ciclotour - Special Trip

ciclotour
BORDEAUX
em
duas rodas
Um inebriante pedal por vilarejos
medievais franceses, regado aos melhores vinhos
Por Rodrigo Taddei
fotos Fabio Affonso Ferreira
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P
oucos lugares são capazes de unir com tanta harmonia o prazer de pedalar com uma enogastronomia (a arte de combinar vinho e comida de
altíssima qualidade) como a região de Bordeaux–Dordogne, na França,
onde são produzidos alguns dos melhores vinhos do mundo. O deslocamento em velocidades reduzidas por pequenas estradas, atravessando os famosos
vinhedos da região, permite ao viajante sentir de forma intensa os detalhes de
cada lugar, dos aromas exuberantes que desprendem das parreiras a um simples
“bonjour”, desejado por uma senhora sentada em um banco — na França, as
pessoas preservam o hábito de dizer bom-dia, mesmo quando se cruzam e não
se conhecem. Esta é a diferença entre apenas ver a região visitada e viver nela.
Além disso, temos todos os benefícios da atividade física e, no caso específico,
de roteiros com alta gastronomia. Todo o esforço realizado durante o dia é amplamente recompensado com maravilhosos jantares em restaurantes premiados.
A viagem tem início nas famosas vinícolas nos arredores de Bordeaux e segue até Dordogne, uma região de natureza exuberante e quase intocada, com
suas incríveis grutas pré-históricas, onde se encontram alguns dos mais belos
vilarejos medievais e fortalezas da França, palco da Guerra dos Cem Anos entre
franceses e ingleses.
As vinícolas de Bordeaux são as maiores produtoras de vinhos finos do mundo
e, entre os tintos, certamente as mais conhecidas. Os melhores châteaux de
Bordeaux — Margaux, Cheval Blanc, Lafite Rothschild e Petrus, entre outros —
apresentam uma característica única no mundo: produzir grandes quantidades
de vinhos com muita qualidade. São cerca de 13 mil propriedades, que cultivam
cerca de 100 mil hectares e produzem anualmente 660 milhões de garrafas.
As principais castas tintas cultivadas são o Cabernet Sauvignon, o Merlot e o
Cabernet Franc.
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Parada em Saint Emilion para apreciar as vinhas tombadas
pela Unesco
Vinhedos de St. Emilion
O passeio se inicia com um tour destinado a apresentar as
melhores vinícolas situadas nos arredores de St. Emilion, que
fica no estuário do rio Dordogne, próximo de Fronsac e Pomerol.
Entre as opções de hospedagem, verdadeiros castelos medievais que se distribuem ao redor da cidade, ou pequenos hotéis
de charme, instalados em prédios históricos.
Considerada patrimônio mundial pela Unesco, St. Emilion está
localizada a 40 km de Bordeaux e é um dos mais encantadores
vilarejos medievais localizados em território francês. A cidade
fica no topo de uma colina rochosa e no meio de um mar de videiras. Como os próprios moradores gostam de dizer — e com
razão —, a cidade é um verdadeiro museu a céu aberto, com
suas ruelas empedradas, monumentos e igrejas góticas, muralhas cobertas pela vegetação nativa e partes das fortificações
do século XII ainda preservadas. Programa obrigatório durante
a passagem pela cidade é a degustação de vinhos nas pequenas caves locais. Também não se pode deixar de experimentar
um dos doces mais típicos da França: os macarons artesanais
(pequenos bolos granulados, típicos da culinária francesa), que
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atraem os visitantes com seu aroma inconfundível. Dizem que
eles eram produzidos pelas freiras, que acabaram expulsas durante a Revolução Francesa. Pequenos restaurantes oferecem
opções surpreendentes a preços acessíveis. Para acompanhar,
nada melhor que um “simples” vinho regional.
Deixe a bike te levar
O primeiro dia de pedal, sem grandes desafios e como um aquecimento para o resto da viagem, é feito pelas encostas e colinas
de St. Emilion, passando por vilarejos e castelos dos principais
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Grands crus classes (como são classificados 63 châteaux da
região), tais como o Cheval Blanc e o Petrus, que fazem parte
de uma das mais famosas microrregiões produtoras de vinhos
de Bordeaux: Pomerol. O ponto alto é a visita, seguida de degustação e almoço exclusivo na Cheval Blanc, onde somos recepcionados (quando possível) pelo gentil diretor comercial e
financeiro da vinícola, sr. Arnaud de la Forcade.
Para finalizar o dia, a opção de um jantar harmonizado em
salão privativo no Château Franc Mayne, acompanhado dos
melhores Gran crus do produtor.
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Saindo de St. Emilion, após 50 km em trajeto com poucas subidas, chega-se ao Château de Vigiers, porta de entrada para a
região da Dordogne. No caminho, cruza-se Castillon la Bataille,
cidade que marcou o fim da Guerra dos Cem Anos. O final do
dia é dedicado a atividades livres no château, que podem variar
de uma partida no belo campo de golfe da propriedade até uma
relaxante massagem preparatória para o pedal do dia seguinte.
Cidades fortificadas
Já entrando na Dordogne, região gastronômica por excelência,
que fornece quase a metade dos produtos refinados da França,
a hospedagem de duas noites é feita no Relais & Châteaux
Le Vieux Logis, em Tremolat. Até aí foram 60 km de bike em
percurso com poucas subidas. As boas-vindas à região ficam a
cargo de um espetacular jantar com os melhores produtos da
Dordogne. As famosas trufas e os foie gras (iguaria da culinária
francesa feita à base de fígado de pato ou ganso), entre outros,
estão à disposição em quase todos os menus.
No dia seguinte, após um breve pedal, chega-se a Les Eyziersde-Tayac, onde se encontram o Museu Nacional da Pré-História e
a gruta Font de Gaume (um dos mais importantes santuários paleolíticos abertos ao público). A caverna foi descoberta em 1901 e
abriga o mais fino acervo de pinturas pré-históricas ainda aberto
ao público na França. Do outro lado de Les Eyzies, localizam-se
as cavernas de Rouffignac, polo de excursões desde o século XV.
Continuando o percurso, uma parte do dia é destinada a visitar
os mais importantes vilarejos e castelos ao longo do rio Dordogne. A imponente fortaleza de Beynac, no topo de um penhasco,
oferece uma vista panorâmica do rio e dos tradicionais gabarres
(barcos ao ar livre). De suas muralhas é possível observar o
maravilhoso Vale da Dordogne e, do outro lado do rio, a principal antiga rival de Beynac — Castelnaud —, poderosa fortaleza
que foi controlada pelos ingleses. Descendo o rio, envolta pelas
pedras, fica La Roque-Gageac e, em seguida, Domme, uma das
mais bem preservadas cidades fortificadas da região. Esses
vilarejos fazem parte dos Les Plus Beaux Villages de France.
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Ainda pela manhã segue-se até a cidade medieval de Sarlat,
que possui a maior concentração de fachadas medievais e renascentistas da França. Desde a Idade Média, essa cidade de
arte e história conserva um patrimônio impressionante. Sua
prosperidade foi um reflexo dos privilégios que recebeu da coroa francesa em troca de sua lealdade. Por ser um dia longo de
deslocamento, existe a opção de fazer o primeiro trecho (45 km)
até Sarlat em uma van.
No período da tarde, um trajeto muito agradável de 40 km
por pequenas estradas e ciclovias é o trecho a ser percorrido para chegar ao belíssimo Château de la Treyne, última
hospedagem da viagem. Esse château faz parte da sequência de castelos e fortificações ao longo do rio Dordogne e é
conhecido como um dos mais belos e exclusivos Relais &
Châteaux da Europa.
Após o longo dia, nada melhor que um jantar organizado pelo
chef Stéphane Andrieux no jardim do castelo, com uma incrível
vista para o vale do rio Dordogne.
Gran finale
O último dia de atividades começa com um pedal de 30 km
até Gouffre de Padirac, uma caverna subterrânea a mais de
100 metros de profundidade — com formações calcárias de
estalagmites e estalactites — e um labirinto de rios com águas
cristalinas. A beleza do lugar é impressionante!
Em seguida, já retornando em direção ao hotel, parada obrigatória em Rocamadour, um dos mais importantes santuários
da França, com atrações como o extraordinário sítio escarpado
na rocha e a capela do santuário da Virgem Negra, que foi um
grande centro de peregrinação na era medieval. A capela, que
fica num complexo de construções monásticas, é alcançada
por uma escada de 216 degraus, que muitos peregrinos até
hoje sobem de joelhos.
A característica essencial desse tipo de passeio é não ter
pressa e ir aproveitando as coisas boas que surgem pelo
caminho. Daí ser feito de bicicleta e não por um veículo
motorizado.
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