conteúdo digital em língua portuguesa: uma abordagem pós
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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. CONTEÚDO DIGITAL EM LÍNGUA PORTUGUESA: UMA ABORDAGEM PÓS-COLONIAL Claudia WANDERLEY1 RESUMO: A língua portuguesa, quinta língua europeia mais falada no mundo, é considerada uma língua de pequena circulação no espaço digital. A falta de incentivos para a formação técnica voltada à produção de acervos digitais, a ausência de infraestrutura tecnológica adequada nas escolas e universidades e a quase ausência de programas de digitalização de textos nos países de língua oficial portuguesa contribuem fortemente para este perfil. Dentro deste quadro, apresentaremos dois caminhos de trabalho imediatamente disponíveis no espaço digital que podem ser úteis aos pesquisadores interessados nas novas tecnologias. O primeiro deles é a análise automática textual comparativa, relacionando jornais eletrônicos de diferentes países de língua portuguesa e problematizando o uso da língua em diferentes países e diferentes contextos. O segundo tem por finalidade estimular a publicação de material didático e acadêmico on-line, de forma independente e gratuita, através de um programa de bibliotecas digitais que estamos desenvolvendo coletivamente entre países de língua portuguesa, e em parceria com a UNESCO. Consideramos importante ressaltar nosso interesse em agregar os pesquisadores interessados em trabalhar colaborativamente para a tradução de softwares e para a construção conjunta de dicionários digitais e coleções acadêmicas de acesso gratuito em formato digital. Desenvolveremos, a partir deste quadro, considerações sobre a situação da língua portuguesa no espaço digital em situação pós-colonial. PALAVRAS-CHAVE: Multilinguismo; Pós-Colonialismo; Políticas Públicas. Software Livre; Inclusão Digital; INTRODUÇÃO Tratada do ponto de vista de sua circulação no espaço digital, a língua portuguesa ainda é temática estranha aos simpósios e conferências entre linguistas, 1 Pesquisadora da Unicamp, Centro de Memória e da Cátedra UNESCO Multilinguismo e Produção de Conteúdo em Língua Local no Mundo Digital. Universidade Estadual de Campinas, Rua Sérgio Buarque de Holanda, 800 – Cidade Universitária “Zeferino Vaz” – 13083-970 – Campinas (SP) – Brasil; [email protected]. 69 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. literatos, letrados e professores de língua portuguesa. Pensar a língua portuguesa está geralmente atrelado a pensar nossa relação com os lusitanos – aquele povo de origem mítica que dá substância à sonoridade à qual chamamos cotidianamente lusofonia –, na posição de pós-colônias, e com os vários investimentos políticos que essa temática permite. Quando pensamos no aspecto digital, é um outro território que se nos apresenta, ou uma nova territorialidade, embora ainda se trate de pensar em navegação e em língua portuguesa. Território, aqui, aponta para uma ideia que venho desenvolvendo sobre um tipo de política externa das tecnologias de linguagem: na medida em que o espaço digital organiza seu sistema em linguagem computacional e em linguagem natural, as camadas que se sobrepõem, em termos de hardware e software vão gradativamente intercalando e articulando língua artificial e língua natural. Nesta perspectiva, a ocupação do território linguístico no espaço digital em língua portuguesa é algo que merece nossa atenção, já que é possível considerar que, de fato, as novas tecnologias se constituem e funcionam como “tecnologias de linguagem” (WANDERLEY, 2003) e igualmente porque este território eletrônico (neste caso, refiro-me especificamente à internet) está funcionando no imaginário de grandes organizações internacionais como um espaço político de acesso à informação, com a forte expectativa de que o acesso democrático à informação seja capaz de gerar conhecimento de livre acesso para o bem de todos. Tendo em vista que a quantidade de conteúdo em língua portuguesa é pequena na internet, além do limitado acesso para a população, se não houver uma mudança radical de atitude de nossa parte, veremos confirmadas as previsões feitas por Crystal (2004), de que (i) em uma geração, os estudantes, para continuar seus estudos – ao não 70 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. encontrarem material em sua língua materna – desenvolverão o bilinguismo; (ii) que na geração seguinte eles já começarão a estudar no idioma que apresenta conteúdo que os permita crescer; e (iii) que em três gerações os falantes não mais reconhecerão sua língua como língua de conhecimento. As consequências são visíveis: uma língua que não veicula ciencia, não produz conhecimento para a sociedade, restringe fortemente seu espaço de atuação. Evidentemente, o espaço virtual não é algo fluido. Acessar esse território implica, por um lado, uma infraestrutura elétrica, telefonia acessível, acesso ilimitado a dados, programas de urbanização, computadores a preços compatíveis com o salário médio da população... implica, resumidamente, uma política de Estado visando às condições para a criação de uma infoestrutura urbana consistente e finaceiramente acessível para a média da população: algo que podemos chamar urbanização eletrônica democrática, a democratização do território “e-urbano”. De um lado mais familiar aos estudantes, é preciso investir igualmente em alfabetização e educação de qualidade, porque um repositório de informações – seja digital ou físico – será de pouca utilidade para uma população que não tem o hábito de trabalhar com textos. Além disso, é importante que esta educação gere autores e não exclusivamente leitores. A palavra de ordem para esta presença é investimento, porque, não por acaso, o capital linguístico no espaço digital está diretamente relacionado ao modo de circulação do capital em nossos países. Assim, a inclusão digital e a inclusão social dos países de língua portuguesa neste território eletrônico, já nos chega, como diz Schwartz, como uma “nova falha”. Além da fome, da pobreza, das dificuldades com moradia, do analfabetismo funcional, entre tantas outras, adquirimos uma nova falha: a exclusão do espaço digital. 71 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. A economia local, assim como a divisão internacional do trabalho intelectual são duas questões chaves para este tema. E, acredito, esta discussão pode ser pensada dentro do escopo deste GT Ensino de Portugues e Novas Tecnologias do II Simposio Mundial de Estudos da Língua Portuguesa. Retomamos, abaixo, uma tabela que apresentamos em trabalho anterior (WANDERLEY & KOZIEVITCH, 2009): Tabela 1: Estatísticas relativas ao uso da internet Internautas População Internautas (dados mais recentes) (% Crescimento População) (2000-2008) ÁFRICA (est. 2008) Angola 12.531.357 30.000 498.000 4% 1560% 426.998 8.000 37.000 8,7% 362,5% 616.459 500 8.000 1,3% 1500% Guiné-Bissau 1.503.182 1.500 37.000 2,5% 2366,7% Moçambique 21.284.701 30.000 200.000 0,9% 566,7% 206.178 6.500 23.000 11,2 % 253,8% Cabo Verde (Dez/2000) Penetração Guiné Equatorial S. Tomé e Príncipe Internautas População Internautas (dados mais ÁSIA (est. 2008) (Dez/2000) recentes) Penetração (% Crescimento População) (2000-2008) 72 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. 1.330.044.6 China 05 22.500.000 298.000.000 22,4% 1.224,4% 1.147.995.8 Índia Macau Timor Leste 98 5.000.000 81.000.000 7,1% 1,520% 545.674 60.000 238.000 43,6% 296,7% 1.108.777 - 1.200 0,1% 0% Internautas População Internautas (dados mais AMÉRICAS (est. 2008) (Dez/2000) recentes) Penetração (% Crescimento População) (2000-2008) 196.342.58 Brasil 7 - 67.510.400 34,4% 1.250,2% - 220.141.969 72,5% 130,9% 303.824.64 Estados Unidos 6 Internautas População Internautas (dados mais EUROPA (est. 2008) (Dez/2000) recentes) Penetração (% Crescimento População) (2000-2008) 10.676.91 Portugal 0 - 4.249.200 39,8% 70% Fonte: Internet World Stats (http://www.internetworldstats.com (consulta em março de 2009). 73 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. A primeira coisa que percebemos é a baixa penetração da internet nos países de língua portuguesa. Podemos dizer, então, que a rede mundial de computadores não é tão mundial assim para a lusofonia: é uma rede restrita para os falantes do português. Pensamos, neste caso, num exemplo preciso da realidade concreta do Projeto A Língua Portuguesa no Mundo, para o qual infelizmente não podemos contar com a participação de colegas da África nas diversas videoconferências, devido à falta de infraestrutura em suas intituições e em seus países para que participem com voz. Embora as instituições acadêmicas em língua portuguesa tenham a oportunidade de utilizar sua amplitude, como língua franca internacional, como veículo efetivo de cooperação entre pesquisadores, esta possibilidade é subutilizada, ou mesmo ignorada pela maioria das instituições de ensino superior. Além disso, em países em situação de pós-colônia, existem outras línguas que também precisam fazer parte do espaço digital: as línguas locais. E é importante trabalharmos igualmente nesta perspectiva de inclusão e fortalecimento de culturas de menor circulação no espaço digital. Em 2001, a Unesco assinou a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (cf. UNESCO, 2002) que aponta para o valor de nossas culturas locais como patrimônio nacional e como patrimônio da humanidade, enfatizando a necessidade de respeitá-las, estudá-las e preservá-las. Este gesto permite que, a partir da academia, possamos incluir as iniciativas locais ao pensarmos a situação cultural e linguística de nossos paises, e inclusive – esperamos – que possamos trocar informações sobre os modos de pensar e realizar estas atividades de contato, estudo e preservação. 74 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. BIBLIOTECA DIGITAL O projeto de biblioteca digital que desenvolvemos – levando fortemente em consideração a diversidade cultural e linguística2 – baseia-se na noção de sistemas operacionais (computacionais) como sujeitos sociais, e na ideia de que os sujeitos falantes vivem sua fala através de diversas fonias, estas sendo compreendidas como repertórios de caráter linguístico que existem simultaneamente e de maneira gradual, não possuindo na prática necessariamente fronteiras bem delimitadas e definidas. O objetivo deste projeto é criar uma base de conhecimento polifônica, que permita a compreensão desses diversos repertórios, assim como facilite o trânsito entre eles. Este projeto, portanto, não se limita a um mero processo de tradução ou transporte de conhecimentos de uma língua para a outra; antes, ele constitui uma rede de conhecimentos em que diversos repertórios linguísticos encontram-se simultaneamente imbricados. Essa rede de conhecimentos encontrará sua atualização numa plataforma digital polifônica, que permita que as diversas fonias se apresentem na simultaneidade e na relação, e não como um conjunto díspare de heterogeneidades que são pensadas como intrinsecamente diferentes e que, em seguida, têm que ser colocadas em relação umas com as outras de maneira multilateral, sem que sua individualidade seja afetada. Antes da era colonial e da expansão europeia no mundo, a maioria das populações viviam em regimes fônicos – de utilização da fala e, às vezes, da escrita – que não se baseavam na ideia de idiomas como totalidades linguísticas bem delimitadas 2 Agradeço ao Prof. Fernando Rosa Ribeiro pela interlocução e parceria na construção dos princípios da biblioteca digital polifonica. 75 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. e claramente diferenciadas entre si através da noção de uma territorialidade, isto é, da língua como pertencente a um território específico (onde existisse uma população que a usasse). A maioria das pessoas tinha, sim, repertórios linguísticos variados e com gradações internas, utilizando-os em diferentes contextos e para fins diversos de gêneros e fórmulas linguísticas, além de vocabulários, que hoje são pensados como pertencentes a línguas diversas. A ideia da criação de uma base de conhecimentos polifônica centra-se nos seguintes critérios: 1) Promover a permeabilidade entre as diversas fonias em seus diversos aspectos e ter, portanto, um caráter intrinsecamente polifônico; 2) Ter o sistema computacional e seus usuários como sujeitos sociais polifônicos; 3) Permitir que diversas fonias interajam entre si com o mínimo de barreiras possível, e que possam se constituir mutuamente como espaços de comunicação e conhecimento digital; 4) Permitir que o conhecimento das diversas fonias seja compartilhado da maneira mais extensa possível; 5) Permitir que os acervos historicamente associados às diversas fonias sejam compartilhados; 6) Permitir que fonias que não possuam acervos escritos substanciais entrem no espaço digital e criem seus acervos, com base multimídia, em associação com outras fonias; 76 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. 7) Permitir que a permeabilidade entre as diferentes fonias e seus acervos gere conhecimentos num sistema rizomático (isto é, em rede e sem pontos de controle nevrálgico) e não disciplinarmente (ou seja, através da troca de conhecimentos via territorialidades linguísticas, pensadas historicamente como enraizadas em espaços e devires diferentes, que em seguida necessitem se traduzir entre si para poderem se comunicar plenamente); 8) Usar o espaço digital como instrumento de desterritorialização. Essa proposta apresenta um grande número de vantagens, entre as quais podemos citar o fato de que, correntemente, as propostas de valorização de línguas locais minoritárias estão baseadas em sua mise-en-valeur no modelo herderiano clássico, isto é, como totalidades linguísticas com territórios próprios que necessitam de tratamento igualitário e não-discriminatório para que possam, um dia, ter funções e prerrogativas semlhantes àquelas das línguas de maior uso. Isto implica o reconhecimento formal – por exemplo, no campo jurídico – da igualdade de todas as línguas, ao mesmo tempo em que se reconhece que, na prática, essa igualdade possui sérios impedimentos para sua implementação efetiva. Essa disjunção concreta entre os dois níveis – o formal e o prático – cria um espaço altamente hierarquizado onde as totalidades linguísticas habitam territorialidades diversas e profundamente desiguais entre si. Esta proposta pretende não enfatizar a ideia de língua-território – vinculada no pensamento de origem herderiana à ideia de nação – para se concentrar nos falantes e seus repertórios em constante processo de atualização, que aqui denominamos fonias. 77 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. Estas fonias não seriam espaços disciplinares que veiculam conhecimentos territorializados e demarcados em línguas pensadas como tendo um padrão – no Brasil, a “norma culta”, mas como redes polifônicas instáveis e cambiantes e que através e pelo seu caráter instável e cambiante geram, moldam e transmitem conhecimentos. Nesta proposta, o espaço digital é o domínio preferencial desta polifonia que funciona como um rizoma, isto é, não no modelo da raiz apical, mas no modelo da raiz das gramíneas, em que não existe controle central, mas apenas inúmeros pontos nodais, e onde é difícil pensar uma origem última ou uma finalidade primeira. Nessa rede descentrada, os repertórios fônicos se modulam em simultaneidade, o que pode, potencialmente, atingir também o problema-chave da colonialidade dos repertórios linguísticos, pois na rede descentrada a única possibilidade de comunicação efetiva entre aqueles que são pensados como todos linguísticos estanques e delimitados, mas minoritários e locais – portanto sofrendo de uma territorialização que potencialmente os prejudica em chave extra-local –, se faz via a matriz linguística colonial que atua como uma raiz apical. Para dar um exemplo africano, mencionado pelo escritor senegalês Boubacar Boris Diop, que escreve tanto em seu idioma materno como em francês, atualmente não há como a wolof-fonia se comunicar ou “traduzir” para a kiswahili-fonia sem passar pelo euro-fonia, embora ambas sejam fonias igualmente africanas. Em outros termos, como foram territorializadas em diferentes chaves da colonialidade, não há possibilidade de comunicação entre elas a não ser via a eurofonia. Essa impossibilidade encontra-se no próprio cerne do atual modelo linguístico, assentando-se em discursos e práticas que, ao mesmo tempo em que frisam 78 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. a igualdade formal entre as diversas línguas, atualizam, na prática, a hierarquização entre elas. Assim, a eurofonia pode igualmente se comunicar tanto com a wolof-fonia quanto com a kiswahili-fonia, mas estas duas últimas não se comunicam entre si diretamente – e, na prática, sequer indiretamente. Boubacar Boris Diop é um dos pouquíssimos falantes de wolof a ter aprendido o kiswahili, mas se o fez foi porque primeiro teve acesso à eurofonia. Nossa proposta visa, portanto, à criação de uma variante do que Alexander denomina, no contexto sul-africano, um habitus multilíngue, a saber, um habitus polifônico. Dito de outro modo, nosso projeto visa pesquisar meios de criar espaços digitais que estimulem a polifonia. PERSPECTIVAS POSITIVAS A falta de bibliotecas no território nacional, assim como o relativo desconhecimento da produção científica brasileira entre pesquisadores de diferentes regiões, apontam para a necessidade de criação e integração de bases digitais, o que constitui um dos traços inovadores do projeto que aqui propomos, outro traço inovador sendo a inclusão das línguas indígenas brasileiras em uma base digital acadêmica, visando à livre circulação de cartilhas e de material didático, que possam ser acessados imediatamente por aldeias distantes, ou mesmo que auxiliem no estudo e na formulação de material para outras escolas e universidades indígenas. Esse material, presente na mesma base em que se encontram as teses que versam sobre as questões das populações 79 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. locais, pode auxiliar em muito à percepção do panorama de estudos e esforços para compreensão da realidade dessas populações. Da perspectiva das Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), trata-se de permitir e promover a integração do conhecimento realizada no Brasil e nos países que têm a língua portuguesa como língua oficial, assim como ressaltar que estas comunidades são polifônicas e multiculturais, trazendo a temática do multilinguismo para primeiro plano nos países ditos lusófonos. Trata-se, portanto, de um tema atual e internacional, que não se restringe ao âmbito nacional, assim como se trata de dar ênfase à produção cultural e linguística de diferentes regiões: a diversidade de mídias deverá atender específica e diferentemente às condições de possibilidade e acessibilidade ao programa das Bibliotecas Digitais Polifônicas de cada universidade da rede de trabalhos, em parceria com desenvolvedores e pesquisadores locais. MUITAS VOZES O princípio da polifonia refere-se ao espaço digital como instrumento de conscientização do caráter multilíngue de nossa sociedade e da sociedade global. Neste caso, e como dissemos, a noção de polifonia aponta para os possíveis e distintos repertórios linguísticos presentes nos diálogos entre sujeitos, justamente por não estar ancorada em uma perspectiva linguística que organiza as línguas através de territórios, apostando na mobilidade e circulação do sujeito curioso que pode navegar entre 80 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. diferentes vozes através de um continuum de repertórios, utilizando suas capacidades, experiências e interesses para a prática interpretativa. Esse ambiente digital multilíngue, portanto, investe na simultaneidade de vozes, textos, áudios, vídeos, filmes, linguagens e línguas, como extensões umas das outras, através da navegação e da estruturação dos metadados. É certo que o papel do computador, e mais precisamente da forma de acesso a essa base de dados, é fundamentalmente o modelo de um metaobjeto multilíngue. Em outros termos, estamos considerando um computador como um ser de linguagem e um ser social, que realiza uma interlocução com os seres humanos. Neste sentido, a aposta de nosso grupo de pesquisas é que uma Biblioteca Digital Polifônica pode efetivamente funcionar como uma pista para os sujeitos se darem conta de sua própria polifonia e da miríade de repertórios linguísticos que os cercam e ao qual podem ter acesso. É neste espelho virtuoso entre o regional e o digital que desejamos trabalhar, articulando a produção de conhecimento local, tendo o computador como condição de possibilidade da organização de um horizonte de acesso a repertórios linguísticos e de valorização cultural no espaço digital. O MODELO O modelo de uma biblioteca digital, nesta proposta, deve integrar duas iniciativas: a de registro bibliográfico e a de publicação eletrônica existente nos acervos das instituições. Ao integrar essas duas iniciativas, tem-se uma ampliação e uma maior 81 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. abrangência dos documentos oferecidos aos usuários, através de um catálogo nacional em texto integral e referencial, possibilitando uma forma única de busca e acesso aos documentos. O conteúdo dos documentos disponibilizados em meio eletrônico poderá ser acessado diretamente nos repositórios locais das instituições provedora dos dados. A adoção de um modelo distribuído, que utiliza as tecnologias de arquivos abertos e em que as instituições são provedoras de dados, leva à eleição de uma instituição coordenadora e agregadora, responsável pela coleta dos metadados dos outros provedores de dados. Dessa forma, as instituições tornam-se provedoras de informações sobre esses metadados e expõem-no por meio de outros provedores de serviços. Como príncipio básico, a incorporação de uma biblioteca digital não requer que as instituições façam uso de sistemas específicos para o desenvolvimento de suas bibliotecas digitais locais. No entanto, para que a integração ocorra, é necessária a utilização de padrões compatíveis, tais como Dublin Core e OAI-PMH, para expor os metadados referentes aos documentos publicados numa biblioteca digital local. Diante das tecnologias disponíveis (padrões abertos, padrões de descrições bibliográficas internacionais utilizados em todo o mundo), propõe-se a criação de uma Biblioteca Digital de Países de Língua Portuguesa, a partir do modelo da Biblioteca Greenstone, desenvolvida pela equipe de Ian Witten na Universidade de Waikato (Nova Zelândia)3. 3 O software livre pode ser gratuitamente baixado no site http://www.greenstone.org. Nosso grupo de pequisa realizou, em 2009, a tradução da interface do software e do manual para português, a qual já foi testada com êxito e está disponível para download no mesmo site. 82 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. ANÁLISE TEXTUAL AUTOMÁTICA Como se sabe, o computador lê e escreve de maneira distinta de nós. Por isso, quando nos propomos a articular uma leitura combinada com o modo de ler de uma máquina, é preciso refletir sobre as condições de produção dessas tecnologias. Aí incidem de forma transversal a linguística, a ciência da computação, a matemática, a filosofia e a história. O primeiro sítio de reflexão que propomos aqui é a noção de caractere, uma questão menor que pode nos auxiliar a compreender a viabilidade de nossa proposta de trabalho. Trata-se de uma noção discreta na história da reprodução de textos. Diz Auroux (1996) que até onde sabemos nenhuma disciplina ocidental tem uma possibilidade de recuo tão longo como a linguística e a matemática: são os núcleos de racionalidade mais antigos de que temos conhecimento em nossa tradição. A partir do olhar da filosofia da linguagem francesa, podemos dizer que, com o desenvolvimento da escrita, se desenvolvem quatro disciplinas: a matemática, a astronomia, a gramática e o direito, a gramática tendo por objeto principal a compreensão de textos escritos. Para Auroux, a “primeira noção epilinguística é o paradigma, a reprodução da linearidade da cadeia falada, mais a introdução de uma outra dimensão”. O autor entende que é preciso quebrar a dimensão de linearidade da cadeia contínua para acessar a dimensão da fala. E é por isso que a escrita é necessária: porque ela traz a bidimensionalidade. É necessário que a fala encontre o espaço, a escrita, na representação bi-dimensional, para que surja o saber científico, o eixo paradigmático – a formalização do núcleo de racionalidade. 83 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. Ora, é aí que podemos perceber uma forte distinção entre a perspectiva francesa de tecnologia de linguagem e a que desenvolvemos. De uma perspectiva da tecnologia da linguagem como a compreendo, pensar este recuo da produção do conhecimento linguístico não nos leva necessariamente à produção de textos antigos que versem, de uma forma ou de outra, sobre a linguagem. De fato, o que chama minha atenção no quadro apresentado por Auroux é o modo como esses textos são produzidos materialmente. Então, sem adentrar pelas especificidades da produção em papiro, em papel, na imprensa, etc., quero salientar um fato corriqueiro até os dias de hoje na produção textual: a constituição da escrita introduz empiricamente, na relação com sua produção, uma unidade discreta chamada caractere. Este elemento é um dos recursos diferenciais que permite a realização da análise automática e, no entanto, em qualquer outro espaço que não seja eletrônico (como o da impressão por exemplo), ele funciona discretamente. O caractere é o que vai ser efetivamente usado para “escrever” o texto, realizar uma escrita. Do papiro egípcio em 700 a.C., passando pelos copistas da Idade Média e pela Impressão do séc XIX, até chegar aos textos web de hoje, é pela unidade do caractere que a visibilidade do texto se realiza. Auroux não chama a atenção para este fato porque segue pelo caminho dos avanços do conhecimento sobre a linguagem. A diferença, para nós, é que o trabalho sobre o espaço eletrônico dá ao caractere um papel central no cálculo, quando pensamos em análise automática. Enquanto esta unidade funciona na elaboração do texto, realmente trata-se de um funcionamento 84 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. discreto, e nós temos um tipo de leitura do que pode ser um texto4. Porém, com o advento da informática e com os recursos de análise automática das línguas, esse discreto componente ganha evidência no mundo da análise linguística. Explicamo-nos: embora toda a teoria da linguagem se tenha organizado a partir de noções como palavra, morfema, frase, sintagma, etc., passar essas noções para um espaço automatizado significa necessariamente encontrar estes “objetos” num texto eletrônico, que ao fim e ao cabo não é composto por palavras, sílabas ou frases, mas por uma sequência de caracteres. No espaço eletrônico, sejam letras, pontuação, espaço em branco, comandos de parágrafo, ou mesmo quebra de páginas, a programação que permite a constituição e visualização de um texto na tela de um computador versa sobre caracteres, uma certa linearidade entre eles, e uma certa disposição. De fato, a análise automática de textos se dá em um primeiro nível sobre uma sequência de caracteres. A partir daí (da captação da sequência de caracteres), é preciso definir através de uma programação o que é considerado unidade de sentido. Grosso modo, essas unidades podem ter diferentes extensões, seja a palavra (utilizando divisores como o espaço), seja a frase (utilizando divisores como o ponto), seja o parágrafo (utilizando divisores como o comando de mudança de linha), etc. Ora, as distinções entre a noção de palavra e a programação construída para que uma “palavra” seja automaticamente identificada em um texto evidentemente não coincidem. Por exemplo, em francês, há programas que consideram a sequência aujourd’hui como duas palavras (por causa do separador ’), enquanto há softwares capazes de reconhecê-la como unidade. Os softwares de análise que 4 Pensamos, aqui n noção corriqueira, do senso-comum, de texto, tal como a conhecemos. 85 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. reconhecem morfemas, apresentam problemas semelhantes com a sequência bonjour, entre outras. Então, o que a análise automática de textos analisa é uma sequência de caracteres delimitados de uma maneira ou de outra para se aproximarem o máximo possível de uma noção de unidade linguística. Noção esta, como sabemos, que é abstrata, fluida, diversa. Assim como no começo das ciências da linguagem, a morfossintaxe foi elemento essencial, assim também, no trabalho da análise automática, o papel da morfossintaxe é fundamental. Até porque, tanto a morfologia como a sintaxe podem ser vistas na sequência de caracteres e é possível programar pequenas sequências para serem reconhecidas como um morfema (o conjunto de caracteres naquela sequência específica ganha uma etiqueta), e após esta etiquetagem dos morfemas, é feita uma etiquetagem de possíveis sequências de palavras, uma etiquetagem sintática. Auroux afirma que é necessária a dimensão da escrita, a aparição do quadro bidimensional no desenvolvimento de tecnologia intelectual no início da ciência da linguagem, afirmando também que a aparição deste quadro permite a visualização da noção de paradigma. Acrescentamos, no entanto, que, no que diz respeito à formulação do eletrônico, é justamente a explosão de dimensões discretas programadas a partir do caractere que permite uma multidimensionalidade de formalização e de formulação eletrônica que pode contribuir para o estudo da linguagem. Este é um dos elementos que, hoje, distinguem um texto eletrônico de outros tipos de texto, e é justamente nele que podemos ver as possibilidades de acervos polifônicos e análises textuais polifônicas. Sem dúvida, a passagem de um alfabeto a outro, de um grupo de caracteres 86 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. a outro, que permite inscrever outra língua e outra e outra, é um recurso disponível no espaço digital. Até onde podemos explorar essas possibilidades, favorecendo as presenças de nossas línguas locais no espaço digital? É esse quadro de multiníveis de trabalho com as sequências de caracteres que, a meu ver, permite uma terceira e real revolução tecnológica da linguagem, dentro da perspectiva do cientista da linguagem. Porque, de fato, temos a possibilidade de programar em n níveis as sequências de caracteres, articulações incontáveis que podem ser da ordem de etiquetas, identificadores, classificadores, compositores, etc.: um número incontável de cálculos e possibilidades, de múltiplas relações de sentido e idiomas funcionando no texto. Aí, ousaria dizer que o clássico quadro bidimensional abre e delimita, porque as possibilidades de relação no funcionamento eletrônico são incontáveis, mas o conhecimento sobre linguagem foi pensado tradicionalmente no quadro bidimensional, no modelo da língua como sistema fechado. Mas como avançar sem o quadro bidimensional? É necessário produzir derivas, deslizes, fonias, polifonias e, além disso, experimentar – não mais na bidimensionalidade do papel, mas na multidimensionalidade eletrônica, no espaço digital. Em termos de conhecimento linguístico, o território eletrônico aponta para novas compreensões do funcionamento da língua, além de se mostrar um próspero instrumento de trabalho. 87 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. EM PORTUGUESES A linguística computacional é uma área em que a reflexão sobre multilinguismo pode ganhar uma materialidade eletrônica, podendo se organizar como um software, uma macro, um serviço internet voltado para a pluralidade das línguas existentes. Portanto, o interesse em trabalhar com os princípios polifônicos no ambiente web organizam o interesse em uma base de dados, uma base de corpora das várias línguas portuguesas que estao on-line e de suas línguas locais. Neste sentido, para nós, a possibilidade de realizar uma produção desta ordem está diretamente relacionada à política de implementação tecnológica brasileira e dos países de língua portuguesa, assim como depende diretamente da disposição de investir em novidades, em instrumentos que possibilitem novas práticas e na disponibilização de ferramentas de linguagem simples e eficientes para o sujeito contemporâneo. Considero importante que os pesquisadores que trabalham em línguas portuguesas se insiram na discussão sobre o aproveitamento e a adaptação de tecnologias com forte mediação crítica. Reafirmo que é somente a partir da prática da reflexão e do trabalho real com as possibilidades disponíveis no ambiente eletrônico que poderemos, juntos, colocar questões relevantes para melhorar a presença de softwares e de conteúdo de qualidade em língua portuguesa. Isso, ao meu ver, aponta para uma reflexão conjunta sobre estratégias de produção on-line. 88 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 43 – O ensino do Português e as novas tecnologias. CONCLUSÃO Quando pensamos em trabalhar com culturas locais e circulação de conteúdo acadêmico entre paises de língua portuguesa, consideramos a importância de direcionar nosso investimento intelectual para o território digital, de uma perspectiva multilingue e multicultural. As possibilidades de organizar nossa produção intelectual a partir de bibliotecas digitais e de analisar a produção linguística disponível on-line com auxílio de computadores são propostas que estamos desenvolvendo, e que teríamos grande interesse em compartilhar – seja a reflexão, sejam as ferramentas, seja a produção em caráter colaborativo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCASTRO, L. F. de. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: CIA das Letras, 2000. AUROUX, S. Philosophie du langage. Paris: PUF, 1996. BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. Tradução de Paulo Bezerra. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. FERNANDES, F. O Negro no Mundo dos Brancos. 2 ed. São Paulo: Global, 2007. ILARI, Rodolfo. O Português da Gente: A língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto 2006. RODRIGUES, A. D. Línguas Brasileiras: Para o Conhecimento das Línguas Indígenas. São Paulo:. Loyola, 2002. SAUSSURE, F. de. 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