento em face da presença de economias de densidade, exposição exacerbada a modais substitutos e o recorrente clamor por suplementação tarifária – pode-se passar a uma descrição mais pormenorizada deste segmento da aviação regular. No que se refere à concentração da oferta, não parece apropriado realizar esta apreciação tomando-se com base exclusivamente o número total de passageiros transportados. A razão para esta restrição é que, em economia de transportes, geralmente refere-se ao par-de-cidades como unidade fundamental de mercado. Pode-se, sim, afirmar que alguns mercados são altamente concentrados, havendo apenas uma empresa 7 Dentre outros aspectos que contemplam a regulação econômica do transporte aéreo. Para uma lista contendo instrumentos de regulação e sua evolução nas últimas décadas no Brasil, sugere-se consultar Febeliano & Oliveira (2005). 39 aérea regional regular na ligação. No entanto, existem outros, preponderantemente localizados na região norte do país, onde existe competição entre empresas regionais. Esta avaliação toma como base a observação de mapas de rotas de diversas destas empresas, disponíveis nos sites ou em publicações especializadas. Seria necessário um estudo mais atento para que afirmações mais peremptórias sobre a concentração média do mercado pudessem ser feitas, incorporando-se, inclusive, diferentes modais de transporte em algumas ocasiões, conforme descrito na seção anterior, uma vez que a competição intermodal pode ser um traço característico da aviação regional. Um aspecto interessante no que concerne à aviação regional é a aparente reduzida barreira à entrada e saída de novas firmas nos mercados. Caves, Christensen & Tretheway (1984) forneceram-nos subsídios quanto à existência de economias de densidade na aviação em geral, tanto em seu segmento de grande porte quantos nas empresas de atuação local. Todavia, seu estudo contemplou também a avaliação de se haveria economias de escala em transporte aéreo, e a evidência aponta no sentido de negar esta hipótese. De fato, notícias em veículos especializados sugerem que entradas são fáceis: aparentemente, basta uma aeronave, uma tripulação e a permissão técnica da autoridade competente (Departamento de Aviação Civil – DAC) para que uma empresa ingresse em um novo mercado se assim desejar. Convém salientar que, à época de vigência do SITAR, entradas eram vedadas. Esta facilidade em haver entradas não significa que vantagens competitivas não possam ser construídas. De fato, vantagens são construídas, e uma das maneiras mais difundidas de obtê-las é pelo estabelecimento de acordos de parceria com grandes empresas nacionais. A este respeito, a Tam Linhas Aéreas possuiu por muito tempo um acordo com a Pantanal Linhas Aéreas, atualmente suspenso e substituído por um acordo semelhante (nos termos) com a Total Linhas Aéreas. De acordo com Flap Internacional (391), somente entre abril de 2004 e abril de 2005, a TAM transportou 50.600 passageiros por meio de seus acordos com a Passaredo, a OceanAir, a Trip e a própria Total. Na mesma linha, a velha Varig, que havia absorvido a Rio Sul e Nordeste Linhas Aéreas, firmou acordo operacional com a Rico Linhas Aéreas. 40 Quanto à OceanAir, esta chegou a possuir um acordo de cooperação com a Continental Airlines para o transporte de passageiros provenientes de Houston (TX) com destino a Campos de Goytacazes e Macaé, com conexão no Rio de Janeiro. Um tópico interessante e que merece atenção e reflexão é que, com alguma freqüência, as grandes empresas nacionais estabelecem parcerias com empresas regionais para servir rotas que aquelas optaram por abandonar, deixando de operar com aeronaves e tripulações próprias. Finalmente, registra-se somente uma onda de fusões durante um processo de consolidação ao final da década de 1990, quando a TAM, ainda regional, adquiriu e se fundiu com a BR Central (atuação no Centro Oeste do país) e a Helisul (sediada e atuante na região sul do país). Em termos tecnológicos, a aviação regional pouco difere da aviação convencional, assim como a combinação de insumos é relativamente semelhante: aeronaves, combustível, tripulação técnica e de suporte e aeródromos devem ser combinados para que haja a produção de assentos-quilômetros. Do que pode ser apurado, as empresas aéreas regionais ressentem-se principalmente da carestia do combustível e da precariedade da infra-estrutura aeroportuária. Estes problemas são agravados na região amazônica: o custo do transporte do combustível para os postos de abastecimento é elevado naquela região e os aeroportos locais, eventualmente dirigidos por empresas municipais, podem não dispor de recursos financeiros suficientes para a execução de serviços de manutenção e melhoria de suas instalações. Ainda atendo-se ao caso da Amazônia, a falta de balizamento noturno traduz-se na impossibilidade de se operarem vôos noturnos em uma grande parcela dos aeroportos locais. Também na aviação regional existe sindicalização dos funcionários: dentre outras, a Total Linhas Aéreas, a Sete Táxi Aéreo, a Rico Linhas Aéreas, a OceanAir, a Cruiser Linhas Aéreas e a Pantanal Linhas Aéreas contam com aeronautas sindicalizados. Porém, os indícios 41 recolhidos8 dão conta de que a maior atuação do SNA ocorre junto a grandes empresas aéreas nacionais, especialmente quando se encontram em situação financeira delicada. Atualmente, este é o caso do Grupo VARIG. No que se refere à associação de classe entre empresas regionais, existe uma entidade com este propósito: trata-se da Associação Brasileira de Empresas de Transporte Aéreo Regional (ABETAR). Existem também associações do gênero na Europa (European Association of Regional Airlines – ERA9) e nos EUA (Regional Airline Association – RAA10), atuantes junto a autoridades nacionais e supranacionais. Com relação à avaliação de se haveria economias de escala ou de escopo no processo produtivo, esta hipótese não foi diretamente testada. Valendo-nos de fontes secundárias, afirma-se que o transporte aéreo regular – em suas duas modalidades: grande porte e regional – não se caracteriza por retornos à escala. O estudo de Caves, Christensen & Tretheway (1984) ilustra esta afirmação, conforme exposto no item a respeito da estrutura do setor. Já no que se refere às economias de escopo, é quase certo que esta informação não poderá ser verificada. Uma maneira de se auferirem economias de escopo é combinar, em um só processo produtivo, a fabricação de dois bens ou serviços. Em transporte aéreo, o exemplo mais trivial é o transporte conjunto de passageiros e de carga em um único vôo. Porém, declarações colhidas por Flap Internacional (2004) indicam no sentido de que o transporte de carga paga é uma prática ainda pouco difundida na aviação regional, especialmente devido à carestia do combustível: as empresas aéreas preferem transportar combustível suficiente para diversos trechos de vôo se o preço do combustível for superior nas escalas intermediárias. Uma vez que aeronaves têm peso máximo de decolagem, as empresas aéreas regionais vêem confrontadas com uma escolha a fazer: transportar cargas 8 A fonte utilizada para a obtenção desta informação é a página do Sindicato Nacional dos Aeronautas. De especial interesse é o link http://www.aeronautas.org.br/sejur/mesas.html. 9 Maiores informações podem ser obtidas em http://www.eraa.org 10 Consulte-se http://www.raa.org/ 42 e auferir uma receita, ou então transportar combustível adicional e poupa-las de um custo adicional. Finalmente, deve-se mencionar a existência teórica de dois diferentes padrões produtivos elementares: aeronaves a hélice e aeronaves com turbinas. As últimas voam mais alto e mais rápido, o que significa viagens mais confortáveis e mais rápidas e, para a empresa aérea, a possibilidade de obter uma maior utilização diária de suas aeronaves. No entanto, existe no Brasil a predominância de aeronaves turbo-hélice. Dentre as empresas aéreas regionais, a Rico Linhas Aéreas é a única que utiliza aeronaves com turbinas (três B737-200Adv provenientes da Varig). A Tam operou uma das maiores frotas de Fokker F100 do mundo, mas não se enquadra mais em aviação regional; a Rio Sul operou uma frota de 15 Embraer ERJ-145, mas os devolveu ao fabricante e tampouco está atualmente representada na amostra, pois se integrou à Varig. Espera-se que o quadro reverta quando a OceanAir começar a receber alguns dos Fokker F100 que o Grupo Synergy encomendou para as empresas aéreas que estão sob seu controle11. Aparentemente, não há meios para transpor os resultados do estudo de elasticidades de Oum, Waters, II & Yong (1992) para a realidade brasileira. Conforme visto, se por um lado dentro de toda a indústria do transporte aéreo, o segmento no qual há a exacerbação da segmentação de consumidores time-sensitive, de perfil executivo (passageiros que viajam preponderantemente a trabalho) é o transporte aéreo regional, por outro lado deve-se estar atento que a aviação regional é praticamente o único meio plausível de viagem nas regiões norte e noroeste do Brasil. Ou seja, os passageiros do transporte aéreo na bacia amazônica não precisam ser tão time-sensitive para optar pelo modal aéreo. Bastará que ele prefira a viagem aérea à viagem fluvial, que eventualmente se mede em dias de viagem. No que se refere à percepção do produto por parte dos consumidores, não foi possível realizar esta verificação. Existem 11 Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u99280.shtml (caderno Dinheiro do Jornal Folha de São Paulo de 16 de agosto de 2005). 43 algumas diferenciações no que se refere ao serviço de bordo e à “conectividade” e à extensão da rede de cada empresa, bem como o aspecto da integração da rede de uma empresa regional com a malha de uma empresa nacional, no caso de haver algum acordo de cooperação. De forma geral, um aspecto que é homogêneo em todo o setor é a velocidade do serviço aéreo, se comparado às demais alternativas de transportes. É plausível, portanto, que o atributo que o consumidor mais valoriza na hora da escolha pelo transporte aéreo regional é a rapidez da opção, uma característica comum a todas as empresas aéreas (por existir uma relativa homogeneidade quanto à velocidade das aeronaves em operação) e que as coloca, em coletivo, em destaque perante os serviços substitutos. I.4.2 A Demarcação dos Mercados na Prática São quatro os critérios usualmente empregados por reguladores e analistas de mercado no sentido de proporcionar uma demarcação de mercados, separando o Mercado de Linhas Regionais (MLR) do Mercado de Linhas Tronco (MLT). Esses critérios são os seguintes: 1. Demarcação com base na companhia aérea: utiliza-se algum critério de distinção entre “companhias aéreas regionais” e “companhias aéreas nacionais ou tronco”; 2. Demarcação com base na aeronave: utiliza-se algum critério de corte no tamanho das aeronaves (em geral abaixo dos cem assentos) em geral, independente da tecnologia das mesmas (turbo-hélice, jato). 3. Demarcação com base nos aeroportos: define-se os aeroportos “regionais” a partir de características de movimentação de passageiros e/ou aeronaves ou mesmo das características do município (cidade do interior, com menos de um milhão de habitantes, etc.); 44 4. Demarcação com base na ligação aérea: utiliza-se algum critério de corte em termos de densidade de tráfego (exemplo, até 15 mil passageiros/ano), etapa percorrida (exemplo, até 1000 quilômetros), número de participantes (exemplo, monopólio), etc. A Figura 13 abaixo permite uma visualização das três primeiras formas de demarcação, enfatizando a interseção entre elas: Figura 13 – Demarcações Possíveis de Mercados Regionais O presente trabalho parte da premissa que, arbitrando-se pontos de corte, sempre é possível definir os conceitos acima descritos, como de “companhias aéreas regionais” ou de “ligações de baixa e média densidade”. Esses pontos de corte vêm sendo utilizados por analistas de mercado e governos ao longo da história do transporte aéreo, sendo única forma conhecida de se prosseguir com os estudos sobre aviação regional. Mas é importante enfatizar que nenhum deles está isento de problemas de arbitrariedade no exercício de segregação dos mercados. 45 Os problemas são ainda mais capitalizados se estivermos lidando com um ambiente competitivo sujeito a regime regulatório liberal, onde as operadoras são detentoras de livre mobilidade; nesses casos, a linha divisória de mercados pode ser ainda mais sujeita a críticas. Em geral, a intuição e a experiência do analista, em conjunto com a ênfase que se quer dar às análises, leva à adoção de um ou outro critério como mais apropriado. Uma forma de reduzir a arbitrariedade está, como visto na seção anterior, na inclusão de princípios econômicos norteadores na demarcação de mercados, conforme descrito na seção anterior. Adicionalmente, tem-se como prática extremamente comum e salutar nas análises, o uso combinado de mais de um dos critérios como forma de identificação da operação regional. De fato, ao combinar mais de um critério, o analista não apenas reduz o nível de arbitrariedade do estudo, como, em geral, permite que a demarcação proposta tenha maior consistência com o que a intuição de empresários espera ex ante. O problema da combinação está, entretanto, no aumento do grau de especificidade da delimitação de mercados; uma proposta muito particular e restrita no tempo e no espaço pode ser ruim para a propositura de políticas que beneficiem o setor como um todo. A exposição que segue visa apresentar um maior detalhamento dos critérios acima apontados. I.4.2.1 Demarcação com Base na Companhia Aérea Neste tipo de demarcação, todas as operações realizadas por companhias aéreas similares em porte, abrangendo as pequenas e médias empresas em algum critério como faturamento, capacidade ou densidade de tráfego, são previamente classificadas como “regionais”, sendo enquadradas como pertencentes ao Mercado de Aviação Regional (MAR). Alternativamente, pode-se partir de algum procedimento de auto-enquadramento das companhias aéreas, como, por exemplo, classificar como “regionais” todas aquelas afiliadas a uma associação de companhias aéreas regionais. No caso brasileiro, tem-se o conjunto de 46 empresas afiliadas da ABETAR. Aliás, este é o tipo de demarcação efetuada pela RAA (Regional Airline Association) em suas estatísticas12. A Figura 14 ilustra esse tipo de demarcação no diagrama de conjuntos de ligações de um sistema aéreo. A área hachurada apresenta a parte do sistema que seria classificada como MLR (Mercado de Linhas Regionais), enquanto toda a área branca, pertencente ao resto do Universo, constituiria o MLT (Mercado de Linhas-Tronco). Figura 14 – Demarcação com Base na Companhia Aérea A grande vantagem desse tipo de demarcação está no nível baixo de desagregação requerido para se prosseguir com as análises e proposituras de políticas: basta definir quais seriam as companhias aéreas classificadas como “regionais”, para que a obtenção de levantamentos de indicadores de performance possam ser obtidos. Em geral, várias estatísticas econômico-financeiras globais são de fácil 12 A RAA é a instituição que congrega e representa as companhias aéreas regionais dos Estados Unidos, bem como os fabricantes de produtos e serviços na cadeia produtiva do segmento. Fundado em 1975, em Washington, DC, a associação representa 348 associados, sendo 43 companhias aéreas (fonte: website www.raa.org, acesso em 2 de janeiro de 2008). 47 acesso. Sendo assim, não há maiores complicadores nesse cálculo, sendo facilmente estabelecidos o tamanho e a evolução do segmento no país. Apesar das vantagens óbvias, a demarcação com base nas companhias aéreas apresenta importantes problemas que comprometem um estudo mais detalhado no sentido de dar sustentação a políticas públicas de fomento ao segmento regional. Por exemplo, tem-se que uma companhia aérea regional pode operar em mercados de linhas-tronco, dada a livre mobilidade atualmente presente no regime regulatório do transporte aéreo. Assim, teríamos uma companhia aérea dita regional promovendo uma operação não-regional, como acontece, por exemplo, em muitas rotas operadas pela Oceanair atualmente (por exemplo, a ligação Aeroporto de Brasília – Aeroporto de Guarulhos). I.4.2.2 Demarcação com Base na Aeronave Nesse tipo de demarcação, escolhe-se um rol de aeronaves típicas de operação regional. Como visto, aqui se utiliza algum critério de corte no tamanho das aeronaves (em geral abaixo dos cem assentos) em geral, independente da tecnologia das mesmas (turbo-hélice, jato). A Figura 15 apresenta esse tipo de demarcação, em hachurado: 48 Figura 15 - Demarcação com Base na Aeronave I.4.2.3 Demarcação com Base nos Aeroportos Com este tipo de demarcação, utiliza-se a definição prévia de aeroportos locais, ou aeroportos “regionais”, que, sem geral, são aqueles não qualificados como “hubs” (pontos de conexão na malha aérea) e que apresentam pequeno e médio portes em termos de movimento de passageiros. Em geral, utiliza-se um ponto de corte relacionado com o tamanho da cidade a que pertence o aeroporto; por exemplo, o Departamento de Aviação Civil – antigo regulador do transporte aéreo no Brasil – utilizava-se de uma regra de classificação que considerava apenas os aeroportos de cidades com menos de um milhão de habitantes. A Figura 16 ilustra esse tipo de demarcação. 49 Figura 16 – Demarcação com Base nos Aeroportos Importante salientar que, nesse tipo de classificação, em geral se requer apenas que um dos aeroportos da ligação seja qualificado como “local” ou “regional”. Desta forma, qualquer ligação que contenha pelo menos um aeroporto assim identificado, estará incluída no conjunto dos mercados pertencentes ao MLR. I.4.2.4 Demarcação com Base na Ligação Aérea Em termos econômicos, os mercados regionais em geral apresentam a característica de média e baixa densidade de tráfego, dado que usualmente efetuam a ligação entre um “hub grande” ou “médio” e um aeroporto “local” ou “hub pequeno”. Como vimos, em um ambiente de livre competição entre empresas aéreas, é de se esperar que haja contato entre companhias tronco e companhias regionais em alguns mercados, mesmos dentre aqueles realizados entre esses tipos de aeroportos. Dada a maior densidade de tráfego, esses mercados não se caracterizam pelo monopólio regional, mas pela coexistência de empresas, e possivelmente o uso de aeronaves não típicas de aviação 50 regional. Pode também ser observado em alguns desses mercados a alternância de presença de empresa regional, seguido pela entrada de empresas tronco com saída da regional, posterior saída da empresa tronco e entrada da regional, e assim sucessivamente (“ciclo de operação tronco-regional”). Denominaremos essas ligações de “Mercados TroncoRegionais”. Os mercados tronco-regionais são, na verdade, um subconjunto dos potenciais mercados regionais descritos em I.4.2.1, I.4.2.2 e I.4.2.3, sendo, que, para efeito de demarcação, estarão incluídos no Mercado de Linhas Regionais (MLR). A Figura 17 apresenta uma forma de demarcação de mercados regionais com base nas características das ligações aéreas. Nesse tipo de demarcação, algum ponto de corte referente à variável relacionada à ligação aérea será introduzido de forma a delimitar os mercados. Esse foi um tipo de delimitação utilizado no SITAR, por exemplo, quando se impôs um ponto de corte de 20 mil pax/ano para que as ligações fossem consideradas dentro do sistema de regionais. Assim, se considerarmos todas as ligações operadas por companhias aéreas (tronco ou regionais), independente do tipo de aeronaves (jatos, turbohélice, etc) e dos aeroportos operados (regionais ou não), e delimitarmos os mercados “Tronco-Regionais”, com base em alguma característica do próprio mercado, teríamos, assim, um conjunto mais restrito de mercados que poderia ser considerado como inerentemente “regional”. 51 Figura 17 - Demarcação com Base na Ligação Aérea Como pode ser observado na Figura 17, tem-se a área hachurada mais escura mais engloba um conjunto menor de alternativas possíveis, sendo constituídas por ligações inerentemente regionais, caracterizadas pela baixa densidade de tráfego. Essas ligações são tipicamente constituídas por monopólios de companhias aéreas regionais, ou simplesmente tiveram sua operação regular encerrada. A região de contato tronco-regional, em hachurado mais claro, engloba as ligações de média densidade, sendo também incluída no âmbito do Mercado de Linhas Regionais (MLR). As demais ligações são de alta densidade, sendo pertencentes ao mercado de Linhas Tronco (MLT). A vantagem da demarcação com base na ligação aérea é que com ela é possível delimitar os mercados sem necessariamente impor um tipo de empresa ou equipamento no mercado para a classificação – o que é mais justificável dada a livre mobilidade e a liberdade de alocação da frota e configuração de rede das companhias no atual regime regulatório. A desvantagem dessa demarcação é a mesma dos demais tipos: a necessidade de imposição de um ponto de corte exógeno em uma 52 variável previamente escolhida, como valores arbitrários de densidade de tráfego da ligação; essa arbitrariedade é inevitável no processo de demarcação de mercados. I.4.2.5 Mercado de Linhas Essenciais (MLE) Um subconjunto relevante dos mercados regionais (MLR) é o conjunto de linhas de serviço público, aqui denominado de Mercado de Linhas Essenciais (MLE). Essas linhas são caracterizadas pela necessidade estratégica de provimento do serviço aéreo, seja por se tratar de uma localidade em área de fronteira, região inacessível onde inexistem meios de transporte adequados, em zona rural ou turística considerada estratégica por ser um serviço pioneiro. Algumas dessas linhas podem vir a ter demanda futura suficiente para se auto-sustentar, enquanto outras, não. Assim, tem-se como característica típica dos MLE a baixíssima densidade de tráfego e certeza da falta de rentabilidade da operação, concomitantemente com o desejo político de prover o serviço aéreo. O anseio político deve estar tecnicamente embasado segundo critérios de ausência de modais substitutos nas regiões consideradas, segurança nacional (fronteiras), potencial turístico e estágio da localidade na indução de demanda por viagens aéreas, etc. Vide Capítulo II para uma discussão sobre critérios para identificação das potencialidades de demanda das localidades. Programas de subsídios a linhas essenciais existem no mundo inteiro, inclusive nos Estados Unidos e Europa. Esse subconjunto de linhas regionais pode ser considerado um “mercado” (MLE) porque inevitavelmente demandará uma concessão do serviço público. A designação da operadora para prover o serviço deverá ser feita por licitação, provavelmente em competição pelo menor subsídio. Tem-se, assim, um mercado com competição pelo provimento do serviço e obtenção do subsídio13. 13 No Capítulo IV, será discutida uma proposta de fomento ao MLE. 53 A Figura 18 propõe um exercício de identificação do Mercado de Linhas Essenciais (MLE), como um subconjunto do Mercado de Linhas Regionais (MLR). Tem-se que o MLE seria demarcado a partir de uma interseção entre os conjuntos de linhas operadas apenas por companhias aéreas regionais, com aeronaves regionais e em aeroportos regionais. Essa interseção identifica os serviços aéreos que são potencialmente essenciais, passíveis de concessão pública. Figura 18 – Mercado de Linhas Essenciais 54 I.5 Estudo de Identificação e Quantificação do MLR no Brasil I.5.1 Procedimentos de Demarcação A aviação regional sempre se constituiu em uma fração reduzida do total do transporte aéreo doméstico no Brasil. Por exemplo, em 2003, 2004 e 2005, as companhias aéreas regionais foram responsáveis por, respectivamente, apenas 1,7%, 2,0% e 2,3% do total de passageirosquilômetros transportados no Brasil em rotas domésticas. De acordo com o Anuário ABETAR de 2007, as empresas aéreas regionais tiveram um faturamento entre R$ 400 milhões e R$ 600 milhões naqueles anos. Este valor é, de fato, reduzido diante do faturamento das companhias aéreas tronco, como a Gol, que em 2005 faturou R$ 2,6 bilhões e a Tam, que faturou, no mesmo ano, R$ 4,1 bilhões de reais. Adicionalmente, tem-se que os percentuais de tamanho da aviação regional no Brasil são, em geral, viesados para cima, dado que as maiores companhias aéreas regionais do país quase sempre operam em mercados de linhas aéreas tronco (MLT), como, por exemplo, a Oceanair. O presente estudo visa promover um exercício de quantificação do MLR no Brasil, a partir da metodologia detalhada na Seção I.4.2. Com este estudo, as autoridades governamentais brasileiras poderão melhor identificar e compreender a aviação regional no Brasil, tendo-se base para a formulação de políticas públicas específicas. A seguir, são apresentados os detalhes da metodologia de identificação dos mercados regionais. Os passos utilizados foram os seguintes: 1. Em primeiro lugar, promoveu-se um amplo tratamento das estatísticas de tráfego de passageiros por ligação constantes dos Anuários Estatísticos (Volume I) do Departamento de Aviação Civil e da Agência Nacional de Aviação Civil (1998-2006); criouse, a partir dessas estatísticas, uma Matriz Origem & Destino das Ligações Aéreas do País, no âmbito do Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo (NECTAR). 55 2. Definiu-se como mercado aéreo o conjunto de viagens efetuadas com origem e destino verdadeiro entre um dado par-de-cidades. Excluem-se, portanto, tráfego em trânsito, quer seja na forma de escalas, quer seja na forma de conexões. Esses dados são justamente os disponíveis na Matriz Origem & Destino do NECTAR. 3. Adicionalmente, definiu-se que a unidade de análise deve ser o tráfego aéreo total entre duas cidades, e não entre os aeroportos. Este fator é importante, dado que existem regiões metropolitanas cuja zona de influência abrange múltiplos aeroportos, sendo que, para efeito de identificação de mercados regionais, todas as alternativas de pares-de-aeroportos devem ser agregadas. Tem-se, assim, que, por exemplo, a ligação Aeroporto de Congonhas Aeroporto de Ribeirão Preto deve ser considerada conjuntamente com a ligação Aeroporto de Guarulhos - Aeroporto de Ribeirão Preto, dado que seria um contrasenso classificá-las com conceitos distintos, dado que se tratam de ligações entre zonas de influência coincientes. 4. Promoveu-se a agregação dos tráfegos de ida e volta, de forma a constituir um único par-de-cidades bi-direcional. Trata-se de procedimento importante, para evitar analisar mercados desbalanceados, que, por motivos operacionais ou questões de malha das companhias aéreas, foram constituídos, mas que não atendem adequadamente as necessidades das localidades. 5. Foi constituída uma Matriz Origem & Destino dos Pares de Cidade Bidirecionais Brasileiros, do NECTAR. Essa Matriz foi sistematicamente utilizada para os exercícios de identificação de mercados aqui empreendidos. 56 6. Por fim, utilizou-se a metodologia de identificação de mercados com base na ligação aérea (vide Seção I.4.2.4), a partir da definição de pontos de corte em variáveis-chave. Foram três as variáveis utilizadas no ponto de corte da demarcação: em primeiro lugar, a densidade de tráfego média (anos 1998-2006), tendo por base os seguintes cortes14: até 7,5 mil passageiros/ano para ligações consideradas de “baixa densidade”; de 7,5 mil a 45 mil passageiros/ano para ligações consideradas de “média densidade”; acima de 45 mil passageiros/ano, para ligações classificadas como de “alta densidade”. Em segundo lugar, foi utilizada a variável operacional “etapa de vôo percorrida” (quilômetros voados), sendo que, dentre as ligações de média e baixa densidade, apenas aquelas ligações com etapa de vôo média ou curta (abaixo de 850 km) foram incluídas no cômputo do Mercado de Linhas Regionais (MLR). As demais ligações foram enquadradas como sendo pertencentes ao Mercado de Linhas Tronco (MLR). Ligações que apresentaram uma média inferior a 300 passageiros/ano, foram classificadas como de “baixíssima densidade” e, portanto, excluídas da análise. 14 Optou-se por não utilizar os mesmos limiares existentes no Substitutivo aos Projetos de Lei n. 7.199, de 2002, e n. 2.623, de 2000. De fato, o artigo Art. 8º do substitutivo aponto que "Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - linha aérea de baixo potencial de tráfego a que serve a localidade com demanda efetiva de até cinco mil passageiros por ano-calendário; II - linha aérea de médio potencial de tráfego a que serve a localidade com demanda efetiva entre cinco mil e quinze mil passageiros por ano-calendário". Para o presente estudo, buscou-se, como vista acima, utilizar limiares compatíveis com ofertas semanais de assentos e fatores de aproveitamento pré-determinados em cada situação de tipo de densidade. 57 7. Os pontos de corte arbitrados e descritos acima foram escolhidos a partir dos seguintes procedimentos: a etapa de vôo de 850 km foi escolhida por ser uma aproximação ao nonagésimo percentil de etapa da amostra de ligações intra-regionais15. O ponto de corte arbitrado para uma ligação ser considerada como de “baixíssima densidade”, de 300 passageiros/ano, é o equivalente a uma aeronave Cessna Caravan de 9 assentos por semana voando com aproveitamento de 65%16. O limiar de 7,5 mil passageiros/ano equivale a uma aeronave regional LET-410 (ou EMB-110) de 19 assentos voando com 6 freqüências de ida-e-volta por semana com aproveitamento de 65%17. Por fim, o limiar de 45 mil passageiros/ano equivale a uma aeronave regional E-190 de 114 assentos voando com 6 freqüências de ida-e-volta por semana com aproveitamento de 65%18. 15 O procedimento de excluir do MLR os pares-de-cidade com etapa de vôo superior ao nonagésimo percentil de distâncias (igual a 823 km), encontrado na amostra de ligações intra-regionais, tem por objetivo excluir daquele mercado rotas com distâncias elevadas, fora dos padrões de alcance de aeronaves tipicamente regionais. 16 Memória de cálculo dos 300/pax ano: uma frequência de vôo por semana em uma aeronave Cessna Caravan com 9 assentos a 65% de aproveitamento resulta em aproximadamente 300 passageiros/ano (= 1 frequência de vôo x 1 dia/semana x (365/7) semanas x 9 assentos x 0,65 = 305 passageiros/ano). 17 Memória de cálculo dos 7,5 mil pax/ano: uma frequência de vôo de ida‐e‐volta por seis dias na semana em uma aeronave LET‐410 com 19 assentos a 65% de aproveitamento resulta em aproximadamente 7500 passageiros/ano (= 2 frequências de vôo x 6 dias/semana x (365/7) semanas x 19 assentos x 0,65 = 7728). 18 Memória de cálculo dos 45 mil pax/ano: Memória de cálculo: uma frequência de vôo de ida‐e‐volta por seis dias na semana em uma aeronave E‐190 com 114 assentos a 65% de aproveitamento resulta em aproximadamente 45000 passageiros/ano (= 2 frequências de vôo x 6 dias/semana x (365/7) semanas x 114 assentos x 0,65 = 46365). 58 Em suma, tem-se que o procedimento aqui adotado envolveu uma identificação de mercados regionais a partir das características de demanda (densidade de tráfego observada) e de atributos operacionais e geográficos das ligações (etapas de vôo, representativo da distância entre os aeroportos). Por meio dessa metodologia, procura-se assim evitar a tentação de classificar ligações apenas com base em fatores como a presença de um ATR-42, de um EMB-120, ou de uma companhia aérea regional como a Puma Air ou a NHT, que não seriam condições suficientes (apesar de necessárias) para a classificação de um mercado como pertencente ao Mercado de Linhas Regionais, MLR. Haveria que se observar nessa ligação, necessariamente, características de etapa de vôo e densidade de tráfego reduzidas. Importante salientar que, com a metodologia aqui proposta, tem-se que a presença, temporária ou permanente, de aeronaves ou de companhias aéreas de maior porte não descaracterizaria o caráter de "regional" do mercado, pelo menos não no curto prazo. O mercado deixaria de ser considerado "regional" apenas no longo prazo, caso a presença de aeronave ou companhia aérea de maior porte se configurasse em um efetivo incremento da densidade de tráfego do mercado. Se a presença de oferta mais típica de linha-tronco se configurar em geração de demanda compatível com uma linha-tronco, então teríamos os requisitos necessários para a sua classificação no MLT. Uma última menção à questão da não inclusão de vôos de etapa longa no MLR, mas no MLT: esses vôos são, em geral, atípicos para operação com aeronaves de menor porte, dado o alcance das mesmas. Adicionalmente, esses vôos diretos apresentam forte competição com produtos origem-destino que envolvem conexão em hub, por parte das companhias aéreas tronco, não sendo, necessariamente, típicos de operação regional. Tem-se, portanto, que operações com etapas de vôo longas devem ser desconsideradas para efeito de demarcação dos mercados regionais. Assim, por conta dessas considerações, e como no caso da variável densidade de tráfego, utilizar um critério de corte, mesmo que arbitrário, para se evitar contagem indevida de mercados. 59 I.5.2 Exemplos Identificação de Mercados na Prática Antes de apresentarmos os resultados da modelagem de identificação e demarcação das ligações aéreas domésticas brasileiras, seria importante promover um estudo de casos, a partir de exemplos ilustrativos encontrados no sistema aéreo nacional. Tomaremos como exemplo os casos das ligações Belém (PA) – Manaus (AM), Manaus (AM) – Manicoré (AM), Manaus (AM) – Cruzeiro do Sul (AC) e Porto Velho (RO) – Costa Marques (RO), como exemplos de, respectivamente, mercado de linhas-tronco (MLT), mercado de linha regional, típica e tronco-regional (MLR), e mercado de linha essencial (MLE). As Figuras e Tabelas a seguir apresentam as seguintes séries históricas de tráfego referentes a cada uma dessas linhas: número de assentos/ano oferecidos; estimativa de número de passageiros transportados/ano, a partir da arbitragem de um fator de aproveitamento, load factor, de 65%; e participação de mercado das companhias aéreas presentes, em termos de assentos ofertados (percentual). Por fim, também é apresentado um check list de um conjunto de pontos para a análise de identificação dessas linhas, justificando a sua classificação dentro do MLT, MLR ou MLE. 60 Passageiros/Ano 180,000 160,000 140,000 120,000 100,000 80,000 60,000 40,000 20,000 0 1998 1999 2000 2001 SBBE‐SBEG 2002 2003 Lim1 2004 2005 2006 Lim2 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1998 Varig Tam 1999 Gol 2000 2001 Transbrasil 2002 Vasp 2003 Taf 2004 Rico 2005 Nordeste 2006 2007 Penta 2008 Bra Nova Varig Figura 19 – Evolução da Ligação Belém (PA) – Manaus (AM) Tabela 7 – Check‐list: Belém (PA) – Manaus (AM) Check list Belém – Manaus Ligação Intra‐Regional ou entre regiões Sim, Intra‐regional Norte: Pará – Amazonas. adjacentes? Etapa de Vôo Curta? Não, 1298 km. Ligação envolve Aeroporto Regional? Não, ambos são “Hubs Grandes” (>1%), pelo critério da FAA. Ambas as microrregiões possuem mais de 1.5 milhão de habs (2000) e são capitais de estado. Presença de cias aéreas regionais? Sim, em menor escala. Rico, Nordeste, Penta e Taf, em períodos diferentes. Operação com aeronaves regionais? Sim, com EMB‐110, EMB‐120, ERJ‐145, F100. Baixa ou média densidade de tráfego? Não. Alta densidade, sempre acima dos 100 mil passageiros/ano. Conclusão Linha Aérea Tronco Típica. 61 Passageiros/Ano 50,000 40,000 30,000 20,000 10,000 0 1998 1999 2000 2001 2002 SBEG‐SBMY 2003 Lim1 2004 2005 2006 Lim2 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Rico Figura 20 – Evolução da Ligação Manaus (AM) – Manicoré (AM) Tabela 8 – Check-list: Ligação Manaus (AM) – Manicoré (AM) Check list Manaus – Manicoré Ligação Intra‐Regional ou entre regiões Sim, Intra‐estadual Norte: Amazonas. adjacentes? Etapa de Vôo Curta? Sim, 338 km. Ligação envolve Aeroporto Regional? Sim, Manicoré é um aeroporto local (<0.25%), pelo critério da FAA. Pertence à microrregião Madeira, que é do interior e possui aprox. 130 mil habs (2000). Presença de cias aéreas regionais? Sim, operada pela Rico desde 2002. Operação com aeronaves regionais? Sim, com Bandeirante (EMB‐110). Baixa ou média densidade de tráfego? Sim. Bem abaixo dos 7,5 mil passageiros/ano (baixa densidade). Conclusão Linha Aérea Regional Típica. 62 Passageiros/Ano 50,000 40,000 30,000 20,000 10,000 0 1998 1999 2000 2001 2002 SBEG‐SBCZ 2003 Lim1 2004 2005 2006 Lim2 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1998 Rico 1999 Varig 2000 2001 Gol 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Nordeste Figura 21 – Evolução da Ligação Manaus (AM) – Cruzeiro do Sul (AC) Tabela 9 – Check-list: Manaus (AM) – Cruzeiro do Sul (AC) Check list Manaus – Cruzeiro do Sul Ligação Intra‐Regional ou entre regiões Sim, Intra‐região Norte: Acre‐Amazonas. adjacentes? Etapa de Vôo Curta? Não. 1496 km. Ligação envolve Aeroporto Regional? Sim, Cruzeiro do Sul é um “Hub pequeno”, pelo critério da FAA. A microrregião é do interior e possui aprox. 100 mil habs (2000). Presença de cias aéreas regionais? Sim, a Nordeste e Rico já operaram. A Rico saiu com a entrada dos jatos da Gol. Operação com aeronaves regionais? Em parte. A Nordeste operava com ERJ‐145. Já a Rico, com B737‐200 e, depois, 300. Baixa ou média densidade de tráfego? Sim. Quase sempre no limiar inferior da média densidade, em torno de 7,5 mil. Conclusão Linha pertencente à Região de Contato Tronco‐Regional, forte candidata a alianças para alimentação de hub. 63 Passageiros/Ano 50,000 40,000 30,000 20,000 10,000 0 1998 1999 2000 2001 SBPV‐SWPB 2002 2003 Lim1 2004 2005 2006 Lim2 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1998 Tavaj 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Rico Figura 22 – Evolução da Ligação Porto Velho (RO) – Costa Marques (RO) Tabela 10 – Check-list: Ligação Porto Velho (RO) – Costa Marques (RO) Check list Porto Velho – Costa Marques Ligação Intra‐Regional ou entre regiões Sim, Intra‐estadual Norte: Rondônia. adjacentes? Etapa de Vôo Curta? Sim. 414 km. Ligação envolve Aeroporto Regional? Sim, Costa Marques é uma pequena localidade, de fronteira. A microrregião é a mesma de Guajará‐Mirim, que tb perdeu cobertura, com aprox. 60 mil habs (2000). Presença de cias aéreas regionais? Sim, a Tavaj e Rico já operaram. Hoje, não há cobertura aérea regular. Operação com aeronaves regionais? Sim, Bandeirantes (EMB‐110). Baixa ou média densidade de tráfego? Sim. Em torno de 1,5 mil passageiros/Ano, quando estava em operação. Conclusão Linha de monopólio natural, com baixa densidade. Potencial serviço a ser fomentado com suplementação tarifária 64 I.5.3 Resultados do Processo de Demarcação: Quantificação do MLR Uma vez efetuados os procedimentos de demarcação de mercados, descritos em I.5.1, foram efetuadas as estimativas da magnitude do Mercado de Linhas Regionais (MLR) no Brasil. A partir de uma identificação mais precisa dos mercados regionais no País, será possível promover uma investigação mais detalhada das características deste segmento da aviação, visando compreender a necessidade ou não do desenho de mecanismos de fomento e de políticas públicas próprias. A Tabela 11 a seguir apresenta a distribuição das ligações aéreas brasileiras em “baixa”, “média” e “alta” densidades, a partir da demarcação proposta. Das 1790 ligações listadas nos Anuários Estatísticos do DAC entre 1998 e 2006, apenas 711 (40%) apresentaram níveis mínimos de operações suficientes para serem consideradas efetivamente regulares. Todas as demais 1079 ligações (ou 60% das listadas no Anuário) foram consideradas como de “baixíssima densidade”, de acordo com a metodologia de pontos de corte descrita em I.5.1. Importante notar que, apesar de desconsideradas para a presente análise, as 1079 ligações de “baixíssima densidade” fazem parte do conjunto de mercados potenciais do transporte aéreo brasileiro, constituindo, para efeito de políticas públicas, um conjunto de possíveis ligações a serem consideradas no Mercado de Linhas Essenciais (MLE)19. Essas ligações podem ser alvo de fomento por parte das autoridades, conforme veremos no Capítulo IV deste estudo. 19 Não foi efetuado um estudo de quantificação do MLE pelo fato de que esse segmento de mercado é, por definição, constituído por um conjunto de ligações de baixíssima densidade e que, concomitantemente, apresente interesse técnico-político do governo ou da sociedade no seu fomento, o que foge do escopo da metodologia de demarcação aqui proposta. 65 Tabela 11 – Classificação das Ligações Quanto à Densidade de Tráfego N. de Ligações % Mais de 45 mil pax/ano 107 15% "Ligações de Média Densidade" Entre 7,5 mil e 45 mil pax/ano 122 17% "Ligações de Baixa Densidade" até 7,5 mil pax/ano 482 68% 711 100% Tipo de Ligação Limites de Densidade "Ligações de Alta Densidade" Número Total de Ligações Conforme discutido em I.5.1, a metodologia de demarcação de mercados (MLT e MLR) envolveu a utilização dos pontos de corte da Tabela 11, em conjunto com pontos de corte da etapa média (850 km). Conforme pode ser observado na Tabela 11, das 708 ligações com tráfego acima do nível mínimo de operações arbitrado, temos que 362 (51% das ligações) dizem respeito ao Mercado de Linhas Tronco (MLT) e 349 (49% das ligações) dizem respeito ao Mercado de Linhas Regionais (MLR). Das 362 do MLT, tem-se 45 (6%) constituídas por linhas de etapa alta e alta densidade, 62 (9%) constituídas por linhas de etapa baixa e alta densidade e a maioria, 255 (36%), constituídas por linhas de baixa densidade e etapa baixa; nenhum desses segmentos pode ser considerado típico dos padrões das operadoras do MLR, muito embora seja possível observar, em alguns períodos e regiões, a presença de operadoras regionais em um subconjunto dessas ligações. 66 A Tabela 12 a seguir apresenta os resultados da demarcação de mercados a partir dessa metodologia. Pode-se observar que a distribuição entre o número de ligações classificadas como pertencentes ao MLR e as classificadas como pertencentes ao MLT é aproximadamente equânime, ficando em 49% e 51%, respectivamente. Tabela 12 – Demarcação de Mercados Tipo de Ligação Etapa Densidade Mais de 850 Mais de 45 mil km pax/ano Mercado de Linhas‐Tronco (MLT) Características N. de Ligações % Ligações de etapa alta mas densas, como ligações turísticas SE‐NE ou inter‐ regionais entre capitais 45 6% 62 9% 255 36% 362 51% Ligações de ponte aérea ou intra‐regionais de alta densidade Ligações de etapa alta com Mais de 850 Entre 7,5 mil e baixa densidade. Em geral km 45 mil pax/ano apresentam muitas escalas ou conexões. Até 850 km Mais de 45 mil pax/ano Total Número de Ligações MLT Mercado de Linhas Regionais (MLR) Até 850 km Entre 7,5 mil e 45 mil pax/ano Ligações de alimentação, típicas regionais 349 Total Número de Ligações MLR 349 49% Número Total de Ligações 711 100% 67 A Tabela 13 apresenta a participação de mercado (share) do Mercado de Linhas Regionais em proporção ao total do sistema aéreo doméstico brasileiro. O share foi calculado utilizando-se duas métricas: a partir do número de passageiros/ano e do número de passageirosquilômetros/ano. Ao final, obteve-se um total de 1,8 milhões de passageiros/ano transportados dentro do MLR, equivalentes a 5,7% do total de pax/ano domésticos, e um total de 810 milhões de paxquilômetros/ano, representativos de 2,9% do total do sistema doméstico. Tabela 13 – Share de Pax e Pkx.Km do Mercado de Linhas Regionais Índice pax/ano Share pax/ano pax.km/ano Share pax.km/ano MLR MLT 1,799,320 29,574,318 5.7% 94.3% 809,405,011 26,706,141,124 2.9% 97.1% Os gráficos a seguir (Figura 23 e Figura 24) apresentam a comparação entre as características de MLR e MLT no que tange à etapa média de vôo e ao percentual de ligações intra-regionais. 68 1,200 MLT 800 MLR 400 0 Figura 23 – Etapa Média de Vôo (Quilômetros) 100% 80% MLR 60% 40% MLT 20% 0% Figura 24 – Percentual de Mercados Intra-Regionais 69 A Tabela 14 abaixo apresenta uma síntese das características das ligações pertencentes aos conjuntos de mercados linhas regionais e linhas tronco. São estatísticas médias de cunho operacional e sócioeconômico das ligações e das respectivas origens e destinos. Nela, é possível analisar, que, por exemplo, o MLR envolve regiões com menor PIB coberto total e menor PIB per capta, mas com maior PIB agrícola. Tabela 14 – Sumário Comparativo das Características de MLT e MLR Variável N. Ligações Mercado de Linhas Mercado de Linhas Tronco (MLT) Regionais (MLR) 362 349 81,697 5,156 1,519 407 19% 80% 22 22 108,400,000 55,200,000 379,423 470,755 Média do PIB da Indústria Coberto, em R$ (Origem + Destino) 22,800,000 12,734,342 Média do PIB de Serviços Coberto, em R$ (Origem + Destino) 66,800,000 32,600,000 6,215,226 3,287,722 27,211 22,747 76 40 Média do Número de Restaurantes (Origem + Destino) 109 54 Média do Número de Hotéis (Origem + Destino) 124 67 Média de Passageiros/Ano Etapa de Vôo Média, em km Percentual de Vôos Intra‐Regionais Média do Número de Municípios Cobertos (Origem + Destino) Média do PIB Coberto, em R$ (Origem + Destino) Média do PIB da Agricultura Coberto, em R$ (Origem + Destino) Média da População Coberta, em R$ (Origem + Destino) Média do PIB per Capta da População Coberta, em R$ (Origem + Destino) Média do Número de Atrações Turísticas (Origem + Destino) 70 Capítulo II Estudo da Demanda Potencial e Identificação de Oportunidades para a Aviação Regional Brasileira 71 II.1. Estudo da Demanda por Transporte Aéreo a partir de um Modelo de Escolha das Microrregiões do IBGE O presente capítulo visa promover um estudo de demanda efetiva e potencial pelo transporte aéreo no Brasil. Para isso, será efetuado um desenvolvimento de modelagem quantitativa da demanda por transporte aéreo regular no Brasil, tendo como unidade de análise as microrregiões do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A partir do estudo dos determinantes da presença ou não de vôos regulares nas microrregiões brasileiras, foi possível apontar um conjunto de variáveis explicativas com considerável poder preditivo das potencialidades de atração de vôos regulares pelas localidades brasileiras. Com este estudo de demanda, viabilizou-se a identificação das microrregiões com alto e médio potenciais de geração de demanda por transporte aéreo. Adicionalmente, foi possível extrair uma métrica de sensibilidade às políticas de crescimento das localidades (a elasticidadePIB), que permite apontar quais microrregiões apresentam maior retorno ao investimento público ou privado que vise fomentar o turismo e o crescimento econômico. Por fim, com base nas probabilidades e elasticidades-PIB estimadas, efetuou-se uma classificação de microrregiões, bem como de Destinos Indutores e Roteiros Turísticos do Ministério do Turismo, visando apontar os estágios da indução de demanda por transporte aéreo de cada uma delas. Foram, assim, classificadas as localidades em “Estágio Inicial”, “Estágio de Crescimento” e “Estágio de Maturidade”. Os dois primeiros tipos foram considerados prioritários no sentido da alavancagem do crescimento e do desenvolvimento sustentável do turismo no País. O apontamento de microrregiões de potencial aqui desenvolvido permite um embasamento maior para os caminhos de expansão a serem trilhados por companhias regionais quando da revisão de suas malhas aéreas. Adicionalmente, este exercício de análise quantitativa é fundamental para o subsídio a políticas públicas de fomento e indução do desenvolvimento turístico e para a promoção de investimentos em infraestrutura aeroportuária ao longo do território nacional. Proporciona 72 bases, portanto, para o planejamento de ações de companhias aéreas, ANAC e governo. II.1.1 Modelagem dos Determinantes da Presença da Aviação Regular A seguir, são apresentados detalhes do exercício de modelagem da demanda por transporte aéreo regular das microrregiões brasileiras. Utilizou-se um modelo econométrico de escolha discreta, do tipo probit binomial com desvios padrões ajustados com correção de heteroscedasticidade e com controle de efeitos de correlação dentro de clusters regionais. Assume-se, neste trabalho, que a relação de demanda por transporte aéreo regular está implícita na seguinte modelagem da escolha das localidades em (1): ⎡ pibk , pib entorno k , areak , atrações k , ⎤ Pr [AVREGk = 1] = Φ ⎢ ⎥ ⎣distância capital k , distância aeroporto k , Ω r , ε k ⎦ (1) Onde as variáveis de regressão são as seguintes: • AVREGk é uma variável binária, indicativa da presença, ou não, de transporte aéreo regular na microrregião k. Essa variável foi construída a partir de um cruzamento de informações dos aeroportos que constavam do sistema de vôos regulares HOTRAN da ANAC entre 2006 e 2008, com a listagem das respectivas microrregiões do IBGE. • Pr[AVREGk = 1] representa a probabilidade de que uma localidade apresente vôos regulares (isto é, a variável binária AVREGk assuma um valor igual a 1). • Φ[*] é uma função representativa da distribuição de probabilidades, e possui uma especificação de distribuição Normal (modelo probit). 73 • pibk é o produto interno bruto (PIB) da microrregião k (valores correntes de 2005). Essa variável indica o estado de desenvolvimento econômico das microrregiões, sendo uma proxy para atratividade de tráfego de negócios e para a geração de renda e bem-estar da população local – o que induz tráfego por motivos pessoais e turismo. Fonte: IBGE. • pib entornok é o produto interno bruto (PIB) das outras microrregiões na mesma mesorregião a que k pertence. Essa variável é representativa da importância relativa da localidade com relação às localidades adjacentes, em seu entorno. Espera-se ex ante que os maiores potenciais de indução de tráfego sejam referentes às microrregiões com maior influência em uma mesorregião, ou seja, aquelas com maior desenvolvimento econômico relativo. Fonte: IBGE e cálculos NECTAR. • areak é a área, em quilômetros quadrados, da microrregião k. Indicativa das distâncias cobertas pela microrregião. Espera-se que, quanto maior a área de uma determinada microrregião, mais municípios são englobados, maior a população abrangida e maior a necessidade de deslocamentos e de indução de tráfego. • atraçõesk é uma variável representativa do número de atrações turísticas da microrregião k. Quanto maior o número de atrações turísticas, maior a potencialidade de indução de viagens aéreas para a microrregião k. Fonte: Guia Quatro Rodas. • distância capitalk indica a distância média, em quilômetros, à capital estadual dos municípios pertencentes à microrregião k. Quanto maior a distância à capital estadual, menor a possibilidade de se efetuar os vôos nos aeroportos hubs e, portanto, maior a necessidade de indução de tráfego na localidade. Se a microrregião contiver um hub grande ou médio (de acordo com a classificação FAA), então a 74 respectiva observação dessa variável é atribuída com o valor zero. Fonte: Ipeadata, com cálculo baseado nas coordenadas geodésicas do cadastro de cidades e vilas do IBGE de 1998. • distância aeroportok indica a distância média, em quilômetros, das cidades da microrregião k ao aeroporto mais próximo fora da microrregião k. Quanto maior a distância, menor a possibilidade de se efetuar os vôos nesses aeroportos e, portanto, maior a necessidade de indução de tráfego na localidade. Fonte: HOTRAN e Ipeadata, com cálculo baseado nas coordenadas geodésicas do cadastro de cidades e vilas do IBGE de 1998. • Ωr representa um conjunto de fatores não-observáveis ao modelador e que são indicativos das potencialidades dos microrregiões de uma dada macrorregião r. Se uma dada macrorregião possui, em média, melhor infra-estrutura de transportes, ou melhor acessibilidade aos aeroportos, por exemplo, esses fatores serão controlados por esse vetor, cuja configuração empírica se deu na forma de variáveis dummies de macrorregião: reg_n para a região norte, reg_ne para a região nordeste, reg_co para a região centrooeste e reg_s para a região sul; a região sudeste ficou como caso-base das variáveis dummies no modelo de regressão. • Por fim, εk é o termo residual, aleatório, da regressão. As variáveis de controle da heteroscedasticidade foram pibk, areak e distânciak. O controle dos clusters regionais se deu em nível de unidade da federação. Os resultados do modelo econométrico dos determinantes da presença de vôos regulares nas microrregiões brasileiras estão apresentados na Tabela 15 a seguir: 75 Tabela 15 – Resultados das Estimações20 Variável Descrição da Variável Elasticidades Estimadas Desvio Padrão Valor P pibk produto interno bruto 1.84 0.36 0.0% pib entornok pib nas microrregiões de entorno ‐0.22 0.24 36.2% areak área em km2 0.15 0.05 0.2% atraçõesk número de atrações 0.06 0.03 2.6% distânciak distância da capital estadual 0.53 0.16 0.1% distância aerok distância do aeroporto mais próximo 0.71 0.18 0.0% reg_co especificidades da região c‐oeste ‐0.01 0.03 75.8% reg_ne especificidades da região nordeste ‐0.01 0.08 87.8% reg_n especificidades da região norte 0.06 0.04 14.8% reg_s especificidades da região sul 0.05 0.05 35.4% A Tabela 15 apresenta as elasticidades estimadas para cada uma das variáveis do modelo econométrico, em conjunto com o desvio padrão das estimativas e o P-Valor. Para se inferir acerca da significância estatística das elasticidades apresentadas, basta verificar se o P-Valor das mesmas apresenta-se abaixo de 1% ou 5%. É possível observar que a maioria das variáveis são, segundo esse critério, estatisticamente significantes, o que atesta a qualidade do modelo. Apenas alguns efeitos específicos das macrorregiões mostraram-se insignificantes do ponto de vista estatístico. De forma geral, o modelo se comportou bem, de acordo com o esperado ex ante. O coeficiente de ajuste R2 do modelo probit, é, em casos típicos, o R2 de McFadden, e ficou em torno de 0,44. Esse valor 20 A estatística Wald – Qui Quadrado (para nove graus de liberdade) do modelo estimado ficou em 32.9 (P-Valor menor que 1%), o que mostrou que o modelo passa no teste de hipóteses da nulidade conjunta de todos os coeficientes das variáveis propostas. 76 pode ser considerado alto para modelos de escolha binária. Utilizando o R2 de McKelvey e Zavoina, que contabiliza o potencial de previsão do modelo, esse R2 sobe para 0,819 (tendo como máximo a unidade). II.1.2 Análise das Elasticidades do Modelo de Escolha As elasticidades estimadas a partir do Modelo de Escolha apresentado na seção anterior são melhor comparáveis no gráfico da Figura 25 a seguir. Por definição, tem-se que a elasticidade é um valor sem unidade de medida, e que reflete a variação percentual na probabilidade de geração de tráfego aéreo regular advinda de uma variação de 1% na respectiva variável. Assim, se aumentarmos em 1% o share do PIB de uma determinada microrregião (sharepibk), teremos que a probabilidade de geração de tráfego aéreo aumenta em 0,34%, e por isso a elasticidade dessa variável é igual a 0,34. A mesma interpretação pode ser dada às demais elasticidades estimadas, que foram extraídas no ponto médio da amostra: 1.84 0.71 0.53 pib nas microrregiões de entorno pib na microrregião 0.15 área territorial ‐0.22 0.06 número de atrações turísticas distância da capital estadual Figura 25 – Elasticidades Estimadas distância do aeroporto mais próximo 77 Atentando-se para a Figura 25, temos que todas as demais elasticidades estimadas apresentaram um sinal condizente com a expectativa. Por exemplo, os coeficientes de pibk e atraçõesk foram positivos, indicando que o estágio de desenvolvimento econômico e turístico de uma microrregião contribuem positivamente com a indução de tráfego aéreo regular. O fato do coeficiente da variável atraçõesk ser estatisticamente significante demonstra claramente que localidades com potencial turístico podem induzir tráfego aéreo regular na microrregião. Os resultados da variável representativa do PIB são extremamente importantes para a avaliação da eficácia de políticas de fomento do crescimento e desenvolvimento das localidades na geração de demanda por transporte aéreo regular. Isso porque, com uma elasticidade-PIB alta, temos que políticas que logrem induzir a economia das localidades em uma pequena fração, terão forte alavancagem de potencial de demanda por vôos. De fato, quando extraída na média amostral, a elasticidade estimada da variável pibk é +1,84, mais que o dobro da segunda maior elasticidade (distância ao aeroporto mais próximo, cujo coeficiente estimado ficou em +0,71). Para ilustrar a importância da elasticidade-PIB na avaliação da eficácia de políticas públicas de fomento ao turismo nas localidades, considere a seguinte simulação. Tem-se que o turismo representa, em média, 2% do PIB do Brasil (Conta Satélite do Turismo). Suponha uma localidade que esteja em uma situação próxima à média brasileira, ou seja, com um PIB de Turismo igual a 2% do PIB municipal. Suponha uma política pública visando a alavancagem do PIB turístico da localidade em 50% (na forma de investimentos em treinamento de agentes, melhorias de qualidades das atrações locais, estabelecimento de novos hotéis e pousadas ou de infra-estrutura necessária). Sendo assim, um investimento que alavanque o turismo de uma localidade em 50% incrementará o PIB, em média, em 1% (50% vezes 2%). Uma avaliação da eficácia da política pública de fomento do turismo, no que tange à geração e alavancagem de novos turistas por modal aéreo é a seguinte: Com um aumento de 1% do PIB, qual será o aumento da probabilidade de demanda por transporte aéreo regular? 78 Temos que a elasticidade-PIB proporciona a resposta mais precisa a essa pergunta, justamente porque é a partir de sua extração é que este cálculo é efetuado: se a demanda for inelástica, então o aumento na probabilidade de demanda devido a um aumento de 1% no PIB, será menor do que 1%; caso a demanda seja elástica, então o aumento na probabilidade de demanda será maior do que 1%. Quanto maior for a elasticidade, mais eficaz o investimento em turismo da localidade, dado que induzirá tráfego aéreo e fomentará a vinda de novos turistas mais do que proporcionalmente. Como conclusão, temos que o estudo detalhado da elasticidadePIB da demanda ao longo do território nacional proporciona importantes insights quanto à eficácia das políticas públicas de turismo. Igualmente importante, o Modelo de Escolha aqui estimado permite apontar essas elasticidades para cada microrregião do Brasil. 79 II.2 Estudo dos Estágios da Indução de Demanda de Destinos Indutores e Roteiros Turísticos Brasileiros II.2.1 Os Estágios dos Potenciais de Indução de Demanda Até o momento, buscou-se investigar e compreender o processo formador das probabilidades de atração de vôos regulares ao longo do território nacional. A partir de um Modelo de Escolha das microrregiões do IBGE, apresentado na seção anterior, buscou-se identificar e quantificar as variáveis determinantes das potencialidades de indução de demanda por transporte aéreo regular. Um conjunto de elasticidades foram extraídas como forma de ampliar o conhecimento acerca dos potenciais atrativos das localidades brasileiras, com destaque para o papel da elasticidade-PIB da demanda potencial. Adicionalmente ao estudo das elasticidades-PIB das localidades, torna-se imprescindível um adequado entendimento de como se comportam as probabilidades estimadas de geração de demanda de acordo com as localidades, dadas as suas características. A partir dessas probabilidades, igualmente passíveis de extração a partir do Modelo de Escolha estimado e apresentado na seção anterior, é possível apontar qual o estágio de atração de vôos de cada uma das microrregiões do País. A Figura 26 a seguir apresenta uma concepção dos estágios por quais passa uma localidade em termos da geração de demanda por transporte aéreo regular. 80 Demanda por Vôos Inicial Crescimento Maturidade Economia Figura 26 – Estágios da Demanda por Vôos Regulares em uma Localidade Como a Figura 26 permite observar, uma determinada localidade pode se encontrar em um dos 3 estágios de demanda por aviação regular: 1. Estágio Inicial, onde existe um potencial de demanda, mas que se encontra inexplorado, requerendo um forte estímulo econômico e altos investimentos privados e públicos para que a demanda se materialize em efetivo tráfego aéreo. O retorno de qualquer investimento em localidades nesse estágio será relativamente baixo. Isso não significa que essas localidades devam ser desconsideradas para fins de políticas públicas, mas que devem ser alocados maiores montantes de recursos caso as autoridades esperem o mesmo retorno alcançado por investimentos em localidades em crescimento. As probabilidades de geração de tráfego, nesse estágio, são também baixas. 81 2. Estágio de Crescimento, onde o potencial de demanda é elevado e iminente, bastando um pequeno fator catalisador para que ele se materialize em indução de tráfego. Com probabilidades médias de atração de vôos regulares, essas localidades apresentam elasticidades-PIB bastante elevadas, que proporcionam um retorno elevado a políticas que visem o fomento das mesmas. Não demandam, portanto, tantos investimentos quanto no caso das localidades em Estágio Inicial de geração de demanda. 3. Estágio de Maturidade, onde a localidade já apresenta alta probabilidade de atração de vôos e de geração de demanda. Em geral, se trata de microrregiões com municípios em estágio avançado de crescimento econômico, como as capitais de estado. Nessas microrregiões, tem-se dois resultados: ou todo o potencial de atração de vôos já vem sendo explorado, restando às próprias companhias aéreas encontrarem novos nichos de demanda, ou existe algum gargalo de infra-estrutura (aeroportuária, viária, turística, etc.) que impede que o potencial seja devidamente explorado. Os investimentos necessários são, em geral, voltados para a infra-estrutura escassa, como na ampliação de aeroportos metropolitanos. A eficácia das políticas públicas no fomento do turismo nessas localidades será baixa, dado que já existe uma alta propensão a viajar e dado que o PIB já é elevado. Temos, assim, que a elasticidade-PIB dessas localidades é, em geral, muito baixa. Importante salientar, contudo, que os investimentos em remoção dos gargalos em infra-estrutura nessas localidades podem render retornos altíssimos aos investimentos, dado que não necessitam de incremento do PIB para que haja a materialização da demanda por vôos. 82 A Figura 27 apresenta um sumário com as características de cada um desses estágios. Demanda por Vôos Inicial • Probabilidade Baixa •Potencial Inexplorado • Retorno Baixo • Necessitam de Altos Investimentos Crescimento • Probabilidade Média • Potencial Inexplorado ou Pouco Explorado • Retorno Elevado • Não demandam tantos Investimentos Maturidade • Probabilidade Alta •Potencial explorado • Retorno Baixo • Em geral não dependem de Investimentos para indução de tráfego, mas para eliminar gargalos Economia Figura 27 - Estágios da Demanda por Vôos: Características A Figura 28 apresenta as Elasticidades-PIB esperadas para localidades em cada um dos estágios de indução de demanda por transporte aéreo. Por fim, a Figura 29 apresenta exemplos de localidades nos estágios. 83 Demanda por Vôos Inicial Inelástico ao PIB, Quase Elástico ou Elasticidade Baixa Crescimento Elasticidade ao PIB: Média ou Alta Maturidade Inelástico ao PIB Economia Figura 28 - Estágios da Demanda por Vôos Regulares: Elasticidades Demanda por Vôos Inicial Crescimento Maturidade 4 Salvador/BA Ipojuca/PE 4 Diamantina/MG 4 Figura 29 – Estágios da Demanda por Vôos Regulares: Exemplos Economia 84 II.2.2 Classificação de Microrregiões, Destinos Indutores e Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Geração de Demanda A partir da modelagem empírica apresentada em II.2.1, foi possível realizar um exercício de classificação de cada uma das microrregiões brasileiras de acordo com os estágios de indução de demanda por transporte aéreo. Classificou-se como “Estágio de Crescimento” aquelas microrregiões com elasticidade-PIB acima da unidade; como “Estágio de Maturidade” aquelas localidades com elasticidade-PIB abaixo de 1 mas com probabilidade estimada de escolha acima de 50%; e por fim, como “Estágio Inicial” as demais localidades. De posse dessa classificação será possível às autoridades um apontamento mais preciso das necessidades de investimento público e de formulação de políticas de indução do turismo ao longo do território nacional. Como enfatizado, esse exercício foi desenvolvido a partir da extração dos resultados de previsões do Modelo de Escolha estimado. Em paralelo à classificação das microrregiões do IBGE por estágio de desenvolvimento de demanda por transporte aéreo, foi também realizado um exercício de classificação dos 65 Destinos Indutores e dos 396 Roteiros Turísticos selecionados no âmbito do Ministério do Turismo. Utilizou-se, para isso, as elasticidades-PIB estimadas para as respectivas microrregiões, no caso dos Destinos Indutores, e das médias das elasticidades-PIB de cada microrregião envolvida, no caso dos Roteiros Turísticos. A seguir são apresentados mapas e tabelas com detalhamento da classificação das microrregiões e dos respectivos Destinos Indutores e de exemplos de Roteiros Turísticos de cada uma das macrorregiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). Novamente, para efeitos dessa apresentação, foi utilizada a definição de “hub grande”, “hub médio” e “hub pequeno” adotada pela Federal Aviation Administration, FAA, dos Estados Unidos. Segundo a FAA, para um aeroporto ser considerado “hub grande”, ele deve movimentar mais do que 1% dos embarques e desembarques de passageiros de um País. 85 Relembrando, temos que os aeroportos “hub médios” da FAA são aqueles que movimentam entre 0,25% e 1% do total dos passageiros, enquanto os “hubs pequenos” são aqueles que movimentam entre 0,05% e 0,25%. Abaixo dos 0,05% de participação da movimentação de passageiros no total do sistema aéreo, o aeroporto é considerado “nãohub” ou “local”. Utiliza-se as legendas para aeroportos classificados como “hubs grandes”, para “hubs médios”, para “hubs pequenos” e para “aeroportos locais”. S # Oiapoque BVista # S Amapá S # T $ Macapá SGabriel S # SIsabel S # Japurá S # Oriximiná S # Óbidos S # Urucará Parintins S # FBoa S # SAntônio S # # S Manaus # Y Tefé S # SPaulo S # TSantarém $ # Y Breves S # Baião S # Paragomins#S Altamira # S ItaitubaRurópolis S # Tucuruí S # NAripuanã S # Marabá # S Manicoré S # Parauapebs S # Jacareacnga S # Eirunepé S # SFélix Tucumã S # S# # S Ourilândia Lábrea S # #Cruzeiro S PMoz S # # S Borba S # Carauari S # Belém MAlegre S # Maués S # NOlinda S # Coari S # Tabatinga S # Soure S # Almeirim S # Barcelos S # Araguaína S # Humaitá S # Redenção S # Tarauacá#S Feijó S # S # PVelho T $ Boca S # NProgresso S # T $ Conceição Santana S # RBranco Palmas # S Guajará S # JParaná # S Cacoal S # Inicial Crescimento Maturidade CMarques S # Gurupi S # Vilhena S # Figura 30 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Norte 86 Tabela 16 – Destinos Indutores de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Norte Destino Indutor UF Elasticidade ao PIB Probabilidade de Demanda Classificação Mateiros Barcelos Palmas Santarém Macapá Parintins Porto Velho Rio Branco Boa Vista Manaus Belém TO AM TO PA AP AM RO AC RR AM PA 0.37 2.27 1.67 0.55 0.43 0.31 0.21 0.05 0.00 0.00 0.00 21% 0% 33% 70% 91% 58% 97% 99% 100% 100% 100% Inicial Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. Tabela 17 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Norte Roteiro Turístico Cidades Amazônia Mar e Campo Belém/PA ‐ Bragança/PA ‐ Capanema/PA ‐ Salinópolis/PA ‐ PA Tracuateua/PA Dianópolis/TO ‐ Natividade/TO TO Mateiros/TO ‐ Novo Acordo/TO ‐ Ponte Alta do TO Tocantins/TO ‐ São Félix do Tocantins/TO Brejinho de Nazaré/TO ‐ Ipueiras/TO ‐ Lajeado/TO ‐ TO Monte do Carmo/TO ‐ Palmas/TO ‐ Paraíso do Tocantins/TO ‐ Porto Nacional/TO Barcelos/AM ‐ Manaus/AM AM Araguacema/TO ‐ Caseara/TO ‐ Divinópolis do TO Tocantins/TO ‐ Dois Irmãos do Tocantins/TO ‐ Formoso do Araguaia/TO ‐ Lagoa da Confusão/TO ‐ Pium/TO Natureza Mistíca Jalapão Serras e Lago Roteiro do Tucunaré Rota das Águas ‐ TO UF Elasticidade Probabilidade Classificação ao PIB de Demanda 0.55 36% Inicial 0.38 0.37 39% 21% Inicial Inicial 1.42 27% Crescimento 1.13 1.10 50% 9% Crescimento Crescimento Rota Ecoturística Caminhos Capixaba/AC ‐ Rio Branco/AC ‐ Senador Guiomard/AC ‐ de Chico Mendes Xapuri/AC AC 0.13 76% Maturidade Roteiro Mamirauá Pesque Xingu AM PA 0.10 0.01 71% 100% Maturidade Maturidade Manaus/AM ‐ Tefé/AM Altamira/PA ‐ Brasil Novo/PA ‐ Vitória do Xingu/PA Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. 87 T $ Parnaíba S # SLuís Sobral Fortaleza Noronha # Y S # Bacabal # S S # Teresina Mossoró Crateús T $ Imperatriz S # S # # S Natal # Y Iguatu S # Floriano Picos S # S # Balsas # S S # CGrande JPessoa T $ # S Juazeiro Recife # Y PAfonso Juazeiro S # #Petrolina S Maceió T $ S # CFormoso S # Aracaju T $ Barreiras S # S # Lençóis S # LEMagalhães Salvador # Y BJLapa S # Jequié Guanambi S # S # Ilhéus TUna $ S # S # Vconquista Porto Seguro T $ TFreitas Mucuri Caravelas S # S # S # Inicial Crescimento Maturidade Figura 31 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Nordeste 88 Tabela 18 – Destinos Indutores de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Nordeste Destino Indutor UF Elasticidade ao PIB Probabilidade de Demanda Classificação Parnaíba Lençóis Barreirinhas Maragogi Mata de São João Ipojuca Tibau do Sul Maraú Aracati Jijoca de Jericoacoara Nova Olinda Aracaju Teresina João Pessoa Natal São Raimundo Nonato Porto Seguro Maceió Fernando de Noronha São Luís Salvador Fortaleza Recife PI BA MA AL BA PE RN BA CE CE CE SE PI PB RN PI BA AL PE MA BA CE PE 0.66 0.58 0.55 0.40 4.77 4.53 1.48 1.36 1.14 1.09 0.49 0.30 0.27 0.27 0.16 0.14 0.14 0.11 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00 26% 35% 0% 0% 0% 33% 0% 1% 0% 7% 75% 97% 97% 98% 99% 53% 98% 99% 61% 100% 100% 100% 100% Inicial Inicial Inicial Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. 89 Tabela 19 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Nordeste Roteiro Turístico Cidades 0.58 1% Inicial MA 0.51 0% Inicial AL 0.32 28% Inicial PE 3.03 15% Crescimento BA 2.91 0% Crescimento Aracaju/SE ‐ Canindé de São Francisco/SE ‐ Monte Alegre SE de Sergipe/SE ‐ Poço Redondo/SE Barbalha/CE ‐ Crato/CE ‐ Juazeiro do Norte/CE ‐ Nova CE Olinda/CE ‐ Santana do Cariri/CE Belmonte/BA ‐ Porto Seguro/BA ‐ Santa Cruz Cabrália/BA BA 1.88 26% Crescimento 0.49 75% Maturidade 0.41 93% Maturidade Aracaju/SE ‐ São Cristóvão/SE 0.30 97% Maturidade Roteiro Costa dos Coqueiros Entre Rios/BA ‐ Mata de São João/BA Cariri do Ceará Roteiro Caminhos do Descobrimento Roteiro Praias de Aracaju Elasticidade Probabilidade Classificação ao PIB de Demanda RN Roteiro Caminhos no Sertão Acari/RN ‐ Caicó/RN ‐ Carnaúba dos Dantas/RN ‐ Cerro do Seridó Corá/RN ‐ Currais Novos/RN ‐ Florânia/RN ‐ Jardim do Seridó/RN ‐ Lagoa Nova/RN ‐ Parelhas/RN ‐ Timbaúba dos Batistas/RN Delta das Américas Água Doce do Maranhão/MA ‐ Araioses/MA ‐ Paulino Neves/MA ‐ Tutóia/MA Costa dos Corais Japaratinga/AL ‐ Maceió/AL ‐ Maragogi/AL ‐ Paripueira/AL ‐ Passo de Camaragibe/AL ‐ Porto de Pedras/AL ‐ São Miguel dos Milagres/AL Rota Engenhos e Maracatus Carpina/PE ‐ Lagoa do Carro/PE ‐ Nazaré da Mata/PE ‐ Paudalho/PE ‐ Recife/PE ‐ Tracunhaém/PE ‐ Vicência/PE Roteiro Xingó UF SE Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. 90 Cotriguaçu S # Aripuanã S # S # Juruena Juína S # AFloresta S # S # # S Colíder S # Guarantã S # Matupá Confresa#S VRica Juara S # São Félix S # Sinop S # Sorriso S # LRVerde Sapezal S # S # Minaçu#S Canarana S # CNParecis S # Tangará S # Niquelândia#S NXavantina S # Cuiabá # Y Pontal S # Rondonópls S # Brasília BGarças S# # S Aragarças RVerde S # Goiânia # Y # Y S # Anápolis Caldas S # Itumbiara S # Corumbá # S CGrande T $ Bonito S # Inicial Crescimento Maturidade PPorã S # Dourados S # Figura 32 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região C‐Oeste 91 Tabela 20 – Destinos Indutores de Acordo c/ o Estágio de Indução de Demanda: Região C‐Oeste Destino Indutor UF Elasticidade ao PIB Probabilidade de Demanda Classificação Bonito Alto Paraíso de Goiás Caldas Novas Pirenópolis Cáceres Cuiabá Campo Grande Corumbá Brasília Goiânia MS GO GO GO MT MT MS MS DF GO 0.74 0.54 2.61 2.32 1.07 0.05 0.04 0.03 0.00 0.00 11% 5% 37% 52% 5% 100% 100% 99% 100% 100% Inicial Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. Tabela 21 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Centro‐Oeste Roteiro Turístico Cidades UF Elasticidade Probabilidade Classificação ao PIB de Demanda Ecoturismo do Pantanal ao Aquidauana/MS ‐ Bodoquena/MS ‐ Bonito/MS ‐ Campo MS Iguassu Grande/MS ‐ Corumbá/MS ‐ Foz do Iguaçu/PR ‐ Guaíra/PR ‐ Jardim/MS ‐ Miranda/MS ‐ Porto Murtinho/MS 0.86 45% Inicial 2E 0.73 43% Inicial GO 0.69 16% Inicial GO MT 1.74 1.19 58% 68% Crescimento Crescimento MS 1.07 5% Crescimento DF 1.16 76% Maturidade MT 0.97 60% Maturidade MS 0.54 50% Maturidade Roteiro Integrado Distrito Federal/Goiás Alto Paraíso de Goiás/GO ‐ Brasília/DF ‐ Brasília/DF ‐ Brasília/DF ‐ Cavalcante/GO ‐ Formosa/GO ‐ Planaltina/GO ‐ São Domingos/GO ‐ São João d'Aliança/GO ‐ Teresina de Goiás/GO Roteiro Ecoturismo e Pesca Goiás/GO ‐ São Miguel do Araguaia/GO – Rio Araguaia Águas Quentes Brasília/DF ‐ Caldas Novas/GO ‐ Rio Quente/GO Rota das Águas Termais e Campo Verde/MT ‐ Cuiabá/MT ‐ Dom Aquino/MT ‐ da Aventura Jaciara/MT ‐ Juscimeira/MT ‐ São Pedro da Cipa/MT ‐ Várzea Grande/MT Travessia do Pantanal ‐ MS Cáceres/MT ‐ Campo Grande/MS ‐ Corumbá/MS ‐ Cuiabá/MT ‐ Ladário/MS ‐ Poconé/MT ‐ Porto Murtinho/MS ‐ Várzea Grande/MT Brasília/DF ‐ Planaltina/GO Roteiro Brasília/Chapada dos Veadeiros Roteiro Caminhos de Barra do Bugres/MT ‐ Campo Novo do Parecis/MT ‐ Rondon Cuiabá/MT ‐ Sapezal/MT ‐ Tangará da Serra/MT ‐ Várzea Grande/MT Roteiro Pantanal de Abrobal Corumbá/MS ‐ Miranda/MS e Estrada Parque Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. 92 # S MClaros TOtoni S # S # Nanuque Diamantna S # Patos Uberlândia S # T $ Araxá Santana Confins S # Uberaba # S SMateus GValadares # S # Y # YPampulha Divinópls S # # S Vitória # Y S # Franca Barretos S # SJRPreto T $ Araraquara S # S # Varginha SCarlos S # Campos S # Macaé Resende S # S # Galeão S # Ourinhos CItapemirim Itaperuna #S JFora # S S # S # S # Bauru # S Barbacena Passos PCaldas S # S # # Marília S Assis S # Matão Lins S # S # S # S # TRPreto $ Tupã # PPrudente S SJosé S # # Araçatuba S Guarapari Viracopos # Y Sorocaba S # SJCampos # S # YGuarulhos # Y# Y CFrio S # SDumont # Y Congonhas Inicial Crescimento Maturidade Figura 33 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Sudeste Tabela 22 – Destinos Indutores de Acordo c/ o Estágio de Indução de Demanda: Região Sudeste 93 Destino Indutor UF Elasticidade ao PIB Probabilidade de Demanda Classificação Diamantina Petrópolis Ouro Preto Ilhabela Angra dos Reis Parati Tiradentes Armação dos Búzios Vitória Belo Horizonte Rio de Janeiro São Paulo MG RJ MG SP RJ RJ MG RJ ES MG RJ SP 0.48 12.92 5.73 2.22 1.80 1.80 1.60 0.15 0.00 0.00 0.00 0.00 2% 0% 1% 22% 35% 35% 4% 99% 100% 100% 100% 100% Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. Tabela 23 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Sudeste Elasticidade Probabilidade Classificação ao PIB de Demanda Roteiro Turístico Cidades UF Circuito Tere ‐ Fri Encantos Escondidos da Serra do Cipó Circuito entre Serras e Águas Nova Friburgo/RJ ‐ Teresópolis/RJ Jaboticatubas/MG ‐ Santana do Riacho/MG RJ MG 8.01 7.67 2% 1% Crescimento Crescimento Atibaia/SP ‐ Bom Jesus dos Perdões/SP ‐ Bragança Paulista/SP ‐ Guarulhos/SP ‐ Jarinu/SP ‐ Joanópolis/SP ‐ Mairiporã/SP ‐ Nazaré Paulista/SP ‐ Pedra Bela/SP ‐ Pinhalzinho/SP ‐ Piracaia/SP ‐ Tuiuti/SP ‐ Vargem/SP SP 5.68 29% Crescimento Circuito Vale Histórico Arapeí/SP ‐ Areias/SP ‐ Bananal/SP ‐ Queluz/SP ‐ São José SP do Barreiro/SP ‐ Silveiras/SP Serro/MG MG 0.92 4% Inicial Do Arraial do Tijuco a Vila do Príncipe Conhecendo Diamantina e Diamantina/MG ‐ Serro/MG MG Região Rio ‐ Paraiso do Sol Armação dos Búzios/RJ ‐ Arraial do Cabo/RJ ‐ Cabo Frio/RJ RJ 0.79 0% Inicial 0.63 1% Inicial 0.15 99% Maturidade SP 0.09 99% Maturidade SP 0.06 100% Maturidade Roteiro dos Bandeirantes Capital / Caminhos do Mar Araçariguama/SP ‐ Cabreúva/SP ‐ Itu/SP ‐ Pirapora do Bom Jesus/SP ‐ Porto Feliz/SP ‐ Salto/SP ‐ Santana de Parnaíba/SP ‐ Tietê/SP Cubatão/SP ‐ Santo André/SP ‐ São Bernardo do Campo/SP ‐ São Paulo/SP Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. 94 Londrina T $ TMaringá $ TBorba # Toledo Cascavel # # Guarapuava PGrossa # Curitiba # Foz T $ # Y PBranco Joinville T $ # Caçador Blumenau Videira T $ Chapecó # Concórdia Navegantes Joaçaba Horizontina Erchim Lages Florianópls# Y # # # # SRosa # # # # # SÂngelo # PFundo ARocha # Criciúma # # Caxias T $ SMaria Uruguaiana # # PAlegre # Y Santana # Pelotas RGrande # # Inicial Crescimento Maturidade Figura 34 – Microrregiões de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Sul 95 Tabela 24 – Destinos Indutores de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Região Sul Destino Indutor UF Elasticidade ao PIB Probabilidade de Demanda Classificação Gramado Paranaguá São Joaquim Foz do Iguaçu Balneário Camboriú Florianópolis Bento Gonçalves Curitiba Porto Alegre RS PR SC PR SC SC RS PR RS 5.55 3.86 1.88 1.74 0.18 0.00 0.00 0.00 0.00 1% 28% 39% 74% 99% 100% 100% 100% 100% Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. Tabela 25 – Roteiros Turísticos de Acordo com o Estágio de Indução de Demanda: Exemplos da Região Sul Roteiro Turístico Cidades UF Elasticidade Probabilidade Classificação ao PIB de Demanda Grandes Cenários Bonito/MS ‐ Campo Grande/MS ‐ Foz do Iguaçu/PR ‐ Ecológicos – do Iguassu ao Miranda/MS Pantanal Tour Região das Hortênsias Canela/RS ‐ Gramado/RS ‐ Nova Petrópolis/RS ‐ São Francisco de Paula/RS Destino Ilha do Mel (PR) Antonina/PR ‐ Curitiba/PR ‐ Morretes/PR ‐ Paranaguá/PR ‐ Pontal do Paraná/PR Serra Mar Florianópolis/SC ‐ Gravatal/SC ‐ Imbituba/SC ‐ Jacinto Machado/SC ‐ Laguna/SC ‐ Praia Grande/SC ‐ São Joaquim/SC ‐ Urubici/SC Rota dos Sonhos Balneário Camboriú/SC ‐ Blumenau/SC ‐ Bombinhas/SC ‐ Itajaí/SC ‐ Joinville/SC ‐ Navegantes/SC ‐ Nova Trento/SC ‐ Penha/SC ‐ Porto Belo/SC PR 0.89 47% Inicial RS 4.64 3% Crescimento PR 3.09 42% Crescimento SC 2.15 33% Crescimento SC 0.32 88% Maturidade Pólo de Aventura Rio das Antas RS 0.27 94% Maturidade PR 0.00 100% Maturidade Curitiba e Rotas do Pinhão Antônio Prado/RS ‐ Bento Gonçalves/RS ‐ Carlos Barbosa/RS ‐ Caxias do Sul/RS ‐ Cotiporã/RS ‐ Nova Pádua/RS ‐ Nova Roma do Sul/RS ‐ Vila Maria/RS Campo Largo/PR ‐ Curitiba/PR ‐ São José dos Pinhais/PR Fonte: HOTRAN/ANAC, IBGE, IPEADATA e modelo probit estimado. 96 Por fim, a Tabela 26 a seguir apresenta a síntese dos resultados das classificações das microrregiões do IBGE, dos Destinos Indutores e dos Roteiros Turísticos efetuados a partir das elasticidades-PIB e das probabilidades estimadas com o modelo econométrico de escolha discreta do presente estudo. Tabela 26 – Estágios de Indução de Demanda: Quadro Resumo Estágio Microrregiões IBGE Destinos Indutores Roteiros Turísticos Inicial 178 32% 8 12% 55 14% Crescimento 277 50% 21 32% 226 57% Maturidade 103 18% 36 55% 115 29% Total 558 100% 65 100% 396 100% Com ela, temos que à exceção dos Destinos Indutores, a maior parte dos Roteiros Turísticos (57%) e Microrregiões (50%) do País encontra-se em estágio de “Crescimento”, tendo razoável potencialidade de indução de demanda. Isso significa que políticas de fomento ao desenvolvimento e de investimentos públicos e privados em turismo nas localidades brasileiras apresentam boas perspectivas de retorno em termos de geração de demanda por transporte aéreo. Os Destinos Indutores encontram-se em sua maioria em estágio de “Maturidade” (55%) – resultado esperado ex-ante, dado que boa parte está relacionada a capitais de estado e a regiões que já apresentam seu potencial de demanda por transporte aéreo largamente explorados, bastando aos governos e autoridades que fomentem o investimento público ou privado na remoção dos gargalos de infra-estrutura (aeroportuária, viária, turística, etc). 97 Mais importante do que o quadro-resumo acima é o detalhamento das microrregiões e Roteiros Turísticos que se encontram no Anexo a este trabalho. Este detalhamento é importante no sentido de embasar as autoridades com relação à eficácia dos investimentos e políticas específicas para cada uma dessas microrregiões e roteiros, de forma a proporcionar diretrizes sobre quais localidades teriam investimentos pouco eficazes (Estágio de Maturidade21), quais localidades proporcionariam retornos mais rápidos (Estágio de Crescimento) e quais localidades demandariam recursos mais significativos para apresentarem algum retorno (Estágio Inicial). Tem-se, como conclusão de que, para que se tenha uma política eficaz de investimentos públicos de fomento ao crescimento turístico e à indução de transporte aéreo, as autoridades devem priorizar a escolha de Destinos/Roteiros em “Estágio Inicial” ou “Estágio de Crescimento” da demanda. Igualmente, devem ter claro que os Destinos/Roteiros aqui apontados como apresentando-se atualmente em “Estágio Inicial” demandarão maior volume de investimentos e terão retorno econômico/social menor. Caso as autoridades tenham como meta a rápida aceleração do crescimento do transporte aéreo e do turismo ao longo do território nacional, ou seja, caso visem obter resultados mais rápidos ao longo do tempo, elas devem priorizar as ações e os investimentos voltados para os Destinos/Roteiros em “Estágio de Crescimento”, que, como visto, são aqueles que apresentam o maior retorno ao investimento. Investimentos em remoção de gargalos de infraestrutura em Destinos/Roteiros em “Estágio de Maturidade” igualmente propiciarão altos retornos em termos de indução de demanda e de bemestar econômico no setor. 21 Novamente importante frisar que não se está falando dos investimentos para eliminação de gargalos das infra-estruturas de transporte aéreo (ampliação de aeroportos, construção de novas pistas ou melhoria do acesso aos aeroportos), mas sim de investimentos que alavanquem novas viagens por modal aéreo, como fomento ao turismo, por exemplo. 98 Capítulo III A Competitividade das Operadoras e a Necessidade de Fomento ao Investimento em Infra-Estrutura no Mercado de Linhas Regionais 99 III.1 Características da Aviação Regional: Motivações para o desenho de mecanismos regulatórios específicos para o setor O Brasil é um país de dimensões continentais. Ocupando mais de 8,5 milhões de km2, é o quinto maior país do mundo em extensão territorial. Sua disposição geográfica privilegiada faz com que seja abrangido por diversos climas e seja possuidor de uma grande diversidade de relevos. Essa combinação faz do Brasil um país de natureza exuberante e nos confere imenso potencial turístico. Entretanto, a infra-estrutura de transportes brasileira deixa a desejar. Com uma malha ferroviária praticamente inexistente, navegação fluvial muito lenta e restrita apenas a alguns rios e estradas em precárias condições de rodagem, o transporte aéreo seria o mais indicado para um país com as características enumeradas. Some-se a isso o fato de o Brasil possuir mais de 5.000 municípios, muitos dos quais praticamente inacessíveis por outra via que não seja a aérea. Nesse cenário, a aviação regional ocupa papel fundamental. Além de servir como promotora de desenvolvimento das cidades atendidas pelas empresas aéreas regionais e cidades localizadas em seus entornos, a aviação regional promove a interligação entre cidades médias e pequenas e os grandes centros urbanos que, no que importa à indústria do turismo, constituem-se nos maiores portais de recepção de turistas estrangeiros. Muito embora a aviação regional esteja presente em todo o país, são mais beneficiadas as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde a precariedade dos demais modais de transporte se faz mais forte. Tem-se assim, que, por razões de necessidade de fomento ao desenvolvimento sustentável, isto é, de desenvolvimento não concentrado em poucas regiões, mas equânime ao longo do território nacional, além da necessidade de garantir a cobertura em regiões de difícil acesso ou de fronteira, bem como estimular a indução de spillovers do crescimento nas diversas microrregiões do país, é que em geral se concebe o transporte aéreo regional como passível de políticas e mecanismos próprios de regulação. Sabe-se que a aviação regional 100 possui especificidades de demanda e oferta (discutidas no Capítulo I deste trabalho) e que a caracterizam como sub-setor mais propenso a instabilidades e riscos inerentes à atividade e que, por sua vez, podem levar ao não atendimento de localidades detentoras de demanda potencial (falhas de mercado). É nesse sentido que o presente estudo busca conceber a aviação regional, de forma a desenvolver um conjunto de propostas que proporcionem a alavancagem deste setor tão importante para a integração do território e para o fomento da economia regional brasileira. III.1.1 Transporte Aéreo Regional em Perspectiva Histórica Em diversas experiências mundo afora, o transporte aéreo regional tem se apresentado como o segmento de maior crescimento na indústria do transporte aéreo. Sua importância e dinamismo podem ser evidenciados de várias formas, a saber: quanto aos fabricantes de aeronaves, acompanhou-se, nos últimos anos, a acirrada disputa entre a Embraer e a Bombardier - maiores fabricantes mundiais de jatos regionais; e com relação às empresas aéreas brasileiras, seu número dobrou de cinco, no período 1975-1992 para dez em 2003. Com a reestruturação do Sistema de Transporte Aéreo Regular em 1992, através da Portaria n. 687/GM5 de 15 de setembro, o número de assentos/quilômetro saltou de dois bilhões, em 1992, para mais de onze bilhões, em 2000 (Gomes et al., 2002). Conforme discutido no Capítulo I, entre os anos de 1960 e 1975, observa-se uma drástica redução do número de cidades atendidas pelo Transporte Aéreo. Em virtude da estruturação da malha rodoviária em seus grandes eixos, houve uma redução da demanda por viagens aéreas de curta distância - as mais disputadas pelas companhias aéreas gerando uma grave crise na aviação comercial brasileira, cujos motivos remontam a vários fatores, entre eles: a baixa rentabilidade do transporte aéreo, provocada pela concorrência excessiva; a necessidade de novos investimentos para a renovação da frota, visando à substituição das aeronaves do pós-guerra, que se mostravam obsoletas e despendiam muitos gastos com manutenção e cuja baixa disponibilidade prejudicava 101 a regularidade dos serviços; e as alterações na política econômica do país, que retirou das empresas aéreas o benefício do uso do dólar preferencial para as importações. Dentro deste contexto de crise da aviação, com a acentuada queda no número de cidades atendidas, que o governo, por meio do o Ministério da Aeronáutica, criou uma nova modalidade de aviação, a aviação regional, que contava com subsídios para atender determinadas rotas de baixa viabilidade econômica. Dessa forma, foi criado em 1975, o Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional (SITAR), com o objetivo de atender localidades de médio e baixo potencial de tráfego. Assim, o território nacional foi dividido em cinco áreas, sendo cada uma delas atendido por uma empresa, que funcionava em regime de monopólio. Paralelamente ao SITAR, estabeleceu-se o Adicional Tarifário, fixado em 3% sobre o valor dos bilhetes das linhas aéreas domésticas, sendo o produto dessa arrecadação destinado ao SITAR para suplementação tarifária de suas linhas. Este regime vigorou até 1992, quando se inicia o processo de flexibilização do setor, que não só permitiu a entrada de novas empresas aéreas no mercado, mas também incentivou a criação de novas linhas com a alteração nas regras da suplementação tarifária. Observa-se assim, uma retomada do crescimento das cidades atendidas a partir desse período. Já a queda a partir do ano 2000, está relacionada não só a questões econômicas e cambiais do país, mas em parte também pela diminuição no valor total arrecadado com o Adicional Tarifário22. Conforme pode ser analisado por meio da Figura 35, abaixo, excluindo o episódio de entrada das companhias aéreas regionais no período de implementação do SITAR, observou-se apenas um outro evento de nova entrada em massa, que se seguiu à Primeira Rodada de 22 Cobrado nas passagens das linhas mais rentáveis, este adicional é repassado como forma de subsídio cruzado para as empresas que operam linhas com baixa demanda. Como desde 1999 as grandes empresas nacionais têm obtido na justiça o direito de não mais pagarem tais subsídios, o total arrecadado com a suplementação tarifária caiu de mais de R$ 50 milhões, em 1997, para pouco mais de R$ 10 milhões, em 2001 102 Liberalização de 1992. Neste período, o número de companhias mais que dobrou, passando de 9 para 21 – fenômeno que pode ser caracterizado como uma “onda de novas entrantes” seguida à liberalização da oferta caracterizada pelo fim dos monopólios regionais. O choque cambial de 1999, contudo, representou um retrocesso neste quadro, dado que o número de novatas na aviação começou a declinar desde então, vindo a se recuperar, ainda que de forma lenta, apenas recentemente (2004 e 2005), como aponta Oliveira (2005). 25.0 Choque Cambial 1999 20.0 4 Nacionais e 5 Regionais (SITAR) 15.0 Onda de Novas Entrantes (Flexibilização) 4 Nacionais 10.0 5.0 0.0 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Figura 35 – Episódios de Entrada no Transporte Aéreo23 23 Fonte: Oliveira (2005), usando dados dos anuários Estatísticos do Departamento de Aviação Civil (Volumes I e II, 1974-2003) e Informativo PL-3 (2004) e cálculos próprios. As novas companhias entrantes, a partir dos anos 1990, foram as seguintes: Abaeté, Gol, Helisul (depois Tam), Interbrasil (Transbrasil), Itapemirim, Meta, Oceanair, Pantanal, Passaredo, Penta, Presidente, Puma, Rico, Tavaj, Taf, Total, Trip. 103 III.1.2 Planejamento de Linhas Aéreas Regulares Para ser eficiente e apresentar-se como alternativa competitiva viável no mercado de aviação comercial, uma companhia aérea precisa investir pesadamente em sistemas de gestão e na tomada de decisão ágil e eficaz. Uma das decisões que mais afetam o seu desempenho operacional e financeiro é a decisão quanto à determinação de sua capacidade produtiva, ou seja, quanto a alocação do tipo de aeronave, sua configuração em termos de número de assentos, bem como a determinação do número de freqüências de vôo a serem operadas nos vários mercados existentes no âmbito de sua malha aérea. Trata-se de uma etapa do processo decisório da companhia aérea que é fundamental para todo o sistema aéreo, dado que, em última instância, influencia na determinação não apenas do posicionamento de mercado daquela empresa, mas também engendra aspectos operacionais relevantes, como a intensidade do uso das pistas de pouso e decolagem e do controle de tráfego aéreo, com efeitos relevantes nos níveis de congestionamento do sistema como um todo. Adicionalmente, tem-se que a decisão quanto à configuração da capacidade produtiva de uma companhia aérea não está isenta da incerteza que permeia o mundo dos negócios. De fato, há um conjunto de incertezas geradas pelas expectativas quanto ao fluxo de receitas futuras, aos padrões de reação da concorrência, ao montante dos custos irrecuperáveis, ao risco regulatório, dentre outros aspectos de difícil avaliação ex ante. Conclui-se, desta forma, que o processo de tomada de decisão quanto à capacidade produtiva das companhias aéreas é complexo e sujeito à influência de inúmeros fatores não adequadamente observáveis por autoridades interessadas no acompanhamento econômico e por analistas de mercado. No entanto, investigações de cunho empírico mais pormenorizadas podem ser efetuadas no sentido de identificar regularidades neste importante aspecto decisório do setor aéreo. 104 Para Silva, Portugal e Santos (2000), o problema de planejamento de linhas aéreas, tradicionalmente, resume-se à identificação da maneira mais eficiente de se atender à demanda de uma determinada linha, a partir de uma adequada oferta do produto viagem (assentos). Schäffler (1995), olhando para a estrutura do tráfego aéreo regional, apresenta alguns outros fatores influentes: políticos (regulamentações); infraestrutura em terra e no ar; estrutura dos operadores; estrutura de fabricantes; e avanços tecnológicos. A necessidade de minimizar a incerteza com relação ao sucesso da operação do serviço aéreo passa a ser um dos aspectos mais importantes que uma empresa aérea precisa levar em consideração. Um dos possíveis caminhos para a garantia de sustentabilidade de linhas aéreas regulares regionais é uma maior integração com toda a cadeia produtiva do turismo, que é o conjunto de atividades articuladas desde os insumos até a comercialização e distribuição do produto turístico final, composta por organizações tais como agências de viagens, operadoras turísticas, hotéis, empresas de eventos, transportadoras turísticas, entre outras (Valente e Lohmann, 2005). A Tabela 27 elenca esses fatores. 105 Tabela 27 - Fatores influentes no planejamento de linhas e seus aspectos correspondentes24 24 FATORES ASPECTOS CORRESPONDENTES Econômicos Demanda potencial; densidade de tráfego; tarifas; índice de aproveitamento. Sociais Perfil dos passageiros (idade, renda, profissão, etc); comportamento dos passageiros (por exemplo preferência por determinado tipo de aeronave), relacionamento responsável com stakeholders. Turísticos Vocação e tipo de turismo; oferta turística; tempo de permanência; ciclo de vida do destino; sazonalidade. Operacionais Frota; infra‐estrutura aeroportuária (pista, slots, gates); pessoal (tripulação, agentes, atendentes, despachantes etc). Geográficos Distância; localização; relevo do destino operado; fatores climáticos Políticos Injunções de lideranças políticas municipais e estaduais; regulamentação (políticas de liberalização do transporte aéreo). Mercadológicos Concorrência (de outras empresas e de outros modos de transporte); imagem; publicidade; propaganda. Fonte: Valente e Lohmann (2005). 106 Em se tratando do planejamento de suas operações, faz-se necessário considerar as possibilidades que a atividade turística pode carrear nas estratégias organizacionais das empresas de aviação, e dessa forma, promover uma maior aproximação com a cadeia produtiva do turismo de modo a ampliar o leque de possibilidades dos serviços dessas organizações. No que tange às ligações aéreas que envolvam destinos turísticos, há que se levar em consideração quais aspectos inerentes à atividade turística podem influenciar no planejamento de linhas aéreas, a saber: i) vocação turística (demanda); ii) oferta turística local e regional; iii) ciclo de vida do destino turístico; e iv) sazonalidade. No Brasil, diferentes tipos de turismo têm gerado fluxos específicos de viajantes a muitos municípios. O Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) destaca a existência de duas categorias diferenciadas de municípios turísticos no Brasil, baseadas em um conjunto de fatores físico- geográficos, histórico-culturais e econômicos, a saber: • Municípios Turísticos (MT) - são aqueles consolidados, determinantes de um turismo efetivo, capazes de gerar deslocamentos e estadas de fluxo permanente; • Municípios com Potencial Turístico (MPT) - são aqueles possuidores de recursos naturais e culturais expressivos encontrando, no turismo, diretrizes para o seu desenvolvimento socioeconômico. Essa categorização tem levado à identificação de um total de 375 MTs e de 1.456 MPTs no Brasil. Para se ter idéia da evolução do atendimento e da cobertura de uma companhia aérea regional em alguns desses municípios, tome-se o caso da empresa TRIP, companhia aérea regional do interior paulista. As figuras abaixo mostram a evolução recente da malha aérea dessa companhia aérea. 107 Pré‐Liberalização (1998‐2000) ( # S ( ( T $ ( ( ( # Y ( ( ( ( # S ( # S ( ( T $ ( ( ( ( # S ( ( ( ( ( # Y ( ( ( ( # S # S ( ( ( (( ( ( ( # S ( ( ( T $ ( ( ( # S ( ( # S T $ ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( # S ( (( ( ( ( ( ( ( ( ( # Y # Y # Y ( ( ( ( ( ( T $ $ T # S ( ( # S S # ( ( # S ( T T$ $ ( ( ( # # ## ## # # # # ( # S ( # Y ( ( ( # # T $ # Y # ( ( ( # Y# # YS# Y # # # ( # Y$ T T $ # Y # # ( # Y ( ( # # # S # S Y # (( (( ( # (( ( ( ( ( # S T $ # ( T $ ( T $ $ T T $ # S ( # S ( ( ( ( (( ( ( ( ( ( # Y ( ( ( ( # Y T $ # Y T $ # S ( T $ ( T $ ( ( ( ( # Y ( # S ( ( ( ( ( ( # S T $ ( ( ( # # # Figura 36 ‐ Malha da TRIP no Período Pré‐Liberalização (entre 1998‐2000) Pós‐Liberalização (2006‐2008) ( # S ( ( T $ ( ( # Y ( ( ( ( T $ # S ( ( ( ( # S ( ( ( ( # S ( ( ( ( ( # Y ( ( ( ( # S ( ( ( # S ( ( # S # S ( ( ( ( ( ( # Y # Y ( ( T $ # S ( T T$ $ ( # # ## # # # # ## # # # # S # S ( ( ( ( # S ( ( # Y # Y ( ( ( ( ( # Y$ T T $ # Y # # T $ # Y # # # # Y # (( # Y# # YS# Y ( # # ( ( (( ( ( ( ( ( ( T ($ # $ S T ( (( ( #S S # ( ( ( ( T $ # S ( $ T T $ # S ( ( # S T $ ( ( (( ( ( ( ( # Y T $ # Y ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( # Y T $ # Y T $ # S ( ( ( ( ( ( # S ( ( ( ( (( ( ( ( ( ( ( ( # S ( ( ( (( ( T $ ( T $ T $ ( ( ( # Y ( # S ( ( ( ( ( ( # S T $ ( ( ( ( # # # # Figura 37 – Malha da TRIP no Período Pós‐Liberalização (entre 2006 e 2008)25 25 Fonte: Relatórios HOTRAN da ANAC. 108 Pode-se perceber o expressivo caminho de expansão percorrido por essa companhia aérea por meio dos mapas acima. É possível inferir, por meio dessa análise geo-referenciada, que as companhias aéreas regionais possuem excelentes potencialidades de crescimento e de melhorias na cobertura ao longo do território nacional. III.1.3 Perfil Geral das Empresas Aéreas Regionais De acordo com as pesquisas realizadas por Valente e Lohmann (2005) sobre a abrangência da aviação regional brasileira dentro dos municípios turísticos no Brasil, contatou-se que: • A grande maioria das atuais empresas aéreas regionais iniciou operações em vôos regulares faz relativamente pouco tempo. A data mais antiga é de 1993, sendo que as demais começaram a operar na segunda metade da década de 90. Este dado coaduna com a realidade gerada pelo processo de flexibilização ocorrido no mesmo período, resultando numa maior entrada de empresas no setor; • Há concentração das empresas na Amazônia Legal e na região Nordeste. Isso pode ser decorrência de dois fatores principais: i) pelo incentivo da suplementação tarifária, uma vez que ainda que modestamente aplicado, só continua beneficiando as linhas operadas nessas regiões; ii) de ordem geográfica, uma vez que é nessas regiões onde este tipo de transporte enfrenta menos concorrência por parte dos demais meios de transportes, seja pela precariedade de infra-estrutura, seja pelas suas grandes extensões territoriais. • Quanto ao número de cidades atendidas observou-se uma grande variação do número de localidades servidas por cada empresa aérea. 109 De acordo com a Tabela 28, observa-se que o número total de municípios atendidos, descontados aqueles que se repetem entre as empresas, é de apenas 94. Número bastante reduzido, que representa apenas 1,7% dos municípios existentes no país. Já ao verificar-se a quantidade de municípios turísticos servidos por linha regular, chega-se a 13,6% do total existente no Brasil, valor este razoavelmente representativo e que, portanto, deveria elevar o peso da importância que as empresas regionais dão ao turismo como fator de influência nos seus planejamentos e decisões. Essa importância fica ainda mais clara quando se nota que a soma dos municípios turísticos (51) e potencialmente turísticos (14) atendidos pelas empresas aéreas regionais correspondem a 69% dos destinos por elas operados. 110 Tabela 28 - Cidades Servidas por Companhias Aéreas Regionais (2005)26 Região de Atuação Municípios Atendidos MT Atendidos MPT Atendidos Abaeté NE 4 2 1 Meta ‐ Mesquita N 10 5 0 Oceanair N 29 24 0 Pantanal SE, CO e NE 10 4 3 Penta ‐ Pena N 4 3 0 Puma Air N 6 3 1 Rico N 25 5 6 Tavaj N 11 5 3 Total SE 10 8 1 Trip S, SE, CO e NE 12 9 2 121 68 17 94 51 14 Total de municípios no Brasil 5561 375 1456 Percentual do total de municípios no Brasil 1.7% 13.6% 1.0% Empresa Aérea Soma Total Municípios distintos 26 Fonte: Valente e Lohmann (2005). Legenda: MT – Municípios Turísticos / MPT – Municípios Potencialmente Turísticos 111 Comparando a evolução do número de cidades atendidas pelas empresas aéreas regionais com o número de municípios existentes no Brasil, observa-se, em termos de quantidade de localidades atendidas por vôos regulares, um grande retrocesso nos últimos 43 anos, uma diminuição de três vezes (da ordem de 300 para 94 – ver Tabela 3). Isto é mais agravado quando se observa que, no mesmo período, a população e o número de municípios existentes no país mais que dobrou. Tabela 29 – Cobertura Aérea em Termos de Municípios Atendidos27 Ano 27 Municípios Municípios Atendidos por População do Existentes no Vôos Brasil Brasil Regionais % Cobertura 1960 70 milhões 2766 cerca de 360 13.0% 2003 175 milhões 5561 94 1.7% Fonte: Valente e Lohmann (2005). 112 III.2 Estudo dos Fatores Associados à Competitividade da Aviação Regional Com vistas a alavancar uma discussão sobre as especificidades, problemas e necessidades de fomento e de desenho de mecanismos regulatórios específicos para o transporte aéreo regional brasileiro, buscou-se, no decorrer das atividades do presente trabalho, promover um estudo da competitividade do setor. Um estudo de competitividade setorial envolve um mapeamento dos determinantes do desempenho das firmas, bem como das restrições existentes no mercado que contribuem para o desempenho sub-ótimo. Para fins dessa discussão, foram levantadas duas fontes de evidências: 1. Uma pesquisa documental levantando estudos sobre economia do transporte aéreo (airlines economics), com ênfase nos fatores que influenciam a competitividade do setor (de forma geral e com aplicação ao caso brasileiro); e 2. A realização de uma survey, com envio de questionário e condução de entrevistas junto a um painel de especialistas e membros representativos do setor de transporte aéreo no Brasil. Assim, a discussão sobre competitividade proporcionada pela pesquisa documental foi enriquecida pelos depoimentos de oito participantes e também por observadores privilegiados do setor, seja como integrantes de companhias, reguladores e ex-reguladores, fornecedores e acadêmicos. Optou-se por preservar o anonimato dos entrevistados em favor de obter opiniões construídas a partir da vivência profissional de cada um, evitando identificá-las com as instituições ou empresas a que estão vinculados. A realização de entrevistas foi sempre precedida do envio do questionário. Deixou-se, ademais, ao critério do entrevistado responder eletronicamente ao questionário, na íntegra ou nas partes que julgasse mais pertinentes ou realizar a entrevista presencial ou por meio telefônico. Foram encaminhadas solicitações de 113 entrevistas, acompanhadas de questionário, tentativas reiteradas, em alguns casos, por até três vezes, para um conjunto de vinte especialistas. Ao todo foi obtido um percentual de resposta aos questionários de 30%, número superior à média nesse tipo de pesquisa qualitativa. Por compreenderem executivos do transporte aéreo regional, executivos de fornecedores do segmento, executivos de financiadores do segmento, reguladores, ex-reguladores e acadêmicos especializados no setor de transporte aéreo, essas respostas podem ser consideradas opiniões balizadas e representativas do setor. Dos resultados das entrevistas colheram-se elementos para identificar forças e fraquezas do setor e a partir dos quais pôde-se nortear a proposição de instrumentos regulatórios para fortalecimento da aviação regional no Brasil. Ainda no que tange a perspectiva metodológica, cumpre definir o conceito de competitividade. No que se aplica, tem-se em mente o esquema original fornecido por Michael Porter (1996), segundo o qual a análise da competitividade das empresas em uma indústria baseia-se em cinco forças competitivas básicas, a saber: entrantes potenciais; ameaça de produtos substitutos; poder de negociação dos compradores; poder de negociação dos fornecedores e rivalidade entre os atuais concorrentes. A formulação de estratégias competitivas empresariais, por essa perspectiva, depende de uma compreensão da interação específica entre esses fatores no espaço econômico em que se movem as empresas. Como se sabe, o conceito de competitividade, a partir dos anos 90, tornou-se de uso comum, em detrimento do rigor na sua definição. Chudnovsky (1990), apud Kupfer (1992) elenca treze definições de competitividade recolhidas da literatura. No enfoque microeconômico, que nos interessa mais de perto no presente trabalho, alinham-se as definições de competitividade centradas na firma. São as definições que associam competitividade à aptidão de uma firma no projeto, produção e vendas de um determinado produto em relação aos seus concorrentes. No enfoque micro, comenta o autor, o sujeito - a firma - é claramente identificável e seus gestores são univocamente seus proprietários ou executivos por esses nomeados. Estes por sua vez fixam estratégias e tomam as decisões compatíveis que, em última instância, irão se refletir 114 sobre o volume de vendas, entenda-se, na participação no mercado ou nas margens de lucro, até porque a longo prazo deve-se esperar uma correlação positiva entre essas duas grandezas (Chudnovsky, 1990, pg 8). Em que pesem as considerações de Kupfer (1992) sobre a necessidade de se problematizar o conceito de competitividade ao nível microeconômico, em virtude das dificuldades associadas ao processo de tomada de decisão em estratégias empresariais, sobretudo em ambiente envolvendo inovações tecnológicas, os termos fornecidos pelos autores acima nos parecem suficientes para tratar das questões específicas que afetam o transporte aéreo regional. Alguns aspectos de demanda na economia do transporte aéreo são fundamentais para caracterizarem as condições de competitividade da aviação regional: os passageiros usualmente preferem companhias maiores, que servem a um maior número de localidades, às companhias menores. Uma razão para isso são os custos de informação: voando através de companhias menores, os passageiros precisam lidar com uma série de diferentes funcionários e quantos menos trocas de vôo eles precisem fazer, menor a probabilidade de perder suas bagagens. As maiores companhias, que oferecem mais destinos, também têm a possibilidade de oferecer programas de milhagem, cujos pontos são nãotransferíveis para outras companhias. Uma forma das companhias menores se apropriarem dos atributos das maiores companhias é o estabelecimento de alianças (Bureau of Transport Economics, 2000). Observe-se que para os usuários, as alianças melhoram aspectos de qualidade do serviço, tornando as ligações entre centros regionais e capitais relativamente simples e são por isso, do ponto de vista da elevação do bem-estar, mecanismos desejáveis que, portanto, cabe estimular por meio de políticas públicas. Há, porém, vantagens a serem exploradas pelas regionais no que diz respeito à demanda: a qualidade dos serviços, conforto e espaço interno de aeronaves de porte pequeno e médio, procedimentos de embarque e desembarque são simplificados e mais confortáveis para os 115 usuários28. Aeronaves menores, sejam turbo-hélices, sejam jatos, podem realizar mais freqüências ao longo do dia, e dar mais opções de horários aos usuários. Um fator de custo a determinar um diferencial de competitividade entre empresas de atuação tipicamente regional e majors é que o custo por quilômetro voado declina quanto mais longo o trecho. Quando um vôo é longo, estes custos fixos se diluem, reduzindo o custo por quilômetro voado. Dos custos diretos, aqueles realizados com combustível são bastante consideráveis. O maior gasto de combustível é realizado pela aeronave no esforço de decolagem e aterrissagem, e quando a aeronave voa em velocidade abaixo da ótima. Como resultado, o custo do combustível tende ser relativamente mais elevado quando a aeronave é usada para cobrir distâncias mais curtas, ou seja, em vôos regionais. Em nossas entrevistas, alguns fatores foram, com maior freqüência, descritos como importantes itens de custo a afetar a competitividade das empresas atuantes em MLR: acesso a crédito, por sua importância para renovação e ampliação da frota, custo e logística de combustíveis, acesso e manutenção de pessoal técnico qualificado. A seguir, é apresentado um levantamento dos elementos apontados nas pesquisas de competitividade. 28 “mais descomplicado”, como observou um entrevistado. 116 III.2.1 Presença de Barreiras Estruturais à Entrada A par da inexistência de barreiras à entrada significativas no transporte aéreo, cabe salientar que não se observam barreiras a novas firmas associadas à economia de escala, seja quanto ao tamanho da aeronave, seja quanto ao tamanho da frota. Isto porque diversos outros fatores como padrões cíclicos da demanda, fatores de ocupação, nível de utilização da aeronave, freqüência de serviço, configuração da infraestrutura aeroportuária - interferem no sentido de afetar custos e, em última instância, determinar a viabilidade econômica de rotas. Existe porém uma barreira, caracterizada como vantagens absolutas de custo, associada à compra de combustível de aviação. Sendo já um fator a determinar um diferencial importante entre companhias aéreas, a depender do seu modo de sua atuação, o poder de compra das maiores companhias ou sua atuação em maiores aeroportos pode implicar um impacto substancial no preço dos combustíveis, que corresponde a algo entre um quinto e um terço dos custos operacionais diretos (Bureau of Transport Economics, 2000 e entrevistas). Outra barreira associada a vantagens absolutas de custo é o acesso e disponibilidade de recursos financeiros (cf. Tirole, 1990). Novos entrantes podem experimentar problemas na busca por financiamentos devido ao risco de crédito, fator que foi confirmado em nossas entrevistas. Outra barreira dessa mesma natureza29 são as ligadas à atração e atendimento ao consumidor, propaganda, venda de bilhetes, entre elas. São importantes para a operacionalidade de uma companhia, mas não compõe o conjunto de fatores de custo mais significativos. Entre os principais entraves reconhecidos ao desenvolvimento do transporte aéreo regional no país encontram-se justamente aspectos que a literatura teórica e empírica em economia do transporte aéreo identifica como fatores que afetam a competitividade de companhias aéreas regionais, como alto custo de combustível (QAV), concorrência predatória em rotas de baixa densidade de tráfego e falta de condições de 29 Vantagens absolutas de custo. 117 financiamento, além da indefinição regulatória acerca de subsídios á atividade, a partir da descontinuação do Adicional Tarifário, ponto que se passa a comentar. III.2.2 Adicional Tarifário – descontinuidade do recolhimento O Adicional Tarifário, atualmente fixado em 1% - pela Portaria nº 101/GC5, de 22 de fevereiro de 2000 -, que continua em vigor, incide sobre o valor da tarifa de todos os bilhetes de passagem vendidos referentes às linhas aéreas regulares domésticas não suplementadas, inclusive os trechos de cabotagem, e sua arrecadação deve ser recolhida para a conta do Fundo Aeroviário e sua aplicação específica ao pagamento da suplementação tarifária. A Instrução de Aviação Civil nº 1302, de março de 2001, determina ainda, em linhas gerais: • Linhas passíveis de Suplementação Tarifária: linhas regionais pioneiras e/ou essenciais de médio e baixo potencial de tráfego na Amazônia Legal (até 20.000 pax/ano) e baixo potencial de tráfego na Região Nordeste (até 15.000 pax/ano); • Suplementação Tarifária: proporcional ao volume de pax/km efetivamente transportados em linhas suplementadas. Em 1999, as principais empresas arrecadadoras do Adicional Tarifário iniciaram um processo de questionamento, junto ao Judiciário, da legalidade da cobrança do Adicional Tarifário, sob a tese de que o Decreto Lei que o instituiu não havia sido recepcionado pela Constituição de 1988, por ser o Adicional, em questão, matéria tributária. A VARIG, que participava com, aproximadamente, 90% do recolhimento do Adicional Tarifário na época, foi a primeira a obter a medida liminar em favor da suspensão do recolhimento do Adicional Tarifário. A partir de, então, praticamente todas as demais recorreram ao 118 Judiciário com o mesmo objetivo, obtendo a mesma medida liminar: VASP em 1999, TRANSBRASIL, NORDESTE, RIO SUL e TAM, em 2001, PANTANAL, em 2002, GOL e OCEANAIR, em 2004, o que praticamente deixou o programa sem recursos para pagamento da Suplementação Tarifária (Figura 38). 60 Milhões de R$ 50 40 30 20 10 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Figura 38 ‐ Suplementação Tarifária – Arrecadação e Distribuição30 A partir de 2002, como conseqüência da queda na arrecadação causada pelas medidas liminares, passou a haver um contingenciamento do crédito orçamentário alocado para as despesas com a Suplementação Tarifária, de forma constante e progressiva, o que contribuiu para o agravamento do problema. Para equacionar o problema do sistema de Suplementação Tarifária, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 7.199/2002, criando o PREMIA (Programa de Estímulo à Malha de Integração Aérea Nacional) que transforma o Adicional Tarifário numa Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico – CIDE, incidente sobre a tarifa dos bilhetes em linhas não suplementadas e estabelecendo um procedimento licitatório para a distribuição dos recursos sob a forma de Suplementação Tarifária a linhas regionais caracterizadas por baixo (até 5 mil pax/ano) e 30 Fonte: Gomes et al. (2002). 119 médio (até 15.000 pax/ano) potencial de tráfego, que comprovadamente não apresentem viabilidade econômica em sua operação e sejam de interesse estratégico para o desenvolvimento econômico e social do País. O Projeto de Lei encontra-se, no momento, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara de Deputados. III.2.3 Querosene de Aviação (QAV) – alto custo31 O aumento dos preços dos insumos é mencionado usualmente (e o foi nas entrevistas realizadas) como um fator fundamental no acréscimo de custos e conseqüente repasse aos preços de produtos ou serviços finais. Muitos desses aumentos podem não estar ligados diretamente ao insumo em si, mas sim, ao seu transporte até o local da produção. Fontes de insumos importantes podem estar situadas em alguns poucos pontos específicos do país, dificultando seu transporte para outras regiões e/ou encarecendo-o bastante. O caso do querosene de aviação (QAV) no Brasil é um exemplo típico de que custos logísticos podem influenciar decisivamente na competitividade de empresas e no bem-estar dos consumidores. O combustível representa uma parcela significativa dos custos das companhias de aviação e os reajustes afetam principalmente as companhias de pequeno porte. De acordo com recentes estudos realizados pela IATA (International Air Transport Association, 2004 apud Ferreira et. al., 2007), o consumo de combustível representa o segundo maior componente dos custos diretos operacionais das empresas aéreas, atrás apenas dos custos referentes à mão de obra. Estima-se que a participação do consumo de combustível esteja na faixa de 20% a 40% dos custos diretos operacionais totais nas empresas aéreas (faixa que foi mencionada, em torno de 30 a 35%, em algumas das entrevistas). 31 Seção fortemente baseada no trabalho: Ferreira, N. S., Griebeler, M. C. e Fregnani, J.A. (2007). 120 As empresas aéreas regionais são afetadas fortemente pelo desempenho da economia, pela variação cambial e pelo preço do QAV, especialmente as empresas de menor porte. Estas encontram enorme dificuldade para negociar com as distribuidoras de combustível, pagando pelo litro um valor que pode chegar a ser 30% maior que o negociado por uma empresa maior, reduzindo sobremaneira sua margem de lucro e a competitividade do setor. Mesmo experimentando aumento de tráfego no último ano, os custos das companhias regionais cresceram acima do previsto. O querosene de aviação (QAV) atingiu índices históricos de elevado aumento, motivado pelas catástrofes ocasionadas por fenômenos naturais e pelas crises internacionais, inibindo a possibilidade de redução de preços das passagens aéreas – vide Flap Internacional (2006). Como mostram Ferreira et al (2007), o mercado consumidor de QAV está fortemente concentrado na região Sudeste – que abriga os principais aeroportos brasileiros, origem e destino da maior parte dos vôos nacionais e internacionais – que é responsável pela aquisição de 58% das vendas desse insumo. Este fato pode ser conferido na Figura 39, que reporta a distribuição regional do consumo de QAV. Centro-Oeste 11% Sul 6% Norte 9% Nordeste 16% Sudeste 58% Figura 39 – Distribuição Geográfica do Consumo32 32 Fonte: Petrobrás apud Ferreira et. al (2007). 121 No que tange à produção desse insumo, cerca de 85% do produto comercializado é produzido pelas refinarias da Petrobras. O volume restante é importado e destina-se, normalmente, aos portos das regiões Norte e Nordeste do país. Devido à dimensão continental do Brasil, a logística para entrega do QAV a todos os pontos de consumo é complexa. São empregados vários modais de transporte, tais como dutos, navios-tanque, balsas-tanque e caminhões-tanque. Conforme apurado em entrevistas, a concentração de refinarias produtoras de QAV na região sudeste é um dos fatores a afetar os custos da aviação regional. O escoamento para as bases de abastecimento de dá principalmente através de caminhões-tanque. Na região Norte, o QAV chega através de navios e balsas. O Comando da Aeronáutica (COMAER) tem acordo com a BR Distribuidora para que esta mantenha algumas bases de atendimento em regiões mais remotas do território, mesmo não sendo estas economicamente viáveis. Já os aeroportos de Galeão (RJ) e Guarulhos (SP) recebem QAV através de dutos, diretamente das refinarias. Nos aeroportos maiores, onde são abastecidas as aeronaves de grande porte, das majors, a operação é feita por caminhões-servidores (que funcionam como “bombas de combustível ambulantes”). Nos aeroportos menores, o abastecimento é feito por caminhões-tanque, com capacidade de 20 metros cúbicos (a maioria) ou 40 metros cúbicos33. Conforme pode ser verificado na Figura 40, é grande a concentração regional das refinarias produtora de QAV. A região Norte abriga apenas uma refinaria produtora de QAV, as regiões Nordeste e Sul possuem duas cada uma, em contraposição à região Sudeste que concentra seis refinarias. 33 Informações recolhidas por meio de entrevistas. 122 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 Figura 40 - Refinarias Produtoras de QAv34 Os custos de QAV, portanto, variam por aeroporto e o custo de abastecimento varia por tipo de aeronave. Existe economia ainda associada aos volumes adquiridos. Todos esses são fatores que tornam o peso do combustível para as operadoras de pequeno porte superior àquele incidente para as companhias de grande porte. Uma das estratégias largamente utilizadas pelas empresas aéreas para mitigar o alto custo do QAV e não observância, em certos aeroportos de logística de suprimento, é o Fuel Tankering Tanqueamento de Combustível ou Abastecimento Econômico. Consiste numa técnica operacional que visa: i) reduzir dispêndios no abastecimento das aeronaves, fazendo-o nas localidades que oferecem a melhor margem de negociação ou alíquotas de ICMS menores; e/ou ii) adquirir combustível suficiente para voar mais de um trecho, já que existem localidades onde não há possibilidade de abastecimento, principalmente na região Norte. 34 Fonte: Petrobrás apud Ferreira et. al (2007). 123 Quanto ao item (i), o artifício é limitado, pois após se atingir a melhor estratégia de tanqueamento, não há mais a possibilidade de redução de gastos alterando a localidade de abastecimento. Além disso, partindo do princípio de que as companhias evitam os denominados “ferry flights” (translado das aeronaves com o avião vazio), esta técnica fica restrita às empresas atuantes em mais de uma região. Sendo assim, companhias que operam em rotas mais restritas tendem a ficar à mercê de negociações contratuais com fornecedores que, na posição de monopolistas, conseguem impor preços e condições desfavoráveis aos primeiros. Sendo este um dos principais entraves à competitividade das empresas estritamente regionais. Quanto ao item (ii), deve-se analisar o ponto de vista operacional da empresa. Neste ponto cabe destacar que como a quantidade de combustível extra carregado resulta em peso extra na aeronave e, portanto, produz um consumo adicional de combustível na referida etapa, é importante se verificar os custos de transporte deste peso adicional de combustível. Geralmente, as empresas aéreas analisam a viabilidade econômica de transporte de combustível etapa por etapa, para cada aeronave. Em cada etapa, caso o tanqueamento seja viável, programa-se abastecer a aeronave na origem com tal quantidade de combustível extra de modo que o combustível remanescente no destino seja exatamente o combustível regulamentar para a próxima etapa, calculado de acordo com o item 121.645 do RBHA 121 (vide Embraer, 2006). Além disso, devido ao peso adicional que a operação impõe às aeronaves, alguns requisitos devem ser respeitados em cada etapa onde o combustível extra é taqueado: • O Peso Máximo de Decolagem (PMD) no aeroporto de origem não pode ser excedido; • O Peso Máximo de Pouso (PMP) no aeroporto destino não pode ser excedido; e • Capacidade Máxima de Combustível da aeronave não deve ser excedida. 124 No Brasil o procedimento de tanqueamento de combustível é uma prática bastante comum, uma vez que existe uma sensível variação de ICMS, entre estados, para este produto. As empresas aéreas, geralmente, recorrem à análise pontual, etapa por etapa, para viabilidade de tanqueamento de combustível. Como ressalta Ferreira et alli. (2007), efeitos de rede, tais como a minimização do custo de todos os abastecimentos ao longo de programação de uma aeronave em uma malha de vôos, de forma integrada e simultânea, não são ainda avaliados. Muitas vezes a análise de preço de equilíbrio não é sistematizada e geralmente efetua-se a operação de tanqueamento de combustível apenas onde os preços de combustível são mais baratos. Preocupações por consumos adicionais são ignoradas por certos operadores. Por fim, convém salientar que se por um lado a estratégia do tanqueamento está ao alcance das companhias aéreas, por outro é prudente apontar para a ineficiência que esta medida impõe às empresas que atuam em regiões com acesso a poucos aeroportos dotados com logística de suprimento de combustível, ao acarretar em transporte de carga não-paga. III.2.4 Condutas anticompetitivas no transporte aéreo35 As estratégias predatórias podem se tornar possíveis, com o uso indevido de diversos elementos que auferem vantagens às empresas instaladas. Entre diversos esquemas, têm-se como exemplos clássicos de condutas predatórias na indústria aérea, entre outros: a concessão de comissões preferenciais para agentes de viagem (como estratégia excludente de pequenas e/ou novas empresas); o uso indevido dos sistemas de reserva computadorizados (computer reservation systemsCRS); o uso de “excesso de capacidade”; a prática de preços predatórios; e acordos ilícitos de cooperação e cartelização. Segundo Oster e Strong (2001), a indústria aérea tem características especiais que tornam condutas predatórias racionais e 35 Seção baseada em Ferreira e Oliveira (2006). 125 atrativas do ponto de vista de estratégia corporativa. O ponto central é que informação sobre entrada e preço é fácil e rapidamente disponível. O uso abundante do sistema de gerenciamento de resultados não só permite às companhias aéreas ofertarem uma variedade de tarifas, por meio de discriminação de preços, mas também fornece informações significativas e oportunas sobre ações de competidores reais e potenciais. Sistemas computadorizados de reservas tornam disponíveis, quase que imediatamente, informações sobre ações, oferta e até mesmo (mais limitadamente) disponibilidade de outras companhias aéreas, informações essas que reduzem o custo de predação. O meio mais óbvio de se verificar isso se dá quando os serviços de uma nova entrante são facilmente vistos com antecedência. Sistemas de gerenciamento de resultados permitem uma reposta a essa entrada de uma maneira focada, de modo a que outras companhias aéreas não vejam a ação como o começo de uma guerra de preços (que levaria a uma redução de tarifas em outras rotas, aumentando os preços de resposta predatória). No Brasil, em particular, o excesso de capacidade é uma freqüente estratégia utilizada pelas companhias aéreas para evitar a entrada ou para impedir o fortalecimento de competidores. A estratégia de manutenção de capacidade ociosa (excesso de capacidade) se torna ainda mais evidente em determinados pares de aeroportos que são mais movimentados (notadamente Congonhas, Santos Dumont e Pampulha), por não existirem regras claras e peremptórias, por parte dos órgãos regulatórios competentes, sobre a distribuição e disponibilização de infra-estrutura, como slots e gates Assim, se uma empresa aérea decide retirar vôos de um dado aeroporto, não há como estimar a sua possibilidade de reentrada, o que funciona como incentivo ainda maior para o uso dessa prática. Com relação ao transporte aéreo regional, em particular, a concorrência predatória caracteriza-se pelo fato de que há empresas que voam para poucas localidades com aviões pequenos (em rotas de baixa densidade de tráfego) ao lado de empresas com características e desempenho operacional de empresas nacionais, assimetria de condições essa que funciona como fator inibidor do desenvolvimento dessa atividade econômica. 126 Assim, cabe ao órgão regulador (ANAC) inibir a concorrência predatória, criando condições para o planejamento eficiente da alocação de rotas (ou rearranjo de rotas) entre companhias aéreas regionais e nacionais. Podem ser criadas também algumas “barreiras à saída” em mercados específicos, de modo especial, em rotas de baixa densidade de tráfego, a fim de se evitar e desestimular condutas oportunistas que visem simplesmente expulsar rivais para momento posterior deixar o mercado. Nesse sentido, deve-se destacar que regras regulatórias claras promovem uma maior estabilidade dos negócios, criando um ambiente propício à realização de investimentos, diminuindo incertezas e riscos de mercado. III.2.5 Acesso a Crédito A atividade de transporte aéreo requer elevado volume de capital para a sua implantação, operação, manutenção e continuidade dos serviços. Em particular a constituição e renovação de frota dependem de injeções expressivas de capital, seja por injeção direta, seja por financiamento Assim, a dificuldade de se conseguir financiamento constitui um importante entrave às empresas aéreas regionais. Ainda não há no Brasil, linhas de financiamento a custos competitivos. Apenas uma instituição financeira, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) fornece crédito de longo prazo para o investimento. III. 2.6. Adequação da frota A configuração da frota utilizada pelas companhias aéreas regionais – aviões turbo-hélices –, de acordo com o que foi colhido nas entrevistas realizadas ao longo do trabalho, é adequada, sobretudo em virtude de dois fatores: precariedade de infra-estrutura, que inviabiliza a utilização de jatos de maior porte em boa parte dos aeroportos brasileiros e demanda escassa. Assim, a configuração de frota das empresas regionais torna-se um fator de diferenciação competitiva frente às majors e mais um elemento a reforçar a complementaridade entre companhias operantes nos segmentos MLR e MLT. 127 Fator que afeta negativamente a competitividade é a idade da frota, associada, por um lado a maiores gastos com combustíveis, por outro, à dificuldade de obtenção de financiamento para sua renovação. No âmbito de parcerias, o acesso a aeronaves mais novas, mesmo que mantido o perfil da frota, seria facilitado36. Um somatório de razões a afetar a competitividade tem resultado em alta volatilidade de operadoras no processo de entrada e saída do mercado de linhas regionais. Como conseqüência fundamental tem-se a deterioração da almejada universalização continuada do serviço aéreo. Os altos e baixos do desempenho das regionais não afetam apenas as próprias companhias. O fenômeno das empresas aéreas que implantam linhas e as desativam com muita freqüência gera externalidades negativas, refletindo seus efeitos em outros segmentos e na sociedade como um todo. Muitas atividades surgem e se desenvolvem em função da presença regular do avião e passam a contar com a permanência do mesmo para programar suas atividades ao longo do tempo. O mesmo acontece com as comunidades atendidas por vôos regulares, que ao deixarem de contar com essa ligação, são verdadeiramente prejudicadas. Conclui-se, nesta seção, que todas as questões envolvendo a competitividade do transporte aéreo regional, que caracterizam entraves ao desenvolvimento dessa atividade poderiam ser equacionadas desde que estabelecidos mecanismos que gerassem incentivos a parcerias entre empresas atuantes no MLR e MLT. III.2.6 Desempenho recente do Setor Mesmo diante dos fatores negativos acima destacados, o transporte aéreo regional vem apresentando crescimento expressivo nos últimos três anos. Embora ainda representando uma parcela pequena da indústria, pode-se claramente inferir que o desempenho em termos de incremento de tráfego e cobertura das companhias aéreas regionais vem 36 Funcionando a parceira major como fiadora da regional, tal como ressaltado em uma de nossas entrevistas, servindo seu poder de barganha para facilitar as condições de acesso a crédito por parte da empresa de menor porte. 128 sendo superior ao das principais companhias aéreas brasileiras. Esse melhor desempenho em termos de crescimento se deu às custas de um desempenho econômico-financeiro ruim, entretanto. A seqüência de figuras e tabelas a seguir apresenta um quadro do desempenho recente do setor. Em primeiro lugar, a Figura 41 apresenta uma evolução do tráfego das companhias aéreas regionais. Pode-se perceber que o número de passageiros-quilômetros transportados pagos pelo conjunto de companhias regionais ultrapassou a marca dos bilhões/ano entre 2004 e 2005, o que demonstra claramente a tendência de crescimento desse segmento do transporte aéreo. 1,600,000,000 1,400,000,000 1,200,000,000 1,000,000,000 800,000,000 600,000,000 400,000,000 200,000,000 0 2001 2002 2003 Passageiros-Quilômetros Transportados Pagos 2004 2005 Assentos-Quilômetros Oferecidos Figura 41 – Evolução do Tráfego das Companhias Aéreas Regionais37 37 Fonte: Anuário ABETAR (2007) 129 A Figura 42 mostra a evolução da cobertura ao longo do território nacional, tanto por parte das companhias regionais quanto das companhias “principais” ou “nacionais”. 140 120 100 80 60 40 20 0 2,001 2,002 Companhias Aéreas Regionais 2,003 2,004 2,005 Companhias Aéreas Nacionais Figura 42 – Malha Aérea – Número de Cidades Servidas no Território Nacional38 Pode-se perceber que o conjunto de empresas regionais logrou ampliar a sua cobertura ao longo do território, em parte compensando a forte queda na cobertura aérea das companhias nacionais, sobretudo a Varig e seu grupo (Nordeste e Rio Sul). O número de cidades servidas pelas companhias aéreas regionais ultrapassou os 120 em 2005. 38 Fonte: Anuário ABETAR (2007) 130 A Figura 43 apresenta a evolução das taxas de lucro operacional (receitas de vôo menos despesas de vôo) das companhias aéreas regionais. Pode-se perceber claramente que o aumento da cobertura e do tráfego desse segmento de empresas não foi acompanhado de melhorias na performance econômico-financeira. Isso é indicativo de que a competitividade do setor ainda é fortemente vulnerável aos riscos macroeconômicos e os associados ao marco regulatório do transporte aéreo. 10.0% 5.0% 0.0% -4.2% -5.0% -5.1% -6.7% -8.8% -10.0% -13.3% -15.0% 2001 2002 2003 2004 2005 Figura 43 – Evolução das Taxas de Lucratividade Operacional – Companhias Aéreas Regionais39 39 Fonte: Anuário ABETAR (2007) 131 A Figura 44 a seguir apresenta a evolução do número de aeronaves das companhias regionais por fabricante. 30 20 10 0 2001 2002 Aerospatiale 2003 Boeing Embraer 2004 Fokker 2005 Outros Fabricantes Figura 44 – Número de Aeronaves por Fabricante – Companhias Aéreas Regionais40 A Figura 44 permite observar que o fabricante Aerospatiale (dos turbo-hélices ATR) vem consolidando importantes posições no mercado aéreo regional do país (Mercado de Linhas Regionais, MLR). 40 Fonte: Anuário ABETAR (2007) 132 Por fim, a Tabela 30 permite uma comparação entre o desempenho da indústria de transporte aéreo regular doméstico como um todo em relação às companhias aéreas regionais. Apesar de ainda baixa, tem-se que a proporção do tráfego de passageiros das companhias regionais sobre o total do mercado cresceu consideravelmente, atingindo 4,4%. O crescimento das companhias regionais tem sido expressivo e sempre acima do total do mercado desde 2003, atingindo a excelente marca dos 47,6% em 2005. Tabela 30 – Dados Comparativos de Evolução do Tráfego Aéreo41 Passageiros Transportados Pagos 41 2001 2002 2003 2004 2005 Indústria de Transporte Aéreo Regular ‐ Total 31,139,700 31,528,561 28,976,831 31,752,625 38,699,154 Indústria de Transporte Aéreo Regular ‐ Taxa de Variação Anual 7.4% 1.2% ‐8.1% 9.6% 21.9% Companhias Aéreas Regionais ‐ Total 804,534 791,173 1,003,124 1,153,850 1,703,518 Companhias Aéreas Regionais ‐ Taxa de Variação Anual 6.0% ‐1.7% 26.8% 15.0% 47.6% Proporção Regionais sobre Indústria de Transporte Aéreo Regular 2.6% 2.5% 3.5% 3.6% 4.4% Fonte: Anuário ABETAR (2007) 133 III.2.7 Os Gargalos de Infra-estrutura Às falhas de mercado e ausência de regulação que levam ao exercício de poder de mercado sem freios por parte das companhias concessionárias de serviço de transporte aéreo somam-se as falhas na regulação da infra-estrutura. Argumenta-se que a retomada do processo de flexibilização econômica levaria a resultados superiores em termos de bem-estar porque a estrutura aeroportuária brasileira, da qual depende a prestação adequada do serviço de transporte aéreo, é gerenciada de forma anacrônica. O CBA de 1986, em seu artigo 36, prevê que os aeroportos podem ser explorados de diversas maneiras, dentre elas, “(...) II – por empresa especializada da Administração Federal indireta ou suas subsidiárias, vinculadas ao Ministério da Aeronáutica; III – mediante convênio com os Estados ou Municípios; IV – por concessão ou autorização.” A forma centralizada de administração dos aeroportos, tal como até hoje é feita pela Infraero em 66 aeroportos é, desde 1986, apenas uma das opções para a exploração dos serviços aeroportuários. A administração centralizada desempenhou papel importante no início do aparelhamento da infra-estrutura aeronáutica brasileira (Possas, 2006). Contudo, sob administração central, cada aeroporto tem dificuldades em aproveitar as oportunidades para desenvolver ou optar por estratégias próprias (Palhares, Espírito Santo Jr., 2000). Aeroportos administrados de forma burocrática e não como centros de negócios autônomos implicam, dentre outras distorções, total descolamento entre a estrutura de tarifas aeroportuárias e as demandas por aeroportos centrais e horários de pico. Isso reforça as escolhas das companhias aéreas pela utilização de infra-estrutura nessas condições, em que podem exercer de forma mais efetiva seu poder de mercado. Oliveira e Huse (2005) apontaram que o atual sistema, que combina liberdade de preços para as companhias aéreas e tarifas aeroportuárias 134 rígidas e uniformes, tem elevado fortemente o poder de mercado das companhias aéreas, detentora da maior parte dos slots em aeroportos congestionados. Vassallo e Oliveira (op. cit.) frisam que: “As autoridades devem estar muito esclarecidas com relação ao fato de que conceder slots é o mesmo que distribuir direitos de usufruto de poder de mercado e que, portanto, mecanismos de concessão têm implicações econômicas relevantes. Igualmente importante (...) é o fato de que o atual mecanismo de tarifação de infra-estruturas está servindo como verdadeiro incentivo para que as companhias aéreas concentrem suas operações nos aeroportos e horários mais congestionados. De fato, a combinação preços aéreos livres – tarifas aeroportuárias rígidas acabou por induzir o atual congestionamento do sistema.” (p. 24) É urgente, portanto, a revisão do desenho administrativo que confere, a uma empresa estatal remanescente, o controle de todos os aeroportos relevantes do país, sem que tal controle seja exercido com base em planejamento estratégico de longo prazo das necessidades de expansão e utilização eficiente de infra-estrutura aeroportuária do país, em benefício da boa prestação do serviço de transporte aéreo à coletividade. Note-se que sequer revisão legal é necessária para a criação de condições à administração eficiente dessa infra-estrutura.O CBA já prevê mecanismos de concessões de aeroportos à iniciativa privada assim como convênios com estados e municípios que eventualmente podem ver, na revitalização de um aeroporto local, oportunidade sem precedentes de dinamização econômica De modo equivalente, o mecanismo das PPPs (parcerias público-privadas) poderia ser utilizado para garantir a realização dos investimentos em expansão e desconcentração no uso de aeroportos. 135 Não se trata, tampouco, de interferir de forma discricionária no cálculo racional das companhias aéreas, obrigando-as a mudar suas escalas de vôo42 ou convencendo-as a elevar ainda mais suas tarifas em horários de pico43. Os mecanismos para tanto de fato estão presentes, visto que as portarias de 2003, comentadas anteriormente, que previam a ação moderadora da autoridade para adequar a oferta à “realidade do mercado” ainda encontram-se em vigor. Trata-se porém de criar incentivos para, através de mecanismos de mercado, como a revitalização de aeroportos concedidos à administração privada ou em regime de parceria, oferecendo serviços de infra-estrutura a tarifas menores, atrair a oferta de vôos para aeroportos alternativos aos centrais. As atuais necessidades de expansão de infra-estrutura aeroportuária, para que a crise hoje vivenciada não se perpetue e bloqueie o crescimento econômico são muito superiores aos previstos no plano de investimentos da Infraero. Contra R$ 5,6 bilhões de investimentos previstos para o período de 2007 a 2010, a ANAC prevê a necessidade mínima de R$ 10 bilhões de investimentos e estudo da Fundação Getúlio Vargas prevê R$ 15 bilhões44. Para que o setor aéreo não se torne um obstáculo intransponível ao crescimento da economia brasileira é fundamental rever o regime de operação e controle dos aeroportos brasileiros. Em paralelo, faz-se urgente ação de governo no sentido de efetivar os investimentos imprescindíveis em controle do tráfego aéreo, de responsabilidade do Executivo, seja em equipamentos, seja em treinamento e contratação de pessoal45. Mudanças institucionais na 42 “Após punição, metal é mudar escala de vôos. Governo avalia que pousos e decolagens concentrados nos horários de pico terão que ser distribuídos por outros períodos. Empresas aéreas resistem à mudança”. (Folha de São Paulo, em 27/06/2007) 43 “Infraero defende tarifa mais alta no horário de pico. Medida seria adotada para desafogar operações nos principais aeroportos (...)” (O Estado de São Paulo, em 28/06/2007). 44 45 “Crise aérea ameaça a Infraero”(Jornal do Brasil, 25/06/2007). De acordo com o Art. 47 do CBA, o controle de tráfego aéreo compõe o Sistema de Proteção ao Vôo, que visa à regularidade, segurança e eficiência do fluxo de tráfego no espaço aéreo . Juntamente com outros sistemas como o aeroportuário, de segurança de vôo e registro aeronáutico brasileiro, o Sistema de Proteção ao Vôo compõe a infra-estrutura aeronáutica – Art. 25 do CBA -, que está sujeita ao comando da autoridade aeronáutica, hoje Comando da Aeronáutica, subordinado ao Ministério da Defesa. 136 forma de condução e operação do sistema de segurança de transporte aéreo não são recomendáveis em momento em que providências imediatas para restabelecimento de condições de regularidade, segurança e eficiência do fluxo de tráfego aéreo ocupam a dianteira em um rol de prioridades, condições de normalidade essas que foram comprometidas por tempo demasiado. III.2.8 A Necessidade de Incentivo às Alianças Estratégicas Novas formas de parceria e associação entre empresas têm sido uma tendência observada nas mais diversas indústrias nas últimas décadas, além de tema recorrente na literatura de Economia Industrial e Administração. Empiricamente observa-se que, uma das formas que firmas encontram para alavancar competitividade é a operação em parceria e outras formas de associação, que reduzem custos de transação46 e possibilitam o aproveitamento de vantagens específicas das firmas no processo competitivo, levando ao aumento da eficiência econômica e, portanto, ao aumento da competitividade ao nível microeconômico (De Souza, 1993). Britto (2002) observa uma crescente tendência à investigação dos fatores subjacentes a melhores desempenhos competitivos através do exame da interdependência e interação entre empresas47 utilizando-se o conceito de rede. Tal enfoque analítico tem auxiliado a compreensão de fenômenos crescentes como alianças estratégicas entre empresas e outras formas de cooperação, programas de subcontratação e terceirização, dentre outros. 46 No sentido de Williamson (1975), dos custos de se estabelecerem contratos e interagir no mercado, custos esses que vão além dos custos de produção. 47 Bem cmoo entre empresas e outras organizações e instituições. 137 A abordagem instrumental do conceito de rede é focada na compreensão do comportamento dos agentes no mercado48. As externalidades de rede são o elemento orientador dessa análise. O autor sugere que a existência de externalidades reflete os efeitos da interdependência entre os agentes que atuam no mercado. No que aqui nos interessa, do conjunto de externalidades potenciais49, as de demanda são fundamentais para jogar luz sobre o caráter instrumental das parcerias. São externalidades de demanda as que estão presentes quando aspectos de demanda de determinada empresa são influenciados pelo efeito da rede sobre a demanda de outros agentes. Ademais, das diversas formas de alianças estratégicas entre empresas já analisadas50, as que parecem pertinentes para os objetivos deste trabalho são aquelas baseadas em “configuração complementar”, que integram duas ou mais empresas de maneira a permitir uma articulação de ativos e competências complementares controlados por cada um dos participantes, o que amplia a competitividade dos mesmos (Britto, op. cit.). Em diversas experiências internacionais, na Europa, Oceania, com particular ênfase para a experiência norte-americana recente, a cobertura de vastos territórios nacionais se dá por meio de acordos de parcerias entre majors, operando no MLT, e pequenas empresas, operando no MLR. Tais arranjos apresentam formatos variados, percorrendo o leque de diferentes arranjos de governança de acordos informais, passando por acordos de code-share, terceirização de serviços até a integração vertical. Forbes e Lederman (2007a) descrevem o funcionamento dessas parcerias nos Estados Unidos, em trabalho recente: 48 Britto (op. cit.) identifica duas abordagens distintas, sendo a segunda referente à coordenação da realização de atividades econômicas dentro da rede, ou seja, a institucionalização da rede para permitir a operação do arranjo adotado. 49 50 Sendo elas técnicas, pecuniárias, tecnológicas e de demanda. Dentre eleas alianças baseadas em integração dentro de uma cadeia produtiva, em “configuração aditiva”, que viabiliza aumento de escala e redução da concorrência. 138 “Quase todas as companhias regionais operam sob acordos de codeshare com uma ou mais das operadoras majors. Sob esses acordos, a regional opera vôos em nome da major, que por sua vez comercializa as passagens desses vôos sob seus próprios códigos de duas letras designadores de vôos. Além de usar os códigos da majors, os vôos das regionais também compartilham a marca das majors. Por exemplo, as aeronaves das regionais são pintados no esquema de cores das majors, a tripulação usa os uniformes das majors, os passageiros viajando nas regionais obtêm os pontos de programas de fidelidade das majors, e as regionais utilizam o logotipo, marca e mesmo o nome da major (ex, a companhia regional Conair opera para a Delta sob o nome Delta Connection). Para facilitar as conexões dos passageiros entre regionais e majors, os horários de vôos são coordenados entre elas (...) check-in e check-in de bagagem são feitos apenas uma vez, no início da viagem.” (tradução livre, pp. 194) Forbes e Lederman (2007b) observam que há uma substancial heterogeneidade nos arranjos entre regionais e majors, variando da integração (controle societário de regionais por parte de majors) à contratação de serviços, por parte de uma major, de várias regionais diferentes. A partir desta constatação, investigam as razões para as escolhas mecanismos de governança no contexto norte-americano. A análise, que aponta para os fatores de custos diretos e de transação por trás das escolhas de formas organizacionais, nos interessa no que informa sobre a disponibilidade de alternativas, adequadas a contextos específicos, e usualmente coroadas de êxito. Na Austrália, outro ambiente onde são comuns as parcerias entre majors e regionais, à época da realização de amplo estudo sobre competitividade da aviação regional, (Bureau of Transport Economics, 2000), 97% dos passageiros que viajaram em companhias áreas regionais, fizeram-no em vôos associados a uma das companhias aéreas então existentes51. 51 Ansett Austrália e Qantas. A primeira encerrou suas operações em 2002. 139 É importante salientar que a vulnerabilidade que se observa de parte das companhias aéreas regionais com relação às majors deve-se mais à assimetria de condições de oferta e demanda em que operam do que a uma suposta ineficiência de parte das regionais. Se, conforme reconhecido em entrevistas, um dos principais fatores a explicar a alta taxa de mortalidade das empresas regionais é a “imaturidade empresarial”, ou seja, pode ser creditada a problemas de gestão, por outro o diferencial de dimensão52 entre majors e regionais inviabiliza uma competição saudável entre elas. No entanto, saliente-se que as regionais contam com um fator chave de competitividade. Por operarem aeronaves turbo-hélices menores, “vão até onde as grandes não podem ir”, mesmo em condições marcadamente precárias de infra-estrutura. As localidades que são capazes de atender, por sua vez, apresentam demanda pouco densa, mas representam o território que o interesse público visa integrar, populações as quais o interesse público visa atender. Tais aspectos, de fundamental importância, são passíveis de mobilização por mecanismos regulatórios em favor de maior integração em MLR e MLT. As complementaridades a gerarem externalidades de rede entre companhias regionais e majors são claras, assim como é clara a insustentabilidade da concorrência entre elas. Destacamos que, em outros ambientes, a complementaridade vem sendo explorada, por mecanismos de parceria, em favor da ampliação e densificação de malhas aéreas. Criar mecanismos que estimulem a formação de parcerias, a partir da complementaridade verificada entre as vantagens das majors, de um lado, e vantagens específicas de regionais, de outro, será a tônica de nossa proposta de regulação para fomento dessa atividade econômica. 52 Qualquer seja o critério utilizado para se identificar dimensão: número de passageiros transportados, número de localidades atendidas, tamanho da frota etc. 140 Capítulo IV Proposta de Marco Regulatório Específico para o Mercado de Linhas Regionais 141 IV.1 Falhas de mercado e necessidade de regulação Uma série de fatores responde pela necessidade de regulação técnica e econômica do transporte aéreo. Uma primeira forma de abordagem seria reconhecer o clássico problema da Tragédia dos Comuns na necessidade de coordenação das ações e decisões dos integrantes do sistema de transporte aéreo. Em economia, o termo "Tragédia dos Comuns" está associado a um tipo de armadilha envolvendo um conflito sobre um bem comum, finito e escasso, mas de benefício para a maioria, e que tem que ser repartidos de acordo com interesses individuais. A "tragédia" implica justamente no fato de que o acesso livre e irrestrito ao bem leva ao abuso na sua exploração53. No setor de transporte aéreo, o funcionamento do sistema depende da articulação entre os agentes, troca de informações dos mais diferentes matizes, cumprimento de rígidas exigências de segurança, coordenação em suma que o mercado por si só não é capaz de fornecer. No transporte aéreo sob condições de livre mercado e de plena desregulação econômica, não há incentivos para o investimento individual em qualidade e segurança na prestação de serviços, desde que não haja garantia de que o retorno de tal investimento será apropriado individualmente. Assim, qualidade e segurança da prestação do serviço são típicos bens públicos e, como tais, sub-ofertados. Cabe ao setor público, portanto, assumir tal tarefa, evitando que se estabeleça o quadro típico da Tragédia dos Comuns, qual seja, ações racionais tomadas individualmente levem coletivamente a resultados irracionais. Existe, portanto, uma primeira falha de mercado a requerer a atuação do setor público no que diz respeito ao serviço de transporte aéreo: a necessidade de coordenação entre as ações de inúmeros agentes 53 O caso clássico de Tragédia dos Comuns ocorreu na Europa da Idade Média, onde havia terra sem um dono em relativa abundância. Nessa situação, sob regime de livre criação do gado, tornava-se vantajoso para cada pastor sempre aumentar uma cabeça de gado no seu plantel. Com todos os pastores se comportand dessa forma, rapidamente o pasto comum estaria superpovoado, prejudicando a todos prejudicados. O acesso ao bem comum tinha que ser regulado, como de fato o foi: na Inglaterra medieval existiam leis para regular a quantidade de cabeças que cada pastor poderia cuidar nas propriedades comuns com vistas a evitar os danos à coletividade. 142 operantes no setor. Nunca é demais lembrar que o transporte aéreo, assim como a provisão de infra-estrutura para essa atividade é um serviço público. Tanto é que a Constituição Federal, em seu Art. 2154, inciso XII, estabelece que compete à União “XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: (...) c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária. (...)” O serviço de transporte aéreo regular é operado em regime de concessão55; tal regime é regulado pela Lei 8.987/95 que estabelece regras para a adequada prestação dos serviços públicos. No capítulo II, “Do Serviço Adequado”, lê-se: Art 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade nas tarifas. § 2o A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.” 54 55 Artigo que elenca as competências da União. De acordo com o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), Lei 7.565/86, que classifica o transporte aéreo regular como serviços aéreos públicos, explorados por regime de concessão. 143 A prestação adequada de serviço público por regime de concessão não é resultado que realisticamente deva-se esperar do mercado. Tanto é que a lei se incumbe de definir tais condições e exigir seu cumprimento. Essas regras aplicam-se ao transporte aéreo e é de sua adequada regulação, seja técnica, seja econômica, que se deve esperar venham os incentivos para que as ações individuais dos agentes que compõe esse sistema de transporte levem a resultados compatíveis com o interesse coletivo. Há ainda outra especificidade a caracterizar o transporte aéreo: ao tempo em que não há barreiras econômicas significativas à entrada nesse mercado – requisitos de capital, marca, acesso à tecnologia e fontes de insumos, todas as barreiras à entrada clássicas são fracas no que respeita ao transporte aéreo – o setor demanda fortemente infra-estrutura e serviços operando de forma articulada. Nesse contexto, decisões privadas tomadas isoladamente dificilmente tendem a resultados eficientes, de onde a necessidade de regulação. Acrescente-se ser um setor que, se de um lado é capital intensivo e calcado em ativos específicos, de outro é muito vulnerável às oscilações macroeconômicas, de demanda e câmbio, seu principal deslocador de custos (Vassallo e Oliveira, 2007). O transporte aéreo é uma atividade-meio, necessária para a consecução de inúmeras atividades-fim. Cerca de 70% da demanda por transporte é representada por clientes corporativos (pessoas jurídicas), cujos funcionários ou representantes viajam a trabalho. Este segmento é caracterizado como inelástico a preço e altamente elástico a horários de vôos, qualidade dos serviços e freqüências A prestação inadequada de serviço de transporte a essa fatia da demanda representa elevação de custos associados à realização de negócios e pode mesmo desestimulálos ou inviabilizá-los. Cerca de 25% da demanda é constituída por turistas, que apresentam uma demanda sazonal, mais sensível a preço e a condições de financiamento de passagens e menos sensível a horários de vôos. Evidentemente, más condições de fornecimento do serviço de transporte exercem efeitos negativos na expansão das atividades 144 turísticas56. Uma demanda residual é exercida por passageiros que viajam por motivos particulares (Ferreira, 2005 e Rodrigues, 2005). É intuitivo perceber que para todos os segmentos da demanda a prestação inadequada de serviço de transporte gera perdas de bem-estar. Assim, a importância econômica do transporte aéreo como infra-estrutura, bem como para garantir o direito dos cidadãos de ir e vir é razão por si só suficiente para a sua regulação pelo poder público. Talvez a melhor justificativa para a regulação econômica do setor seja a evidência de que a ausência dessa regulação tem como resultado um total descasamento entre o desempenho das empresas aéreas e o bem-estar dos usuários. Como se sabe, a função da regulação econômica é a de: “(...) promover o interesse público, garantindo, de um lado, a lucratividade que viabilize os investimentos privados e, de outro, o bem-estar dos consumidores por meio da disponibilidade do serviço, em condições adequadas de qualidade e preço” (Salgado e Motta, 2005). Finalmente, no que tange ao transporte aéreo regional, verifica-se que uma série de objetivos representativos do interesse público, como universalização do serviço, integração do território nacional, provisão de infra-estrutura e transporte para o desenvolvimento econômico de localidades, não se apresentam como resultantes naturais das decisões em regime de livre mercado. Aqui, novamente, falha o mercado na provisão do serviço. Eis, portanto, expostas de maneira sucinta, as razões que tornam necessária a regulação econômica do transporte aéreo. 56 A importância da indústria de turismo para a economia brasileira assim como a definição de instrumentos de regulação adequados das atividades que a compõe pode ser conferida em Salgado et alii, 2007. 145 IV.2 O Estágio Atual da Regulação do Transporte Aéreo no Brasil Esta seção visa, a partir de uma retomada das discussões acerca do marco regulatório atual do transporte aéreo brasileiro, iniciadas no Capítulo I deste estudo, avançar no sentido de proporcionar uma maior compreensão das potencialidades de alavancagem da aviação regional, com a introdução de mecanismos de incentivo a este tipo de operação. Como vimos, o setor de transporte aéreo no Brasil passou por duas grandes reformas regulatórias ao longo dos últimos 35 anos: a introdução da regulação estrita (a era da “competição controlada”), entre o final dos anos 1960 e início da década 1970, e a Política de Flexibilização da Aviação Comercial (a era do “livre mercado”), introduzida no início da década de 1990. Ao longo destas quatro décadas de políticas governamentais para o setor, estes foram os dois marcos regulatórios mais notáveis, e que influenciam o debate com relação à regulação do setor ainda hoje. Com a liberalização dos anos 1990 e, mais recentemente, com o advento da Lei de criação da Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC (Lei n. 11.182, de 27 de setembro de 2005), alcançou-se um estágio que se pode caracterizar como de elevada desregulamentação econômica para o transporte aéreo. Isso significa dizer que na maioria das situações, as companhias aéreas tomam isoladamente suas decisões empresariais e competem livremente por posições no mercado. Atendo-se ao Brasil, o momento atual é bastante propício à discussão acerca de questões regulatórias aplicadas à tomada de decisão quanto à capacidade das empresas na aviação comercial – leia-se tamanho das aeronaves e número de freqüências de vôos. Muito recentemente, em março de 2006 e pondo fim a alguns anos de debate em esferas legislativas nacionais, ocorreu uma alteração institucional significativa no setor, marcada pelo encerramento das atividades do Departamento de Aviação Civil (DAC), órgão com atribuições fundamentalmente técnicas, o qual cedeu lugar para a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Essa transição – assim como o processo prévio de debates – deu um ímpeto renovado para a discussão a respeito 146 do estado atual dos marcos regulatórios brasileiros. Outro fato recente que estimula o estudo da matéria regulatória se refere à forma como rotas e o acesso a aeroportos hoje concedidos à Varig seriam alocados a outras empresas aéreas no cenário em que a empresa gaúcha encerrasse definitivamente as suas atividades. A importância desta questão é realçada devido ao fato de o acesso ao aeroporto ser reconhecido como um dos fatores que conferem poder de mercado a uma empresa aérea, fato estilizado ilustrado por Evans & Kessides (1993) e por Borenstein (1989). Por fim, temos a sucessão de eventos que ficou conhecida como “apagão aéreo”, representada pelas crises sistêmicas de 2006/2007, e que resultaram na recente reação governamental em prol de uma maior interferência na determinação das variáveis de capacidade das empresas aéreas. IV.2.1 O Atual Marco Regulatório do Transporte Aéreo Os principais dispositivos legais referentes ao arcabouço regulatório do transporte aéreo podem ser encontrados tanto na Carta Magna brasileira, como no Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer) – Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 –, e na Lei da ANAC – Lei 11.182, de 27 de setembro de 2005. Conforme salientado na seção anterior, a Constituição Federal, em seu Art. 2157, inciso XII, estabelece que compete à União “XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: (...) c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária. (...)” O Código Brasileiro de Aeronáutica dispõe sobre o transporte aéreo regular, subconjunto dos serviços aéreos públicos, estabelecendo que os mesmos serão explorados por regime de concessão ou autorização: 57 Artigo que elenca as competências da União. 147 “Art. 175. Os serviços aéreos públicos abrangem os serviços aéreos especializados públicos e os serviços de transporte aéreo público de passageiro, carga ou mala postal, regular ou não regular, doméstico ou internacional. § 1º A relação jurídica entre a União e o empresário que explora os serviços aéreos públicos pauta-se pelas normas estabelecidas neste Código e legislação complementar e pelas condições da respectiva concessão ou autorização. § 2º A relação jurídica entre o empresário e o usuário ou beneficiário dos serviços é contratual, regendo-se pelas respectivas normas previstas neste Código e legislação complementar, e, em se tratando de transporte público internacional, pelo disposto nos Tratados e Convenções pertinentes (artigos 1º, § 1º; 203 a 213). § 3º No contrato de serviços aéreos públicos, o empresário, pessoa física ou jurídica, proprietário ou explorador da aeronave, obriga-se, em nome próprio, a executar determinados serviços aéreos, mediante remuneração, aplicando-se o disposto nos artigos 222 a 245 quando se tratar de transporte aéreo regular”. Por fim, a Lei de criação da ANAC estabelece em seu Art. 2º, que: "Compete à União, por intermédio da ANAC e nos termos das políticas estabelecidas pelos Poderes Executivo e Legislativo, regular e fiscalizar as atividades de aviação civil e de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária". 148 IV.2.2 A Política de Flexibilização da Aviação Comercial Brasileira No que tange aos aspectos de regulação econômica do setor aéreo, tem-se que as principais normas que tratam da questão foram expedidas no contexto da chamada Política de Flexibilização da Aviação Comercial Brasileira. A Política de Flexibilização foi um conjunto de ações governamentais adotadas a partir do início dos anos 1990 com o objetivo de gradativamente remover os controles sobre variáveis econômicas do setor. Como se observou, as companhias aéreas operam atualmente em um ambiente fracamente regulado, que resulta do processo de flexibilização gradual das regras vigentes sobre a aviação comercial, iniciado em 1991. A partir dali, a década de 1990 testemunhou um cuidadoso processo de introdução da competição no setor, através de medidas como a revisão e mesmo eliminação de segmentações de mercado, autorização para a entrada de novas companhias, liberalização tarifária e controle sobre concentração de mercado (Salgado, 2005). Foi um período onde governo e agentes setoriais estavam fortemente influenciados pela onde de reformas liberalizantes em nível mundial, bem como pelas percepções quanto aos efeitos que as restrições que a política de regulação estrita então vigente acarretavam na dinâmica do mercado. A partir deste consenso pela mudança do marco regulatório, foi realizada, em 1991, a chamada V CONAC, Conferência de Aviação Civil, que contou com a participação de representantes das companhias aéreas e que resultou em um conjunto de recomendações em prol da maior desregulação econômica do mercado. A Política de Flexibilização do setor começou efetivamente a partir de 1992, dentro do chamado “Programa Federal de Desregulamentação” do Governo Collor (Decreto 99.179, de 15 de março de 1990), apesar de elementos de liberalização de preços por meio de bandas tarifárias já estarem vigentes desde 1989. Representando o estabelecimento de um novo marco regulatório da aviação comercial, esta reorientação de políticas foi implementada a partir de uma seqüência 149 de portarias expedidas pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), ao longo da década de 1990 e início dos anos 2000. A liberalização do setor aconteceu de forma gradual, e nas linhas do programa governamental de desregulamentação dos setores regulados e da própria economia brasileira. Pode-se dizer que foi implementada em três rodadas, respectivamente, em 1992, 1998 e 2001, em uma trajetória muito semelhante aos “pacotes” de liberalização promovidos pela União Européia (UE); com a abordagem européia, seguida pelo DAC, houve uma ênfase na graduação das políticas, de forma a se tentar evitar seus potenciais efeitos “danosos” de curto prazo, sobretudo em termos de um forte acirramento da competição no mercado, como aconteceu com a desregulamentação norte-americana, a partir de 1978. Com a Primeira Rodada de Liberalização, PRL, (1991-1997), os monopólios regionais, vigentes desde a época do SITAR, e que já se apresentavam distorcidos por conta da crescente competição entre companhias regionais, em busca de maior escala de operação, e as companhias nacionais, foram definitivamente abolidos (Portaria 075/GM5, de 6 de fevereiro de 1992 e Portarias 686 a 690 /GM5, de 15 de setembro de 1992). Dessa forma, a política de “4 companhias nacionais e 5 companhias regionais” dos anos 1970 foi oficialmente extinta e, a partir de então, a entrada de novas operadoras passou a ser estimulada, o que resultou em uma onda de pequenas novas companhias aéreas entrantes no mercado (por exemplo Pantanal, Tavaj, Meta, Rico, etc), algumas oriundas de empresas de táxi aéreo. A única exceção com relação ao monopólio das regionais ficou por conta de alguns pares de aeroportos, ligando as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Esses pares de aeroportos, em geral ligando os centros das cidades envolvidas, eram conhecidos como “Vôos Direto ao Centro” (existentes desde 1986), e mais tarde, denominadas “Linhas Aéreas Especiais” 58. 58 A única exceção ao monopólio das companhias aéreas regionais nas “Linhas Aéreas Especiais” era a Ponte Aérea Rio de Janeiro – São Paulo, ligação tradicionalmente operada pelo pool de empresas nacionais. 150 Outra medida adotada foi a introdução de preços de referência com novas bandas tarifárias, que agora variavam de – 50% a +32% do valor principal59 – sem dúvida, uma inovação diante do sistema de preços controlados do período de forte regulação. A competição em preços era agora vista como “saudável” para a indústria e passou a ser encorajada; nesse sentido, as bandas tarifárias eram concebidas como instrumentos temporários para intensificar a rivalidade de preços. Contudo, os preços ainda eram, de certa forma, indexados, dado que as tarifas de referência eram, por definição, controladas e sujeitas às políticas de reajustes periódicos. No final dos anos 1990, as autoridades de aviação decidiram remover dois importantes dispositivos de controle da competição que ainda perduravam no setor: as bandas tarifárias e a exclusividade do direito de as regionais operarem as Linhas Aéreas Especiais. Isso gerou a Segunda Rodada de Liberalização, SRL, (final de 1997 e início de 1998, com as Portarias 986 e 988/DGAC, de 18 de dezembro de 1997, e Portaria 05/GM5, de 9 janeiro de 1998), que visava dar mais liberdade às companhias aéreas e que, em última instância, estimulou o primeiro grande surto de competitividade desde o início da desregulamentação. De fato, em 1998, foram observados fenômenos de “guerras de preços” e “corridas por freqüência”, muito divulgados pela mídia, que nada mais representavam que os efeitos de curto prazo das novas medidas implementadas, mas que geraram uma movimentação competitiva como não se via pelo menos desde a década de 1960. Em 2001, um acordo entre o DAC e o Ministério da Fazenda, permitiu que a maioria dos mecanismos de regulação econômica que ainda persistiam no setor fosse removida. De fato, por meio de portarias paralelas dos dois órgãos governamentais, foi posta em prática uma total liberalização dos preços (Portarias 672/DGAC, de 16 de abril de 2001, e 1.213/DGAC, de 16 de agosto de 2001). Isso coincidiu com a flexibilização dos processos de entrada de novas firmas e de pedidos de novas linhas aéreas, freqüências de vôo e aviões (Terceira Rodada de 59 Antes era de –25% e +10% da tarifa de referência 151 Liberalização, TRL, ou “Quase-Desregulação”), em um processo que culminou com a entrada da Gol em janeiro de 2001. Longe de resultar em perdas de bem-estar, estudo empírico recente (Oliveira e Salgado, 2006) demonstrou, através de estimação de demanda e determinantes dos mark-ups, que marcos regulatórios alternativos à flexibilização iniciada em 1991 produziriam perdas consideráveis para os consumidores60. Ganhos inquestionáveis, tanto para as empresas – maior eficiência operacional – quanto para os consumidores – queda de preços, resultaram da opção por liberalizar o mercado, o que leva a concluir pelo acerto daquela política no sentido de ter cumprido o objetivo regulatório de promover um ambiente de incentivo a iniciativa privada e aos investimentos, ao tempo em que promoveu a disponibilidade do serviço, em condições de qualidade e preço adequadas para os usuários. Em 2003, contudo, o processo de flexibilização da regulação econômica desse setor sofreu forte inflexão, provocada naquele momento pela crise gerencial e financeira porque passou a Varig, que não conseguiu suportar o impacto continuado da depreciação cambial sobre sua estrutura tradicional de custos. Convencido de que a crise por que passava a Varig tinha por origem o “excesso de oferta” no mercado e mesmo a “competição ruinosa”, o novo governo federal estabelece novas diretrizes para o setor, configuradas nas portarias do antigo Departamento de Aviação Civil (DAC) 243/GC5, de 13 de março de 2003, que: “dispõe sobre as medidas destinadas a promover a adequação da indústria de transporte aéreo à realidade do mercado”. E também a Portaria 731/GC5, de 11 de agosto de 2003, que estabelece que o DAC passa a exercer a função moderadora de 60 Gerando peso-morto da ordem de até 3,7 bilhões de reais ao longo de dez anos, equivalente a um adicional de preços entre 4 %e 15% ao passageiro transportado na etapa média. 152 “adequar a oferta de transporte aéreo, feita pelas empresas aéreas, à evolução da demanda com a finalidade de impedir uma competição danosa e irracional, com práticas predatórias de conseqüências indesejáveis sobre todas as empresas.” Deu-se início, portanto, ao que se chamou de re-regulação do setor aéreo (Salgado e Guimarães, 2003, Oliveira e Salgado, op. cit. e Vassallo e Oliveira, op. cit.), período em que a autoridade passou a responder a pedidos de importação de aeronaves, entrada de novas companhias e novas linhas aéreas forma estritamente discricionária, de acordo com sua avaliação subjetiva de conveniência – ou seja, na ausência de regras transparentes de regulação. Voltam a ser exigidos estudos de viabilidade econômica prévia, configurando-se uma situação semelhante ao do período regulatório típico, de controle de oferta. Desta feita, contudo, a autoridade preferiu a utilização de mecanismos discricionários de controle, ao invés de uso de explícitas de regulação. Em paralelo, percorria o trâmite processual no Poder Legislativo projeto de lei visando a criação da Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC), processo que se concluiu em 27 de setembro de 2005, com a promulgação da Lei n. 11.182. Seguindo os mesmos princípios das leis que criaram outras agências regulatórias61, essa lei consagrou conceitos de mercado, como o regime de liberdade tarifária e livre mobilidade, prevendo ao mesmo tempo a atuação regulatória da agência para garantir a compatibilização entre a atuação das empresas e a adequada prestação de serviços aos usuários. Note-se, em especial, o disposto no art. 48, § 1o, que determina, consagrando o princípio da livre mobilidade, que: “Fica assegurada às empresas concessionárias de serviços aéreos domésticos a exploração de quaisquer linhas aéreas, mediante prévio registro na ANAC, observada exclusivamente a capacidade operacional de cada aeroporto e as normas regulamentares de prestação de serviço adequado expedidas pela ANAC”. 61 Como ANATEL, ANEEL e ANP. 153 Pode-se argumentar que a re-regulação de 2003 representou o fim do período da Política de Flexibilização da aviação comercial brasileira, dado que promoveu uma interrupção na trajetória de concessão de maiores graus de liberdade estratégica às companhias aéreas, e sinalizou ao mercado que o regulador teria a habilidade de intervir no mercado, de forma discricionária, quando julgasse necessário. A promulgação da Lei da ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil, (Lei 11.182, de 27 de setembro de 2005), a qual consagrou os conceitos de regime de liberdade tarifária e livre acesso e livre mobilidade, pode ser interpretada como um movimento no sentido de resgatar os objetivos iniciais da Política de Flexibilização. IV.2.3 Legislação em Vigor Sobre a Concessão de Linhas Aéreas No que diz respeito à legislação referente à concessão de linhas aéreas e seus impactos na tomada de decisão empresarial quanto à determinação da capacidade produtiva – freqüências de vôo e tipo e configuração de assentos das aeronaves –, vigora atualmente o regime de “Livre Mobilidade”. Trata-se de um arcabouço mais liberal que visa dar agilidade e induzir eficiência no sistema de concessões de linhas aéreas para empresas regulares certificadas para atuar no segmento doméstico de passageiros. Curiosamente, a despeito da importância da escolha regulatória representada por essa medida, tal regime foi implementado apenas nas disposições transitórias da lei nº 11.182, de criação da ANAC. Temos assim, no Capítulo VI, referente àquelas “Disposições Finais e Transitórias”, a seguinte redação62: 62 Embora longe de seguir a boa técnica de redação legal, o cerne do novo marco regulatório está disposto aqui, nesse capítulo VI, “Das Disposições Finais e Transitórias”. Como se traduzisse a relutância em se decretar o fim da regulação econômica no setor, ou a assumida incompletude da escolha regulatória. Em um desenho de instituições mais claro, essa disposição figuraria como um dos primeiros artigos da lei. 154 “Art. 48.§ 1o Fica assegurada às empresas concessionárias de serviços aéreos domésticos a exploração de quaisquer linhas aéreas, mediante prévio registro na ANAC, observada exclusivamente a capacidade operacional de cada aeroporto e as normas regulamentares de prestação de serviço adequado expedidas pela ANAC”. Caminhando na mesma direção, o Decreto nº 5.731, de 20 de março de 2006, que dispõe sobre a instalação, a estrutura organizacional da Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC – e aprova o seu regulamento, expressa que: “Art. 10. Na regulação dos serviços aéreos, a atuação da ANAC visará especialmente a: I - assegurar às empresas brasileiras de transporte aéreo regular a exploração de quaisquer linhas aéreas domésticas, observadas, exclusivamente, as condicionantes do sistema de controle do espaço aéreo, a capacidade operacional de cada aeroporto e as normas regulamentares de prestação de serviço adequado”. Dos conceitos acima encontrados, temos que apenas o de “prestação de serviço adequado” encontra definição explicitamente tratada no ornamento legal, mesmo que não específico do setor aéreo. De fato, a lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que a dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, trata, em seu Capítulo II, dessa relevante matéria no que tange os serviços regulados: “Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”. 155 A ANAC possui um sistema de mensuração da pontualidade, regularidade e eficiência operacional das companhias aéreas, herdada do extinto Departamento de Aviação Civil, e que auxilia o regulador no acompanhamento dos níveis de prestação de serviço adequado. Por outro lado, definições acima consideradas, como a de “condicionantes do sistema de tráfego aéreo” ou de “capacidade operacional de cada aeroporto” ainda carecerem de definição explícita no conjunto de normas que regem o setor Um dos caminhos a ser percorrido pela regulação econômica, com o intuito de criar regras de estímulo a decisões geradoras de eficiência por parte das companhias aéreas, seria definir tais conceitos de forma mais sistemática e passível de monitoração e avaliação por parte da autoridade. Em especial, será proposta adiante a definição mais objetiva e criação de indicadores dos fatores que caracterizam a prestação adequada do serviço público, a partir do qual serão avaliadas e revistas concessões. No que tange especificamente ao controle feito pela autoridade em situações infra-estrutura aeroportuária e de controle de tráfego aéreo escassa, existe uma normatização infra-legal, emanada pela própria ANAC. Criada no sentido de preencher a lacuna quanto à alocação dos chamados “slots”, isto é os horários de chegadas e partidas de aeronaves em aeroportos congestionados, esta normatização visou detalhar a forma de regulação nos casos considerados como exceção ao Regime de Livre Mobilidade consagrado pela Lei da ANAC. Assim, e após consulta e audiência públicas realizadas pela agência, expediu-se a Resolução n° 2, de 3 de Julho de 2006, que aprova o regulamento sobre a alocação de slots em linhas aéreas domésticas de transporte regular de passageiros, nos aeroportos que menciona, e dá outras providências. Os aeroportos que a Resolução menciona são aqueles que operarem no limite de sua capacidade operacional como, por exemplo, o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Um sistema de rodízio foi então desenvolvido no sentido de possibilitar a prestação do serviço pelas companhias aéreas regulares, sistematizando, em regra explícita, a configuração da alocação dos slots naquele aeroporto. Por 156 um lado, a normatização desta importante questão regulatória possibilitou o início de uma maior compreensão, por parte da sociedade, de como funciona a distribuição da infra-estrutura escassa entre entes privados neste setor – fator que pode ser considerado benéfico. Por outro lado, entretanto, tem-se que a formatação da regra acabou por preservar as participações de mercado das companhias aéreas dominantes no Aeroporto de Congonhas (Tam, Gol e Varig), o que, na prática, apenas serviu como consolidação do sistema de grandfather rights que prevalecia até então. Os chamados "grandfather rights" retratam uma situação típica do transporte aéreo mundial, onde a dominância histórica da(s) companhia(s) aérea(s) em um dado aeroporto se torna institucionalizada pelas próprias regras que governam aquele aeroporto, isto é, todo o arcabouço normatizador da rotina aeroportuária acaba sempre por consolidar a dominância do agente de operação aérea63. A mencionada Resolução, que inaugura a atuação da ANAC, consolidou uma estrutura de mercado extremamente concentrada que, com o simultâneo desaparecimento da VARIG, consolidou um duopólio. A par da consolidação do sistema de "grandfather rights", não parece haver justificativa técnica para a reserva de 80% dos slots para as empresas já em operação e restrições a empresas q já tivessem balanço consolidado a apresentar em 2006 – o que excluiu liminarmente empresas entrantes no mercado, dentre outras restrições, para os demais 20% dos slots. A interrupção em 2003 do processo de flexibilização regulatória criou um cenário de incongruência entre empresas aéreas orientadas exclusivamente pela maximização de seus lucros e infra-estrutura comandada pela lógica estatal. Como as tarifas aeroportuárias não refletem qualquer critério de mercado – maior interesse de companhias aéreas por determinados slots – em horários de picos em aeroportos 63 Curiosamente, o texto original da lei que criou a ANAC continha dispositivos que fortaleciam o grandfathering, e foram vetados por orientação do Ministério da Fazenda: "Art. 48. [Caput Vetado] Os contratos de concessão em vigor relativos às outorgas de serviços aéreos cujos vencimentos se verifiquem antes de 31 de dezembro de 2010 ficam automaticamente prorrogados até aquela data.” E “Art. 48. § 2o [vetado] Enquanto forem atendidas as exigências regulamentares de prestação de serviço adequado, ficam mantidos os eslotes atribuídos às empresas concessionárias de serviços aéreos". 157 centrais, por exemplo – observa-se, de acordo com Vassallo e Oliveira (op. cit.), tendência à concentração de vôos em aeroportos centrais, como Congonhas e Brasília, em detrimento de aeroportos médios, como o de Viracopos em Campinas. Apontam os autores que: “Este problema de tendência à concentração dos vôos em grandes aeroportos pode ser indicativo de uma estratégia de “hubinização” das malhas das companhias aéreas. A hubinização diz respeito à configuração das redes no formato hub-and-spoke, padrão de malha amplamente adotado nos Estados Unidos no período imediatamente posterior à desregulamentação econômica de 1978. Este movimento representaria uma decorrência natural da busca de maior eficiência econômica por parte das companhias aéreas em um mercado livre – o que, indubitavelmente, representa um ganho para o setor. Por conta da maior competitividade no mercado, as companhias aéreas intensificam o uso de sua frota no âmbito de suas redes de operação, visando ganhos de produtividade.”(pp. 15 e 16). Os efeitos da concentração de vôos nos principais aeroportos do país – cerca de 25% dos vôos atualmente saem de Congonhas ou Brasília – é o de deterioração da malha aeroviária, com a redução da cobertura dos serviços aéreos no espaço nacional, gerando perdas de bem-estar, em função da redução da universalidade do serviço. Paralelamente, o agravamento da situação financeira da Varig, que resultou em seu drástico encolhimento – da posição de líder, detentora de quase metade do mercado doméstico e mais de 80% dos vôos internacionais até meados desta década, viu reduzida sua participação a meros 2% do mercado doméstico em 2006 –, levou a uma concentração econômica sem precedentes. Atualmente, as companhias TAM e Gol concentram mais de 80% do mercado aéreo nacional. Tal concentração agravou-se com a recente aquisição da Varig pela Gol64, não pelo que a 64 A Gol Linhas Aéreas comprou no dia 28 de março de 2007, por US$ 320 milhões, a VRG, realizando o maior negócio da aviação civil já realizado no país. Do total da transação, US$ 275 milhões serão pagos para aquisição do controle, além de mais R$ 100 milhões relativos ao compromisso de honrar debêntures (títulos) emitidas pela Varig. O pagamento de US$ 275 milhões será feito com 10% do caixa (US$ 98 milhões) da Gol e com a entrega de cerca 158 atual parcela de mercado da primeira agrega à segunda, mas pelo desaparecimento da Varig como concorrente que, se saneada financeiramente, não veria obstáculos para recuperar participação no mercado e injetar nele dinamismo concorrencial65. Lembre-se que no mercado de transporte aéreo não existem elevadas barreiras à entrada (Salgado e Guimarães, 2003). Sem restrições impostas a suas estratégias e incentivos para a prestação adequada do serviço explorado em regime de concessão, seja pela concorrência, seja pela regulação, as duas companhias dominantes, TAM e Gol, têm otimizado a utilização de suas frotas, montando malhas aéreas apertadas – em que uma mesma aeronave realiza um grande número de vôos em conexão66, concentrando seus vôos não apenas nos aeroportos centrais, mas nos horários de maior demanda, em que podem exercer poder de mercado de maneira mais efetiva, com tarifas mais elevadas e garantindo níveis de ocupação de assentos sem precedentes67. de 6,1 milhões de ações preferenciais emitidas, que representam aproximadamente 3% do total de papéis da companhia. A compra por meio da GTI S.A. evita possíveis riscos de contaminação dos passivos bilionários da antiga Varig, que tem dívidas trabalhistas, tributárias e previdenciárias --elas não serão assumidas pela Gol. 65 Note-se que a efetivação do negócio depende ainda da autorização do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que ponderará em sua decisão os efeitos líquidos da operação sobre a concorrência e a eficiência econômica. 66 A média de horas de vôo de uma aeronave da Gol ou TAM em 2006 foi de 14 horas, contra 9 horas em 2005. Tal utilização intensiva de equipamentos naturalmente acarreta maior desgaste e necessidade de paradas para manutenção, o que tem ocorrido à custa de atrasos e conseqüentes desconfortos impostos aos usuários. Vale lembrar o episódio da antevéspera do natal de 2006 que seis aeronaves da empresa TAM sofreram alegada parada para manutenção sem que outras as substituíssem, resultando em significativos prejuízos para milhares de usuários. Conforme frisou-se, não há incentivos impostos pela concorrência ou pela regulação a que as companhias optem racionalmente por zelar pela qualidade na prestação do serviço. 67 Diante de contingências como condições metereológicas desfavoráveis, overbooking ou necessidades de reparos em equipamentos, não há incentivos, seja de natureza regulatória, seja de mercado, para que as companhias tenham aeronaves e tripulação de reserva para atender adequadamente os usuários e lhes garantir o direito estabelecido em contrato de viajar. 159 A demanda por transporte aéreo cresceu de forma singular nos últimos anos: em 2005, o crescimento foi recorde, da ordem de 26,7%. Em 2006, com a crise da Varig, a taxa de crescimento reduziu-se para 12,3%. Individualmente, as companhias dominantes galgaram resultados ainda mais espetaculares: A Gol elevou sua proporção de passageiros por quilômetro transportado em 47% e a Tam em 30%68. Na ausência de concorrência e regulação adequada, ao aumento da demanda por transporte aéreo, as companhias dominantes no mercado têm respondido ao mercado unicamente com queda na qualidade do serviço prestado. Note-se que o atual quadro de virtual duopólio desregulado que caracteriza o mercado de aviação civil brasileiro pode consolidar-se por duas razões: em primeiro lugar, a despeito de não existirem barreiras à entrada de natureza estrutural significativas nesse mercado, condutas predatórias de parte de incumbentes que respondem conjuntamente por mais de 80% da oferta podem vir a bloquear a expansão de concorrentes. Em segundo lugar, há importante barreira à entrada de natureza regulatória a exigir revisão; trata-se da limitação imposta pelo CBA para a participação de capital estrangeiro no controle de companhias aéreas nacionais em 20%. Tal limitação remonta a período histórico anterior à Constituição em vigor69, que não discrimina capitais por sua origem e corresponde a regra anacrônica de regulação vis-à-vis outros setores de infra-estrutura regulados, setores tão estratégicos como aviação civil: telecomunicações, exploração de petróleo e gás natural, energia elétrica. Alterada tal disposição legal, abriria-se caminho para injeção de capital em empresas entrantes e recém-instaladas, assim como alternativas à aquisição de Varig por Gol, operação ainda sob exame das autoridades de defesa da concorrência. Os efeitos positivos sobre a dinamização desse mercado e disciplinamento das condutas das incumbentes seriam amplamente geradores de bem-estar. 68 Fonte: ANAC http://www.anac.gov.br/estatistica/asspassi6.asp 69 Lembre-se que o Código Brasileiro de Aeronáutica em vigor é uma lei de 1986. 160 Note-se que regras de concessão de slots em aeroportos centrais não podem ser vistas como tema alheio ao interesse da aviação regional. Isso porque, em um ambiente regulatório que, em oposição a consolidar, busque gerar maior contestação de posições de mercado – através de regras mais estritas para concessão e manutenção de slots, com acompanhamento e avaliação do desempenho das concessionárias na prestação de serviço. Indicadores objetivos dos critérios de regularidade, pontualidade, eficiência, segurança e cortesia orientariam a avaliação da qualidade da prestação do serviço. Paralelamente, a redução do poder de mercado a ser obtida com maiores restrições e exigências à operação em aeroportos centrais, por conseqüência, poderá levar as companhias em posição de dominância a buscar alternativas de negócios, como parcerias com as companhias de atuação regional. Tais parcerias viriam a viabilizar a operação eficiente dessas companhias e, finalmente a atender ao interesse público da ampla cobertura do serviço de transporte aéreo. Adicionalmente, um marco regulatório que vise a redução das condições e incentivos ao exercício abusivo de poder de mercado, podem ser criados mecanismos regulatórios que funcionem como salvaguardas contra comportamentos estratégicos anticompetitivos, inviabilizando ou dificultando condutas anticompetitivas – de predação e exclusão, assim como comportamento colusivo70, em conduta unilateral ou concertada. O ponto central de nossa proposta regulatória será a revisão da Resolução N. 2 da ANAC, criando-se regras de estímulo à operação eficiente e adequada prestação de serviços, além de estímulo real à nova entrada, com retirada de barreiras econômicas carentes de justificação técnica e instrumentos de estímulo a parcerias, acordos e alianças entre majors e regionais, de modo a viabilizar a operação rentável destas e ampliar cobertura. Um ponto importante a destacar é que as operadoras no Mercado de Linhas Regionais (MLR) são também origem de potenciais concorrentes novos entrantes no Mercado de Linhas Tronco (MLT), o que torna seu fortalecimento importante para incrementar a 70 como barreiras à saída que inviabilizem “manejo de portifólio” de linhas aéreas, 161 contestabilidade ao poder de mercado das principais operadoras aéreas do País. O exemplo da trajetória da TAM, que surgiu como pequena empresa regional e se tornou a principal empresa aérea do País é ilustrativo dessa dinâmica dos mercados aéreo e que historicamente gera incremento de contestabilidade no setor. Este fator é ainda mais relevante em um momento em que as operações de transporte aéreo no país encontram-se concentradas em apenas duas companhias aéreas. Frise-se que o ambiente em que hoje operam as companhias aéreas, de potencial vácuo regulatório entre as medidas de Flexibilização dos anos 1990 e as de Re-regulação dos anos 2000, bem como a alta concentração de oferta, potencializa as dificuldades próprias ao transporte aéreo regional71, acentuando falhas de mercado e obstáculos para o fortalecimento e expansão desse segmento. É o ponto que ora se passa a examinar. IV.3 Por um Marco Regulatório para o Transporte Aéreo Regional IV.3.1 Pontos para o Desenho de um Marco Regulatório para o Transporte Aéreo Regional De maneira geral, observe-se que, em termos de regulação econômica em regime de livre mercado, é tarefa fundamental do órgão regulador (ANAC) promover um acompanhamento contínuo e permanente das condutas das empresas aéreas a fim de se evitar e/ou coibir práticas de concorrência predatória. Adicionalmente, é dever da autoridade a realização de um planejamento eficiente da alocação de rotas (ou rearranjo de rotas) entre companhias aéreas regionais e nacionais, de forma a maximizar o bem-estar social da infra-estrutura aeroportuária existente. Pode-se estabelecer também algumas “barreiras à saída” em mercados específicos, de modo especial, em rotas de baixa densidade de tráfego, a fim de se evitar e desestimular condutas oportunistas que visem simplesmente expulsar rivais, para momento 71 Os elementos que caracterizam a economia do transporte aéreo regional e por conseguinte suas condições de competitividade serão desenvolvidas no quarto produto deste estudo. 162 posterior deixar o mercado. Nesse sentido, deve-se destacar que regras regulatórias claras promovem uma maior estabilidade dos negócios, criando um ambiente propício à realização de investimentos, diminuindo incertezas (riscos) de mercado. Para construir uma proposta de marco regulatório, que represente um conjunto de regras favoráveis ao desenvolvimento das relações de mercado e não um pacote arbitrário de medidas ad hoc, que viriam a gerar custos sociais e privados maiores do que as falhas de mercado que se busca sanar, os objetivos a alcançar são: 1. Formular conjuntos de regras que viabilizem a compatibilização de interesses públicos – universalização do serviço de transporte aéreo, integração territorial, desenvolvimento de localidades regionais – com o interesse privado de investimento na atividade de transporte regional, economicamente sustentável. 2. Alterar o cálculo racional de adoção de estratégias, tornando mais custosas práticas que geram perda de bem-estar, definindo com mais clareza direitos de propriedade, de modo que externalidades negativas geradas pelas estratégias empresariais sejam internalizadas por estas, levando-as a adotar estratégias alternativas, geradoras de externalidades positivas. Não se trata, entretanto, de se propor a substituição da decisão empresarial pela decisão administrativa, mas sim de criar incentivos à decisão empresarial que gere aumento de bem-estar econômico (cif. Laffont e Tirole, 1993 e Laffont e Martimort, 2002). Para definição de estratégias de atuação a longo prazo, é necessário horizonte par ao investimento, o que depende de dois fatores: estabilidade e clareza de regras – para fornecer segurança ao investimento e proteção contra práticas predatórias e de exclusão de parte de companhias de grande porte (majors). São os dois pontos mais salientados em nossas entrevistas como necessários. 163 Por regras estáveis não se quer dizer regras rígidas: flexibilidade para alterações pontuais de regras, em função de mudanças nas condições de oferta e, principalmente, demanda, é atributo necessário no exercício da função regulatória. (cf. Baldwin e Cave, Oxford, 2000) O conjunto de regras que se propõe afeta o transporte aéreo como um todo (MLR e MLT) por não ser possível dissociar estratégias empresariais de operadoras conforme tamanho a atuação, vez que tais estratégias afetam-se mutuamente. No presente estágio, diluem-se as fronteiras entre transporte aéreo regional e nacional, cuja definição outrora fora fruto de decisões regulatórias. Se o processo de flexibilização, descrito anteriormente, de um lado propiciou a entrada de número considerável de novas empresas no mercado, por outro lado deixou-as à mercê de condutas de exclusão e predação por parte de empresas dominantes, independente de sua atuação – MLR ou MLT –, bastando haver clara distinção de dimensão entre agentes sujeito e objeto de condutas exclusionárias. A estratégia montada por ambas as empresas dominantes de hubinização e montagem de malhas aéreas muito densas, combinada com a liberdade irrestrita para operar e deixar de operar vôos72 assim como precificá-los, criou sérios obstáculos à atuação sustentável das empresas de menor porte, de atuação mais restrita. Por outro lado, salta aos olhos o contraste com experiências em que a tônica de interação entre companhias regionais e majors é a parceria, como Estados Unidos e Austrália. No primeiro caso, conforme salientam Forbes e Lederman (2007) “Quase todas as companhias regionais operam sob acordos de codeshare com uma ou mais das operadoras majors. Sob esses acordos, a regional opera vôos em nome da major, que por sua vez comercializa as passagens desses vôos sobseus próprios códigos de duas letras designadores de vôos. Além de usar os 72 Princípio da livre mobilidade, que implica ausências de restrições para entrada e também saída. 164 códigos da majors, os vôos das regionais também compartilham a marca das majors. Por exemplo, as aeronaves das regionais são pintados no esquema de cores das majors, a tripulação usa os uniformes das majors, os passageiros viajando nas regionais obtêm os pontos de programas de fidelidade das majors, e as regionais utilizam o logotipo, marca e mesmo o nome da major (ex, a companhia regional Conair opera para a Delta sob o nome Delta Connection). Para facilitar as conexões dos passageiros entre regionais e majors, os horários de vôos são coordenados entre elas (...) check-in e check-in de bagagem são feitos apenas uma vez, no início da viagem.” (tradução livre, pp. 194) No caso australiano, à época da realização de amplo estudo sobre competitividade da aviação regional, (Bureau of Transport Economics, 2000), 97% dos passageiros que viajaram em companhias áreas regionais o fizeram em vôos associados a uma das companhias aéreas então existentes73. É importante salientar que a vulnerabilidade que se observa de parte das companhias aéreas regionais com relação às majors deve-se mais à assimetria de condições de oferta e demanda em que operam do que a uma suposta ineficiência de parte das regionais. Se, conforme reconhecido em entrevistas, um dos principais fatores a explicar a alta taxa de mortalidade das empresas regionais é a “imaturidade empresarial”, ou seja, pode ser creditada a problemas de gestão, por outro o diferencial de dimensão74 entre majors e regionais inviabiliza uma competição saudável entre elas. No entanto, saliente-se que as regionais contam com um fator chave de competitividade. Por operarem aeronaves turbo-hélices menores, “vão até onde as grandes não podem ir”, mesmo em condições marcadamente precárias de infra-estrutura. As localidades que são 73 74 Ansett Austrália e Qantas. A primeira encerrou suas operações em 2002. Qualquer seja o critério utilizado para se identificar dimensão: número de passageiros transportados, número de localidades atendidas. tamanho da frota etc. 165 capazes de atender, por sua vez, apresentam demanda pouco densa, mas representam o território que o interesse público visa integrar, populações as quais o interesse público visa atender. Tais aspectos, de fundamental importância, são passíveis de mobilização por mecanismos regulatórios em favor de maior integração em MLR e MLT. As complementaridades entre companhias regionais e majors são claras, assim como é clara a insustentabilidade da concorrência entre elas. Destacamos que, em outros ambientes, a complementaridade vem sendo explorada, por mecanismos de parceria, em favor da ampliação e densificação de malhas aéreas. Assim, propõe-se aqui algumas medidas que funcionem como instrumentos para alterar o cálculo empresarial em direção ao estímulo de parcerias. Tais parcerias não implicariam redução da concorrência no transporte aéreo. Ao contrário, viabilizariam o fortalecimento de um número maior de companhias aéreas, ampliando ainda o potencial de contestabilidade de posições de mercado. O principal alvo de nossa proposta regulatória é a revisão da Resolução 2, de 3 de julho de 2006 da ANAC75 (Resolução 2). Mecanismos de concessão de slots em aeroportos coordenados são determinantes para o que se passa com poder de mercado: podem consolidá-lo, facilitar seu exercício ou enfraquecê-lo, em favor do robustecimento da concorrência. Tal como desenhada, a Resolução 2 consolidou a concentração de mercado e criou barreiras econômicas a entrantes, além de chancelar um padrão estratégico de gerenciamento de malha aérea por parte das incumbentes. Com seu poder de mercado consolidado pelas regras definidas pela Resolução 2, as majors têm condições e incentivos para, de um lado, reforçar estratégias de hubinização sobre densa malha de vôos e, por outro, adotar condutas predatórias com relação a entrantes que buscam operar em hubs, sejam de alta, média ou baixa densidade. Os 75 Que aprova o regulamento sobre a alocação de horários de chegadas e partidas de aeronaves em linhas aéreas domésticas de transporte regular de passageiros, nos aeroportos que menciona, e dá outras providências. 166 resultados têm sido redução de cobertura, queda da qualidade do serviço prestado (com aumento de atrasos e cancelamentos de vôos, como expressões mais evidentes da perda de bem-estar). Diante desse quadro, propõe-se rever a Resolução 2 de modo a eliminar aspectos que reforçam poder de mercado e criam barreiras a entrantes, sem contudo implicar ruptura das regras vigentes, o que viria gerar mais insegurança jurídica. Assim, não se propõe alterar a atual configuração de slots concedidos, mas criar transição para um conjunto de regras mais estritas cujo cumprimento seria exigido para a manutenção de slots, tornando mais freqüentes e inclusivos os rodízios. A primeira proposta de alteração, portanto, seria definir com objetividade e rigor as condições para manutenção dos slots atualmente detidos por empresas incumbentes nos aeroportos coordenados76, bem como as condições técnicas para a habilitação à participação do sistema de rodízio77. Tais condições implicariam o cumprimento de padrões mais estrito e objetivos de qualidade na prestação do serviço78. A definição mais estrita do que seja atraso é exemplo de regra que levaria à revisão da estratégia de montagem de malhas aéreas muito densas e apertadas, operadas com base em poucas aeronaves79. A vinculação da manutenção de slots ao cumprimento de padrões mais rígidos de pontualidade internalizaria no cálculo empresarial as externalidades negativas associadas aos atrasos em cascata. Tal mudança abriria espaço para que companhias entrantes e tipicamente regionais estabelecessem suas estratégias locais de hub-and-spoke a partir de hubs médios e pequenos. 76 Art 4º da Resolução 2: Os pares de slots ficarão disponíveis para nova alocação quando (...) 77 Art 12. 78 Em consonância com o que já vem sendo providenciado pela ANAC, como a definição mais restritiva sobre o que deve ser considerado atraso: a partir de 45 minutos, prevista a redefinição para 30 minutos, até que se atinja a meta internacional de 15 minutos como definição de atraso. 79 Como se sabe, um dos fatores responsáveis pelos atrasos em vôos, que se acumulam em cascata. 167 A segunda proposta é que, para todas as novas rodadas de concessões de slots, a única exigência para a participação nos sorteios é a autorização prévia para a operação80, considerando que a determinação ora em vigor de reserva de 4/5 dos slots para as companhias já atuantes e dispondo de demonstrativos econômicos de relativa complexidade não é tecnicamente necessária para garantir a regularidade e confiabilidade na prestação do serviço81. Isso porque o próprio diferencial de disponibilidade de equipamentos entre as companhias implica que cada uma toma suas decisões empresariais, de requisição de novos slots, com prévio conhecimento da capacidade objetiva de operá-los. A retirada de exigências de natureza econômica82 para a habilitação ao processo de implantação do sistema de rodízio de alocação de slots viabilizará a entrada e a contestação de posições de mercado já estabelecidas, operando também em favor da alteração das condições e incentivos à adoção de condutas predatórias, nos termos indicados anteriormente. A terceira proposta à Resolução 2 é que todos os slots que forem sendo retomados pelo regulador por não terem sido cumpridas as regras mais estritas de qualidade de prestação do serviço sejam alocados preferencialmente – por posicionamento no sistema de rodízio – a empresas entrantes ou a empresas incumbentes desde que operando em parceria com empresas de atuação tipicamente regional. Não se definiria um percentual ad hoc de vôos a serem operados em regime de parceria, mas se introduziria mecanismo de estímulo à forma alternativa de gerenciamento de malhas, com relação ao modelo atualmente predominante83. 80 CHETA (Certificado de Homologação de Empresa Aérea) 81 Alteração do art. 3º, criando-se, para novas concessões, uma única grade de slots, sem distinção entre empresas atuantes e entrantes no mercado. 82 inciso III do Art. 10, e observância de incisos IV e V apenas para empresas já em operação. 83 Modelo este que tem gerado um conjunto de externalidades negativas que se visa, por meio da regulação, superar. 168 Apresenta-se uma quarta proposta, a par das alterações à Resolução 2, que para a concessão de horários requeridos em aeroportos caracterizados como hubs de médio e pequeno porte, o regulador deve examinar o histórico de entrada e saída em aeroportos de dimensão equivalente da candidata, ou seja, deve ser identificada a existência de indícios prévios de conduta predatória antes da autorização de novos vôos que possam representar ameaças dessa natureza. Uma quinta proposta, ainda para evitar, de forma ex-ante, a adoção de condutas predatórias, do tipo hit-and-run: o regulador deve estabelecer, na concessão para empresas incumbentes de novas rotas para hubs de médio e pequeno porte, seria estabelecer carência – como sugestão, de 12 meses – como custo de saída a se incorporado ao cálculo empresarial, reduzindo incentivos para a adoção da conduta predatória. Uma sexta proposta seria alterar a limitação imposta pelo CBA para a participação de capital estrangeiro no controle de companhias aéreas nacionais em 20%. Conforme se observou acima, tal limitação remonta a período histórico anterior à Constituição em vigor84, que não discrimina capitais por sua origem e corresponde a regra anacrônica de regulação vis-à-vis outros setores de infra-estrutura regulados. Alterada tal disposição legal, para algo mais próximo das restrições vigentes em outras jurisdições, como a permissão de participação de capitais estrangeiros em até 49% do capital social da empresa. Com isso, seria aberto espaço caminho para injeção de capital em empresas entrantes e, sobretudo, de atuação regional. Os efeitos positivos sobre a dinamização desse mercado e disciplinamento das condutas das incumbentes seriam amplamente geradores de bem-estar. Uma sétima proposta seria alterar o Projeto de Lei nº. 7.199, de 05 de setembro de 2002, criando o PREMIA (Programa de Estímulo à Malha de Integração Aérea Nacional), que se encontra em tramitação no Congresso Nacional, e que transforma o Adicional Tarifário numa Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico – CIDE, incidente sobre a tarifa dos bilhetes em linhas não suplementadas e 84 Lembre-se que o Código Brasileiro de Aeronáutica em vigor é uma lei de 1986. 169 estabelecendo um procedimento licitatório para a distribuição dos recursos sob a forma de Suplementação Tarifária a linhas regionais caracterizadas por baixo (até 5 mil pax/ano) e médio (até 15.000 pax/ano) potencial de tráfego, que comprovadamente não apresentem viabilidade econômica em sua operação e sejam de interesse estratégico para o desenvolvimento econômico e social do País. Nossa proposta de alteração seria destinar a nova CIDE à constituição de fundo a ser gerido pelo BNDES, para financiamento de localidades que pretendam estimular a aviação regional, realizando obras de infra-estrutura, investimentos em atrativos turísticos ou compartilhando custos logísticos com operadoras de transporte aéreo para atraí-las para suas localidades. Essa proposta inspira-se em recente experiência norte-americana, provocada pela revisão crítica dos custos e resultados do modelo de “serviços essenciais”85 Nos Estados Unidos, o serviço aéreo essencial,como um conjunto de linhas aéreas subsidiadas,foi criado para tornar mais suave a transição de um ambiente de intensa regulação para a desregulação, após a reforma instituída em 1978. Como se esperava que, com a desregulamentação, as rotas menos lucrativas seriam abandonadas pelas companhias aéreas, o programa foi planejado para durar por dez anos quando, conforme se supunha, o mercado já teria superado as fricções iniciais. Esse serviço, por razões de economia política86, acabou por se perpetuar. Existe, entretanto, uma alternativa a esse serviço, mais flexível e compatível com mecanismos de mercado, criada em 2000, um fundo de aplicação para pequenas comunidades interessadas em atrair serviços aéreos, o Small Community Air Service Development (SCASD). É neste novo modelo que se baseia esta proposta final. 85 Evan Sparks, Essential air service: neither essential, nor much of a service. January 3, 2008 86 Ou seja, por pressões junto ao Legislativo dos grupos de interesse beneficiados pelo programa (cif. Sparks, 2008). 170 Subsídios, como a suplementação tarifária, são mecanismos tipicamente geradores de distorções, não estimulam a eficiência e desenvolvimento de mercados e podem ser substituídos por instrumentos mais modernos. Em nossas entrevistas, ficou claro que, se houver garantia de operação com eficiência em um “hub regional”87 aeroporto em localidade que proporcione demanda em dimensão suficiente para garantir um fluxo de caixa positivo de forma sustentável, o que significa dizer, sem expectativas de mudanças bruscas de regras e sujeição à ameaça de predação, então a atividade empresarial no TAR mostra-se viável, incluindo o atendimento a áreas mais remotas, desde que na zona de alcance de um “hub regional”. Uma oitava e última proposta seria propor convênio entre a Agência Regulatória (ANAC) e órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (CADE, SDE e SEAE), para tratamento sumário de alianças entre operadoras de MLR e MLT. Tal medida é necessária para dar confiança às decisões de formação de parcerias, reduzindo incertezas quanto ao tratamento a ser recebido tanto pelo regulador como pelas autoridades responsáveis pela defesa da concorrência, além de custos de transação associados aos trâmites processuais. IV.3.2 Detalhamento das Propostas de Reformulação da Resolução 2 da ANAC Em vista da centralidade deste tema no conjunto de nossas propostas, passa-se de imediato a detalhá-las. Como visto, a Resolução N. 2, de 3 de julho de 2006 consiste no atual dispositivo da ANAC que regulamenta a alocação de horários de chegadas e partidas de aeronaves em aeroportos congestionados (slots) em linhas aéreas domésticas de transporte regular de passageiros. A seguir, apresenta-se um conjunto de propostas no sentido de ajustar a Resolução N. 2 à maior competitividade necessária ao mercado de transporte aéreo, com uma maior garantia de participação e acesso aos aeroportos congestionados 87 Nesta categoria enquadram-se os aeroportos caracterizados como hubs médios e pequenos, conforme terminologia da FAA mencionada no produto 2 deste trabalho. 171 por parte de companhias aéreas entrantes e companhias aéreas regionais,além de fomento a parcerias. Os pontos de recomendação são os seguintes: 1. Sobre o conceito de "serviço público adequado" (Art. 2º) e de "prestação de serviço público adequado" (Art. 3º) : "Para os fins deste Regulamento, considera-se: (...) X. serviço público adequado: o que satisfaz as condições de regularidade, pontualidade, continuidade, eficiência, atualidade e cortesia na sua prestação, conforme estabelecido neste Regulamento, nas normas legais aplicáveis e no respectivo contrato de concessão; XI prestação de serviço público adequado: a execução dos serviços de transporte aéreo público regular de passageiros de forma adequada ao pleno atendimento dos usuários (...)". Recomendação: A Lei Nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que, dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos já define, em seu artigo 6º, o que é "serviço adequado". De fato, segundo aquele dispositivo, toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido naquela lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. Segundo a lei, "serviço adequado" é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas (§ 1º). É insuficiente a mera repetição desta definição em um regulamento de slots. Cabe detalhar, objetivamente, critérios para avaliação, por parte da autoridade, do que caracteriza cada um dos fatores. Tal detalhamento pode ser objeto de regulação e ainda dos contratos de concessão, implicando a exigência de cumprimento de regras mais estritas para manutenção do direito de operação de cada par de slot. Não sendo cumpridas as condições especificamente estabelecidas nos regulamentos, a ANAC determinará que os pares de slots retornem ao rodízio na grade. 2. Sobre o sistema de sorteios dentro de grades de rodízio (Art.3º e outros ao longo da Resolução): "O sistema de alocação de pares de slots de que trata este Regulamento pressupõe a organização de duas grades de rodízio em cada aeroporto coordenado, sendo: I - uma 172 grade destinada às concessionárias que já atuam no respectivo aeroporto, na qual serão alocados 4/5 (quatro quintos) dos pares de slots disponíveis; II -uma grade destinada às concessionárias entrantes, na qual serão alocados 1/5 (um quinto) dos pares de slots disponíveis". Recomendação: A discriminação entre empresas estabelecidas e entrantes com o uso de grades de rodízio separadas deve ser substituída por regime que favoreça a contestação de posições de mercado das estabelecidas. Por exemplo, todas as empresas participariam da grade maior (ex. 80%), enquanto apenas as regionais e novas entrantes participariam da grade menor (20%). As companhias regionais e as novas entrantes poderiam, portanto, participar das duas grades. Algum mecanismo de competição pelo acesso aos slots nas duas grades deve ser introduzido, e a tarifa aeroportuária pode ser utilizada com a finalidade de "leilão" dos slots (por exemplo, ganha o slot quem se dispuser a solicitar o menor desconto sobre a tarifa aeroportuária "cheia"). Os vencedores do leilão ganham o direito de uso do slot por um tempo prédeterminado, mas não adquirem a propriedade do slot. As operações aéreas previamente definidas como "regionais" terão, para fins do leilão, desconto máximo inicial superior do que as demais operações. Todas as menções a "sorteio" no processo de alocação de slots e de seleção de companhias aéreas, devem ser excluídas. Os processos de alocação de slots são obrigatoriamente periódicos (ex. de 5 em 5 anos) e as datas dos processos de alocação de slots serão publicadas com antecedência mínima de um ano. Note-se que, pela atual regulamentação, os slots alocados tornam-se virtuais propriedades das concessionários, visto não haver qualquer previsão de período de utilização e em virtude da generaldade com que são definidos critérios para a manutenção do direito ao uso dos slots. 3. Sobre as condições para perda de slots (Art. 4º): "Os pares de slots alocados ficarão disponíveis para nova alocação quando a empresa concessionária: I -não tiver implantado o serviço no prazo de 30 (trinta) dias contado da data de alocação do par de slot, prorrogável por 30 (trinta) dias, mediante justificativa prévia aceita pela ANAC; II - não atingir índice de regularidade mensal igual ou superior a 80 % (oitenta por cento) da operação prevista, durante o período de noventa dias 173 consecutivos; III - deixar de utilizar o par de slot por um período superior a 30 dias consecutivos; IV -manifestar seu desinteresse na continuidade da exploração do slot". Recomendação: A manutenção do direito de operação de pares de slots deve presumir o cumprimento de metas mais estritas de regularidade, tendendo gradativamente a 100%, – como exemplo, em trinta dias o índice de regularidade mensal passa a ser de 85%, em sessenta dias 90% e em noventa dias, 100% – O período de 90 dias consecutivos previsto no inciso II, tenderia, também gradativamente, à queda até atingir 30 dias consecutivos. A não utilização do slot, prevista no inciso III, considerada aceitável se inferior a 30 dias, seria substituída pro regra mais estrita, tendendo, também gradativamente, a 7 dias. Os critérios para perda de slots alocados para operações regionais serão distintos dos critérios para as demais operações. Companhias aéreas que mantêm slots apenas como procedimento estratégico visando sustentar barreiras à entrada de novos competidores, mas não com o objetivo último de manter a operação com regularidade e pontualidade devem ser alvo de não apenas de perda dos respectivos slots mas também de penas pecuniárias ou sistemas de desvantagens nas grades de rodízio. Sugerese incluir um Inciso V ao artigo 4º: “não prestar adequadamente o serviço público, nos termos estabelecidos neste regulamento”, com vistas a compatibilizar o artigo com o maior grau de exigência para manutenção do direito de operação de pares de slots. 4. Sobre exceções das situações de perda de slots (Art. 4º, § 1º): Na apuração dos índices de regularidade de que trata este artigo não serão considerados, quando regularmente informados à ANAC, os cancelamentos de vôos, decorrentes de: I -sazonalidade das operações e feriados; II -força maior, caso fortuito, fato do príncipe e fato da Administração". Recomendação: A expressão “não serão considerados” deve ser substituída por “serão considerados com base em critérios previamente determinados". No que tange às exceções com vistas à manutenção do direito de operação de pares de slots, todos os cancelamentos de vôos, em que pesem as motivações, tais como elencadas nos incisos do § 1º e 174 definidos no § 2º, devem ser justificados e devidamente comprovados, caso a caso. A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, ou órgão que a substituir em suas funções de monitoramento de práticas anticompetitivas, deve ser convidada a participar da emissão periódico de parecer nessa matéria, devendo ser ouvidos PROCONS, Tribunais Especiais e Associações de passageiros. 5. Sobre os pré-requisitos para a participação do processo de alocação de slots e o acesso de novas entrantes (Arts. 10 e 13): Art. 10 - "Para a habilitação no processo de implantação do sistema de rodízio de alocação de slots, que se dará posteriormente ao sorteio, as concessionárias devem apresentar documentação relativa a: I regularidade fiscal; II -capacitação técnica; III -qualificação econômicofinanceira; IV -regularidade no pagamento de tarifas aeroportuárias; V regularidade no pagamento de tarifas de uso das comunicações e dos auxílios à navegação aérea em rota e dos preços específicos; VI cumprimento do disposto no XXXIII do art.7º da Constituição""; e Art. 13: ""A documentação relativa à qualificação econômico-financeira consiste em: I -balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último exercício social, já exigíveis e apresentados na forma da lei, que comprovem a boa saúde financeira da concessionária, vedada a sua substituição por balancetes ou balanços provisórios, podendo ser atualizados por índices oficiais, quando encerrado há mais de 3 (três) meses da data estabelecida para a entrega da documentação; II comprovação, mediante declaração acompanhada de memória de cálculo, de que dispõe de patrimônio líquido positivo". Recomendação: Deve ser excluída a exigência de qualificação econômico-financeira (inciso IV), que representa barreira econômica à entrada de novos competidores e devem ser excetuadas de apresentação de documentação referidas nos incisos I (regularidade fiscal), IV (regularidade no pagamento de tarifas aeroportuárias), V (regularidade no pagamento de tarifas de uso de comunicações) e VI (cumprimento no disposto no XXXIII do art 7º da Constituição) as empresas recémestabelecidas, que deverão apenas apresentar a autorização para operação emitida pela ANAC. No que tange ao Art. 13, sobre a exigência de documentação de qualificação econômico-financeira, tem-se que, uma 175 vez certificadas, as companhias aéreas já demonstraram a capacidade técnica para operação e a disposição empresarial para fazê-lo; sendo assim, qualquer exigência adicional constitui uma barreira artificial à entrada. Todas as empresas aéreas regulares certificadas devem ser livres para participar do processo, com vistas a maximizar a competição por slots. O artigo e seus incisos devem, portanto, ser revogados. Companhias aéreas em fase de certificação devem entrar em um sistema de fast track (procedimento rápido) da autoridade regulatória, com vistas a, caso demonstrem capacidade técnica, terem a sua participação no processo de alocação de slots viabilizada. IV.4 Marco Regulatório: Considerações Finais Conforme discutido no Capítulo I, ainda que não haja uniformidade na definição da aviação regional, pode-se dizer que ela se diferencia da aviação nacional pelas linhas operadas e pelo tipo de aeronave utilizada. Enquanto as linhas domésticas nacionais são aquelas que interligam grandes centros populacionais e econômicos (cidades com mais de um milhão de habitantes), as linhas regionais cumprem o importante papel de complementar essa malha aérea, promovendo a ligação dos grandes centros com as localidades interioranas de baixo e médio potencial de tráfego, inclusive nas fronteiras do país, garantindo a integração nacional. Nesse sentido, cresce a importância das parcerias entre as empresas de atuação nacional e regional. Muitas vezes, delas depende a própria economia das cidades interioranas. Além disso, as parcerias ajudam na alavancagem do transporte de passageiros e facilitam o trânsito dos usuários que possuem dificuldades de conexões, oferecendo melhores alternativas de horários e vôos, além da facilidade de poderem fazer uma só reserva. Dada a discussão da importância da aviação regional como promotora da integração e do turismo nacional, identificamos uma série de empecilhos para o desenvolvimento da aviação regional, tais como a inexistência de um marco regulatório claro e estável, capaz de conferir 176 horizontes de previsibilidade a decisões de investimento de longo prazo, a dificuldade de acesso a crédito e aporte de capital para a atualização de frotas, a vulnerabilidade diante de práticas predatórias e os custos envolvidos na aquisição de QAV. Identificaram-se também fatores que configuram vantagens competitivas para as empresas integrantes do MLR, em particular a capacidade de oferecerem serviços a localidades que as empresas integrantes do MLT encontram dificuldades para fazer. Fatores de demanda, que privilegiam a integração de vôos e fatores de oferta, como potenciais eficiências a serem exploradas, com compras conjuntas e facilitação de acesso a financiamentos são outros elementos que apontam para a existência de complementaridades a serem exploradas em parcerias ou outras formas de associação entre regionais e majors. Buscou-se, a partir da análise realizada, apresentar proposta simples e articulada de marco regulatório, que represente um conjunto de regras favoráveis ao desenvolvimento das relações de mercado, não um pacote arbitrário de medidas ad hoc, que viria a gerar custos sociais e privados maiores do que as falhas de mercado que se busca sanar O conjunto de medidas que formam a proposta tem o objetivo de viabilizar a compatibilização de interesses públicos – universalização do serviço de transporte aéreo, integração territorial, desenvolvimento de localidades regionais – com o interesse privado de investimento na atividade de transporte regional, economicamente sustentável. Tais medidas foram desenhadas com o objetivo de alterar, por meio de incentivos regulatórios, o cálculo racional de adoção de estratégias, tornando mais custosas práticas que geram perda de bemestar, de modo que externalidades negativas geradas pelas estratégias empresariais sejam internalizadas por estas, levando-as a adotar estratégias alternativas, geradoras de externalidades positivas. 177 Cumpre repisar que, em se tratando de proposta contemporânea de regulação, já informada por erros e acertos do passado, não se trata de substituir a decisão empresarial pela decisão administrativa, mas de criar incentivos à decisão empresarial que gere aumento de bem-estar. Observou-se que duas características, ressaltadas em uníssono em nossas entrevistas, são necessárias em um marco regulatório capaz de promover a atividade de transporte aéreo regional: Para definição de estratégias empresariais de atuação a longo prazo, é necessário horizonte para o investimento, o que depende de dois fatores: estabilidade e clareza de regras e proteção contra práticas predatórias e de exclusão por parte das majors. As complementaridades entre companhias aéreas regionais e majors são evidentes: para os passageiros, as alianças melhoram aspectos de qualidade do serviço, tornando as ligações entre centros regionais e capitais relativamente simples; para as companhias regionais, alianças levam a superação de diferenciais de competitividade; para as majors, alianças significam ampliação de cobertura, redução de custos operacionais e de transação. Assim, as alianças e outras formas de parceria para exploração do potencial de complementaridade entre empresas atuantes no MLR e MLT, do ponto de vista da elevação do bem-estar, são mecanismos desejáveis que, portanto, cabe estimular por meio de políticas públicas. Foram medidas que possam como instrumentos para alterar o cálculo empresarial em direção ao estímulo de parcerias. Note-se que tais parcerias não implicariam redução da concorrência no transporte aéreo. Ao contrário, viabilizariam o fortalecimento de um número maior de companhias aéreas, ampliando ainda o potencial de contestabilidade de posições de mercado. 178 Para concluir, vale destacar, que mesmo diante de um quadro de dificuldades, a aviação regional vem apresentando um crescimento expressivo nos últimos anos. Representando somente uma pequena fração da indústria como um todo, as empresas regionais vêm apresentando crescimento pujante desde 2003, e bem acima do crescimento das grandes companhias aéreas brasileiras, como Gol e TAM. Mais importante que isso, trata-se de um crescimento sustentável, dado que promove a melhor utilização das infra-estruturas aeroportuárias ao longo do território nacional, ao invés de congestionar os grandes centros. Tudo isso reflete o grande potencial de crescimento da aviação regional no Brasil na atualidade. Finalmente destaque-se a simplicidade e baixo custo das propostas aqui apresentadas, com o objetivo de alterar, por meio de incentivos, o cálculo empresarial, em direção a resultados melhor compatíveis com o interesse público. 179 Referências Bibliográficas Associação Brasileira de Empresas de Transportes Aéreos Regionais, ABETAR (2007). Guia ABETAR 2007. Barla, P. & Koo, B. (1999) Bankruptcy protection and pricing strategies in the US airline industry. 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Transportation Research - Part E 35, 59-75. 188 Anexo A.1 – Listagem e Classificação das 200 Maiores Ligações Brasileiras Quanto à Densidade de Tráfego e ao Tipo de Mercado Rank 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 Ligação Rio de Janeiro/RJ São Paulo/SP São Paulo/SP Belo Horizonte/MG São Paulo/SP São Paulo/SP Rio de Janeiro/RJ São Paulo/SP São Paulo/SP Rio de Janeiro/RJ Belo Horizonte/MG São Paulo/SP São Paulo/SP Rio de Janeiro/RJ Belo Horizonte/MG São Paulo/SP São Paulo/SP Rio de Janeiro/RJ Rio de Janeiro/RJ Curitiba/PR São Paulo/SP Recife/PE Brasília/DF São Paulo/SP São Paulo/SP Fortaleza/CE São Paulo/SP Brasília/DF São Paulo/SP Brasília/DF São Paulo/SP São Paulo/SP Belém/PA Brasília/DF Belém/PA Brasília/DF São Paulo/SP São Paulo/SP Rio de Janeiro/RJ São Paulo/SP Belo Horizonte/MG São Paulo/SP Belo Horizonte/MG Brasília/DF Rio de Janeiro/RJ Rio de Janeiro/RJ Florianópolis/SC Maceió/AL Natal/RN São Paulo/SP São Paulo/SP Brasília/DF Curitiba/PR São Paulo/SP Porto Alegre/RS Salvador/BA Brasília/DF Recife/PE Florianópolis/SC Salvador/BA Rio de Janeiro/RJ Fortaleza/CE Goiânia/GO Vitória/ES Brasília/DF Vitória/ES Navegantes/SC Porto Alegre/RS Recife/PE Porto Alegre/RS Campo Grande/MS Salvador/BA Salvador/BA Foz do Iguaçu/PR Cuiabá/MT Recife/PE Ribeirão Preto/SP Goiânia/GO Manaus/AM Fortaleza/CE Porto Seguro/BA Londrina/PR Brasília/DF Recife/PE Macapá/AP Manaus/AM Joinville/SC Uberlândia/MG Curitiba/PR Natal/RN Vitória/ES Maceió/AL Salvador/BA Cuiabá/MT Campinas/SP Fortaleza/CE Porto Alegre/RS Salvador/BA Recife/PE S.J.Rio Preto/SP Média de Densidade (pax) Etapa Média (km) Classificação Quanto à Densidade Classificação Quanto ao Mercado 3,848,596 1,480,323 1,389,671 1,318,163 1,314,029 1,034,238 852,760 670,524 617,255 530,580 521,139 482,800 452,482 440,613 389,111 369,058 346,018 318,944 305,562 297,736 297,463 291,687 286,231 277,398 267,229 264,862 264,139 251,948 250,981 249,315 242,796 234,797 231,184 229,971 225,325 220,913 217,959 215,802 215,187 201,187 187,783 166,818 158,583 157,674 155,485 150,696 145,074 144,718 142,615 140,275 365 873 331 504 837 1,479 928 2,128 488 1,223 349 2,372 822 418 610 756 413 1,119 1,863 533 897 648 1,083 821 1,328 627 300 164 2,702 1,690 1,123 458 1,610 1,652 329 1,947 361 551 675 2,316 385 1,947 977 878 407 2,184 363 468 249 421 alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT 189 Rank 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 Ligação Aracaju/SE Brasília/DF São Paulo/SP Brasília/DF Fortaleza/CE Belém/PA Fortaleza/CE Brasília/DF Curitiba/PR Rio de Janeiro/RJ Brasília/DF João Pessoa/PB São Paulo/SP Brasília/DF Fortaleza/CE Rio de Janeiro/RJ Curitiba/PR Curitiba/PR Brasília/DF Brasília/DF Ilhéus/BA Brasília/DF Belém/PA Maceió/AL Belo Horizonte/MG Rio de Janeiro/RJ São Paulo/SP Belém/PA Belo Horizonte/MG São Paulo/SP Fortaleza/CE Curitiba/PR Porto Seguro/BA Natal/RN São Paulo/SP Campo Grande/MS São Paulo/SP Belo Horizonte/MG Boa Vista/RR Manaus/AM F.Noronha/PE São Paulo/SP Manaus/AM Belém/PA Brasília/DF Rio de Janeiro/RJ Curitiba/PR Campinas/SP São Paulo/SP Belo Horizonte/MG Salvador/BA São Luís/MA Belém/PA Curitiba/PR Natal/RN Manaus/AM Salvador/BA Porto Alegre/RS Foz do Iguaçu/PR Foz do Iguaçu/PR Teresina/PI Recife/PE Ilhéus/BA Porto Velho/RO São Luís/MA Natal/RN Londrina/PR Campinas/SP Palmas/TO Natal/RN Salvador/BA Campinas/SP Santarém/PA Recife/PE Campinas/SP Manaus/AM Caxias do Sul/RS Fortaleza/CE Porto Seguro/BA Maringá/PR Teresina/PI Maringá/PR Salvador/BA Salvador/BA Campinas/SP Cuiabá/MT Caldas Novas/GO Uberlândia/MG Manaus/AM Fortaleza/CE Recife/PE Bauru/SP Porto Velho/RO São Luís/MA Maceió/AL Belém/PA Florianópolis/SC Porto Alegre/RS João Pessoa/PB Ipatinga/MG Média de Densidade (pax) Etapa Média (km) Classificação Quanto à Densidade Classificação Quanto ao Mercado 138,668 134,932 123,386 122,406 118,102 117,697 112,898 112,509 108,315 107,619 107,388 102,421 101,725 100,725 100,127 99,861 99,604 98,677 98,562 96,515 92,705 91,668 89,159 85,329 83,937 83,564 82,693 77,866 77,076 76,173 73,853 73,618 73,528 70,507 70,447 68,147 66,700 64,044 62,455 61,711 61,544 61,293 60,875 60,779 60,313 59,302 57,806 54,832 54,154 54,089 253 1,529 2,479 1,082 434 1,298 1,015 1,605 532 1,185 1,322 112 1,264 1,908 646 2,071 315 348 627 1,768 225 798 710 181 481 2,860 766 1,136 639 535 496 361 401 848 84 557 686 461 657 2,388 550 284 761 490 1,491 2,460 246 874 2,226 159 alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta alta MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT 190 Rank 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 Ligação Rio de Janeiro/RJ Petrolina/PE Brasília/DF Belo Horizonte/MG Rio de Janeiro/RJ Brasília/DF Brasília/DF F.Noronha/PE Brasília/DF São Paulo/SP Manaus/AM Brasília/DF Aracaju/SE Belém/PA Aracaju/SE Rio de Janeiro/RJ Rio de Janeiro/RJ Belém/PA Salvador/BA Manaus/AM Belo Horizonte/MG São Paulo/SP Cruzeiro do Sul/AC Brasília/DF São Paulo/SP Porto Alegre/RS Manaus/AM Brasília/DF São Paulo/SP Brasília/DF Manaus/AM São Paulo/SP Porto Alegre/RS Goiânia/GO Recife/PE Belém/PA Imperatriz/MA São Paulo/SP Belo Horizonte/MG Brasília/DF Rio de Janeiro/RJ Vitória da Conquista/BA São Paulo/SP Campinas/SP Navegantes/SC São Paulo/SP Manaus/AM Belo Horizonte/MG Campo Grande/MS Porto Velho/RO Florianópolis/SC Recife/PE Rio Branco/AC Montes Claros/MG Maceió/AL Campo Grande/MS Florianópolis/SC Natal/RN João Pessoa/PB Aracaju/SE Santarém/PA Vitória/ES Recife/PE Altamira/PA Brasília/DF Aracaju/SE Porto Seguro/BA Marabá/PA Vitória/ES Coari/AM Recife/PE São Luís/MA Rio Branco/AC Macapá/AP Araçatuba/SP Salvador/BA Parintins/AM Imperatriz/MA Chapecó/SC Marabá/PA Rio Branco/AC Juiz de Fora/MG Recife/PE Uberlândia/MG São Luís/MA Recife/PE São Luís/MA P.Prudente/SP G.Valadares/MG Boa Vista/RR São Luís/MA Salvador/BA Uberaba/MG Salvador/BA Porto Alegre/RS Marília/SP Tabatinga/AM Fortaleza/CE Londrina/PR Rio Branco/AC Média de Densidade (pax) Etapa Média (km) Classificação Quanto à Densidade Classificação Quanto ao Mercado 52,845 51,295 48,923 46,604 45,656 45,649 45,612 43,968 42,071 41,206 40,900 40,847 40,334 38,833 38,780 37,841 37,045 36,751 36,545 34,455 33,826 33,229 33,016 32,968 32,767 32,398 32,374 31,260 31,058 30,901 30,344 29,552 28,621 27,478 27,225 26,174 25,960 25,906 25,533 25,453 23,807 23,761 23,530 23,067 22,945 22,896 22,864 22,863 22,395 22,037 757 635 2,249 350 1,683 878 1,314 388 1,722 1,732 588 942 396 467 1,290 1,474 836 449 843 363 1,625 2,352 607 1,802 475 2,313 365 1,149 718 1,174 1,153 392 2,961 272 1,200 1,677 484 513 232 2,508 2,261 350 450 1,457 425 371 1,105 1,880 483 451 alta alta alta alta alta alta alta media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLR MLT MLT MLR MLT MLR MLR MLT MLT MLR MLR MLR MLR MLT MLT MLR MLT MLR MLT MLR MLT MLR MLT MLT MLR MLT MLR MLT MLT MLR MLR MLR MLT MLT MLR MLR MLT MLR MLR MLT MLT MLR MLR 191 Rank 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 Ligação Cuiabá/MT Belém/PA São Paulo/SP Fortaleza/CE São Paulo/SP Manaus/AM Aracaju/SE São Paulo/SP Chapecó/SC Fortaleza/CE Maceió/AL Belo Horizonte/MG São Luís/MA Cascavel/PR João Pessoa/PB São Paulo/SP Campina Grande/PB São Paulo/SP Manaus/AM São Paulo/SP Rio de Janeiro/RJ Rio de Janeiro/RJ São Paulo/SP Campo Grande/MS Fortaleza/CE Manaus/AM Brasília/DF Porto Alegre/RS Belo Horizonte/MG Campinas/SP Porto Seguro/BA Campo Grande/MS Itaituba/PA Belo Horizonte/MG Cuiabá/MT Rio de Janeiro/RJ Rio de Janeiro/RJ Goiânia/GO São Paulo/SP Belo Horizonte/MG São Paulo/SP Manaus/AM Recife/PE Carauari/AM Brasília/DF Belo Horizonte/MG Petrolina/PE Cuiabá/MT Cuiabá/MT Goiânia/GO S.J.Rio Preto/SP Almeirim/PA Criciúma/SC Juazeiro do Norte/CE Una/BA Tefé/AM Maceió/AL Porto Velho/RO Florianópolis/SC Campinas/SP Natal/RN Uberaba/MG Teresina/PI Curitiba/PR Salvador/BA Ipatinga/MG Recife/PE Teresina/PI Coari/AM Passo Fundo/RS S.J.Campos/SP João Pessoa/PB Petrolina/PE Goiânia/GO Porto Alegre/RS Recife/PE Porto Seguro/BA Porto Seguro/BA Maceió/AL Recife/PE Ribeirão Preto/SP Corumbá/MS Santarém/PA Ilhéus/BA Goiânia/GO Goiânia/GO C. Goytacazes/RJ Palmas/TO Rio Branco/AC Natal/RN S.J.Campos/SP São Luís/MA Ribeirão Preto/SP Coari/AM Foz do Iguaçu/PR Curitiba/PR Salvador/BA Porto Velho/RO Londrina/PR Salvador/BA Média de Densidade (pax) Etapa Média (km) Classificação Quanto à Densidade Classificação Quanto ao Mercado 21,974 20,483 20,301 20,177 20,084 19,125 19,050 18,735 18,318 17,725 17,504 17,452 17,392 17,290 17,131 17,124 16,659 16,622 16,457 16,451 16,106 15,875 15,732 15,670 15,566 15,296 15,086 15,015 14,359 14,178 14,104 14,078 14,064 14,039 13,996 13,775 13,751 13,632 13,524 13,412 13,241 12,857 12,583 12,420 12,368 12,186 11,863 11,533 11,460 11,189 912 461 630 391 1,264 520 216 2,471 409 2,328 405 420 316 439 748 631 143 2,103 363 764 279 1,967 1,712 715 3,202 2,834 944 1,944 1,445 2,105 1,052 353 243 765 744 943 233 717 2,706 1,812 91 1,756 1,997 425 1,279 827 464 1,144 1,000 1,242 media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media media MLT MLR MLR MLR MLT MLR MLR MLT MLR MLT MLR MLR MLR MLR MLR MLR MLR MLT MLR MLR MLR MLT MLT MLR MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLT MLR MLR MLR MLR MLT MLR MLR MLT MLT MLR MLT MLT MLR MLT MLR MLR MLT MLT MLT 192 Anexo A.2 – Listagem e Classificação dos Roteiros Turísticos Quanto ao Estágio de Geração de Demanda por Transporte Aéreo N Macrorregião UF Roteiro Turístico 1 2 Centro‐Oeste Centro‐Oeste DF DF Brasília – Capital de Eventos do Brasil Brasília – Patrimônio Cultural da Humanidade 3 4 Centro‐Oeste Centro‐Oeste DF DF Brasília Patrimônio Roteiro Arquitetônico Traços da Modernidade 5 6 7 8 9 10 Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste DF DF DF DF DF DF 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste 36 37 Centro‐Oeste Centro‐Oeste 38 39 Centro‐Oeste Centro‐Oeste MS MS 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Nordeste MS MS MS MT MT MT MT MT MT MT AL Roteiro Brasília/Chapada dos Veadeiros Roteiro Oscar Niemeyer Roteiro Pátria Amada Brasil Roteiro Turístico Caminhos da Paz Roteiro Turístico JK Roteiro Turístico Rural e Ecológico Caminhos do Cerrado DF/GO Roteiro Integrado Distrito Federal/Goiás GO Águas Quentes GO Caminho do Ouro GO Chapada dos Veadeiros GO Roteiro Aventura GO Roteiro Cavalcante e Terra Ronca GO Roteiro Cultural com Águas Termais GO Roteiro da Chapada para Corpo e Alma GO Roteiro da Flora do Cerrado de Altitude GO Roteiro da História a Pré‐história GO Roteiro Ecoturismo GO Roteiro Ecoturismo ‐ Místico /Terapêutico GO Roteiro Ecoturismo ‐ Terceira Idade GO Roteiro Ecoturismo e Pesca – Rio Araguaia GO Roteiro Histórico GO Roteiro Histórico/Cultural GO Roteiro Natureza GO Roteiro São Jorge e Alto Paraíso MS Ecoturismo do Pantanal ao Iguassu MS Pantanal de Nhecolândia e vazantes MS Pantanal do Rio Negro e região MS Rota Pantanal / Bonito MS Rota Turística Bioceânica MS Roteiro Agro‐Tecnológico MS Roteiro Bonito das Águas Cristalinas e das Aventuras MS Roteiro Histórico‐Cultural no Pantanal Sul MS Roteiro Pantanal de Abrobal e Estrada Parque Roteiro Pantanal do Rio Aquidauana Roteiro Pantanal do Rio Miranda – Ecológico e Rural Roteiro Pantanal do Rio Paraguai Roteiro Pesca Esportiva no Pantanal Sul Travessia do Pantanal ‐ MS Rota das Águas Termais e da Aventura Roteiro Caminhos de Rondon Roteiro de Negócios e Eventos Roteiro do Pantanal à Amazônia Roteiro Místico Roteiro Xingu: Etnoturismo Indígena Travessia do Pantanal ‐ MT Costa dos Corais Elasticidade Probabilidade de ao PIB Demanda Estimada Estimada 0.00 1.00 0.00 1.00 Classificação Maturidade Maturidade 0.00 0.00 1.00 1.00 Maturidade Maturidade 1.16 0.00 0.00 0.00 1.16 0.39 0.76 1.00 1.00 1.00 0.76 0.92 Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade 0.73 1.74 0.78 0.27 0.27 0.52 1.31 0.54 0.54 0.03 0.27 0.27 0.27 0.69 0.40 1.16 1.16 0.54 0.86 0.37 0.37 0.55 0.55 0.37 0.74 0.43 0.58 0.65 0.52 0.52 0.07 0.69 0.05 0.05 1.00 0.52 0.52 0.52 0.16 0.54 0.76 0.76 0.05 0.45 0.67 0.67 0.43 0.42 0.67 0.11 Inicial Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Inicial Crescimento Inicial Inicial Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Inicial Maturidade Crescimento Crescimento Inicial Inicial Maturidade Maturidade Inicial Inicial Maturidade Inicial 0.29 0.54 0.74 0.50 Maturidade Maturidade 0.71 1.04 0.34 0.01 Inicial Crescimento 0.03 0.44 1.07 1.19 0.97 0.92 0.93 0.27 0.35 1.07 0.32 0.99 0.60 0.05 0.68 0.60 0.68 0.64 0.69 0.83 0.05 0.28 Maturidade Maturidade Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Crescimento Inicial 193 N Macrorregião UF Roteiro Turístico 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste AL AL BA BA BA BA BA BA BA BA BA BA BA BA BA BA 67 68 69 Nordeste Nordeste Nordeste BA BA BA Encontro das Águas Lagoas e Mares do Sul Costa do Cacau da Natureza Costa do Cacau de Norte a Sul Roteiro Caminhos do Descobrimento Roteiro Chapada em Alto Estilo Roteiro Costa Azul Roteiro Costa dos Coqueiros Roteiro de Aventura Costa dos Coqueiros Roteiro Ecológico Costa das Baleias Roteiro Estrada Real Roteiro Fluvial Costa das Baleias Roteiro Guiné Roteiro Integrado Baia de Todos os Santos Roteiro Integrado Costa do Dendê Roteiro Integrado Salvador e Costa dos Coqueiros Roteiro Natureza História e Cultura Roteiro Vale do Paty Volta ao Parque Nacional Chapada Diamantina 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste 86 87 88 Nordeste Nordeste Nordeste CE CE CE CE CE CE CE CE MA MA MA MA MA MA MA MA/CE/P I PB PB PB 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste PE PE PE PE PE PE PE PE PE PE PI PI Elasticidade Probabilidade de ao PIB Demanda Estimada Estimada 0.95 0.17 1.40 0.37 0.95 0.84 0.95 0.84 0.41 0.93 0.60 0.35 1.94 0.34 2.91 0.00 1.94 0.34 0.14 0.98 0.58 0.35 0.14 0.98 0.58 0.35 1.55 0.60 1.36 0.01 1.94 0.34 Classificação Inicial Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Inicial Maturidade Inicial Crescimento Crescimento Crescimento 0.95 0.58 0.60 0.84 0.35 0.35 Maturidade Inicial Inicial Cariri do Ceará Costa Sol Nascente Costa Sol Poente Fortaleza, Natureza, Cultura e Negócios Roteiro Serra da Ibiapaba Roteiro Serras de Aratanha e Baturité Roteiro Sertão Central Roteiro Vale do Acaraú Chapada das Mesas Delta das Américas Floresta dos Guarás Lagos Floridos Lençóis Maranhenses Pólo Cultural São Luís Região dos Cocais Roteiro Integrado Delta/Lençóis/Jeri 0.49 0.85 0.78 0.78 0.99 0.80 1.07 1.00 0.45 0.51 0.66 1.65 0.55 0.14 1.22 0.76 0.75 0.57 0.25 0.31 0.05 0.29 0.04 0.11 0.43 0.00 0.04 0.09 0.00 0.80 0.01 0.11 Maturidade Maturidade Inicial Inicial Inicial Inicial Crescimento Crescimento Inicial Inicial Inicial Crescimento Inicial Maturidade Crescimento Inicial Entre o Rio e o Mar, Séculos de Cultura O maior São João do Mundo Roteiro Histórico e Pré‐Histórico da Paraíba 0.81 0.95 0.82 0.43 0.02 0.02 Inicial Inicial Inicial Rota Águas da Mata Sul Rota Costa dos Arrecifes Rota da Crença e da Arte Rota da História e do Mar Rota da Moda e Confecção Rota do Cangaço e Lampião Rota Engenhos e Maracatus Rota Luiz Gonzaga Rota Náutica Coroa do Avião Rota Sertão do São Francisco Aventuras e Mistérios Caminho das Origens 2.26 2.51 1.81 1.29 1.15 0.78 3.03 1.62 1.87 0.69 0.69 0.23 0.26 0.18 0.21 0.75 0.25 0.24 0.15 0.44 0.34 0.68 0.31 0.57 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Inicial Maturidade 194 Elasticidade Probabilidade de ao PIB Demanda Estimada Estimada 0.60 0.38 0.52 0.49 0.58 0.01 1.45 0.43 0.75 0.00 1.28 0.20 1.30 0.17 1.22 0.11 1.37 0.21 0.65 0.01 1.57 0.18 1.58 0.16 N Macrorregião UF Roteiro Turístico Classificação 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste PI PI RN RN RN RN RN RN RN RN SE SE Delta Selvagem Teresina Surpreendente Roteiro Caminhos no Sertão do Seridó Roteiro das Águas Roteiro das Navegações Roteiro dos Corais Roteiro entre Mares e Sertões Roteiro Pólo Costa Branca Roteiro Pólo Costa das Dunas Roteiro Pólo Seridó Aracaju‐Xingó Caminhos dos Jesuítas (Cidades Históricas) 113 114 115 116 117 118 119 120 121 Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Norte Norte SE SE SE SE SE SE SE AC AC Costa das Dunas e Manguezais Roteiro Cidades Históricas Roteiro Foz do Rio São Francisco Roteiro Praias de Aracaju Roteiro Segredos de Tieta Roteiro Trilhas de Pirambu Roteiro Xingó Rota Ecoturística Caminhos da Revolução Rota Ecoturística Caminhos de Chico Mendes 1.14 1.13 0.96 0.30 1.72 0.69 1.88 0.05 0.13 0.35 0.65 0.00 0.97 0.19 0.48 0.26 0.99 0.76 Crescimento Crescimento Inicial Maturidade Crescimento Inicial Crescimento Maturidade Maturidade 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte AC AC AM AM AM AM AM AM AM AM AP AP AP PA PA PA PA PA PA PA PA PA PA PA RO RO RO RR RR Rota Ecoturística Caminhos do Pacífico Roteiro Integrado Vale do Acre Roteiro Aldeia dos Lagos Roteiro Boi Bumbá Roteiro das Cachoeiras Roteiro do Guaraná Roteiro do Tucunaré Roteiro Encontro das Águas Roteiro Floresta Amazônica Roteiro Mamirauá Amazônia no Meio do Mundo Do Meio do Mundo a Pérola Tapajós Pororoca via Ferreira Gomes Amazônia Carimbó e Tacacá Amazônia do Marajó Amazônia Mar e Campo Amazônia Quilombola Pesque Xingu Rota das Águas ‐ PA Rota do Açaí Rota do Agronegócio ‐ PA Rota do Grande Lago Rota dos Minérios Tapajós: Amazônia, Selva e História Baixo Madeira Nos Trilhos de Mad Maria Vale do Guaporé Aventuras da Serra do Tepequém Caminhos de Macunaima 0.25 0.16 0.53 0.21 0.35 0.15 1.13 0.00 0.60 0.10 0.41 0.38 0.43 0.34 0.23 0.55 0.47 0.01 0.60 0.66 0.84 0.82 0.50 0.55 0.21 0.16 0.37 0.00 0.00 0.44 0.69 0.51 0.72 0.50 0.79 0.50 1.00 0.49 0.71 0.75 0.51 0.91 0.42 0.39 0.36 0.37 1.00 0.11 0.42 0.25 0.69 0.83 0.70 0.97 0.89 0.53 1.00 1.00 Inicial Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Crescimento Maturidade Inicial Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Inicial Inicial Inicial Inicial Maturidade Inicial Inicial Inicial Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Inicial Inicial Inicial Crescimento Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Inicial Crescimento Crescimento 195 Elasticidade Probabilidade de ao PIB Demanda Estimada Estimada 0.00 1.00 0.13 0.53 0.00 1.00 N Macrorregião UF Roteiro Turístico 151 152 153 Norte Norte Norte RR RR RR Monte Roraima O Paraíso da Pesca Esportiva Roraima, na fronteira da Aventura e da Cultura 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 Norte Norte Norte Norte Norte Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste RR TO TO TO TO ES ES ES ES ES MG 0.15 0.37 0.38 1.10 1.42 2.79 1.21 1.50 2.94 2.13 0.00 0.53 0.21 0.39 0.09 0.27 0.01 0.40 0.61 0.05 0.37 1.00 Maturidade Inicial Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade 165 166 167 Sudeste Sudeste Sudeste MG MG MG Trilhas da Serra Grande Jalapão Natureza Mistíca Rota das Águas ‐ TO Serras e Lago Rota da Costa e da Imigração Rota do Mar e das Montanhas Rota do Sol e da Moqueca Rota do Vale e dos Cafés Rota do Verde e das Águas Arte e Cidadania no Circuito Verde‐Trilha dos Bandeirantes Caminho da Fé Caminhos da Canastra Caminhos Reais nas Grutas e Cidades Históricas 3.26 2.99 3.97 0.11 0.14 0.24 Crescimento Crescimento Crescimento 168 169 170 171 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste MG MG MG MG Circuito Vale Verde Conhecendo Diamantina e Região Conhecendo Serro e Diamantina Cultura e Natureza no Caminho dos Tropeiros 3.08 0.63 0.63 2.23 0.28 0.01 0.01 0.13 Crescimento Inicial Inicial Crescimento 172 Sudeste MG 2.57 0.06 Crescimento 173 174 175 176 177 178 179 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste 0.79 7.67 2.43 3.08 4.31 3.83 3.83 0.00 0.01 0.01 0.28 0.02 0.50 0.34 Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento 180 181 182 183 184 185 186 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste 1.70 3.56 2.22 3.79 5.11 5.38 3.48 0.01 0.12 0.01 0.02 0.34 0.00 0.01 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento 187 Sudeste 0.00 1.00 Maturidade 188 Sudeste 2.76 0.07 Crescimento 189 190 191 Sudeste Sudeste Sudeste 0.00 0.00 1.65 1.00 1.00 0.50 Maturidade Maturidade Crescimento 192 Sudeste RJ 0.00 1.00 Maturidade 193 194 195 196 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste RJ RJ RJ RJ 5.05 0.00 4.06 3.75 0.00 1.00 0.23 0.00 Crescimento Maturidade Crescimento Crescimento 197 Sudeste RJ 4.31 0.00 Crescimento 198 Sudeste RJ 199 Sudeste 200 Sudeste De Cordisburgo a Três Marias ‐ Cenários do Sertão Roseano MG Do Arraial do Tijuco a Vila do Príncipe MG Encantos Escondidos da Serra do Cipó MG Estrada Real – Diamantes e Aventuras MG Estudo do Meio MG Fazendas e Vilas do Vale do Ipiranga MG Gruta do Maquiné MG Ouro Preto, Belo Horizonte e as Cidades Históricas MG Parque Estadual da Serra do Brigadeiro MG Rota da Mantiqueira MG Roteiro Mar de Minas MG Santuários da Estrada Real MG Serra do Cipó MG Serra do Cipó – O Jardim do Brasil MG Serra do Cipó a Diamantes – Montanhas, Flores e Cachoeiras na Estrada Real MG Vale Verde Alambique e Parque Ecológico e Salão do Encontro MG/SP/ Roteiro Integrado Estada Real RJ RJ “Ele é Carioca” RJ Agulhas Negras RJ Agulhas Negras ‐ No Acalanto da Cachoeira Agulhas Negras ‐ Parque Nacional de Itatiaia, Penedo, Visconde de Mauá Aventura em Cachoeiras de Macacu Baia de Guanabara Cachoeiras de Macacu e Rio das Ostras Café e Cultura (Roteiro das Fazendas Históricas do Café) Caminhadas em Ambiente Rural no Vale do Café Classificação Maturidade Maturidade Maturidade 3.98 0.00 Crescimento RJ Caminhos do Café: Visitação as Fazendas Históricas da Região Vale do Café Caminhos Imperiais com Fazendas do Café 9.71 0.00 Crescimento RJ Cidades Imperiais com Fazendas do Café 5.15 0.24 Crescimento 196 N Macrorregião UF 201 202 203 204 205 206 207 208 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ 223 Sudeste RJ 224 Sudeste RJ 225 226 227 Sudeste Sudeste Sudeste RJ RJ RJ 228 229 Sudeste Sudeste RJ RJ 230 231 232 Sudeste Sudeste Sudeste RJ RJ SP 233 234 235 236 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste SP SP SP SP 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste SP SP SP SP SP SP SP SP SP SP SP SP SP SP Elasticidade Probabilidade de ao PIB Demanda Estimada Estimada Circuito de Artes Lumiar/São Pedro 3.11 0.03 Circuito Tere ‐ Fri 8.01 0.02 Circuitos do Vale do Café 3.75 0.00 Circuitos Eco‐Rurais em Nova Friburgo 3.11 0.03 Fazendas do Café 3.20 0.17 Fazendas do Café ‐ Circuito Integrado 6.04 0.00 Ilha Grande ‐ Um resort natural 1.80 0.35 Maravilhas da Serra Verde Imperial: Cachoeiras 7.03 0.01 de Macacu, Nova Friburgo e Petrópolis Roteiro Turístico Maravilhas do Rio Niterói Rio ‐ Circuito Café, Cachaça e Chorinho Rio ‐ Costa do Sol Rio ‐ Costa Verde Rio ‐ Ilhas Tropicais Rio ‐ Paraiso do Sol Rio ‐ Rota 040 Rio ‐ Roteiro dos Barões Rio ‐ Roteiros na Costa do Sol Rio ‐ Serra & Mar Rio & Niterói ‐ Tour dos Fortes Rio Aventura Rio Cultural e Histórico Rio dos Esportes de Natureza – Ecoturismo e Aventura Rio Roteiro Floresta e o Mar: História, Natureza e Aventura Rio Roteiro Serra e Mar Sol: Gastronomia e Cultura Rio&Niterói – Caminhos de Niemeyer Rota do Ouro – Angra dos Reis/ Roteiro Integrado da Região das Agulhas Negras, Parque Nacional de Itatiaia e Visconde de Mauá Serra Verde Imperial Turismo Eco ‐ Rural em Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo Turismo Eco‐Rural em Petrópolis Vale do Café Aventura & Lazer / Cavernas da Mata Atlântica / Lagamar Caminho dos Tropeiros ‐ SP Capital / Caminhos do Mar Circuito BR, Arte, Aventura e Natureza Circuito Café com Leite Paulista / Circuito do Nordeste Paulista Circuito Caminhos do Rio Paraíba Circuito Chapada Guarani Circuito da Cultura Caipira Circuito das Águas e Nascentes Circuito das Águas Paulista Circuito das Frutas Circuito dos Lagos Circuito Ecocaipira Circuito entre Serras e Águas Circuito Itupararanga Circuito Mantiqueira Circuito Sertanejo Circuito Tietê Vivo Circuito Vale Histórico Classificação Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento 0.00 3.15 0.74 5.10 10.94 0.15 3.46 3.30 0.86 1.20 0.00 9.61 0.00 0.00 1.00 0.17 0.89 0.34 0.00 0.99 0.00 0.00 0.87 0.57 1.00 0.00 1.00 1.00 Maturidade Crescimento Maturidade Crescimento Crescimento Maturidade Crescimento Crescimento Maturidade Crescimento Maturidade Crescimento Maturidade Maturidade 2.24 0.52 Crescimento 3.52 0.56 Crescimento 0.00 1.80 0.00 1.00 0.35 1.00 Maturidade Crescimento Maturidade 5.59 4.08 0.20 0.02 Crescimento Crescimento 12.92 3.14 1.84 0.00 0.23 0.07 Crescimento Crescimento Crescimento 1.97 0.06 42.02 4.77 0.27 1.00 0.00 0.09 Crescimento Maturidade Crescimento Crescimento 3.41 3.20 1.04 28.62 3.41 1.48 3.68 2.24 5.68 6.93 1.26 2.39 3.89 0.92 0.19 0.35 0.33 0.27 0.25 0.77 0.02 0.56 0.29 0.57 0.32 0.40 0.03 0.04 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Inicial 197 N Macrorregião UF Roteiro Turístico 251 252 253 254 255 Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sul SP SP SP SP PR 256 Sul PR 257 258 259 260 Sul Sul Sul Sul PR PR PR PR 261 Sul PR 262 Sul PR Pólo Cuesta Rota do Guarani Roteiro Cultural da Imigração Japonesa Roteiro dos Bandeirantes Agroturismo, o Grande Negócio (Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente) Aventura na Floresta Atlântica e Lagamar do Paraná Brasil Exuberante Caminhos da Graciosa Caminhos da Pesca Esportiva Caminhos do lazer, da Natureza e da Cultura Indígena Caminhos do lazer, da Natureza e da Fé e Misticismo Caminhos do lazer, da Natureza e dos Lagos 263 264 265 266 267 268 269 270 Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul PR PR PR PR PR PR PR PR 271 Sul PR 272 273 Sul Sul PR PR 274 275 Sul Sul PR PR 276 277 Sul Sul PR PR 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul PR PR PR PR PR PR PR PR PR PR 288 289 290 291 Sul Sul Sul Sul PR PR PR PR 292 293 Sul Sul PR PR 294 295 296 297 298 299 Sul Sul Sul Sul Sul Sul PR PR PR PR PR PR 300 Sul PR Elasticidade Probabilidade de ao PIB Demanda Estimada Estimada 3.16 0.13 0.81 0.83 1.88 0.09 0.09 0.99 0.91 0.81 Classificação Crescimento Maturidade Crescimento Maturidade Maturidade 2.90 0.46 Crescimento 1.68 0.00 2.11 1.74 0.52 1.00 0.60 0.74 Crescimento Maturidade Crescimento Crescimento 1.74 0.74 Crescimento 1.99 0.65 Crescimento 2.18 2.23 2.04 1.89 2.11 1.93 2.11 2.90 0.58 0.56 0.63 0.69 0.60 0.64 0.60 0.46 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento 2.50 0.25 Crescimento 2.52 0.91 0.18 0.81 Crescimento Maturidade Curitiba Aventura Curitiba e Atrativos do Litoral e Campos Gerais 1.64 2.20 0.27 0.60 Crescimento Crescimento Curitiba e Cataratas do Iguaçu Curitiba e os Fantásticos Santuários Ecológicos do Litoral do Paraná Curitiba e Recanto Ecológico Ilha do Mel Curitiba e Rotas do Pinhão Desbravando Costa Oste Descobrindo o Litoral Destino Ilha do Mel (PR) Encanto das Águas Encantos do Sul Encantos do Sul do Brasil Floresta Atlântica e Ilha do Mel Grandes Cenários Ecológicos – do Iguassu ao Pantanal Horizontes Paranaenses Iguassu e Caminhos do Lago Itaipu Lapa Histórica Maringá Golf Club & Termas de Jurema Resort 2.37 2.90 0.58 0.46 Crescimento Crescimento 2.58 0.00 2.11 2.90 3.09 1.74 1.45 1.71 2.66 0.89 0.52 1.00 0.60 0.46 0.42 0.74 0.70 0.65 0.38 0.47 Crescimento Maturidade Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Inicial 0.60 1.93 1.19 2.92 0.71 0.67 0.41 0.19 Maturidade Crescimento Crescimento Crescimento 3.09 0.48 0.42 0.76 Crescimento Maturidade 0.97 2.90 2.11 1.30 1.65 2.86 0.68 0.46 0.63 0.57 0.44 0.37 Maturidade Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento 1.94 0.58 Crescimento Caminhos do Oeste nº 1 Caminhos do Oeste nº 2 Caminhos do Oeste nº 3 Caminhos do Oeste nº 4 Caminhos do Oeste nº 5 Caminhos Históricos da Serra do Mar Caminhos Paraíso da Pesca Esportiva Cicloturismo Morretes, Ilha do Mel e Parque Nacional de Superagui Compras em Shoppings Atacadistas de Confecções em Maringá e Cianorte Costa Rica & Maringá Curitiba a Musa das Flores e o Agroturismo (Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente) Mata Atlântica, Morretes e Ilha do Mel Musa das Flores e Beleza dos Atrativos Rurais e Ecológicos Natureza e História na Rota dos Tropeiros Paraná Route ‐ Superagui National Park Paraná: do Atlântico ao Iguassu Parques Estaduais Passaporte Brasil Ecológico Região do Lagamar “Coração da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica” Rota do Agronegócio ‐ PR 198 N Macrorregião UF Roteiro Turístico 301 302 303 Sul Sul Sul PR PR PR 304 Sul PR 305 Sul PR 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul PR PR PR RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS RS 337 338 339 340 341 Sul Sul Sul Sul Sul RS RS RS RS RS 342 Sul RS 343 Sul RS 344 Sul RS 345 Sul RS Rota dos Tropeiros Rota dos Tropeiros Cultural Roteiro de Agronegócios “Agrirroteiro Paraná Oeste” Roteiro de Agronegócios “Conheça Londrina” ‐ Opção 1 Roteiro de Agronegócios “Conheça Londrina” ‐ Opção 2 Roteiro Técnico‐científico Safari’s Farm e Vila Velha ‐ 1 Safari’s Farm e Vila Velha ‐ 2 Aldeia Guarani e Cavalgadas Arquitetura da Costa Doce Aventura em Maquiné Aventura nos Campos de Cima da Serra Caminho das Missões Caminho das Pipas Caminho dos Santos Mártires Caminho dos Tropeiros ‐ RS Caminho Farroupilha ‐ 1 Caminho Farroupilha ‐ 2 Caminhos do Yucumã ‐ Natureza e Etnias Caminhos Rurais das Terras Canyons a partir de Torres ‐ Fortaleza Canyons a partir de Torres – Trekking no Malacara Canyons a partir de Torres Itaimbezinho Circuito da Imaginária Missioneira Circuito Esportes Náuticos da Costa Doce Circuito Turismo Rural Costa Doce Ecologia na Mata Atlântica Enoturismo na Região Uva e Vinho Estâncias Gaúchas – Requinte e Tradição Expedições aos Canyons Lagoa do Peixe Maravilhas da Laguna dos Patos Na Trilha dos Canyons Natureza, Cultura e Aventura Passeio de Maria Fumaça Passeio Náutico – Rio Mampituba, Reserva Ecológica Ilha dos Lobos e Parque Estadual da Itapeva Passeios Náuticos – Bacia Hidrográfica Passeios Náuticos – Rota Urbana Pedras e Águas que Encantam Pólo de Aventura Rio das Antas Porto Alegre e Delta do Jacuí: Cultura e Natureza Porto Alegre e Delta do Jacuí: Navegando pelo Guaíba Porto Alegre e Delta do Jacuí: Turismo Pedagógico Porto Alegre e Delta do Jacuí: Turismo Tecnologia e Desenvolvimento Porto Alegre e Delta do Jacuí: Vida & Saúde 346 347 Sul Sul RS RS 348 349 350 Sul Sul Sul RS RS RS Elasticidade Probabilidade de ao PIB Demanda Estimada Estimada 1.60 0.41 0.97 0.68 1.63 0.73 Classificação Crescimento Maturidade Crescimento 0.50 0.96 Maturidade 0.50 0.96 Maturidade 1.09 1.40 1.40 2.03 1.20 4.11 1.91 1.50 5.55 1.56 1.91 1.37 1.51 2.35 1.28 3.01 2.88 0.82 0.45 0.45 0.07 0.32 0.02 0.07 0.32 0.01 0.03 0.07 0.42 0.48 0.04 0.02 0.04 0.04 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento 2.88 2.03 2.05 1.43 4.11 0.00 1.09 2.88 3.08 1.93 1.91 2.17 0.00 3.37 0.04 0.07 0.33 0.53 0.02 1.00 0.27 0.04 0.27 0.39 0.07 0.50 1.00 0.02 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Crescimento 4.11 4.11 1.86 0.27 0.92 0.02 0.02 0.21 0.94 0.86 Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade 0.00 1.00 Maturidade 0.00 1.00 Maturidade 0.00 1.00 Maturidade 0.00 1.00 Maturidade Porto Alegre, Serra e Litoral Gaúcho Rio Grande – Cidade Histórica, Cidade do Mar 1.93 1.02 0.52 0.69 Crescimento Crescimento Rota Arquitetônica / Rota Selvagem Rota Aventura Rota Caminhos de Santiago das Missões ‐ 1 2.74 5.55 1.73 0.35 0.01 0.07 Crescimento Crescimento Crescimento 199 N Macrorregião UF Roteiro Turístico 351 Sul RS Rota Caminhos de Santiago das Missões ‐ 2 352 353 354 355 Sul Sul Sul Sul RS RS RS RS 356 357 358 359 360 361 362 363 364 Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul RS RS RS RS RS RS RS RS RS Rota Campeira Rota Colonial Rota da Cachaça e Grandes Lagos Rota das Terras, Caminhos da Cultura, Encanto e Lazer Rota do Rio Uruguai Rota dos Trigais Rota Gaúcho do Pampa ao Mar Rota Germânica ‐ RS Rota Rural Roteiro Caminhos das Revoluções Roteiro Cultural Roteiro das Águas e das Pedras Roteiro das Malhas, Couro e Religiosidade. 365 366 367 368 Sul Sul Sul Sul RS RS RS RS 369 370 371 372 373 374 375 376 Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul 388 389 390 391 392 Sul Sul Sul Sul Sul 393 394 395 396 Sul Sul Sul Sul Roteiro de Aventura Centro‐Serra Roteiro de Ecoaventura Roteiro do Charme Roteiro Encanto e Cultura “O encanto da natureza e a cultura dos povos” RS Roteiro Germânico RS Roteiro Jóias, Lingerie e Via Gênova RS Roteiro Nossas Raízes RS Roteiro Pedras e Águas RS Roteiro Thermas e Longevidade RS Roteiro Vale do Rio das Antas RS Roteiro Verdes Vales RS Roteiro Voltando ao Passado “A mistura do antigo com o moderno, resultado: uma linda região” RS Santa Tereza – Uma História que se conta RS Sol e Praia Costa Doce RS Tour do Imigrante Italiano RS Tour Região das Hortênsias RS Trilha na Nascente do Rio dos Sinos RS Turismo Rural e Termas RS Um Dia na Fazenda RS/PR Roteiro Integrado Iguassu/Missões SC Caminho dos Canyons SC Caminhos da Fé SC Caminhos da Natureza (Roteiros da Grande Florianópolis) SC Costa do Encanto SC Da Ilha as Serras SC Floripa Radical SC Observação de Baleia Franca SC Parques Temáticos, Florianópolis e Serra Catarinense SC Rota da Amizade SC Rota dos Sonhos SC Rota Germânica ‐ SC SC Serra Mar Elasticidade Probabilidade de ao PIB Demanda Estimada Estimada 1.73 0.07 Classificação Crescimento 1.91 4.11 3.08 1.36 0.07 0.02 0.27 0.02 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento 2.57 2.17 1.18 4.56 1.91 1.12 1.69 1.99 0.00 0.02 0.50 0.41 0.18 0.07 0.26 0.38 0.02 1.00 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade 1.46 2.66 1.26 2.29 0.74 0.02 0.27 0.03 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento 1.46 2.92 2.73 2.57 0.97 0.00 2.73 2.04 0.74 0.03 0.11 0.14 0.68 1.00 0.11 0.04 Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Crescimento Crescimento 0.00 2.05 0.00 4.64 4.11 2.59 2.17 1.76 2.64 1.22 0.10 1.00 0.33 1.00 0.03 0.02 0.20 0.50 0.21 0.02 0.33 0.80 Maturidade Crescimento Maturidade Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade 0.06 1.41 0.00 1.80 0.98 1.00 0.54 1.00 0.48 0.69 Maturidade Crescimento Maturidade Crescimento Maturidade 0.91 0.32 0.58 2.15 0.80 0.88 0.83 0.33 Maturidade Maturidade Maturidade Crescimento 200 Anexo A.3 – Listagem e Classificação dos Destinos Indutores Quanto ao Estágio de Geração de Demanda por Transporte Aéreo N Macrorregião UF Destino Indutor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Centro‐Oeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste Nordeste MS GO GO GO MT MT MS MS DF GO PI BA MA AL BA PE RN BA CE CE CE SE PI PB RN PI BA AL PE MA BA CE Bonito Alto Paraíso de Goiás Caldas Novas Pirenópolis Cáceres Cuiabá Campo Grande Corumbá Brasília Goiânia Parnaíba Lençóis Barreirinhas Maragogi Mata de São João Ipojuca Tibau do Sul Maraú Aracati Jijoca de Jericoacoara Nova Olinda Aracaju Teresina João Pessoa Natal São Raimundo Nonato Porto Seguro Maceió Fernando de Noronha São Luís Salvador Fortaleza Elasticidade‐ PIB Estimada Probabilidade de Demanda Estimada Classificação 0.74 0.54 2.61 2.32 1.07 0.05 0.04 0.03 0.00 0.00 0.66 0.58 0.55 0.40 4.77 4.53 1.48 1.36 1.14 1.09 0.49 0.30 0.27 0.27 0.16 0.14 0.14 0.11 0.01 0.00 0.00 0.00 11% 5% 37% 52% 5% 100% 100% 99% 100% 100% 26% 35% 0% 0% 0% 33% 0% 1% 0% 7% 75% 97% 97% 98% 99% 53% 98% 99% 61% 100% 100% 100% Inicial Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Inicial Inicial Inicial Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade 201 N Macrorregião UF Destino Indutor 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 Nordeste Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Norte Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sudeste Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul Sul PE TO AM TO PA AP AM RO AC RR AM PA MG RJ MG SP RJ RJ MG RJ ES MG RJ SP RS PR SC PR SC SC RS PR RS Recife Mateiros Barcelos Palmas Santarém Macapá Parintins Porto Velho Rio Branco Boa Vista Manaus Belém Diamantina Petrópolis Ouro Preto Ilhabela Angra dos Reis Parati Tiradentes Armação dos Búzios Vitória Belo Horizonte Rio de Janeiro São Paulo Gramado Paranaguá São Joaquim Foz do Iguaçu Balneário Camboriú Florianópolis Bento Gonçalves Curitiba Porto Alegre Elasticidade‐ PIB Estimada Probabilidade de Demanda Estimada Classificação 0.00 0.37 2.27 1.67 0.55 0.43 0.31 0.21 0.05 0.00 0.00 0.00 0.48 12.92 5.73 2.22 1.80 1.80 1.60 0.15 0.00 0.00 0.00 0.00 5.55 3.86 1.88 1.74 0.18 0.00 0.00 0.00 0.00 100% 21% 0% 33% 70% 91% 58% 97% 99% 100% 100% 100% 2% 0% 1% 22% 35% 35% 4% 99% 100% 100% 100% 100% 1% 28% 39% 74% 99% 100% 100% 100% 100% Maturidade Inicial Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Inicial Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Crescimento Crescimento Crescimento Crescimento Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade Maturidade 202 Anexo A.4 – Questionário Geral (Painel de Especialistas Entrevistas com Agentes Representativos do Complexo da Aviação Regional) Entrevistado: Local e Data: No seu entender: 1. Quais são os maiores problemas que as empresas de aviação regional (AR) enfrentam na operação independente? 2. Quais são os fatores de custo que mais influenciam negativamente a atuação das empresas de AR? 3. As empresas de AR apresentariam alguma vantagem competitiva a ser explorada, com relação às empresas de atuação nacional? 4. Que peso têm, para a competitividade das empresas de AR, os seguintes fatores: a. Acesso a crédito; b. Carga tributária; c. Custo e logística de combustíveis; d. Custos com pessoal; e. Grau de sindicalização da mão-de-obra; f. Taxas aeroportuárias; g. Condições técnicas de operação aeroportuária. 5. O que explica a taxa de mortalidade tão elevada de empresas de AR? 6. Quais são os principais obstáculos à entrada no mercado de AR? 7. Parcerias estratégicas entre empresas de AR – por exemplo, pools de compra, negociações conjuntas – poderiam reduzir custos e viabilizar a atuação/permanência no mercado dessas empresas? 203 8. Como seria possível explorar, para fortalecimento da AR, a complementariedade entre empresas de atuação regional e nacional? 9. Por que motivos não prosperaram, até o presente, acordos estratégicos e parcerias entre empresas de atuação nacional e regional? 10. Acha que tais parcerias seriam positivas para reforçar a AR? Em que aspectos? (por exemplo redução de custos/aproveitamento de economias de escala e escopo, fortalecimento financeiro das regionais/garantia de rentabilidade, ampliação de cobertura) 11. Que incentivos poderiam ser criados, por meio da regulação, para o estabelecimento dessas parcerias? 12. Como conciliar objetivos públicos de universalidade de serviço e integração terrritorial com o objetivo de rentabilidade empresarial na AR? 13. Qual sua opinião sobre o sistema de suplementação tarifária tal como originalmente constituído? Como funcionou e, em sua opinião, o que deu errado? 14. O que pode ser considerado pertinente no questionamento judicial por parte das empresas de atuação nacional com relação ao adicional tarifário? Que lições devemos tirar dessa experiência? 15. Como vê as atuais propostas de restabelecimento de subsídio para AR? 16. O que deu errado nas tentativas anteriores (RIN e SITAR) de regulação visando gerar estímulos à aviação regional? 17. Identifica viabilidade na recuperação de algum instrumento incluído no SITAR como incentivo à AR? 18. Como veria a reintrodução de mecanismos como estabelecimentos de monopólios por via de concessões de linhas (pares O&D) ou slots em aeroportos específicos? 204 19. Que mudanças entende necessárias na administração propriedade de aeroportos para incentivar a AR? e 20. Que mudanças entende necessárias nos mecanismos de alocação de slots para incentivar a AR? 21. Qual sua opinião sobre adequação e eficiência da atual frota de aeronaves das companhias de AR? 22. Quais são os maiores entraves à aquisição de aeronaves por parte de empresas de AR? 23. O que seria necessário para aumentar a eficiência dessa frota? 24. Que medidas proporia para reduzir custos, como aquisição de aeronaves, logística de combustíveis, operação em aeroportos?