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Maior painel de grafite do Rio de Janeiro, assinado pelo artista Toz, localizado na sede da Lojas Americanas e da B2W Digital ED. 01 - 2013 VIDA NAS CIDADES onde os excessos se encontram Retranca retranca Roberto DaMatta “O meio urbano se desenvolve para um lado, mas em contrapartida, deixa seus espaços, a cidade tem luz e tem sombra.” Roberto DaMatta, antropólogo, conferencista, colunista e um pensador sobre os diálogos urbanos que traçamos cotidianamente no Brasil. A frase foi retirada de uma entrevista concedida ao jornal O Fluminense de sua cidade natal, Niterói, na qual problematizava os espaços possíveis das cidades. EXPLORE A revista Pense foi projetada para que você possa refletir sobre o mundo atual em diversas plataformas. Baixe nosso aplicativo “IBM Pense” na App Store ou no Google Play para seu tablet, acesse a comunidade da revista no Connections para compartilhar sua opinião com outros IBMistas pelo link bit.ly/ibmpense ou siga o nosso blog: http://revistapense.wordpress.com. 3 Insight nesta edição Por que é tão difícil parar para pensar? Rodrigo Kede Presidente da IBM Brasil #01 Pensei bastante em qual seria o tema ideal para a primeira edição da nossa nova revista Pense que substitui a revista IBMista, depois de 40 bem-sucedidas edições. O próprio nome da revista é sugestivo: “pense” é a tradução de “THINK” - mais do que uma palavra, um slogan e uma marca muito usada pelo nosso fundador Thomas Watson, até mesmo colocada em famílias de produtos, como nossos ThinkPads. Por trás desta palavra existe uma grande mensagem. Thomas Watson tinha uma frase célebre que dizia: “Todos os problemas do mundo poderiam ser solucionados facilmente se os homens estivessem dispostos a pensar. O problema é que os homens frequentemente recorrem a todo tipo de artifício para não terem que pensar, porque pensar é muito trabalhoso”. Apesar de ter sido dita há mais de 50 anos, essa frase nunca foi tão atual. Gosto tanto do slogan e da frase que pedi pra estampá-la em diversos murais, paredes e painéis dentro das nossas instalações. A revista IBMista lançada em 2006 deu voz ao nosso time e levou a todos a oportunidade de vivenciar a cultura da empresa, inclusive aos familiares e aposentados. A IBMista criou um importante espaço de convívio entre estes públicos e nos preparou para uma iniciativa ainda mais audaciosa: a revista Pense. A nova revista tem o objetivo de ir além e estimular um ambiente de colaboração e reflexão. A cada nova edição, teremos um tema central. A revista terá mais páginas, mais conteúdo e será multiplataforma, isto é, poderá ser vista também no seu tablet. Vamos instigar os leitores, IBMistas ou não, a questionarem e entenderem como a tecnologia pode e vai mudar o mundo. Para viver num planeta mais inteligente será necessário que as pessoas pensem e reflitam sobre soluções que resolvam os problemas do dia a dia das empresas, instituições e da sociedade. Esta primeira edição traz as cidades como tema central. As metrópoles são hoje pólos de pesquisa e desenvolvimento, inovação, cultura e lazer mas ao mesmo tempo se tornam uma fonte de problemas crônicos como trânsito, violência, poluição e abastecimento. Nós da IBM temos como uma de nossas grandes missões ajudar a tornar as cidades mais inteligentes, endereçando todos esses assuntos através do uso da tecnologia avançada e de processos de gestão. Eu cresci no Rio de Janeiro, morei em Nova Iorque e estou há mais de 10 anos vivendo em São Paulo, cidades com DNAs diferentes e com muitas qualidades. Porém, com muitos problemas em comum. Esta edição tem o objetivo de levar todos a parar para pensar sobre esses problemas e o que nós, da IBM, estamos fazendo para tornar a vida nas cidades mais inteligentes. Como consequência, que nós possamos aproveitar melhor as qualidades de cada uma delas. Folheando estas páginas ou lendo no seu tablet, conheça os temas propostos, explore o mundo por outros olhares e reflita sobre como você pode fazer diferente. Pense conosco! Abraço, Rodrigo Kede Muros que aproximam Grafite Nas pichações do metrô de Nova Iorque surgiu Keith Haring. Nos tapumes de Manhattan foram revelados os primeiros trabalhos de Basquiat. Nas ruas de São Paulo nasceram os Gêmeos, fazendo da cidade a tela para seu universo colorido e melancólico. A metrópole descascada encurtou o caminho entre o talento destes artistas e as ultravigiadas salas dos museus. A cidade, portanto, cria atalhos, converge, agrega. Nesta edição da revista Pense trazemos alguns dos artistas mais conhecidos dos muros das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. A primeira edição da revista Pense celebra o encontro do homem com o espaço urbano. Um lugar no qual a criatividade humana se impôs à natureza. E trouxe problemas que parecem insolúveis como o trânsito, a violência e a poluição. Mas que podem ser contornados com participação, mobilização, educação e com as infinitas alternativas que a tecnologia de hoje nos oferece. Os grafites da matéria de capa, assinados por dois dos maiores grafiteiros brasileiros da atualidade, registram este conflito entre as limitações e as possibilidades urbanas. E sintetizam a ambiguidade própria das cidades: locais onde o muro que separa casas é o mesmo que aproxima os cidadãos da arte - até então confinada a sofisticadas galerias. Este é o propósito da revista Pense. Aproximar pessoas e pensamentos. Nesta e nas futuras edições convidamos você a conhecer, a explorar e a refletir sobre o mundo em que vivemos: esse mundo que nós, como IBMistas, estamos ajudando a tornar mais inteligente. Toz (capa e destaque da matéria de capa) e William Mophos bit.ly/williammophos (esta página e matéria de capa) são filhos da realidade urbana e representam aqui a expressão da arte das ruas. Seja bem-vindo. Conheça, explore, reflita: pense! 5 índice Olhares EXPEDIENTE #01 ANO 1 - JULHO ‘13 www.ibm.com/br [email protected] A revista Pense é uma publicação trimestral da IBM Brasil 6 Olhares IBM Brasil: Presidente: Rodrigo Kede Esta edição contou com os pontos de vista de: 1 2 1. Gaston Sandoval O IBMista equatoriano que hoje vive na China revela seu encanto pela hospitalidade de Curitiba, no Paraná 3 2. Alexandre Lafer Defensor da qualidade de vida sem trânsito, é engenheiro e autor do livro Como Viver em São Paulo Sem Carro 3. Katia Pessanha Convidada para a coluna Ponto Final, a IBMista Katia Pessanha alerta para a extinção da gentileza nas grandes cidades Diretor de Marketing e Comunicação: Mauro Segura Diego Sanchez Gallo e sua missão: pensar em soluções colaborativas para os problemas da cidade Comunicação Invitro: 10 Horizontes Publisher: Bruno Chaves Coordenação Editorial: Carla Uyara O equatoriano que hoje vive em Xangai fala de suas descobertas sobre Curitiba Editora: Françoise Terzian Jornalista Responsável: Françoise Terzian (MTB 28849) 26 Crônica Repórteres: Jocelyn Auricchio e Regiane de Oliveira Projeto Editorial: Comunicação Invitro Projeto Gráfico: Maysa Simão 16 a 25 Capa Vida nas Cidades: é melhor fazer as pazes com a metrópole do que tentar domesticá-la Designer Responsável: Maysa Simão Tratamento de Imagens: Vitor Gonçalves Ilustrações: Filipe Carvalho e Renan Cardoso Toz Confira mais fotos do trabalho do grafiteiro em sua página do Facebook. 8 Nossa Cara Conselho Editorial: Flávia Apocalypse [email protected], Camila Della Negra - [email protected] e Giulia De Marchi - [email protected] Designers Assistentes: Hugo Peres e Isadora Marzano Grafite de Capa Conheça quem pensou esta edição com a gente Fotografia: Ariel Martini, Daniela Toviansky e Felipe Varanda Editora Tablet: Renata Kuhn Revisão: Gabriel Bruno Gráfica: Igil Tiragem: 19.000 exemplares bit.ly/tozrj Mantenha o planeta limpo 28 Entrevista A realidade da favela paulista de Paraisópolis pelo olhar do líder comunitário Joildo Barreto 30 Memória Wanderley Augusto testemunha 20 anos de transformações nos arredores da IBM Tutóia Abrir mão do carro é um luxo? Sim, conta Alexandre Lafer Frankel 34 Bastidores Arquitetos renomados colocam sua criatividade a serviço da IBM em diversos prédios pelo mundo 38 Top 5 Boas ideias que vêm melhorando a vida nas cidades 40 Techmob IBMistas dão dicas tecnológicas para quem quer aproveitar o que as cidades têm a oferecer 42 Ponto final Uma reflexão sobre a cordialidade perdida nas metrópoles 7 Nossa Cara foto: Ariel Martini Nome: Diego Sanchez Gallo Profissão: Engenheiro da computação Cargo: Pesquisador Local: IBM Research Brasil (Tutóia) Projeto: Citizen Sensing Pesquisador do grupo de sistemas humanos inteligentes, Diego Sanchez Gallo – que trabalhou no projeto do supercomputador Blue Gene e no grupo de multimídia IBM no laboratório de Watson – acredita que a tecnologia deve ter um impacto positivo na qualidade de vida dos indivíduos. Em seu projeto atual, Gallo pensa como as cidades podem ser melhoradas com soluções tecnológicas não intrusivas, como o uso dos sensores dos smartphones para alimentar uma grande inteligência artificial. Por meio de um aplicativo chamado Citizen Sensing, o cidadão colabora com outras pessoas, compartilhando voluntariamente o que acontece na cidade, como congestionamentos e enchentes. Esse mapeamento colaborativo ajuda na composição de modelos de análise urbana e também dá voz aos pedidos da comunidade. “A ideia é que as cidades prevejam as necessidades das pessoas, melhorando a locomoção e a qualidade de vida. A IBM tem contribuído em vários pontos na melhoria da vida das pessoas”, conclui. 9 Horizontes Baixe o aplicativo da revista Pense no seu tablet (para Android ou iOS) e veja mais fotos registradas por Gaston em Curitiba e em sua cidade adotiva, Xangai Curitiba tem 15 parques, 21 bosques e a maior concentração de área verde do país Texto e fotos: Gaston Sandoval Curitibano por três semanas O olhar de um IBMista radicado em Xangai sobre a capital do Paraná, uma das cidades mais desenvolvidas do Brasil A oportunidade de participar do projeto Smarter Cities Challenge em Curitiba foi o grande destaque ao longo de toda a minha carreira na IBM. Antes da visita, eu tinha uma vaga ideia de Curitiba como modelo de planejamento urbano para outras cidades da América Latina. Depois que cheguei e após interagir com os líderes locais de planejamento urbano, tornou-se muito claro na minha cabeça que Curitiba era muito diferente das várias outras cidades da América Latina. Curitiba não tem exatamente o objetivo de atender os serviços básicos da cidade, até porque a cidade já tem um bom controle sobre eles. O que Curitiba quer e busca são formas avançadas de conduzir um desenvolvimento econômico e social harmônico, que possa promover a inovação e cocriação de soluções à cidade com alto grau de participação da comunidade. A cidade busca, cada dia mais, estabelecer padrões muito elevados que pos- Gaston Sandoval é equatoriano, trabalhou durante anos na IBM dos Estados Unidos e hoje vive em Xangai, na China, onde atua como diretor de marketing digital da IBM para mercados em crescimento. sam atrair e reter talentos para viver e prosperar por lá. Um exemplo que realmente me impressionou muito foi seu foco na gestão de indicadores-chave de desempenho, capazes de medir o nível de felicidade na cidade. Curitiba, definitivamente, quer competir neste mundo acelerado, globalizado e plano. Contudo, é um lugar que vai além da preocupação e busca incessante por uma economia de escala – aquela em que se busca a maior eficiência ao menor custo. O que se procura ali é o desenvolvimento de economias de expertise ou especialização, como a competição em indústrias de alto valor agregado e oferta das melhores condições para que talentos desembarquem na cidade e aflorem em Curitiba. É por isso que eles prestam tanta atenção a fatores como “espaço verde por habitante”. Este, por sinal, vem crescendo na capital do Paraná. Saiba mais sobre o projeto Smarter Cities Challenge na matéria de capa a seguir 11 Horizontes Confira os índices que tornam Curitiba uma das cidades com mais áreas verdes do mundo: A ONU recomenda que as cidades tenham, no mínimo, 18 de área verde m² por habitante O índice de área verde em Curitiba, capital do Paraná, é de 64,5 m² por habitante 451 14 1000 praças florestas Curitiba contabiliza: 21 15 parques Mais verde por habitante O índice de área verde em Curitiba, capital do Paraná, hoje é de 64,5 metros quadrados por habitante ante os 51,5 metros quadrados registrados pela cidade em 2000, segundo cálculos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Nos últimos 10 anos, as áreas de cobertura vegetal da cidade passaram de 18% para 26%. Toda esta área transformou a cidade na “capital verde do Brasil” e uma das mais verdes do mundo, um exemplo internacional de planejamento urbano que prioriza a natureza. A ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda que as cidades tenham, no mínimo, 18 metros quadrados de área verde por habitante. “As cidades não são o problema, mas a solução”, afirmou uma vez o urbanista e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner, em uma de suas mais célebres frases. espaços públicos verdes bosques Do ponto de vista pessoal, eu posso dizer que fiquei impressionado com todos os curitibanos que conhecemos. Todos foram amigáveis, acolhedores e sempre preocupados em nos proporcionar uma experiência positiva. Foi uma experiência sobre ser feliz! Em Curitiba também achei interessante a forma como as pessoas valorizam os alimentos saudáveis e frescos e sempre buscam uma oportunidade para socializar. A vida noturna na cidade é incrível e nós realmente desfrutamos das visitas a alguns bares de samba. Em especial, destaco o Aos Democratas Bar e Restaurante e o Bar Acadêmicos do Salgueiro. São lugares fantásticos! Há muito para se aprender em Curitiba, no resto do Brasil e em toda a América Latina, especialmente em torno de seu planejamento de longo prazo e execução consistente. Os níveis de segurança, a qualidade de vida e o sentimento de orgulho em “ser curitibano” associados ao trabalho de proteção e desenvolvimento da cidade formam uma combinação engrandecedora. Ópera de Arame, cartão-postal de Curitiba, foi construída em estrutura tubular e teto transparente “Curitiba quer competir neste mundo acelerado e globalizado. A cidade busca se tornar competitiva em indústrias de alto valor agregado” As três semanas que eu tive de experiência em Curitiba, trabalhando com as autoridades da cidade e meus colegas IBMistas, e os poucos dias extras que passei no Rio de Janeiro com a minha esposa, realmente me mostraram que o Brasil é cheio de energia, com fome de crescimento, competindo agressivamente e desempenhando um importante papel na economia global. A preparação para a Copa do Mundo, no ano que vem, e os Jogos Olímpicos, em 2016, serão um marco importante para mostrar ao mundo a nova cara do Brasil. E eu estou confiante de que esses eventos esportivos irão potencializar ainda mais o progresso social e econômico do Brasil. Quando eu comparo Curitiba com Xangai, a cidade onde moro atualmente, enxergo semelhanças. A cidade chinesa é muito progressista, jovem e cosmopolita. Também é dona de um plano de desenvolvimento de longo prazo em movimento, que representa orgulhosamente a face moderna da China, bastante ansiosa para atrair os melhores talentos. O tamanho é uma grande diferença, mas, embora maior, Xangai demonstra sua capacidade de direção do desenvolvimento em larga escala, com aeroportos muito sofisticados e modernos, trens de alta velocidade e eficiente sistema de metrô. Tudo isso sem falar nas rodovias de classe mundial, um sistema de educação muito competitivo, dentre muitos outros fatores. 13 Horizontes “Fiquei impressionado com os curitibanos que conheci e com a forma amigável e acolhedora com a qual sempre fui tratado. Foi uma experiência sobre ser feliz!” Eu fui agradavelmente surpreendido com a qualidade de vida em Xangai, assim como a facilidade de acesso que a cidade proporciona a praticamente qualquer coisa. No entanto, alguns dos problemas típicos das grandes cidades, como a poluição e os engarrafamentos também são parte da experiência. A única limitação que você vê na China é a mídia. As mídias tradicional e digital ainda são controladas e monitoradas constantemente pelo governo. Redes sociais como Facebook, Twitter ou mesmo o YouTube são bloqueadas no país. Há, contudo, alternativas locais, como Sina Weibo (microblog similar ao Twitter), Renren (uma espécie de Facebook turbinado que ainda permite jogar online e ouvir músicas), Youku (muito parecido com o YouTube) e Millennials (rede social). Todos eles chineses, é claro. Tendo como base a minha experiência nestes dois países eu chego à conclusão de que a China e o Brasil estão, definitivamente, liderando a corrida entre os mercados emergentes. Ambos estão se tornando grandes economias globais, com crescimento em ritmo acelerado. Não só nas indústrias tradicionais, mas também em novas indústrias baseadas no conhecimento de emergentes. Gaston indica: imagem de divulgação Museu Oscar Niemeyer, um traço de beleza arquitetônica em Curitiba Aos Democratas www.aosdemocratas.com.br Rua Dr. Pedrosa, 485, Batel, Curitiba PR - (41) 3024-4496 Bar Acadêmicos do Salgueiro Rua Comendador Araújo, 938, Batel, Curitiba - PR - (41) 3044-2009 15 Capa Grafiteiro: Toz 17 capa Cidades possíveis A metrópole parece cada dia mais caótica, mas muitos estão modificando hábitos e reaprendendo a viver melhor com a ajuda da comunidade e das novas tecnologias Por Françoise Terzian e Regiane Oliveira Grafites William Mophos e Toz “Gostava de estar no campo para poder gostar de estar na cidade.” A frase do poeta Fernando Pessoa fala, sutilmente, das belezas da vida urbana. A rotina nas grandes cidades pode ter seus encantos quando vista de fora, porém se torna amarga quando vivenciada em trânsitos caóticos e cenários envoltos por poluição sonora, visual e atmosférica. A vida bucólica do interior traz de volta a paz perdida nas grandes metrópoles, mas também rouba o furor dos passos descontrolados pelas agitadas ruas e avenidas, bares, cafés, restaurantes e shoppings. Viver nas cidades tornou-se a realidade de 80% da população brasileira que, por opção ou necessidade, acabou se concentrando nos destinos de maior oferta de empregos. Segundo o urbanista e economista Anthony Ling, da Universidade Federal do Rio Grande Do Sul (UFRGS), a concentração populacional em uma região pode trazer benefícios aos seus moradores. Um dos principais é o aumento da interação entre as pessoas, desde o encontro cultural e recreacional entre grupos diferentes até um ambiente de mercado que permite maior especialização de empregos e surgimento de novas oportunidades de negócio. “Isso gera um ecossistema propício para inovação e, assim, uma atratividade para estas cidades ainda maior”, explica o economista. “Não vejo os maiores problemas que enfrentamos hoje nas metrópoles como culpa da aglomeração em si, mas sim de políticas urbanas que trazem resultados negativos que são potencializados e se tornam mais visíveis em uma grande cidade”, conclui Ling. O desenvolvimento econômico gerou o crescimento desenfreado da população, da frota de automóveis e de edifícios que, por falta de planejamento urbano, acabaram trazendo obstáculos para o dia a dia das grandes cidades. Segundo a psicóloga Rose Barboza, que trabalha em projetos sobre a violência contra a população em situação de rua de Brasília, a “cidade é um espaço de disputa”. “Não é um espaço parado, estático, pensado por um projetista. A cidade é um campo de conflito, onde está em jogo o direito à cidade”, conta Rose. O que ocorre, contudo, é que não adianta simplesmente reclamar e permanecer de braços cruzados. Viver bem ou viver mal, em qualquer que seja a metrópole brasileira ou estrangeira, é uma decisão que depende Grafiteiro: William Mophos 19 capa muitas vezes do indivíduo. Mudanças de hábitos, novas atitudes, engajamento em projetos comunitários e a utilização das novas ferramentas que a tecnologia vem trazendo têm ajudado os cidadãos a tirar o melhor do que as cidades podem oferecer. Uma dessas mudanças de hábitos é o chamado “novo urbanismo”, com bairros multifuncionais, contrário à ideia de áreas dedicadas a atividades específicas. Essa volta do olhar para dentro dos bairros tem levado ao surgimento inevitável de novos modelos de negócios, a exemplo das construtoras que passaram a priorizar localidades próximas às estações de metrô, a trocar a garagem por um bicicletário e até a construir empreendimentos que reúnem torres de salas comerciais e apartamentos residenciais em um mesmo local. A vida cada vez mais concentrada nos bairros também trouxe de volta um fenômeno do passado. Hoje, no lugar dos pequenos comércios familiares, o que se vê é a muliplicação dos mini-mercados conduzidos por grandes bandeiras que gradativamente têm reduzido a expansão dos hipermercados para acelerar a abertura de centros de compras menores e, assim, atender aos moradores locais no lugar de atrair habitantes de outras zonas das cidades, diminuindo, dessa forma, os deslocamentos desnecessários. Ajudar na melhoria da cidade tornou-se, definitivamente, o lema do século XXI. Essa é a realidade de dois profissionais: um carioca, Antonio Carlos Dias, líder da iniciativa de Cidades Mais Inteligentes da IBM, e outro paulistano, Rodrigo Bandeira, idealizador da plataforma de colaboração Cidade Democrática. Ambos, mesmo que de forma distinta, atuam para melhorar a qualidade de vida nas regiões onde vivem, assim como têm feito muitas pessoas que buscam transformar o entorno do lugar que escolheram para viver. Nas próximas páginas você vai saber um pouco mais sobre o trabalho deles. Grafiteiro: Toz Grafiteiro: William Mophos A tecnologia a serviço do bem-estar Cidades inteligentes aprendem com os anseios de seus moradores A iniciativa de Cidades Mais Inteligentes da IBM visa oferecer propostas e soluções tecnológicas para problemas críticos das cidades, como trânsito, segurança pública e infraestrutura, ou seja, transformar a tecnologia em um meio para tornar as metrópoles mais humanas e habitáveis. O projeto vem ajudando a mudar a realidade dos habitantes de diversos centros urbanos pelo mundo, como Zhenjiang, na China, Dubuque e Honolulu, nos Estados Unidos e ainda das cidades brasileiras do Rio de Janeiro e Porto Alegre. Em seu trabalho para fazer as cidades mais inteligentes, Antonio Carlos, conhecido como AC, participou da criação do COR - Centro de Operações Rio, no Rio de Janeiro, um dos projetos mais audaciosos da IBM em todo o mundo. Basicamente, o centro integra 30 órgãos públicos que monitoram, 24 horas por dia, os principais incidentes da cidade, como chuvas fortes e acidentes de trânsito, por exemplo. “A tecnologia pode ajudar não só a prevenir enchentes como também auxiliar no transporte. Podemos, por exemplo, “O maior desafio é aprender a usar todas as informações que estão à disposição” 21 capa tornar mais precisas as análises para prevenir engarrafamentos”, explica. “Mas o maior desafio é aprender a usar todas as informações que estão à disposição, pois isso envolve treinamento dos profissionais e cruzamento de dados”, conta Guruduth Banavar, IBMista indiano, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do Centro. O mérito do projeto da IBM é fazer com que o Rio funcione como um organismo vivo, de maneira inteligente, onde o centro de controle de crise é o cérebro, que recebe as informações e define o conjunto de ações para reagir ao que acontece na cidade. Aqui, é a tecnologia que garante a transformação do ambiente urbano. trabalho de executivos da companhia de diferentes países do mundo em parceria com os governos locais. A escolha de Porto Alegre se deu pelo fato de a cidade já contar com uma tradição de participação cidadã na definição de como parte do orçamento da prefeitura é investida, o chamado Orçamento Participativo (O.P.). O projeto de transformar POA em uma “cidade cognitiva” engloba a criação de uma série de ações gerenciadas em um centro de operações, com profissionais de diversos órgãos da prefeitura para receber, simular, analisar e organizar informações a fim de avaliar o impacto antes das tomadas de decisões e ações demandadas pelo OP. Se a tecnologia promove as mudanças, estas podem ser muito mais profundas quando contam com o envolvimento da população. “Precisamos fazer com que a cidade se torne cognitiva, isto é, que aprenda com os acontecimentos ao seu redor e ajude os governantes a tomar decisões com base nos anseios dos cidadãos”, conta AC. Dias admite que “fazer uma cidade aprender” é audacioso. Porto Alegre utiliza softwares que detectam a satisfação da população em relação às ações do governo, bem como projetos, propostas e notícias. A cidade conta com um sistema de comunicação direta com os cidadãos, o “Fala Porto Alegre” (156), que funciona 24 horas por dia. O trabalho de tornar o Rio e Porto Alegre cidades inteligentes está só começando, mas AC tem certeza de que os avanços serão rápidos. Neste ano, Porto Alegre assumiu o compromisso de se tornar uma cidade cognitiva. A capital gaúcha foi nomeada pela IBM para o projeto Smarter Cities Challenge, que tem como objetivo auxiliar cidades em seus desafios socioeconômicos por meio do Grafiteiro: William Mophos A tecnologia também tem tido grande influência na diminuição de um dos grandes problemas da cidade de Nova Iorque: a violência. A IBM trabalhou com a polícia local para criar um megabanco de dados que pudesse reunir todas as informações guardadas em arquivos metálicos, fichários e notas manuscritas. Hoje, o RTCC (New York City Real Time Crime Center) reúne mais de 120 milhões de queixas criminais na cidade, 31 milhões de registros de crimes nacionais e 33 bilhões de informações públicas. Métodos sofisticados de análise de dados e recursos de busca estabelecem conexões através de múltiplos bancos de dados. As informações podem ser visualizadas, em segundos, em uma tela de vídeo: a foto de um suspeito aparece com detalhes – tatuagens, delitos anteriores, endereços com mapas – rapidamente. Dados críticos podem ser enviados instantaneamente aos policiais na cena do delito. O que antes levava dias, agora é feito em minutos graças à tecnologia. As transformações trazidas pela tecnologia, no entanto, não se restringem a grandes iniciativas como Cidades Mais Inteligentes. Inúmeros aplicativos para smartphones, alguns bastante simples, têm facilitado, e muito, a vida dos moradores das cidades. Falamos mais sobre eles nas seções Nossa Cara e Techmob. Grafiteiro: William Mophos Atitudes pessoais por um bem comum Gente que faz, e faz por todos A tecnologia tem tido papel fundamental na transformação das cidades, mas é a participação das pessoas e de organizações sem fins lucrativos na gestão de políticas públicas que dá mais inteligência a elas, na opinião de Rodrigo Bandeira da plataforma colaborativa Cidade Democrática (cidadedemocratica.org.br), que compreende um site na web, metodologias e processos criados para facilitar a colaboração entre os cidadãos. Há uma máxima que diz que a vida só muda quando a gente muda. E isso Bandeira defende no conceito de “ecossistema webcidadania”, que tem como base a inversão de paradigmas. Isto é, as pessoas deixam de ser indivíduos passivos, sujeitos às decisões políticas, e passam a ter voz ativa na defesa de seus interesses. O Cidade Democrática realiza concursos culturais voltados a desenvolver soluções inovadoras para temas de interesse social. A IBM apoia a organização social que está por trás do projeto, oferecendo consultores para ajudar Amigo dos livros Recentemente,a organização finalizou um concurso para a melhoria de um bairro em São Paulo. “A Pompéia que se quer” mobilizou mais de 200 pessoas para construir um plano de ação para o local. O ganhador foi o projeto Horta Comunitária da Pompéia, que atua em espaços públicos e terrenos baldios, com o intuito de aumentar a socialização entre os moradores com o plantio de vegetais orgânicos. O curitibano Alessandro Martins teve uma boa ideia enquanto tomava café da manhã na padaria perto de sua casa. Por que não fazer ali uma biblioteca livre onde se poderia pegar um livro sem fazer nenhum tipo de cadastro e devolvê-lo quando quisesse? Foi assim, com este desejo de contribuir para a cultura da comunidade, que ele conversou com os donos da padaria Pote de Mel que, rapidamente, abraçaram a ideia e providenciaram uma estante. “Gosto muito de ler e vejo que a leitura é uma forma de se aproximar do outro e de outras ópticas do mundo”, conta Martins. “Começamos plantando árvores no local e logo os vizinhos se interessaram, trazendo ferramentas e dispostos a ajudar. Quando vimos, as reuniões de domingo passaram a contar com 20 a 30 pessoas. E qualquer um, mesmo que não participe, tem direito a colher os projetos da horta”, explica Adriano Sampaio, um dos idealizadores da horta da Pompéia. Se inscrever no concurso foi uma forma de aumentar a divulgação e tentar apoio público para ampliar o projeto. Seu objetivo com o projeto foi promover a circulação livre de livros, muito mais do que gerar um acervo. As primeiras obras foram doadas por ele cerca de 50 no começo. Depois ele passou a abastecer gradativamente a “biblioteca”, assim como outros frequentadores da padaria que hoje tomam café com leite e comem um pão na chapa acompanhados, por exemplo, de Clarice Lispector, Fernando Pessoa e Julio Cortázar. no planejamento estratégico, no plano de negócios e no plano de desenvolvimento tecnológico do site. 23 capa “As grandes cidades concretaram a natureza” A vida em duas rodas Ao invés de se queixar de congestionamentos, um dos problemas mais recorrentes nas grandes cidades, há pessoas que adotaram a bicicleta não só como meio transporte mas também como projeto de vida. William Cruz, um dos mais famosos ativistas da bicicleta, trocou o emprego na área de informática para trabalhar integralmente no site Vá de Bike! (http://vadebike.org/). Desde 2004, Cruz desenvolve e apoia diversos projetos e ações que visam ampliar a utilização das bicicletas nas grandes cidades, como o Bike Anjo, Ciclocidade e o Dia Mundial Sem Carro. O ativista também dá palestras e comanda fóruns sobre mobilidade urbana e bicicletas. Verde nas alturas A jardinista Leticia Momesso é outra que aposta nas intervenções em áreas públicas como caminho para se unir a outras pessoas interessadas em driblar a “vida árida das cidades”. Ela começou fazendo uma horta suspensa no muro da sua casa, o que atraiu o interesse e a colaboração de vizinhos. “Quando pesquisei o assunto, descobri o grupo Hortelões Urbanos, no Facebook, que conecta pessoas interessadas em fazer hortas comunitárias.” O fio condutor que une os horteleiros é a melhoria da qualidade de vida. “As grandes cidades concretaram a natureza. Mas nós também somos natureza, antes mesmo de sermos cultura ou executivos. E essa desconexão é insalubre. Precisamos resgatar esse contato com a terra”, afirma Leticia. Grafiteiro: William Mophos Recentemente, Cruz participou de uma reunião com o prefeito de São Paulo, juntamente a outros ativistas, para apresentar demandas dos ciclistas da cidade. A prefeitura tem planos de iniciar uma campanha de rádio para sensibilizar a população sobre mobilidade por bicicletas e Willian será um dos interlocutores desse processo com a prefeitura. Cruzada em prol da história Todos podemos fazer diferença para melhorar a vida em nossa cidade. Esta é a mensagem de Angela Maria Oliveira Mello, mãe da IBMista Fernanda Fronterotta Bernasconi, executiva de vendas da IBM, que realizou uma cruzada para proteger o antigo Hospital Matarazzo (Hospital e Maternidade Umberto Primo). Localizado no bairro Bela Vista, próximo à Avenida Paulista, o conjunto de prédios de estilo neoclássico, que começou a ser construído em 1904, foi tombado em 1986, como bem cultural de interesse histórico-arquitetônico. Grafiteiro: William Mophos O interesse das pessoas por essa reaproximação com a natureza fez Leticia criar uma empresa, a Peperômia, que auxilia a criar hortas suspensas em pequenos espaços. Foi graças à organização dos moradores da região que não veio abaixo no final da década de 1990. “Os edifícios estavam passando por um processo de destombamento para dar lugar a um conjunto residencial”, afirma Angela, que na época era representante da Associação dos Moradores da Bela Vista. Foram 10 anos de luta na Justiça, que terminou com o sucesso da ação de Angela. O local foi comprado no final de 2012 pelo grupo hoteleiros francês Allard, que teve de negociar com a associação do bairro os termos para conseguir tocar o projeto. No lugar de residenciais, a empresa prometeu recuperar as fachadas dos prédios e criar uma grande alameda de serviços, integrada ao bairro, com áreas comerciais, shopping, hotel, centro cultural, teatro, etc. “A cidade saiu ganhando, porque teve seu patrimônio preservado. Mas se não cumprirem, voltamos à Justiça”, avisa Angela. O caminho inverso Trocar um local que concentra uma população flutuante de cinco milhões de pessoas por uma cidade de 45 mil habitantes não parece simples para quem vive com as facilidades das grandes capitais. De olho na possibilidade de melhorar a qualidade de vida dos filhos de 12 e 7 anos, o IBMista Hector Barbosa, arquiteto de soluções da IBM, e a esposa colocaram no papel os prós e contras de mudar de cidade. Foi assim que eles deixaram Belo Horizonte e foram para Arcos, no Centro Oeste de Minas Gerais. “Custo de vida, educação, saúde, moradia, trabalho. Balizamos tudo. E Arcos era a escolha ideal, pois já tínhamos família na reGrafiteiro: Toz gião.” O fato de Hector trabalhar como mobility – 40% do tempo em home office e 60% em clientes – foi determinante para a família, que se mudou há um ano e meio. “Morar em Arcos é como estar em um grande viveiro de pássaros, toda hora você ‘tromba’ com alguém conhecido”, brinca o mineiro. Para ele, o melhor é que os filhos podem ir ao clube e à escola sozinhos, sem preocupações. “Aqui o ar é diferente, o dia é diferente. Sou muito grato por poder oferecer esta vida à minha família.” PENSE: seja convivendo melhor no caos da metrópole ou diminuindo o ritmo de vida numa cidade pequena, será que você não consegue fazer as pazes com o lugar onde mora e viver melhor? 25 Capa Crônica capa - crônica Luxo é não ter carro Não dá mais para viver 480 horas por ano no trânsito Carlos é um homem que se considera bem-sucedido. Casado e pai de dois filhos pequenos, ele mora em uma bela casa em um condomínio de classe média alta na região metropolitana de uma grande cidade, tem um bom emprego num banco, dois carros importados e pode proporcionar uma vida sem restrições à sua família. Carlos sai de casa todos os dias às 6 horas da manhã, já que gasta em média 30 minutos para deixar os filhos na escola e mais uma hora e meia para chegar ao escritório, em uma jornada de pouco mais de 30 quilômetros por vias abarrotadas de carros. Na volta para casa, quase sempre depois do horário do “rush da tarde”, consegue cumprir o trajeto em uma hora. Todos os dias, Carlos gasta pelo menos três horas dentro de um carro, o que tem feito com que ele venha repensando o conceito de “bem-sucedido”. Enfrentar o caos que domina o trânsito nas grandes cidades não é um privilégio de Carlos. De acordo com uma pesquisa recente realizada pelo Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) para o livro “Como viver em São Paulo sem carro”, três horas é o tempo médio que o paulistano gasta apenas para ir e vir do trabalho. Isso significa 480 horas por ano, ou três meses de trabalho em jornadas de 40 horas semanais. É muito tempo – e um tempo precioso que poderia ser gasto com a família, praticando esportes, lendo ou desenvolvendo projetos pessoais. Mas não. Este tempo é simplesmente desperdiçado em um vai-e-vem sem fim em meio aos mais de sete milhões de carros que circulam diariamente pela capital paulista. Buscando fugir dessa rotina de estresse, muitas pessoas passaram a repensar o modo como vivem. Morar longe do Centro tornou-se sinônimo de inferno ou “suburgatório”, como define o nome de uma série da TV americana. Ainda de acordo com a pesquisa, 65% dos paulistanos estariam dispostos a mudar de casa para morar mais perto do trabalho e fugir do trânsito. Entre os mais jovens, entre 25 e 44 anos, este percentual chega a 71%. Atualmente, o trânsito é apontado por 68% dos moradores de São Paulo como o principal problema da cidade. A boa notícia é que a população de São Paulo está voltando para o centro, atraída por um modelo de cidade compacta, o “novo urbanismo”. Através do uso inverso, ou seja, o lançamento de empreendimentos residenciais em áreas com grande concentração de lajes corporativas e a construção de escritórios em regiões estritamente residenciais, os deslocamentos estão sendo reduzidos gradativamente. Já existem em São Paulo prédios de uso misto, onde profissionais liberais, por exemplo, podem viver e trabalhar no mesmo complexo. Os próprios prédios estão diferentes. Hoje é impensável lançar uma torre residencial sem infraestrutura para ciclistas. O mercado exige isso. Em alguns casos, a preocupação com a mobilidade chega ao ponto de o condomínio disponibilizar um carro para ser compartilhado entre seus moradores. A preocupação com o entorno dos empreendimentos também é crescente e pequenas gentilezas à cidade, como a construção de minúsculas praças ou restaurantes abertos ao público, já começam a aparecer pelas cidades. Assim como os apartamentos compactos, muitas vezes assinados por arquitetos conceituados, que aproveitam cada metro quadrado da forma mais eficiente e possibilitam uma vida confortável em espaços menores, mas bem localizados. Esta é uma tendência em cidades onde o Colaborou: Alexandre Lafer Frankel, 35 anos, é engenheiro e autor do livro “Como viver em São Paulo sem carro” mercado imobiliário já é mais desenvolvido – e o metro quadrado mais caro –, como Nova Iorque, Londres e Tóquio. Por aqui, ainda é um fenômeno recente, mas que sem dúvida chegou para ficar. A vida numa metrópole exige praticidade, e perder três horas por dia no trânsito não é nada prático. O maior luxo que se pode ter nos dias de hoje é morar perto do trabalho e dispensar, por opção, o carro. Muitas vezes é preciso abrir mão de alguns metros quadrados. Contudo, os ganhos em qualidade de vida compensam qualquer esforço. Há pouco mais de um ano, Roberto, subordinado de Carlos no banco e seu ex-vizinho de condomínio, mudou-se para um apartamento menor, próximo ao escritório. Cansado da vida sobre quatro rodas, trocou o carro por uma bicicleta, que usa diariamente para ir ao trabalho, num trajeto de 10 minutos. Com tempo de sobra para cuidar da vida pessoal, Roberto nunca foi tão feliz – e hoje virou exemplo de pessoa bem-sucedida para o chefe Carlos. 27 3 4 5 6 7 8 9 10 fonte: IBGE 2 10.Heliópolis (SP): 41.118 1 Cidade de Deus (AM): 42.476 O IBGE fez um levantamento com base nos dados do Censo Demográfico 2010 para chegar ao ranking das maiores favelas do país. Paraisópolis (SP): 42.826 PENSE: Quando você começou a atuar como líder comunitário? JOILDO: Comecei ainda na escola a desenvolver projetos para a comunidade. Isso ocorreu por meio da minha participação no grêmio estudantil. Isso aconteceu porque eu cresci junto com a comunidade. Quando cheguei aqui, em 1998, em busca de melhores oportunidades, a rua principal era de terra e as poucas casas, uns barracos de madeira, tinham quintais com árvores, mas sem água e esgoto. Hoje, não vemos espaços verdes. Em contrapartida, a região conta com 13 escolas, uma Assistência Médica Ambulatorial (AMA), três Unidades Básicas de Saúde (UBS), dois bancos, uma loja da Casas Bahia, dentre outros pequenos ● 12 milhões de brasileiros vivem em favelas; ● R$ 56 bilhões é a renda anual dos moradores dessas comunidades, o que equivale ao Produto Interno Bruto total da Bolívia; ● 89% dos moradores já têm telefone celular; ● o número de brasileiros que têm computadores com internet nas comunidades saltou de 1% para 31% nos últimos 10 anos; ● a maior parte das compras realizadas pela população da favela é feita dentro das comunidades; ● 35% dos habitantes das favelas passaram a ter ensino médio completo, ante 13% em 2002. AS 10 MAIORES FAVELAS DO BRASIL Pirambú (CE): 42.878 Joildo Barreto é a voz ativa dos 43 mil moradores de toda Paraisópolis PENSE: De todas as ações que participa, qual é seu trabalho mais importante? JOILDO: Vencer o preconceito. Paraisópolis ainda é sinônimo de violência. O SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) tem medo de entrar na comunidade. E por quê? Toda a violência que acontece nos arredores é atribuída a Paraisópolis. No jornal e no site nós costumamos analisar as notícias sobre registros de violência que são atribuídos Casa Amarela (PE): 53.030 BASTIDORES DAS FAVELAS PENSE: E quanto ao transporte? JOILDO: Temos na proximidade do bairro duas estações de metrô sendo construídas e que deverão ser entregues até 2015. É uma evolução, porque inicialmente o governo queria passar um monotrilho bem no meio da comunidade. Foram anos de negociação para não deixar que a comunidade fosse fatiada, mas conseguimos. Baixadas da Estrada Nova Jurunas (PA): 53.129 PENSE: Por que você chama Paraisópolis de comunidade se, em 2005, quando teve início o processo de urbanização da região, a então favela foi promovida a bairro? JOILDO: Porque as mudanças na região não foram suficientes para dar status de bairro a Paraisópolis. Não temos um hospital, por exemplo. Pa- PENSE: E a população da comunidade, como vê a violência? JOILDO: Sofremos com os mesmos males que outros bairros, como roubos ou venda de drogas. Mas o trabalhador, em geral, não percebe. Aliás, consideramos a região bastante segura, apesar das estatísticas divulgadas. Contestar essas informações é um trabalho importante para alavancar a autoestima da população. Além disso, estamos pleiteando mais investimentos em creches, saúde, quadras esportivas, isso tudo ajuda. Não temos um único cinema, clube ou faculdade na região, onde sete de cada 10 moradores têm menos de 30 anos. Afinal, para quem mora em Paraisópolis, vencer os cerca de 15 quilômetros que separam a comunidade do Centro, onde estão os museus, cinemas, teatros e outros atrativos culturais, com o transporte público e o trânsito, é muito difícil. Por isso, nossa luta ainda está longe de terminar. Coroadinho (MA): 53.945 PENSE: Em uma cidade caótica como São Paulo, como você faz para dar conta de tantos projetos ao mesmo tempo? JOILDO: Profissionalmente sou editor do jornal, é de lá que tiro meu sustento. Os demais trabalhos são voluntários. Como tudo funciona no mesmo edifício em Paraisópolis, posso fazer tudo ao mesmo tempo. Acompanho a programação da rádio enquanto escrevo os projetos de lei de incentivo para os moradores e apuro e edito as reportagens do jornal e do site. Se tivesse que cruzar a cidade, não conseguiria. Muitos têm de passar uma hora e meia no trânsito só para chegar ao Centro. O tempo no trânsito chega a ser maior do que o tempo que os pais passam com seus filhos em casa. PENSE: Paralelamente, você também saiu em busca dos seus sonhos... JOILDO: Aproveitei todas as oportunidades que eu tive. Minha escola tinha parceria com empresas. Lá nós tínhamos tudo: informática, biblioteca, apoio pedagógico. Aprendi que o crescimento pessoal depende muito do aluno. Alguns amigos entraram na USP (Universidade de São Paulo) enquanto outros foram para o crime. Eu me formei em Ciência da Computação. Em 2007, surgiu a ideia de fazermos um jornal, com uma cara moderna, que pudesse refletir os anseios da comunidade. Rio das Pedras (RJ): 54.793 O dia a dia desse jovem de 27 anos é de causar espanto aos mais experientes executivos. Joildo Barreto, morador da comunidade Paraisópolis, na zona Sul de São Paulo, é diretor de comunicação da União dos Moradores e do Comércio da região, onde acumula a função de vice-presidente. Também atua como diretor da Rádio Nova Paraisópolis 87,5 FM. É ainda presidente da Agência Paraisópolis de notícias e editor do Jornal Espaço do Povo. Todas essas funções tão ativas fizeram de Barreto a voz dos 43 mil moradores de Paraisópolis, comunidade de 800 mil metros quadrados e edificantes histórias. Joildo conversou com a revista Pense sobre os desafios de um bairro que é uma verdadeira cidade dentro da megalópole. Veja mais fotos desta entrevista no aplicativo da revista Pense para tablet (iOS ou Android) a Paraisópolis, mas que, às vezes, ocorrem num raio de cerca de 10 quilômetros ao redor do bairro. raisópolis faz parte do distrito Vila Andrade, bem no meio do Morumbi, uma área de grande contradição social. E vamos pressionar a prefeitura até conseguirmos nosso hospital. Essa é a nossa maior bandeira. Sol Nascente (DF): 56.483 As lições de Paraisópolis, o bairro que já foi considerado a maior favela de São Paulo comércios como pet shops, mercados, cabeleireiros e corretores de imóveis. Rocinha (RJ): 69.161 habitantes A voz da comunidade capa - entrevista fontes: Instituto Data Favela e IBGE Capa Entrevista Por Regiane de Oliveira 29 Capa Memória capa - memória Fotos Daniela Toviansky Ilustração Filipe Carvalho Por Regiane de Oliveira No aplicativo da revista para tablet, você assiste a um vídeo de Wanderley mostrando o bairro de sua infância Os contornos modernos do edifício-sede da IBM em São Paulo disputam, nos últimos tempos, a paisagem da cidade com uma dezena de lançamentos imobiliários. Arranha-céus residenciais de luxo substituem pouco a pouco as pequenas casas assobradadas do bairro do Paraíso, na zona Sul da capital paulista. Espaços em que antes habitavam poucas famílias, agora recebem centenas de pessoas no quadrilátero formado pela Avenida 23 de Maio e pelas ruas Tutóia, Tomás Carvalhal e Carlos Steinen. E este é apenas um recorte da velocidade das mudanças na cidade. Se este quarteirão falasse... Um passeio pelos arredores da Rua Tutóia, no bairro do Paraíso, em São Paulo, guiado por Wanderley Augusto, IBMista criado na região, mostra como o tempo transformou a cidade nos últimos 40 anos Wanderley Augusto, 47, é IBMista há 13 anos e por duas décadas morou na Rua Tomás Carvalhal, na vizinhança da IBM em São Paulo, onde acompanhou as mudanças do bairro 31 capa - memória Capa Memória Uma cicatriz em meio à cidade “Preocupações da infância? Não se ralar no asfalto em dias de jogo e não derrubar a bola dentro da IBM. Os guardas não deixavam a gente pegar e não a devolviam” O quarteirão de Wanderley é um organismo vivo, que tem nele representadas todas as variáveis que compõem a vida na cidade: comércio, saúde, educação, lazer e também violência. Mas o que era a violência para uma criança que cresceu brincando na rua, na década de 1970, em um bairro de classe média de São Paulo? “Era diferente da violência urbana de hoje, porque era institucional. A violência vinha do Estado, estávamos na Ditadura.” No quadrilátero das memórias de nosso guia há uma cicatriz na história da cidade. A Operação Bandeirante (Oban), centro de investigações montado pelo Exército do Brasil em 1969, funcionava ali, no número 1030, nos fundos da 36ª Delegacia de Polícia, da rua Tomás Carvalhal. As guaritas utilizadas pelo exército ainda ocupam seu lugar de honra no muro, do que hoje é apenas um estacionamento. Quando a igreja era o centro do bairro Wanderley Augusto, 47, gerente de programas de marketing da IBM, acompanhou de perto a revolução na vizinhança da sede da empresa. Morador da rua Tomás Carvalhal durante 20 anos, ele cresceu em uma época em que o centro do bairro era a Igreja do Santíssimo Sacramento, do Padre Luiz. “Um polonês, que as crianças acreditavam ser refugiado de um campo de concentração”, lembra nosso guia do quarteirão. A igreja ainda é famosa pela quermesse, mas não abriga mais a escola de ensino primário onde Wanderley estudou. “Era uma escola pública e de qualidade”, lembra-se. A diversão era jogar futebol e andar de carrinho de rolimã – à época, um moderno equipamento de madeira, dotado de rolamentos, capaz de atingir alta velocidade ladeira abaixo. Vale lembrar, Ermerson Fittipaldi seria bicampeão de Fórmula 1 nos anos 70. Por isso, treinar nunca era demais, afinal o próximo campeão poderia sair dali mesmo. A Oban fazia parte do Destacamento de Operações Internas/ Centro de Operações de Defesa Interna, o temido DOI-Codi. Foi ali, na vizinhança de Wanderley, que o jornalista Vladimir Herzog se apresentou, em 1975, para esclarecer suspeitas de que estaria envolvido com o PCB. De lá, saiu morto. Só em março deste ano, a família de Herzog recebeu um atestado de óbito dizendo que a causa de sua morte fora “lesões e maus-tratos” e não suicídio, como alegado pelos militares na época. “Sabíamos que naquela parte da rua não poderíamos sequer parar, muito menos brincar.” Progresso versus as histórias de criança Não muito longe do DOI-Codi, a casa da família de Wanderley, dividia a vizinhança com outras residências geminadas, de portões baixos, “daqueles que só servem para segurar o cachorro”. Na rua não se veem mais a carvoaria, um tipo de comércio hoje extinto, mas que fazia sucesso na venda de carvão por quilo. Também desapareceu o boteco onde Wanderley trocava tampinhas de refrigerante por seus jogadores preferidos da Copa de 1970. A casa dos pais de Wanderley foi vendida em 2003 para compor a área de um prédio residencial de 18 andares, com portões altos, cercas elétricas e seguranças 24 horas. No cenário atual, é impossível pensar que um vizinho chegou a criar dois filhotes de veados, como o Bambi do desenho, e que a casa de seus pais nunca fora assaltada. “Podíamos andar de bicicleta, ir de ônibus às partidas de futebol, ficar à noite na rua”, afirma ele, ciente que seus filhos não têm a mesma sorte. Novas rotas para “voltar para casa” Morador de Perdizes, na zona Oeste, Wanderley agora encara o trânsito para chegar ao trabalho em sua antiga vizinhança. Faz o trajeto de 8 km em cerca de 30 minutos. Uma curva errada e este percurso poderia se tornar uma tortura de horas no trânsito. “Em dias de rodízio, às vezes venho de transporte público. Demora um pouco mais, mas compensa, pois posso vir lendo.” Wanderley sabe que o Paraíso não é mais o “seu” bairro, onde as únicas preocupações eram “não se ralar no asfalto em dias de jogo” e não deixar a bola cair no estacionamento da IBM. “Os guardas não deixavam a gente pegar e também não a devolviam.” Mas a memória sempre dá um jeito de lembrá-lo que, de certa forma, está em casa. Ele ainda sente o cheiro da fábrica de uma cervejaria, que funcionava na Rua Vergueiro, toda vez que passa pela Avenida 23 de Maio. A história tem seus truques para não se deixar esquecer. Mas o futebol era palavra de ordem. “Disputa, sempre”, lembra o torcedor corintiano. E sem briga. A rivalidade ficava no campinho de futebol na rua Said Aich, com o clássico: Garotos da Tomás Carvalhal versus Garotos do Prédio. E se batesse o tédio, havia aquele terreno ao lado da 23 de Maio, que guardava os escombros e restos de casas da época da construção da grande avenida. “Era nosso cenário de guerra”, conta. A área foi pacificada com o edifício da IBM, e se tornou um point da modernidade: ficavam no andar térreo do edifício os primeiros caixas eletrônicos instalados na região, os quais eram utilizados pelo pai de Wanderley. 33 Bastidores bastidores A IBM na paisagem urbana O prédio da IBM na Rua Tutóia, em São Paulo, virou ponto de referência para quem passa pela Avenida 23 de Maio, uma das principais vias da cidade. O mesmo acontece em Chicago, Nova York, Seattle, dentre tantas outras cidades onde a Big Blue fincou seus arranha-céus. Mais do que a altura, as construções ficaram globalmente famosas pela arquitetura assinada por grandes mestres do design como Eero Saarinen, Ludwig Mies van der Rohe e Minoru Yamasaki. IBM Plaza Chicago, EUA Inauguração: 1973 Desenhado pelo arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe, um dos fundadores da arquitetura moderna. Ludwig é o criador da cadeira Barcelona, objeto de desejo de decoradores em todo o mundo. É típico do seu trabalho o uso de materiais como o alumínio negro e o vidro, a exemplo do que foi aplicado no prédio da IBM em Chicago, destaque da paisagem urbana da cidade, incluído no cadastro nacional de locais históricos dos Estados Unidos em 2010. Embora não pertença mais à IBM, até hoje é conhecido pelo nome da companhia. IBM Tutóia São Paulo, São Paulo, Brasil Inauguração: 1977 O edifício foi projetado pelos arquitetos Plinio Croce, Roberto Aflalo e Gian Carlo Gasperini, autores de diversos projetos famosos na cidade, como o prédio do Citibank, na Avenida Paulista, a casa de shows Credicard Hall e a Biblioteca São Paulo, localizada onde antes ficava o presídio do Carandiru. Construído em concreto aparente e vidro, o prédio da Tutóia é até hoje um marco arquitetônico da capital paulista. IBM Building Também conhecido por 590 Madison Avenue Nova York, EUA Inauguração: 1983 Desenhado pelo arquiteto americano Edward Larrabee Barnes, bastante reconhecido por criar grandes obras como o Museu de Arte de Dallas e o Walker Art Center. Barnes fez da construção um dos marcos da cidade não só pelo seu traçado, mas também pelo feito de conseguir integrá-la às ruas relativamente apertadas do bairro. Assim como o prédio de Chicago, ainda é lembrado como o edifício da IBM, mesmo que a empresa já não o ocupe mais. La Tour IBM Marathon Montreal, Canadá Inauguração: 1992 Projetado pela Kohn Pedersen Fox ou KPF, a maior firma de arquitetura de Nova York e uma das maiores do mundo, o arranha-céu da IBM é puro reflexo da escola modernista e adiciona imponência ao portfólio da KPF, composto por ícones como o hotel Mandarim Oriental, de Las Vegas, e o Shanghai World Financial Center, da China. 35 bastidores Bastidores IBM Building Seattle, Washington,EUA Inauguração: 1964 Esta grande obra da arquitetura foi desenhada por ninguém menos que Minoru Yamasaki, o responsável pelo projeto das Torres Gêmeas do World Trade Center de Nova York. Considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, o americano Yamasaki mesclou no prédio da IBM a sobriedade do vidro e dos ângulos retos com a leveza de arcos delicados. One Atlantic Center IBM Tower Somers, Nova York, EUA Inauguração: 1984 É um exemplo do melhor da escola modernista de arquitetura. O prédio foi desenhado pelo arquiteto sino-americano Ieoh Ming Pei, responsável pela criação da polêmica pirâmide de vidro do Museu do Louvre. Seu olhar vanguardista o levou a transformar o edifício da IBM numa “fortaleza futurista”. A estrutura de concreto e vidro também abriga uma pirâmide no topo. La Tour IBM Paris, França Inauguração: 1988 Desenhado por um trio de arquitetos encabeçado por Jean Willerval, vencedor do Grand Prix National de L’architecture, o prédio serviu de sede para a IBM na França até 2010. Com design arrojado, o prédio apresenta na sua fachada um semicilindro que se projeta para dentro da estrutura, formando o icônico I da IBM. Thomas J. Watson Research Center imagens: Wikimedia, Wikimedia Commons e Flickr IBM Somers Office Complex Atlanta, Georgia, EUA Inauguração: 1987 Por muito tempo, o edifício foi considerado o mais alto de Atlanta. Foi projetado pela Johnson/Burgee Architects, escritório especializado em arquitetura pós-moderna e responsável pelo desenho da fantástica Crystal Cathedral, da Califórnia, toda feita em vidro. A torre da IBM, por sua vez, ficou famosa pelo seu revestimento em mármore rosa espanhol e seu topo de cobre em formato de pirâmide. Yorktown Heights (Nova York) Inauguração: 1961 Sede da IBM Research, este grande centro de pesquisas tem a assinatura do arquiteto Eero Saarinen, famoso pela criação de móveis vanguardistas como a conhecida cadeira Tulipa. Premiado pelo desenho de uma longa curva de vidro e pedra, este formato permite que os pesquisadores apreciem a vista do campo, se inspirem e interajam. 37 Top 5 no mundo top 5 no mundo Telhados verdes batendo um bolão Cinco boas iniciativas para tornar este mundo um lugar melhor para se viver 1 De chinelo e canga no rio Sena Local: Paris, França Todo ano é assim e em 2013 não será diferente. Os visitantes da Cidade Luz encontrarão, de 20 de julho a 18 de agosto, mais uma edição da Paris Plages, iniciativa da Prefeitura de Paris para levar um pouco dos trópicos à capital francesa após meses de frio intenso. Praias artificiais montadas às margens do Sena, nas proximidades de pontos como o Louvre/Pont de Sully, Port de la Gare e Bassin de la Villette encantam os parisienses, que contam ainda com aulas gratuitas de vôlei de praia, hidroginástica e caiaque. Um verão quase à altura das praias do Rio de Janeiro. 3 Quase uma bicicleta por habitante Local: Holanda A Holanda tem 16,5 milhões de habitantes e 13 milhões de bicicletas, praticamente uma para cada holandês. É uma decisão urbanística de causar inveja a prefeitos dos quatro cantos do mundo. Ideal para um país que tem a paisagem plana, a bicicleta é a preferida por todas as classes sociais e idades. Elas estão disponíveis para aluguel em praticamente todas as grandes estações de trem e contam com ciclovias que permitem pedalar o país de norte a sul. E a cada pedalada menos problemas de saúde para a população, menos estresse no trânsito e menos poluição nos céus holandeses. Local: Buenos Aires, Argentina Não. Não é o fanatismo argentino por futebol que levou a prefeitura de Buenos Aires a cobrar menos impostos para quem tiver “telhados verdes” em casa. Segundo lei recém-sancionada pelo governo local, a redução do ABL (equivalente ao IPTU brasileiro) será de até 20% para os prédios da capital argentina que cultivarem jardins nos lugar das habituais telhas. Foi um dos poucos projetos que uniu o poder executivo e a oposição. O objetivo do governo é fazer com que o cuidado com o meio-ambiente se transforme em uma preocupação cotidiana nos lares dos nossos hermanos portenhos. Chique é ser sustentável Local: Songjiang, China Um hotel-resort, cinco estrelas, no distrito de Songjiang, na China, com inauguração prevista para 2015. Com quartos debaixo d’água e cachoeiras internas, ele está posicionado a 100 metros de profundidade em uma pedreira abandonada. Mas o verdadeiro diferencial do empreendimento, batizado de Songjiang Shimao Hotel, é a filosofia de “carbon critical design” que inclui o uso de telhados verdes e explora o calor geotérmico do local para gerar eletricidade e aquecimento. imagem de divulgação 2 4 Metrópole verde 5 Local: Vancouver, Canadá Quando a cidade de Vancouver descobriu que seus habitantes têm um ritmo de consumo 3 vezes maior do que o planeta pode suportar, não perdeu tempo: lançou uma campanha para tornar esta que é a terceira maior cidade canadense na metrópole “mais verde” de seu tempo. A iniciativa inclui adotar gradativamente o uso de energias de fontes renováveis, reduzir a emissão de gases e o desperdício de alimentos e fazer mudanças na frota de transporte público, entre outras. O prefeito reconhece que a meta é ousada, mas garante que até 2020 ele e seus conterrâneos estarão vivendo na capital verde da Terra. 39 techmob Taxi Beat > Dica da IBMista Giulia De Marchi .b r it yh om e. co m w w w.h om ec imagem de divulgação Navegue no labirinto urbano A revista Pense pediu a IBMistas dicas tecnológicas para aproveitar a vida na cidade. Confira. Quem viaja com frequência sabe que seguir os passos de um morador local é a melhor maneira de descobrir lugares realmente interessantes. E foi esta ideia que inspirou a criação do Home City Home, um selo independente que publica guias de cidades com dicas de endereços pouco visados por turistas convencionais. Por R$ 44 é possível montar o próprio guia de acordo com o seu estilo de vida. O usuário só precisa escolher quatro moradores da cidade-destino cujos perfis sejam mais interessantes – tem um publicitário apaixonado por futebol, uma designer que adora uma churrascaria, um advogado que vive na gafieira, entre outros e confirmar o pedido pagando pela internet mesmo. Um exemplar é então enviado para o endereço do comprador com as dicas dos perfis selecionados. No momento, os guias estão disponíveis para as cidades do Rio de Janeiro e Curitiba. Os próximos destinos a ser lançados serão São Paulo e Buenos Aires. > Dica da IBMista Chrystiane Mano Z. Premiado, o aplicativo Taxibeat põe fim à busca por táxis na rua: com alguns toques no smartphone é possível chamar um táxi. O sistema promete conectar passageiros e taxistas em instantes e de forma segura. Atualmente disponível no Rio de Janeiro e em São Paulo, o aplicativo já salvou a IBMista Chrystiane de situações complicadas. “Eu precisava ir a um casamento, estava chovendo e não tinha nenhum táxi no ponto”, recorda. Após mais de 15 minutos tentando um carro, ela resolveu utilizar o aplicativo que, na mesma hora, apontou uma lista de táxis presentes em um raio de três quilômetros. Ela acionou o mais próximo e, apesar do sufoco, chegou a tempo de ver a noiva entrar! www.taxibeat.com.br São Paulo para Iniciantes imagem de divulgação um serviço voltado para viajantes não-convencionais Aplicativo conecta passageiros a motoristas de táxi avaliados por outros usuários imagem de divulgação Techmob Home City Home Um site para quem quer explorar todas as facetas da cidade > Dica da IBMista Tainan Baglini Alves À beira da Represa Guarapiranga funciona o Golden Bovinus, um restaurante familiar com churrasco, buffet e rodízio de pizzas para comer bem e depois fazer digestão olhando a natureza. Pelo menos é o que diz a publicitária, fotógrafa e analista de internet que criou e mantém a página São Paulo para Iniciantes. “Muita gente não sabe, mas São Paulo tem até marinas”, conta em um de seus posts. O site dá dicas para sair em São Paulo e inclui sugestões desde um bar que homenageia o escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo até uma visita ao CineCentro, um apartamento de dois italianos onde é possível comprar ingresso para um filme e depois uma massa típica. www.saopauloparainiciantes.com.br TripAdvisor iFood Sistema permite pedir delivery pela internet sem as chatices do sistema por voz > Dica da IBMista Mariana Cristina Fazolin www.ifood.com.br/ delivery Telefonar para pedir comida já virou coisa do passado. A iFood desenvolveu um sistema que permite solicitar o serviço de delivery pela internet sem complicações. O iFood promete o acesso a uma ampla base de restaurantes e a solicitação de pedidos de maneira segura. O usuário não paga taxa para utilizar o serviço. Pelo aplicativo é possível ver todas as opções de entrega na região atendida pelo sistema. Todos os cardápios disponíveis são atualizados em tempo real, com informações precisas sobre os pratos e promoções exclusivas para os usuários da plataforma. O queridinho dos viajantes que não querem errar imagem de divulgação > Dica do IBMista Leandro Moron Pereira Ele se auto-intitula o maior site de viagem do mundo. Queridinho de inúmeros viajantes, o serviço oferece dicas confiáveis de viajantes reais e uma ampla variedade de opções de viagem e recursos de planejamento, além de contar com links ininterruptos para as ferramentas de reserva. São, ao todo, mais de 200 milhões de visitantes por mês e mais de 100 milhões de avaliações e opiniões sobre mais de 2,5 milhões de restaurantes, hotéis e pontos turísticos. Basta arranjar tempo e mala para conhecer tantos lugares. Seus sites operam em 30 países, do Brasil à China. Um dos recursos mais bacanas para os viajantes - ou mesmo nativos de uma cidade - é usar o serviço de busca nas proximidades aonde se está. Este serviço funciona combinado ao GPS do smartphone e indica hotéis, restaurantes e dicas culturais a poucos metros do usuário do aplicativo. www. tripadvisor. com.br imagem de divulgação 41 Pequenas gentilezas podem mudar seu dia, seu entorno e gerar novas gentilezas Quando me mudei do Vale do Paraíba para São Paulo levei algum tempo para descobrir que esta é apenas uma cidadezinha que cresceu e que está cheia de caipiras, nascidos aqui ou não. Só que esses caipiras resolveram ser cosmopolitas. A maioria mora em São Paulo, mas não vive de verdade aqui. Aí vão algumas dicas pra se viver bem na cidade grande, de uma caipira que ama São Paulo. Resgate suas práticas espirituais Não sei o que você fazia antes de vir para São Paulo, mas é aqui que você vai precisar mais daquelas práticas que lhe dão a dimensão da sua vida dentro de uma vida maior. Não considero religiosas apenas as orações ou meditações. Tirar o sapato e sentar-se embaixo de um eucalipto no parque Ibirapuera é puro êxtase para mim. Incomodados, não se mudem: mudem o mundo Eu ficava incomodada com a falta generalizada de educação. À medida que fui aprendendo a amar as pessoas, este amor passou a englobar também as mal-educadas. Passei a contar a elas o que haviam feito. Sem julgamento, sem recriminações. Abro a janela do carro e digo: - Moço, o senhor deixou cair um papel. Acho que é seu. Milagre! As pessoas ficam tão envergonha- Fale sempre com estranhos Não tenha medo: fale com estranhos na fila do banco, no metrô, no supermercado, na academia. Conversar amplia seus horizontes, faz passar o tempo mais depressa e pode ser muito divertido. Por que imaginar que o estranho vai explorá-lo, aborrecê-lo, ou mesmo assassiná-lo? Ele pode ser um grande amigo que você, por enquanto, desconhece. Se você praticar bem a arte de puxar papo, ela vai ajudá-lo em outros momentos muito interessantes. Minhas amigas caipiras não têm a menor dificuldade de estabelecer contatos e fazer amigos. Dicas? Uma amiga colocou “distraidamente” suas compras no carrinho de um rapaz que lhe interessara e eles acabaram namorando! Outra no trânsito parava para examinar um pneu supostamente furado. E no trabalho? Ah, no trabalho invente você mesma uma desculpa, poxa! Jogue fora o medo e assuma a imaginação e a inteligência que você possui para não parecer “atirada” (isto faz parte das lições de moças caipiras) e dar a ele a magnífica oportunidade de tomar a iniciativa e falar com você. Aprecie seus vizinhos Um abraço carinhoso, uma xícara de chá e um ouvido amigo podem fazer toda a diferença naqueles dias em que a vida parece não ter significado. E eu não estou me referindo apenas a quem recebe o abraço, à xícara de chá e ao ouvido. Oferecê-los talvez dê, ainda mais, todo significado à vida. Computação Cognitiva Qual é o limite da tecnologia? 12 anos trabalhando na IBM. É poetisa há 30 anos e atualmente é gerente de gestão de mudanças em um projeto da IBM no México Gentilezas de uma caipira das que abrem a porta e recolhem o lixo! Se vejo uma senhora em pé no metrô, digo para um rapaz sentado: - Como aquela senhora parece cansada! Nem preciso sugerir que ele se levante. O efeito é imediato. Para isto, é claro, tem que haver carinho na voz e acreditar que estas pessoas só estão precisando ser relembradas das lições que receberam um dia. Colaborou: Katia Pessanha Ponto Final Na próxima Edição Em uma aventura que começa nos laboratórios da IBM, a Pense vai investigar as fronteiras da engenharia da computação, descobrir se é possível fazer uma máquina pensar como um ser humano e discutir quais são os impactos disso para a sociedade. Na foto, dois dos maiores ganhadores do programa Jeopardy, o mais famoso jogo de perguntas da televisão norte-americana, são derrotados pelo Watson, o primeiro sistema de computação cognitiva do mundo, criado pela IBM. Enquanto isso... A sua revista Pense já chegou ao fim, mas a discussão continua nas redes sociais e você é nosso convidado. Acesse a comunidade da revista no Connections para compartilhar sua opinião com outros IBMistas pelo link bit.ly/ibmpense ou siga o nosso blog: revistapense.wordpress.com. 43
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