4 Vol XVI 2007 - Revista Nascer e Crescer
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NASCER E CRESCER Vol. 16, nº 4, Dezembro 2007 16 4 Revista do Hospital de Crianças Maria Pia Ano | 2007 Volume | XVI Número | 04 www.hmariapia.min-saude.pt Directora | Sílvia Álvares; Directora Adjunta | Inês Moreira; Presidente do CA do Centro Hospitalar do Porto, EPE | Fernando Sollari Allegro Corpo Redactorial | Amélia José; Ana Cristina Cunha; Artur Alegria; Carlos Enes; Carmen Carvalho; Conceição Mota; Esmeralda Martins; Inês Lopes; Laura Marques; Margarida Guedes; Maria do Carmo Santos; Miguel Coutinho Editores especializados | Artigo Recomendado – Maria do Carmo Santos; Tojal Monteiro. Perspectivas Actuais em Bioética – Natália Teles. Pediatria Baseada na Evidência – Luís Filipe Azevedo; Altamiro da Costa Pereira. Ciclo de Pediatria Inter-Hospitalar do Norte – Rogério Mendes; Helena Jardim; Virgílio Senra; Fernanda Manuela Costa; Jorge Sales Marques; Armando Pinto; Cidrais Rodrigues; Joaquim Cunha. Caso Endoscópico – Fernando Pereira. Caso Estomatológico – José Amorim. Genes, Crianças e Pediatras – Margarida Reis Lima. Imagens – Filipe Macedo. Pequenas Histórias – Margarida Guedes. 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Nádia Rodrigues, Vanessa Portugal, Lia Rodrigues, Sofia Aroso NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 253 Qual o seu Diagnóstico? Caso Endoscópico Fernando Pereira 256 Caso Estomatológico José M. S. Amorim 260 Imagens Filipe Macedo 263 Genes, Crianças e Pediatras C. Cardoso, G. Soares, M. Barbosa, J. L. Nunes, R. Nascimento, M. P. Magalhães, M. Reis Lima 265 Pequenas Histórias Pediculus Capitis… Rui Carolino 266 Índice de Autores 2007 268 Índice de Assuntos 2007 272 Agradecimentos NASCER E CRESCER summary revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 number4.vol.XVI 223 Editorial Sílvia Álvares 225 Original Articles Nsaid Hyperrsensitivity in Children: Clinical Aspects and Diagnosis Cristina Lopes, Eva Gomes 230 Selective IgA Deficiency: A 6-Year casuístic Carla Teixeira, José Sizenando Cunha, Inês Lopes, Sandra Soares, Laura Marques 233 Clinical Cases Neonatal Parotitis caused by group B Streptococcus Maria João Oliveira, Margarida Guedes, Fernanda Manuela Costa, Rui Almeida 235 Churg-Strauss Syndrome in Childhood Ana Nordeste, Alcide Marques, Conceição Robalo, Paula Estanqueiro, Manuel Salgado 239 Recommended Article Tojal Monteiro 242 Maria do Carmo Santos 245 Current Perspectives in Bioethics Concepts and Criteria of Death Ferraz Gonçalves 249 Pediatric Inter-Hospitalar Meeting Cytomegalovirus and Helicobacter Pylori Co-Infection in a Protein Losing Gastroenteropathy Nádia Rodrigues, Vanessa Portugal, Lia Rodrigues, Sofia Aroso NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 251 What is your diagnosis? Endoscopic case Fernando Pereira 255 Oral Pathology case José M. S. Amorim 257 Images Filipe Macedo 261 Genes, Children and Paediatricians C. Cardoso, G. Soares, M. Barbosa, J. L. Nunes, R. Nascimento, M. P. Magalhães, M. Reis Lima 263 Short Stories Pediculus Capitis… Rui Carolino 266 Author Index 2007 268 Subject Index 2007 272 Acknowledgements NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 editorial As doenças cardiovasculares continuam a ser actualmente a causa major de morbilidade e mortalidade. Recentes avanços no estudo da aterosclerose mostram que este processo se inicia durante a infância. Já na vida intra-uterina, factores ambientais como a má nutrição materna, tabagismo, insuficiência placentar parecem ser determinantes no desenvolvimento a longo prazo deste processo. A fase pré-clinica da aterosclerose envolve a interacção de factores genéticos e ambientais que modulam a progressão da doença desde muito cedo, sendo a lesão do endotélio uma fase crítica da progressão da aterosclerose. Nos últimos anos tem surgido evidência científica da importância da identificação de doença cardiovascular precoce associada a determinadas doenças no sentido de se implementarem estratégias de prevenção. Estudos anatomopatológicos em crianças e adolescentes demonstram que a extensão das lesões ateroscleróticas vasculares está associada à existência e número de factores de risco e à sua gravidade. Por outro lado, estudos in vivo correlacionam a presença de alterações estruturais vasculares com factores de risco cardiovascular conhecidos, as quais tem uma evolução favorável quando se eliminam ou diminuem esses factores de risco. Na maioria das crianças a progressão é lenta e a abordagem terapêutica assenta na modificação dos estilos de vida e de comportamento com ênfase na promoção de actividade física regular e hábitos dietéticos saudáveis. No entanto há situações que se associam a aterosclerose acelerada e que predispõem à ocorrência de eventos coronários agudos na infância e na adolescência. As doenças de elevado risco cardiovascular incluem: a hipercolesterolemia familiar, a diabetes mellitus tipo I e II, a doença renal crónica, o transplante cardíaco, a doença de Kawasaki, algumas cardiopatias congénitas, a doença inflamatória crónica e o cancro. Recentemente a American Heart Association (AHA)1 emitiu recomendações relativas à abordagem do risco cardiovascular destes doentes, o qual muitas vezes é subvalorizado perante a complexidade da doença primária. De acordo com a evidência cientifica o risco cardiovascular foi estratificado em 3 graus, de acordo com a presença de doença coronária manifestada antes dos 30 anos de idade por critérios clínicos (risco I), patofisiologicos (risco II) ou epidemiológicos (risco III) (quadro I). Foi também desenvolvido um algoritmo de avaliação de risco e de intervenção em cada grupo, o qual inclui a redução de factores de risco segundo os objectivos definidos. 1 Kavey RE, Allada V, Daniels SR, Hayman LL, McCrindle BW, Newburger JW, Parekh RS, Steinberger J. Cardiovascular risk reduction in high-risk pediatric patients: a scientific statement from the American Heart Association Expert Panel on Population and Prevention Science; the Councils on Cardiovascular Disease in the Young, Epidemiology and Prevention, Nutrition, Physical Activity and Metabolism, High Blood Pressure Research, Cardiovascular Nursing, and the Kidney in Heart Disease; and the Interdisciplinary Working Group on Quality of Care and Outcomes Research: endorsed by the American Academy of Pediatrics. Circulation. 2006; 114: 2710–2738 editorial 223 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Quadro I. Estratificação do risco cardiovascular Grupo Risco Evidência cientifica Doença Hipercolesterolemia familiar (homozigótica) Doença coronária clínica antes dos 30 anos I Diabetes Mellitus, tipo 1 Doença Renal Crónica Elevado Evidência clínica Transplante Cardíaco Doença de Kawasaki com aneurismas coronários Hipercolesterolemia familiar (homozigótica) II Aterosclerose acelerada Doença de Kawasaki (com regressão de aneurismas coronários) Evidência patofisiológica Diabetes mellitus, tipo 2 Moderado Doença inflamatória crónica III Em risco Cancro Em risco elevado de aterosclerose acelerada Cardiopatias congénitas Evidência epidemiológica Doença de Kawasaki sem aneurismas coronários Modificado de Kavey et al: Cardiovascular Risk Reduction in High-Risk Paediatric Patients. Circulation 2006;114;2710-2738; As recomendações da AHA representam normas de boa prática clínica destinadas aos profissionais que tratam destas crianças, adolescentes e jovens adultos e devem, como é evidente, ser adaptadas ao doente individualmente. Salientamos pois a importância da avaliação do risco cardiovascular nesta população de doentes bem como da implementação de estratégias que visem a redução da morbilidade e mortalidade cardiovascular, já que a intervenção precoce permitirá obter mais benefícios para o doente: melhor qualidade de vida e uma maior sobrevida. Sílvia Álvares 224 editorial NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Hipersensibilidade aos AINES na Criança: Aspectos Clínicos e Diagnóstico Cristina Lopes1, Eva Gomes2 RESUMO Objectivos e concepção do estudo: Os anti-inflamatórios não esteróides (AINES) são a segunda causa mais frequente de reacções de hipersensibilidade a fármacos tanto em adultos como em crianças. A suspeita diagnóstica baseia-se numa relação temporal próxima entre a administração do fármaco e o aparecimento de sintomatologia sugestiva, sobretudo respiratória e/ou cutânea. O esclarecimento do diagnóstico é de grande importância pois evita situações de ansiedade nos doentes e a utilização desnecessária de fármacos alternativos menos adequados e mais dispendiosos. É frequente o recurso à prova de provocação oral (PPO) com carácter diagnóstico, devido à ausência de outros meios auxiliares diagnósticos devidamente padronizados e validados. Este trabalho pretende avaliar os resultados e a importância da PPO diagnóstica no estudo de doentes pediátricos enviados a uma consulta de Imunoalergologia por suspeita de hipersensibilidade a AINES. Material e métodos: Investigámos 24 doentes referenciados à consulta durante 2005-06 por suspeita de hipersensibilidade a AINES e avaliámos os resultados das PPO realizadas e a sua importância para o esclarecimento diagnóstico. Resultados e conclusões: Os fármacos mais frequentemente implicados foram o ibuprofeno (71%) e o paracetamol (24%) sendo as reacções cutâneas as mais frequentes. Quatro doentes não __________ 1 Serviço de Imunoalergologia, Hospital de S. João Porto 2 Unidade de Imunoalergologia, Hospital Pediátrico Maria Pia, Porto realizaram PPO, um por recusa, um por história não sugestiva de hipersensibilidade e dois por comprovada tolerância posterior ao fármaco suspeito. Entre os 20 que realizaram PPO com o fármaco suspeito apenas em dois se confirmou o diagnóstico inicial de hipersensibilidade (um caso ao ibuprofeno e paracetamol e noutro ao ácido acetilsalicílico). Estes doentes realizaram posteriormente testes de provocação para pesquisa de alternativas terapêuticas. A PPO teve um papel fundamental na avaliação deste grupo de doentes com suspeita de hipersensibilidade a AINEs tendo permitido diagnosticar dois casos de hipersensibilidade (10%) e excluir a suspeita inicial nos restantes. Palavras-chave: reacção de hipersensibilidade, anti-inflamatórios não esteróides, criança. Nascer e Crescer 2007; 16(4): 225-229 INTRODUÇÃO O estudo das reacções de hipersensibilidade a fármacos constitui uma área em expansão no domínio da Alergologia, despertando um interesse crescente na comunidade médica e também no público em geral. As reacções de hipersensibilidade fazem parte do grupo mais alargado das reacções adversas a fármacos. Uma reacção adversa a um fármaco define-se como uma reacção prejudicial e não desejada que ocorre com doses geralmente usadas no ser humano para a profilaxia, diagnóstico ou tratamento de uma patologia ou modificação de uma função fisiológica. Uma reacção de hipersensibilidade é uma reacção adversa que se traduz por sintomas ou sinais objectivamente reprodutíveis iniciados pela exposição a um estímulo definido numa dose normalmente tolerada por indivíduos saudáveis(1). As reacções de hipersensibilidade podem ser alérgicas (mecanismo imunológico definido) ou não alérgicas. As reacções alérgicas podem ainda ser ou não mediadas por IgE. As reacções adversas a fármacos (RAF) são frequentemente observadas na idade pediátrica. Alguns estudos publicados sugerem que este tipo de reacção ocorre em 10-20% dos doentes hospitalizados sendo até cerca de um terço dos casos por hipersensibilidade(2). Em doentes pediátricos em ambulatório a incidência de RAF pode variar de 0,7 a 2,7%(3). Dados obtidos em Portugal através de um questionário auto-preenchido revelam que cerca de 8% dos adultos se consideram alérgicos a um ou mais fármacos(4). Os fármacos mais vezes suspeitos de causarem reacções de hipersensibilidade quer em crianças quer em adultos são os antibióticos, principalmente do grupo dos β lactâmicos, e os anti--inflamatórios não esteróides (AINES)(4,5,6,7). Os AINES são fármacos de utilização frequente em crianças quer como antipiréticos quer como anti inflamatórios, sendo os inibidores não selectivos da ciclo-oxigenase os únicos aprovados para utilização em idades inferiores a 12 anos. Podemos identificar dois padrões de reacção de hipersensibilidade a AINES: uma resposta mediada por IgE ou, na maioria dos casos, manifestações que dependem essencialmente da inibição da ciclo-oxigenase 1 (COX-1) e não de um mecanismo imunológico especifico(7,8). A inibição da síntese de prostaglandinas a artigos originais 225 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 partir do acido araquidónico pela via da ciclo-oxigenase promove o aumento da síntese de leucotrienos pela via da lipooxigenase. Estas moléculas são potentes mediadores inflamatórios capazes de provocar vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, contracção do músculo liso e aumento da produção de muco, efeitos que se podem traduzir clinicamente por urticária, angioedema, inflamação brônquica e broncoespasmo (fig.1) A investigação clínica da hipersensibilidade a AINES baseia-se numa anamnese cuidadosa sendo o exame objectivo geralmente pouco informativo - os doentes não são habitualmente observados na fase aguda e os achados são habitualmente inespecifícos. Muito frequentemente os AINES são administrados no contexto de intercorrências infecciosas que cursam por si só com manifestações cutâneas e respiratórias por vezes difíceis de distinguir de uma possível reacção de hipersensibilidade. Tal facto leva muitas vezes a uma incerteza diagnóstica, com implicações negativas para os doentes e médicos prescritores: receio de novas reacções e utilização de Mastócitos Àc. araquidónico fármacos alternativos menos adequados e mais dispendiosos. A investigação in vitro é limitada. O teste de transformação linfocitária (TTL), os testes de activação de antigénios celulares (CAST, FAST) e testes de desgranulação mastócitaria/basofílica são principalmente usados no âmbito de protocolos de investigação e não como rotina, uma vez que não estão ainda devidamente padronizados e estandardizados e não são facilmente acessíveis(9). A utilidade dos testes cutâneos é limitada pelo facto de não estarem disponíveis produtos farmacêuticos que se destinem ao uso em técnicas de diagnóstico. Quando realizados, utilizam-se as apresentações farmacêuticas sob a forma injectável usadas para fins terapêuticos. A rentabilidade diagnóstica dos testes cutâneos assim executados é limitada não só por não estarem devidamente padronizados mas também por não se conhecerem as concentrações irritativas da maioria dos produtos nem o seu valor prognóstico positivo e negativo. Outro aspecto a considerar é o facto de que, tal como já foi referido, o mecanismo fisiopatológico principal de Eosinófilos Ciclo-oxigenase 1 e 2 PGE2 Lipo-oxigenase Histamina LTA4 LTC 4, LTD4, LTE4 Reacção naso-ocular: • Prurido • Secreção mucosa • Edema Reacção brônquica: • Broncoespasmo • Secreção mucosa • Edema Figura 1- Esquema simplificado do metabolismo do ácido araquidónico (13) 226 artigos originais hipersensibilidade aos AINES não ser IgE dependente. Por outro lado, o interesse prático da PPO diagnóstica tem sido confirmado por vários autores(10). Em geral, a sua utilização deve ser considerada nas situações seguintes(11): necessidade de excluir reacção de hipersensibilidade em doentes com história não sugestiva ou com sintomas não específicos, necessidade de estabelecer um diagnóstico conclusivo em doentes com história clínica sugestiva mas com testes alergológicos negativos, não-conclusivos ou não disponíveis. O objectivo deste trabalho foi alertar para a hipersensibilidade a AINES na idade pediátrica ( já que habitualmente esta patologia se associa mais à idade adulta) e avaliar a importância de um protocolo de investigação diagnóstica adequado, efectuado numa consulta especializada. Material e Métodos: Estudo retrospectivo em que foi avaliada a clínica e os resultados da investigação diagnóstica dos doentes referenciados a uma consulta especializada de alergia a fármacos do Hospital Maria Pia por suspeita de hipersensibilidade a AINES (incluindo o paracetamol) durante o período de um ano (último semestre de 2005 e o primeiro de 2006). A investigação diagnóstica consistiu na colheita detalhada da história clínica, exame objectivo, avaliação de atopia e prova de provocação diagnóstica. Definiu-se atopia como a presença de pelo menos um teste cutâneo por picada positivo para um aeroalergénio comum (critério de positividade: tamanho médio do diâmetro da pápula ≥ 3 mm relativamente ao testemunho negativo). A prova de provocação oral (PPO) foi realizada em meio hospitalar e de acordo com as recomendações do grupo de interesse em alergia a fármacos da Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica(11). Esta prova consistiu na administração de doses crescentes do fármaco suspeito, a intervalos regulares de 30 ou 60 minutos (nas doses mais elevadas). A primeira administração é normalmente 1/10 da dose terapêutica habitual, de acordo com o peso e idade e a dose total acumulada deve aproximarse da dose máxima diária recomenda- NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 da. Durante a prova são monitorizados sinais e sintomas, tensão arterial, pulso e sempre que tal é possível, os valores espirometricos (VEMS ou Débito expiratório máximo instantâneo). A avaliação é efectuada no início da prova e antes de cada administração repetindo-se após o final da prova em intervalos de uma hora até à alta clinica. Além dos passos protocolados a avaliação é feita em qualquer ocasião em que surjam queixas por parte do doente, sinais clínicos ou suspeita de possível reacção. A PPO foi considerada positiva quando surgiram sinais/sintomas objectivos de acordo com a reacção original. O período mínimo de vigilância após terminar a prova foi de três horas. No caso de resultado positivo da prova o doente foi mantido em vigilância até resolução completa da reacção. Foi obtido previamente à PPO o consentimento informado escrito dos pais ou representantes legais dos doentes. Foi realizada uma análise descritiva dos resultados. Resultados: Durante o período referido avaliaram-se 24 doentes com suspeita de hipersensibilidade a AINES. Três foram excluídos à partida, em dois casos por tolerância posterior ao fármaco ini- cialmente suspeito e no outro porque os sintomas referidos (mal estar abdominal, epigastralgia e náuseas) são efeitos secundários bem conhecidos deste grupo de fármacos, não sugerindo hipersensibilidade. Foi proposta aos restantes doentes a realização de PPO diagnóstica, aceite por todos menos por um (fig 2). Foram então submetidos a PPO 20 doentes, com idades entre os 2 e 18 anos (média nove anos), sendo 35 % do sexo feminino. O tempo médio entre a reacção suspeita e a realização da PPO foi de dois anos. Um dos doentes com suspeita de reacção de hipersensibilidade a dois fármacos foi submetido a 2 PPO. Das 21 reacções suspeitas investigadas, o ibuprofeno foi implicado em 15, o paracetamol em 5 e o ácido acetilsalicilico em 1. Setenta e seis por cento das reacções suspeitas tinham sido cutâneas,(11) exantemas maculo-papulares, 3 urticaria/ angioedema, 1 agravamento de eczema prévio) e 42 % do foro respiratório ( 5 episódios de broncoespasmo, 3 de sintomas nasais). Em 3 doentes surgiram sintomas gastrointestinais associados (1 episódio de diarreia, 2 de vómitos). Seis referiram reacções multi-orgânicas. Sete tiveram reacções classificadas como imediatas Doentes refererenciados n=24 Doentes c/ reacções não sugestivas/ tolerância posterior, n=3 Doentes propostos para PPO n= 21 Recusa de doente, n=1 Doentes que realizaram PPO, n=20 PPO realizadas, n= 21 PPO negativas, n=18 PPO positivas, n=3 Figura 2 - Fluxograma dos doentes avaliados (ocorreram num intervalo menor ou igual a 60 minutos após a toma do fármaco). Dez dos doentes submetidos a PPO (50 %) foram considerados atópicos (reacção cutânea positiva a pelo menos 1 alergénio da bateria standard do serviço). Destes 10, 1 doente era assintomático, 1 tinha urticaria crónica, 2 com eczema atópico, 9 com asma e/ou rinite. Apenas três das 21 PPO realizadas foram positivas, duas delas no mesmo doente com fármacos diferentes. Este doente apresentou PPO positiva com ibuprofeno e paracetamol: crise esternutatória, rinorreia aquosa e broncoespasmo com diminuição de VEMS inicial superior a 20%, 30 minutos após a administração de 200 mg de ibuprofeno e 60 minutos após administração de 500 mg de paracetamol. O doente fez posteriormente provas com nimesulide e com ácido acetilsalicilico que foram negativas (Quadro I). Outro doente apresentou PPO positiva com reacção retardada de broncoespasmo, diminuição do VEMS inicial superior a 20% e edema labial após a administração de 500 mg de ácido acetilsalicilico. Realizou posteriormente PPO com ibuprofeno e nimesulide que foram negativas. As reacções das PPO positivas foram facilmente revertidas com medicação anti-histaminica oral e salbutamol inalado. Discussão e Conclusões: Neste estudo, a maioria dos doentes com suspeita de hipersensibilidade referiam reacções cutâneas de carácter não imediato (52%) mas as reacções mais complexas implicando mais do que um órgão/sistema foram também frequentes (28%). Apenas 14% das PPO (três provas, dois doentes) se revelaram positivas. Na maioria dos doentes a suspeita inicial de hipersensibilidade não se confirmou o que está de acordo com outros estudos já publicados(12). A utilização deste tipo de fármacos associa-se na maioria dos casos a situações infecciosas ou inflamatórias que, na infância, se acompanham muitas vezes de manifestações cutâneas e outras facilmente confundíveis com sintomas de alergia. Os fármacos mais vezes impli- artigos originais 227 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Quadro I - Características clínicas dos doentes com Prova Provocação oral positiva Id Antecedentes Fármaco suspeito Manifestações iniciais Asma persistente ligeira ♀ 16A Urticaria crónica Ácido acetilsalicilico PPO Resultado Ácido acetilsalicilico Positivo (broncoespasmo e edema labial) Ibuprofeno Negativo Nimesulide Negativo Ibuprofeno Positivo (sint. nasais e broncoespasmo) Paracetamol Positivo (sint. nasais e broncoespasmo) Nimesulide Negativo AAS Negativo Angioedema e diarreia e broncoespasmo Alergia ácaros e faneras Asma persistente ligeira Paracetamol ♂ 12 A Sintomas nasais e edema peri-orbitário Rinite Ibuprofeno Alergia a ácaros e gramíneas cados reflectem também os hábitos de prescrição nestas idades. Não havendo exames auxiliares de diagnóstico in vitro acessíveis e devidamente estandardizados e não sendo os resultados dos testes cutâneos relevantes na grande maioria dos casos (reacções não mediadas por IgE) a PPO é um instrumento fundamental para o diagnóstico correcto destas situações. Este procedimento é sobretudo importante neste grupo de fármacos pois os AINES mais vezes implicados são medicamentos de uso corrente na idade pediátrica e a maioria dos novos fármacos inibidores selectivos da cox-2, muito utilizados em adultos com suspeita de hipersensibilidade aos AINEs, só são alternativas terapêuticas a partir dos 12 anos. A PPO permitiu excluir falsos diagnósticos de hipersensibilidade a AINES em 86% dos casos. A incerteza diagnóstica leva por vezes à prescrição de fármacos menos indicados e mais perigosos e a um sentimento de insegurança por parte dos pais que receiam reacções futuras. Após confirmação do diagnóstico de hipersensibilidade a AINES, a situação de ansiedade é ultrapassada com a informação devidamente fundamentada sobre quais os fármacos que poderão ser usados no futuro (após PPO com os fármacos alternativos). 228 artigos originais A PPO teve um papel fundamental na avaliação deste grupo de doentes com suspeita de hipersensibilidade a AINEs tendo permitido diagnosticar três reacções de hipersensibilidade (14%) e excluir a suspeita inicial nos restantes casos. NSAID HYPERSENSITIVITY IN CHILDREN: CLINICAL ASPECTS AND DIAGNOSIS ABSTRACT Aim and study concept: Non steroid anti-inflammatory drugs (NSAID) are the second most important cause of drug hypersensitivity reactions in adults and in children. Symptoms are mostly cutaneous and/or respiratory and a close temporal relation with drug administration is suggestive of an etiological association. An accurate diagnosis is of great importance since it avoids patient’s anxiety and unnecessary use of less suitable and more expensive drugs. An oral provocation test (OPT) is often used to establish the diagnosis since other validated and well standardized diagnostic tests are still lacking. This study aims to assess the results and importance of OPT in paediatric patients with suspected NSAID hypersensitivity referred to a specialized allergy clinic. Material and Methods: Twenty four patients referred during 2005-06 with suspected NSAID hypersensitivity reaction were investigated. OPT results and its importance in establishing a diagnosis were evaluated Results and conclusions: The drugs most often implicated were ibuprofen (71%), and paracetamol (24%); cutaneous reactions were the most frequently found. Four patients were not submitted to OPT for the following reasons: one refused, one had a non-suggestive history, and two had already tolerated the suspected drug. From the 20 who underwent OPTs only in two we confirmed the initial suspicion of drug hypersensitivity (one to ibuprofen and paracetamol, the other to acetyl salicylic acid). These patients were submitted to further OPTs to find alternative therapeutic options. Oral provocation testing was very useful in the assessment of suspected NSAID hypersensitivity confirming the diagnosis in two cases (10%) and excluding the initial suspicion in the remaining patients. Key-words: hypersensitivity reactions, non steroidal anti-inflammatory drugs, children. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Nascer e Crescer 2007; 16(4): 225-229 BIBLIOGRAFIA 1. Johansson S, Hourihane J, Bousquet J, et al. A revised nomenclature for allergy. An EAACI position statement from the EAACI nomenclature task force. Allergy 2001; 56(9): 813-24 2. Gomes ER, Demoly P. Curr Opin Allergy Clin Immunol. 2005; 5(4):309-16. Review. 3. 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Middleton´s Allergy Principles and Practice, 6th Edition, Philadelphia Mosby, 2004 - ISBN 0323014259 artigos originais 229 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Défice Selectivo de IgA – Casuística de 6 Anos Carla Teixeira1, J. Sizenando Cunha2, Inês Lopes3, Sandra Soares4, Laura Marques5 RESUMO Introdução: A deficiência selectiva de Imunoglobulina A (IgA) é a imunodeficiência primária mais frequente. Está associada a diversas patologias com diferentes apresentações, nomeadamente patologia infecciosa, alérgica, gastrointestinal, doenças auto-imunes e neoplásicas. Objectivo: Analisar as características clínicas e laboratoriais de crianças com défice de IgA seguidas no Hospital de Crianças Maria Pia. Material e Métodos: Análise retrospectiva de processos de crianças e adolescentes com défice selectivo de IgA, no período compreendido entre 1 de Janeiro de 2000 e 31 de Dezembro de 2005. Foram obtidos dados relativos ao sexo, idade do diagnóstico, patologia associada e parâmetros laboratoriais nomeadamente, doseamento de IgM, IgG e IgE, subclasses de IgG, presença de anticorpos antinucleares (ANAs), factor reumatóide (FR) e anticorpos específicos. Resultados: Foram avaliadas 50 crianças, sendo 56%(28) do sexo masculino. A mediana da idade de diagnóstico foi de 6 anos. As manifestações clínicas associadas foram infecções recorrentes das vias aéreas superiores em 50%(25), asma em 34%(17), rinite alérgica em 22%(11), pneumonia em 18%(9), giardíase em 6%(3), doença celíaca em 8%(4), e doenças auto-imunes em 8%(4). Na avaliação laboratorial, observaram-se níveis de IgG aumentados em 42%(21) dos casos. __________ 1 2 3 4 5 Interna Complementar de Pediatria Assistente Hospitalar Eventual Assistente Hospitalar Graduada de Imunoalergologia Assistente Eventual de Patologia Clínica Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria Hospital de Crianças Maria Pia - Porto 230 artigos originais Discussão e Conclusão: Os resultados apresentados estão de acordo com outras séries publicadas. Este trabalho salienta a grande variabilidade de apresentação clínica do défice de IgA. O seu conhecimento permitirá um diagnóstico precoce e orientação adequada. Palavras-chave: Défice de IgA, Criança Nascer e Crescer 2007; 16(4): 230-232 INTRODUÇÃO A imunoglobulina A (IgA) é a segunda imunoglobulina mais abundante no soro humano (a mais frequente é a IgG). Embora existam quantidades substanciais de IgA no soro, a maioria das células produtoras de IgA está localizada na mucosa das vias aéreas, na mucosa gastrointestinal ou genital. Estas células produzem IgA secretória, a mais abundante imunoglobulina nas secreções. A IgA secretória presente no leite materno constitui uma poderosa defesa contra a sepsis neonatal e a diarreia no lactente(1). A IgA secretória pode neutralizar vírus, ligar-se a toxinas, aglutinar bactérias, evitar ligação das bactérias às células e ligar-se a vários antigénios alimentares. Assim, a IgA é importante para evitar que agentes infecciosos penetrem nas superfícies mucosas(1,2). A deficiência selectiva de IgA é a imunodeficiência primária mais frequente(1-4). A sua prevalência tem variação geográfica e étnica considerável, variando desde 1/142 em árabes, 1/500-700 em caucasianos, 1/6.000 em afroamericanos, a 1/14.840-18.500 em asiáticos(2,5). É caracterizada por uma alteração na diferenciação dos linfócitos B em células produtoras de IgA, com produção adequada das restantes imunoglobulinas e com manutenção da imunidade celular(2). Na maioria dos casos, o défice de IgA parece surgir de forma esporádica. Foram descritos, contudo, muitos casos familiares, com hereditariedade autossómica recessiva, multifactorial, e autossómica dominante com expressão variável ou incompleta. Também estão descritas famílias em que coexistem membros com défice de IgA e Imunodeficiência Comum Variável(1-3). Embora a IgA seja importante para a imunidade das mucosas, verifica-se que a maioria dos casos é assintomática1,2,4. A razão deste facto é desconhecida, admitindo-se a existência de mecanismos compensatórios (nomeadamente aumento da IgM) ou anomalia concomitante de outros mecanismos imunológicos em indivíduos sintomáticos(1). As infecções recorrentes, nomeadamente respiratórias, gastrointestinais e urinárias são as manifestações clínicas mais frequentes(1-4). Está também associada à presença de doenças alérgicas, auto-imunes e neoplásicas(1-4). MATERIAL E MÉTODOS Os autores efectuaram uma análise retrospectiva dos processos clínicos referentes a crianças e adolescentes com défice selectivo de IgA seguidas em Consulta Externa do Hospital de Crianças Maria Pia, no período compreendido entre 1 de Janeiro de 2000 e 31 de Dezembro de 2005. Foram avaliados os seguintes parâmetros: sexo, idade do diagnóstico, patologia associada e parâmetros laboratoriais, nomeadamente, doseamento de IgM, IgG e IgE, subclasses de IgG, presença de anticorpos antinucleares (ANAs), factor reumatóide (FR) e anticorpos específicos. Considerou-se deficiência selectiva de IgA um valor de IgA inferior a 0,07 g/L NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 e idade superior a 4 anos, sem hipogamaglobulinemia associada, segundo os critérios da “European Society of Immunodeficiencies” (Jan/06)(6). Os dados obtidos foram analisados de forma descritiva com recurso ao programa Excel. RESULTADOS 1. População Foi encontrado défice selectivo de IgA em 50 crianças, sendo 28 (56%) do sexo masculino e 22 (44%) do sexo feminino. Tinham uma idade compreendida entre 4 e 15 anos, idade média e mediana de 6 anos (Quadro I). 2. Patologia associada Quatro crianças (8%) eram assintomáticas, apresentando as restantes uma ou mais do que uma patologia associada (Quadro II). As patologias mais frequentemente associadas foram as infecções respiratórias, tendo estas ocorrido em 33 (66%) das crianças, sendo predominantemente das vias aéreas superiores (IVAS) em 25 (50%). Oito crianças tiveram pneumonia (16%). Foi também observada forte associação com atopia e doenças alérgicas, nomeadamente asma em 17 crianças (34%), rinite em 11 (22%) e dermatite atópica em 5 (10%). A asma constituiu a segunda patologia mais frequentemente associada com o défice selectivo de IgA. Treze crianças (26%) apresentavam sintomatologia gastrointestinal. Estava presente a diarreia recorrente em 5 Nº de doentes Quadro I - Idade de diagnóstico do défice de IgA 30 28 26 24 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Feminino Masculino 4a6 7a9 10 a 12 13 a 15 Faixas etárias (Anos) Quadro II - Distribuição por patologia associada ITUs Doenças Auto-Imunes Giardíase Doença Celíaca Diarreia Dermatite atópica Rinite Asma Pneumonia IVAS 0 5 10 15 Idade (Anos) 20 25 30 (10%), giardíase em 3 (6%), doença celíaca em 4 (8%) e doença de Crohn numa criança (2%). Duas crianças apresentavam infecções recorrentes do tracto urinário. Foram encontradas quatro crianças (8%) com doenças auto-imunes: duas com púrpura trombocitopénica idiopática, uma com tiroidite e outra com diabetes mellitus tipo 1. Não foi identificada nenhuma neoplasia. 3. Parâmetros laboratoriais Relativamente ao estudo laboratorial detectou-se um aumento da IgG em 21 crianças (42%). A IgE foi determinada em 42 crianças (84%). Os seus valores variaram de <2,0 a 4482 UI/mL. Estava aumentada em 13 crianças (26%). Foi efectuado doseamento de subclasses de IgG em 35 casos (70%), tendo sido constatado aumento de IgG1 em 4, da IgG2 em 3, diminuição da IgG3 num caso e diminuição da IgG4 em 6 casos (17,1%). Os anticorpos específicos foram determinados em 11 crianças, verificandose uma diminuição do nível de anticorpos para polissacáridos pneumocócicos em 2 crianças e para o toxóide tetânico em 2, no entanto, com boa resposta funcional à vacinação. Os ANAs foram pedidos em 12 crianças (24%), estando positivos em 4 destas. O FR foi avaliado em 5 crianças (10%), estando positivo numa. DISCUSSÃO Neste estudo, a maior parte das crianças apresentavam sintomas, o que pode ser explicado pelo facto de ser uma série hospitalar e não um estudo de base populacional. As principais patologias associadas foram as infecções respiratórias, gastrointestinais e as doenças alérgicas, o que está de acordo com o descrito na literatura(7,8). As infecções recorrentes sinopulmonares são a patologia mais frequentemente associada ao défice de IgA, o que se verificou no nosso estudo. De facto, são muitas vezes causa de avaliação do valor de imunoglobulinas e de descoberta do défice de IgA. Nesta série a asma constituiu a segunda pa- artigos originais 231 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 tologia mais frequentemente associada. Está também descrita associação com infecções recorrentes do tracto genitourinário(4,7). De acordo com alguns trabalhos, as doenças auto-imunes, nomeadamente artrite idiopática juvenil, lúpus eritematoso sistémico, tiroidite de Hashimoto, púrpura trombocitopénica idiopática, diabetes mellitus tipo 1, dermatomiosite, miastenia gravis, ..., constituem a patologia mais frequentemente associada ao défice de IgA1. Na casuística apresentada constituem apenas 7,7%, o que poderá estar relacionado com a mediana da idade, que é baixa. Os carcinomas, particularmente adenocarcinoma do estômago, e linfomas, normalmente com origem em células B, também estão relacionados com o défice de IgA(1,3). Nesta série não foi identificada nenhuma neoplasia. No entanto, dada a associação frequente com estas patologias, deverá ser efectuada uma monitorização regular com o objectivo de as detectar precocemente. Foi observado um considerável aumento concomitante da IgG (em 40,3% das crianças), o que poderá estar relacionado com a elevada prevalência de infecções recorrentes. A IgE elevada em 30,9% estará provavelmente relacionada com a patologia alérgica associada. Está descrita na literatura associação entre o défice da subclasse de IgG, IgG2, e infecções mais graves, nomeadamente respiratórias1. Na série apresentada nenhuma das crianças apresentava défice de IgG2. O significado clínico da diminuição das subclasses de IgG 3 e 4 que foi observado em 7 casos (20%) dos 35 disponíveis, é controverso. Pode também estar associado défice de anticorpos específicos (com IgG normal), pelo que é importante pesquisálos no estudo destes doentes2. Nesta casuística, a pesquisa de anticorpos específicos foi efectuada apenas em 21,2% dos casos. As quatro crianças, inicialmente com níveis diminuídos não apresentaram défice funcional, pois obtiveram boa resposta à vacinação. A pesquisa de ANAs e FR foi efectuada apenas nas crianças com suspeita de doença auto-imune. 232 artigos originais CONCLUSÃO A deficiência selectiva de IgA é a imunodeficiência primária mais comum. Neste estudo observa-se a heterogeneidade clínica da sua apresentação, sendo de suspeitar o diagnóstico em caso de infecções de repetição, doenças alérgicas ou auto-imunes. Quando as crianças têm infecções recorrentes é importante efectuar a pesquisa de anticorpos específicos para se estabelecer o diagnóstico de défice selectivo de IgA. O seu diagnóstico precoce permite uma vigilância clínica e analítica adequadas, diminuindo a sua morbilidade, uma vez que se pode associar a patologias auto-imunes e neoplásicas, e pode evoluir para imunodeficiência comum variável. SELECTIVE IGA DEFICIENCY – A 6-YEAR CASUISTIC ABSTRACT Introduction: Selective immunoglobulin A (IgA) deficiency is the most frequent primary immunodeficiency. It is associated with diverse pathologies with different presentations, namely infectious, allergic, gastrointestinal, auto-immune and neoplastic disorders. Objective: Analyse clinical and laboratorial characteristics of children with IgA deficiency attending Maria Pia Children’s Hospital. Matherial and Methods: Retrospective analysis of IgA deficient children and adolescent clinical files, in the period from the1st January 2000 until the 31st December 2005. We collected information on sex, age at diagnosis, associated diseases and laboratory data, namely IgM, IgG and IgE, IgG subclasses, presence of antinuclear antibodies, rheumatoid factor, and specific antibodies. Results: Fifty children were evaluated, 56%(28) of them were males. The median of age was 6 years. The associated clinical manifestations were recurrent upper airway infections in 50%(25), asthma in 34%(17), allergic rhinitis in 22%(11), pneumonia in 18%(9), Giardia infection in 6%(3), celiac disease in 8%(4), and autoimmune diseases in 8%(4). On laboratory evaluation, high IgG levels were observed in 42%(21) of cases. Discussion and Conclusion: The results presented are similar to other published series. This work points out that IgA deficiency has a great variability of clinical presentation. This knowledge will allow a rapid diagnosis and an adequate orientation. Key-words: IgA deficiency, Child Nascer e Crescer 2007; 16(4): 230-232 BIBLIOGRAFIA 1. Cunningham-Rundles C. Selective IgA Deficiency. In: Stiehm, ER, Ochs DH, Winkelstein AJ, eds Immunologic Disorders in Infants & Children. 5th Edition, Philadelphia: Elsevier Saunders; 2004. 427-446 2. Bascom R, Dolina M, Hilman B. Immunoglobulin A Deficiency. (www. emedicine.com/ped) (19/12/2005) 3. Buckley RH. Selective IgA Deficiency. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, eds. Nelson Textbook of Pediatrics. 17th Edition, Philadelphia: WB Saunders Company; 2003. p691 4. Bonilla, F. A.; Bernstein, I. L., et al. Practice parameter for the diagnosis and management of primary immunodeficiency. Ann. Allergy Asthma Immunol. 2005; 96:S1-S63 5. 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Brasil. 1998; 44(4): 277-282 CORRESPONDÊNCIA Carla Teixeira Rua Oliveira Monteiro, 148 Hab 24 4050-438 Porto E-mail: [email protected] NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Parotidite neonatal a Streptococcus do grupo B Maria João Oliveira1, Margarida Guedes1, Fernanda Manuela Costa1, Rui Almeida1 RESUMO Os autores descrevem um caso clínico de parotidite neonatal, uma patologia infecciosa rara e ainda pouco descrita na literatura, caracterizada pela tríade tumefacção parotídea, sinais inflamatórios cutâneos e saída de pús pelo canal de Stensen. No presente caso foi identificado como agente causal um Streptococcus do grupo B, evidenciando uma forma de apresentação rara deste agente, o mais frequente em infecções bacterianas perinatais nos países desenvolvidos. Palavras chaves: Parotidite; neonatal; Streptococcus do grupo B Nascer e Crescer 2007; 16(4): 233-234 INTRODUÇÃO A infecção tardia por Streptococcus do grupo B (SGB), ocorre entre os oito e os 90 dias de vida (média 36 dias) e afecta habitualmente recém-nascidos sem antecedentes pré ou peri-natais relevantes. Manifesta-se habitualmente por febre, irritabilidade e outros sintomas não específicos, embora possa ter um curso fulminante. A bacteriemia sem foco (55%) e a meningite (35%) são as duas manifestações mais comuns da doença tardia, estando ainda descritos outros tipos de apresentações como infecções osteoarticulares (~5%) e casos de celulite/adenite (~2%). A taxa de mortalidade varia de 0 e 6%(1). A infecção tardia por SGB sob a forma de parotidite neonatal aguda encontra-se raramente descrita na literatura (2,3). __________ 1 Serviço de Pediatria do Hospital Geral de Santo António - Porto CASO CLÍNICO Lactente do sexo feminino, raça caucasiana, de 28 dias de idade. A gestação foi vigiada e decorreu sem intercorrências. Não foi efectuada a pesquisa do SGB nos exsudados vaginal e rectal maternos. O parto foi vaginal, às 37 semanas de gestação. Ao 28º dia de vida iniciou um quadro clínico de tumefação parotídea direita, com sinais inflamatórios cutâneos, associada a febre, irritabilidade e recusa alimentar parcial, tendo-se observado a saída de pús pelo canal de Stensen, mediante compressão da glândula. O restante exame não apresentava alterações relevantes. Analiticamente apresentava uma leucopenia de 2160 leucócitos/μl (63.9% neutrófilos, 16.2% linfócitos), proteína C reactiva elevada (20 mg/L) e amilase sem alterações. Na ecografia parotídea visualizou-se uma assimetria das glândulas, por predomínio da direita, com ecoestrutura heterogénea e nodularidades intraparenquimatosas pericentimétricas, correspondendo a prováveis formações ganglionares e sem evidência de abcessos. Na cultura do pús saído do canal de Stensen cresceu apenas flora comensal da orofaringe. Contudo, a hemocultura permitiu isolar um SGB. A cultura de líquido cefalorraquidiano, após punção lombar traumática, foi estéril e a ecografia cerebral transfontanelar foi normal. A antibioterapia empírica inicial incluiu flucloxacilina e cefotaxima, tendo sido alterada para ampicilina e gentamicina e, posteriormente, apenas ampicilina, após conhecimento dos resultados microbiológicos. A duração total de tratamento foi de 14 dias. Verificou-se uma evolução clínica favorável, tendo ficado apirética e com resolução dos sinais inflamatórios cutâneos às 48 horas de tratamento antibiótico, associada a uma normalização do leucograma (15400 leucócitos/μl, com 55% neutrófilos e 38% linfócitos). Aos 12 dias de doença mantinha apenas uma ligeira assimetria facial, tendo repetido a ecografia que revelou glândulas parotídeas praticamente simétricas, mantendo a direita leve heterogeneidade parenquimatosa e vários gânglios dispersos no seu parênquima. Na tentativa de determinar o modo de transmissão da infecção procedeuse à pesquisa do SGB nos exsudados vaginal e rectal da mãe e ainda no leite materno, cujos resultados foram negativos. Reavaliada em consulta externa, apresentava aos 4 meses de idade um exame clinico e ecográfico normais. Neste período não houve recorrência da patologia. DISCUSSÃO A parotidite aguda bacteriana é uma patologia infecciosa rara no período neonatal, existindo poucos casos descritos na literatura. Ocorre mais frequentemente em recém-nascidos do sexo masculino (3:1), prematuros(2-5) e com baixo peso(2,3). A infecção adquire-se por via ascendente através do canal de Stensen(2-4), ou por via hematógenea, associada ou precedida de sépsis(2,3,5). Existem vários factores que predispõem ao desenvolvimento desta afecção como a desidratação(3,5), a alimentação prolongada por sonda e a existência de anomalias estruturais da glândula que facilitam a estase das secreções parotídeas e subsequente infecção, assim como a diminuição do fluxo salivar permitindo a migração retrógrada das bactérias(3). casos clínicos 233 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 A presença de lesões na cavidade oral é outro factor de risco(3). O agente etiológico mais frequentemente isolado, em todas as faixas etárias, é o Staphylococcus aureus(2,3,5,6), mesmo nas infecções nosocomiais(4), seguido de outros menos frequentes como o S. pyogenes, S. viridans, S. pneumoniae e gram negativos (E. coli, P. aeruginosa e K. pneumoniae)(3-6). O diagnóstico é essencialmente clínico, feito mediante observação da tumefacção parotídea associada a sinais inflamatórios (à qual se associam sinais e sintomas sistémicos como febre, irritabilidade e recusa alimentar) e da saída de pús pelo canal de Stensen, considerado um sinal patognomónico desta patologia (3). Pode estar associada a uma sépsis ou ser precedido por esta(3,5). Os exames laboratoriais são inespecíficos (podendo mesmo ser normais no que respeita ao leucograma, reagentes de fase aguda e amilase)(3,6) ressalvando-se a importância do exame microbiológico do pús e da hemocultura para a identificação do agente etiológico(3). A ecografia parotídea corrobora o aumento da parótida de características hipoecogénicas, hipervascularizada e, por vezes, com adenopatias intraparenquimatosas(2,3) sendo útil para exclusão de complicações e/ ou no diagnóstico diferencial com outras patologias (como a celulite facial, adenopatias pré-auriculares ou cervicais, abcessos, infecções do músculo bucinador, hemangiomas, adenomas ou lipomas). O tratamento inicial consiste numa antibioterapia endovenosa de espectro alargado com uma boa cobertura antiestafilocócica (p.ex. associando uma penicilina resistente às penicilinases e um aminoglicosídeo), sendo raramente necessário realizar drenagem cirúrgica da glândula(2,3). O prognóstico desta patologia é bom, não se verificando habitualmente recorrência da doença(3-5). As complicações são raras e incluem paralisia do nervo facial, fistula salivar, extensão da infecção ao canal auditivo externo, mediastinite e sépsis(3,5). No caso clínico descrito não foram identificados factores de risco para a sua ocorrência, ficando em aberto a possibi- 234 casos clínicos lidade de ter ocorrido uma bacteriemia com focalização na parótida ou, pelo contrário, uma infecção primária desta glândula com disseminação hematogenea posterior. A decisão de pesquisar a fonte da infecção baseou-se na descrição de casos de recidiva associados a contaminação do leite materno com o SGB, o que não foi comprovado no presente caso(7-9). Com a antibioterapia empírica inicial, que incluiu flucloxacilina e cefotaxima, pretendeu-se fazer uma cobertura para o agente mais prevalente da parotidite neonatal (Staphylococcus aureus) não esquecendo os restantes patogéneos habitualmente encontrados nesta faixa etária (nomeadamente Gram negativos). Após conhecimento dos resultados microbiológicos procedeu-se a uma antibioterapia dirigida, inicialmente com ampicilina e gentamicina e posteriormente apenas ampicilina. Embora não sendo consensual, a maioria dos autores aconselha um tratamento durante 7-10 dias(2-4) ou até 3 a 5 dias após o desaparecimento da tumefacção(2). Nesta situação, optou-se por um tratamento antibiótico durante 14 dias, por não ter sido possível excluir uma meningite concomitante, que constitui uma complicação frequente da infecção tardia a SGB. NEONATAL PAROTITIS CAUSED BY GROUP B STREPTOCOCCUS ABSTRACT The authors report a case of neonatal parotitis, a rare infectious disease with few reports in the literature, characterized by the triad: enlargement of the parotid gland, inflamatory signs of the overlying skin and purulent discharge from the Stensen’s duct. In the reported case the etiologic agent was group B Streptococcus, representing a rare presentation of the most frequent perinatal bacterial infeccion in developed countries. Key-words: Parotitis; neonatal; group B Streptococcus Nascer e Crescer 2007; 16(4): 233-234 BIBLIOGRAFIA 1. Rowen JL, Baker CJ. 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Caracteriza-se pela presença de pelo menos quatro dos seguintes critérios: asma, eosinofilia (superior a 10% do diferencial de leucócitos), mononeuropatia ou polineuropatia, infiltrados pulmonares, anomalias dos seios perinasais e eosinófilos extra-vasculares na biópsia. Descreve-se o caso de uma menina de 11 anos com síndrome febril prolongado, astenia, anorexia, emagrecimento, dor abdominal, poliartrite, polineuropatia e exantema violáceo. Tinha antecedentes de asma, infiltrados pulmonares, sinusite e pólipos nasais. A investigação revelou reagentes de fase aguda muito aumentados, eosinofilia (19%) e anticorpos anticitoplasma de neutrófilos com padrão perinuclear e especificidade antimieloperoxidase (pANCA-MPO) positivos. Foi medicada inicialmente com prednisolona e aos três anos e meio de evolução foi associada azatioprina, com boa resposta. Pretende-se lembrar esta patologia, que apesar de rara, pode ocorrer na população pediátrica, devendo ser considerada quando asma e eosinofilia se associam a vasculite sistémica. Palavras-chave: Síndroma ChurgStrauss; vasculite; asma; eosinofilia Nascer e Crescer 2007; 16(4): 235-238 INTRODUÇÃO À excepção da púrpura de HenochSchonlein e da doença de Kawasaki, os __________ 1 2 Hospital Pediátrico de Coimbra Hospitais da Universidade de Coimbra (Departamento de Pneumologia) síndromes de vasculite primários são raros nas crianças(1). A síndroma de Churg-Strauss (SCS), também chamada granulomatose alérgica e angeíte, é uma vasculite de etiologia desconhecida, que ocorre em doentes com asma e se caracteriza por eosinofilia e vasculite sistémica, sendo extremamente rara em crianças(1). A American College of Rheumatology (ACR) desenvolveu critérios para a classificação da SCS (1990), sendo necessários pelo menos quatro dos seis critérios (sensibilidade de 85% e especificidade de 99,7%): asma, eosinofilia (superior a 10% da contagem diferencial de leucócitos), mononeuropatia ou polineuropatia, infiltrados pulmonares migratórios, anomalias dos seios perinasais e eosinófilos extra-vasculares na biópsia incluindo artéria, arteríola ou vénula(2,3). Apesar destes critérios, a classificação da SCS é por vezes difícil, uma vez que as características clínicas e patológicas se sobrepõem às de outras vasculites, sobretudo a poliarterite nodosa e granulomatose de Wegener(3). Além disso, as lesões descritas por Churg e Strauss baseadas em exames histológicos, além de não serem encontradas frequentemente em biópsias, não são específicos, e a sua ausência não deve fazer rejeitar o diagnóstico de SCS(3,4). A utilização dos anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) forneceu um novo marcador para o diagnóstico de SCS, apesar de não ser considerado critério de diagnóstico, já que aproximadamente 70% dos adultos com SCS têm ANCA com especificidade antimieloperoxidase (MPO)(3). Na ausência de confirmação histológica de vasculite, um ANCA positivo com especificidade MPO ajuda a suportar o diagnóstico de SCS(5). Nos relatos de SCS em crianças, a positividade dos ANCA parece ser menos frequente(6). CASO CLÍNICO Menina de 11 anos com quadro de síndroma febril prolongado, astenia, anorexia, emagrecimento, dor abdominal, poliartrite incapacitante, polineuropatia e exantema violáceo fixo com fases de maior e menor intensidade. Tinha como antecedentes: asma desde os seis anos de idade, controlada com corticóides inalados, sem o recurso a antileucotrienos, infecções respiratórias de repetição (com infiltrados pulmonares em radiografia do tórax), adenoidectomia aos nove anos (por otites de repetição), sinusite e pólipos nasais. As queixas actuais iniciaram-se 47 dias antes com febre elevada (39ºC), que ainda mantinha, astenia, anorexia, emagrecimento quantificado em 7 Kg (13% do peso corporal) e poliartrite de grandes articulações (joelhos, pés e punhos). Na primeira semana de doença iniciou febre e odinofagia, e uma semana depois dor abdominal e diarreia, sem muco ou sangue, que duraram duas semanas. Na terceira semana de doença associou-se artrite dos joelhos bilateral, de predomínio vespertino, sem edema, nem calor, mas dor intensa e limitação funcional progressiva. Durante a quinta semana de doença, foi internada no Hospital Distrital da área de residência, tendo sido medicada com ácido acetilsalicílico (AAS 70 mg/Kg/dia), pela hipótese diagnóstica de artrite idiopática juvenil sistémica (AIJs). Na semana seguinte surgiu um exantema de máculas eritematosas, por vezes adquirindo um tom violáceo, localizadas às mãos e membros inferiores, em especial aos pés, fugaz (duração de algumas horas) e que casos clínicos 235 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 agravava com a exposição ao frio, seguido de artrite dos punhos, quinto dedo da mão esquerda, joelhos e pés (atingia plantas e dedos), com incapacidade de marcha, obrigando-a a deslocar-se com o apoio de cadeira de rodas. Referia também parestesias do bordo medial e quinto dedo da mão esquerda. À data do internamento no HPC, mantinha febre, apresentava-se pálida, com fácies triste, muito queixosa, com exantema atrás descrito, poliartrite muito dolorosa, incapacitante, com características neuropática, com hiperestesia e alodinia (dor despertada pelo roçar do lençol), atrofia muscular localizada aos antebraços, regiões tenar e hipotenar e pernas (gémeos e quadricípete). A intensidade das dores musculo-esqueléticas motivou a prescrição de morfina. A investigação laboratorial inicial revelou hemoglobina de 10,8 gr/dl, 11.300 leucócitos/mm3 com 62% neutrófilos, 15% linfócitos, 19% (2.150/mm3) eosinófilos, PCR 26 mg/dl e VS 106 mm/H. Efectuou também sumária de urina, radiografia do tórax, radiografias dos ossos longos e pés e medulograma (por suspeita de doença maligna com vasculite), que não mostraram alterações relevantes. Os anticorpos antinucleares (ANA) foram negativos mas os anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA) revelaram-se positivos, com padrão perinuclear fortemente positivo e especificidade mieloperoxidase (MPO) francamente positiva (> 200 u/ml, positivo se superior a 20) e proteinase 3 (PR3) negativo. A associação de vasculite sistémica ANCA positivo, asma, pólipos nasais, eosinofilia evocou então o diagnóstico de SCS. Realizou investigação complementar com ecografia abdominal e renal (com doppler) e ecocardiograma que não revelaram alterações e realizou biópsia cutânea que não abrangeu tecido lesado, dada a superficialidade dos cortes Ao terceiro dia de internamento iniciou terapêutica com prednisolona (PDN) (1mg/Kg/dia), ficando apirética dois dias depois, com melhoria progressiva dos sintomas constitucionais. Ao mesmo tempo constatou-se hipertensão arterial (HTA), iniciando nifedipina. Por manutenção das queixas dolorosas osteoarticulares, 236 casos clínicos com necessidade de recorrer a morfina, e após o diagnóstico de polineuropatia sensitiva confirmada por electromiografia, iniciou amitriptilina, gabapentina e carbamazepina, com alívio dos sintomas e recuperação progressiva da marcha, sob fisioterapia. Os resultados da restante investigação efectuada, reacção de Widal e Wright, doseamento de imunoglobulinas, complemento sérico, enzimas musculares, provas de função hepática, serologias para hepatite B e C, doseamentos de renina e angiotensina II foram todos negativos ou normais para a idade. O factor reumatóide estava elevado (42,8I U/ ml, valor de referência 0-20). Ao 11º dia de internamento a contagem de eosinófilos periféricos era inferior a 5% e a VS tinha diminuído de 106 para 45 mm/h. Teve alta para o domicílio ao 24ºdia de internamento quase sem queixas dolorosas, com marcha ainda claudicante, atrofia muscular e presença de exantema discreto localizado aos pés, que se exacerbava com o ortostatismo. Nos meses seguintes manteve queixas intermitentes de mialgias, hiperestesia dos pés, exantema tipo livedo reticular nos meses mais frios, mas não voltou a ter queixas osteoarticulares. Suspendeu amitriptilina ao fim de 6 meses e gabapentina e nifedipina ao fim de nove, com redução muito gradual da PDN e associou enalapril mantendo a terapêutica inalatória habitual da asma (fluticasona e terbutalina). Manteve intercorrências respiratórias significativas, por vezes com necessidade de aumento da dose de PDN, antibioterapia e broncodilatadores. Três anos e quatro meses após o diagnóstico, verificou-se agravamento respiratório, com pieira quase permanente e dispneia para esforços moderados. A avaliação por angio-TAC da doença pulmonar revelou espessamento da parede brônquica, um micronódulo calcificado e imagens nodulares cavitadas. Com o objectivo de excluir infecção activa realizou broncofibroscopia, tendo os resultados da colheita de secreções para bacteriologia e do lavado broncoalveolar sido negativos, não tendo sido possível efectuar estudo de celularidade devido à presença de secreções purulentas abundantes. Na sequência das alterações detectadas na TAC e agravamento dos sintomas obstrutivos por polipose nasal e sinusite crónica (confirmadas por TAC seios perinasais), foi associada azatioprina (até 1mg/Kg/ dia), com melhoria clínica evidente. Sete meses depois repetiu TAC torácica (alta resolução) que mostrou alguns brônquios de parede espessada e bronquiectasias, mas sem as lesões nodulares anteriormente descritas. Actualmente tem 16 anos e mantém seguimento em consultas de reumatologia, pneumologia e ORL. Nos últimos meses tem-se mantido assintomática e sem sinais sistémicos. Está medicada com azatioprina (1 mg/Kg/dia), prednisolona (0,1mg/Kg/ dia), dipiridamol (2 mg/Kg/dia). Continua a necessitar de medicação para controle da TA, estando actualmente sob enalapril (0,1 mg/Kg/dia). Dos controles laboratoriais efectuados, salientam-se os valores de eosinófilos, que têm oscilado entre 40 e 500 e a VS entre 5 e 7 mm/h, mantendo p-ANCA e MPO-ANCA positivos, embora com positividade mais fraca. A função renal e sumárias de urina seriadas têm sido normais, bem como as ecografias abdominais e os ecocardiogramas. DISCUSSÃO Os relatos de SCS em crianças são escassos e geralmente de casos isolados(6). Embora alguns autores admitam subdiagnósticos, devido à falta de especificidade, baixo índice de suspeição, e invasividade implicada na confirmação patológica(6), mesmo em bons centros este diagnóstico é uma raridade(2). Em 1.256 doentes observados em 21 anos na consulta de Reumatologia Pediátrica do HPC, este foi o único caso de SCS. No caso apresentado, o diagnóstico inicial de AIJs evocado no hospital local era pertinente, pela associação de febre prolongada a poliartrite e exantema evanescente. Contudo, a exuberância das queixas dolorosas, com dor neuropática manifestada por hiperestesia e alodinia (dor despertada por estímulos insignificantes)(7), questionaram o diagnóstico de AIJs. As doenças malignas, em especial as leucemias e os linfomas, são causas NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 frequentes de dores intensas musculoesqueléticas na criança, e o facto das vasculites também poderem ser secundárias a doenças malignas, justificaram a realização do medulograma. A nossa doente preencheu cinco dos seis critérios para a classificação da SCS, de acordo com a ACR(3): asma, sinusopatia, eosinofilia superior a 10%, polineuropatia e história de infiltrados pulmonares. A investigação laboratorial revelou ainda pANCA-MPO positivo e PR3 negativo. Apesar de não ter sido possível obter confirmação histológica, pensamos que a clínica e a combinação de pANCA positivos com padrão MPO, são a favor de SCS. A maioria dos doentes com a SCS progride desde um pródromo de asma de gravidade crescente até um estadio de infiltração eosinofílica pulmonar ou gastrointestinal, antes de desenvolverem a terceira fase de vasculite(3). A asma foi no caso descrito a manifestação clínica inicial, precedendo a vasculite sistémica em aproximadamente cinco anos. Na fase de vasculite a asma estava bem controlada, à semelhança da descrição de outros casos(1,3). A avaliação por TAC da doença pulmonar mostrou nódulos pulmonares cavitados, espessamento da parede brônquica e bronquiectasias, alterações também descritas na SCS(3,8). O envolvimento do sistema nervoso periférico é a característica mais distinta do processo de vasculite na SCS, com a neuropatia periférica (sobretudo na forma de mononeurite multiplex) ocorrendo em cerca de 75% dos casos em adultos(3,8). As lesões cutâneas na forma de púrpura vasculítica, livedo reticularis ou nódulos subcutâneos constituem uma das características mais comuns da fase de vasculite da SCS, reflectindo o envolvimento dos pequenos vasos(3,8). A dor abdominal e a diarreia surgiram na fase vasculítica, como também tem sido descrito(3), mas posteriormente não apresentou sintomas sugestivos de envolvimento gastrointestinal. A nossa doente apresentou polipose nasal marcada, descrita noutros casos de SCS mas também na granulomatose de Wegener. Contudo, nesta última, as manifestações nasais têm uma evo- lução mais agressiva, com ulceração da mucosa e destruição óssea devido aos granulomas necrotizantes, associandose antes a c-ANCA positivos com PR3 positiva(9). A presença de HTA em crianças com SCS parece ser frequente(1,6). No caso descrito surgiu após a introdução da prednisolona, o que nos levou inicialmente a considerá-la iatrogénica. No entanto, a sua persistência, mesmo após redução da prednisolona, sugere um possível envolvimento renal, raro em adultos, mas observado em 40% das crianças duma série recente(1). O prognóstico da SCS melhorou significativamente desde a introdução da corticoterapia (aumento da sobrevida, actualmente superior a 75% aos 5 anos), continuando a ser a terapêutica de primeira linha(3,6). Os imunosupressores (azatioprina, metotrexato, ciclofosfamida, infliximab) em combinação com a corticoterapia são úteis nos casos mais graves, controlando os sintomas refractários e minimizando o desenvolvimento de recaídas(1,10). Dado o muito limitado número de crianças com SCS publicadas, ainda há poucos estudos terapêuticos e a informação é limitada quanto à sobrevida e ao prognóstico. No caso descrito, a terapêutica com corticosteróides isolada inicialmente foi suficiente para controlar os sintomas, mas posteriormente foi necessário associar azatioprina, com boa resposta. A nossa doente não apresentou até ao momento nenhum dos factores de mau prognóstico (insuficiência renal, proteinúria >1gr/ dia, envolvimento gastrointestinal grave, cardiomiopatia ou envolvimento do SNC)(11). A nossa doente não negativou os pANCA, mas a persistência de ANCA positivos não parece ser útil na monitorização da actividade da doença, ao contrário da VS e da contagem de eosinófilos(3). Este caso ilustra a dificuldade e a importância de chegar ao diagnóstico de uma patologia que sendo rara, tem manifestações que são comuns em crianças, devendo ser considerada quando a asma e a eosinofilia se associam a sintomas compatíveis com vasculite sistémica. CHURG-STRAUSS SYNDROME IN CHILDHOOD ABSTRACT Churg-Strauss syndrome is a systemic vasculitis of unknown etiology extremely rare in children. This disorder is characterized by the presence of at least four of these criteria: asthma, eosinophilia >10%, mononeuropathy or polyneuropathy, pulmonary infiltrates, paranasal sinus abnormality and extravascular eosinophils. We describe a 11-year-old girl who presented with prolonged fever, asteny, anorexia, weight loss, abdominal pain, polyarthritis, polyneuropathy and a bluish-purple exanthem. She had a history of asthma, pulmonary infiltrates, sinusitis and nasal polyps. The laboratory studies showed elevated acute phase reactants, eosinophilia (19%) and perinuclear-ANCA with MPO-ANCA. She was initially treated with prednisolone and in combination with azathioprine three years and half after diagnosis, with good response. We report this case to remind this serious uncommon disease, that may affect the pediatric population and must be considered when asthma, eosinophilia and systemic vasculitis are present. Key-words: Churg-Strauss syndrome; vasculitis; asthma; eosinophilia Nascer e Crescer 2007; 16(4): 235-238 BIBLIOGRAFIA 1. Louthrenoo W, Norasetthada A, Khunamornpong S, Sreshthaputra A, Sukitawut W. Childhood ChurgStrauss Syndrome. J Rheumatol 1999; 26:6,1387-93 2. Cassidy, Petty, Laxer, Lindsley. Granulomatous vasculitis. Giant Cell arteritis. Textbook of Pediatric Rheumatology. 5th ed. 2005; ch 26, p545-46 3. Abril A, Calamia K T, Cohen M. The Churg Strauss Syndrome (Allergic Granulomatous Angiitis): Review and Update. 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Bissaya Barreto 3000 Coimbra [email protected] NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Food additives and hyperactive behaviour in 3-year-old and 8/9-year-old children in the community: a randomised, double-blinded, placebo-controled trial McCann D, Barret A, Cooper A, Crumpler D, Dalen L, Grimshaw K et al Lancet 2007; 370:1560-67 Background: We undertook a ran- 8/9-year-old children, a computerised test children who consumed more than 85% domised, double-blinded, placebo-control- of attention. The clinical trial is registered of juice and had no missing data (0.32 led, crossover trial to test whether intake of with Current Controlled Trials (registration [0.05-0.06],p=0.2). 8/9-year-old children artificial food colour and additives (AFCA) number ISRCTN74481308). Analysis was showed a significant adverse effect when affected childhood behaviour. per protocol. given Mix A (0.12 [0.02-0.23],p=0.023), Methods: 153 3-yerar-old and 144 Findings: 16 3-yerar-old and 14 or mix B (0.17 [0.07-0.28],p=0.001) when 8/9-year-old children were included in 8/9-year-old children did not complete analysis was restricted to those containing the study. The challenge drink contained the study, for reasons unrelated to chil- consuming at least 85% of drinks with no sodium benzoate and one of two AFCA dhood behaviour. Mix A had a significant missing data. mixes (A or B), or placebo mix. The main adverse effect compared with placebo Interpretation: Artificial colours or outcome measure was a global hyperacti- in GHA for all 3-year-old children (effect sodium benzoate preservative (or both) in vity aggregate (GHA), based on aggrega- size 0.20 [95% CI 0.01-0.39], p=0.44) but the diet result in increased hyperactivity in ted Z-scores of observed behaviours and not mix B placebo. This result persisted 3-yerar-old and 14 8/9-year-old children in ratings by teachers and parents, plus, for when analysis was restricted to 3-year-old general population. COMENTÁRIOS Este estudo veio comprovar um anterior efectuado por alguns dos autores sobre esta hipótese formulada há já 30 anos por Ben Feigold. Conforme acrescentam os autores, este seu estudo apoia fortemente a suspeita de que os aditivos alimentares exacerbam os aspectos observados na perturbação hiperactividade/ défice da atenção (falta de atenção, impulsividade e hiperactividade) em crianças destes grupos etários e pertencentes à população em geral e não apenas nas crianças já com prévia perturbação. Evitando assim oferecer às crianças aditivos alimentares, estaremos a contribuir para mais saúde comportamental e melhores resultados de aprendizagem. A perturbação de défice de atenção/ hiperactividade (PDAH) tem despertado entre nós cada vez mais atenção e justificadamente, por que mais não fosse, pela recente disponibilidade dos psicoestimulantes. A prevalência (entre nós, desconhecida) é elevada: 5 a 10% na idade escolar, 2-6% nos adolescentes e 2 % nos adultos(1). A sua etiologia é complexa, evidenciando-se uma clara interacção genética/ambiente. Com efeito, a componente genética é poderosa, atribuindo – se particular importância a genes transportadores e receptores da dopamina, designados por DAT1 e DRD4, respectivamente. Anomalias estruturais e funcionais cerebrais estão também relacionadas com esta patologia, envolvendo igualmente mecanismos dopaminérgicos (1) . O componente ambiental não será tão poderoso, mas tem a sua importância por si e particularmente por potenciar a predisposição genética (e orgânica). Vejamos alguns factores ambientais que têm sido correlacionados com a PDAH. Corantes e conservantes, nomeadamente o benzoato de sódio, parecem envolvidos como o sugere o artigo que escolhemos para comentar. Para todas as crianças e especialmente para as que têm PDAH alicerçada na genética e na organicidade, reduzir ou mesmo retirar estes aditivos constitui uma excelente medida, não muito difícil de cumprir, bastando que o regime alimentar seja o mais natural possível. E por falar em regime alimentar e bem natural, amamentar durante longo tempo conduz aos 4 anos a melhoria da atenção e do comportamento e a redução de hiperactividade, seja porque o leite materno é uma fonte de ácidos gordos de cadeia muito longa e porque o contacto físico e interacção psicológica resultantes da amamentação contribuem para o desenvolvimento do sistema límbico e suas conecções cerebrais(2). Mais uma esperada vantagem da amamentação e do cumprimento das leis da natureza. A carência de ferro, diagnosticada por diminuição da ferritina, foi apontada como um factor etiológico da PDAH, podendo os doentes beneficiar com terapêutica marcial. De salientar que não devemos esperar pela anemia, pois esta não foi encontrada nos doentes. Baixos níveis de ferro no cérebro podem influenciar a função dopaminérgica e consequentemente a sintomatologia que é tão artigo recomendado 239 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 mais marcada quanto maior o défice de ferro(3). A doença celíaca exprime-se por um quadro clínico tão variado, podendo estar presente a PDAH(4). Ver muita televisão é um factor de risco? Pode ser(5,6). Nem todos estão de acordo(7). Dois trabalhos recentes estudando adolescentes que viam televisão muito tempo (> 3horas/ dia) demonstraram que tinham riscos de problemas de atenção de longa duração(8,9). Christakis protesta contra os pediatras que nas suas preocupações com a toxicidade ambiental se lembram do chumbo, dos pesticidas e dos ácaros domésticos (eu acrescentaria fumo de tabaco) e excluem a exposição excessiva à televisão. Para este autor, ver excessivamente televisão constitui assim uma exposição tóxica(10). Os trabalhos deste investigador têm continuado e sugerem um real efeito da exposição excessiva na perturbação da atenção, particularmente se antes dos 3 anos e com programas não educacionais e particularmente violentos(11), e ainda com comportamentos anti-sociais(12). Ainda a propósito de televisão e jogos de vídeo, parece haver uma influência negativa no sono, aprendizagem e memória das crianças, o que amplia as consequências da concomitante PDAH(13). Fumar durante a gestação constitui um factor de risco para o aparecimento de PDAH(14, 15). A exposição do feto ao álcool pode ter como consequência a Síndrome fetal alcoólica ou perturbação do espectro fetal alcoólico, como recentemente foi proposto, em que uma das manifestações comportamentais mais características é a PDAH(16,17). A exposição a outros tóxicos ambientais como mercúrio e compostos policlorinados conduz à PDAH(18). Os distúrbios respiratórios do sono, nomeadamente a síndroma da apneia nocturna, podem levar a manifestações de PDAH. E como se podem apresentar, antes da apneia por quadros mais discretos (ainda que progressivos), __________ 1 Professor de Pediatria do ICBAS/HGSA 240 artigo recomendado como ressonar, resistência das vias aéreas e hipoventilação, é prudente, ao avaliarmos uma criança com PDAH, inquirir da existência destas perturbações respiratórias do sono, muito prevalentes e esquecidas pelos médicos(19-22). Complicações da gestação e parto como toxemia, má saúde materna, prematuridade e baixo peso, e duração do trabalho de parto também se podem relacionar com a PDAH(23). Agressões físicas e psicossociais podem contribuir para o desenvolver ou agravar de manifestações da PDAH(1,18). São portanto variados os factores ambientais que podem originar ou contribuir para o despertar e/ou agravar a PDAH. A maioria deles pode ser facilmente prevenida, ou pelo menos sabemos como prevenir. Planeando e vigiando a gestação, não fumando e bebendo durante a gestação, tendo cuidados alimentares adequados como amamentar e reduzir corantes e conservantes, respeitando a fisiologia do sono e rastreando regularmente as perturbações respiratórias do sono, estando atentos à doença celíaca, doença de prevalência elevada e manifestações atípicas, limitando as horas de exposição à televisão/vídeo e assegurando o cumprimento dos direitos da criança, reduziremos significativamente uma perturbação com carácter de saúde publica. Tojal Monteiro Nascer e Crescer 2007; 16(4): 239-241 BIBLIOGRAFIA 1. Raishevich N, Jensen P. Attentiondeficit Hyperactivity Disorder. In: Behrman RE, Kliegmann RM, Jenson HB, Stanton B F. Nelson Texbook of Pediatrics. 18 th ed. Philadelphia, PA: Saunders Elsevier; 2007:146-150. 2. Julvez J, Ribas-Fitó N, Forns M, Garcia-Esteban R, Torrent M e Sunyer J. Attention behaviour and hyperactivity at age 4 and duration of breast-feeding. 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J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 1993; 32:1302-1307. artigo recomendado 241 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Early adolescent outcomes for institutionally deprived and non-deprived adoptees. I: Disinhibited attachment Michael Rutter, Emma Colvert, Jana Kreppner, Celia Beckett, Jenny Castle, Christine Groothues, Amanda Hawkins, Thomas G O’Connor, Suzanne E Stevens, and Edmund J.S. Sonuga-Barke Journal of Child Psychology and Psychiatry, 48: 1 (2007), pp 17-30 Background: Disinhibited attachment is an important sequel of an institutional rearing, but questions remain regarding its measurement, its persistence, the specificity of the association with institutional rearing and on whether or not it constitutes a meaningful disorder. Method: Children initially reared in profoundly depriving institutions in Romania and subsequently adopted into UK families were compared with respect to findings at 11 years with children who had not experienced institutional deprivation and who had been adopted within the UK before the age of 6 months. Measures included parental reports, a COMENTÁRIOS Este interessante estudo, orientado por um ilustre pedopsiquiatra inglês, Professor Michael Rutter, produz mais provas científicas sobre os efeitos nefastos da institucionalização de crianças, particularmente quando afecta o primeiro ano de vida. O trabalho compara um grupo de crianças que sofreu experiências de privação em instituições na Roménia e que vieram posteriormente a ser adoptadas por famílias inglesas, com um grupo de crianças que foram adoptadas durante o primeiro semestre de vida no Reino Unido. René Spitz foi pioneiro nos estudos sobre os efeitos da institucionalização em crianças, através da observação das reacções nestas. Depois dele, também Bowlby e Stern desenvolveram esta temática, comprovando que as crianças ficavam afectadas no processo de vincu- 242 artigo recomendado Strange Situation procedure modified for use in the home and systematic standardised investigator ratings of the children’s behaviour. Results: Disinhibited attachment, as reported by parents, showed a high degree of persistence from 6 to 11, but also a reduction over time in its frequency. Investigator ratings validated the parental reports but suggested that much of the fall in rate of disinhibited attachment was a function of the parental measure being less developmentally appropriate at 11 than it had been at 6. Disinhibited attachment was strongly associated with institutional rearing but there was not a signi- lação e no estabelecimento de relações inter-pessoais. Apesar destes estudos, a institucionalização é uma prática frequente, particularmente no nosso país. Os autores começam por relembrar na sua introdução ao assunto, que a vinculação desinibida já é reconhecida como uma sequela da institucionalização de crianças. Este conceito corresponde à tendência que as crianças mostram para um padrão intenso de comportamento de procura de atenção, associado a uma relativa falta de selectividade nas relações sociais. Este padrão encontrase em crianças institucionalizadas que receberam cuidados em grupo de múltiplos cuidadores e rotativos, numa fase precoce de vida. Pode considerar-se que é uma resposta adaptativa a uma situação social anormal. Se as crianças têm que lidar com um elevado número de cuidadores (podem ser de 50 a 70) ficant increase in relation to duration of institutional deprivation beyond the age of 6 months. Mild, but not marked, disinhibited attachment was quite frequent in noninstitutionalised adopted children but both the course and correlates indicated that its meaning was probably quite different. In the institution-reared children, disinhibited attachment was associated with a marked increase in service usage and associations with other forms of psychopathology. Conclusions: Disinhibited attachment constitutes a valid, and handicapping, clinical pattern that is strongly associated with an institutional rearing. não seria adaptativo se as crianças desenvolvessem apenas algumas vinculações selectivas com adultos que só raramente estariam disponíveis. Além disso, nestes contextos, elas podem necessitar de procurar a atenção e de se agarrar para obter mais cuidados. Apesar destas explicações, sabe-se que este padrão nas relações sociais, tende a persistir quando são adoptadas em famílias com bom funcionamento, independentemente da qualidade dos cuidados que receberam nas instituições. Estas características são descritas nos manuais de classificação como Perturbação Reactiva da Vinculação – tipo desinibido. Correspondem à ausência de relações de grande proximidade, uma familiaridade indiscriminada, com falta de diferenciação nas respostas a adultos diferentes, tendência a acompanhar estranhos com facilidade e a não NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 procurar o progenitor em situações de ansiedade. O mesmo autor já tinha acompanhado este grupo de crianças adoptadas de instituições da Roménia até aos 6 anos, verificando a persistência destas características desde os 4 anos, bem como dos efeitos da privação institucional. Colocou a hipótese de reflectirem consequências na estrutura e funcionamento do cérebro, como forma de adaptação ao ambiente num período de desenvolvimento sensível. Deste modo, esta “programação biológica”, a existir, teria que persistir na infância média e início da adolescência. Se esta hipótese não estivesse correcta, então, as características adaptativas no período de institucionalização, teriam agora que diminuir num contexto mais favorável. O presente estudo acompanha o desenvolvimento das mesmas crianças dos 6 para os 11 anos. Procura desenvolver métodos de estudar a vinculação desinibida – a sua medição, a persistência, a especificidade da associação com a institucionalização e também avaliar o seu significado clínico. Foram avaliadas 165 crianças adoptadas no Reino Unido entre Fevereiro de 1990 a Setembro de 1992 (58 tinham menos de 6 meses, 59 entre 6-24 meses e 48 entre 24-42 meses), provenientes de instituições da Roménia com profunda privação. A maioria entrou nas instituições no período neonatal, não tinham contactos com os pais biológicos e não tinham incapacidades reconhecidas. Foram comparadas com 52 crianças nascidas no Reino Unido e colocadas em famílias adoptivas entre os 0-6 meses, que não tinham estado institucionalizadas ou sofrido privação grave. Das crianças romenas, 21 das avaliadas não tinham sido institucionalizadas mas tinham sofrido privação familiar; este grupo, embora pequeno, possibilitou algumas comparações estatísticas. As medidas de estudo incluíram: entrevistas com os pais, adaptação da Situação Estranha, para avaliação da vinculação e avaliações estandardizadas do comportamento das crianças pelos investigadores. Todas as famílias adoptantes eram da classe média e foram visitadas pelo 4º, 6º e 11º aniversários. Fez-se um registo em vídeo das entrevistas aos pais, que preencheram questionários sobre o comportamento e relacionamento familiar. As crianças foram observadas três meses depois: aplicaram-se instrumentos do nível cognitivo e do desenvolvimento. Aos 11 anos foram entrevistadas e completaram questionários sobre o ajustamento comportamental e emocional, a relação com os pares e a família. A interacção que as crianças estabeleciam com os investigadores era depois analisada: a violação das fronteiras através de uma desinibição global e quantidade de comentários espontâneos; o contacto físico era também avaliado pelos contactos físicos intrusivos e não solicitados, a proximidade física não confortável e os contactos íntimos da iniciativa da criança, como falar ao ouvido do investigador. Os professores também preencheram questionários sobre o comportamento Relativamente às crianças romenas foram obtidos dados sobre a sua situação à entrada no Reino Unido, através dos registos médicos ou informações dos pais adoptantes: duração da privação institucional – considerou-se um período mínimo de duas semanas, sendo que a maioria tinha estado mais de metade ou toda a vida em instituições – o tipo de cuidados individualizados – relacionados com o número e mudanças do staff e ainda o estado da criança – peso, perímetro cefálico, desenvolvimento físico e pela escala de Denver. Foram avaliadas medidas relativas ao ambiente do lar adoptivo: as qualidades educativas e possíveis factores de risco do funcionamento familiar. O sub-grupo de crianças romenas cuja institucionalização não ultrapassou os 6 meses apresenta resultados similares às crianças inglesas. Nos outros subgrupos, há uma persistência da vinculação desinibida, ainda que seja menor a proporção da forma marcada, que se caracteriza pela falta de selectividade nas respostas a dar a adultos diferentes, uma forte indicação de que a criança pode acompanhar facilmente estranhos e ausência de procura de apoio nos pais em situações geradoras de ansiedade. Mostram mais alterações com significado es- tatístico no contacto físico e na violação das fronteiras do espaço inter-pessoal. Esta persistência ocorre pelo menos num período de 7 anos de adaptação em famílias com um bom funcionamento global. Estes dados vêm apoiar a hipótese de uma forma de alteração intra-organísmica que leva alguns meses a estabelecer-se, mas que, para além deste período os efeitos não aumentam com a duração da institucionalização. Estas crianças, apresentam uma maior taxa de utilização de serviços de saúde mental, problemas cognitivos, dificuldades na relação com os pares, problemas de inatenção/hiperactividade e de conduta. Sofrem ainda de mais problemas emocionais que o grupo controle. As crianças romenas, que não foram institucionalizadas, mas que sofreram privação, apresentam índices mais baixos de vinculação desinibida. Nas crianças inglesas, a maior parte dos casos de desinibição cessa pelos 11 anos, e não tem significado clínico. A principal conclusão que os autores retiraram desta pesquisa é a de que a vinculação desinibida é um padrão clínico válido e incapacitante, e que está fortemente associada à institucionalização. A institucionalização de crianças e jovens é uma necessidade crescente em todo o mundo, decorrente sobretudo dos fenómenos da pobreza, dissolução das famílias e o aumento das denúncias de abuso e negligência. Têm sido desenvolvidas respostas mais apropriadas às necessidades afectivas e educativas das crianças, como o recurso à adopção, famílias de acolhimento, unidades de dia, residências, etc. Contudo, estas práticas nem sempre se revelam suficientes em número ou em qualidade, ou até de utilização suficientemente célere. Existem no nosso país famílias de acolhimento que acolhem crianças por vários anos, propiciando novas rupturas nos vínculos afectivos, ou crianças que crescem em instituições até que só muito tardiamente são orientadas para processos de adopção, apenas por se julga suficiente um contacto com os pais biológicos que frequentemente não satisfaz as necessidades daquelas. artigo recomendado 243 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 A institucionalização é também condicionada pelas políticas de protecção da criança: ou se canalizam mais recursos para ajudar as famílias problemáticas a manter a guarda das crianças ou então para as colocar fora das famílias. Face aos conhecimentos existentes sobre as consequências da institucionalização, esta deveria ser usada com muita parcimónia e sempre com a consciência de que não se decidiu no melhor interes- __________ 1 Pedopsiquiatra do H.Maria Pia/CHP 244 artigo recomendado se da criança. É uma prática inaceitável quando atinge e se prolonga durante o primeiro ano de vida. Este estudo pode também ajudar os profissionais de saúde a reconhecer as relações sociais anómalas das crianças institucionalizadas, que podem ser confundidas como sociabilidade fácil e valorizadas como traços temperamentais positivos. Maria do Carmo Santos Nascer e Crescer 2007; 16(4): 242-244 BIBLIOGRAFIA 1. Kiser LJ. Children and Adolescents in Institutions. In Noshpitz JD. Handbook of Child and Adolescent Psychiatry. Vol. 7 Advances and New Directions. pp 120-134. John Wiley & Sons, Eds, 1998, EUA. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Conceitos e Critérios de Morte Ferraz Gonçalves1 RESUMO Através dos tempos os conceitos da morte e os critérios para a determinar evoluíram, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. No início, era observando se um individuo respirava ou não que se determinava se estava vivo ou morto. Depois, com o aparecimento do estetoscópio, a existência ou não de batimentos cardíacos passou a ser determinante. Com a invenção da reanimação cárdio-pulmonar e da ventilação mecânica e o início da transplantação de órgãos, a morte passou a ser determinada pela perda das funções cerebrais totais ou do tronco cerebral. Alguns filósofos e eticistas consideram ainda que deve ser pela perda irreversível das funções cerebrais superiores, as que fazem de nós pessoas, que se determina a morte. Nascer e Crescer 2007; 16(4): 245-248 INTRODUÇÃO Embora as pessoas falem muitas vezes como se não fizessem parte da natureza, na verdade somos um dos seus produtos e estamos dependentes dela. Por isso, como sucede com todos os outros seres vivos, todos os que pertencem à nossa espécie morrem. É o que temos de mais certo, como diz o povo. Na verdade, só existimos porque a morte é uma realidade natural. Se não houvesse morte não haveria renovação nem evolução, pelo que a diversidade da vida que hoje existe e, portanto, nós próprios não existiríamos. Tememos, em geral, a morte, e, portanto, não a desejamos. Como di__________ 1 Unidade de Cuidados Paliativos – IPO Porto ria Woody Allen “Não é que eu tenha medo da morte; eu apenas não quero estar lá quando isso acontecer” ou “Não quero atingir a imortalidade com o meu trabalho, mas sim não morrendo”. A racionalidade desse medo tem sido alvo de reflexão por muita gente, entre os quais se incluem, como é natural, os filósofos. De facto, a morte é um tema central da filosofia, e como sempre o modo como o tema é encarado é muito variado. Por exemplo, para Montaigne “filosofar é aprender a morrer “(1), o que significa que o melhor modo de lidar com a questão, é pensar nela frequentemente. Opinião diferente é a de Espinoza para quem “O homem livre em nada pensa menos que na morte; e a sua sabedoria não é uma meditação da morte, mas da vida”(2). Já para Epicuro, “a morte não é nada para nós ... porque quando estamos vivos, a morte não veio, e quando a morte vem, nós já não estamos”(3). O que significa que enquanto estamos vivos a morte não nos afecta e que estando mortos nada sentimos e, portanto, estar morto não pode ser mau para quem morre. Há, porém, pessoas que desejam a morte. Esse desejo advém do sofrimento, seja qual for a sua origem. Mas a grande maioria não a deseja, mesmo quando sofre, por vezes intensamente. Como diria Schopenhauer, a negação da vontade de viver consiste na fuga dos prazeres, não do sofrimento da vida. Isto quer dizer que, no fundo, não é morrer que as pessoas que sofrem querem, mas verem-se livres desse sofrimento. Quem, genuinamente, não quer viver, foge aos prazeres da vida e não ao sofrimentos. O termo morte é vulgarmente usado em vários sentidos. Pode significar o fim de alguma coisa ou de uma época. No seu sentido real, o termo morte é usado significando umas vezes morrer, outras estar morto e no seu sentido correcto. Morrer é o processo que conduz a estar morto e que ocorre em vida, portanto, pode ser experimentado; quando se diz que a morte de alguém foi muito longa, usa-se o termo no sentido de morrer. Estar morto é um estado que ocorre após a morte, não fazendo parte da vida. A morte está entre o morrer e o estar morto. CONCEITOS E CRITÉRIOS DE MORTE O conceito de morte diz-nos o que a morte é. O critério ou os critérios de morte são as condições que nos permitem determinar se um indivíduo está morto segundo esse conceito. O conceito de morte pode ser encarado de vários pontos de vista como o religioso, o filosófico e o biológico. Contudo, os critérios de morte são indicadores biológicos. A determinação do momento da morte tem implicações importantes dos pontos de vista legal, social e ético. A morte a nível celular é um processo, não é um acontecimento. As células não morrem todas ao mesmo tempo. É por isso que as unhas e o cabelo podem continuar a crescer ou que a pele pode ser usada para transplantação 24 horas após a paragem cardíaca. Então, o que há que determinar é o ponto em que a situação se tornou irreversível, independentemente dos meios que se possam empregar, e não se todas as células do corpo estão mortas. O momento em que foi determinado esse ponto é o momento da morte. Determinar se alguém está morto parece ser fácil e é-o geralmente. Porém, os conceitos de morte podem incluir, além dos aspectos biológicos, elementos de ordem filosófica, moral e religiosa, havendo discordâncias inconciliáveis entre alguns desses conceitos. perspectivas actuais em bioética 245 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 A determinação da morte como uma actividade médica, é um diagnóstico, e como tal pode produzir resultados falsamente negativos ou positivos. Uma consequência dramática de um resultado falsamente positivo, isto é, considerar morto alguém que de facto está vivo, é enterrálo vivo. Esta possibilidade é reconhecida, pelo que sempre se tomaram precauções para a evitar. Os rituais religiosos e outros relacionados com a morte, como a higiene e exposição do corpo, deixar o rosto descoberto e o intervalo até à inumação são exemplos dessas precauções. Havia também o hábito de chamar em voz alta por três vezes o nome do presumido defunto – conclamatio(5). Ainda hoje o papa é chamado três vezes pelo seu nome de baptismo na sua morte. Mesmo actualmente, para assegurar que a situação é definitiva, a autópsia ou a inumação do corpo não é permitida em muitos países antes de passarem 24 horas da verificação do óbito. A MORTE CÁRDIO-RESPIRATÓRIA O modo tradicional de determinar a morte foi a paragem respiratória. O momento em que se deixava de respirar era o momento da morte. E assim foi até ao final do século XIX. Depois, com a descoberta do estetoscópio e da auscultação, passou a basear-se na paragem cardíaca (1), prática que ainda hoje se usa para a maioria das situações. Contudo, após a invenção da ventilação artificial boca a boca e da massagem cardíaca externa, nos anos 50 do século XX, foi possível, em alguns casos, reverter a paragem cardíaca e respiratória. E o aparecimento dos ventiladores e das unidades de cuidados intensivos na mesma época tornaram possível manter artificialmente a função cárdio-respiratória. Assim, o que era tido como certo, passou a não o ser. Como disse atrás é pela paragem cárdio-respiratória que ainda hoje se determina se alguém está morto, na maioria dos casos. Mas do desenvolvimento da reanimação cárdio-respiratória e das técnicas e dispositivos de suporte da vida resultou em que alguns doentes com a função respiratória artificialmente mantida tinham perdido totalmente a função cere- 246 bral. Pela definição cárdio-respiratória de morte estes doentes estavam vivos. A MORTE DO TRONCO CEREBRAL/ MORTE CEREBRAL GLOBAL (HOLOCEREBRAL) A manutenção de indivíduos, cuja função cerebral total ou do tronco cerebral se tinha perdido definitivamente, ligados a ventiladores até à paragem cardíaca originou problemas legais, éticos, psicológicos e económicos. “Ventilar um cadáver”(6) não beneficiava ninguém, nem o próprio, nem os profissionais nem os familiares. Sobretudo estes que viam o processo arrastar-se por tempo indeterminado com custos inerentes a nível emocional mas também financeiro, dependendo do sistema de saúde. Havia também custos para a sociedade em geral. Na mesma época assistiu-se ao desenvolvimento das técnicas de transplantação com a consequente necessidade de órgãos viáveis, que têm mais probabilidade de serem obtidos se forem extraídos de um corpo funcionante. De facto, nos anos 50 do século XX começaram a fazer-se os primeiros transplantes renais e no final dos anos 60 do mesmo século fez-se o primeiro transplante cardíaco. Tudo isto criou uma necessidade de alterar o conceito de morte que já não estava de acordo com a nova realidade, colidindo muitas vezes com o bom senso e com a necessidade de beneficiar outras pessoas com os novos desenvolvimentos da medicina. Em 1959, Mollaret e Goulon(7) deram o nome de coma ultrapassado (coma dépassé) ao estado dos doentes que tinham perdido as funções cerebrais incluindo as funções vegetativas. Em 1968, a Comissão Ad Hoc da Harvard Medical School propôs que fosse declarada a morte de um indivíduo em coma irreversível, antes de se desligarem os meios de suporte(8). Aqui a designação foi de coma irreversível, em vez de coma ultrapassado, e foi descrito como um estado de não reactividade, sem movimento, respiração ou reflexos, e um electroencefalograma plano. Na Inglaterra o critério de morte cerebral é a morte do tronco cerebral, o que não é muito diferente visto que a morte do tronco cerebral implica a cessação da actividade cerebral(4). perspectivas actuais em bioética Com este novo conceito pretendia-se que doentes que tinham perdido irreversivelmente a actividade cerebral, portanto, sem hipóteses de sobreviver sem suporte intensivo, não fossem mantidos indefinidamente ligados a um ventilador, sem que tirassem disso algum benefício, e facilitar a colheita de órgãos para transplantação. Os critérios para determinar a morte cerebral evoluíram desde os que foram expressos acima, tornando-se mais precisos para evitar a maior preocupação expressa relativamente a esta definição de morte, que era a de um estado de inconsciência reversível poder ser diagnosticado como morte cerebral. No Quadro 1 podem ver-se os critérios em vigor em Portugal, onde foi adoptado o conceito de morte do tronco cerebral(9). É de reforçar a ideia de que estes critérios de morte cerebral só necessitam de ser determinados quando as funções respiratórias e circulatórias são mantidas artificialmente, bastando nas outras situações determinar a morte pela paragem cárdio-respiratória, porque a esta se segue fatalmente a morte cerebral, dentro de poucos minutos. O conceito de morte cerebral total ou de morte do tronco cerebral é seguido na maioria dos países. No entanto, foi rejeitado durante algum tempo em países com culturas tão diferentes, como Japão e a Dinamarca, por razões religiosas, éticas e filosóficas(10), mas a procura de órgãos para transplante fez com que tenha acabado por ser aceite nesses países. O conceito de morte cerebral parece ser compatível com as crenças católica, protestante, ortodoxa, judaica e islâmica sobre a natureza da morte(11). A MORTE CEREBRAL SUPERIOR (NEOCORTICAL) Embora, em termos práticos, a questão da morte esteja resolvida para já, há pelo menos mais uma concepção diferente da morte. Esta resulta, entre outras, da questão do estado vegetativo persistente (EVP). No EVP há dano cerebral de causas diversas com perda das funções cerebrais superiores que controlam a consciência, a cognição e as emoções, mas as funções do tronco cerebral que permitem manter funções NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 corporais, entre as quais a respiração, e ciclos de sono-vigília mantêm-se(12). Este estado pode ser reversível, mas ao fim de alguns meses, dependendo da causa e da idade do doente, a recuperação tornase improvável(12,13). Como há funções cerebrais, nomeadamente as do tronco cerebral, estes doentes não estão incluídos na definição de morte cerebral global ou de morte do tronco cerebral. Há, porém, quem defenda o conceito de morte cerebral superior argumentando que nessas circunstâncias o indivíduo já não é uma pessoa, porque o conceito de pessoa implica a existência de consciência e a capacidade de tomar decisões e assumir responsabilidades e não apenas a capacidade de manter algumas funções orgânicas. Portanto, os doentes em EVP estariam mortos como pessoas, visto que perderam irreversivelmente a consciência. Os defensores deste conceito de morte afirmam que no conceito de morte do tronco cerebral ou cerebral global, o cérebro é considerado um órgão controlador e integrador das funções dos sistemas orgânicos, sendo a sua função como responsável pela consciência, a sua função mais nobre, vista como não essencial(14,15). A determinação da morte segundo este conceito é mais difícil, devido aos problemas que envolvem a determinação da irreversibilidade da perda da função cerebral no EVP e até o seu diagnóstico, tendo-se detectado casos de diagnósticos errados de EVP(16). Neste conceito há ainda uma questão de intensidade, de que não está completamente isento o conceito de morte cerebral global. Isto é, quanta consciência é necessário ter para se considerar que a pessoa está viva. Este aspecto pode ser particularmente importante em situações como doentes com demências, em que há uma perda gradual da função cognitiva, pelo que não seria fácil determinar quando se poderiam considerar mortos pela definição de morte cerebral superior. Este conceito de morte envolve ainda problemas de ordem emocional e social resultantes de, nessas circunstâncias, os parentes e amigos do indivíduo e a sociedade em geral, aceitarem que quem respira espontaneamente possa estar morto. OS RECÉM-NASCIDOS ANENCEFÁLICOS COMO DADORES DE ÓRGÃOS A anencefalia é uma anormalidade do desenvolvimento do sistema nervoso central que resulta na ausência congéni- ta do cérebro, crânio e couro cabeludo . Como estes recém-nascidos não têm córtex cerebral, não têm nem podem vir a ter qualquer grau de consciência reflexiva. No entanto, tal como acontece no EVP, o seu tronco cerebral funciona total ou parcialmente, por isso mantêm pelo menos algumas funções do corpo como a respiração, a sucção, movimentos espontâneos, etc. A maioria desses recém-nascidos morre no primeiro dia e menos de 10% sobrevive mais do que uma semana. A escassez de órgãos para transplante em crianças levou a que se considerasse a possibilidade de colher órgãos nos recém-nascidos anencefálicos, nomeadamente alguns pais destas crianças que assim veriam uma finalidade no nascimento do seu filho pelo bem que resultaria para outras criança da doação dos órgãos. Porém, estas crianças não estão mortas, segundo o conceito vigente de morte cerebral total ou de morte do tronco cerebral, condição necessária para se poder fazer a colheita de órgãos. Por outro lado, a colheita dos seus órgãos depois da morte natural dos recém-nascidos com anencefalia permite o sucesso em apenas um em cada nove transplantes(18). (17) Quadro I - Critérios de morte cerebral A certificação de morte cerebral requer a demonstração da cessação das funções do tronco cerebral e da sua irreversibilidade. I - Condições prévias II - Regras de semiologia III - Metodologia Para o estabelecimento do diagnóstico de morte cerebral é necessário que se verifiquem as seguintes condições: 1) Conhecimento da causa e irreversibilidade da situação clínica; 2) Estado de coma com ausência WWde resposta motora à estimulação dolorosa na área dos pares cranianos; 3) Ausência de respiração espontânea; 4) Constatação de estabilidade hemodinâmica e da ausência de hipotermia, alterações endócrino-metabólicas, agentes depressores do sistema nervoso central e ou de agentes bloqueadores neuromusculares, que possam ser responsabilizados pela supressão das funções referidas nos números anteriores. 1) O diagnóstico de morte cerebral implica a ausência na totalidade dos seguintes reflexos do tronco cerebral: a. Reflexos fotomotores com pupilas de diâmetro fixo; b. Reflexos oculocefálicos; c. Reflexos oculovestibulares; d. Reflexos corneopalpebrais; e. Reflexo faríngeo. 2) Realização da prova de apneia confirmativa da ausência de respiração espontânea. A verificação da morte cerebral requer: 1) Realização de, no mínimo, dois conjuntos de provas com intervalo adequado à situação clínica e à idade; 2) Realização de exames complementares de diagnóstico, sempre que for considerado necessário; 3) A execução das provas de morte cerebral por dois médicos especialistas (em neurologia, neurocirurgia ou com experiência de cuidados intensivos); 4) Nenhum dos médicos que executa as provas poderá pertencer a equipas envolvidas no transplante de órgãos ou tecidos e pelo menos um não deverá pertencer à unidade ou serviço em que o doente esteja internado. perspectivas actuais de bioética 247 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Haveria três possibilidades de resolver este problema(18): 1) os recém-nascidos anencefálicos serem considerados mortos, porque não têm possibilidade de virem a ter consciência e a sua sobrevivência é muito curta; 2) adoptar a definição de morte cerebral superior; ou 3) considerar os recém-nascidos anencefálicos um grupo especial aplicando-lhes leis especiais. O “Council on Ethical and Judicial Affairs” da Associação Médica Americana (AMA) começou por concluir que a doação de órgãos de crianças anencefálicas só era legítima após a sua morte, quer ela tenha ocorrido por cessação da função cardíaca ou da função cerebral, mas depois mudou de opinião para mais tarde voltar à posição inicial(17). As mudanças de opinião descritas mostram bem as dificuldades que esta questão envolve e que têm a ver com questões éticas, mas também com os desenvolvimentos científicos, com os sentimentos individuais e com a opinião pública. CONCLUSÃO O conceito de morte do tronco cerebral ou cerebral global, resultante de problemas e soluções que a evolução recente da medicina foi criando, é aceite universalmente por razões éticas, mas sobretudo por razões práticas, nomeadamente, a sua aceitabilidade pela generalidade das pessoas e a necessidade de obter órgãos para transplantação. O progresso futuro da medicina continuará, provavelmente, a resolver alguns problemas e a criar outros. As respostas a esses problemas serão também orientadas por razões de ordem prática ficando em segundo plano a reflexão filosófica e ética. CONCEPTS AND CRITERIA OF DEATH ABSTRACT The concept of death and definition of death have evolved, particularly in the second half of the XXth century. Initially 248 observation of breathing determined the definition of death but with the development of the stethoscope the emphasis changed to the existence or absence of a heartbeat. Following the invention of cardiopulmonary reanimation and mechanical ventilation, coupled with the start of organ transplant techniques, death is currently determined by loss of function of the whole brain or of the brain stem. Some philosophers and ethicists consider that irreversible loss of the higher mental functions, which make people what they are, is the absolute determinant of death Nascer e Crescer 2007; 16(4): 245-248 BIBLIOGRAFIA 1. Murphy JG. Rationality and the fear of death. Em: Fischer JM, ed. The metaphysics of death. Stanford, California: Stanford University Press; 1993:43-58. 2. Espinoza B. Da servidão humana ou das forças das afecções: proposição LXVII. Em Espinoza B. Ética. Lisboa: Relógio D´Água Editores, 1992:423-424. 3. Rosenbaum SE. How to be dead and not care: a defence of Epicurus. Em: Fischer JM, ed. The metaphysics of death. Stanford, California: Stanford University Press; 1993:117-134. 4. Faria R. O diagnóstico de morte: morte cerebral. Em: Archer L, Biscaia J, Osswald W, eds. Bioética. Lisboa: Editorial Verbo; 1996:372-377. 5. Ariès P. O morto-vivo. Em: Ariès P, ed. O Homem perante a morte – II. Mem Martins: Publicações EuropaAmérica 1988;122-134. 6. Pallis C. 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CORRESPONDÊNCIA Dr. Ferraz Gonçalves Unidade de Cuidados Paliativos Instituto Português de Oncologia Rua Dr. António Bernardino de Almeida 4200-072 Porto E-mail: [email protected] ou [email protected] NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Gastroenteropatia Perdedora de Proteínas Associada a Co-infecção por Helicobacter Pylori e Vírus Citomegálico. Nádia Rodrigues1, Vanessa Portugal1, Lia Rodrigues1, Sofia Aroso2 RESUMO A gastroenteropatia perdedora de proteínas (GEPP) está associada a distúrbios gastrointestinais e não gastrointestinais diversos. Citomegalovírus (CMV) e Helicobacter pylori (HP) têm sido apontados como possíveis agentes etiológicos. Apresentamos um caso clínico de uma criança de 13 meses com edemas palpebrais e maleolares com 48 horas de evolução, hipoproteinemia com hipoalbuminemia e hipogamaglobulinemia de instalação aguda, internada para estudo etiológico. Após exclusão das causas renais e hepáticas, a GEPP tornou-se a hipótese diagnóstica mais provável. A endoscopia digestiva alta foi normal, mas no exame histológico do produto de biópsia foi evidente gastrite crónica com sinais de actividade e duodenite associadas à presença de HP na mucosa. A pesquisa de CMV por PCR (protein chain reaction) foi positiva na biópsia gástrica e duodenal. A evolução foi favorável, espontânea e auto-limitada. Palavras chave: Gastroenteropatia perdedora de proteínas; Enteropatia perdedora de proteínas; Citomegalovírus; Helicobacter pylori; Hipoproteinemia; Hipoalbuminemia. Nascer e Crescer 2007; 16(4): 249-250 INTRODUÇÃO A perda excessiva de proteínas através do aparelho gastrointestinal associa-se a um vasto grupo de distúrbios gastrointestinais e não gastrointestinais que cursam __________ 1 2 Interna Complementar de Pediatria Assistente Graduada de Pediatria Departamento de Pediatria do Hospital Pedro Hispano com hipoproteinemia e edemas, na ausência de proteinúria ou defeitos de síntese. Em condições normais apenas 10% do catabolismo proteíco ocorre no aparelho digestivo(1). Na GEPP as perdas proteicas através da mucosa gastrointestinal podem ser superiores a 60%(1). Vários casos descritos de GEPP apontam para uma provável etiologia multifactorial, e as causas infecciosas têm sido apontadas como possíveis agentes etiológicos. Desde 1971 têm sido publicados casos de GEPP em idade pediátrica associados à infecção por CMV(2) e mais recentemente associados a infecções por HP(2, 3). A evolução clínica é favorável na maioria dos casos(4). CASO CLÍNICO R.A.S.M, sexo masculino, 13 meses, caucasiano, previamente saudável, sem antecedentes heredo-familiares relevantes. Observado no Serviço de Urgência Pediátrico do Porto (SuPP) por vómitos, diarreia e abdominalgias, tipo cólica, com 24 horas de evolução. Objectivamente apresentava apenas sinais de desidratação ligeira. O estudo analítico evidenciou leucocitose de 26.16x109/L com linfocitose (73.2% linfócitos), sem elevação da proteína C reactiva e sem alterações da função renal, ionograma, ou dos valores de proteínas totais e albumina. Teve alta para o domicílio com o diagnóstico de gastroenterite aguda, medicado com solução de hidratação oral e dieta obstipante. A evolução clínica foi favorável, com desaparecimento dos sintomas três dias após a observação no SuPP. Nove dias após a alta, retorna ao SuPP por edemas palpebrais e maleolares simétricos com 48 horas de evolução e de agravamento progressivo. Apresentava ao exame objectivo bom estado geral e nutricional, apirético, hemodinamicamente estável, corado e hidratado, sem outras alterações de relevo. Analiticamente foi evidenciada hipoproteinemia (3,07g/dl) com hipoalbuminemia (1,64g/ dl), sem alterações do hemograma, função renal, transamínases, e sem evidências de proteinúria. A criança foi submetida a internamento no Serviço de Pediatria do HPH para estudo etiológico da hipoproteinemia com hipoalbuminemia. Do estudo efectuado foi evidente também hipogamaglobulinemia (173,0 mg/dl). Sem alterações do hemograma, velocidade de sedimentação, função renal, hepática e tiroideia e estudo da coagulação. Pesquisa de proteínas em amostras seriadas de urina negativa. A ecografia abdominal demonstrou uma pequena lâmina de ascite periesplénica e no espaço de Morrison. O estudo permitiu assim excluir as etiologias renais e hepáticas, orientando-nos para a perda gastrointestinal de proteínas como hipótese diagnóstica mais provável. Foram também excluídas a doença celíaca e a intolerância às proteínas do leite de vaca. O exame parasitológico e virológico de fezes foi negativo, mas o exame bacteriológico de fezes foi positivo para Campylobacter spp. A endoscopia digestiva alta foi macroscopicamente normal. Os retalhos de biópsia mostraram lesões de gastrite crónica com sinais de actividade, associadas à presença de microorganismos de tipo Helicobacter pylori e lesões de duodenite grau 1. A pesquisa do DNA do CMV por PCR foi positiva em ambos os fragmentos de biópsia. A serologia para CMV não demonstrou evidências de uma infecção recente (IgG 23 UA/mL; IgM Negativo 0,62 UA/mL). ciclo de pediatria inter hospitalar do norte 249 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 O tratamento foi exclusivamente sintomático com dieta hiperproteíca, sendo a evolução clínica e analítica favorável com involução gradual e espontânea dos edemas, estabilização do peso e subida progressiva das proteínas séricas, apesar de não completamente normalizadas à data de alta (9º dia de internamento - proteínas totais 4,4 g/dL; albumina: 2,7 g/dL). Cinco semanas após a alta hospitalar a criança apresentava um ganho ponderal adequado, sem edemas e com níveis séricos de proteínas normalizados (proteínas totais 6,9 g/dL; albumina 4,1 g/dL). DICUSSÃO A perda de proteínas através da mucosa gástrica, tem sido mais frequentemente associada, na literatura, à Gastropatia Hipertrófica da Infância (Doença de Ménétrier). Esta rara entidade clínica de etiologia desconhecida tem um curso benigno, transitório e auto-limitado na infância, caracteriza-se macroscopicamente pela presença de pregas gástricas hipertróficas(1,2,5,6). Manifesta-se nos primeiros anos de vida, com predomínio no sexo masculino. Os edemas periféricos são a manifestação clínica principal, secundários à perda proteica gástrica. Muitos casos apresentam um pródromo inespecífico (vómitos, diarreia, dor abdominal, sintomas respiratórios altos, malestar, febre, etc)(2, 5). Neste caso clínico não foi obviada a presença de hipertrofia das pregas gástricas, pelo que não podemos estabelecer o diagnóstico de Doença de Ménétrier, mas foi comprovada inflamação activa da mucosa gástrica e duodenal que justificam a perda proteica. A Infecção pelo CMV foi evidenciada por identificação e isolamento do vírus por técnica de PCR na mucosa gástrica e duodenal. Mas para estabelecer uma relação causal entre infecção gastrointestinal por CMV e a GEPP é necessário para além da detecção do vírus na mucosa gástrica, a seroconversão e detecção da IgM-CMV, que não aconteceu neste caso clínico. Contudo, a presença do vírus na mucosa gástrica e duodenal não descarta a possibilidade do CMV ser um invasor secundário de uma mucosa lesionada e não o responsável etiológico primário. 250 Estudos recentes evidenciam uma possível relação causal entre GEPP e Infecção por HP, sendo que nos casos mais severos o tratamento de erradicação do HP resultou em cura (2, 7). A terapêutica de erradicação do HP em crianças é ainda controversa, pelo que não foi empregue neste caso clínico específico dada a espontânea evolução clínica e analítica. Em casos mais graves é de considerar a terapêutica específica para erradicação do HP. O Campylobacter spp. isolado nas fezes pode justificar o pródormo de vómitos, diarreia e abdominalgias, mas não justifica por si só a hipoproteinemia e as alterações endoscópicas. Poder-se-á considerar um possível evento desencadeador de uma patologia subjacente. Não existem relatos na literatura de GEPP associada a infecção por Campylobacter, apesar de outras causas bacterianas (Salmonella, Shigella ou Clostidium difficile), ou parasitológicas (Giardia) estarem descritas como etiologicamente associadas a perda gastrointestinal excessiva de proteínas(1). cobacter pylori (HP) have been pointed as possible etiologic agents. We present a clinical case of a child, 13 months age, with palpebral and maleolar edema with 48 hours of evolution, hypoproteinemia with hypoalbuminemia and hypogammaglobulinemia with an acute onset. After exclusion of renal and hepatic causes, PLGE became the most likely diagnostic hypothesis. Upper endoscopy was normal but the biopsy revealed chronic gastritis with activity signs and duodenitis. PCR (protein chain reaction) for CMV was positive in gastric and duodenal biopsy. Evolution was favourable, and resolution spontaneous. Key-words: Protein losing gastroenteropathy; Protein losing enteropathy; Cytomegalovirus; Helicobacter pylori; Hypoproteinemia; Hypoalbuminemia. Nascer e Crescer 2007; 16(4): 249-250 BILBLIOGRAFIA CONCLUSÃO A gastroenteropatia perdedora de proteínas dever-se-á considerar em crianças que se apresentem com hipoproteinemia e edemas de evolução aguda sem causa renal ou hepática que o justifique. Evidências recentes sugerem que causas infecciosas como a infecção pelo CMV e/ou pelo HP, estejam etiologicamente correlacionadas com a GEPP. Esta patologia é provavelmente subdiagnosticada, uma vez que apenas os casos com evolução clínica mais severa são submetidos a estudo etiológico. Mais estudos são necessários para esclarecer o papel destas infecções na etiologia GEPP. CYTOMEGALOVIRUS AND HLEICOBACTER PYLORI CO-INFECTION IN A PROTEIN LOSING GASTROENTEROPHY ABSTRACT Protein losing gastroenteropathy (PLGE) is associated with several gastrointestinal and non-gastrointestinal disorders. Cytomegalovirus (CMV) and Heli- ciclo de pediatria inter hospitalar do norte 1. Roy Proujansky, MD. “Protein-losing enteropathy”. Pediatric gastrointestinal disease. 3th edition. 8:89-94 2. P. Vilar et al; “Gastropatía hipertrófica pierde-proteínas en la infancia (enfermedade de Ménétrier infantil?); An Esp Pediatr; 2001; 54:43-46. 3. Badov D et al. “Helicobacter pylori as a pathogenic factor in Menetrie’s disease”; Am J Gastroenterol; 2000; 95(4):1091-2. 4. Xiao SY, Hart J. “Marked gastric foveolar hyperplasia associated with active cytomegalovirus enfection.” Am J Gastroenterol; 2001; 96(1):223-6. 5. A. 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Cada frasco para injectáveis de SAIZEN 8 mg click.easy contém Somatropina* (hormona do crescimento humana recombinante). *produzida pela tecnologia do ADN recombinante em células de mamífero. A reconstituição com o solvente bacteriostático contido no cartucho apresenta uma concentração de 5,83 mg por ml. Excipientes, ver secção “Lista de Excipientes”. FORMA FARMACÊUTICA: Pó e solvente para solução injectável. Pó branco liofilizado e solvente límpido e incolor. INFORMAÇÕES CLÍNICAS: Indicações terapêuticas - SAIZEN está indicado no tratamento de: - atraso do crescimento em crianças causado por secreção insuficiente ou inexistente da hormona do crescimento endógena; - atraso do crescimento em raparigas com disgenésia gonadal (Síndroma de Turner) confirmada por análise do cariotipo; - atraso do crescimento em crianças pré-pubertárias devido a insuficiência renal crónica (IRC). - atraso do crescimento (estatura actual < -2,5 Desvio Padrão (DP) e estatura ajustada à dos progenitores < -1 DP) em crianças pequenas com baixa estatura para a idade gestacional (SGA “Small for Gestational Age”), com um peso e/ou comprimento à nascença inferior a –2 DP, que não conseguiram uma recuperação do crescimento (DP da velocidade de crescimento <0 durante o último ano) até aos 4 ou mais anos de idade. Terapêutica de substituição em adultos com deficiência pronunciada de hormona do crescimento, diagnosticada por um único teste dinâmico para deficiência de hormona do crescimento. Os doentes deverão também satisfazer os seguintes critérios: Início na infância: Os doentes com deficiência de hormona do crescimento diagnosticada na infância, deverão ser reavaliados, para confirmação da deficiência em hormona do crescimento, antes de iniciar o tratamento com SAIZEN. Início na idade adulta: A deficiência de hormona do crescimento no adulto deverá ser resultante de doença hipotalâmica ou hipofisária, e o doente deve apresentar pelo menos outra deficiência hormonal (excepto a prolactina), a qual deverá ser adequadamente tratada com terapêutica de substituição, antes do início do tratamento com hormona do crescimento. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: SAIZEN 8 mg click.easy destina-se a administração multidose. A posologia do SAIZEN deve ser individualizada para cada doente com base na superfície corporal ou no peso corporal. É recomendada a administração de SAIZEN ao deitar, nas doses seguintes: Atraso do crescimento devido a secreção insuficiente da hormona do crescimento endógena: 0,7-1,0 mg/m2 de superfície corporal, por dia, ou 0,025-0,035 mg/kg de peso corporal, por dia, por administração subcutânea. Atraso do crescimento em raparigas devido a disgenésia gonadal (Síndroma de Turner): 1,4 mg/m2 de superfície corporal ou 0,045 – 0,050 mg/kg de peso corporal, por dia, por administração subcutânea. A terapêutica concomitante com esteróides anabólicos não-androgénicos em doentes com Síndroma de Turner pode aumentar a resposta do crescimento. Atraso do crescimento em crianças pré-pubertárias devido a insuficiência renal crónica (IRC): 1,4 mg/m2 de superfície corporal, aproximadamente igual a 0,045-0,050 mg/kg de peso corporal, por dia, por administração subcutânea. Atraso do crescimento em crianças pequenas com SGA: A dose diária recomendada é 0,035 mg/kg de peso corporal por dia (ou 1 mg/m2/dia, igual a 0,1 UI/kg/dia ou 3 UI/m2/dia), por administração subcutânea. Duração do tratamento: O tratamento deve ser interrompido quando o doente tiver atingido uma estatura adulta satisfatória, ou quando as epífises estiverem fechadas. No atraso do crescimento em crianças pequenas com SGA, o tratamento é habitualmente recomendado até que se atinja a estatura final. O tratamento deve ser suspenso após o primeiro ano, se o desvio padrão da velocidade de crescimento for inferior a +1. O tratamento deve ser suspenso quando se atinge a estatura final (definida como velocidade do crescimento < 2 cm/ano) e, no caso de ser necessária a confirmação, a idade óssea seja >14 anos nas raparigas ou > 16 anos nos rapazes, o que corresponde ao encerramento epifisário. Deficiência de hormona do crescimento no adulto: No início do tratamento com somatropina, recomendam-se doses baixas, de 0,15 a 0,3 mg, administradas diariamente por injecção subcutânea. A dose deverá ser gradualmente aumentada, mediante controlo dos valores do Factor de Crescimento Insulin-like (IGF-1). A dose final recomendada de hormona do crescimento raramente excede 1,0 mg/dia. De modo geral deverá ser administrada a dose mínima eficaz. Nos doentes com mais idade ou com excesso de peso, poderão estar indicadas doses mais baixas. MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Para a administração da solução reconstituída para injecção de SAIZEN 8 mg click.easy, consulte as instruções do folheto informativo e do manual de instruções fornecido com o auto-injector seleccionado: o auto-injector one.click, o auto-injector sem agulha cool.click ou o auto-injector easypod. Consulte também a secção “Instruções de utilização/ manuseamento”. CONTRA-INDICAÇÕES: SAIZEN não deve ser utilizado em crianças em que tenha ocorrido a fusão das epífises. SAIZEN está contra-indicado em doentes com hipersensibilidade à Somatropina ou a qualquer um dos excipientes do pó para solução injectável ou do solvente. SAIZEN está contra-indicado em doentes com neoplasia activa. A terapêutica anti-tumoral deverá estar terminada antes do início do tratamento com Somatropina. SAIZEN não deve ser utilizado em casos com evidência de qualquer progressão ou recorrência de uma lesão intracraniana subjacente. Doentes com patologia aguda crítica, apresentando complicações pós cirurgia de coração aberto, cirurgia abdominal, politraumatizados, insuficiência respiratória aguda ou situações similares não devem ser tratados com Somatropina. (Relativamente aos doentes, em tratamento com Somatropina, que desenvolvam uma situação clinicamente crítica, ver “Advertências e precauções especiais de utilização”.). ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES ESPECIAIS DE UTILIZAÇÃO: O tratamento deve ser efectuado sob a vigilância regular de um médico com experiência no diagnóstico e tratamento de doentes com deficiência de hormona do crescimento. Os doentes com neoplasia intra ou extracraniana em remissão, e em tratamento com hormona do crescimento, devem ser cuidadosamente observados pelo médico em intervalos regulares. Os doentes com deficiência de hormona do crescimento secundária a um tumor intracraniano, devem ser examinados frequentemente para avaliação da progressão ou recorrência da patologia subjacente. Foram registados alguns casos de leucemia em crianças com deficiência de hormona do crescimento, tratadas ou não com esta hormona, podendo eventualmente representar um ligeiro aumento da incidência desta patologia, quando comparado com crianças sem esta deficiência. Não se encontra estabelecida uma relação causal com o tratamento com hormona do crescimento. Após a administração de hormona do crescimento observa-se uma hipoglicémia transitória de aproximadamente 2 horas e, nas 2-4 horas seguintes verifica-se uma elevação dos níveis de glucose no sangue, apesar da existência de uma concentração elevada de insulina. A Somatropina pode induzir um estado de resistência à insulina, o qual pode resultar em hiperinsulinismo e, em alguns casos, hiperglicémia. Para detectar uma resistência à insulina, os doentes deverão ser monitorizados para evidência de intolerância à glucose. SAIZEN deve ser utilizado com precaução em doentes com diabetes mellitus ou com história familiar de diabetes mellitus. Os doentes com diabetes mellitus podem necessitar de um ajuste da sua terapêutica anti-diabética. Uma retinopatia estável não deve levar à suspensão da terapêutica de substituição com Somatropina. No caso de surgirem alterações pré-proliferativas e na presença de retinopatia proliferativa deve ser suspensa a terapêutica de substituição com Somatropina. Durante o tratamento com Somatropina, verificou-se um aumento da conversão de T4 para T3, o qual pode resultar a nível do soro numa redução das concentrações de T4 e num aumento das concentrações de T3. Em geral, os níveis periféricos da hormona tiroideia permaneceram dentro dos limites de referência para indivíduos saudáveis. O efeito da Somatropina nos níveis da hormona tiroideia pode ter relevância clínica em doentes com hipotiroidismo central subclínico, nos quais, em teoria, se pode desenvolver hipotiroidismo manifesto. Inversamente, em doentes a receber terapêutica de substituição com tiroxina, pode ocorrer hipertiroidismo ligeiro. Portanto, é aconselhável a avaliação da função tiroideia após o início do tratamento com Somatropina e sempre que se proceda a ajustes da dose. Pode verificar-se retenção de líquidos durante a terapêutica de substituição com hormona do crescimento no adulto. No caso de edema persistente ou parestesia grave, a dosagem deverá ser reduzida de modo a evitar o desenvolvimento da síndroma do canal cárpico. No caso de cefaleia grave ou recorrente, problemas visuais, náuseas e/ou vómitos, recomenda-se uma fundoscopia para verificar se existe papiloedema. Se se confirmar o papiloedema, deve considerar-se o diagnóstico de hipertensão intracraniana benigna (ou pseudotumor cerebral) e interromper o tratamento com SAIZEN. Actualmente, não existe evidência suficiente para levar a uma decisão clínica em doentes com hipertensão intracraniana resolvida. Se se reiniciar o tratamento com hormona do crescimento, é necessária uma monitorização cuidadosa para detecção de sintomas de hipertensão intracraniana e o tratamento deve ser suspenso se se verificar recorrência da hipertensão intracraniana. O deslizamento da epífise femural é frequentemente associado a perturbações endócrinas, tais como deficiência de hormona do crescimento e hipotiroidismo, e períodos de maior velocidade de crescimento. Em crianças tratadas com hormona do crescimento, o deslizamento da epífise femural pode ser devido quer a perturbações endócrinas subjacentes ou à maior velocidade do crescimento causada pelo tratamento. Os períodos de maior velocidade de crescimento podem aumentar o risco de alterações articulares, especialmente a articulação coxo-femural está sob particular pressão durante o surto de crescimento pré-pubertário. O médico e os pais devem estar alerta no caso de a criança tratada com SAIZEN apresentar claudicação ou queixas articulares localizadas à coxo-femural ou joelho. As crianças com atraso do crescimento devido a insuficiência renal crónica, devem ser examinadas periodicamente para evidência ou progressão de osteodistrofia renal. Em crianças com osteodistrofia renal avançada pode verificar-se episiolístese ou necrose avascular da cabeça do femural, sendo incerto se estes problemas são afectados pelo tratamento com hormona do crescimento. Antes de se iniciar o tratamento deverá ser efectuado um radiograma das articulações coxo-femurais. Nas crianças com insuficiência renal crónica, a função renal deve apresentar um decréscimo de 50% relativamente ao padrão normal, antes de se instituir o tratamento. O crescimento deve ser monitorizado durante um ano antes de se instituir a terapêutica, de modo a verificar alterações no crescimento. O tratamento convencional da insuficiência renal (o qual inclui o controlo da acidose, do hiperparatiroidismo e do estado nutricional durante o ano anterior ao tratamento) deve ter sido estabelecido e mantido durante o tratamento. O tratamento deve ser interrompido na altura do transplante renal. Antes de se iniciar o tratamento em crianças pequenas com SGA, devem ser excluídas outras razões clínicas ou tratamentos que possam explicar o atraso do crescimento. Em crianças pequenas com SGA, recomenda-se a determinação da insulina e da glicémia em jejum, antes do início do tratamento e anualmente. Em doentes com risco aumentado para diabetes mellitus (por exemplo, história familiar de diabetes, obesidade, índice aumentado de massa corporal, resistência grave à insulina, acanthosis nigricans) deve ser realizado o teste da tolerância à glucose oral. Em caso de diagnóstico de diabetes, não deve ser administrada hormona do crescimento. Em crianças pequenas com SGA, recomenda-se a determinação do nível de IGF-I antes do início do tratamento e depois, duas vezes por ano. Caso se detectem, em determinações sucessivas, níveis de IGF-1 que excedam +2 DP em relação à referência para a idade, a razão IGF-I/IGFBP-3 pode ser considerada para o ajuste da dose. Existe experiência limitada no início do tratamento em doentes com SGA e que estejam próximos do início da puberdade. Não se recomenda portanto o início do tratamento em doentes com idade próxima do início da puberdade. A experiência em doentes com SGA, com a síndroma de Silver-Russel é limitada. Em crianças com SGA, parte do ganho em estatura obtido com o tratamento com Somatropina pode perder-se, caso este seja suspenso antes de se atingir a estatura final. Deve mudar-se o local da injecção para evitar lipoatrofia. A deficiência em hormona do crescimento no adulto é uma situação vitalícia, pelo que deverá ser tratada adequadamente. No entanto, é limitada a experiência em doentes com mais de 60 anos ou em tratamentos prolongados. Em todos os doentes que apresentem uma patologia aguda crítica, o possível benefício do tratamento com Somatropina deverá ser avaliado relativamente ao potencial risco envolvido. Foram relatados casos de apneia do sono e morte súbita em doentes com Síndroma de Prader-Willi em tratamento com Somatropina. SAIZEN não está indicado no tratamento de doentes com Síndroma de Prader-Willi. INTERACÇÕES MEDICAMENTOSAS E OUTRAS FORMAS DE INTERACÇÃO: A terapêutica concomitante com corticosteróides pode inibir a resposta ao SAIZEN. Verificou-se que a Somatropina induz uma redução ligeira dos níveis de cortisol sérico em doentes com deficiência de hormona do crescimento recebendo terapêutica de substituição das suprarrenais. Consequentemente, nos doentes em terapêutica de substituição com corticosteróides, que iniciam terapêutica com Somatropina, recomenda-se a monitorização dos níveis de cortisol sérico e o eventual ajuste da dose dos corticosteróides. Dados in vitro publicados indicam que a hormona do crescimento pode ser um indutor do citocromo P450 3A4. Desconhece-se o significado clínico desta observação. No entanto, quando a Somatropina é administrada em combinação com medicamentos que se sabe serem metabolizados pelas enzimas hepáticas do CYP P450 3A4, é aconselhável monitorizar a efectividade clínica de tais medicamentos. GRAVIDEZ E ALEITAMENTO: Gravidez: No que respeita a SAIZEN, não existem dados clínicos sobre as gravidezes a ele expostas. Assim, desconhece-se o risco para o ser humano. Embora os estudos em animais não indiquem um risco potencial durante a gravidez, o tratamento com SAIZEN deve ser interrompido no caso de ocorrer uma gravidez. Aleitamento: Desconhece-se se as hormonas peptídicas exógenas são excretadas no leite, mas a absorção da proteína intacta pelo tracto gastrintestinal da criança é improvável. EFEITOS SOBRE A CAPACIDADE DE CONDUZIR E UTILIZAR MÁQUINAS: SAIZEN não interfere com a capacidade de conduzir ou operar com máquinas. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Até 10% dos doentes podem apresentar vermelhidão e prurido no local da injecção, particularmente quando se utiliza a via de administração subcutânea. Espera-se que ocorra retenção de fluidos durante a terapêutica de substituição com hormona do crescimento no adulto. Edema, edema articular, artralgias, mialgias e parestesias podem ser manifestações clínicas desta retenção de fluidos. No entanto estes sintomas são geralmente transitórios e dependem da dose. Os adultos com deficiência de hormona do crescimento, em consequência do diagnóstico deste défice na infância, apresentam uma menor frequência de efeitos secundários do que os que iniciam a terapêutica na idade adulta. Podem formar-se anticorpos à somatropina em alguns doentes; desconhece-se o seu significado clínico, e até à data estes anticorpos têm apresentado baixa capacidade de ligação e não têm sido associados a atenuação do crescimento, excepto em doentes com deleções de genes. Em casos muito raros, em que a baixa estatura é devida à deleção do gene da hormona do crescimento, o tratamento com esta hormona pode induzir anticorpos atenuantes do crescimento. As reacções adversas reportadas a seguir encontram-se classificadas de acordo com a frequência de ocorrência, conforme se segue: Muito frequentes: ≥ 1/10; Frequentes: > 1/100 - < 1/10; Pouco frequentes: > 1.000 -< 1/100. Raros: > 1/10.000 - < 1/1.000; Muito raros: ≤ 1/ 10.000. Reacções no local de administração - Frequentes. Reacções no local da injecção: Lipoatrofia localizada, que pode ser evitada variando o local da injecção. Distúrbios do estado geral - Frequentes (no adulto) Pouco frequentes (na criança). Retenção de fluídos: edema periférico, entumescimento, artralgia, mialgia, parestesia - Pouco frequentes: Síndroma do canal cárpico. Sistema Nervoso Central. Pouco frequentes - Hipertensão intracraniana idiopática (hipertensão intracraniana benigna). Doenças endócrinas. Muito raros - Hipotiroidismo. Afecções musculosqueléticas. Muito raros - Deslizamento da epífise da cabeça femural (Epiphysiolysis capitis femoris), ou necrose avascular da cabeça femural. Doenças do metabolismo. A resistência à insulina pode resultar em hiperinsulinismo e, em casos raros, em hiperglicémia. SOBREDOSAGEM: Não foram relatados casos de sobredosagem aguda. Porém, exceder as doses recomendadas pode causar efeitos indesejáveis. Uma sobredosagem pode levar a hipoglicémia e, subsequentemente, a hiperglicémia. Além disso, uma sobredosagem com Somatropina pode causar manifestações de retenção de fluidos. PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS. Propriedades farmacodinâmicas: Grupo farmacoterapêutico: 8.1.1 Hormonas do lobo anterior da hipófise. Código ATC: HO1A. SAIZEN contém hormona do crescimento humana recombinante, produzida por células de mamífero geneticamente modificadas. É um péptido de 191 aminoácidos idêntico à hormona do crescimento humana hipofisária, no que respeita à sequência e composição de aminoácidos assim como ao mapa peptídico, ponto isoeléctrico, peso molecular, estrutura isomérica e bioactividade. A hormona do crescimento é sintetizada numa linha celular murina transformada, modificada através da adição do gene da hormona do crescimento hipofisária. SAIZEN é um agente anabólico e anticatabólico que produz efeito não só no crescimento, mas também na composição e metabolismo do organismo. Interactua com receptores específicos numa variedade de tipos de células incluindo miócitos, hepatócitos, adipócitos, linfócitos e células hematopoiéticas. Alguns, mas não todos os seus efeitos são mediados por uma outra classe de hormonas conhecidas por somatomedinas (IGF-1 e IGF-2). Dependendo da dose, a administração de SAIZEN produz um aumento na IGF-1, IGFBP-3, ácidos gordos nãoesterificados e glicerol, uma diminuição da ureia sanguínea, e diminuição nas excreções urinárias do azoto, do sódio e do potássio. A duração do aumento nos níveis de GH pode desempenhar um papel na determinação da magnitude dos efeitos. É provável uma saturação relativa dos efeitos do SAIZEN com doses altas. Não é este o caso da glicémia e excreção urinária do peptido-C, que só aumentam significativamente após doses elevadas (20 mg). Num ensaio clínico randomizado, crianças pré-pubertárias pequenas com SGA, foram tratadas durante três anos com uma dose de 0,067 mg/kg/dia, e verificou-se um ganho médio de +1,8 DP-estatura. Nas crianças que não receberam tratamento adicional para além dos três anos, perdeu-se parte do benefício, mas as crianças mantiveram um aumento significativo de +0,7 DP-estatura, na estatura final (p<0,01 comparado com o valor basal). Os doentes que receberam um segundo tratamento após um período variável de observação, apresentaram um aumento total de +1,3 DP-estatura (p=0,001 comparado com o valor basal), na estatura final. (A duração de tratamento cumulativa média no último grupo foi de 6,1 anos). O aumento na DP-estatura (+ 1,3 ± 1,1) na estatura final neste grupo foi significativamente (p<0,05) diferente do aumento em DP-estatura obtido no primeiro grupo (+0,7 ± 0,8), o qual recebeu apenas 3,0 anos de tratamento em média. Um segundo ensaio clínico, investigou dois regimes posológicos diferentes durante quatro anos. Um grupo foi tratado com 0,067 mg/kg/dia durante 2 anos e observado durante os 2 anos posteriores sem tratamento. O segundo grupo recebeu 0,067 mg/kg/dia no primeiro e terceiro anos e nenhum tratamento no segundo e quarto anos. Qualquer dos regimes de tratamento resultou numa dose administrada cumulativa de 0,033 mg/kg/dia durante o período de quatro anos do estudo. Ambos os grupos revelaram uma aceleração do crescimento comparável e uma melhoria significativa de +1,55 (p<0,0001) e +1,43 (p<0,0001) DP-estatura respectivamente no final do período de quatro anos do estudo. Os dados sobre a segurança a longo prazo continuam a ser limitados. Propriedades farmacocinéticas: A farmacocinética do SAIZEN é linear pelo menos com doses até 8 UI (2,67 mg). Com doses mais elevadas (60 UI/20 mg) não pode ser excluído um certo grau de não-linearidade, porém sem relevância clínica. Após administração IV a voluntários saudáveis, o volume de distribuição em estado estacionário é de cerca de 7 L, a “clearance” metabólica total é de cerca de 15 L/h, enquanto que a “clearance” renal é insignificante, e o fármaco exibe uma semi-vida de eliminação de 20 a 35 minutos. Após a administração de doses únicas de SAIZEN por via SC e IM, a semi-vida terminal aparente é muito mais prolongada, cerca de 2 a 4 horas. Isto é devido a uma taxa limitada do processo de absorção. As concentrações séricas máximas de hormona do crescimento (GH) são atingidas após aproximadamente 4 horas e os níveis séricos de GH voltam ao valor basal dentro de 24 horas, indicando que não ocorre acumulação de GH durante as administrações repetidas. A biodisponibilidade absoluta de ambas as vias é de 70-90%. INFORMAÇÕES FARMACÊUTICAS: Lista de excipientes: Pó para solução injectável. Sacarose, Ácido Fosfórico, Hidróxido de sódio. Solvente para utilização parentérica. Metacresol a 0,3% (p/v) em água para preparações injectáveis. Incompatibilidades: Não se conhecem presentemente incompatibilidades de SAIZEN com outras preparações farmacêuticas. Prazo de validade: 3 anos. Após reconstituição, o produto deve ser conservado durante um período máximo de 28 dias no frigorífico (2ºC – 8ºC). Os auto-injectores easypod e one.click, quando contendo o cartucho reconstituído de SAIZEN, têm de ser conservados no frigorífico (2ºC – 8ºC). Quando se utilizar o auto-injector sem agulha cool.click, unicamente o cartucho da solução reconstituída de SAIZEN, deverá ser conservado no frigorífico (2ºC-8ºC). Precauções especiais de conservação: Não conservar acima de 25ºC. Não congelar. Conservar na embalagem de origem. Para a conservação do produto reconstituído, ver secção “Prazo de Validade”. Natureza e conteúdo do recipiente. Os frascos para injectáveis DIN 2R de 3 ml contendo 8 mg de pó e os cartuchos de 3 ml contendo 1,37 ml de solvente são de vidro neutro (Tipo 1). Os frascos para injectáveis e os cartuchos são fechados com tampa de borracha. SAIZEN 8 mg click.easy está disponível em embalagens com: 1 frasco para injectáveis de SAIZEN 8 mg e 1 cartucho de solvente bacteriostático pré-incluídos num dispositivo de reconstituição (click.easy) composto pelo corpo do dispositivo com cânula de transferência estéril. Instruçôes de utilização / manuseamento: O cartucho contendo a solução reconstituída de SAIZEN 8 mg click.easy destina-se exclusivamente a ser utilizado com o auto-injector one.click, com o auto-injector sem agulha cool.click, ou com o auto-injector easypod. Para conservação dos auto-injectores contendo o cartucho, ver secção “Prazo de Validade”. Para a administração do SAIZEN 8 mg click.easy, consulte as instruções do folheto informativo e do manual de instruções fornecido com o auto-injector apropriado. Os utilizadores do easypod são principalmente crianças desde os 7 anos até à idade adulta. A utilização de dispositivos médicos por crianças, deverá ser sempre feita sob a supervisão de um adulto. O pó para a solução injectável tem de ser reconstituído com o solvente bacteriostático que o acompanha (metacresol a 0,3% (p/v) em água para preparações injectáveis) para administração parentérica, utilizando o dispositivo de reconstituição click.easy. A solução injectável reconstituída deve ser límpida, sem partículas. Se a solução contiver partículas, não deve ser injectada. Qualquer produto não utilizado ou o material usado deve ser deitado fora de acordo com as exigências locais. TITULAR DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO: Serono Portugal, Lda. R. Tierno Galvan, 16 – B, Amoreiras, Torre 3, 16 º, Esc. 1 - 1070-274 LISBOA. NÚMEROS DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO 3505484- Frasco para injectável – 1 unidade. DATA DA PRIMEIRA AUTORIZAÇÃO/RENOVAÇÃO DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO: Data da Primeira Autorização de Introdução no Mercado: 26/01/2001. Data da Renovação da Autorização de Introdução no Mercado: 03/04/2004. DATA DA REVISÃO (PARCIAL) DO TEXTO: 23 de Fevereiro de 2007. Medicamento sujeito a receita médica. Fornecimento exclusivo hospitalar (CompartIcipado 100% nos estabelecimentos saúde especiais). NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Caso Endoscópico Fernando Pereira1 Observamos na consulta de Gastroenterologia Pediátrica um rapaz de 10 anos que nos foi enviado por apresentar diversos episódios de disfagia para sólidos. No último ano teve vários episódios de disfagia durante a ingestão de alimentos sólidos, de início súbito, quase todos de curta duração e resolvidos com ingestão de pequenas quantidades de água. Entre os episódios passava bem. O último episódio, cerca de um mês antes da nossa consulta, foi o mais intenso, durou cerca de 3 horas e constituiu uma verdadeira impactação alimentar, ao nível do terço médio do esófago. Foi diagnosticada radiologicamente e resolveu espontaneamente quando o doente era preparado para efectuar endoscopia digestiva alta. O nosso doente tinha história anterior de múltiplos episódios de bronquiolite Figura 1 nos primeiros anos de vida e vómitos de repetição até aos dois anos, interpretados como refluxo gastro-esofágico. Sofria de rinite alérgica. A história familiar era irrelevante, os pais e os dois irmãos, mais velhos, eram saudáveis. À data da consulta o doente encontrava-se clinicamente bem, referia ligeira perda de peso cerca 3Kg nos últimos 3 meses, associada a menor ingestão alimentar por receio de novo episódio de obstrução. O seu exame objectivo era normal. O doente efectuou estudo analítico de rotina, hemograma, VSG, proteina C reactiva, função renal e hepática, estudo da coagulação, proteinograma e exame sumário de urina, todos com valores normais. Apresentava ligeira elevação da IgE total com valores normais das outras imunoglobulinas. O estudo radiológico do tórax não evidenciava alterações. Decidimos efectuar endoscopia digestiva alta para esclarecimento do seu quadro, na realização da qual não observamos qualquer modificação do calibre do esófago, apenas o aspecto que mostramos nas figuras 1 e 2 e que justificou a realização de biópsias. O exame do estômago e do duodeno não evidenciaram alterações, nomeadamente ao nível do cárdia ou do piloro. Foram efectuadas biópsias do antro gástrico. Na sua opinião no contexto clínico deste doente as imagens observadas poderão corresponder a: 1 – Esofagite herpética 2 – Esofagite de refluxo 3 – Esofagite eosinofílica 4 – Variante do normal. Figura 2 __________ 1 Serviço de Gastroenterologia Hospital de Crianças Maria Pia qual o seu diagnóstico 253 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 COMENTÁRIOS A observação da primeira imagem permite identificar espessamento, congestão e estriação longitudinal da parede esofágica, parecendo haver ligeira redução do diâmetro na região distal; na imagem da figura dois, que corresponde ao aspecto do terço inferior, a congestão é mais acentuada, mantém-se a estriação longitudinal e observa-se também estriação transversal. Não se confirmou a existência de redução significativa do lúmen. As biopsias efectuadas mostraram mucosa esofágica com papilomatose e fibrose do corion, associadas a infiltrado inflamatório constituído por linfócitos e abundantes eosinófilos (cerca de 70 eosinófilos intraepiteliais por campo) estes com permeação do epitélio suprajacente. Não foram identificadas inclusões víricas intracelulares. As biópsias gástricas eram normais. O quadro clínico, laboratorial, endoscópico e histológico é sugestivo de se tratar de esofagite eosinofílica. Tornava- 254 qual o seu diagnóstico se importante excluir definitivamente a esofagite de refluxo, que pode apresentar quadro endoscópico semelhante mas em regra com infiltração eosinofílica muito menos importante. Efectuamos então uma pHmetria de 24 horas que permitiu excluir o refluxo G/E patológico. A esofagite herpética aparece em regra secundariamente ou associada a lesões da parte alta do tubo digestivo e especialmente em doentes imunodeprimidos, apresenta aspecto endoscópico diferente, inflamação aguda intensa com múltiplas vesículas ou ulcerações de tipo aftoide, e no exame histológico são frequentemente encontradas inclusões víricas, pelo que não parecia de considerar neste doente. Em conclusão, não se tratando de mucosa obviamente normal, estando excluída a esofagite herpética e não havendo refluxo o diagnóstico correcto é o de esofagite eosinofílica. O doente iniciou tratamento com fluticasona 300ug de 12/12h deglutida e ao final de 8 semanas estava clinicamen- te bem, não tendo durante esse período qualquer episódio de disfagia e efectuou exame endoscópico que revelou aspecto normal do seu esófago com discreto infiltrado inflamatório com menos de 10 eosinófilos por campo nas biópsias realizadas. Foi programado estudo alergológico dirigido a alergénios alimentares. Nascer e Crescer 2007; 16(4): 253-254 BIBLIOGRAFIA 1. D.D. Ferguson, A E. Foxx-Orenstein. “Eosinophilic esophagitis: an update.” Diseases of the Esophagus. 2007; 20:2-8. 2. Glenn T. Futura, Chris A. Liocouras et Al. “Eosinophilic Esophagitis in Children and Adults: A Systematic Review and Consensus Recommendations for Diagnosis and Treatment”. Gastroenterology. 2007; 133:1342-1363 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Caso Estomatológico José M. S. Amorim1 Criança de 12 anos de idade que frequenta a consulta de Estomatologia deste hospital e que surge no serviço no dia seguinte a ter realizado uma consulta para tratamento dentário referindo dor intensa na região do trigno retromolar esquerdo. A nível dentário já não apresentava focos infecciosos com origem dentária, uma vez que na consulta anterior tinha Figura 1 __________ 1 Serviço de Estomatologia Hospital de Crianças Maria Pia - Porto 256 qual o seu diagnóstico efectuado o tratamento da última cárie que se situava no segundo molar inferior esquerdo. Para efectuar o referido tratamento dentário foi necessário efectuar anestesia loco-regional recorrendo ao bloqueio do nervo dentário inferior. Apresentava uma lesão ulcerada, extensa, profunda, bastante dolorosa (Fig.1) Antecedentes pessoais e familiares irrelevantes. Face ao descrito: Qual o seu diagnóstico? Qual a sua atitude? NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 A situação acima exposta insere-se no quadro das lesões ulceradas da mucosa oral. Tendo em conta a rapidez de instalação (menos de 24 horas) e os antecedentes médicos (tratamento dentário com prévia anestesia do território do nervo dentário inferior) esta lesão ulcerada na região do trigno retromolar tem origem traumática e ocorreu durante a mastigação enquanto a região estava anestesiada. É muito frequente o aparecimento deste tipo de lesão traumática quando se procede a anestesia loco-regional para se efectuar tratamentos dentários. Nesta situação procedeu-se à aplicação tópica de “fenoprata” (produto manipulado, líquido, que entre outros ingredientes apresenta nitrato de prata) e prescreveu-se bochechos com clorexidina 2% e AINE. A criança foi reavaliada 7 dias depois não apresentando qualquer sintomatologia dolorosa e a úlcera apresentavase praticamente cicatrizada. Nascer e Crescer 2007; 16(4): 256-257 BIBLIOGRAFIA Cawson´s Essentials of Oral Pathology and Oral Medicine – R.A. Cawson – seventh edition – Churchill Livingstone, 2002; 362-364 qual o seu diagnóstico 257 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Imagens Filipe Macedo1 Criança do sexo masculino, 6 meses de idade com tosse, sem febre Figura 1 __________ 1 Especialista em Radiodiagnóstico – SMIC Porto 260 qual o seu diagnóstico Faz RX do tórax. Qual é o seu diagnóstico? NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 DISCUSSÃO Observa-se um alargamento do mediastino laterosuperior direito, com características típicas de corresponder a timo normal. Sem outras alterações relevantes. Sem necessidade de outros exames de imagem. O timo tem variações morfológicas e topográficas que causam potenciais dificuldades de interpretação e valorização na prática clínica. Aliás, pode haver variações na sua configuração radiográfica em curtos espaços de tempo, relacionáveis com o grau de inspiração do tórax, com a posição do tórax e com a exposição a situações de stress. Pode ser uni ou bilateral. Alguns sinais radiográficos clássicos permitem no entanto afirmar que determinada opacidade mediastínica corresponde a timo normal(1): - sinal da vela latina: opacidade triangular de base inferior e bordo externo agudo (no caso em questão apoiada na pequena cisura pulmonar o que traduz a sua topografia anterior). - sinal da onda: contorno externo ondulado na região de contacto com os arcos costais o que traduz a sua consistência mole. - sinal do entalhe: entalhe na região de contacto com o bordo cardíaco. Traduz a sua topografia anterior. O timo normal tem dimensões variáveis, mas por mais volumoso que seja nunca condiciona compressão sobre as restantes estruturas mediastínicas. A coexistência de dificuldade respiratória ou de compressão broncovascular deve pois fazer pensar em outras causas(2). O timo normal tem densidade relativamente reduzida permitindo a visualização das estruturas broncovasculares através da sua imagem o que não acontece em situações de pneumonia ou atelectasia. Como regra geral considera-se que uma opacidade mediastínica anterior em criança com menos de 3 anos corresponde ao timo até prova em contrário e que em crianças com mais de 3 anos se deve procurar outra causa. Isto porque apesar do timo continuar a crescer depois do 3 anos, o crescimento da caixa torácica é proporcionalmente maior, obscurecendo o timo(3). Na dúvida relativamente a uma opacidade mediastínica considerar: - Ecografia: elevada acuidade na identificação do timo normal em quase todos os recém-nascidos e em muitas crianças pequenas(4). - RX de tórax de perfil: por vezes o timo tem espessura reduzida sendo quase inaparente no perfil. Alargamento do mediastino sem correspondência pro- porcional no perfil é a favor de timo normal. - TC/ RMN: para diagnóstico e caracterização mais segura. Nascer e Crescer 2007; 16(4): 260-261 BIBLIOGRAFIA 1. Siegel MJ, Glazer HS, Wiener JI, Molina PL. Normal and abnormal thymus in childhood: MR imaging. Radiology 1989; 172: 367-371 2. Strosso, Rosado De Christenson ML, Jett JR. Primary mediastinal tumours. Part 1: tumours of the anterior mediastinum. Chest 1997, 112 (2); 511-522 3. Francis IR, Glazer GM, Brokstein GL, Gross BH. The thymus: re-examination of age related changes in size and shape. AJR 1985; 145 (2): 249-254 4. Adam EJ, Ignotus PI. Sonography of the thymus in healthy children: frequency of visualisation, size and appearance. AJR 1993; 161: 153-155 qual o seu diagnóstico 261 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Genes, Crianças e Pediatras C. Cardoso1, G. Soares2, M. Barbosa2, J.L. Nunes1, R. Nascimento1, M. P. Magalhães3, M. Reis Lima2 Lactente do sexo feminino, de 2 meses de vida, referenciada à consulta de Genética do Hospital Central do Funchal por cardiopatia congénita e malformações minor.Tratava-se da primeira gestação de um casal jovem, saudável e não consanguíneo, com antecedentes familiares irrelevantes. Durante a gestação verificou-se um RCIU assimétrico detectado no 3º trimestre de gestação, sem outras intercorrências. O parto eutócico ocorreu às 38 semanas, Apgar 9/10 ao 1º e 5º minutos, antropometria ao nascimento: peso 2630g (P5), comprimento 46cm (P5) e perímetro cefálico 33cm (P10). No segundo dia de vida é detectado um sopro sistólico GIII/VI e ausência de pulsos femorais. O ecocardiograma revelou Figura 1 coarctação da aorta com interrupção do arco tipo B. A recém-nascida foi submetida a cirurgia cárdio-torácica correctiva aos 7 dias de vida, que decorreu sem intercorrências. A ecografia do timo mostrou timo hipoplásico. Aos 27 dias de vida apresentou um primeiro e único episódio de convulsão tónico-clónica generalizada e destaca-se nos exames analíticos uma hipocalcemia (cálcio plasmático 6,5 mg/dL), que rapidamente corrigiu. PTH normal. O estudo imunológico foi normal. A ecografia renal e a radiografia do esqueleto não apresentaram alterações. A criança foi observada pela primeira vez na consulta de Genética com 2 meses de vida. Verificamos que apresentava crescimento estaturo-ponderal simétrico no P10, fácies triangular com nariz largo e de ponta bolbosa, microretrognatia, boca pequena, leve hipertelorismo, pavilhões auriculares proeminentes e desenvolvimento psico-motor adequado à idade. Restante exame físico normal para além de cicatriz médio-esternal/abdominal. O exame neurológico era normal e a audição e visão estavam aparentemente normais. Qual é o seu diagnóstico? Figura 2 __________ 1 2 3 Serviço de Pediatria, Hospital Central do Funchal Unidade de Consulta, Instituto de Genética Médica Jacinto Magalhães Cirurgia Cardio-Toráxica, Hospital da Cruz Vermelha qual o seu diagnóstico 263 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 DISCUSSÃO O diagnóstico clínico é Síndrome de DiGeorge (MIM 188400). Este síndrome foi descrito pela primeira vez em 1965 por Angelo Di George e tem uma incidência estimada de 1/4000 nascimentos. O síndrome tem origem na falha de migração das células do tubo neural para a 3º e 4º bolsas faríngeas e consequente formação anómala do 3º e 4º arcos branquiais. Caracteriza-se por aplasia/ hipoplasia tímica, aplasia/hipoplasia das glândulas paratiróides, malformação cardíaca, dismorfia facial e eventual atraso do desenvolvimento/ dificuldades de aprendizagem. Cerca de 95% dos doentes têm uma microdelecção em heterozigotia na porção proximal do braço longo do cromossoma 22, na região q11.2. Em 93% dos casos é uma delecção de novo e em 7% é herdada de um dos pais. A principal causa de mortalidade é a malformação cardíaca, que está presente em cerca de 74% destes doentes. Os tipos de cardiopatia mais frequentes são a tetralogia de Fallot, a interrupção do arco aórtico tipo B e o truncus arteriosus. A hipoplasia tímica pode manifestarse por algum grau de imunodeficiência, principalmente alterações da função das células T, na maior parte dos casos sem repercussão clínica significativa ou necessidade de tratamento específico para além do controlo precoce e eficaz das infecções. Está contra-indicado o uso de vacinas vivas em crianças com alterações imunológicas. A hipocalcemia, como consequência da hipoplasia paratiroideia pode estar 264 qual o seu diagnóstico presente em 10-30% dos casos no período pós-natal , mas é de maior gravidade no período neonatal, necessitando alguns doentes de terapia com suplementos de cálcio. As dismorfias faciais podem não ser muito apelativas e sobrepõem-se às do síndrome Velo-Cardio-Facial, sendo as mais frequentes a microretrognatia, a fenda do lábio/palato, nariz proeminente e de base alargada com ponta bolbosa, fendas palpebrais pequenas e inclinadas para cima e para fora, anomalias dentárias, pavilhões auriculares pequenos, proeminentes e de hélices enroladas. Raramente podem ocorrer defeitos dos membros superiores confundindo esta entidade com a associção de CHARGE ou de VACTERL. Estão ainda descritas várias anomalias congénitas que se podem associar, as mais frequentes envolvendo o esqueleto, rins, SNC e os olhos. O atraso global de desenvolvimento com hipotonia e as dificuldades de aprendizagem requerem intervenção precoce, idealmente desde os primeiros meses de vida. Foi solicitado na nossa doente o cariótipo e estudo por FISH do cromossoma 22. O cariótipo foi normal e o estudo do FISH 22 revelou a microdelecção 22q11.2. Os pais também foram testados e não são portadores da microdelecção. Tendo em conta a variabilidade fenotípica que este síndrome pode assumir, ambos os pais devem ser testados para que um adequado aconselhamento genético possa ser feito. Se um dos pais for portador da microdelecção, o risco de recorrência em irmãos de uma criança afectada é de 50%. Se os pais não forem portadores, o risco de recorrência é baixo, mas superior ao da população geral dada a possibilidade de poder ocorrer mosaicismo gonadal. A variabilidade de manifestações clínicas associadas a este síndrome implica a nesessidade de vigilância médica necessariamente multidisciplinar e antecipatória, envolvendo frequentemente Pediatra, Cardiologia, Endocrinologia, Cirurgia e Genética para além de equipa de intervenção precoce . O aconselhamento genético é fundamental como oportunidade de explicação da natureza genética da doença bem como dos riscos de recorrência e possibilidade de execução diagnóstico pré-natal em futuras gestações dos casais em risco. Nascer e Crescer 2007; 16(4): 263-264 BIBLIOGRAFIA 1. Minier F., Carles D.: Syndrome de Di George, étude rétrospective de 52 cas. Archives de pédiatrie.12 (2005) 254-257 2. Soares G., Álvares S., et al: Cardiopatia Congénita e Anomalias Cromossómicas Incluindo Microdelecção 22q11.2 (CATCH22). Rev Port Cardiol 2005; 24(3):349-371 3. www.genetests.org 4. www.orpha.net 5. www.uptodate.com NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Pediculus capitis… Rui Carolino Cidade do interior, conservadora. Um drama abate-se sobre a família Silva, ufana dos seus antepassados, dignificados numa das ruas citadinas. Almoço dominical em alvoroço. Murmura-se, porque o abade, como de costume, preside à refeição. Só quando os homens se juntam no escritório a fumar os charutos, é que a conversa surge: – Como é que tal afronta foi possível? – questiona a avó Josefa. – Só há uma solução. Expulsar a professora! – afirma a tia Lucília. – Sem dúvida alguma – concorda D. Lucelinda, amiga da família. E – prossegue – deveriam aproveitar e despedir a Andreia. Não confio na filha dela. – E o médico já foi chamado? – interrompe a tia Alcina – Só o consegui contactar ontem à noite. Pareceu-me um pouco contrariado, mas vem cá hoje à tarde – respondeu D. Isabel, a dona da casa. – E já deveria ter vindo de manhã! Se fosse o saudoso pai, o Dr. Fontes… Entretanto a campainha interrompe as recordações de D. Josefa. Andreia, a empregada, aflora à porta e refere que o doutor acabou de chegar. D. Isabel adianta-se: – Podes deixar. Eu própria levo o médico ao quarto da Isabelinha. Pouco tempo depois, descem as escadas. Uma conversa rápida e a porta da frente volta a fechar-se. Então??? – um coro recebe na sala a D. Isabel. – Ai abençoado seja Deus! Afinal não são nada aqueles horrendos bichinhos, que eu nem me atrevo a pronunciar o nome. A professora não passa de uma ignorante, como já se calculava. Trata-se sim, como o doutor me explicou, de uma infecção dos cabelos por Pediculus capitis, que só pelo nome bem se vê que não têm nada a ver com …aquilo que vocês sabem. Deu-me um champô e amanhã já está boa, mas mesmo assim disse que era melhor penteá-la com um pente especial e repetir para a semana o tratamento. Fácil, não? pequenas histórias 265 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Índice de Autores Afonso A S205, S210 Almeida M S208 Almeida R 233 Almeida S S202 Álvares S S154, S199, S214 Alves AF 17 Amaral M S205 Amorim JMS 41, 101, 144, 256 Amorim R S184 Anjos R S214 Antunes M S196, S199, S204 Araújo AR S207 Areias JC S214 Aroso S 249 Azevedo LF 29, 135 Bandeira A 65, S193 Barata D 70 Barbosa M 46, S199, 263 Barbosa T S191, S202 Barbot C S196 Barbot J S196, S199, S204 Barreira JL 65 Bonet B S194, S200, S204 Borges T S206, S208 Brandão L S207, S208 Brito H S206 Caldeira T 32 Campos Costa R S209 Campos RA S206 Canário C 24 Cândido C S198, S211 Cardoso C S212, 263 Cardoso H S208 Cardoso ML S211 Carmo C S154, S168 Carolino R 265 Carrilho I S181 Carro E S206 Carvalho F S194 Carvalho I S201 Carvalho M S211 Castro J S194 Chorão R S198 Cidade Rodrigues J S194 Correia AJM S158 Correia C 124 Correia T 93 Costa A S211 Costa FM 233 Costa HR S200 Costa JÁ 17 266 índice de autores Costa M S207, S208, S210 Costa T S205, S210 Coutinho M S211 Coutinho P 8 Cristóvão C 44 Cunha JS S197, 230 Cunha O S207, S208, S210 Damásio J S200 David C 44 Dias C 150, S199 Dias F S198, S211 Dias P S212 Diz A S212 Duarte C S197 Duarte I 24 Encinas A S206 Enes C S194, S200, S204 Estanqueiro P 235 Estrada J 70 Faria S S205, S210 Fernandes A S196 Fernandes C S193 Ferraz L 128 Ferreira C S191 Ferreira E 32, 128 Ferreira F 124 Ferreira G S201 Ferreira H S200, S211 Ferreira M S206 Ferreira P S193 Figueiredo HMVS 87 Figueiredo M S195 Figueiredo S S194, S209 Flores MM S211 Fonseca M S178 Fonte M S198, S211 Fontes C 74 Fortuna AM 105, 150 Gabriel JP S198 Garrido A S201, S206, S209 Godinho C S210 Gomes E S202, 225 Gomes L 93 Gonçalves F 245 Gonçalves M S196 Gonçalves O S199 Gonzaga D 93 Guardiano M 124 Guedes M 50, 93, S193, S201, S206, 233 Guerra I S191, S194 Guimarães T S197, S211 João A 128 Leitão J S194 Leite A S201 Leite AL S198 Lima M S199 Lima MR 46, 105, 150, S199, 263 Lima R S211 Lima SB S213 Lira S 120 Lobo I S204, S210 Lopes C 225 Lopes I 230 Loureiro I S207, S208, S210 Loureiro M S199, S214 Lourenço L S194, S209 Macedo F 103, 148, 260 Macedo L S205, S210 Machado S 8, S204 Maciel I S207, S208 Madalena C S205 Magalhães M S200 Magalhães MP 263 Maia I S199 Manso JÁ 108 Manuela F 93 Marques A 235 Marques E S206, S207, S208 Marques L 74, S212, S213, 230 Marques O S179 Martins C 32 Martins E S196, S197, S211 Martins R S193 Martins S S207 Matos P 65, 93 Melo Q S214 Mendonça J 81 Monteiro J 81 Monteiro T 21, 84, 130, 239 Monteiro V S210 Morais A S212 Moreira D S201, S202, S206, S209 Moreira J S205, S214 Mota C S154, S168, S205, S210 Mota RM S197 Moura C S214 Nascimento H 81 Nascimento P S196 Nascimento R 263 Neto C S204 Neves R S205 Nordeste A 235 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Nunes JL 263 Nunes S205 Oliveira A 81, S210 Oliveira C S205 Oliveira L S194 Oliveira M S196 Oliveira MJ S201, 233 Osório A S194 Pais IP S202 Pedersen BL 15 Pereira A S211 Pereira AC 29 99, 135 Pereira E S154, S168, S205, S210 Pereira F 39, 99, 142, S200, 253 Pereira SA S201 Pinto AL S210 Pinto AR S195 Pinto F S194, S195, S209 Pinto J S194 Pinto ML S210 Pinto R 32 Pinto-Basto J 46, 105, S199 Pio D S211 Portugal V 249 Praça MF S202 Preto L 44 Quaresma M S211 Quelhas D S196 Ramos A S191, S197, S21 Ramos C S195 Ramos H S201 Ramos MS S186 Real MV S198, S202 Récaman M S194 Rego C 124 Reis MG 93, S191 Ribeiro C S207 Ribeiro I S195 Ribeiro L S206 Riçou M 24 Rios J S199 Robalo C 235 Rocha MG 105 Rodrigues H S206 Rodrigues L 249 Rodrigues MC S173, S195 Rodrigues N 249 Rodrigues P S212, S213 Sales Marques J S201, S206, S209 Salgado M 17, S207, 235 Sampaio A S199 Sampaio M S207, S208, S210 Santo AE S199 Santos F S198, S202 Santos H S201, S206 Santos M 150 Santos MC 74, 130, S212, 242 Santos P S204 Santos R 150 Saraiva S S193, S205 Sarmento A S197 Selores M S204 Sequeira F S212 Serrão C 24 Silva C S191, S193 Silva CS 120 Silva G S197, S211 Silva MJ S214 Silva MR S198 Silva V S198, S201 Soares G 263 Soares J S204 Soares MR 70 Soares P S195 Soares S S196, S204, S209, 230 Sousa C 124, S195, S204 Sousa JF S194, S200, S204 Sousa M 17 Sousa S S207 Tavares H S206 Tavares M S206 Tavares S S193 Teixeira C S194, S195, S209, S212, 230 Teixeira E 120 Teixeira F S213 Teixeira J S195 Temudo T 93 Tomé S S201 Torres A S207 Trindade A S198, S211 Vale I S208 Vale MC 70 Valente C 120 Valente I S205, S208, S210 Valente P 70 Valongo C S201 Varandas R 32, S188 Vasconcelos C 70 Vasconcelos J S199 Ventura L 70 Vilarinho M 150 Zenha R S211 índice de autores 267 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Indice de Assuntos Vol. 16 Acantose Nigricans - Acantose Nigricans numa Criança com Défice do Transportador da Creatina. Uma Associação Benigna? S201 Acidentes - Perfil do grande queimado em cuidados intensivos pediátricos – Experiência de doze anos. 70 Aditivos Alimentares - Artigo recomendado. 239 Adolescência - Como são os adolescentes de 13 anos em Ermesinde. Exame global de saúde numa escola. 120 Alergias - A marca do dragão: Consequência de tatuagem temporária. S210 - Hipersensibilidade aos AINES na criança: Aspectos clínicos e diagnóstico. 225 Ambliopia - Hemangioma da pálpebra em recémnascido pré-termo. 32 - Pediatria de ambulatório – Avaliação da função visual dos 0 aos 5 anos. S194 Anemia - Anemia Ferropénica grave: Problema do passado uma realidade actual? S196 - Esferocitose Hereditária. Esplenectomia e Colecistectomia. Experiência do Hospital Especializado de Crianças Maria Pia. S204 Asma - Artigo Recomendado. 84 Aspectos Psicossociais - Infecção pelo vírus de Imunodeficiência humana na criança – aspectos psicossociais. 74 Aterosclerose - Factores de Risco Cardiovascular: Prevenção desde a Infância. S168 Brucella spp - Pseudo-quisto abdominal. 17 Cárie (Prevenção) - Caso Estomatológico. 144 268 índice de assuntos Circuncisão - Artigo recomendado. 21 Cirurgia Laparoscópica - A experiência do serviço em cirurgia laparoscópica. S194 Colite Ulcerosa - Caso endoscópico. 142 Corticoterapia - Hemangioma da pálpebra em recémnascido pré-termo. 32 Defeitos Congénitos de Glicosilação - Defeitos Congénitos da N-Glicosilação – Estudo Retrospectivo de 7 Doentes. S196 Défice de IgA - Défice selectivo de IgA: Casuística de 6 anos. 230 Displasia Broncopulmonar - Imagens. 101 Défice do Transportador da Creatina - Acantose Nigricans numa criança com défice do transportador da creatina. Uma associação benigna? S201 Deglutição Infantil - Caso Estomatológico. 41 Derivação Ventrículo-Peritoneal - Pseudo-quisto abdominal. 17 Diabetes Mallitus - Diabetes Mellitus Tipo 1 e Doenças Associadas. S178 - Diabetes na adolescência. S179 Diarreia Crónica - Doença da Inclusão das Microvilosidades: A importância do trabalho de enfermagem na doença crónica grave. 81 Distonia - Aplicações Terapêuticas da Toxina Botulínica nas Distonias. S181 Distropia Miotónico I - Genes, Crianças e Pediatras. 150 Doença de Blount - Imagens. 148 Doença de Crohn - Doença de Crohn: Apresentação clínica atípica. S193 Doença de Kawasaki - Complicações Cardiovasculares da Doença de Kawasaki. S214 Doenças Sexualmente Transmissíveis - Artigo Recomendado. 21 Educação Sexual - A Educação Sexual em Meio Escolar: uma perspectiva ética. 24 Enteropatia - Doença da Inclusão das Microvilosidades: A importância do trabalho de enfermagem na doença crónica grave. 81 - Gastroenteropatia Perdedora de Proteínas Associada a Co-infecção por Helicobacter Pylori e Vírus Citomegálico. 249 Enurese Noturna - Prevalência da enurese nocturna em crianças em idade escolar na zona Norte de Portugal. 65 Erupção Dentária - Caso Estomatológico. 101 Esferocitose Hereditária - Esferocitose Hereditária. Esplenectomia e Colecistectomia. Experiência do Hospital Especializado de Crianças Maria Pia. S204 Esofagite - Caso Endoscópico. 253 Esplenectomia - Esferocitose Hereditária. Esplenectomia e Colecistectomia. Experiência do Hospital Especializado de Crianças Maria Pia. S204 Ética - A Educação Sexual em Meio Escolar: uma perspectiva ética. 24 - O ser humano e a busca do segredo da vida. 87 Exercício Físico - Artigo Recomendado. 84 Factores de Risco Cardiovascular - Factores de risco cardiovascular: Prevenção desde a infância. S168 - Prevalência de factores de risco cardiovasculares numa população em diálise e com transplante renal. S205 Fructosemia - O que a Bisavó descobriu… S211 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Gastrobandoplastia - Gastrobandoplastia no adolescente com obesidade mórbida. S200 Gastroenterite - Gastroenterite por salmonela em recém-nascidos. 128 Grande Queimado - Perfil do grande queimado em cuidados intensivos pediátricos – Experiência de doze anos. 70 Habitos Alimentares - Crianças e adolescentes – que hábitos alimentares? S207 Helicobacter Pylori - Gastroenteropatia perdedora de proteínas associadas a co-infecção por Helicobacter Pylori e Vírus Citomegálico. 249 Hemangioma - Hemangioma da pálpebra em recémnascido pré-termo. 32 Hidrocefalia - Pseudo-quisto abdominal. 17 Hiperactividade/Défice de Atenção - Artigo Recomendado. 242 Hiperplasia Linfoide Nodular - Caso Endoscópico. 99 Hipertrofia Adenoidéio - Caso Estomatológico. 41 Hipersensibilidade Medicamentosa - Hipersensibilidade aos AINES na criança: Aspectos clínicos e diagnóstico. 225 Hipertensão Arterial - Abordagem da criança e adolescentes hipertensos. S158 - Factores de risco cardiovascular: Prevenção desde a infância. S168 - Importância da avaliação da tensão arterial – caso clínico. S205 - Métodos de avaliação da tensão arterial e interpretação dos respectivos valores. S154 Hipoglicemia - Hipoglicemias neonatais. S197 Hipopigmentação - Lesões hipopigmentadas na criança. 8 Kala-azar - A Tríade Clássica de uma Doença ainda Actual. 124 Laringotraqueomalácia - Laringotraqueomalácia grave – caso clínico. S211 Leishmaníase - A Tríade Clássica de uma Doença ainda Actual. 124 Lúpus Eritematoso Sistémico - Lúpus Eritematoso Sistémico em doente com Síndrome de Joubert – caso clínico. 93 - Lesões cutâneas em recém-nascido. S193 Medicina Baseada na Evidência - Pediatria Baseada na Evidência. 29 - Pediatria Baseada na Evidência Formulação de Questões e Pesquisa Bibliográfica. 135 Mordida Aberta Anterior - Caso Estomatológico. 41 Mucolipidose Tipo II - Genes, Crianças e Pediatras. 105 Mutismo Selectivo - Mutismo Selectivo – Um Silêncio Incómodo: A Propósito de Quatro Casos Clínicos. S210 Neurosonografia - Imagem na avaliação do SNC: implicações no prognóstico – papel da ecografia no diagnóstico pré-natal. S173 Obesidade - Artigo Recomendado. 130 - Gastrobandoplastia no adolescente com obesidade mórbida. S200 - Obesividade e obstipação: que relação? S208 Odontoma - Caso Estomatológico. 101 Osteogenese Imperfeita - Pamidroto na Osteonenesis Imperfecta: tratar até quando? S209 Osteoma Osteóide - Imagens. 103 Panencefalite Esclerosante - Penencefalite esclelosante subaguda: uma doença rara ainda actual. S198 Pan-Hipopituitarismo - Pan-Hipopitarismo: Diferentes formas de apresentação de acordo com o sexo do paciente. S206 Parasitose Intestinal - Caso endoscópico. 39 Parotidite Neonatal - Parotidite neonatal a streptococus do grupo B. 233 Pectus Excavatum - Analgesia no pectus excavatum – Experiência da UCI do HCMP. S205 Pneumonia - Imagens. 44 - Pneumonia aguda da comunidade de evolução complicada. S191 - Pneumonia necrotizante: um caso clínico. S201 Prevenção - A educação sexual em meio escolar: uma perspectiva ética. 24 Psoríase - Psoríase – o sol como inimigo. S206 Puberdade Precoce - Puberdade precoce – caso clínico. S208 Queimadura - Perfil do grande queimado em cuidados intensivos pediátricos: Experiência de 12 anos. 70 Rastreio Oftalmológico - A Pediatria de ambulatório – avaliação da função visual dos 0 aos 5 anos. S194 Relações Familiares - Artigo Recomendado. 133 Salmonella - Gastroenterite por Salmonella em recém-nascidos. 128 Saúde Escolar - Como são os adolescentes de 13 anos em Ermesinde. Exame global de saúde numa escola. 120 Segurança do Doente - Experiences fropm Denmark Creating na Open Confidential System for Reporting and Learning from Adverse Events. 15 Sexualidade - A educação sexual em meio escolar: uma perspectiva ética. 24 Síndrome de Alport - Síndrome de Alport – uma forma de apresentação histológica rara. S210 - Síndroma de Churg-Strauss na Criança. 235 Síndrome Cornelia de Lange - Síndrome de Cornelia de Lange – a propósito de um caso. S198 Síndrome de Gilbert - Síndrome de Gilbert – causa rara de dor abdominal. S208 - Síndrome de Gilbert na pré-puberdade: um diagnóstico pouco frequente. S207 Síndrome de Joubert - Lúpus eritematoso sistémico em doente com síndrome de Joubert – caso clínico. 93 índice de assuntos 269 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 Síndrome Linfoproliferativo auto-imune - Síndrome Linfoproliferativo auto-imune: da suspeita clínica ao diagnóstico molecular. S199 Síndrome de Opitz-Frias - Síndrome de Opitz-Frias: caso clínico. S197 Síndrome de Peutz-Jeghers - Hiperpigmentação Peri-oral: o que suspeitar? S204 Síndrome de Prader-Willi - Genes, Crianças e Pediatras. 46 Síndrome de Stevens-Johnson - Pneumonia por mycoplasma pneumoniae e síndrome de Stevens-Johnson. S211 Síndrome de Williams - Síndrome de Williams:revisão da casuística da unidade de consulta do IGM. S119 270 índice de assuntos Susceptibilidade aos Antibióticos - Estudo do perfil de susceptibilidade a betalactâmicos em subculturas consecutivas de E. Coli. S213 - Prevalência da resistência à vancomicina em enterococcus no Hospital de Crianças Maria Pia de 2003 a 2006. S213 Tecnologias de Reprodução - O ser humano e a busca do segredo da vida. 87 Timo - Imagens. 260 Torcicolo - Torcicolo e vertigem paroxistica benigna da infância – diagnóstico e evolução clínica de 6 pacientes. S202 Toxina Botulínica - Aplicação Terapêutica da Toxina Botulínica nas Distonais. S181 - Toxina Botulínica: Aplicações Terapêuticas na Criança com Disfunções Miccionais. S184 - Toxina Botulínica: Aplicações Terapêuticas em Oftalmologia Pediátrica. S188 - Toxina Botulínica na criança: 5 anos de experiência. S200 Tummy Time - Tummy Time. S209 Ulcera Bucal - Caso estomatológico. 256 VIH - Infecção pelo vírus de Imunodeficiência humana na criança – aspectos psicossociais. 74 - Infecção por VIH – Tratar não é só medicar. S212 XX REUNIÃO DO HOSPITAL DE CRIANÇAS MARIA PIA Centro Hospitalar do Porto, EPE PORTO 10 A 12 DE NOVEMBRO DE 2008 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2007, vol XVI, n.º 4 AGRADECIMENTOS A Revista Nascer e Crescer agradece aos colaboradores, que fizeram a revisão dos manuscritos submetidos para publicação no ano de 2007. Esta intervenção é essencial para a qualidade científica dos artigos e representa horas de trabalho, experiência e esforço dedicados a esta actividade. Sentimo-nos honrados com a sua colaboração e disponibilidade. Ana Cristina Teixeira - Porto Artur Alegria – Porto Carlos Duarte - Porto Carmen Carvalho – Porto Céu Barbieri - Porto Cidade Rodrigues - Porto Clara Barbot – Porto Conceição Rosário – Porto Dora Simões – Porto Esmeralda Martins – Porto Fernando Pereira - Porto Francisco Cunha - Porto Inês Carrilho - Porto Inês Lopes – Porto José Banquart Leitão – Porto Laura Marques – Porto Maria Amélia José - Porto Margarida Guedes – Porto Miguel Coutinho - Porto Miguel Taveira – Porto Natália Teles – Porto A Revista Nascer e Crescer agradece o apoio publicitário concedido ao longo do ano 2007, pelas instituições abaixo indicadas: Associação do Hospital de Crianças Maria Pia Bayer Dermoteca Ferring Janssen-Cilag Merck Sharp & Dohme Schering-Plough Serono 272 agradecimentos
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