1 Vol XVIII 2009 - Revista Nascer e Crescer
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Vol. 18, nº 1, Março 2009 18| 1 XXI REUNIÃO DO HOSPITAL DE CRIANÇAS MARIA PIA CENTRO HOSPITALAR DO PORTO, EPE PROGRAMA PROVISÓRIO 23 A 25 DE NOVEMBRO DE 2009 HOTEL IPANEMA PARK PORTO CONTROVÉRSIAS Profilaxia das ITU’s Criopreservação de células do cordão umbilical Vacina da Varicela CRIANÇA ALÉRGICA Alergia Alimentar Alergia a Fármacos NUTRIÇÃO EM PEDIATRIA Experiências precoces e impacto futuro Actualidades em Nutrição Nutrição em patologias específicas ADOLESCÊNCIA – DESAFIOS PARA O PEDIATRA Sexualidade na adolescência As Tribos Urbanas “Feeling blue- what can I do” Tecno-dependências As novas drogas SESSÕES CLÍNICAS INTERACTIVAS Neonatologia Ortopedia Pediátrica Cirurgia Pediátrica Cursos Pré-Congresso: Suporte de Vida Pediátrica Técnicas de Comunicação em Público Curso Pós Congresso: A Cardiologia Pediátrica na Prática Clínica Data limite de envio de resumos de Comunicações Livres: 16/10/09 Secretariado: Hospital de Crianças Maria Pia – Rua da Boavista, 827-4050 Porto – Telefone 226089900 – Ext.3188 Revista do Hospital de Crianças Maria Pia | Departamento de Ensino, Formação e Investigação | Centro Hospitalar do Porto Ano | 2009 Volume | XVIII Número | 01 Directora | Editor | Sílvia Álvares; Directora Adjunta | Associated Editor | Margarida Guedes Presidente do CA do Centro Hospitalar do Porto, EPE | Director | Fernando Sollari Allegro Corpo Redactorial | Editorial Board Artur Alegria, Maternidade Júlio Dinis; Carmen Carvalho, Maternidade Júlio Dinis; Conceição Mota, Hospital Maria Pia; Laura Marques, Hospital Maria Pia; Miguel Coutinho, Hospital Maria Pia; Rui Chorão, Hospital Maria Pia Editores especializados | Section Editors Artigo Recomendado – Helena Mansilha, Hospital Maria Pia; Maria do Carmo Santos, Hospital Maria Pia; Tojal Monteiro, Instituto Superior de Ciências Biomédicas Abel Salazar Perspectivas Actuais em Bioética – Natália Teles, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) Pediatria Baseada na Evidência – Luís Filipe Azevedo, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto; Altamiro da Costa Pereira, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto Ciclo de Pediatria Inter-Hospitalar do Norte – Armando Pinto, Instituto Português de Oncologia; Carla Carvalho, Hospital Santa Maria Maior; Conceição Santos Silva, Centro Hospitalar Póvoa de Varzim e Vila do Conde; Fátima Santos, Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia; Fernanda Manuela Costa, Hospital de Santo António; Helena Jardim, Hospital S. João; Isolina Aguiar, Centro Hospitalar Alto Ave; Joaquim Cunha, Centro Hospitalar Vale do Sousa; Miguel Costa, Hospital São Miguel; Rogério Mendes, Maternidade Júlio Dinis; Rosa Lima, Hospital Maria Pia; Sofia Aroso, Hospital Pedro Hispano; Sónia Carvalho, Centro Hospitalar Médio Ave; Susana Tavares, Hospital S. Sebastião Caso Endoscópico – Fernando Pereira, Hospital Maria Pia Caso Estomatológico – José Amorim, Hospital Maria Pia Genes, Crianças e Pediatras – Esmeralda Martins, Hospital Maria Pia; Margarida Reis Lima, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) Caso Radiológico – Filipe Macedo, Serviço Médico de Imagem Computorizada Pequenas Histórias – Margarida Guedes, Hospital de Santo António Coordenação Técnica | Editorial Coordenation Margarida Lima, Hospital Santo António Conselho Técnico | Consultant Gama de Sousa, Hospital Maria Pia Conselho Científico Nacional | | National Scientific Board - Agustina Bessa Luís, Hospital de Crianças Maria Pia - Almerinda Pereira, Hospital de São Marcos - Álvaro Aguiar, Universidade do Porto, Faculdade de Medicina - Ana Maria Leitão, Hospital Santa Maria Maior - Ana Maria Ribeiro, Hospital Distrital de Oliveira de Azeméis - Ana Ramos, Hospital Maria Pia - António Lima, Hospital Distrital de Oliveira de Azeméis - António Martins da Silva, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar - António Vilarinho, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia - Arelo Manso, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro - Arlindo Oliveira, Hospital Dr. Francisco Zagalo - Braga da Cunha, Centro Hospitalar de Tâmega e Sousa - Carlos Duarte, Hospital Maria Pia - Cidade Rodrigues, Hospital Maria Pia - Clara Barbot, Hospital Maria Pia - Conceição Casanova, Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim e Vila do Conde - Eloi Pereira, Hospital Maria Pia - Eurico Gaspar, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro - Fátima Praça, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia - Fernanda Teixeira, Hospital Santo António - Filomena Caldas, Hospital Maria Pia - Gama Brandão, Centro Hospitalar do Alto Ave - Gonçalves Oliveira, Centro Hospitalar do Médio Ave - Henedina Antunes, Hospital de S. Marcos - Ines Lopes, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia - José Barbot, Hospital Maria Pia - José Carlos Areias, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto - José Carlos Sarmento, Centro Hospitalar do Vale do Sousa - José Castanheira, Hospital de S. Teotónio - José Cidrais Rodrigues, Hospital de Pedro Hispano - José Pombeiro, Maternidade Júlio Dinis - Lopes dos Santos, Hospital de Pedro Hispano - Lucília Norton, Instituto Português de Oncologia - Luís Januário, Hospital Pediátrico de Coimbra - Luís Lemos, Hospital Pediátrico de Coimbra - Luís Vale, Hospital de Santo António - Manuel Salgado, Hospital Pediátrico de Coimbra - Manuela Selores, Hospital de Santo António - Marcelo Fonseca, Hospital de Pedro Hispano - Margarida Lima, Hospital Santo António - Margarida Medina, Hospital Santo António - Maria Augusta Areias, Maternidade Júlio Dinis - Maria Salomé Gonçalves, Hospital Maria Pia - Miguel Taveira, Hospital Maria Pia - Nuno Grande, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar - Octávio Cunha, Hospital Santo António - Óscar Vaz, Centro Hospitalar do Nordeste - Paula Cristina Ferreira, Hospital Santo António - Pedro Freitas, Centro Hospitalar do Alto Ave - Raquel Alves, Hospital Maria Pia - Rei Amorim, Centro Hospitalar Alto Minho - Ricardo Costa, Centro Hospitalar da Cova da Beira - Rodrigues Gomes, Fundação Calouste Gulbenkian - Rosa Amorim, Hospital Maria Pia - Rui Carrapato, Hospital de S. Sebastião Conselho Científico Internacional | | International Scientific Board - Allan de Broca (Amiens), Hôpital Nord - Anabelle Azancot (Paris), Hôpital Robert Devré - D. L. Callís (Barcelona), Hospitals Vall d’Hebron - F. Ruza Tarrio (Madrid), Hospital Infantil Universitario La Paz - Francisco Alvarado Ortega (Madrid), Hospital Infantil Universitario La Paz - George R. Sutherland (Edinburgh), University Hospital - Harold R. Gamsu (Londres), Kings College Hospital - J. Bois Oxoa (Barcelona), Hospitals Vall d’Hebron - Jean François Chateil (Bordeaux), Hôpital Pellegrin - José Quero (Madrid), Hospital Infantil Universitario La Paz - Juan Tovar Larrucea (Madrid), Hospital Infantil Universitario La Paz - Juan Utrilla (Madrid), Hospital Infantil Universitario La Paz - Peter M. Dunn (Bristol), University of Bristol Secretariado Administrativo | Secretary Paulo Silva Publicação trimestral resumida e indexada por EMBASE / Excerpta Médica; Catálogo LATINDEX Design gráfico bmais comunicação Execução gráfica e paginação Papelmunde, SMG, Lda Vila Nova de Famalicão ISSN 0872-0754 Depósito legal n° 4346/91, anotada no Ministério da Justiça em 92.04.24 Tiragem 2.500 exemplares Autorização CTT DE 0005/2005 DCN Propriedade, Edição e Administração Hospital de Crianças Maria Pia, DEFI Centro Hospitalar do Porto Rua da Boavista, 827 – 4050-111 Porto tel: 226 089 900; fax: 226 000 841 www.hmariapia.min-saude.pt Os trabalhos, a publicidade e a assinatura, devem ser dirigidos a Coordenação da Revista Nascer e Crescer Hospital de Crianças Maria Pia Rua da Boavista, 827 – 4050-111 Porto tel: 226 089 988 [email protected] Condições de assinatura Anual 2009 (4 números) - 40 euros Número avulso - 12 euros Estrangeiro - 80 euros Rua da Boavista, 713 – 4050-110 PORTO Tel. 222 081 050 [email protected] NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia índice ano 2009, vol XVIII, n.º 1 número1.vol.XVIII 7 Editorial 9 Artigos Originais Margarida Lima, Sílvia Álvares Evolução pós-natal das dilatações pielocaliciais de diagnóstico pré-natal Artur Alegria , Teresa Costa 13 “Não se está mesmo a ver?” Avaliação da imagem corporal por crianças dos 7 aos 12 anos Rita Salvado, Lia Ana Silva 19 Alterações cutâneas fisiológicas e transitórias do recém-nascido Inês Lobo 25 Casos Clínicos Botulismo: um receio latente Cláudia Neto 29 Massa eritematosa lingual: que etiologia? Patrícia Santos 32 Vómitos e Cefaleias… nem tudo o que parece é … Andreia Leitão, Sofia Paupério, Ângela Melo e Sousa, José G. Dinis, Sara Figueiredo, Maria do Bom Sucesso, Álvaro Sousa 36 Pseudoxantoma elasticum- caso clínico Cecília Martins, Vinhas da Silva, Inês Leite, Eduarda Osório Ferreira, Jorge Romariz 40 Artigo Recomendado 43 46 Helena Ferreira Mansilha Tojal Monteiro Maria do Carmo Santos NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 48 Perspectivas Actuais em Bioética Novos desafios da técnica de transplantação de órgãos Helena de Sá Figueiredo 54 Qual o seu Diagnóstico? Caso Endoscópico Fernando Pereira 56 Caso Estomatológico José M. S. Amorim 58 Caso Radiologico Filipe Macedo 60 Genes, Crianças e Pediatras Anabela Bandeira, Grabriela Soares, Carla Valongo, Fernanda Manuela, Margarida Reis-Lima, Lígia Almeida, Maria Luís Cardoso, Esmeralda Martins 63 Normas de Publicação NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia summary ano 2009, vol XVIII, n.º 1 number1.vol.XVIII 7 Editorial 9 Original Articles Margarida Lima, Sílvia Álvares Postnatal outcome of antenatal hydronephrosis Artur Alegria , Teresa Costa 13 “Can’t you just see it?” Children’s (7-12 years old) body image evaluation Rita Salvado, Lia Ana Silva 19 Physiologic and transient cutaneous disorders of the newborn Inês Lobo 25 Case Reports Foodborne botulism: a continuous threat Cláudia Neto 29 Erythematous tongue mass: what etiology? Patrícia Santos 32 Headache and vomiting: what is underneath? Andreia Leitão, Sofia Paupério, Ângela Melo e Sousa, José G. Dinis, Sara Figueiredo, Maria do Bom Sucesso, Álvaro Sousa 36 Pseudoxantoma elasticum - case report Cecília Martins, Vinhas da Silva, Inês Leite, Eduarda Osório Ferreira, Jorge Romariz 40 Recommended Article 43 46 Helena Ferreira Mansilha Tojal Monteiro Maria do Carmo Santos NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 48 Current Perspectives in Bioethics New technique challenges on organ transplantation Helena de Sá Figueiredo 54 What is your diagnosis? Endoscopic case Fernando Pereira 56 Oral Pathology case José M. S. Amorim 58 Radiological case Filipe Macedo 60 Genes, Children and Paediatricians Anabela Bandeira, Grabriela Soares, Carla Valongo, Fernanda Manuela, Margarida Reis-Lima, Lígia Almeida, Maria Luís Cardoso, Esmeralda Martins 63 Instructions for Authors NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 editorial A revista Nascer e Crescer surgiu há 18 anos, fruto da vontade de criação de um espaço de debate da saúde da mulher e da criança na zona Norte do país. Sendo nós um hospital pediátrico sentimos que tínhamos responsabilidade acrescida na educação médica continua e na formação pós graduada pediátrica. Também é nossa convicção que paralelamente à prestação de cuidados de saúde, o Hospital tem uma missão importante no desenvolvimento da investigação clínica e na motivação dos seus profissionais para esta actividade, fundamental na melhoria da qualidade assistencial. A revista Nascer e Crescer é uma revista científica, “peer review”, dirigida a todos os profissionais de saúde envolvidos na assistência pediátrica, desde a concepção até à idade adulta. Foi este desafio que acolhemos com entusiasmo, apoiados pelo director à época do hospital Maria Pia, José Manuel Pavão, que assumiu a Direcção da revista durante onze anos. Estávamos conscientes das dificuldades de percurso uma vez que, não sendo nós um hospital universitário, a nossa cultura estava muito mais vocacionada para a actividade assistencial face à actividade científica. Tivemos, no entanto, a colaboração e o contributo valioso de todos os serviços pediátricos do Norte, conforme se pode constatar pela análise do conselho científico e de todos os elementos que integram a ficha técnica. A revista, como é óbvio, sofreu evoluções profundas desde o seu nascimento. Falemos em primeiro lugar no aspecto gráfico. Foi a pintora e arquitecta Helena Abreu que nos cedeu o desenho que viria a ser a capa da revista. Ao longo dos anos, muito embora mantendo a imagem original, tivemos necessidade de alterar o “design” e a formatação do interior. Tivemos aqui a cooperação fundamental da arquitecta Sara Balonas na concepção do modelo actual. Quanto ao conteúdo, tem sido nosso objectivo principal melhorar a qualidade científica dos artigos publicados. Nem sempre é fácil passar da apresentação de um caso clínico de interesse ou de um estudo científico para a redacção do manuscrito científico; esta aprendizagem durante a formação pré graduada tem tido pouco ênfase, muito embora actualmente a literatura seja profícua na divulgação das regras básicas para a redacção de artigos científicos e para a sua submissão para publicação. Consideramos sempre que a revisão dos trabalhos por peritos na área em estudo é essencial para garantir a qualidade científica de uma publicação e uma mais-valia para os autores, na medida em que as críticas e comentários de peritos têm por objectivo melhorar o trabalho. Desde a fundação da revista, que tivemos a preocupação de promover a revisão dos artigos por peritos de uma forma anónima, isto é, os autores não têm conhecimento dos revisores e os revisores não são informados da identidade dos autores. O reconhecimento da importância desta actividade tem sido crescente nos últimos anos, sendo objecto de reuniões científicas internacionais. O papel do revisor é ingrato, pautado pela exigência e rigor, não remunerado e que acarreta uma sobrecarga de trabalho a acrescer à prestação de cuidados. Também as competências necessárias para a revisão de editorial 7 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 trabalhos não são objecto de aprendizagem durante o internato médico, nem as próprias publicações oferecem habitualmente formação. Daí que tenhamos implementado normas escritas no sentido de tornar mais objectivo e eficaz este processo. Criamos editores especializados abarcando várias áreas pediátricas, que incluem desde a apresentação de casos problemas a comentários de artigos de elevado interesse publicados noutras revistas. Em 2004, demos mais um passo importante, com a indexação na Excerpta Medica e no Catalogo Latindex. A integração do Hospital Maria Pia no Centro Hospitalar do Norte e da Revista Nascer e Crescer no Departamento de Ensino, Formação e Investigação abre-nos novas perspectivas de desenvolvimento, como por exemplo uma maior divulgação através da publicação regular “on line” com disponibilização dos artigos em texto integral, a indexação noutras bases de dados de publicações, a tradução para a língua inglesa e a parceria com outras instituições nomeadamente o ICBAS. O papel da revista científica, até há uns anos, prestava-se principalmente à difusão do conhecimento no seio de uma comunidade restrita. Hoje em dia esta função alargou-se, incorporando interesses científicos, económicos, jurídicos e políticos. Daí a relevância e necessidade da modernização e segurança dos processos de publicação científica/ da actividade editorial cientifica, assim como do comprometimento das pessoas envolvidas. Temos procurado ao longo deste percurso a inovação e paralelamente a avaliação e monitorização dos procedimentos adoptados e a correcção de eventuais problemas num processo de melhoria contínua de qualidade. Não é possível nomear todos os que contribuíram com o seu trabalho empenho e dedicação para a continuidade desta publicação. A todos os nossos agradecimentos. Também aos nossos patrocinadores, a Associação do Hospital de Crianças Maria Pia e as empresas farmacêuticas que nos têm apoiado, apresentamos o nosso reconhecimento. Silvia Álvares Margarida Lima 8 editorial NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Evolução pós-natal das dilatações pielocaliciais de diagnóstico pré-natal Estudo interinstitucional na Região Norte de Portugal Coordenação: Artur Alegria, Teresa Costa Grupo de trabalho: CH Alto Ave (Guimarães): Cláudia Tavares; CH Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real): António Pereira; CH Médio Ave (Santo Tirso): Álvaro Sousa; CH Porto – H Maria Pia: Teresa Costa; CH Porto – H Santo António: Paula Matos, Liliana Rocha; CH Porto – Maternidade Júlio Dinis: Artur Alegria; CH Póvoa de Varzim / Vila do Conde: Célia Madalena; CH Tâmega e Sousa: Braga da Cunha; H Oliveira de Azeméis: Laura Soares; H Pedro Hispano (Matosinhos): Lia Rodrigues, Maria José Costa, Nádia Rodrigues; H Santa Maria Maior (Barcelos): Carla Carvalho. RESUMO Objectivo: Avaliar a evolução das dilatações pielocaliciais de diagnóstico pré-natal. Material e Métodos: Avaliação retrospectiva do seguimento pós-natal dos 1312 casos de pielectasia (diâmetro antero-posterior do bacinete ≥5mm) em crianças nascidas entre 2003 e 2005. Resultados: Em 39% não houve confirmação pós-natal de dilatação piélica ou outra alteração. Entre os casos com confirmação pós-natal, constatou-se em 55% a resolução da pielectasia durante o primeiro ano de vida, a qual se associou a um mais baixo grau de dilatação piélica. A maioria dos casos com real patologia nefro-urológica teve uma pielectasia moderada a grave, mas uma percentagem não desprezível teve pielectasia <7mm. Em nenhum caso se constatou insuficiência renal global durante o período de vigilância. Conclusões: A sinalização prénatal das dilatações pielocaliciais permite identificar precocemente uma minoria de doentes em que um seguimento atento poderá prevenir compromisso da função renal. No entanto, a maioria dos casos de dilatação ligeira ou moderada evolui favoravelmente, sem necessidade de procedimentos invasivos de diagnóstico. Palavras-chave: dilatações pielocaliciais, hidronefrose, nefro-uropatias congénitas. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 9-12 INTRODUÇÃO A ultrassonografia pré-natal, ao identificar precocemente dilatações pielocaliciais significativas, permite a antecipação de medidas preventivas e terapêuticas que visam evitar danos renais adicionais. No entanto, o seguimento de muitas das dilatações pielocaliciais permanece discutível, já que o significado das de grau ligeiro e moderado é incerto, pois são frequentemente transitórias e não traduzem verdadeira patologia. Por outro lado, é também verdade que nem sempre é seguro distingui-las precocemente daquelas que se associam a doença nefro-urológica efectiva. Assim, o estabelecimento de normas de investigação e vigilância pós-natal é por vezes controverso e nem sempre consensual. Na avaliação da criança com dilatação piélica pré-natal é importante ponderar a ocasião e necessidade de exames complementares de diagnóstico, particularmente se invasivos e causadores de desconforto do doente. OBJECTIVO Avaliar a investigação diagnóstica e a evolução clínica dos casos de dilatação pielocalicial de sinalização prénatal na região Norte de Portugal, na tentativa de, no futuro, melhorar e tentar consensualizar os procedimentos de vigilância. MATERIAL E MÉTODOS Procedeu-se ao estudo retrospectivo da avaliação e seguimento pós-natal das crianças nascidas nos anos 2003 a 2005 de quem houve sinalização prénatal de dilatação piélica. Quando referido o valor do diâmetro do bacinete, consideraram-se todos os casos com valor ≥ 5mm. Avaliaram-se os dados prénatais e os dados pós-natais evolutivos (clínicos e imagiológicos). Participaram no estudo 10 unidades hospitalares com maternidade e um hospital pediátrico de referência. RESULTADOS Foram revistos os registos de 1312 crianças que preencheram os critérios de avaliação, 70% delas do sexo masculino. Nos sete hospitais em que foi possível confirmar o número anual de nadosvivos, 30.069 no total, contabilizaram-se 896 crianças com referência pré-natal de dilatação piélica, perfazendo assim uma taxa de incidência média de 2,6%. Em 515 crianças (39%) não houve confirmação pós-natal de dilatação piélica ou de outra alteração nefro-urológica. Entre estes, 67% daqueles em que houvera referência ao valor da dilatação piélica pré-natal ele fora inferior a 7mm (Fig. 1). Analisaremos a partir de agora os 797 casos em quem foi confirmada, no pós-natal, dilatação piélica e/ou alteração nefro-urológica (74% do sexo masculino), excluindo entre eles 45 crianças que tiveram apenas um período de vigilância artigo original 9 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 inferior a 12 meses, sem que se tenha verificado resolução da dilatação. Em 413 crianças (55%) constatou-se a resolução da dilatação piélica até aos 12 meses. Em 81% dos casos com referência ao valor da dilatação piélica pré-natal, ele fora inferior a 9mm (Fig. 2). O valor máximo de dilatação piélica pós-natal foi ≤ 7mm em 71,5% dos casos (Fig. 3). De um modo mais global, analisámos a relação do grau de dilatação piélica pré-natal e a resolução até aos 12 meses, considerando todos os casos com vigilância regular mantida. Verificou-se resolução até aos 12 meses em 65% dos casos se dilatação piélica pré-natal 5-7mm, 61% se 8-9mm, 39% se 1014mm e em 16% se ≥ 15mm. De modo idêntico, analisámos a relação do grau de dilatação piélica pós-natal e a sua resolução até aos 12 meses. Verificou-se a resolução em 80% dos casos se dilatação piélica pós-natal 5-7mm, 48% se 8-9mm, 28% se 10-14mm, 4% (2 casos) se 1520mm e em nenhum dos 33 casos com dilatação ≥ 21mm. Entre as 185 crianças com vigilância superior a 2 anos, identificou-se patologia nefro-urológica em 84, subgrupo que analisaremos em seguida. O sexo masculino representou uma maioria de 73%. A dilatação piélica pré-natal fora unilateral em 65% das crianças. Entre aquelas com referência ao valor de dilatação piélica pré-natal, em 61% fora ≥ 11mm (≥15mm em 36%) (Fig. 4). Já quando considerado o valor máximo de dilatação piélica pósnatal, ele foi ≥ 15mm em 50% dos casos, embora em 12% tenha sido <7mm (Fig. 5). Neste grupo documentou-se também dilatação calicial em 46% e ureteral em 20% dos casos. Em relação à patologia etiológica da dilatação pielocalicial, identificou-se refluxo vésico-ureteral em 36%, obstrução pieloureteral em 32%, obstrução uretero-vesical em 6%, megaureter não-obstrutivo e não-refluxivo em 6% e válvulas da uretra em 2%. Em 17% dos casos havia duplicidade pielocalicial associada e em 4% ectopia renal. Durante o período evolutivo, verificou-se hipofunção renal unilateral em 44% dos casos, mas em nenhum insuficiência renal global. Quarenta e cinco crianças foram submetidas a tratamento cirúrgico: Pielo- 10 artigo original Figura 1 - Valor da dilatação piélica pré-natal nos casos em que não houve a sua confirmação pós-natal ou outra alteração nefro-urológica (n = 515 crianças). Figura 2 - Valor da dilatação piélica pré-natal (quando referida) nos casos de dilatação piélica pós-natal com resolução até aos 12 meses (n = 343 crianças). Figura 3 - Valor da dilatação piélica pós-natal nos casos de dilatação piélica pós-natal com resolução até aos 12 meses (n = 413 crianças). NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Figura 4 - Valor da dilatação piélica pré-natal (quando referida) nos casos de patologia nefro-urológica identificada e com vigilância < 2 anos (n = 73 crianças). Figura 5 - Valor da dilatação piélica pós-natal (quando referida) nos casos de patologia nefro-urológica identificada e com vigilância > 2 anos (n = 82 crianças). plastia em 25, nefro-ureterectomia em 6, nefrectomia parcial em 5, correcção endoscópica de refluxo em 5, reimplantação ureteral em 3 e fulguração de válvulas uretrais em 2. DISCUSSÃO A incidência das dilatações pielocaliciais de diagnóstico pré-natal depende em parte da utilização de diferentes métodos de avaliação, tendo sido estimada entre 1 e 5%.1 Na presente casuística, a incidência média calculada com base nas referências pré-natais foi de 2,6% dos nascimentos. Numa significativa percentagem (39%) não houve, contudo, confirmação pós-natal, tal como também tem vindo a ser referido noutros estudos.2 Também como correntemente é conhecido, verificou-se uma maior frequência no sexo masculino. A dilatação piélica ligeira a moderada, quando isolada, tem tendência à resolução espontânea nos primeiros meses ou anos de vida.3,4 No presente estudo confirmou-se uma correlação positiva entre um mais baixo grau de dilatação piélica pré e pós-natal e a sua resolução até aos 12 meses. Na maioria das crianças com dilatação piélica ligeira ou moderada não foram realizados exames diagnósticos invasivos e verificou-se uma evolu- ção favorável. Vários autores têm vindo a referir idênticos resultados, constatando mesmo uma baixa correlação entre a hidronefrose ligeira e o refluxo vésicoureteral de significado patológico.2,5-9 Por outro lado, entre as crianças em que se identificou patologia nefro-urológica e com vigilância superior a 2 anos, uma maioria tivera referência pré-natal de dilatação piélica ≥ 11mm, embora em 7% tivesse sido referida dilatação <7mm. De modo idêntico, considerando o valor da dilatação piélica pós-natal, 50% dos casos tiveram um valor máximo ≥ 15mm, mas numa percentagem não desprezível de 12% verificou-se um valor <7mm. Os autores que analisaram idênticas casuísticas têm vindo a reforçar a ideia de que nos casos de dilatação piélica ligeira não deverá ser descuidada uma avaliação pós-natal de confirmação e uma vigilância ponderada caso a caso.1,5,6 Esta deverá ser processada passo a passo, tendo em conta inicialmente a informação prénatal e depois os dados evolutivos pósnatais clínicos e ecográficos. A realização de exames invasivos, como cistografia e cintigrafias, deverá ser cuidadosamente ponderada, já que na grande maioria dos casos são dispensáveis e poderão ser evitados. A família deverá ser informada da real dimensão da situação clínica da criança e alertada para os eventuais sinais de infecção urinária. Entre as crianças em que se identificou patologia nefro-urológica, documentou-se compromisso da função renal unilateral numa percentagem significativa, embora em caso algum se tenha manifestado insuficiência renal global, ao longo do período evolutivo. CONCLUSÃO Na maioria das crianças com dilatação piélica de diagnóstico pré-natal ligeira ou moderada constata-se uma evolução favorável, sem necessidade de procedimentos invasivos. A sinalização pré-natal das dilatações pielocaliciais permite identificar precocemente uma minoria de doentes em que um seguimento atento poderá prevenir compromisso da função renal, garantindo, assim, um crescimento mais saudável. artigo original 11 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 POSTNATAL OUTCOME OF ANTENATAL HYDRONEPHROSIS: RETROSPECTIVE STUDY IN THE NORTH OF PORTUGAL ABSTRACT Objective: To evaluate the outcome of infants with antenatal hydronephrosis. Methods: Retrospective assessment of postnatal course of 1312 cases of antenatal hydronephrosis (AP diameter ≥5mm) in infants born from 2003 till 2005. Results: In 39% of the prenatally reported cases the postnatal ultrasound did not confirm any nephrourologic disturbance. Fifty percent of the postnatal confirmed cases of hydronephrosis had spontaneous resolution during the first year, which was associated with a low grade pyelectasis. Most cases with nephrourologic disease had moderate to severe grade pyelectasis, although a not negligible percentage had pyelectasis <7mm. None presented renal failure during the follow-up period. Conclusions: Prenatal suspicion of hydronephrosis allows the early identification of a few patients in which a careful follow-up can prevent renal function compromise. However, most cases of minor to moderate pyelectasis have a benign 12 artigo original course and don’t need invasive diagnostic procedures. 5. Keywords: antenatal hydronephrosis, foetal pyelectasis, congenital uropathies. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 9-12 6. BIBLIOGRAFIA 1. 2. 3. 4. Lee RS, Cendron M, Kinnamon DD, Nguyen HT. Antenatal hydronephrosis as a predictor of postnatal outcome: a meta-analysis. Pediatrics 2006; 118: 586-93. Lidefelt KJ, Ek S, Mihocsa L. Is screening for vésico-ureteral reflux mandatory in infants with antenatal renal pelvis dilatation? Acta Paediatr 2006; 95: 1653-6. Alegria A, Lopes L, Costa T, Sarmento AM, Araújo R, Pereira E. Dilatações piélicas e caliciais de diagnóstico pré-natal: evolução de 2 a 5 anos. Acta Pediatr Port 2002; 33: 317-22. Sidhu G, Beyene J, Rosenblum ND. Outcome of isolated antenatal hydronephrosis: a systematic review and metaanalysis. Pediatr Nephrol 2006; 21: 218-24. 7. 8. 9. Chaviano AH, Maizels M, Yerkes EB, Cheng EY, Hagerty J, Meyer T, Kaplan WE. Incidence based fetal urological counselling using the virtual pediatric urology registry: importance of insignificant fetal pyelectasis (sonographically evident renal pelvis). J Urol 2007; 178:1781-5. Coelho GM, Bouzada MC, Pereira AK, Figueiredo BF, Leite MR, Oliveira DS, et al. Outcome of isolated antenatal hydronephrosis: a prospective cohort study. Pediatr Nephrol 2007; 22: 1727-34. Marra G, Barbieri G, Moioli C, Assael BM, Grumieri G, Caccamo ML. Mild fetal hydronephrosis indicating vesicoureteric reflux. Arch Dis Child 1994; 70: F147-F150. Merlini L, Parvex P, AnooshiravaniDumont M, Girardin E, Hanquinet S. Postnatal management of isolated mild pelvic dilatation detected in antenatal period. Acta Paediatr 2007; 96: 1131-4. Berrocal T, Pinilla I, Gutiérrez J, Prieto C, de Pablo L, Del Hoyo ML. Mild Hydronephrosis in newborns and infants: can ultrasound predict the presence of vesicoureteral reflux. Pediatr Nephrol 2007; 22: 91-6. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 “Não se está mesmo a ver?” Avaliação da imagem corporal por crianças dos 7 aos 12 anos Rita Salvado1, Lia Ana Silva1 RESUMO Objectivos: Este estudo teve como objectivo avaliar a percepção da imagem corporal pelas próprias crianças e pelos seus pais, bem como o grau de satisfação pessoal com essa imagem, numa população pediátrica do sul de Portugal. Material e métodos: Os dados foram obtidos durante a Primeira Jornada Nacional de Rastreio da Obesidade Infantil, em Évora, a 17 de Fevereiro de 2007. Classificou-se a população infantil participante segundo o percentil de IMC. As crianças entre os 7 e 12 anos e respectivos pais aplicou-se a “Children’s Body Image Scale” para avaliação da discrepância entre a percepção da imagem corporal das crianças (avaliada pelas próprias e pelos pais) e a imagem real e o grau de satisfação com a última. Resultados: Rastrearam-se 52 crianças, com uma idade média de 7,2 anos, 71,2% do sexo feminino. Destas, 38,4% tinham excesso de peso/obesidade. Das crianças com idades entre os 7 e 12 anos (n=24): 70,8% avaliaram erradamente a sua imagem corporal, a maioria (80,5%) subvalorizando-a; 70,8% estavam insatisfeitos com a sua imagem corporal, factor que depende do IMC das crianças (qui-quadrado, p=0,003). Em 84,2% dos casos os progenitores avaliaram os seus filhos como tendo um IMC menor que o real. Conclusão: As crianças entre os 7 e os 12 anos com excesso de peso/obesidade têm consciência da não adequação do seu peso, mostram-se insatisfeitas __________ 1 Serviço de Pediatria do Hospital Espírito Santo de Évora quanto a ele e desejam ter uma imagem corporal correspondente a um IMC menor. Se os pais reconhecerem o excesso de peso/obesidade dos seus filhos será mais fácil ajudá-los a adquirir hábitos de vida saudáveis ajudando a evitar distúrbios do comportamento alimentar. Palavras chave: obesidade infantil, imagem corporal, intervenção na comunidade. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 13-18 INTRODUÇÃO A obesidade é uma doença crónica, actualmente com proporções epidémicas. Para além das consequências fisiopatológicas bem documentadas em adultos, sabe-se hoje que a obesidade em idade pediátrica é já um factor predisponente para uma maior morbilidade e mortalidade na idade adulta(1). Estudos longitudinais em idades pediátricas sugerem que crianças e adolescentes com excesso de peso têm uma maior tendência para se tornarem adultos com excesso de peso, particularmente se a obesidade já estiver presente na adolescência(2). Segundo Carla Rego et al no seu estudo Avaliação Transversal de Alguns Factores de Risco de Doença Cardiovascular numa População Pediátrica de Obesos(3), entre 40 e 85% dos adultos obesos apresentam antecedentes de obesidade durante a idade pediátrica. Portugal é actualmente o segundo país da Europa com maior prevalência de excesso de peso/obesidade infantil tendo-se verificado um forte aumento no IMC das crianças entre 1970 e 2002 (4). Urge encontrar formas eficazes no combate ao excesso de peso/obesidade. O problema é multifactorial e a intervenção complexa pois é preciso mobilizar recursos de diversos sectores da sociedade. Há uma necessidade crescente de criar um ambiente saudável (propício a uma alimentação equilibrada e à prática de exercício físico) quer na escola quer na família(5). Birch e Fisher(6) reuniram dados que sugerem que as preferências alimentares das crianças se determinam nas experiências alimentares precoces e que o ambiente familiar e as preferências dos pais em relação à alimentação podem condicionar de forma irreversível os hábitos alimentares dos filhos. A actuação médica, que se centraliza no núcleo familiar, deve contribuir para a criação de um ambiente saudável. Para que tal aconteça é necessário que quer as crianças e adolescentes quer os seus cuidadores reconheçam o excesso de peso e depois o associem a doença. Sabe-se que a imagem corporal é condicionada social e culturalmente, pelo que têm sido elaborados estudos em diferentes etnias tentando reconhecer a capacidade das crianças e seus progenitores de avaliar a imagem corporal das mesmas e o grau de satisfação que têm com essa mesma imagem. Estes trabalhos de investigação têm revelado que, na maioria dos casos, as crianças se avaliam e são avaliadas pelos pais como tendo uma imagem corporal correspondente a um IMC menor do que a realidade(7,8,9,10). A insatisfação em relação à imagem corporal pode ser muito positiva ou nefasta. Se por um lado pode impulsionar a modificação de comportamentos, por outro pode estar na origem de problemas artigo original 13 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 psicológicos e físicos. Tem-se demonstrado que essa insatisfação tem início muito antes da puberdade (11). Para avaliação da imagem corporal têm sido utilizadas escalas constituídas por desenhos ou fotografias de crianças representativas de diferentes percentis de IMC para grupos etários distintos, dos dois sexos. O objectivo deste estudo foi avaliar, na população alentejana, a capacidade parental e das próprias crianças de percepção da adequação da sua imagem corporal e o seu grau de satisfação com a mesma. Até agora não havia registo de nenhum estudo sobre imagem corporal na população infantil alentejana. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo foi realizado com base em dados obtidos em Évora durante o 1º Rastreio Nacional de Obesidade decorrido a 17 de Fevereiro de 2007. Esta acção foi promovida pela Secção de Ambulatório da Sociedade Portuguesa de Pediatria e levada a cabo, nesta cidade, pelo Serviço de Pediatria do Hospital do Espírito Santo E.P.E., em espaço cedido pela Câmara Municipal de Évora, no parque infantil do Jardim Público, entre as 10 e as 18h. A promoção desta iniciativa foi da responsabilidade da Secção de Ambulatório da Sociedade Portuguesa de Pediatria; a nível local, foram enviadas cartas e cartazes publicitários para as escolas do concelho e afixados cartazes no Hospital e Centro de Saúde de Évora. A população alvo foi constituída por: 1. todas as crianças e adolescentes com idades compreendidas entre os 2 e os 18 anos e seus acompanhantes; 2. pais das crianças com idades entre os 7 e os 12 anos. Da amostra fizeram parte todos os que, preenchendo as condições referidas, se dirigiram voluntariamente ao local do rastreio no horário e data atrás referidos. Foram determinados o peso e a altura de todas as crianças e adolescentes, vestidas mas sem casacos e descalças. O peso foi medido em kilogramas por uma balança digital, e os resultados arredondados às centésimas. A altura foi ava- 14 artigo original liada através de estadiómetro e registada em centímetros arredondada às décimas. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado dividindo o peso (kg) pelo quadrado da altura (m2). Todas as crianças e adolescentes foram classificadas em um de quatro grupos: baixo peso (IMC<P5), peso adequado (IMC P5-P85), excesso de peso (IMC P85-P95) e obesidade (IMC>P95). Esta classificação foi feita utilizando as curvas de percentil de IMC específicas para sexo e idade fornecidas pelo CDC. No subgrupo de crianças entre os 7 e os 12 anos de idade analisou-se a percepção e o grau de satisfação relativamente à imagem corporal. Para este efeito foi utilizada a Escala de Imagem corporal para Crianças, Children’s Body Image Scale(12). Esta escala consiste em 2 séries de fotografias. Cada série corresponde a um dos géneros e é constituída por 7 fotografias que ilustram crianças com diferentes IMC. Em cada série numeraram-se as imagens de 1 a 7 por ordem crescente de IMC. Esta numeração não era visível para os entrevistados. As figuras foram colocadas à vista do participante em ordem aleatória e a cada criança foram feitas duas perguntas: 1. Achas-te mais parecido com qual destas crianças? 2. Tu gostavas de ser parecido com qual das crianças? As respostas obtidas permitiram-nos saber a Imagem Percebida pelo Próprio (resposta 1) e a Imagem Desejada para cada criança (resposta 2). Posteriormente, usando o IMC calculado inicialmente, atribuiu-se a cada criança a Imagem Real. Na análise dos dados calculou-se para cada criança: 1. a discrepância entre a imagem percebida e a real (discrepância = imagem real - imagem percebida pelo próprio); 2. a insatisfação em relação à imagem percebida pelo próprio (insatisfação = imagem percebida pelo próprio - imagem desejada). O conhecimento do grau de insatisfação permitiu-nos saber se as crianças desejavam ter um IMC menor (insatisfação>0) ou maior (insatisfação<0). Considerou-se o grau de discrepância e de insatisfação como o valor absoluto das mesmas. Foi também pedido aos pais (mãe, pai ou ambos) das crianças com idades entre os 7 e o 12 anos que respondessem à questão: “ Qual destas crianças considera mais parecida com o/a seu/ sua filho/a?” Desta forma, obteve-se, para cada criança, a imagem percebida pelos pais e a discrepância entre a imagem percebida pelos pais e a real (discrepância dos pais = imagem percebida pelos pais - imagem real). A análise desta discrepância permiti-nos avaliar se os pais sub ou sobre estimavam a imagem corporal dos seus filhos. Utilizámos o programa Epi Info (Versão 3.3.2) para o tratamento estatístico de dados, recorrendo aos Testes Qui Quadrado, Exacto de Fischer e MannWhitney com limite de significância de p<0.05, de modo a estabelecer a associação entre as variáveis. Após a obtenção dos dados foi mostrado às crianças e pais a classificação individual segundo o IMC e, no âmbito da acção de sensibilização, foi realizado ensino verbal e entregue um folheto, fornecido pela organização, sobre hábitos saudáveis de vida e alimentação e disponibilizada informação escrita para a família e para o médico assistente com os dados antropométricos e IMC obtidos. RESULTADOS Foram rastreadas 52 crianças e adolescentes. A sua idade média foi de 7,2 anos ([2,7[=46,2%; [7,12]=46,6%; ]12,18]=7,7%) e a distribuição por género revelou um franco predomínio do sexo feminino (71,2%). A maioria das crianças participantes (71,2%) eram provenientes do Concelho de Évora. Nos participantes, o peso em relação à idade era: adequado em 59,6% dos casos, excessivo em 38,4% (Excesso de Peso: 19,2%, Obesidade: 19,2%) e baixo em 1,9% (uma criança com 5 anos). No grupo de crianças com idades entre os 7 e 12 anos (n=24), com uma média de idades de 8,8 anos, verificouse a existência de discrepância entre a imagem corporal percebida e a real em 70,8% dos casos. A maioria (87,5%) atribuiu-se uma imagem corporal correspondente a um IMC inferior ao que na realidade têm. Embora não se tenha NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 achado uma relação estatisticamente significativa (teste de Mann-Whitney= 0,074) entre o percentil de IMC e o grau de discrepância, parece haver uma tendência para que crianças com peso adequado para a idade cometam um erro maior na avaliação da sua imagem corporal (gráfico 1). Não se estabeleceu nenhuma relação de dependência entre a discrepância na percepção da imagem corporal e o género. Dos indivíduos inquiridos, 70,8% estavam insatisfeitos com a sua imagem corporal tendo-se observado uma asso- ciação significativa positiva (qui-quadrado, p=0,003) entre este número e o peso excessivo para a idade. Comprovou-se também (Mann-whitney, p=0,0001) haver um maior grau de insatisfação entre as crianças com peso excessivo para a idade (gráfico 2). Gráfico 1. Grau de discrepância em crianças com e sem excesso de peso/obesidade Gráfico 2. Grau de insatisfação de crianças com e sem excesso de peso/obesidade artigo original 15 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Quando se analisou o desejo de ter uma imagem corporal correspondente a um IMC menor comprovou-se que este é dependente (por correlação positiva) quer do género (Teste Exacto de Fisher, p=0,05) quer do percentil IMC (Teste Exacto de Fisher, p=0,019) da criança (gráfico 3). Crianças com peso excessivo para a idade e do sexo feminino têm um maior desejo de ter uma imagem corporal correspondente a um IMC menor, logo de emagrecer. Todas as crianças com peso excessivo para a idade queriam ter um IMC menor. Do grupo de crianças com peso adequado todos os rapazes e nenhuma rapariga manifestaram desejar ter uma imagem corporal correspondente a um IMC superior. Como se pode verificar pela análise do quadro 1, a resposta à pergunta acerca da imagem desejada não foi consensual. A média das respostas foi de 2,82 sendo de salientar que a maioria desejava ter uma imagem que corresponderia a um percentil de IMC abaixo do P50 para a sua idade e sexo. Não se comprovou, estatisticamente (p=0,10; pelo teste Mann-Whitney), que crianças com peso excessivo para a idade desejem ter uma imagem cor- respondente a um IMC mais baixo que as restantes. Analisando, no entanto, as médias de imagem desejada para as crianças com peso excessivo para a idade (2,43) e com peso adequado (3,26), parece haver uma tendência para que tal aconteça. Não foi encontrada diferença significativa entre os dois sexos no que se refere à imagem desejada. Da análise das respostas dadas pelos progenitores (n=19) verificou-se que existe uma discrepância ente a imagem percebida e a imagem real dos filhos em 84,2% dos casos. Todos avaliaram os seus filhos como tendo um IMC menor do que têm na realidade. Não se comprovou qualquer relação estatisticamente significativa entre a discrepância e: o género ou IMC dos filhos; o género dos pais. Na análise que os pais fizeram da imagem dos seus filhos não houve qualquer grau de discrepância predominante. DISCUSSÃO O estudo foi levado a cabo durante e em paralelo com a 1ª Jornada Nacional de Rastreio de Obesidade, como tal, a Quadro I - Imagem desejada pelas crianças Imagem Desejada Frequência Frequência Relativa Frequência Cumulativa 1 3 12,5% 12,5% 2 9 37,5% 50,0% 3 5 20,8% 70,8% 4 4 16,7% 87,5% 5 2 8,3% 95,8% 6 0 0% 95,8% 7 1 4,2% 100,0% Total 24 100,0% 100,0% Gráfico 3. Imagem desejada em crianças com e sem excesso de peso/obesidade 16 artigo original NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 amostra não foi determinada previamente mas constituída por aqueles que voluntariamente se dirigiram ao local. Segundo o Censo de 2001, o total de população residente em Évora entre os 0 e os 19 anos é de 153852 número que nos dá uma aproximação por excesso (visto que só foram avaliadas pessoas entre os 2-18 anos) do número total de indivíduos do Universo em estudo. A afluência de um número de participantes que se considera baixo tem seguramente múltiplos factores determinantes, entre eles a eficácia ou não da divulgação da iniciativa, o facto de ter ocorrido num dia de sábado frio e chuvoso e a sensibilidade e motivação dos responsáveis educativos para este problema. Nesta amostra encontrou-se uma percentagem de excesso de peso (19,2%) e obesidade (19,2%) superior ao referido por Carmo et al., considerando toda a população pediátrica em Portugal, que aponta para uma prevalência de excesso de peso de 20,5% e de obesidade de 11,3%(4). Devido ao tipo de amostra analisada não se pode concluir que o valor encontrado no presente estudo represente a prevalência de excesso de peso neste Concelho. Este será um aspecto a confirmar em estudos posteriores. Da análise dos resultados pode verificar-se que crianças com excesso de peso/ obesidade, em comparação com os que tinham peso adequado: 1. têm uma noção menos errada da sua imagem corporal; 2. estão mais insatisfeitas com a sua imagem corporal; 3. parece haver uma tendência para terem como ideal um IMC menor. Estes dados coincidem com os obtidos por Olvera et al no estudo “Intergenerational perceptions of body image in hispanics: role of BMI, Gender and Acculturation”(7). Apesar de muitas vezes as crianças não manifestarem verbalmente descontentamento com a sua imagem corporal, os resultados obtidos revelam que elas o sentem. Este é um aspecto que: por um lado pode condicionar mal-estar psicológico e de algum modo contribuir para a instalação de uma doença do comportamento alimentar; por outro, pode ser aproveitado como factor de motivação para a adopção de estilos de vida saudáveis. Parece que a contribuir para a maior insatisfação das crianças com excesso de peso/obesidade está o facto destes considerarem como ideal uma imagem com IMC menor do que as crianças com peso adequado. As crianças com peso inadequado são mais exigentes com a sua imagem corporal. Este facto pode ser quer causa quer consequência de uma menor auto-estima destas crianças e é um sinal de alerta a ter em conta na prevenção dos distúrbios alimentares(14). Verificou-se estatisticamente que o desejo de emagrecer é maior nas raparigas que nos rapazes. Alguns rapazes escolheram imagens corporais correspondentes a um IMC maior. Provavelmente pelo desejo que muitos deles têm de ser mais “fortes”, escolhendo imagens corporais que lhes parecem ser mais musculadas(8). Também a maioria dos pais revelou ter uma percepção errada acerca da imagem corporal subvalorizando a imagem dos filhos, dados estes já encontrados por outros estudos(8,9,10). Visto que o ambiente familiar, como já referido anteriormente, tem um papel preponderante na determinação dos hábitos alimentares das crianças, o não reconhecimento do excesso de peso dos filhos pelos pais pode ser um problema importante no combate ao excesso de peso/obesidade infantil. Se por um lado as crianças até têm consciência da sua imagem corporal e manifestam vontade de ter um aspecto mais “magro”, provavelmente de acordo com a imagem que lhes é transmitida na nossa sociedade como modelo de felicidade e sucesso, os pais não se apercebem do excesso de peso dos filhos. É para os pais difícil distinguir entre ser “grande para a idade” e ser obeso. “Ser grande” traduz a ideia de saúde e bemestar logo de sucesso para os cuidadores da criança mas, pelo contrário “ser obeso”, associa-se a doença e não é fácil para os pais reconhecê-lo(8). A ênfase crescente que a sociedade tem dado às questões de peso e da alimentação pode levar os pais a evitar “etiquetar” os seus filhos como tendo excesso de peso ou obesidade. Este facto é sugerido pelo estudo efectuado por Olvera at al. com mães de origem hispânica que, não vivendo numa sociedade tão exigente a este nivel, foram capazes de avaliar correctamente a imagem corporal dos seus filhos, não reconhecendo no entanto necessidade de mudança nas crianças com excesso de peso(7). As principais limitações deste estudo prendem-se com a constituição da amostra. Esta foi determinada de forma aleatória, dependendo da iniciativa do participante em dirigir-se ao local de rastreio e pondo como única condição a idade. Estes factores associados à pequena dimensão da amostra impedem-nos de tirar conclusões acerca da prevalência do excesso de peso/obesidade em Évora. Já os resultados obtidos da análise da imagem corporal são coincidentes com outros estudos anteriores realizados dentro e fora de Portugal. A escala de imagem corporal usada só podia ser aplicada a crianças entre os 7 e os 12 anos. Ainda não se chegou a um consenso acerca da capacidade ou não das crianças com menos de 7 anos avaliarem com coerência a sua imagem corporal, havendo estudos que defendem as duas posições(11). CONCLUSÃO A obesidade é um problema que afecta os indivíduos em várias dimensões. Se são inquestionáveis as repercussões nefastas ao nível da saúde física, estes acabam também por sentir dificuldades a nível social e cultural. A percepção da imagem corporal pelo próprio começa na infância e a maneira como é interpretada e sentida pode influenciar atitudes e comportamentos. O presente estudo parece sugerir que crianças entre os 7 e os 12 anos com excesso de peso/obesidade têm consciência da não adequação do seu peso, mostram-se insatisfeitas quanto a ele e desejam emagrecer. Esta insatisfação pode ser conduzida e “aproveitada” de forma correcta se as crianças forem acompanhadas, informadas e orientadas na aquisição de novos hábitos de vida saudável. Factores tão diversos como sucessivas tentativas frustradas de emagrecimento, desadequação social e baixa auto-estima podem contribuir para o aparecimento de distúrbios do comportamento alimentar. Como já se tinha verificado noutros estudos e se confirmou neste, os pais não têm um artigo original 17 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 correcta percepção da imagem corporal dos seus filhos, subvalorizando-a. Sendo a família a célula básica de intervenção para instituição de hábitos saudáveis de vida(12), na mudança de estilo de vida que se pede, quando se detectam casos de excesso de peso ou obesidade, a correcta percepção da imagem corporal das crianças pelos familiares pode ser uma aliada importante e sobre a qual se deverá trabalhar. Os pais precisam também de se tornar mais conscientes do papel que podem ter na prevenção da obesidade dos seus filhos. Espera-se que no futuro quer pais quer filhos encarem o excesso de peso/ obesidade como uma questão de saúde mais do que uma imposição social e que ambos possam ser construtores de um ambiente familiar saudável. “CAN’T YOU JUST SEE IT?” CHILDREN’S (7-12 YEARS OLD) BODY IMAGE EVALUATION ABSTRACT Objectives: The aim of this study was to assess self perception and parental perception of child body size and children’s degree of satisfaction about their own body image in a preadolescent population in the south of Portugal. Material and Methods: Data was obtained during the First National Journey on Childhood Obesity, in Évora on the 17th February 2007. Children were classified according to BMI (Body Mass Index) percentile. The questionnaire Children’s Body Image Scale was applied to children aged 7 to 12 years and their parents, in order to evaluate discrepancies between the true and the perceived BMI category and children’s satisfaction about their own body size. Results: Fifty two children were assessed, 71,2% female, aged 2 to 18 years (mean age: 7,2 years) Overweight/ obesity was present in 38,4%. The sample of the study consisted of 24 children, aged 7 to 12 years and their parents. The majority of children (70,8%) had a distorted perception of their body image, being predominantely negative (80,5%). The frequency of dissatisfaction was 18 artigo original 70,8%. The satisfaction degree had a positive correlation with children’s BMI (p=0,003). Parental perception of their children’s BMI image was inferior to the real one in 84,2% of the cases. Conclusion: Children between 7 and 12 years that are overweight/obese have consciousness about their excess of weight, present body dissatisfaction and wish to change their body image. Parental recognition of children’s overweight/obesity, is important in promoting a healthier lifestyle and eating behaviour that will ultimately be of great help to prevent eating disorders. Key-words: Childhood obesity, body image, community intervention. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 13-18 BIBLIOGRAFIA 1. Weghuber D., Zaknun D., Nasel C., Willforth-Ehringer A., Miller T., Boriss-Riedl M., Early cerebrovascular disease in a 2-year-old with extreme obesity and complete metabolic syndrome due to feeding of excessively high amounts of energy, Eur J Pediatr 2007 166:37-41 2. Dietz WH, Gortmaker SL. Preventing Obesity in children and adolescent, Annu Rev Public Health 2001; 22: 337-53. 3. 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NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Alterações cutâneas fisiológicas e transitórias do recém-nascido Inês Lobo1, Susana Machado1, Manuela Selores1 RESUMO A pele desempenha um papel fundamental na protecção do recém-nascido na sua transição da vida intrauterina para a vida pós-natal. A maioria das alterações cutâneas que ocorrem neste período é fisiológica e transitória, não necessitando de procedimentos diagnósticos ou terapêutica. No entanto constituem uma fonte de preocupação dos pais, pelo que é necessário o reconhecimento destas lesões para uma abordagem adequada do recém-nascido e família. Nesta revisão os autores fazem uma discussão breve das alterações cutâneas fisiológicas e transitórias deste grupo etário. Palavras - chave: récem-nascido, pele, alterações fisiológicas, doenças cutâneas transitórias Nascer e Crescer 2009; 18(1): 19-24 INTRODUÇÃO A pele do recém-nascido (RN) desempenha um papel fundamental na transição do ser humano desde o meio aquático intra-uterino até o meio aéreo extra-uterino. Ao nascimento, a pele já se encontra dividida nas três camadas (epiderme, derme e tecido celular subcutâneo). No RN de termo a epiderme, os anexos cutâneos e a união dermo-epidérmica estão formados. As principais diferenças da pele do RN em relação à do adulto residem na derme, que é menos espessa, possui fibras de colagénio de menor tamanho, fibras elásticas imaturas e estruturas vasculares e nervosas desorganizadas. __________ 1 Serviço de Dermatologia, Hospital Geral de Santo António, CHP As glândulas sudoríparas e écrinas são normais, mas relativamente ineficazes no controlo da temperatura corporal. A secreção sebácea está aumentada durante o primeiro mês de vida, estimulada pela presença de androgénios maternos. Com frequência no RN observamse lesões cutâneas que são consideradas fisiológicas e outras que, apesar de não fisiológicas, têm carácter benigno e transitório (Quadro I). Torna-se importante reconhecer estas alterações, quer para impedir procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários, quer para tranquilizar os pais. 1. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS Vernix caseosa A vernix caseosa, presente na superfície cutânea logo ao nascimento, consiste numa mistura de células epiteliais, sebo e por vezes cabelos. A vernix serve de lubrificante e protege contra os efeitos do líquido amniótico e parece também exercer funções antibacterianas por conter péptidos e lípidos anti-microbianos. Fenómenos vasculares A pele do RN não tem capacidade de responder rápida e adequadamente Quadro I Alterações Fisiológicas do RN Alterações Transitórias do RN Vernix caseosa Eritema tóxico do RN Lesões traumáticas - Caput sucedaneum - Cefalohematoma - Bolhas de sucção Pustulose melânica neonatal transitória Fenómenos vasculares - Acrocianose - Rubor generalizado - Cútis marmorata fisiológica - Coloração Harlequin - Manchas salmão Acropustulose da infância Alterações da Pigmentação - Manchas mongólicas - Hiperpigmentação epidérmica transitória Pustulose cefálica transitória Alterações das mucosas - Quistos epidérmicos gengivais e palatinos Miliaria Alterações Hormonais - Hiperplasia sebácea - Acne neonatal Necrose do tecido celular subcutâneo Outras alterações - Falsa unha encravada - Coiloníquia - Linhas de Beau - Quistos de milia artigo original 19 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 a certos estímulos, o que provoca alterações da sua coloração. Ao nascimento a pele das extremidades (mãos e pés) pode ter uma coloração violácea- acrocianose - que desaparece em poucas horas e reaparece apenas quando a criança tem frio ou chora. Esta coloração é devida a uma hipertonia das arteríolas periféricas, com a consequente congestão venosa responsável pela cor cianótica. O diagnóstico diferencial nestes casos deve ser feito com a cianose central de origem cardiovascular ou metabólica. Nos primeiros dias de vida, alguns RN podem apresentar um rubor generalizado resultante do excesso de hemoglobina, que desaparece com a diminuição fisiológica dos níveis de hemoglobina sérica. A cútis marmorata fisiológica resulta da dilatação dos capilares quando o RN é exposto ao frio. Caracteriza-se clinicamente pela presença de um reticulado eritemato-violáceo no tronco e extremidades. Esta situação não tem significado patológico e normalmente desaparece quando o RN é aquecido(1). Perante esta situação é necessário estabelecer o diagnóstico diferencial com a cútis marmorata telangiectásica congénita (fig. 1) que é uma malformação capilar, onde as lesões são persistentes e, em 50% dos casos, estão associadas a outras malformações, nomeadamente ósseas, oculares e neurológicas. A coloração em “Harlequin” é um fenómeno fisiológico que afecta 15% dos RN nas primeiras 2 a 3 semanas de vida(2). Resulta da ausência transitória de regulação central do tónus vascular periférico(3). Traduz-se pelo aparecimento de eritema no hemicorpo (geralmente zona em declive) e palidez no outro hemicorpo, separados pela linha média(3). A face e os genitais são poupados. Esta situação pode ser difícil de visualizar já que os episódios têm curta duração (de alguns segundos a 20 minutos) e desaparecem rapidamente após aquecimento ou mudança de posição. A manchas salmão, também denominada de angioma de Unna, resulta de ectasias capilares na derme e está presente em 70% dos RN caucasianos(4). Manifesta-se como máculas ou manchas eritematosas/salmão localizadas à zona occipital, pálpebras, glabela, sendo mais rara a localização no nariz e lábio superior (fig. 2). A maioria desaparece nos primeiros anos de vida(5). O diagnóstico diferencial faz-se sobretudo com malformações vasculares que não desaparecem espontaneamente. Figura 1 - Cútis marmorata telangiectasica congénita - Reticulado eritematovioláceo persistente. Figura 2 - Mancha salmão - Manha eritematosa/salmão localizadas na glabela. Figura 3 - Mancha mongólica ectópica - Mancha azul acinzentada localizada ao ombro e omoplata esquerda. 20 artigo original Alterações da pigmentação A mancha mongólica ocorre sobretudo em RN de raça negra e corresponde a agregados de melanócitos na derme, que se manifestam como máculas ou manchas azul acinzentadas geralmente localizadas nas nádegas ou na região sagrada. Quando se situam em outras localizações são denominadas de manchas mongólicas ectópicas (Fig. 3). A patogénese é desconhecida embora pareça residir num defeito na migração das células pigmentadas da crista neural. As melanoses dérmicas podem também estar patentes nos nevos de Ito e de Ota, mas nestes casos não têm resolução espontânea. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Nos RN de raça negra é comum uma hiperpigmentação epidérmica transitória dos órgãos genitais externos (fig. 4), do abdómen inferior (linha nigra), das axilas, das aréolas mamárias, do perioníquio e da face dorsal da terceira falange(1), resultante da acção da hormona estimuladora dos melanócitos in útero. É importante fazer o diagnóstico diferencial desta alteração cutânea benigna com a hiperpigmentação resultante da hiperplasia adrenal congénita, mas nesta última estão presentes outros sinais de hiperandrogenismo. Alterações das mucosas O exame da cavidade oral no RN é muito importante já que pode conduzir à detecção de muitas patologias. A alteração fisiológica mais comum na mucosa oral é a presença de quistos epidérmicos gengivais e palatinos. Os quistos gengivais podem ser detectados em 64% dos RN(6) e manifestam-se como pequenas pápulas isoladas ou agrupadas, bancoamareladas, com tamanho de 1-2mm. A sua origem deve-se à formação de pequenos quistos córneos na mucosa oral. Quando localizados no palato e na crista alveolar denominam-se respectivamente de pápulas de Epstein e de Bohn. A maioria desaparece nos primeiros 5 meses de vida. Figura 4 - Hiperpigmentação epidérmica transitória dos órgãos genitais externos. Alterações dos anexos cutâneos As alterações ungueais no RN são raras e podem representar alterações congénitas e genéticas. De entre as al- terações fisiológicas e transitórias podem apontar-se a falsa unha encravada, a coiloníquia e as linhas de Beau. Alguns RN apresentam uma hipertrofia das pregas laterais que cobrem parcialmente as pregas ungueais, simulando deste modo as unhas encravadas(7). A maioria dos casos tem resolução espontânea, mas por vezes estas pregas hipertrofiadas podem sobreinfectar e causar dor transitória. As linhas de Beau são linhas ungueais transversais. Reflectem uma paragem do metabolismo da matriz ungueal que pode ser atribuído ao stress induzido pelo parto. Contudo, podem também surgir após episódios febris, toxidermias e em situações de acrodermatite enteropática. É também possível o aparecimento de coiloníquia, que se trata de uma curvatura côncava das unhas “unha em colher”, principalmente nas unhas dos pés(3). O sistema piloso do RN é caracterizado pelo lanugo que persiste durante as duas primeiras semanas de vida(8). Pode observar-se no RN uma hipertricose localizada, não lanuginosa, em particular ao nível da helix, que não traduz qualquer fenómeno patológico (antigamente pensava-se erroneamente que estava relacionado com a presença de diabetes materno)(1). Outra das alterações dos Figura 5 - Acne neonatal - Pápulas e pustulosas eritematosas, sem comedões. Figura 6 - Quistos de milia - Múltiplas pápulas brancas punctiformes. Fenómenos hormonais Durante os primeiros meses de vida os RN estão expostos às hormonas androgénicas de origem materna e, em consequência, podem surgir hiperplasias sebáceas. São lesões foliculares punctiformes, de cor amarelada e superfície lisa, agrupadas no nariz, lábio superior e zonas malares. Estas lesões regridem gradualmente durante as primeiras semanas de vida. Acne neonatal – Alguns RN sofrem de uma erupção facial acneiforme entre as 2 e 3 semanas de vida. As lesões papulares e pustulosas eritematosas localizam-se sobretudo nas zonas malares. Caracteristicamente não existem comedões (fig. 5). Há autores que consideram esta forma de acne como uma primoinfecção por leveduras do género Malassezia. As lesões resolvem espontaneamente ao fim de 2 a 3 meses. Devido à passagem de estrogénios maternos através da placenta, alguns RN apresentam também ginecomastia transitória, produção de muco vaginal e mesmo hemorragia vaginal. Estas alterações resolvem em poucas semanas. artigo original 21 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 anexos é a presença de uma alopécia bem delimitada na região occipital, que empiricamente se atribuía à posição mais comum de decúbito, mas cuja etiologia parece ser devida à entrada mais tardia dos folículos da zona occipital, na fase telogênica(9). Outras alterações As bolhas por sucção são bolhas tensas com conteúdo seroso, rodeadas por pele normal. Aparecem no dorso das mãos e antebraços e são devidas à vigorosa sucção oral do RN nesse local, durante a vida intra-uterina. Associadas a estas lesões aparecem calos de sucção na mucosa oral. Esta lesão pode muitas vezes ser confundida com herpes simples. Quistos de Milia – Os quistos de milia são uma das alterações fisiológicas mais frequentes dos RN. Manifestam-se como pápulas brancas punctiformes únicas ou múltiplas (fig. 6) que aparecem em qualquer localização na superfície corporal, mas com mais frequência na face (zonas malares, nariz e mento). Têm origem em rolhões de queratina de etiologia desconhecida ao nível do infundíbulo pilossebáceo. O diagnóstico diferencial mais importante é com a hiperplasia sebácea, mas esta tem uma coloração mais amarelada. A maioria desaparece sem Figura 7 - Acropustulose da infância - Lesões vesicopustulosas pruriginosas nas plantas. 22 artigo original necessidade de tratamento, nos primeiros meses de vida. Quando persistentes, podem estar associados a casos de epidermólise bolhosa distrófica, juncional ou ao síndroma orofacial-digital tipo I. 2- ALTERAÇÕES IDIOPÁTICAS TRANSITÓRIAS Eritema tóxico do RN O eritema tóxico do RN ocorre em aproximadamente 50% dos casos, sem preponderância de sexo ou etnia. A sua ocorrência parece relacionar-se com o peso ao nascimento e a idade gestacional, sendo raro em prematuros e neonatos com menos de 2500g. A etiologia é desconhecida, mas há autores que consideram que corresponde a uma reacção enxerto-versus-hospedeiro contra linfócitos maternos. Apesar de poderem estar presentes desde o nascimento, o mais comum é que as lesões apareçam entre as 24 e as 48 horas de vida. As lesões típicas consistem em pápulas ou papulopústulas rodeadas de áreas inflamatórias eritematoedematosas de contornos irregulares, semelhantes a picadas de insecto. Normalmente as lesões iniciam-se na face, expandindo-se depois para o tronco e extremidades - mas podem aparecer em qualquer área corporal com excepção das palmas e plantas(3). A eosinofilia periférica pode estar presente em 15% dos casos, independentemente da gravidade das lesões. O diagnóstico baseia-se nas características clínicas das lesões e no bom estado geral do RN. Quando houver dúvidas pode realizar-se uma biópsia cutânea, verificando-se a presença de eosinófilos subcórneos localizados à porção superior do infundíbulo folicular. As lesões resolvem espontaneamente em aproximadamente 7 dias. Pustulose melânica neonatal transitória A pustulose melânica neonatal transitória é uma erupção frequente das crianças de raça negra. Apesar da etiologia não estar completamente esclarecida, há autores que consideram que a causa seja a hiperestimulação dos melanócitos. A clínica desenvolve-se em três fases e, ao contrário do eritema tóxico, aparece sempre ao nascimento. A primeira fase caracteriza-se pela presença de pústulas superficiais sem inflamação circundante, com tamanho entre 2-10mm, localizadas preferencialmente à face, região lombar e área pré-tibial. Contudo, as palmas, plantas e região torácica podem estar envolvidas. Muitas vezes estas lesões passam despercebidas pois rompem com muita facilidade (pústulas intra ou subcórneas). Posteriormente aparecem colaretes descamativos ao redor das pústulas e, numa terceira fase, as lesões curam espontaneamente deixando hiperpigmentações residuais que podem demorar meses a desaparecer. O diagnóstico é clínico mas, quando há dúvidas, pode procederse a avaliação histológica a qual revela pústulas com neutrófilos subcórneas ou intracórneas. O eritema tóxico do RN e a pustulose melânica neonatal podem coexistir, havendo autores que consideram que estas duas entidades representem a mesma patologia(3), mas na primeira o aparecimento é mais tardio e o componente celular é eosinofílico. O diagnóstico diferencial desta entidade deve fazer-se com a acropustulose da infância (localização acral das lesões e o aparecimento geralmente é mais tardio), e com quadros pustulosos de origem infecciosa (candidíases e impétigos). Acropustulose da infância A acropustulose da infância é uma condição de etiologia desconhecida, mais frequente em crianças de raça negra e do sexo masculino. Caracteriza-se pela presença de surtos recorrentes de lesões vesico-pustulosas pruriginosas com distribuição acral (palmas, plantas, dorso das mãos e pés) (fig. 7). As lesões duram 5-10 dias e os surtos recorrem a intervalos de 2-4 semanas. As lesões podem estar presentes ao nascimento, mas normalmente desenvolvem-se nas primeiras semanas ou meses de vida. O exame histológico das lesões revela pústulas intraepidermicas e subcórneas. As lesões sofrem remissão espontânea em 1 a 2 anos, mas durante as fases de actividade é necessário recorrer-se a tratamentos com corticóides tópicos e antihistaminico oral. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 A escabiose é o diagnóstico diferencial mais importante a colocar com esta entidade, uma vez, que há uma forma de acropustulose que pode ocorrer pós escabiose. Pustulose cefálica transitória A pustulose cefálica transitória é um quadro raro descrito pela primeira vez em 1991(10) , caracterizado por uma erupção pápulo-pustulosa pruriginosa localizada à face e couro cabeludo. As lesões podem aparecer por surtos. O estudo histológico mostra um infiltrado eosinofílico denso na derme e ao redor do folículo piloso. Há autores que consideram que se trata de uma manifestação de primoinfecção pela espécie de Malassezia sympodialis(11). As lesões resolvem espontaneamente entre os 4 e os 36 meses de vida. Miliaria O termo miliaria é um termo genérico para descrever a obstrução do ducto écrino. A causa desta obstrução é desconhecida mas há quem defenda que seja causada pela substância polissacarídea extracelular produzida pelo Staphylococcus epidermidis(3). Ocorre geralmente em climas quentes, em estados de pirexia ou de supra-aquecimento. A manifestação clínica depende do nível de obstrução do ducto. A forma mais fre- quente no RN (primeiros dias de vida) é a cristalina ou sudamina e surge devido à obstrução superficial (subcórnea ou intracórnea) do ducto écrino. Consequentemente, há retenção de suor a este nível, levando à formação de pequenas vesículas cristalinas que lembram gotas de água e que rompem com facilidade (fig. 8). Quando a obstrução do ducto é mais profunda, mas ainda epidérmica, a miliaria denomina-se de rubra. Neste caso as lesões são pápulas eritematosas ou papulo-pústulas não foliculares. A miliária profunda é rara no período neonatal e resulta da oclusão do canal ao nível da junção dermoepidérmica, condicionando o aparecimento de pápulas brancas que impedem o normal fenómeno da sudação. Trata-se de uma entidade benigna que desaparece espontaneamente após controlo da febre ou da temperatura ambiental. Necrose do tecido celular subcutâneo A necrose do tecido celular subcutâneo ou citoesteatonecrose é uma hipodermite rara que ocorre em RN nascidos de cesariana ou expostos a stress fetal(12). A etiologia parece resultar do facto de o tecido adiposo do RN conter grande proporção de ácidos gordos saturados. Factores como frio, hipotermia, traumatismo, nutrição inadequada e isquemia induziriam a libertação de agentes mediadores de inflamação e necrose que actuariam sobre esses ácidos gordos(13). Normalmente manifesta-se entre as 1ª e 4ª semanas de vida, mas também pode ser congénito. As lesões consistem em placas ou nódulos assintomáticos, cobertos com pele normal ou eritematosa, localizados à face, nádegas e tronco. As lesões podem ulcerar ou apresentar depósitos de cálcio. O RN normalmente não apresenta qualquer sintoma sistémico associado, mas entre o primeiro e quarto dia de vida pode ocorrer hipercalcemia sintomática, que pode ser fatal. Torna-se portanto necessário monitorizar os níveis de cálcio e evitar a administração exógena de vitamina D. O exame histológico mostra inflamação granulomatosa do panículo adiposo com células histiocitárias. O curso clínico da patologia é benigno, e as lesões regridem espontaneamente em algumas semanas. Nesta circunstância é todavia importante realizar o diagnóstico diferencial com a paniculite infecciosa, com o escleroderma neonatorum ou com causas de calcinose cútis. PHYSIOLOGICAL AND TRANSIENT CUTANEOUS DISORDERS OF THE NEWBORN ABSTRACT Neonatal skin provides physical protection, playing a vital role in the newborn’s transition from an aqueous to an air-dominant environment. The majority of the newborn cutaneous lesions are usually physiological, transient and self limited and thus require no therapy or diagnostic procedures. As parents often seek medical attention for these problems, clinicians must be aware of both normal and abnormal cutaneous lesions of the neonate to properly address these issues. In this article the authors briefly discuss the transient benign lesions of the newborn. Figura 8 - Miliaria cristalina - Pequenas vesículas cristalinas que fazem lembrar gotas de água. Key-words: newborn, skin, physiologic alterations, transient cutaneous diseases artigo original 23 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Nascer e Crescer 2009; 18(1): 19-24 BIBLIOGRAFIA 1. Heyl T. 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Cláudia Neto1, Armandina Silva1, Lúcia Cardoso1 Sandra Silva2, João Luís Barreira2 RESUMO O botulismo alimentar é uma doença neuroparalítica flácida resultante da ingestão de alimentos contaminados com uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, podendo surgir de forma esporádica ou epidémica. Trata-se de uma doença rara, de declaração obrigatória e potencialmente fatal. Em Portugal foram declarados em 2005 e 2006 apenas 7 e 10 casos respectivamente. Os autores apresentam o caso clínico de uma criança de 9 anos de idade, internada com um quadro de paralisia flácida descendente e simétrica, associada a envolvimento do sistema nervoso autónomo, com quatro dias de evolução, à qual foi feito o diagnóstico de botulismo alimentar serótipo B (associado à ingestão de salsichas enlatadas / fumeiros caseiros). O doente apresentou evolução clínica favorável, necessitando apenas de tratamento de suporte. Apesar de ser uma entidade rara, o botulismo deve ser um diagnóstico sempre a considerar perante um doente com distúrbio neuromuscular agudo e história de ingestão alimentar suspeita, uma vez que o diagnóstico atempado é essencial para a prevenção da progressão da doença e a identificação dos veículos alimentares fonte do botulismo. Palavras-chave: Botulismo alimentar, Clostridium botulinum, acetilcolina, criança __________ 1 2 Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar do Alto Ave- Guimarães Serviço de Pediatria, Hospital de S. João Porto Nascer e Crescer 2009; 18(1): 25-28 INTRODUÇÃO O botulismo é uma doença neuroparalítica flácida resultante da acção de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, uma bactéria gram positiva, anaeróbia, produtora de esporos. A toxina botulinica é a mais potente exotoxina conhecida, sendo a dose mínima letal de 0,12 microgramas(1). Conhecem-se 4 tipos epidemiológicos: botulismo alimentar que ocorre após a ingestão de alimentos contaminados com a toxina (associado à ingestão de carnes fumadas, produtos enlatados ou conservas); botulismo das feridas causado pela contaminação de uma ferida com esporos do microorganismo que germinam e produzem a toxina; botulismo do lactente causado pela ingestão dos esporos que germinam no intestino onde produzem a toxina e o botulismo de classificação indeterminada, semelhante ao botulismo do lactente mas no adulto(1). Cada estirpe de Clostridium botulinum, designadas de A a G, produz um tipo de toxina, mas apenas os serótipos A, B e E e muito raramente o F afectam o Homem(2). Enquanto os serótipos B e E provocam, em geral, sintomas de gravidade moderada, o serótipo A parece ser o que provoca as formas mais graves da doença, levando quase sempre à necessidade de suporte ventilatório e, muitas vezes, à morte1). Em Portugal o serótipo predominante é o B(3). Todas as formas de botulismo resultam da absorção da toxina botulinica na circulação sanguínea, sendo posteriormente transportada até às sinapses colinérgicas periféricas, ligando-se irreversivelmente na junção neuromus- cular, impedindo assim a libertação de acetilcolina, o que condiciona disfunção tanto a nível muscular como a nível do sistema nervoso autónomo(1). O período de incubação é, geralmente, de 12 a 36 horas, podendo prolongar-se a semanas. A gravidade da doença é tanto maior quanto menor é o período de incubação, dependendo também do tipo de toxina e da quantidade ingerida. A recuperação funcional só é possível através da formação de novas terminações nervosas, o que explica a persistência dos sintomas durante semanas ou meses. Clinicamente, o botulismo caracteriza-se por uma paralisia descendente simétrica progressiva, afectando inicialmente a musculatura dos pares cranianos (oftalmoparésias /plegias com alteração do reflexo de acomodação, parésias faciais, disfonia, disfagia) e posteriormente os membros superiores, músculos respiratórios e finalmente os membros inferiores com um padrão proximal-distal. Também é frequente o envolvimento do sistema nervoso autónomo com tonturas, xerostomia, obstipação, retenção urinária, hipotensão e diminuição da sudorese, não havendo contudo alterações da sensibilidade(4). O diagnóstico baseia-se essencialmente nos achados clínicos e epidémiologicos, sendo confirmado por estudos electromiográficos e pelo isolamento da toxina em produtos biológicos do doente (soro, fezes ou suco gástrico), no produto alimentar ingerido ou pelo isolamento do microorganismo em cultura dos mesmos produtos. A imunização passiva (antitoxina equina trivalente com anticorpos contra toxina tipo A, B e E) nas primeiras 24 a 48 horas e cuidados de suporte alimentares e respiratórios meticulosos são pilares casos clínicos 25 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 fundamentais da abordagem terapêutica do botulismo alimentar, permitindo a redução da taxa de mortalidade. CASO CLÍNICO Os autores apresentam o caso clínico de uma criança de 9 anos de idade, sexo masculino, raça caucasiana, previamente saudável, natural e residente em Felgueiras. Quatro dias antes do internamento inicia quadro de astenia, anorexia, disfagia, congestão ocular e vómitos alimentares. É observado no Serviço de Atendimento Permanente da área de residência dois dias precedentes ao internamento, tendo tido alta clínica após fluidoterapia endovenosa com indicação para proceder a medidas dietéticas. Posteriormente (em D4 de doença), assiste-se a um agravamento clínico com prostração, diminuição generalizada da força muscular, discurso lentificado e disártrico, motivando o seu recurso ao Serviço de Urgência do hospital da área de residência. Sem referência a episódios infecciosos prévios, ingestão medicamentosa ou traumatismo crânio-encefálico. À admissão apresentava-se consciente, prostrado, hemodinamicamente estável, subfebril e eupneico. Discurso lentificado, disártrico mas coerente. Mímica facial pobre com ptose palpebral bilateral, fotofobia e congestão ocular com xeroftalmia. Apresentava mucosas secas e língua saburrosa. O exame neurológico efectuado revelava: pupilas midriáticas, arreactivas; ptose palpebral bilateral; força muscular grau 3; reflexos osteo-tendinosos débeis mas despertáveis; reflexo cutâneo plantar em flexão bilateralmente e ausência de alterações da sensibilidade. O restante exame físico não evidenciava outras particularidades. (Figuras 1a e 1b) As hipóteses de diagnóstico colocadas foram: intoxicação medicamentosa, meningoencefalite, lesão ocupante de espaço e Síndrome de Guillain Barré variante Miller-Fisher. Os exames auxiliares de diagnóstico efectuados evidenciaram um leucograma com 16.1 x109 leucócitos com 78.7% neutrófilos e 8% linfócitos; glicose 98 mg/dl, função renal e hepática normais, proteína C reactiva 20.9mg/L; gasometria venosa sem acidose, bicarbonatos e pCO2 normais; tomografia computadorizada crânio-encefálica normal; exame de líquor cefalorraquídeo sem pleocitose, glicorrá- quia e proteinorráquia normais; pesquisa de tóxicos na urina (antidepressivos triciclicos, benzodiazepinas e substâncias de abuso negativos). Iniciou nesta altura terapêutica empírica endovenosa com ceftriaxone e aciclovir. Quando questionados os pais, estes confirmaram a ingestão de salsichas enlatadas e fumados caseiros nos dois dias prévios à instalação da sintomatologia. Não havia referência a ingestão de marisco, peixe cru e foi também negado viagem ao estrangeiro. Os sinais e sintomas apresentados e a informação dada posteriormente pelos pais, indiciou o diagnóstico de botulismo.. Perante a eventual necessidade de ventilação assistida, a criança foi transferida em D2 de internamento para um hospital terciário com Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos. Foi feita declaração de Doenças Obrigatórias com base na suspeição clínica e contactada Delegação de Saúde da área de residência A electromiografia realizada suportou a hipótese diagnostica de botulismo, mostrando uma disfunção da placa motora com aumento significativo da amplitude dos potenciais musculares compostos, traduzindo o bloqueio neuromuscular pré-sináptico Figuras 1a e 1b - Evidente ptose palpebral, mímica facial pobre mas simétrica (Fotografias autorizadas pelos pais.) 26 casos clínicos NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 característico desta doença. A espirometria efectuada evidenciava diminuição dos débitos expiratórios forçados sugerindo síndrome ventilatório restrictivo. O diagnóstico definitivo foi confirmado catorze dias após início da sintomatologia, pela identificação através da prova de seroneutralização em ratos, da presença de toxina botulinica tipo B no sangue do doente. Não foi possível a recuperação do alimento suspeito para a pesquisa da toxina. Não houve necessidade de apoio ventilatório e as atitudes terapêuticas adoptadas foram de suporte. Instituídos precocemente cuidados de Medicina Física e Reabilitação. Por apresentar dificuldades alimentares foi iniciada alimentação entérica por sonda nasogástrica e posteriomente alimentação parentérica que manteve até ao 10º dia de internamento. Foi necessária a administração de lactulose do 3º ao 7º dia de internamento, por uma obstipação tenaz. Verificou-se melhoria progressiva, tanto da sintomatologia neurológica como digestiva, mantendo no entanto ptose palpebral, força muscular grau 5 e astenia à data de alta (trinta e quatro dias após o inicio da sintomatologia). (Figura 2). Foi reavaliado em Consulta Externa de Pediatria, sendo o exame clínico normal cerca de três meses após inicio da sintomatologia. DISCUSSÃO Nos últimos anos temos vindo a assistir a surtos de botulismo, não apenas relacionados com o consumo de enlatados/fumados de origem caseira como era tradicionalmente associado, mas também decorrentes de alimentos incorrectamente processados comercialmente, o que levanta grandes questões em termos de saúde pública(5,6). Apesar de raro na União Europeia, o botulismo alimentar continua a ser uma doença com características clínicas graves, podendo ser prevenida através de uma correcta preparação dos produtos alimentares(7). Quer estes alimentos tenham origem caseira ou industrial, os processos de conservação com controlo estreito da temperatura, concentração de sal e pH são fundamentais para a prevenção da esporulação do Clostridium botulinum. Em Portugal, o botulismo alimentar é de notificação obrigatória desde o início de 1999, ano em que praticamente não se registaram casos. No ano de 2005 e 2006 foram declarados respectivamente sete e dez casos(8). Pensa-se, no entanto, que o botulismo é muitas vezes subdiagnosticado. O tempo de incubação variável, as manifestações clínicas muitas vezes subtis e que mimetizam outras patologias mais fequentes ou a ocorrência de insuficiência respiratória rapidamente progressiva são possíveis Figura 2 - Evolução clínica no internamento factores impeditivos de um diagnóstico precoce e atempado. No caso clínico apresentado, o período de incubação foi de dois dias. As queixas iniciais foram atribuídas a uma gastroenterite e o envolvimento neurológico apresentou-se posteriormente na sua forma típica de instalação simétrica, descendente, afectando inicialmente os pares craneanos. Foi possível, no nosso caso, a confirmação do diagnóstico por estudos electromiográficos e pela identificação da toxina botulinica serótipo B através da técnica de seroneutralização intraperitoneal em ratos. No entanto, é importante não valorizar exclusivamente os testes laboratoriais, uma vez que a sua sensibilidade é baixa (50 a 60% atingida nos dois primeiros dias após a ingestão e posteriormente diminui com o tempo) o que pode levar a uma exclusão incorrecta do diagnóstico(9). O diagnóstico diferencial é feito essencialmente com a miastenia gravis, síndrome de Guillain Barré (particularmente com a variante de Miller Fisher) e acidente vascular cerebral do tronco. Outras situações a incluir no diagnóstico diferencial são: síndrome de Eaton-Lambert, poliomielite aguda, paralisia flácida por picada de insecto, meningo-encefalite, ingestão de toxinas de marisco ou peixe cru, difteria, intoxicações com cogumelos, medicamentos ou químicos. A imunização passiva (antitoxina trivalente com anticorpos contra toxina tipo A, B e E) e cuidados de suporte são os dois pilares fundamentais da abordagem terapêutica do botulismo alimentar, permitindo a redução da taxa de mortalidade. No entanto, é ainda questionável o uso da antitoxina botulinica, já que para além da indicação terapeutica ser apenas nas primeiras 24 a 48 horas após inicio da sintomatologia (enquanto a toxina ainda não está ligada irreversivelmente aos neuro-receptores), não é isenta de efeitos secundários(1,2,5). Na ausência de complicações, habitualmente o prognóstico é favorável sem sequelas neurológicas, embora a completa recuperação possa requerer várias semanas a meses(1,2,4). Este caso clínico, pretende sensibilizar os profissionais de saúde no sentido casos clínicos 27 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 de equacionarem a intoxicação botulinica no diagnóstico diferencial das paralisias flácidas agudas. Esta hipótese diagnóstica não é meramente teórica e para ser estabelecida é preciso pensar nela. O botulismo alimentar apesar de raro é potencialmente fatal, pelo que o diagnóstico precoce é vital para a prevenção da progressão da doença e a notificação rápida às unidades de saúde, crucial para a identificação dos veículos alimentares e para o controlo atempado de qualquer fonte alimentar de botulismo. Although foodborne botulism is a rare entity, this diagnosis should be considered in every patient with an acute neuromuscular disorder who refers the ingestion of food suspected of being contaminated. An early diagnosis is essential to prevent the progression of the disease and to identify the contaminated food. Key Words: Foodborne botulism, Clostridium botulinum, acetylcholine, child 6. 7. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 25-28 8. FOODBORNE BOTULISM: A CONTINUOUS THREAT BIBLIOGRAFIA ABSTRACT Foodborne botulism is a neuroparalytic illness caused by ingestion of contaminated food with a neurotoxin produced by the bacterium Clostridium botulinum. The illness may occur as a sporadic case or as an outbreak. It is a rare and a statutory notificable disease - in Portugal the number of cases declared in 2005 and 2006 were, respectively, seven and ten. The authors report a case of a nine year old child, referred to our hospital with generalized muscle weakness, bilateral ptosis and dysarthria . The investigation confirmed the diagnosis of foodborne botulism serotype B associated with the ingestion of canned food. The patient recovered completely with symptomatic treatment. 28 casos clínicos 9. 1. Cherington M. Clinical spetrum of Botulism. Muscle Nerve 1998; 21:70110. 2. Arnon S, Schechter R, Inglesby T, Henderson D, Bartlett J, Ascher M et al. Botulinum toxin as a biological weapon. JAMA 2001; 225 (8): 1059-70 3. Lecour H, Ramos H, Almeida B, Barbosa R et al. Foodborne botulism. A review of 13 outbreakes. Arch Intern Med 1988; 148:578-80. 4. Shapiro R, Hatheway C, Swerdlow D. 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CORRESPONDÊNCIA Cláudia Neto Serviço de Pediatria HG Santo António, EPE Largo Prof. Abel Salazar 4099 - 001 Porto Telefone: 222 077 500 e-mail: [email protected] NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Massa eritematosa lingual: que etiologia? Patrícia Santos1, Filipa Vasconcelos Espada1, Marta Neves2, Paulo Coutinho1, Francisco Bianchi1, Marcelo Fonseca1 RESUMO A tiróide lingual é uma entidade clínica rara, que resulta da localização ectópica de tecido tiroideu por ausência de migração embrionária da glândula tiroideia do foramen caecum para a localização pré-traqueal final. Habitualmente assintomática, pode no entanto ser detectada no exame físico de rotina da orofaringe ou no contexto de infecção das vias aéreas superiores. Pode também manifestar-se por disfagia, dispneia, disfonia, tosse, hemorragia ou hipotiroidismo sintomático. Os autores apresentam o caso clínico de uma criança de 3 anos do sexo feminino, sem antecedentes patológicos relevantes que apresentava tosse irritativa com agravamento progressivo e acessos de tosse laríngea. Na observação da orofaringe foi visualizada uma massa eritematosa, localizada na linha média do terço posterior da língua. Os estudos realizados demonstraram tratar-se de tiróide lingual associada a hipotiroidismo compensado. Os autores salientam a necessidade de vigilância clínica e analítica desta situação pelo risco de aparecimento de sintomatologia respiratória ou digestiva grave e/ou descompensação do hipotiroidismo. A cirurgia com remoção da massa poderá ser uma opção terapêutica no caso de sintomatologia respiratória ou digestiva grave ou transformação maligna. Palavras-chave: tiróide lingual, diagnóstico, tratamento. INTRODUÇÃO A tiroide lingual é uma entidade clínica rara, que resulta da localização ectópica de tecido tiroideu. Deve-se à ausência de migração da glândula tiroideia do foramen caecum para a localização pré-traqueal final que ocorre entre a 3ª e a 7ª semanas do desenvolvimento embrionário(1,2). Desconhece-se a verdadeira incidência da doença. Estudos realizados referem uma incidência de 1:1000 a 1:300 000(1-3) na população geral e de 1:4000 a 1:8000 nos indivíduos com patologia tiroideia(3). A relação sexo feminino/sexo masculino é de 4-7:1(1,2). Das localizações ectópicas o dorso da língua corresponde a 90% dos casos. Tecido tiroideu ectópico tem sido também descrito na região mandibular, traqueia, laringe, mediastino, coração, pulmão, duodeno e glândula supra-renal(1-3). A patogenia do tecido tiroideu ectópico continua desconhecida, mas tem sido associado a mutações dos factores de transcrição (TTF-1, TTF-2 e PAX8) e dos genes receptores da TSH (TSH-R)(1-3). A maioria dos doentes está assintomática, podendo a tiróide lingual ser detectada na observação de rotina da orofaringe, ou manifestar-se por disfagia, dispneia, disfonia, tosse, hemorragia ou hipotiroidismo sintomático. CASO CLÍNICO Apresentamos o caso de uma criança do sexo feminino de 3 anos de idade e raça caucasiana referenciada ao internamento do Serviço de Pediatria por suspeita de laringotraquiobronquite. Apresentava tosse irritativa com agravamento progressivo, com uma semana de evolução e acessos de tosse laríngea nas 24 horas que precederam o internamento. Sem febre, recusa alimentar, dificuldade respiratória ou estridor. Referência a roncopatia, sem apneia, com alguns meses de evolução. Ao exame objectivo apresentava uma massa eritematosa, com cerca de 1,5cm de maior diâmetro, localizada na linha média do terço posterior da língua. (Figura 1 e 2). Tiróide não palpável, sem adenopatias cervicais. Restante exame Nascer e Crescer 2009; 18(1): 29-31 __________ 1 2 Serviço de Pediatria Hospital Pedro Hispano/ Consulta de Endocrinologia Pediátrica Serviço de Otorrinolaringologia Hospital Pedro Hispano Figura 1 e 2: Observação da Orofaringe. casos clínicos 29 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 físico normal. Desenvolvimento psicomotor e estaturo ponderal adequado à idade cronológica. Sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes. Teste de Guthrie negativo e plano nacional de vacinação actualizado. Durante o internamento manteve-se apirética, hemodinamicamente estável, sem sinais de dificuldade respiratória, estridor, recusa alimentar ou sialorreia. Dos exames laboratoriais efectuados salienta-se: hemograma com plaquetas normal, proteína C reactiva negativa, hemocultura negativa, função tiroideia com T3 e T4 livres normais e TSH elevada: 14.02μUI/ml (normal: 0,3-4,2μUI/ml). A ecografia da tiróide não identificou glândula tiróide na sua topografia habitual, observando-se uma massa de 2cm de maior diâmetro na dependência da base da língua sugestiva de tecido tiroideu ectópico. (Figura 3) A cintigrafia da tiróide com 99mTcpertecnetato mostrou um foco de hiperfixação na base da língua compatível com tiróide ectópica (sublingual). (Figura 4) O estudo realizado demonstrou tratar-se de tiróide lingual com hipotiroidismo compensado. Foi instituída terapêutica hormonal substitutiva com levotiroxina (2 μg/Kg/ dia) e vigilância de sinais de obstrução respiratória ou digestiva com avaliação inicial mensal e posteriormente trimestral. A função tiroideia normalizou em quatro meses. Encontra-se actualmente controlada com 3.75 μg/Kg/dia de levotiroxina. Após instituição da terapêutica observouse diminuição da tiróide lingual. Figura 3 - Ecografia da tiróide. Figura 4 - Cintigrafia da tiróide. 30 casos clínicos Até à data não existe evidência de complicações ou sinais de malignidade pelo que o tratamento cirúrgico, de momento, não está indicado. DISCUSSÃO A tiroide lingual apresenta-se, habitualmente como uma massa nodular com menos de 1cm de diâmetro na base da língua mas pode atingir dimensões superiores a 4x8cm. A sua superficie é habitualmente lisa e vascularizada(1,2). Na maioria dos casos os doentes estão assintomáticos sendo a tiróide lingual diagnosticada na observação de rotina da orofaringe ou no contexto de uma infecção respiratória. Todavia, pode manifestar-se por hipotiroidismo sintomático ou, em massas de maiores dimensões ocorrer dispneia, disfagia, hemorragia ou mimetizar um tumor lingual. No caso descrito o diagnóstico foi efectuado numa idade mais precoce do que está relatado na literatura. Eventualmente, o quadro infeccioso terá conduzido ao aumento da glândula tiroideia de forma a compensar a necessidade aumentada de tireoglobulina. A idade de diagnóstico, descrita na literatura, situa-se após os 6 anos de idade, sendo maioria dos doentes diagnosticados durante a puberdade ou gravidez(3,4). Pensa-se que tal se deve ao aumento das necessidades fisiológicas de hormona tiroideia durante estes períodos, que, por sua vez, conduz a um aumento da glândula podendo causar sintomatologia obstrutiva. A necessidade de aumento da produção de hormonas tiroideias também pode ocorrer em quadros infecciosos ou traumáticos. Raramente o hipotiroidismo está presente ao nascimento, não sendo portanto evidente no rastreio precoce (teste de Ghuthrie) e, em alguns casos nunca se chega a estabelecer, pelo que, muitas vezes não é feito o diagnóstico(3). No entanto, 70% dos doentes com tiroide lingual apresentam sinais de hipotiroidismo e 10% sofrem de cretinismo(1,2). Em 70-80% dos casos o tecido tiroideu lingual é o único presente no organismo(1-3). Estão descritos alguns casos de transformação maligna, maioritariamente NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 carcinoma papilar da tiroide(1,2), mas também folicular e de células escamosas(3), habitualmente na idade adulta, pelo que a vigilância clínica seriada é muito importante. Para o estudo desta patologia a cintigrafia com Tecnesium 99m pertechnetate ou 131I é o exame complementar indicado como complemento da observação clínica(3). Relativamente ao tratamento, não existe consenso, devido ao reduzido número de casos descritos. Em doentes assintomáticos a terapêutica recomendada é o tratamento com levotiroxina(1,2) que conduz à supressão da TSH e consequente remoção do estímulo para crescimento do tecido tiroideu(1,2). Este facto foi verificado no nosso caso, com diminuição da massa lingual. Este tratamento conduz também à normalização da função tiroideia e em indivíduos eutiroideus evita o desenvolvimento de hipotiroidismo com aumento da massa glandular(1,2). Pensa-se que possa evitar a transformação maligna deste tecido(3). A remoção cirúrgica fica reservada para casos de apresentação grave com sintomas obstrutivos respiratórios ou digestivos, hemorragia incontrolável, transformação maligna ou situações em que a terapia supressora não está a ser efectiva na redução do crescimento da massa(1,3). A transplantação de tecido tiroideu lingual para a sua localização habitual tem sido tentada em alguns casos como alternativa ao tratamento hormonal substitutivo(3). O tratamento com iodo radioactivo (131I) pode ser uma alternativa ao tratamento cirúrgico principalmente em doentes com risco cirúrgico ou que recusem a cirurgia(1-3). Este tratamento está descrito em idade tão precoce como um ano de idade(5), mas deve ser precedido por uma cintigrafia tiroideia em virtude de a iodoradioterapia poder destruir tecido tiroideu concomitante, na sua localização cervical correcta. Nestes casos a cirurgia será a primeira escolha terapêutica, na presença de sintomas graves. COMENTÁRIOS OU CONCLUSÕES Os autores decidiram apresentar este caso clínico pela idade precoce de diagnóstico e sucesso do tratamento médico instituído. A terapêutica substitutiva corrigiu o hipotiroidismo e contribui para uma redução do tecido tiroideu. No entanto, não se exclui a eventual necessidade de intervenção cirúrgica ou tratamento com iodoradiactivo no caso de hemorragia ou transformação maligna. Os autores salientam que os doentes com tiróide lingual devem ser objecto de um seguimento seriado de forma a detectar alterações precoces da função tiroideia, sintomas compressivos e/ou transformação maligna. ERYTHEMATOUS TONGUE MASS: WHAT ETIOLOGY? ABSTRACT The lingual thyroid is a rare clinical entity, which results from the ectopic location of thyroid gland tissue due to the absence of embryonic migration of the thyroid gland from the foramen caecum to the final pretracheal position. Usually asymptomatic, it can be detected during routine oral examination or in the context of infection of the upper airways. It can also present as dysphagia, dyspnea, dysphonia, cough, hemorrhage or hypothyroidism. The authors present the clinical case of a three-year old girl, without pathological relevant past medical history, who had a progressive irritating cough and accesses of laryngeal cough. In the oral cavity, an erythematous mass was visualized; it was located in the middle line of the subsequent third of the tongue. The subsequent studies demonstrated a lingual thyroid associated with an analytical compensated hypothyroidism. The authors point out the need of a clinical and analytical vigilance of this situation because of the risk of appearance of respiratory or digestive serious symptoms and/or hypothyroidism. The surgery with removal of the mass is a therapeutic option in the case of respiratory or digestive serious symptoms or malignant transformation. Keys-words: lingual thyroid, diagnosis, treatment. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 29-31 BIBLIOGRAFIA 1. Kumar V, Nagendhar Y, Chattopadhyay A, Vepakomma D. Lingual Thyroid Gland: Clinical evaluation and management, Indian J Pediatr 2004; 71(12): e62-4. 2. Arikan S, Gökalp D, Tuzcu A, Bahceci M., Bahceci S. An Embryological cause of primer hypothyroidism, Lingual Thyroid. T J Endocrinol and Metabol 2006; 2: 49-52 3. Yoon JS, Won KC, Cho IH, Lee JT, Lee HW. Clinical Characteristics of Ectopic Thyroid in Korea. Thyroid. 2007 ;17(11):1117-21 4. Bayram F, Külahli I, Yüce I, Gökçe C, Cagli S, Deniz K. 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Apresentamos um caso de um rapaz de 9 anos de idade com quadro de vómitos e cefaleias, cuja investigação diagnóstica levou ao achado de astrocitoma cerebeloso. Os astrocitomas pilocíticos são tumores de bom prognóstico. Quando se localizam em regiões onde é possível a sua ressecção completa, geralmente são curáveis. Os autiores salientam a importância da anamnese no estabelecimento do diagnostico e a necessidade de seguimento posterior. Palavras-chave: astrocitoma; vómitos; cefaleias; crianças Nascer e Crescer 2009; 18(1): 32-35 INTRODUÇÃO As cefaleias associadas a vómitos incoercíveis são queixas comuns em crianças e adolescentes. A colheita cuidadosa da história clínica, sobretudo a duração e características das cefaleias, é importante para a sua valorização e avaliação. Os tumores cerebrais representam cerca de 20% das neoplasias da criança. O astrocitoma pilocítico é a neoplasia cerebelosa mais comum em idade pediátrica e o mais comum glioma pediátrico, constituindo 85% de todos os astrocitomas cerebelosos e 10% de todos os astrocitomas cerebrais neste grupo. Na totalidade, constitui 0.6-5.1% das neoplasias intracranianas e 1.7-7% dos tumores gliais. __________ 1 Serviço de Pediatria – Centro Hospitalar do Médio Ave – Unidade de Santo Tirso 32 casos clínicos CASO CLÍNICO Criança do sexo masculino, 9 anos de idade, raça caucasiana, natural e residente em Santo Tirso, filho único de pais não consanguíneos. Recorreu ao Serviço de Urgência, por vómitos incoercíveis e cefaleias. Dos antecedentes pessoais, apenas a referir, dislexia e rinite alérgica. Os antecedentes familiares incluiam história de cancro da mama da tia materna e cancro do colo do útero da avó materna. Apresentava cefaleias frontais não pulsáteis, diárias, de predomínio vespertino e que o despertavam de noite, referindo alívio parcial com paracetamol e agravamento em posição ortostática, com 3 meses de evolução. Houve agravamento gradual da intensidade e frequência. Às cefaleias associaram-se vómitos, inicialmente um episódio diário, posteriormente vómitos incoercíveis 24 horas antes do internamento. Sem foto ou fonofobia, desequilíbrio ou vertigens. Sem febre, alteração do trânsito intestinal ou clínica respiratória. Ao exame objectivo, à admissão: razoável estado geral, queixoso. Olhos encovados. Apirético, normotenso. Exame neurológico sumário sem alterações relevantes, nomeadamente sem ataxia e sem sinais meníngeos. Restante exame físico sem alterações. As hipóteses de diagnóstico colocadas, foram: lesão ocupante de espaço; sinusite; enxaqueca. Os exames complementares de diagnóstico pedidos, mediante as hipóteses de diagnóstico, foram: tomografia computorizada cranio-encefálica (TC CE); perfil analítico básico sem alterações. A TC CE revelou lesão quística cerebelosa esquerda sugestiva de astrocitoma (Figura 1). Referenciámos a criança ao Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO). A ressonância magnética crânio-encefálica (RM CE) aí efectuada mostrou: volumosa lesão quística no hemisfério cerebeloso esquerdo, tendo pequeno nódulo mural, correspondendendo a provável astrocitoma quístico pilocítico (Figura 2). A abordagem terapêutica incluiu analgesia, corticoterapia, fluidoterapia ev e ressecção cirúrgica, sem terapêuticas co-adjuvantes. O exame anatomo-patológico da peça operatória revelou astrocitoma grau I. As figuras 3 e 4 ilustram as imagens de RM CE no período pósoperatório. A evolução clínica foi boa, ficando a criança assintomática. DISCUSSÃO Os tumores cerebrais constituem aproximadamente 20% de todas as neoplasias da infância, sendo a leucemia linfoblástica aguda a mais frequente. O astrocitoma é o tumor cerebral mais comum, constituindo mais de 50% das neoplasias do sistema nervoso central. Vários estudos revelam que a incidência anual deste tumor é cerca de 14 novos casos por milhão de crianças e adolescentes com idade inferior a 15 anos. Muitos casos ocorrem na 1ª década de vida, com um pico aos 5-9 anos de idade (1) . Os astrocitomas formam uma enorme variedade de neoplasias, diferindo na sua localização no sistema nervoso central, potencial de crescimento, extensão de invasão, características morfológicas, tendência para progressão e curso clínico. Podem distinguir-se as seguintes entidades clinicopatológicas: astrocitoma pilocítico (Organização Mundial de Saúde – OMS, grau I), astrocitoma difuso (OMS, grau II), astrocitoma anaplásico (OMS, NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Figura 1 - Imagens da TC CE, revelando volumosa lesão quística do hemisfério cerebeloso esquerdo e sinais de marcada dilatação ventricular, traduzindo hidrocefalia casos clínicos 33 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 grau III), e glioblastoma multiforme (OMS, grau IV)(1). Destes, o astrocitoma pilocítico é a neoplasia do sistema glial mais comum em idade pediátrica e o mais comum tumor cerebeloso pediátrico. Este tumor tem um comportamento biológico notavelmente benigno, o que se traduz numa elevada taxa de sobrevivência – 94% aos 10 anos (2) . O cerebelo, nervo óptico e quiasma e região hipotalâmica são as suas mais comuns localizações, embora possa também ser encontrado nos hemisférios cerebrais, ventrículos e espinal medula. Originalmente identificado numa série de 76 casos de astrocitomas cerebelosos por Harvey Cushing em 1931, o astrocitoma pilocítico ocupa um lugar único entre as neoplasias cerebrais (3) . De facto, apesar de mostrar um comportamento benigno, há alguns factos contraditórios acerca deste tumor. Parece bem circunscrito, contudo ocasionalmente, infiltra o tecido cerebral contíguo, como se pode ver no exame histológico. Em casos raros, pode mesmo causar disseminação, o que é incongruente com um tumor de crescimento lento e características histológicas pouco agressivas. Ainda mais fascinante, tal propagação metastática pode ocorrer sem aumento as- sociado da mortalidade, em contraste com o mau prognóstico tão comum em tumores metastáticos de alto grau de malignidade. Dadas estas contradições, pode caracterizar-se o astrocitoma pilocítico como “ o tumor que é a excepção à regra”(1) . Só muito raramente, este tumor pode sofrer uma transformação maligna com um aspecto histológico agressivo; tal tumor é anaplásico. Apesar de estarem relatados na literatura casos fatais, este evento não acarreta necessariamente um prognóstico menos favorável (4,5) . Muitos casos de transformação maligna ocorreram após radioterapia, levando à especulação de que a irradiação seria um factor contribuinte no desenvolvimento da malignização (6) . A apresentação clínica do astrocitoma pilocítico varia com a sua localização. Cefaleias, vómitos, ataxia, alterações da visão, diplopia e cervicalgia são sintomas comuns nos doentes com astrocitoma pilocítico cerebeloso (7-9) . Imagiologicamente, na tomografia computorizada (TC), muitos astrocitomas pilocíticos cerebelosos e cerebrais têm uma aparência bem demarcada, com uma forma redonda ou oval, com uma dimensão inferior a 4 cm, podem ter as- pectos quísticos, margens bem definidas e ocasionais calcificações (5,10,11) . Noventa e quatro por cento destes tumores evidenciam-se, tipicamente de forma intensa, após a administração de contraste (11) . Existe uma imagem clássica em cortes imagiológicos transversais, que é de uma massa quística com um nódulo mural. Na ressonância magnética (RM), o astrocitoma pilocítico é tipicamente isointenso a hipointenso relativamente ao tecido cerebral normal em T1 e hiperintenso em T2 (10) . Tal como esperado para um tumor de baixa actividade biológica, o grau de edema vasogénico circundante é menor, comparativamente às neoplasias gliais de alto grau (5) . Tal como as suas manifestações clínicas variam de acordo com as diferentes localizações, a terapêutica deste tumor também pode variar com a sua localização. A ressecção cirúrgica dos astrocitomas pilocíticos cerebelosos e cerebrais é considerada a terapêutica de eleição e é geralmente curativa, quando uma ressecção total é obtida.(7, 9, 12 - 18) . Para lesões de localização menos favorável (gânglios da base), a ressecção estereotácica pode ser usada (19) . A radioterapia deve ser estritamente evitada, devido aos riscos de significativa morbilidade em crianças com menos de 5 anos de idade e ausência de evidência clínica de que impeça a recorrência do astrocitoma (17,18) . Figura 2 - Imagem de RM CE (ponderação T1, corte coronal), revelando volumosa lesão quística no hemisfério cerebeloso esquerdo, tendo nódulo mural, provavelmente correspondente a astrocitoma quístico pilocítico Figura 3 - Imagem RM CE (T1, corte axial), no período pós-operatório. Evidencia-se loca cirúrgica no hemisfério cerebeloso esquerdo, observando-se um minúsculo foco, que se realça com o gadolíneo, de significado impreciso Figura 4 – Imagem RM CE (corte sagital, T1) no período pós-operatório, evidenciando-se loca cirúrgica 34 casos clínicos NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 De um modo geral, o prognóstico é excelente, com uma taxa de sobrevivência de 94% aos 10 anos e de 79% aos 20 anos, contrastando com o prognóstico mais reservado do astrocitoma difuso. Para além do comportamento biológico benigno, outros factores influenciam um prognóstico favorável. O aumento da taxa de sobrevivência aos 10 anos ( cerca de 90% após 1970 com cerca de 70% antes de 1970) foi atribuída à melhoria das técnicas neurocirúrgicas e equipamento (20) . Pylocitic astrocytomas are tumors with good prognosis. When located in regions that allow complete resection they can be cured. We emphasize the importance of a thorough anamnesis for a correct diagnosis and the need for follow-up. Key-words: astrocytoma; vomiting; headache; children Nascer e Crescer 2009; 18(1): 32-35 BIBLIOGRAFIA CONCLUSÃO As cefaleias associadas a vómitos incoercíveis constituem um quadro clínico frequente em crianças e adolescentes. Apesar disso é necessário colher cuidadosamente a história clínica, pesquisando, nomeadamente a duração da cefaleia e as suas características e realizando exame neurológico. O nosso doente tinha óptimo estado geral e à primeira vista, pareceria um quadro de vómitos incoercíveis comum. No entanto, quando revimos a história da doença actual, verificámos que se tratava de um quadro arrastado com três meses, com agravamento progressivo das cefaleias, seguindo-se o aparecimento de vómitos. Desde logo se deu o alerta para a possibilidade de uma lesão ocupante de espaço intracraniana e assim avançámos de imediato para investigação imagiológica, que confirmou a nossa hipótese diagnóstica. Os autores descrevem este caso clínico pelo interesse da anamnese cuidada que levou à terapêutica atempada, consequentemente com um bom prognóstico. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. HEADACHES AND VOMITING: WHAT IS UNDERNEATH? ABSTRACT Headaches and vomiting are frequent complaints in childhood. The authors report a case of a 9 year old boy presenting incoercible vomiting and headache. The clinical evolution and diagnostic investigations revealed a cerebellar astrocytoma. 8. 9. MacDonald T, Gross S, Windle M, Coppes M. Astrocytoma. Emedicine 2006. Koeller K, Rushing E. Pilocytic astrocytoma : Radiologic-Pathologi correlation. RadioGraphics 2004; 24:1693-1708. Cushing H. Experiences with the cerebellar astrocytomas: a clinical review of 76 cases. Surg Gynecol Obstet 1931; 52:129-191. 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Os pacientes apresentam lesões cutâneas típicas e as manifestações extracutâneas aparecem posteriormente. O diagnóstico baseia-se na clínica, histologia e genética. Os autores apresentam o caso de um rapaz de 8 anos que refere aparecimento de pápulas alaranjadas, confluindo em placas de consistência elástica, de limites imprecisos, inicialmente limitadas à região cervical e estendendo-se posteriormente às regiões axilares. Realizou biopsia de pele que confirmou a suspeita clínica de pseudoxantoma elástico. Efectuou estudo analítico, electrocardiograma, ecocardiograma, eco-Doppler das carótidas e aorto-ilíacas, retinograma e potenciais evocados visuais que foram normais. Houve expansão das lesões para as regiões inguinais, não apresentando quaisquer queixas sistémicas. A raridade desta doença leva ao diagnóstico tardio. Sendo as complicações frequentes, é importante o diagnóstico atempado para instituir medidas profiláticas, evitando sequelas. Palavras-chave: Criança, Pseudoxantoma elástico, gene ABCC6 Nascer e Crescer 2009; 18(1): 36-39 __________ 1 2 Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de V.N.Gaia - Espinho/EPE Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar de V.N.Gaia - Espinho/EPE 36 casos clínicos INTRODUÇÃO Pseudoxantoma elástico (PE) é uma doença genética rara que apresenta uma hereditariedade autossómica recessiva(1,2). Tem uma prevalência estimada de 1:25000 a 1:100000 habitantes(3,4). Está descrita em todas as raças e a sua incidência é superior no sexo feminino, aproximadamente 2:1(3,4). O PE deve-se a mutações no gene ABCC6 (ATP-binding cassette transporter C6), mapeado no cromossoma 16(3,5-7). Esta patologia caracteriza-se pela progressiva calcificação e fragmentação das fibras elásticas da pele, retina (membrana de Bruch) e sistema cardiovascular(5,8). As manifestações clínicas são muito variáveis e podem ter início em qualquer idade, desde a infância até à idade adulta, sendo o pico de incidência na adolescência(3,5). No início do quadro as queixas são habitualmente cutâneas: manchas e/ou pápulas amarelo-alaranjadas, assintomáticas, quase sempre nas regiões cervicais laterais com posterior extensão das lesões para a região cervical posterior, axilas, regiões inguinais, poplíteas e peri-umbilical(3,9). As manifestações extra-cutâneas incluem envolvimento das mucosas, com hemorragias gastro-intestinais frequentes (melena, sangue oculto nas fezes, hematemeses)(5). Com a progressão da doença é frequente o envolvimento cardíaco com angina pectoris e hipertensão arterial(8,9). O atingimento ocular leva ao aparecimento de estrias angióides na membrana de Bruch e assim, a hemorragias retinianas, comuns a partir da quarta década de vida, podendo provocar perda de visão central(3). Há outras manifestações, possíveis mas mais raras, como hematúria, hemorra- gia pulmonar ou cerebral e insuficiência arterial periférica com claudicação(5,10). A causa mais frequente de morbilidade e incapacidade nos doentes com PE é a redução da capacidade de visão. O diagnóstico baseia-se em aspectos clínicos, uma vez que as lesões são muito características, mas também na histologia e no estudo genético(3,11). O tratamento não é curativo, mas as medidas profiláticas podem minimizar as complicações retinianas e cardiovasculares(3,8). O prognóstico é portanto variável, dependendo dos órgãos afectados e do grau do seu atingimento. A maioria dos doentes tem uma sobrevida normal. CASO CLÍNICO Os autores apresentam o caso clínico de uma criança do sexo masculino com oito anos que foi orientado para a consulta de pediatria por aparecimento de manchas amareladas irregulares na região cervical lateral. A criança estava a ser seguida na consulta de Imunoalergologia Pediátrica desde os três anos, por asma e rinite alérgicas intermitentes. Estava medicada com salbutamol, budesonido e desloratadina nas agudizações. Não apresentava outros antecedentes patológicos de relevo. A história familiar revelou que o pai tem sinusite e colite ulcerosa e uma prima paterna tem doença de Chron, não apresentando outros antecedentes de importância. Aos oito anos, na consulta, refere manchas amareladas de forma irregular e crescimento indolente, acompanhadas de prurido intermitente, nas regiões cervicais laterais, com cerca de três meses de evolução. Já tinha sido medicado, pelo médico assistente, NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 com anti-fúngicos e corticóides tópicos, bem como emolientes, não manifestando qualquer melhoria. Não referia qualquer outra queixa. Ao exame físico apresentava bom estado geral, com boa hidratação e coloração da pele e mucosas e a tensão arterial era normal. Apresentava placas amareladas, rugosas, irregulares que se localizavam na região cervical lateral de forma simétrica (Figura 1). Não apresentava dor ou desconforto com a palpação das manchas e não havia sinais inflamatórios circundantes. O restante exame objectivo completo não mostrou alterações. Dado o tipo de manchas foi orientado para a consulta de Dermatologia. Nessa consulta realizou biopsia de pele, cujo exame histológico revelou: “…a presença de fibras anfófilas, encurtadas, espessadas e de aspecto ondulado. A coloração pelo método de Von Kossa revelou a presença de sais de cálcio depositadas nas fibras elásticas …compatível com pseudoxantoma elástico…”. Na sequência da investigação foram efectuados hemograma, bioquímica geral com perfil lipídico e equilíbrio fósforo-cálcio e sedimento urinário, electrocardiograma e ecocardiograma, eco-doppler das carótidas e aorto-ilíacas, retinograma e potenciais evocados visuais, os quais foram normais e/ou não revelaram alterações relevantes. Durante o seu seguimento foi sendo evidente uma expansão gradual das lesões com aparecimento das mesmas nas regiões axilares (Figura 2), cervical posterior, inguinais e raiz das coxas. Mantém-se actualmente sem qualquer queixa sistémica. Foi também orienta- Figura 1- Aspecto das lesões iniciais, na região cervical (Fotografia autorizada pelos pais) do para a consulta de Nutrição, tendolhe sido prescrita uma dieta pobre em lípidos. DISCUSSÃO O PE é uma doença rara e, apesar de pouco comum, acredita-se que a sua frequência poderá estar subestimada. Ao longo do tempo, casos recentes pareciam apontar uma hereditariedade dominante ou recessiva(5,8), no entanto, estudos mais recentes parecem determinar, definitivamente, um padrão exclusivamente recessivo(2). Há, todavia, autores que admitem a existência de formas esporádicas(7,12). O gene responsável por esta patologia é o ABCC6 (ATP-binding cassette transporter C6), também denominado MRP6 (Multidrug Resistance- Associated Protein 6). São conhecidas mais de cem mutações e Figura 2- Aspecto das lesões típicas, na axila (Fotografia autorizada pelos pais) casos clínicos 37 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 para que a doença se manifeste é necessária homozigotia para a mesma mutação, heterozigotia para mutações diferentes ou heterozigotia alélica composta para o haplótipo segregado(2,13). As mutações mais frequentes nas populações da Europa, América do Norte e África do Sul são: c.3421C>T (p.R1141X) no exon 24 e deleção Alumediada das sequências entre o exon 23 e 29 (ex23_ex29del)(14). O gene ABCC6 codifica a proteína ABCC6 que pertence à família de transportadores transmembrana dependentes de ATP. Esta proteína é composta por 1503 amino-ácidos, três segmentos transmembrana, consistindo em 17 hélices hidrofóbicas e dois domínios de ligação a nucleotídeos (NBD1 e NBD2(15,16). Esta proteína expressa-se, fundamentalmente, no fígado e rins e numa menor extensão, nos tecidos afectados no PE. O substrato fisiológico ainda não está determinado embora se considere actualmente uma doença metabólica(3,13). Esta hipótese baseia-se na convicção de que o PE se deve a moléculas circulantes, ainda por determinar, que interagem com a síntese, turnover e manutenção das fibras elásticas(13). As mutações genéticas levam a um transporte transmembrana reduzido ou mesmo ausente provocando acumulação de substrato e calcificação das fibras elásticas(17). Dada a riqueza em fibras elásticas da pele, retina e sistema cardiovascular, estes são essencialmente os tecidos afectados(3,5,8, 17). Apesar de ser quase constante a manifestação cutânea com máculas ou pápulas amarelo-alaranjadas na região cervical lateral, a clínica é muito variável. Uma vez que os pacientes não valorizam habitualmente as lesões cutâneas, o facto de as manifestações extra-cutâneas aparecerem, geralmente, mais tarde, leva a que o diagnóstico seja feito apenas na idade adulta por complicações da própria doença(3, 18). A doença pode manifestar-se em qualquer idade. No caso apresentado, as lesões dérmicas características apareceram aos oito anos e levantaram a suspeita diagnóstica. Após a 38 casos clínicos biopsia de pele, o estudo histológico revelou os achados típicos de calcificação e fragmentação das fibras elásticas, fazendo o diagnóstico definitivo. Dado a associação de critérios clínicos e histológicos, não foi pedido estudo genético molecular. Apesar da precocidade do diagnóstico e da inexistência de quaisquer queixas sistémicas, foi pedida colaboração de diferentes especialidades, a qual, após realização de exames complementares de diagnóstico específicos confirmou a ausência de envolvimento da retina, coração e sistema cardiovascular a nível dos membros inferiores e da aorta; por outro lado, esta vigilância apertada assegura uma actuação mais atempada no caso de aparecerem complicações. Apesar de muito jovem e para minimizar as sequelas habituais desta patologia está sob dieta pobre em lípidos, numa tentativa de prevenir a ateroesclerose. Mais tarde, já na idade adulta deverá evitar também uma dieta rica em cálcio. Relativamente ao tratamento dermatológico das lesões há várias possibilidades: excisão cirúrgica ou por laser, injecções de colagénio ou de gordura autóloga ou mesmo a abstenção terapêutica(3,8). Em termos oftalmológicos, a hemorragia retiniana é precedida por formação de estrias angióides na membrana de Bruch sub-retiniana(9). Esta alteração pode ser confirmada por angiografia intravenosa de fluoresceína e no caso de ser detectada pode ser feita coagulação a laser numa tentativa de minimizar perda de visão(3). Neste caso, dado ser muito jovem, e não apresentar lesões extra-cutâneas, não foi submetido a qualquer intervenção. Foi incentivado a fazer exercício físico continuado, devendo evitar desportos de contacto, pelo risco acrescido de hemorragia retiniana. O tratamento de outras complicações, quer cardíacas, gastro-intestinais ou outras são orientadas para o problema em si. Se esta criança mantiver um acompanhamento multidisciplinar e cumprir todas as indicações estabelecidas, não se espera um mau prognóstico. É possível, actualmente, o aconselhamento genético, que tem papel importante no rastreio de portadores e no estabelecimento do diagnóstico pré-natal, através da pesquisa de mutações do gene ABCC6 nos amniócitos e/ou vilosidades coriónicas. CONCLUSÕES A variabilidade fenotípica e a baixa prevalência do PE levam, muitas vezes, a diagnósticos tardios. Como as complicações cardiovasculares e retinianas são frequentes no decurso desta patologia é importante fazer o diagnóstico atempado, instituir medidas profiláticas e fazer uma vigilância multidisciplinar a longo prazo, para evitar todas as sequelas possíveis. PSEUDOXANTHOMA ELASTICUM – CASE REPORT ABSTRACT Pseudoxhantoma elasticum is a rare inherited disorder, characterised by a progressive mineralization and fragmentation of elastic fibres of the skin, retina and cardiovascular system. The skin exhibits distinctive lesions and extra-dermal manifestations appear in advanced age. The diagnosis relies on clinical manifestations, histology and genetic analysis. The authors present a case report of an eight year old boy complaining of orange papules in the lateral cervical regions and axilae, becoming later into elastic consistence plaques with irregular limits. The skin biopsy demonstrated pseudoxhantoma elasticum. Analytic study, electrocardiogram, echocardiogram, carotid and aortal-iliac eco-doppler, retinogram and evocated visual potentials were normal. There was expansion of cutaneous lesions to inguinal regions. The low prevalence of this disease may be the cause of a late diagnosis. The authors emphasize the importance of an early diagnosis to minimize the complications, which are common in these cases. Key-words: Child, Pseudoxanthoma elasticum, ABCC6 gene NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Nascer e Crescer 2009; 18(1): 36-39 BIBLIOGRAFIA 1. Bergen AA. Pseudoxanthoma Elasticum: the end of the autosomal dominant segregation myth. J Invest Derm 2006; 126: 704-5. 2. Miksch S, Lumsden A, Guenther UP, Foernzler D, Christen-Zach S, Daugherty C et al. Molecular genetics of Pseudoxanthoma Elasticum: type and frequency of mutations in ABCC6. Hum Mutat 2005; 26 (3): 235-48. 3. E-medicine. Pseudoxanthoma elasticum. Disponível em: http://emedicine.medscape.com/article/1074713overview. 4. Bercovitch L, Terry P. Pseudoxanthoma elasticum 2004. J Am Acad Dermatol 2004;51 S13-4 5. Wenstrup RJ, Zhao H. Heritable disorders of connective tissue with skin changes. Fitzpatrick´s Dermatology in General Medicine. In IM Freedberg et al editors. 6th ed. New York; 2003; 1503-5. 6. 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According to WHO criteria, the SD score with a cutoff of less than -2 COMENTÁRIOS A escolha deste artigo prendeu-se com o facto de se debruçar sobre um tema transversal e de elevada prevalência, em todas as áreas da prática clínica pediátrica. Apesar da malnutrição ser comum entre crianças e adolescentes hospitalizados, não é muitas vezes reconhecida e por isso, também não tratada. Embora o tempo médio de permanência no hospital para a grande maioria das crianças e adolescentes seja de poucos dias, nos doentes crónicos ou com problemas subjacentes esse tempo pode ser consideravelmente maior. Em qualquer dos casos, a atenção do clínico está muitas vezes focalizada no problema médico primário. De facto, conforme este artigo evidencia, a prevalência registada da malnutrição nos doentes hospitalares pediátricos é elevada e, apesar de grandes avanços na qualidade dos cuidados assistenciais prestados, a sua prevalência não tem vindo a diminuir nas últimas uma, duas décadas. Assim, trabalhos provenientes de vários países da Europa e USA, e publicados desde há três décadas, apontam para prevalências da ordem dos 20-30% de mal- 40 artigo recomendado should be used to define malnutrition and to compare prevalence data. Using the SD score for weight for height or equivalent criteria, the prevalence of acute malnutrition over the last 10 years in hospitalized children in Germany, France, the UK and the USA varied between 6.1 and 14%, whereas in Turkey up to 32% of patients with malnutrition were reported. Acute malnutrition is still highly prevalent in children with an un- nutrição aguda, em que 6.1 a 14% correspondem a estadios de malnutrição moderada a grave, em populações pediátricas hospitalizadas(1-4); noutros países, esta prevalência chega a atingir a faixa entre 30-40%(5). Também taxas de prevalência de malnutrição ainda muito mais elevadas têm sido publicadas em crianças e adolescentes hospitalizadas com patologias subjacentes como cardiopatias, fibrose cística, patologias do foro cirúrgico, doentes em estado crítico (Unidades de Cuidados Intensivos), doenças neurológicas, nefropatias, entre outras. Mais uma vez, e apesar das grandes melhorias dos cuidados que, por exemplo na fibrose quística permitiu uma redução significativa do estado de malnutrição, noutras, como a doença renal crónica, as cardiopatias, a doença inflamatória intestinal e a SIDA, a sua prevalência persiste elevada, possivelmente devido ao estado inerente e sustentado de inflamação crónica. Ainda nesta década, um relatório elaborado por peritos do Conselho da Europa trouxe a público o reconhecimento da existência de défices major nos cuidados nutricionais nos Hospitais Europeus, diligenciando recomendações no sentido de melhorar a situ- derlying disease; however, the prevalence rate seems lower in children with cystic fibrosis and malignancies. Summary: The prevalence of acute malnutrition of children admitted to hospital is still considerably high, but there is a scarcity of data concerning the nutritional status during hospital admission. Screening tools to identify children at risk of developing malnutrition might be helpful. ação, que incluíram a implementação de Equipas de Suporte Nutricional(6). Posteriormente, o comité de Nutrição da ESPGHAN publicou, sob a forma de Medical Position Paper, sugestões para a implementação dessas equipas em unidades pediátricas(7). O organismo é, em certo sentido, o produto da sua própria nutrição que se entende como sendo o processo pelo qual o ser vivo digere os alimentos, utiliza a energia e incorpora os nutrientes, para manter as suas funções vitais básicas e reparar as suas estruturas. O crescimento, considerado o fenómeno biológico básico da infância, pode dizer-se que é uma aposição de nutrientes, e portanto as crianças e adolescentes uma vez tendo elevadas necessidades energéticas por unidade de massa corporal e reservas energéticas limitadas comparativamente aos adultos, estarão em risco particularmente elevado para malnutrição. A malnutrição representa um espectro clínico contínuo que se inicia com um aporte inadequado de nutrientes para colmatar as necessidades fisiológicas, seguida de alterações metabólicas e funcionais com diferentes graus de comprometimento do peso e NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 da composição corporal(7). Neste trabalho, os autores definem malnutrição como um estado nutricional cuja deficiência ou excesso de energia, proteína, e outros nutrientes causam efeitos adversos mensuráveis nos tecidos, forma e função corporais com consequências clínicas. É muito interessante a referência do excesso porque, neste contexto, a malnutrição está intrínsecamente conotada com deficiência. De facto, um artigo publicado muito recentemente(8) já aborda não só a prevalência da malnutrição mas também a prevalência do sobrepeso duma população que é admitida num hospital pediátrico. É um achado novo que emerge da análise do perfil nutricional de crianças e adolescentes, neste caso mexicanos, podendo ser interessante realçar que provavelmente reflecte a transição nutricional global das populações hispânicas nas duas últimas décadas. Assim, a análise de populações nativas e migrantes americanas e outras com prevalência excepcionalmente elevada de obesidade e diabetes tipo II como os Índios Pima, têm em comum uma história de períodos de ruptura sócioeconómica grave e privação nutricional num passado não muito longínquo, tendo estas mesmas populações sofrido transformações muito rápidas e recentes no estilo de vida e padrões dietéticos, pela adopção de hábitos ditos ocidentais. Factores do desenvolvimento das populações ao longo dos tempos parecem portanto explicar estas particularidades étnicas, evidenciando a importância da programação precoce (fetal e perinatal) e intergeracional do metabolismo energético(9,10). Assim, estado nutricional apropriado ou, por contraponto, malnutrição são conceitos difíceis de definir e avaliar objectivamente. A malnutrição pode ser aguda, crónica ou mista; a primeira está mais associada à doença aguda e portanto com repercussão no peso (wasting), e a malnutrição crónica está mais associada à doença crónica de base que, por ser sustentada, se reper__________ 1 Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria cute no comprometimento da estatura (stunting); é claro que a malnutrição crónica pode ser agudizada pelas intercorrências. De facto, muitas são as classificações, critérios e pontos de corte que têm vindo a ser publicados nas últimas décadas(11) mas, decorrente do exposto, a WHO em 1999 recomendou o uso do peso-para-a-estatura inferior a 2 desvios-padrão para definir malnutrição aguda e estatura-para-aidade inferior a 2 desvios-padrão para definir malnutrição crónica(12). Muito se tem referido da importância da aplicação de scores pediátricos de avaliação de risco nutricional na admissão e durante a permanência hospitalar destes doentes, sendo certo que a sua utilização sistemática possibilitaria a implementação atempada de suporte nutricional adequado. No entanto, são escassos os instrumentos propostos para rastreio e monitorização do estado nutricional e para a avaliação de risco e, os que existem, têm limitações como falta de validação, sendo complexos para usar por rotina(13,14). A importância dada a este tema tem sido crescente, porque tem cabimento em estratégias de medicina preventiva, numa tentativa de optimizar o pleno desenvolvimento das populações pediátricas, mas também por mostrar a necessidade da existência de planos assistenciais multidisciplinares de patologias crónicas e debilitantes, que permitirão sobrevidas cada vez mais longas com novas exigências e novos problemas. A profilaxia nutricional, isto é, a actuação na idade pediátrica corrigindo hábitos inadequados e potenciando benefícios de normas dietéticas instituídas muito precocemente, permite diminuir a morbilidade e a mortalidade da população relativamente a patologias como a obesidade, doença cardiovascular, diabetes, osteoporose, cáries dentárias, e algumas neoplasias, entre outras. Merece especial atenção a actual diferenciação crescente dos cuidados de saúde prestados à criança em si- tuações de urgência e/ou emergência clínicas médicas e cirúrgicas, estas também colocando novos problemas e exigências nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos, que necessitam de preparação médica específica e qualificada, nomeadamente no que concerne ao suporte nutricional. De facto, será concerteza neste contexto que factores comuns a outros níveis de cuidados hospitalares como a insuficiente e não contabilizada densidade proteico-energética do aporte alimentar, os jejum prolongados impostos por exames, os abusos de fluidoterapia não calórica e a inflexibilidade dos horários características das refeições pouco adaptados às particularidades de cada doente, são mais significativos15. Pelo exposto, parece prioritário a implementação de equipas de suporte nutricional nos cuidados hospitalares, sobretudo de hospitais diferenciados, que desenvolvam um trabalho multidisciplinar bem organizado e de cooperação. Vários autores têm vindo a demonstrar a boa relação custo/benefício destas equipas16. A muito elevada prevalência de malnutrição entre crianças e adolescentes admitidos no hospital é considerada intolerável, dadas as consequências adversas na sua saúde e bem estar a curto e a longo prazos, muitas vezes substimadas. Estratégias de avaliação de risco sistemática e implementação de suporte nutricional especializado são aspectos essenciais e urgentes na abordagem clínica da criança e do adolescente admitidos nos hospitais. Helena Ferreira Mansilha1 Nascer e Crescer 2009; 18(1): 40-42 BIBLIOGRAFIA 1. Merrit RJ, Suskind RM. Nutritional survey of hospitalized children. Am J Clin Nutr 1979; 32: 1320-5. artigo recomendado 41 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 2. Moy RJ, Smallman S, Booth IW. Malnutrition in a UK children’s hospital. J Hum Nutr Diet 1990; 3: 93-100. 3. Hendriks KM, Duggan C, Gallaher L, et al. Malnutrition in hospitalized pediatric patients. Arch Pediatr Adolesc Med 1995; 149: 1118-22. 4. Pawellek I, Dokoupil K, Koletzko B. Prevalence of malnutrition in paediatric hospital patients. Clin Nutr 2008; 27: 72-76. 5. Dogan Y, Erkan T, Yalvac S, et al. Nutritional status of patients hospitalized in pediatric clinic. 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NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Blood Pressure Responses to Psychosocial Stress in Young Adults With Very Low Birth Weight: Helsinki Study of Very Low Birth Weight in Adults Riikka Pyhala, MA, Katri Raikkonen, Kimmo Feldt, Sture Andersson, Petteri Hovi, Johan G Eriksson, Anna-Lisa Jarvenpaa, Eero Kajantie. Pediatrics 2009; 123; 731-734 ABSTRACT Young adults born prematurely with very low birth weight (≤1500g) have higher blood pressure than to their counterparts born at term. We tested whether they also have higher blood pressure reactivity to psychosocial stress, witch may be a more-specific predictor of long-term cardiovascular morbidity. Systolic and diastolic blood pressure levels of 44 very low bird weight adults (mean COMENTÁRIOS Os autores começam por referir que já se sabia que adultos nascidos muito prematuramente têm um risco mais elevado de sofrer de hipertensão arterial. O que não se sabia e se passou a saber, é que antes de terem hipertensão arterial sustentada, já a vão tendo em situações de stress, vendo assim facilitado o desenvolvimento de hipertensão sustentada e a consequente aterosclerose. A prova de stress (Trier Social Stress Test), que dizem ser amplamente usada e devidamente estandardizada, consiste em falar em público durante 5 minutos e outros 5 minutos de cálculo mental aritmético perante dois observadores que, à parte as instruções para realizar a prova, evitam comunicar verbalmente ou não, com o paciente. O resultado, como já vimos, foi um aumento da tensão arterial, particularmente da diastólica. Como explicação para este facto, os autores sugerem que a prematuridade ocasione alterações a nível do sistema nervoso autónomo e no eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal. Este trabalho acrescenta conhecimentos ao recente, e cada vez mais opor- age: 23.1 years; SD: 2.3 years) and 37 control subjects ( mean age: 23.6 years; SD: 2.0 Years) were measured through non-invasive finger photoplesthymography during a standardized psychosocial stress challenge ( Trier Social Stress Test). Baseline and task values and their difference (ie, reactivity) served as outcome variables. In comparison with the control group, the very low birth weight group had 7.9 mmHg higher diastolic blood pressure during the task and 4.8 tuno, capítulo da pediatria, que é a origem fetal de doenças do adulto. O objectivo último do pediatra é “entregar” ao médico do adulto um recém-adulto o mais saudável possível, para que venha a ter uma vida longa, produtiva e saudável. Ora o pediatra pode entregar ao colega que vai ser médico do seu ex-paciente, um adulto “armadilhado”, isto é, aparentemente sem doenças, mas que serão certas ou, pelo menos, mais prováveis, anos mais tarde. Ora se a pediatria conseguir detectar estas “armadilhas”, poderá transmitir ao médico de adulto este conhecimento, o qual pode continuar ou iniciar atempadamente as medidas preventivas da futura doença e monitorizar o seu desenvolvimento. É a teoria da programação fetal, proposta por Barker, e que já foi aflorada em anterior artigo recomendado(1). Uma elegante revisão desta interessante temática foi feita recentemente por Videira Amaral(2). Vejamos algumas consequências da restrição do crescimento intra-uterino e da prematuridade. Está cada vez mais demonstrado que a restrição do crescimento intrauterino se associa ao desenvolvimento mm Hg higher diastolic reactivity, with adjustment for gender and age, height, and BMI at testing. A similar trend was seen for systolic blood pressure during the baseline period and the task, but the group differences were not statistically significant. Our results indicate that very low birth weight is associated with elevated blood pressure reactivity to psychosocial stress and, therefore, may increase the risk of cardiovascular morbidity. ulterior, que na criança, quer no adulto, a diversos tipos de patologia. Pode estar na origem da perturbação do défice de atenção e hiperactividade(3,4). A extrema prematuridade (22 a 32 semanas) acarreta um maior risco de perturbações do comportamento pelos 3 anos de vida (5) e ocasiona um impacto negativo na dinâmica familiar, na idade escolar, o que faz antever da necessidade de instituição de medidas sociais para o aliviar (6). Associase também a alterações imunitárias, facilitando consequentemente a infecção(7). A restrição do crescimento intrauterino conduz a uma probabilidade aumentada de doença vascular coronária e cerebral, osteoporose, sindroma metabólica e diabetes tipo 2, e a prematuridade, independente do peso, a resistência à insulina e intolerância à glicose na prépuberdade, podendo continuar no adulto e ser acompanhada de elevação da tensão arterial(8). Uma recente revisão sistemática da relação peso ao nascer e risco de diabetes tipo 2 sugere fortemente uma relação inversa entre ambos(9). E havendo atraso do crescimento, quando lactente, ou um elevado ganho ponderal artigo recomendado 43 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 na infância, regista-se uma potenciação destas consequências(10). O baixo peso ao nascer, resultante de prematuridade ou de restrição do crescimento, origina anomalias estruturais e funcionais da árvore vascular, com carácter irreversível, o que implica uma avaliação contínua do risco cardiovascular, nomeadamente avaliações da tensão arterial a iniciar antes dos 3 anos(11). Para além do baixo peso ao nascer, são factores de risco para o desenvolvimento precoce de aterosclerose, que se pode detectar pela espessura da parede aórtica abdominal através de ecógrafos de alta resolução, a exposição do feto a hipercolesterolemia e a macrossomia devida ao hiperinsulinismo materno. Destes factores, a hipercolesterolémia é o alvo onde a prevenção se revela mais promissora(12). A espessura da camada íntima das artérias coronárias de recémnascidos com restrição do crescimento, parece não constituir um factor etiológico para o desenvolver de um maior risco de doença coronária no adulto(13). Uma fonte de ensinamentos sobre a origem fetal de doenças dos adultos tem sido o estudo de uma população de adultos que na sua vida fetal sofreu as consequências da chamada fome alemã. Este período de extrema penúria alimentar aconteceu na Holanda no último meio ano da II Guerra Mundial. Destas gestações resultou um elevado número de malformações do sistema nervoso central, incluindo espinha bífida, para alem de prematuridade e baixo peso. Os adultos têm riscos acrescidos de doença coronária, alteração do perfil lipídico e da tolerância à glucose, esta provavelmente resultante de anomalias da secreção de insulina. As mulheres têm mais obesidade abdominal. Para além destas consequências, há ainda preferência por alimentos gordos, o que vêm contribuir para agravar o perfil aterogénico, directamente resultante da má nutrição fetal(14). A administração de corticóides ante e pós-natal pode contribuir para elevar os riscos de disfunção cardiovascular e __________ 1 Professor de Pediatria do ICBAS/HGSA 44 artigo recomendado hipertensão arterial, apenas aparentes no adulto, pois na idade escolar ainda se não fazem notar, como as experiências animais assim o fazem suspeitar(15). A importância do tipo de alimentação materna na prevenção de outro tipo de doenças parece deduzir-se da constatação que um aporte aumentado de ácidos gordos poli-insaturados do grupo n-3, na última fase da gestação, pode ser um importante factor preventivo de asma(16), bem como a não carência em vitamina D(17). Fumar durante a gestação é o factor etiológico mais importante da restrição do crescimento intra-uterino, cuja etiopatogenia reside na diminuição do transporte de oxigénio, da insulinémia fetal, do factor de crescimento semelhante à insulina I e proteína de ligação 3(18). Conduzindo ainda ao desenvolvimento de hiper-reactividade brônquica, aumenta o risco de asma no adulto jovem que por sua vez, se tiver sido exposto ao fumo passivo na infância, tem mais probabilidades de vir a ser fumador(19). Fumar durante a gestação aumenta os riscos de sintomatologia psiquiátrica na adolescência(20) e diminui a prevalência e duração da amamentação (21). Não podemos deixar de ter em conta a importância da microflora intestinal na prevenção ou na contribuição para a doença. A microflora pode variar conforme o tipo de parto, a antibioticoterapia nas unidades de cuidados intensivos neo-natais, condições higiénicas, regime alimentar e ambiente familiar. Por exemplo, o parto hospitalar por cesariana originando uma microflora diferente, poderá contribuir para o desenvolvimento de asma(22). Concluindo, devemos procurar na exposição nutricional, hormonal e tóxica nos períodos fetal, neo-natal e lactente, a explicação para o aparecimento de doenças tanto na criança, mas sobretudo no adulto. Estes conhecimentos reforçam, nomeadamente, a necessidade de uma boa alimentação materna para prevenção primária de doenças, não só enquanto criança, mas também mais tarde, quando adulto, e permitem que se tomem medidas atempadas de prevenção secundária. Nascer de uma gestação planeada e vigiada, de parto eutócico e peso apropriado à idade de gestação é um imperativo biológico com profundas implicações para uma vida mais longa e saudável. Desvendar relações ocultas e de longa latência entre noxas fetais e doenças posteriores é um caminho que se tem vindo a desbravar, permitindo medidas de prevenção, primárias e secundárias, para uma vida adulta mais saudável. Tojal Monteiro1 Nascer e Crescer 2009; 18(1): 43-45 BIBLIOGRAFIA 1. 1. 2. 3. 4. 5. 6. Barker DJP. 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Cesarean section and risk of severe childhood asthma: a population-based cohort study. J Pediatr 2008;153: 112-116. artigo recomendado 45 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Association Between Bullying and Psychosomatic Problems: A Meta-analysis Gianluca Gini, PhD, Tiziana Pozzoli, MA Pediatrics 2009;123:1059–1065 Context - In the last few years, there has been an increasing amount of research showing the concurrent and long-term consequences of bullying and being bullied by peers. Objective - We performed a meta-analysis to quantify the association between involvement in bullying and psychosomatic complaints in the school-aged population. Methods - We searched online databases (Embase, Medline, PsychInfo, Scopus) up to March 2008, COMENTÁRIOS O bullying, que nesta meta-análise é definido como uma forma activa de agressão, perpetrada repetidamente por um ou mais colegas em relação a outro mais frágil, é um problema relativamente comum nas escolas. Este comportamento pode ser físico ou verbal. Cerca de 20 a 30% dos estudantes estão envolvidos com o bullying, quer como vítimas os agressores. Sendo considerado um problema desviante das relações interpessoais saudáveis, tem consequências sérias no desenvolvimentos dos jovens, já estudadas em inúmeros trabalhos, podendo-se salientar: sofrimento psicológico, perturbação do desenvolvimento emocional, social e do rendimento escolar.(1,2,3) Os rapazes tendem a usar mais a intimidação física ou ameaças, as raparigas usam mais a forma verbal, geralmente com outra rapariga. Recentemente, têm sido referidos outros canais como a via informática (e-mail, redes sociais) e o telemóvel, sobretudo através da vulgarização do recurso a mensagens escritas. 46 artigo recomendado bibliographies of existing studies, and qualitative reviews for studies that examined the association between involvement in bullying and psychosomatic complaints in children and adolescents. The original search identified 19 studies, of which 11 satisfied prestated inclusion criteria. Results - Three random-effects meta-analyses were performed for the following 3 groups of children aged between 7 and 16 years: victims, bullies, and bully-victims. Bully-victims, victims, Ameaçar, arreliar, humilhar, insultar os pais ou familiares da vítima, exigir bens de consumo, bater, esconder objectos, são formas de bullying. Por vezes torna-se difícil à criança obter ajuda, ou porque as suas queixas não são levadas a sério e são confundidas com comportamento de denúncia, que é pouco apreciado pelos professores, ou porque existe a percepção da não disponibilidade do adulto para a ajudar. Também pode acontecer que a criança decida não falar, receando represálias ou considerando que pedir ajuda tem um significado de incapacidade. As crianças vítimas de bullying, têm geralmente algumas características em comum: são passivas, facilmente intimidadas e têm poucos amigos, e frequentemente são mais pequenas ou mais novas.(1) Os agressores foram frequentemente vítimas de abuso físico ou de bullying também(1,2) Podemos portanto encarar os agressores como crianças e jovens que necessitam de uma intervenção que envolva a escola, família a serviços de pro- and bullies had a significantly higher risk for psychosomatic problems compared with uninvolved peers. Conclusions - The association between involvement in bullying and psychosomatic problems was demonstrated. Given that school bullying is a widespread phenomenon in many countries around the world, the present results suggest that bullying be considered a significant international public health issue. tecção social, se queremos verdadeiramente resolver e minorar os fenómenos de bullying. Neste trabalho resumem-se os resultados da investigação que tem sido desenvolvida neste assunto. Foram seleccionados os trabalhos que obedeciam a critérios predefinidos e foram organizados três grupos de crianças para comparação com crianças não envolvidas em bullying: vítimas, agressores e vítimasagressores. Esta análise abrangeu uma população de 152 186 crianças e adolescentes entre os 7 e 16 anos, de países dos vários continentes. Comprova-se, com resultados de elevado significado estatístico, a sua associação com sintomas psicossomáticos nos três grupos, comparados com os colegas que não estavam envolvidos em bullying. Estes resultados correspondem a um número considerável de crianças e jovens e torna-se interessante encarar o bullying como um fenómeno que tem consequências negativas quer para as vítimas quer para os agressores. Podemos NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 colocar a hipótese de que estas queixas terão provavelmente um significado de sintomas ansiosos e/ou depressivos. Se a natureza dos problemas em causa não for reconhecida e alvo de intervenção, estas queixas psicossomáticas poderão levar ao consumo de cuidados de saúde, como consultas e exames auxiliares de diagnóstico. O estudo resume ainda algumas similaridades e diferenças entre as vítimas e os agressores: ambos apresentam problemas académicos, mas enquanto as vítimas registam baixa auto-estima, solidão, ansiedade, depressão e ansiedade, os agressores têm problemas comportamentais, má adaptação escolar e consumo frequente de álcool e substâncias. Salienta a importância em identificar as crianças que estão em risco de estar envolvidas em fenómenos de bullying pelos pediatras, psicólogos e outros profissionais de saúde, atribuindo-lhe um significado de problema internacional de saúde pública. São aspectos muito sugestivos de que uma criança é vítima de bullying: queixas repetidas de agressões, humilhações ou “partidas” da parte dos mesmos colegas, verbalizar sentimentos de ser rejeitada, recusar ou apresentar queixas somáticas ao ir para escola. O bullying é um problema que deve ser activamente combatido e que envolve a colaboração dos pais, escola a profissionais de saúde mental A mediação, a técnica de controlo da raiva, de resolução de problemas e o aumento da supervisão por adultos, são estratégias a considerar num plano de intervenção. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 46-47 BIBLIOGRAFIA 1. http://www.aacap.org/cs/root/facts_ for_families/bullying 2. Gitanjali S; Ronaldo I, Peter CS; Mary DOH et al. Prevalence of and Risk Factors for Depressive Symptoms Among Young Adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med. 2004;158:760-765. 3. Glew G, Rivara F, Feudtner C. Children hurting children. Pediatr Rev, 2000, 21 (6): 185-189. Maria do Carmo Santos __________ 1 Pedopsiquiatra do Hospital Maria Pia/CHPorto artigo recomendado 47 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Novos desafios da técnica na transplantação de órgãos Helena Maria Vieira de Sá Figueiredo1 RESUMO As células estaminais são conhecidas há já algumas décadas, mas só recentemente se adquiriu o conhecimento suficiente que permitiu o seu crescimento fora do organismo, in vitro, por longos períodos de tempo. No que respeita à sua localização no organismo, os principais tipos de células estaminais são: as do embrião, as da linha germinal de fetos e as de alguns órgãos do indivíduo adulto. Apesar de todos os avanços da biologia actual, este tipo de experimentação relacionado com as novas tentativas terapêuticas que usam células estaminais levanta problemas éticos, não só pelos efeitos no receptor, como aos ligados à possível obtenção deste tipo de células, ao uso a que estas possam ser submetidas, bem como à investigação efectuada com células de embriões humanos. Os maiores problemas éticos são o modo como a defender a vida, a integridade e a dignidade do ser humano. Palavras-chave: dignidade, respeito, vida humana. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 48-53 INTRODUÇÃO Poderíamos argumentar que a transplantação de órgãos e a experimentação em seres humanos, conjuntamente, foram o motor de reflexão e configuração da chamada lei biomédica ou, num sentido geral, da bioética, e até mesmo, em grande escala, de todos os ensaios clínicos. __________ 1 Assessor, Ramo de Laboratório; Mestre em Bioética e Ética Médica 48 Ao longo das três ultimas décadas, a transplantação de órgãos levou-nos a novas normas de conduta para tratamentos experimentais, tanto na perspectiva da utilização de novos medicamentos (imunodepressivos), de maneira a evitar ou lutar contra as rejeições de órgãos transplantados como, acima de tudo, nas diferentes escolhas de substitutivos cirúrgicos. Para se poder remediar a falta de órgãos para transplantações, o uso de alguns mamíferos como potenciais fontes de órgãos (incluindo tecidos e células) para transplante em seres humanos (xenotransplantações) está a ser considerada hoje em dia. Existem, no entanto, novas tentativas de investigação para obtenção de órgãos e tecidos para transplantação, como é o caso das células estaminais de alguns tecidos humanos, e a produção destas mesmas células usando células embrionárias e transferência nuclear, não esquecendo os problemas éticos que daí advêm. Após todas as repercussões da clonagem da ovelha Dolly, em Julho de 1997(1), novas notícias sobre outras potencialidades de maior importância surgiram. No 13º Congresso de Biologia do Desenvolvimento, em Snowbird, Utah, a doze de Julho de 1997, John Gearhart um professor de Ginecologia/Obstetrícia do Johns Hopkins University School of Medicine, em Baltimore, declarou que ele e Michael Shamblott tinham conseguido manter em cultura, durante meses, células estaminais de embriões humanos. Chamam-se estaminais (stem cells), as células animais que ainda não atingiram aquele grau de diferenciação e especialização que lhes permita desempenhar uma função específica num determinado órgão como o coração, fígado ou cére- perspectivas actuais em bioética bro. São, no entanto, precursoras dessas células especializadas. As células estaminais são conhecidas há já algumas décadas, mas só recentemente se adquiriu o conhecimento suficiente que permitiu o seu crescimento fora do organismo, in vitro, por longos períodos de tempo. No que respeita à sua localização no organismo, os principais tipos de células estaminais são: as do embrião, as da linha germinal de fetos e as de alguns órgãos do indivíduo adulto(2). No que respeita ao grau de diferenciação, podemos classificá-las em totipotentes, pluripotentes e multipotentes. Células totipotentes são totalmente indiferenciadas (como os blastómeros da fase inicial do embrião) e podem, por isso, dar origem a um organismo plenamente funcional ou a todos os tipos de células do indivíduo. Pluripotentes são as células estaminais que, sem poderem dar origem a um organismo completo, são no entanto capazes de originar quase todos os tipos de tecidos do organismo. Denominam-se multipotentes as células estaminais que já são mais diferenciadas e, por isso, só podem dar origem a um número limitado de tecidos. As células de um organismo adulto encontram-se geneticamente diferenciadas, e todas as tentativas in vitro de conseguir tornar estas células totipotentes (indiferenciadas e com capacidade de divisão ilimitada ou prolongada) falharam. As células estaminais humanas podem encontrar-se a partir de: - órgãos de um indivíduo adulto - tecido fetal humano obtido após abortamento - embriões excedentários da reprodução medicamente assistida - embriões humanos originados in vitro para esse fim NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 - embriões obtidos, assexualmente, por transferência nuclear de uma célula somática para um ovócito enucleado As células mais acessíveis, em termos de número e manipulação tecnológica de um organismo e com capacidades totipotentes, são as células embrionárias(3). Estas constituem, assim, material precioso para vários tipos de investigação com facilidade de manipulação tecnológica, podendo ser criopreservadas mesmo antes da implantação. Uma vez induzida a indiferenciação e graças ao seu potencial mitótico, poder-se-ia obter uma enorme população de células, a quem de seguida se induziria uma diferenciação celular específica, para assim se conseguirem tecidos e órgãos para transplante. Apesar de todos os avanços da biologia actual, este tipo de experimentação relacionado com as novas tentativas terapêuticas que usam células estaminais levanta problemas éticos, não só pelos efeitos no receptor, como os ligados à possível obtenção deste tipo de células, ao uso a que estas possam ser submetidas, bem como à investigação efectuada com células de embriões humanos. POTENCIALIDADES E PROPRIEDADES DAS CÉLULAS ESTAMINAIS Células estaminais embrionárias As células estaminais embrionárias (CEE) são as mais promissoras, as que existem numa fase do desenvolvimento de embriões animais e inclusivamente na espécie humana, e na forma de blastocisto. No interior do blastocisto encontra-se uma camada de células, a massa celular interna, da qual se formará o corpo do embrião, e da qual também serão originárias as CEE. Para se produzirem CEE é necessário conseguir que algumas células no blastocisto continuem a proliferar. As células do embrião pré-implantatório dividem-se rapidamente e são totipotentes, isto é, conseguem manter-se em divisão consecutiva por muito tempo (imortalização parcial), mantendo as suas características não diferenciadas (pluripotência ou capacidade de originar diferenciação tecidular variada). Após a implantação uterina, vários grupos de células apresentam forma, constituição e comportamento diferentes, transformando-se em células diferenciadas, isto é, especializadas numa determinada função, tornando-se capazes de formar os diferentes tecidos que caracterizam os seres adultos. Células germinais embrionárias As células germinais embrionárias (CGE) podem obter-se das células primordiais da linha germinativa, durante uma curta fase do desenvolvimento do feto - entre as 5 a 7 semanas. No embrioblasto, depois de uma diferenciação celular e de uma migração selectiva das células, assiste-se à sua transformação, no que se designa por disco embrionário. Nele se distinguem as primeiras duas lâminas celulares: a ectoderme e a endoderme, sobrepostas, histologicamente diferenciadas e com destino irreversível. Entre estas duas camadas, por volta do 15º dia pós-fecundação e próximo da zona caudal, como consequência de um processo de invaginação a partir da ectoderme, acompanhada de uma multiplicação e de uma migração celulares entre as duas lâminas, inicia-se a formação de um terceiro estrato celular: a mesoderme. Como consequência, aparece sobre a ectoderme uma linha bem definida - à qual se deu o nome de linha primitiva. As primeiras experiências com CGE provenientes de fetos humanos abortados foram em 1998(4). Elas mostram que as CGE são capazes de originar ectoderme, mesoderme e endoderme. Células estaminais do adulto Foram encontradas células estaminais em vários órgãos de indivíduos adultos que se diferenciam e tomam o lugar de outras células após destruição de tecidos. Uma vez formados esses tecidos, as suas células têm comportamentos diferenciados em relação à capacidade de restauração e manutenção do próprio tecido. De uma maneira geral, há células que se especializam em manter o tecido por divisão celular periódica adaptada às necessidades, enquanto outras executam as funções vitais do tecido, degenerando após algum tempo por apoptose (morte geneticamente programada). É o caso dos epitélios de revestimento. Noutros tecidos, como o fígado, a população celular, em geral, mantém capacidades mistas. Noutros, como o sistema nervoso central, as células perderam a capacidade mitótica, executando apenas as suas funções especializadas. De um modo geral, quanto mais sujeitos a agressões, mais os tecidos adoptam comportamentos do primeiro tipo, enquanto que os tecidos sem capacidade de reprodução apresentam células de maior longevidade, com apoptose extremamente tardia. A totipotência, a diferenciação, a divisão, a apoptose e a imortalidade celular dependem da expressão de certos genes o do silenciamento de outros, num equilíbrio delicado e muito complexo, onde as inter-relações celulares (por contacto directo e por via de produtos de secreção) com a matriz extracelular são determinantes. As tentativas in vitro de reverter a diferenciação das células somáticas de modo a readquirirem a capacidade embrionária foram sempre o sonho dos biólogos. Por um lado, para se conhecerem os mecanismos que permitem a totipotência, os que desencadeiam e mantêm o estado de diferenciação num ou outro tecido, os da apoptose, e os da imortalidade celular. Por outro lado, para que, dominando esses mecanismos, se pudesse gerar in vitro, e de novo, a totipotência a partir de células adultas diferenciadas. Células para a medicina As linhas celulares são largamente usadas para estudar a biologia celular e molecular em mamíferos. O estudo das células estaminais de embriões humanos iniciou-se em Novembro de 1998 pelo isolamento, cultura e caracterização parcial destas células e na Universidade de Wisconsin(5). Demonstrou-se que células estaminais de embriões humanos, quando inoculadas por debaixo da pele de ratinhos, se diferenciaram praticamente em todos os sentidos, originando células precursoras de todos os tecidos, desde o muscular perspectivas actuais em bioética 49 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 e ósseo ao cartilagíneo e nervoso, e representando formações originadas tanto da ectoderme, como da mesoderme e da endoderme. Também este material poderá contribuir para a identificação das condições físicas e químicas da diferenciação celular. Verificou-se que as células mantiveram o seu carácter pluripotente durante os meses das experiências. A vasta maioria dos conhecimentos provém de experiências em ratinhos, onde essas células foram descobertas há cerca de 19 anos(6). A importância científica das CEE é enorme. Apesar de estas células só se manterem in vivo cerca de um dia, diferenciando-se, depois, nos vários tecidos, podem multiplicar-se in vitro indefinidamente, sem diferenciação nem envelhecimento nem morte. Constituem uma amplificação estável de uma fase passageira do desenvolvimento e são fonte de precioso e abundante material de investigação. Essas células parecem geneticamente normais, como se verificou por experiências em que as CEE de ratinho foram introduzidas em embriões de ratinhos geneticamente alterados. Da experiência resultou um ratinho normal, geneticamente idêntico às células dadoras(7). As CEE podem ainda diferenciar-se in vitro em vários tipos celulares incluindo neurónios(8), células musculares e cardíacas, entre outras. Deve mencionar-se o interesse de uma investigação básica com o objectivo de esclarecer o mistério do processo de diferenciação celular que, a partir de um ovo ou zigoto, conduz à formação da tão grande variedade de tecidos e órgãos do organismo adulto. Este problema já há muito tem sido abordado pelos especialistas de genética e bioquímica do desenvolvimento, mas poderá agora encontrar novas tecnologias para o seu rápido progresso. Por exemplo, a análise bioquímica e genética de embriões in vitro cujo desenvolvimento tenha sido parado a diferentes tempos poderá pôr em evidência os factores determinantes dos primórdios de diferenciação. A diferenciação in vitro de uma linha celular de células estaminais embrionárias poderá levar aos mesmos conhecimentos e de- 50 tectar os factores determinantes de todos os passos da diferenciação celular, desde as células estaminais até à formação de todos os tecidos. Outra utilização importante das células estaminais refere-se à caracterização de proteínas humanas produzidas em quantidades mínimas. Para o conseguir, são precisas grandes quantidades de células, geralmente difíceis de obter, mas que as células estaminais fornecem facilmente. Igualmente se poderá, com essas células, estudar a influência de certos compostos na diferenciação celular ou daqueles que poderão ter efeitos teratogénicos. As mais importantes aplicações referem-se obviamente à terapia de uma variedade de enfermidades como diabetes, Parkinson, Alzheimer, imunodeficiências primárias, afecções de ossos ou cartilagens e até cancro(9). A falta de modelos animais para doenças humanas, poderá ser ultrapassada por esse estudo da diferenciação in vitro de CEE. Quando for possível a diferenciação celular in vitro, poderão obter-se células que permitam reconstituir os tecidos afectados em cada destas doenças. Esta contribuição será sobremaneira importante para a reparação de tecidos ou órgãos que têm poucas ou nenhumas células estaminais, como por exemplo os ilhéus de Langerhans do pâncreas, responsáveis pela síntese da insulina. A terapia génica(10), que transfere um gene terapêutico para as células de um paciente, poderá obter resultados mais significativos utilizando células estaminais como receptoras. A maior parte das investigações tem sido realizada, por agora, em animais, sobretudo em ratinhos e símios não humanos. Quando as células são cultivadas em meios de composição química diferente (o que levou a tentar diferentes meios selectivos, por exemplo, a adição de ácido retinóico, derivado da vitamina A) a formação de neurónios é estimulada. Talvez através da activação e inibição selectiva de genes(11), certos factores de crescimento estimulem a formação de células hematopoiéticas. Para estimular a formação de células do músculo cardíaco, alguns autores introduziram em células estaminais de ratinho um gene perspectivas actuais em bioética de resistência a um antibiótico que foi geneticamente manipulado de forma a só se expressar em cardiomiocitos. Depois de permitir a diferenciação celular, e por adição do respectivo antibiótico, os autores obtiveram uma preparação celular de mais de 99% de cardiomiocitos que, transplantados para corações de ratinhos adultos, se mantiveram viáveis durante o longo tempo que durou a experiência. Noutros testes, células estaminais embrionárias foram transplantadas para uma determinada região do cérebro de ratinhos adultos, tendo-se verificado que muitas dessas células tomaram a forma típica de neurónios, e algumas delas passaram a produzir a enzima responsável pela síntese de dopamina. Há, no entanto, algumas dificuldades a superar. Por vezes, células estaminais introduzidas em ratinhos adultos causam a formação de tumores denominados teratomas. Para o evitar é necessário seleccionar as células transferidas, de modo a que todas elas já tenham iniciado o processo de diferenciação. Experiências com embriões de primatas oferecem dificuldades acrescidas. Mas os resultados obtidos com embriões de ratinho dão esperanças de que também sejam possíveis em embriões de primatas, como nos seres humanos. Um problema a superar é a imunorejeição das células transplantadas por parte do receptor. Para o conseguir, três estratégias são pensáveis, sendo uma delas a clonagem não reprodutiva. Transferindo o núcleo de uma célula somática do paciente para um ovócito enucleado, poderá formar-se um “embrião”, que seria desenvolvido in vitro até ao estádio de blastocisto. Nessa fase, as suas células estaminais (geneticamente idênticas ao paciente) seriam isoladas e tratadas em meio adequado para a diferenciação desejada, sendo então transferidas para o órgão ou tecido afectado do paciente. Uma segunda estratégia consiste em alterar geneticamente as células estaminais, de modo a que elas não produzam as proteínas de superfície que desencadeiam a reacção imunitária. Assim se tentaria construir uma linha universal de células estaminais, que poderiam ser utilizadas em qualquer paciente. A dificul- NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 dade desta alternativa estará em conseguir que as células estaminais, submetidas às severas condições de selecção na presença de vários compostos, se continuem a multiplicar, mantendo as características próprias. Seria ainda pensável tentar transferência nuclear em células estaminais de qualquer constituição genética. Algumas dessas células seriam privadas do seu núcleo e, em sua vez, seria transferido para cada uma delas, o núcleo de uma célula somática do paciente, depois de devidamente tratada, de modo a que esteja num estado de quiescência, como se procedeu no caso da ovelha Dolly. Não há, no entanto, garantias de que, manipulada deste modo, uma célula estaminal continue a comportar-se como tal. AVALIAÇÃO ÉTICA NA INVESTIGAÇÃO QUE USA CEE É bem conhecida a atitude que as sociedades e os governos têm adoptado de modo a defender a vida, a integridade, e a dignidade do ser humano, ao estabelecerem princípios de respeito por aqueles valores, e ao criarem legislações que definam claramente os princípios, objectivos e regras para a investigação e experimentação no ser humano. Os grandes princípios em causa são a inviolabilidade da vida humana, o respeito pela dignidade de cada ser, o consentimento informado e a equilibrada relação risco / benefício. Se os princípios acima enunciados se têm revelado como suficientes para uma elucidação ética e jurídica de projectos de investigação em que o sujeito é um ser humano adulto e competente, é indiscutível que a avaliação ética e os pareceres jurídicos se tornam difíceis e muito delicados quando se trata da experimentação no ser humano não nascido ou mesmo não implantado, isto é, no embrião. Existe, a nível mundial, uma irredutível controvérsia sobre a licitude da investigação em embriões, baseada na diversidade de opiniões acerca do estatuto do embrião - tem ele, ou não, a mesma dignidade da pessoa humana plenamente desenvolvida ? Merece, ou não, a mesma protecção e respeito? A experimentação em CEE, sem dúvida a mais promissora, dependerá da definição do estatuto do embrião. Não é lícito duvidar que se trate de um estatuto inicial da vida humana, garantidas as condições e vencidos os escolhos que se põem à sua implantação e crescimento intra-uterino; o embrião não pode deixar de dar origem a um representante da espécie humana, e nunca desembocará num indivíduo de qualquer outra espécie. Vida humana, sem dúvida. Mas pessoa humana? A resposta é mais difícil, já que perante o insuficiente conhecimento biológico, se alicerça em conceitos filosóficos, atitudes culturais e crenças religiosas. Para uns, a dignidade da pessoa humana só se adquire gradualmente ao longo do processo que conduz do ovo ao indivíduo inteiramente formado. Para esses, o respeito e protecção devidos ao embrião antes da implantação são muito menores que os atribuídos à pessoa humana plenamente desenvolvida, o que torna eticamente aceitável, sob determinadas condições, a utilização de embriões excedentários ou a sua criação para investigações de comprovada importância científica. Para outros, pelo contrário, o ovo e o embrião participam já da mesma dignidade da pessoa humana. Pela fecundação estabelece-se uma nova individualidade genética e destino humano, que em seguida se irão simplesmente expressando em fases sucessivas e graduais dum processo contínuo, mas cujo dinamismo lhe vem e já estava contido no ovo. Para esses, entre os quais se encontra a Igreja católica, os embriões merecem a mesma protecção e respeito que a pessoa humana plenamente desenvolvida. Um embrião que se submeta a uma investigação que não é em seu favor, constitui um grave atentado à dignidade humana. Enquanto esta controvérsia não for resolvida e subsistir a dúvida, é meu parecer que tem aplicação o princípio ético que estabelece ser gravemente ilícito atentar contra uma entidade de que se duvida se, sim ou não, constitui um sujeito investido de plena dignidade humana. Consequentemente, não considero eticamente aceitável que se sacrifique aos benefícios terapêuticos uma vida hu- mana já em desenvolvimento, quer tenha sido originada com fim reprodutivo quer com fins de investigação. Assim, tanto a tecnologia da clonagem de embriões humanos(12) como a utilização de células estaminais humanas primordiais(13,14) devem ser cuidadosamente apreciadas, dado não existir a certeza se, sim ou não, estamos a instrumentalizar um novo ser humano e uma pessoa potencial. Mesmo assim, pode ainda perguntar-se se o mesmo se aplica ao caso muito frequente de embriões excedentários que, independentemente de qualquer ideia de investigação, vão ser inexoravelmente destruídos, por terem ultrapassado o prazo legal de congelação sem que tivessem podido ser utilizados por nenhum casal. Poderia parecer, à primeira vista, que, uma vez que estão inevitavelmente condenados à morte, seria um mal menor que, na forma da sua morte, prestassem um serviço de relevo à sociedade. A pedido do Presidente Clinton, a “National Bioethics Advisory Commission” dos EUA, publicou um Parecer sobre “Ethical Issues in Human Stem Cell Research” em 13 de Setembro de 1999, no qual considera eticamente aceitável, sob determinadas condições, que se apliquem Fundos Federais à extracção e investigação de células estaminais humanas provenientes de embriões excedentários da reprodução assistida, mas não de embriões criados para esse fim nem dos que eventualmente se venham a obter por clonagem. Segundo estas normas, só deve ser proposto ao casal a possibilidade de destinar os embriões excedentários para investigação, depois de eles terem sido congelados e o casal ter, de livre vontade, decidido que sejam destruídos. A própria possibilidade de investigação em embriões pode indirectamente influir na decisão de não restringir o número de ovócitos a inseminar, mesmo que se usem todos os cuidados para separar completamente as equipas de reprodução medicamente assistida das equipas de investigação embrionária. Assim, o médico responsável pela fertilização in vitro não deverá ser simultaneamente quem propõe e executa a colheita das CEE. perspectivas actuais em bioética 51 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 O que se disse até aqui, refere-se à obtenção das CEE. Mas pode perguntarse se é eticamente aceitável a investigação com CEE para cuja origem não se contribuiu. Ainda que provenientes da interrupção de um desenvolvimento embrionário, essas células não têm em si próprias, diferentemente do embrião, uma dinâmica interna que as leve a originar um organismo humano completo, por falta de capacidade para originar o trofoblasto e outros tecidos. É certo que, como se disse antes, apoiadas por uma outra estrutura embrionária, essas células poderão originar um novo organismo. Mas nesse caso, trata-se de uma manipulação exterior à sua natureza, de algum modo comparável à clonagem reprodutiva, pela qual uma célula somática, em fusão com um ovócito enucleado, também dará origem a um organismo completo. Consequentemente, não parece lógico atribuir às CEE o mesmo estatuto do embrião. É, assim, eticamente aceitável a investigação nessas linhas celulares, com fins terapêuticos, desde que não se tenha tido qualquer cumplicidade no que respeita à sua produção inicial. Mas as células de blastocistos podem oferecer obstáculos, uma vez que são de difícil manipulação. Além disso, para se trabalhar com material humano, teríamos de obter embriões de clínicas de fertilização in vitro com consentimento informado dado pelos potenciais dadores desses embriões. A experimentação em embriões humanos não é de todo possível. Brigid Hogan e colaboradores (Universidade de Vanderbilt, Nashville), obtiveram uma alternativa para a obtenção de CEE, prática esta que foi adoptada por Gearhart, usando fundos privados da universidade. Assim, quando o embrião se implanta e se inicia o seu desenvolvimento, umas poucas células vão dar origem à próxima geração de células germinativas. Se pudermos extrair estas células do embrião, poderemos obter culturas de células prolongadas, com todas as propriedades das células estaminais embrionárias(15). O princípio da autonomia exige o consentimento informado de todas as partes envolvidas. Tratando-se de técni- 52 cas ainda numa fase experimental precoce, os intervenientes devem ser alertados com especial cuidado e pormenor acerca da natureza das técnicas, das expectativas e sua fundamentação, assim como de todas as consequências previsíveis. É ainda a autonomia que exige o respeito pela confidencialidade e pelo direito de privacidade. A beneficência e não-maleficência exigem que a experimentação em seres humanos só se realize depois de uma criteriosa avaliação da proporcionalidade entre os benefícios previsíveis e os riscos possíveis. Estes são de vária ordem, como já foi indicado anteriormente, sendo acrescidos pela circunstância da novidade das técnicas. Como sempre, as situações de grande urgência, na falta de terapias alternativas, justificam que se corram maiores riscos. A justiça exige que haja equidade, na distribuição de benefícios e custos, por todos os elementos da sociedade. O acesso às novas técnicas deveria ser igual para todos os países e para todas as classes sociais. Em todo o mundo as técnicas de procriação medicamente assistida têm levantado uma multiplicidade de interrogações. Quatro princípios morais devem servir de normas de conduta: a autonomia do ser humano deve ser respeitada; o que é bom deve ser efectuado (beneficência); o que é mau deve ser evitado (não maleficência); e o que é justo deve basear-se na correcta distribuição de meios e cuidados(16). A grande preocupação reside na preservação da natureza e dignidade humanas, no presente e no futuro, e sobre eventuais limites a impor aos novos poderes adquiridos pela ciência. «Perante os novos poderes que a ciência dá ao Homem sobre a vida e sobre si próprio, é importante que ele segure as rédeas do progresso e tome as decisões éticas que lhe tornem possível planear um futuro autenticamente humano»(17). perspectivas actuais em bioética NEW TECHNIQUE CHALLENGES ON ORGAN TRANSPLANTATION ABSTRACT Stem cells have been known for some decades, but only recently has the knowledge allowing them to grow for long periods of time out of the organism, in vitro, been acquired. As to their localization in the organism, the main types of stem cells are: from the embryo, from the germinal line in the foetus and from some organs in adults. Despite all the advances in biology, these types of experiments for new attempts to use stem cells therapeutically raise not only ethical problems concerning their effects in the recipient but also in how to obtain them, and the uses to which they may be put as well as investigation using cells from human embryos. The major ethical problems are the way in which life may be protected and the integrity and dignity of the human being. Key words: dignity, respect, human life. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 48-53 BIBLIOGRAFIA 1. Wilmut I, Schnieke AE, MacWhir J, et al.: Viable offspring derived from fetal and adult mammalian cells, Nature 385; 1997: 810-813. 2. Teles, Natália Oliva (2002) “Transplantação de células embrionárias e fetais: perspectivas futuras”, Cadernos de Bioética, Ano XI, n.º 27, pp. 35-44. 3. Figueiredo, Helena (2000) “Aspectos técnicos da clonagem”, in Clonagem o risco e o desafio, Porto: Gabinete de Investigação de Bioética da Universidade Católica Portuguesa, pp. 15-30. 4. Shamblott MJ, Axelman J, Wang S, Bugg EM, Littlefield JW, Donavan PJ, Blumenthal PD, Huggins GR and Gearhart JD: Derivation of Pluripotent NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 5. 6. 7. 8. 9. Stem Cells from Cultured Human Primordial Germ Cells, Proceedings of the National Academy of Sciences 95; 1998: 13726-13731. Thomson JA, Waknitz MA, Swiergiel JJ and Marshall VS: Embryonic Stem Cell lines derived from Human Blastocysts, Science; 1998: 282:1061. Testart, J: L’oeuf transparent, Flammarion, Paris, 1986: 137. Nagy A, Rossant J, Nagy R, Abromow-Newerly W and Roder JC: Derivation of Completely Cell CultureDerived Mice from Early-Passage Embryonic Stem Cells, Proceedings of National Academy of Sciences 90; 1993: 8424-8428. 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Era a segunda filha de pais saudáveis e sem história familiar de patologia malformativa. Criança que nasceu de parto eutócico após gravidez de termo sem intercorrências a quem foi diagnosticada no período neonatal atrésia esofágica com fístula. Fez correcção cirúrgica da sua malformação digestiva ao segundo dia de vida, esofago-esofagotomia através de toracotomia extrapleural. Ao sexto dia de vida verificou-se a existência de deis- cência parcial da sutura esofágica que foi tratada com antibioterapia, alimentação parentérica e drenagem, com evolução favorável. A doente teve boa evolução do seu quadro clínico nos meses seguintes, com tolerância alimentar, um pouco tardia para sólidos, mas com ganho ponderal e psicomotor adequados à idade. Aos 6 anos foi observada na consulta de Gastroenterologia por apresentar de forma esporádica episódios de engasgamento em especial com os alimentos sólidos, que resolviam de forma espontânea Figura 1 __________ 1 Serviço de Gastroenterologia Hospital Maria Pia / CHPorto 54 qual o seu diagnóstico? Efectuou então esofagograma que evidenciou a existência de irregularidade de calibre do esófago na zona de anastomose cirúrgica com rigidez do órgão na mesma zona. A endoscopia digestiva alta mostrou a imagem que apresentamos na figura 1. O que lhe sugere a imagem? 1- Divertículo esofágico cicatricial 2- Recidiva de fístula 3- Duplicação esofágica NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 COMENTÁRIO A imagem endoscópica que mostramos na figura 1 corresponde a pseudodivertículo esofágico residual, secundário à deiscência da sutura que a doente teve poucos dias depois da correcção da vertículo observado. A irregularidade da parede e do lúmen esofágico eram os responsáveis pelos sintomas da doente pelo que ponderamos a melhor atitude a tomar para a sua resolução. Decidimos explorar a extensão do divertículo para lar. Pensamos tentar seccionar a ponte que separava o pseudodivertículo do lúmen esofágico mas não conhecendo bem a composição das estruturas em presença optamos por acompanhar a evolução do processo e actuar apenas se os sintomas da doente se tornassem mais graves. Fomos assistindo ao atenuar espontâneo e progressivo das dimensões do trajecto pseudodiverticular até ao seu completo desaparecimento 4 anos depois, ficando o esófago com aspecto que a figura 3 documenta. A doente mantém esporadicamente sensação de disfagia para sólidos quando ingere alimentos apressadamente e mal mastigados. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 54-55 BIBLIOGRAFIA Figura 2 Figura 3 sua atrésia. Vemos o lúmen esofágico (seta azul) e o divertículo (seta preta). A imagem radiológica anexa (figura 2), permite ver a dimensão da lesão secundária à deiscência da sutura, cuja evolução cicatricial conduziu ao pseudodi- o que introduzimos um fio guia no mesmo e verificamos, com alguma alguma surpresa, que o fio aparecia um pouco mais abaixo no lúmen esofágico, pelo que não se tratava de um verdadeiro divertículo mas sim de trajecto diverticu- 1. Dahlgerg, ME, Gunasekaran, TS, Angst D, Masi, SP,. “Children with Esophageal Atresia/TE fistula: Demographics, treatments and outcomes.” JPGN 27(4); 478. 1998 2. Nishimoto Y, Taguchi T, Ogit K, Hashizume M, Suitz S. “Endoscopic Diverticulotomy for symptomatic pediatric esophagealdiverticula”. Ped. Surg. Int. 2005; 21(1): 50-3. qual o seu diagnóstico? 55 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Caso Estomatológico José M. S. Amorim1 Criança de 12 anos de idade que foi enviado à consulta de Estomatologia deste hospital devido à “ausência” de dentes em ambas as arcadas dentárias e a um aumento lento do tecido gengival. Ao exame oral só eram visíveis cúspides dentárias de alguns dentes e em ambas as arcadas, com predomínio na maxila, era bem visível uma hiperplasia gengival, sem sinais inflamatórios (Figura 1) Antecedentes pessoais relevantes, nomeadamente ingestão de fármacos. Antecedentes familiares: mãe, avô materno e irmã mais velha com o mesmo problema. Figura 1 __________ 1 Serviço de Estomatologia Hospital Maria Pia / CH Porto 56 qual o seu diagnóstico? Face ao descrito: Qual o seu diagnóstico? Qual a sua atitude? NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 O aumento do tecido gengival pode ser dividido em 2 grandes grupos: - Hiperplasia gengival fibrosa que está associada a factores genéticos ou ao uso de determinados fármacos como a fenitoína, bloqueadores dos canais de cálcio e ciclosporina; - Hiperplasia gengival inflamatória associada à gravidez, à leucemia, à granulomatose de Wegener, à sarcoidose, ao escorbuto e mais frequentemente à falta de higiene oral. A situação exposta é caracterizada por um aumento benigno, lento e progressivo dos tecidos gengivais, que podem submergir total ou parcialmente as coroas dentárias, levando por vezes a uma situação muito grave em termos estéticos e funcionais, e que associado a história familiar leva-nos a inserir este quadro nas hiperplasias gengivais fibrosas associadas a factores genéticos e que usualmente designamos por Fibromatose Gengival Familiar. A fibromatose gengival familiar pode ser dividida em fibromatose gengival hereditária isolada ou associada a síndromes, sendo que a primeira é a forma mais comum. Esta doença é transmitida, normalmente, como um traço autossómico dominante. Há estudos que demonstraram uma ligação entre o fenótipo desta patologia e uma região do cromossoma 2, entre os marcadores D2S1788 e D2S441. Não existe tratamento definitivo para a Fibromatose Gengival Familiar. O tratamento cirúrgico consiste na remoção cirúrgica do tecido gengival em excesso – Gengivectomia com Gengivoplastia, com o objectivo de expor as coroas dentárias. No entanto, o tecido gengival volta a crescer. O osso alveolar mantém-se normal, pelo que os dentes não estão em risco de se perderem nesta situação. Nesta criança foi realizado o tratamento acima mencionado sob anestesia geral há 3 anos e actualmente ainda está bem, sem recidiva da hiperplasia gengival. Nascer e Crescer 2009; 18(1): 56-57 BIBLIOGRAFIA Cawson´s Essentials of Oral Pathology and Oral Medicine – R.A. Cawson – seventh edition – Churchill Livingstone, 2002 - Pag.85 qual o seu diagnóstico? 57 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Caso Radiológico Filipe Macedo1 Criança do sexo masculino, 4 anos de idade com com dor no pé esquerdo desde Figura 2 Figura 3 Figura 4 Especialista em Radiodiagnóstico – SMIC - Porto 58 QUAL É O SEU DIAGNÓSTICO? Figura 1 __________ 1 há cerca de 2 meses. Sem aparente traumatismo relevante. Faz RX dos pés. qual o seu diagnóstico? NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 Observa-se aspecto esclerótico e achatado do escafóide társico à esquerda, (Figuras 2 e 3) bem evidente no exame comparativo com o lado contralateral. Sem outras alterações. Da conjugação com a clínica conclui-se por doença de Kohler. IMAGIOLOGIA TRATAMENTO 1- RX convencional (face e perfil) É o primeiro exame a realizar para confirmar o diagnóstico clínico. Aspecto esclerótico e achatado do escafóide, na presença de clínica compatível fazem geralmente o diagnóstico. Conservador, com imobilização. A resolução é a regra. Nota – O diagnóstico não deve ser feito apenas pela imagem, sendo mandatória a presença de clínica compatível(3) DISCUSSÃO A doença de Kohler é uma osteocondrose, designação inespecífica que traduz fragmentação e/ou esclerose de uma apófise ou epífise. A sua etiologia é pouco clara, tendose postulado a ocorrência de microtrauma crónico, necrose avascular e lesão por avulsão crónica. Atinge o escafóide társico e é uma das 3 osteocondroses que atingem o pé, juntamente com a doença de Sever (calcâneo) e a doença de Freyberg (cabeça dos metatarsianos). Manifesta-se por dor no médio pé, à palpação e com a carga. Ocorre sobretudo entre os 3 e os 10 anos de idade e é geralmente unilateral(1). 2- RMN Nos casos de clínica atípica, RX normal ou suspeita de outro diagnóstico. Observam-se frequentemente alterações de configuração e sinal do osso atingido nomeadamente hipossinal em T1(2). Assim como no caso do RX, pode ser útil o exame comparativo com o lado contralateral. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - variações normais da ossificação (o escafóide társico é o último osso do pé a ossificar, sendo frequentes irregularidades neste processo) - barra társica - fractura de stress Nascer e Crescer 2009; 18(1): 58-59 BIBLIOGRAFIA 1. Harty MP. Imaging of pediatric foot disorders. Radiol Clin North Am 2001; 39:733-748 2. Berquist TH. Imaging of orthopedic trauma 2ed. New York: Raven press,1992: 453-577 3. Williamas GA, Cowell HR. Kholer`s disease of the tarsal navicular. Clin Orthop Related Res 1981 July-Aug; 158-63 qual o seu diagnóstico? 59 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2008, vol XVII, n.º 4 Genes, Crianças e Pediatras Anabela Bandeira1, Gabriela Soares2, Carla Valongo2, Fernanda Manuela1, Margarida Reis Lima2, Lígia Almeida2, Maria Luís Cardoso2, Esmeralda Martins1 Criança do sexo masculino, com 4 anos de idade, enviado à consulta de Genética Médica por atraso mental, mais acentuado na área da linguagem. Trata-se de um primeiro filho de um casal jovem, não consanguíneo. Mãe com 30 anos, transplantada renal em 1996 por glomerulosclerose focal e pai com 33 anos de idade, saudável. Ambos com escolaridade superior. Sem história familiar de atraso mental. Dos antecedentes fisiológicos, a realçar, uma gravidez complicada por insuficiência renal crónica materna. Mãe medicada com nifedipina, atenolol, ciclosporina e prednisolona durante a gravidez. Parto por cesariana às 37 semanas de gestação, com índice de Apgar 9/10. Somatometria ao nascimento adequada à Figura 1 __________ 1 2 Centro Hospitalar do Porto Centro de Genética Jacinto Magalhães 60 qual o seu diagnóstico? idade gestacional (peso 3150g, P10-25; comprimento 49,5cm, P25-50; perímetro cefálico 34,5cm, P25. O recém-nascido necessitou de internamento no período neonatal por dificuldades na alimentação, provável discinesia faríngea. Realizou rastreio metabólico (TSH e fenilcetonúria) que foi normal. No primeiro ano de vida foi detectada má evolução estaturo-ponderal com peso no P10; estatura no P5 e perímetro cefálico no P 5-50. Em relação ao desenvolvimento psicomotor: segurou-se sentado aos 10 meses; andou sozinho aos 21 meses; primeira palavra aos 28 meses; frases com 4-6 palavras aos 4 anos. Deficiente relacionamento com os colegas, alguns comportamentos estereotipados. Sem história de epilepsia. Ao exame físico com 4 anos de idade: sinais piramidais ligeiros, hipotonia generalizada com salivação; marcha de base alargada e instável com dificuldade em correr com coordenação deficiente e sistema muscular pouco desenvolvido. A linguagem compreendia frases com duas-três palavras, problemas de compreensão e disartria. Apresentava fácies particular, fronte alta, nariz pequeno e desvio para baixo das sobrancelhas. O cariótipo e pesquisa de X frágil foram normais; a pesquisa de CMV no cartão de Guthrie negativo. O estudo metabólico com cromatografia dos aminoácidos séricos, lactato e amónia normais; precursores do colesterol no plasma normais e cromatografia dos ácidos orgânicos urina normais. A RMN cerebral foi normal. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2008, vol XVII, n.º 4 RESUMO Criança de 4 anos de idade, com má evolução estaturo-ponderal, algumas características dismórficas, sistema muscular pouco desenvolvido e atraso do desenvolvimento principalmente a nível da linguagem. Algumas características de perturbação do espectro autista. Qual o seu diagnóstico? Na última década foi descrito o síndrome de deficiência de creatina cerebral como um conjunto de erros congénitos do metabolismo da creatina. Estão descritos três defeitos metabólicos: dois que afectam a síntese (deficiência da guanidinoacetato metiltransferase, GAMT e da arginina glicina amidinotransferase, AGAT) e um que afecta o transporte da creatina. Este último é causado por uma mutação no gene SLC6A8 localizado no cromossoma Xq28, sendo uma das causas metabólicas de atraso mental ligado ao X. Estudos recentes sugerem que 2,1% dos casos de atraso mental ligado ao X são causados por um defeito no transporta- dor da creatina. O quadro clínico é dominado por atraso mental ligeiro sobretudo na área da linguagem, epilepsia facilmente controlável, comportamento autista, deterioração neurológica e perturbação do movimento. Dismorfia facial e queixas gastrointestinais estão descritos em alguns casos. Cerca de 50% das mulheres portadoras apresentam dificuldades de aprendizagem. A suspeita de um defeito no transportador da creatina nesta criança foi baseada na apresentação clínica, antes da realização da espectroscopia. O padrão de atraso mental em que as áreas da atenção, discurso, compreensão e linguagem estão mais afectadas parece ser característico deste síndrome. A relação creatina/creatinina na urina constitui o melhor marcador bioquímico. Nenhum dos outros síndromes de atraso mental apresentam esta combinação de atraso mental, má evolução estaturo-ponderal e dismorfia facial ligeiro. Esta combinação está descrita em algumas famílias e parece ser única do atraso mental por defeito no transportador da creatina. A excreção de creatina na urina desta criança estava aumentada (8751 μmol/L, normal 140-7910) com aumento da relação creatina/creatinina (4,25, normal 0.04-1,51). Verificou-se também deficiente captação da creatina nos fibroblatos. A análise sequencial de DNA revelou mutação “de novo” no gene SLC6A8 e a mesma mutação foi encontrada na mãe. A criança realizou espectroscopia cerebral (1H-RMN) que evidenciou diminuição do pico de creatina. Iniciou tratamento com monohidrato de creatina 400 mg/kg/dia; L-arginina 400 mg/kg/dia e glicina 150 mg/kg/dia. Após um ano de suplementação com creatina e seus precursores observa-se uma discreta melhoria na coordenação e atenção. A espectroscopia revelou pico de creatina normal (o que não está descrito noutros casos clínicos). A resposta ao tratamento é muito discreta e os progressos são lentos. O diagnóstico pré-natal é possível após a identificação da mutação no gene SLC6A8 . Figura 1 qual o seu diagnóstico? 61 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2008, vol XVII, n.º 4 Nascer e Crescer 2009; 18(1): 60-62 BIBLIOGRAFIA 1. Almeida LS, Verhoeven NM, Roos B, Valongo C, Cardoso ML, Vilarinho L, Salomons GS, Jakobs C. 2004. Creatine and guanidinoacetate: Diagnostic markers for inborn errors in creatine biosynthesis and transport. Mol Genet Metab 82: 214-219 2. Salomons GS, van Dooren SJ, Verhoeven NM, Cecil KM, Ball WS, Degrauw TJ, Jakobs C. 2001. X-linked creatine 62 qual o seu diagnóstico? transporter gene (SLC6A8) defect: a new creatine-deficiency syndrome. Am J Hum Genet 68:1497-1500 3. Stromberger C, Bodamer OA, Stockler-Ipsiroglu S. 2003. Clinical characteristics and diagnostic clues errors of creatine metabolism. J Inherit Dis 26:299-308 4. Rosenberg EH, Almeida LS, Kleefstra T, deGrauw RS, Yntema HG, Bahi N, Moraine C, Ropers HH, Fryns JP, deGrauw TJ, Jakobs C, Salomons GS. 2004. High prevalence of SLC6A8 deficiency in X-linked mental retardation. Am J Hum Genet 75:97-105 5. Salomons GS, van Dooren SJ, Verhoeven NM, Marsden D, Schartz C, Cecil KM, DeGraw TJ, Jakobs C. 2003. X-linked creatine trabsporter defect: An overview. J Inherited Metab Dis 26: 309-318. 6. Mancini GMS, Catsman-Berrevoets CE, de Coo IFM, Aarsen FK, Kamphoven JHJ, Huijmans JG, Duran M, van der knap MS, Jakobs C, Salomons GS. Two novel mutations in SLC6A8 cause creatine transporter defect and distinctive X-linked mental retardation in two unrelated Dutch families. Am J Med Genet 132A:288-295 (2005) NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 INSTRUÇÕES AOS AUTORES A Revista NASCER E CRESCER dirige-se a todos os profissionais de saúde com interesse na área da Saúde Materno Infantil e publica artigos científicos relacionados com a Pediatria, Perinatologia, Saúde Mental da Infância e Adolescência, Bioética e Gestão Hospitalar. Os Editoriais, os artigos de Homenagem e artigos de âmbito cultural são publicados a pedido da Direcção da Revista. A revista publica artigos originais, de revisão, casos clínicos e artigos de opinião. Os artigos propostos não podem ter sido objecto de qualquer outro tipo de publicação. As opiniões expressas são da inteira responsabilidade dos autores. Os artigos publicados ficarão de inteira propriedade da Revista e não poderão ser reproduzidos, no todo ou em parte, sem prévia autorização dos editores. Manuscrito: Os trabalhos devem ser enviados à Direcção da Revista Nascer e Crescer – Hospital Crianças Maria Pia – Rua da Boavista, 827 – 4050-111 Porto, ou endereçados a [email protected] ou secretariado.cg.defi@hgsa.min-saude.pt, como documento anexo em qualquer versão actual de Microsoft Word, acompanhados da declaração de autoria. Todos os elementos do trabalho, incluindo a iconografia, se remetidos por correio, devem ser enviados em formato electrónico. Os artigos deverão ser redigidos conforme as normas abaixo indicadas e cabe ao Editor a responsabilidade de os: - aceitar sem modificações, - aceitar após alterações propostas, - ou rejeitar, com base no parecer de pelo menos dois revisores que os analisarão de forma anónima. Os pareceres dos peritos e os motivos de recusa serão sempre comunicados aos autores. Consentimento informado e aprovação pela Comissão de Ética: É da responsabilidade dos autores garantir que são respeitados os princípios éticos e deontológicos, bem como, a legislação e as normas aplicáveis, conforme recomendado na Declaração de Helsínquia. Nos estudos experimentais, é obrigatório que os autores mencionem a existência e aplicação de consentimento informado dos participantes, assim como a aprovação do protocolo pela Comissão de Ética. Deve constar declaração de conflito de interesses ou financiamento. NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista Nascer e Crescer subscreve os requisitos para apresentação de manuscritos a revistas biomédicas elaboradas pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (Uniform Requirements for Manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje.org. Updated October 2008). Todos os elementos do trabalho incluindo a iconografia, devem ser enviados em suporte electrónico. O trabalho deve ser apresentado na seguinte ordem: 1- Título em português e em inglês; 2- Autores; 3- Resumo em português e inglês. Palavras-chave e Key-words; 4- Texto; 5- Bibliografia; 6- Legendas; 7- Figuras; 8- Quadros; 9- Agradecimentos e esclarecimentos. As páginas devem ser numeradas segundo a sequência referida atrás. No caso de haver segunda versão do trabalho, este deve também ser enviado em formato electrónico. Títulos e autores: Escrito na primeira página, em português e em inglês, o título deve ser o mais conciso e explícito possível. A indicação dos autores deve ser feita pelo nome clínico ou com a(s) inicial(ais) do(s) primeiro(s) nome(s), seguida do apelido e devem constar os títulos ou cargos de todos os autores, bem como as afiliações profissionais. No fundo da página devem constar os organismos, departamentos ou serviços hospitalares ou outros em que os autores exercem a sua actividade, o centro onde o trabalho foi executado, os contactos do autor responsável pela correspondência (endereço postal, endereço electrónico e telefone). Resumo e palavras-chave: O resumo deverá ser redigido na língua utilizada no texto e sempre em português e em inglês. No que respeita aos artigos originais deverá compreender no máximo 250 palavras e ser elaborado segundo o seguinte formato: Introdução, Objectivos, Material e Métodos, Resultados e Conclusões. Os artigos de revisão devem ser estruturados da seguinte forma: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. Relativamente aos casos clínicos, não deve exceder 150 palavras e deve ser estruturado em Introdução, Caso Clínico e Discussão/ Conclusões. Abaixo do resumo deverá constar uma lista de três a dez palavras-chave, em Português e Inglês, por ordem alfabética, que servirão de base à indexação do artigo. Os termos devem estar em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH). Texto: O texto poderá ser apresentado em português, inglês, francês ou espanhol. Os artigos originais devem ser elaborados com a seguinte organização: Introdução; Material e Métodos; Resultados; Discussão e Conclusões. Os artigos de revisão devem obedecer à seguinte estrutura: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. Os casos clínicos devem ser exemplares, devidamente estudados e discutidos e conter uma breve introdução, a descrição do(s) caso(s) e uma discussão sucinta que incluirá uma conclusão sumária. As abreviaturas utilizadas devem ser objecto de especificação anterior. Não se aceitam abreviaturas nos títulos dos trabalhos. Os parâmetros ou valores medidos devem ser expressos em unidades internacionais (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), utilizando para tal as respectivas abreviaturas adoptadas em Portugal. Os números de 1 a 10 devem ser escritos por extenso, excepto quando têm decimais ou se usam para unidades de medida. Números superiores a 10 são escritos em algarismos árabes, excepto se no início da frase. Bibliografia: As referências devem ser classificadas e numeradas por ordem de entrada no texto, com algarismos árabes. Os números devem seguir a ordem do texto, e ser colocados superiores à linha. Serão no máximo 40 para artigos originais e 15 para casos clínicos. Os autores devem verificar se todas as referências estão conformes aos Uniform Requirements for Manuscript submitted to biomedical journals (www.nlm.nih. gov/bsd/uniform_requirements.html) e se utilizam os nomes abreviados das publicações adoptadas pelo Índex Medicus. Os autores devem consultar a página NLM’s Citing Medicine relativamente às recomendações de formato para os vários tipos de referência. Seguem-se alguns exemplos: a) Revistas: listar os primeiros seis autores, seguidos de et al se ultrapassar 6, título do artigo, nome da revista (utilizar as abreviaturas do Index Medicus), ano, volume e páginas. Ex.: Haque KN, Zaidi MH SK,et al. Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5:622-65. b) Capítulos em livros: nome(s) e iniciais do(s) autor(es) do capítulo ou da contribuição. Nome e iniciais dos autores médicos, título do livro, cidade e nome da casa editora, ano de publicação, primeira e última páginas do capítulo. Ex.: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. c) Livros: Nome(s) e iniciais do(s) autor(es). Título do livro. Número da edição. Cidade e nome da casa editora, ano de publicação e número de página. Ex.: Berne E. Principles of Group Treatment. New York: Oxford University Press, 1966:26. Figuras e Quadros: Todas as ilustrações deverão ser apresentadas em formato digital de boa qualidade. Cada quadro e figura deverá ser numerado sequencialmente por ordem de referência no texto, ser apresentado em página individual e acompanhado de título e legenda explicativa quando necessário. Todas as abreviaturas ou símbolos necessitam de legenda. Se a figura ou quadro é cópia de uma publicação ou modificada, deve ser mencionada a sua origem e autorização para a sua utilização quando necessário. Fotografias ou exames complementares de doentes deverão impedir a sua identificação devendo ser acompanhadas pela autorização para a sua publicação dada pelo doente ou seu responsável legal. O total de figuras e quadros não deve ultrapassar os oito para os artigos originais e cinco para os casos clínicos. As figuras ou quadros coloridos, ou os que ultrapassam os números atrás referidos, serão publicados a expensas dos autores. Agradecimentos e esclarecimentos: Os agradecimentos e indicação de conflito de interesses de algum dos autores ou financiamento do estudo devem figurar na última página. Modificações e Revisões: No caso do artigo ser aceite mas sujeito a modificações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo de quinze dias. As provas tipográficas serão enviadas aos autores normas de publicação 63 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2009, vol XVIII, n.º 1 em formato electrónico, contendo a indicação do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da Revista. O não respeito do prazo desobriga a aceitação da revisão dos autores, sendo a mesma efectuada exclusivamente pelos serviços da Revista. INSTRUCTIONS FOR AUTHORS The Journal NASCER E CRESCER is addressed to all professionals of Health with interest in the area of Maternal and Child/Adolescent Health and publishes scientific articles related with Paediatrics, Perinatology, Childhood and Adolescence Mental Health, Bioethics and Health Care Management. The Editorials, the articles of Homage and articles of cultural scope are published under request of the Direction of the journal. The Journal publishes original articles, review articles, case reports and opinion articles. The articles submitted must not have been published previously in any form. The opinions therein are the full responsibility of the authors. Published articles will remain the property of the Journal and may not be reproduced, in full or in part, without the prior consent of the editors. Manuscripts for publication should be addressed to the editor of the journal: NASCER E CRESCER, Hospital Maria Pia, Rua da Boavista, 827 – 4050-111 Porto, Portugal, or to [email protected] or secretariado.cg.defi@hgsa.min-saude.pt and must be accompanied by the declaration of authorship by all authors. If using postal correspondence a full digital copy of the manuscript should also be sent. Submitted articles should follow the instructions below, and are subject to an editorial screening process based on the opinion of at least two anonymous reviewers. Articles may be: - accepted with no modifications, - accepted with corrections or modifications, - or rejected. Authors will always be informed of the reasons for rejection oro f the comments of the experts. Informed consent and approval by the Ethics Committee: It is responsibility of the authors to guarantee the respect of the ethical and deontological principles, as well as legislation and norms applicable, as recommended by the Helsinki Declaration. In research studies it is mandatory to have the written consent of the patient and the approval of the Ethics Committee, statement of conflict of interest and financial support. MANUSCRIPT PREPARATION Nascer e Crescer complies with the recommendations of the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje.org. Updated October 2008). All the components of the paper, including images must be submitted in electronic form. The 64 normas de publicação papers must be presented as following: 1- Title in Portuguese and English; 2- Authors; 3- Abstract in Portuguese and English and key words; 4- Text; 5- References; 6- Legends; 7- Figures; 8- Tables; 9- Acknowledgements. Pages should be numbered according the above sequence. If a second version of the paper is submitted, it should also be sent in electronic format. Title and Authors: The first page should contain the title in Portuguese and English. The title should be concise and revealing. A separate page should contain name(s) degree(s), the authors’ professional affiliations, the name and the contact details of the corresponding author (postal address, electronic address and telephone), and the name of the Institutions where the study was performed. Abstract and Key-words: The abstract should be written in the same language of the text and always in Portuguese and English, provide on a separate page of not more than 250 words for original papers and a 150 words for case reports. For original papers the abstract should consist of four paragraphs, labelled Background, Methods, Results and Conclusions. Review articles should obey the following: Introduction, Past landmarks and Present developments and Conclusions. Case report abstracts should contain an Introduction, Case report and Discussion/Conclusions. Do not use abbreviations. Each abstract should be followed by the proposed key-words in Portuguese and English in alphabetical order, minimum of three and maximum of ten. Use terms from the Medical Subject Headings from Index Medicus (MeSH). Text: The text may be written in Portuguese, English, French or Spanish. The original articles should contain the following sections: Introduction; Material and Methods; Results; Discussion and Conclusions. The structure of review articles should include: Introduction, Past landmarks and Present developments and Conclusions. The case reports should be unique cases duly studied and discussed. They should contain: a brief Introduction, Case description and a succinct Discussion or Conclusion. Any abbreviation used should be spelled out the first time they are used. Abbreviations are not accepted in the titles of papers. Parameters or values measured should be expressed in international (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), using the corresponding abbreviations adopted in Portugal. Numbers 1 to 10 should be written in full, except in the case of decimals or units of measurements. Numbers above 10 are written as figures except at the beginning of a sentence. References: References are to be cited in the text by Arabic numerals, and in the order in which they are mentioned in the text. They should be limited to 40 to original papers and 15 to case reports. The journal complies with the reference style in the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_ requirements.html). Abbreviate journal titles according to the List of Journals Indexed in Index Medicus. Authors should consult NLM’s Citing Medicine for in- formation on its recommended formats for a variety of reference types. The following details should be given in references to (a) journals, (b) chapters of books by other authors, or (c) books written or edited by the same author: a) Journals: Names of all authors (except if there are more than six, in which case the first three are listed followed by “et al.”), the title of the article, the name of the journal (using the abbreviations in Index Medicus), year, volume and pages. Ex: Haque KN, Zaidi MH SK,et al. Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5:622-65 b) Chapters of books: Name(s) and initials of the author(s) of the chapter or contribution cited. Title and number of the chapter or contribution. Name and initials of the medical editors, title of book, city and name of publisher, year of publication, first and last page of the chapter. Ex: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. c) Books: Name(s) and initials of the author(s). Title of the book. City and name of publisher, year of publication, page. Ex: Berne E. Principles of Group Treatment. New York: Oxford University Press, 1966:26. Tables and Figures: All illustrations should be in digital format of high quality. Each table and figure should be numbered in sequence, in the order in which they are referenced in the text. They should each have their own page and bear an explanatory title and caption when necessary. All abbreviations and symbols need a caption. If the illustration has appeared in or has been adapted from copyrighted material, include full credit to the original source in the legend and provide an authorization if necessary. Any patient photograph or complementary exam should have patients’ identities obscured and publication should have been authorized by the patient or legal guardian. The total number of figures or tables must not exceed eight for original articles and five for case reports. Figures or tables in colour, or those in excess of the specified numbers, will be published at the authors’ expense in the paper version Acknowlegments: All authors are required to disclose all potential conflicts of interest. All financial and material support for the research and the work should be clearly and completely identified in an Acknowledgment section of the manuscript. Modifications and revisions: If the paper is accepted subject to modifications, these must be submitted within fifteen days of notification. Proof copies will be sent to the authors in electronic form together with an indication of the time limit for revisions, which will depend on the Journal’s publishing schedule. Failure to comply this deadline will mean that the authors’ revisions may not be accepted, any further revisions being carried out by the Journal’s staff. XXI REUNIÃO DO HOSPITAL DE CRIANÇAS MARIA PIA DEPARTAMENTO DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA CENTRO HOSPITALAR DO PORTO, EPE PROGRAMA PROVISÓRIO 23 A 25 DE NOVEMBRO DE 2009 HOTEL IPANEMA PARK PORTO CONTROVÉRSIAS Profilaxia das ITU’s Criopreservação de células do cordão umbilical Vacina da Varicela CRIANÇA ALÉRGICA Alergia Alimentar Alergia a Fármacos NUTRIÇÃO EM PEDIATRIA Experiências precoces e impacto futuro Actualidades em Nutrição Nutrição em patologias específicas ADOLESCÊNCIA – DESAFIOS PARA O PEDIATRA Sexualidade na adolescência As Tribos Urbanas “Feeling blue- what can I do” Tecno-dependências As novas drogas SESSÕES CLÍNICAS INTERACTIVAS Neonatologia Ortopedia Pediátrica Cirurgia Pediátrica Cursos Pré-Congresso: Suporte de Vida Pediátrica Técnicas de Comunicação em Público Curso Pós Congresso: A Cardiologia Pediátrica na Prática Clínica Data limite de envio de resumos de Comunicações Livres: 16/10/09 Secretariado: Hospital de Crianças Maria Pia – Rua da Boavista, 827-4050 Porto – Telefone 226089900 – Ext.3188 Vol. 18, nº 1, Março 2009 18| 1
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