Língua portuguesa - SIMELP - I Simpósio Mundial de Estudos de
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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. O DESDOBRAMENTO DE UMA RELAÇÃO METATEÓRICA COM A LÍNGUA MATERNA: O PORTUGUÊS BRASILEIRO Drª. Maria da Graça Carvalho do AMARAL1 RESUMO Este trabalho tem como objetivo descrever o desdobramento de uma relação empírica em metateórica sobre a evolução histórica e sistêmica do português brasileiro em alunos da 1ª série do Ensino Tecnológico da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, dentro da disciplina Língua Portuguesa I, na cidade de Rio Grande, no extremo sul do Brasil. Nesse processo de ensino utilizou-se como meio desencadeador de reflexão sobre o português brasileiro a teoria do Autodesenvolvimento Humano de Wilhelm von Humboldt. Essa teoria caracteriza-se por promover a auto-estima do educando através do desenvolvimento de sua auto-atividade. A auto-atividade tem suas raízes no Idealismo Alemão e consiste em o sujeito (educando) fazer de si mesmo um objeto de análise, ou seja, o educando inicia um processo de autoconhecimento. Esse processo de autoconhecimento dá-se através de atividades que envolvem sua percepção de mundo, ou seja, o professor lhes dá uma lista de palavras corriqueiras, substantivos concretos, presentes no seu dia a dia como: cadeira, árvore, carro entre outras, cada uma delas escrita em diferentes línguas, que eles não conhecem como: francês, alemão, espanhol, polonês. O professor pede que eles desenhem a primeira imagem que vem a sua cabeça. O resultado dessa atividade mostra que seus desenhos seguem a percepção que eles têm de mundo, por exemplo, a palavra “árvore” que é Baum em alemão, eles desenham uma bomba, pelo fato de seu som e grafia serem parecidos com a palavra bomba em sua língua materna, o português. A partir dessa atividade eles conseguem se dar conta que pessoas que falam línguas diferentes têm culturas diferentes e vêem o mundo de forma diferente, eles como são todos brasileiros desenharam objetos semelhantes porque compartem a mesma língua materna. Dessa forma eles adquirem meios de entender as teorias lingüísticas (hipótese Sapir-Whorf, Wilhelm von Humboldt, Bakhtin, Saussure etc.) assim como teorias cognitivas e sociointeracionistas de aprendizagem (Vygotsky, Luria, Leontiev, Piaget) e conseguem relacionar sua trajetória escolar às teorias estudadas. Ao reconhecer a sua língua materna como parte integrante do seu ser, eles escrevem um relatório autoetnográfico contando a sua trajetória de vida desde suas primeiras palavras, adquiridas no ambiente familiar, até o ensino formal da língua portuguesa na escola. A partir daí, eles são confrontados com teóricos de linguagem e de aprendizagem e começam a fazer relações entre sua trajetória de vida com as teorias estudadas. Na medida em que eles começam a fazer essas relações, cada vez mais eles 1 AMARAL, M.G.C. Universidade Federal do Rio Grande – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia. Endereço: Alfredo Huch 475 - CEP: 96201-900 - Rio Grande – Rio Grande do Sul – Brasil. Correio eletrônico: [email protected] 42 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. saem do nível empírico e avançam ao nível teórico, pois ao reconhecerem-se como falantes nativos do português brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: relação empírica, língua materna; relação metateórica. A língua portuguesa falada nos quatro cantos do Brasil, com diferentes sotaques, com diferenças lexicais de região para região, diferenças que não são mais ou menos bonitas, todas são o retrato da diversidade cultural brasileira, resultado do português de Portugal misturado com línguas indígenas, línguas africanas e outras tantas línguas de imigrantes de outras etnias que ajudaram a construir o Brasil, essa é a língua do Brasil, essa é a sua marca identitária. No entanto, essa mesma língua quando ensinada nas escolas brasileiras parece perder-se de vista, a língua portuguesa ensinada no sistema educacional brasileiro, em geral, restringe-se a reproduzir uma gramática ortodoxa que em nada lembra a língua utilizada pela população brasileira. Mas, se mergulharmos nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs de Língua Portuguesa verificamos que esses enfatizam o processo de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa como um saber lingüístico amplo, tendo a comunicação como alicerce das ações humanas, conforme pode ser visto abaixo: Comunicação aqui entendida como um processo de construção de significados em que o sujeito interage socialmente, usando a língua como instrumento que o define como pessoa entre pessoas. A língua compreendida como linguagem que constrói e desconstroi significados sociais. (BRASIL, p. 35) 43 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. Ao referir-se à comunicação como base das ações humanas os PCNs deixam claro que a língua aprendida na escola não deve ser uma língua divorciada da língua utilizada nas diferentes esferas sociais, isso quer dizer que cabe à escola discutir as diferentes linguagens utilizadas pela população brasileira e desenvolver no aluno a capacidade de discernir que linguagem utilizar diferentes contextos sociais. Os PCNs enfatizam a leitura e produção de textos, texto entendido como uma unidade básica da linguagem verbal situada em um contexto histórico social e cultural que marca o diálogo entre seus interlocutores. Dessa maneira temos duas realidades bem distintas, de um lado os PCNs, altamente desenvolvidos, inseridos na realidade sociocultural brasileira preocupados com a formação integral do aluno, de outro a prática da sala de aula de Língua Portuguesa, ainda seguindo velhos padrões ultrapassados de ensino. Os PCNs são uma síntese de teorias que não são articuladas com a prática do professor na sala de aula. Esse fato nos remete a um velho problema nas ciências em geral que é a articulação entre teoria e prática. No caso específico da Língua Portuguesa, a maioria das vezes estudantes dos cursos de Letras são apresentados a teorias lingüísticas e teorias de aprendizagem, estudam essas teorias enquanto estão inseridos no âmbito acadêmico, porém ao saírem do meio acadêmico e enfrentarem o cotidiano da sala de aula de Língua Portuguesa nas suas escolas não conseguem articular as teorias estudadas no seu curso de formação com a sua rotina da sala de aula. 44 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. Os conhecimentos adquiridos nos cursos de graduação acabam fazendo parte do conhecimento passivo, ou seja, eles sabem que existem as teorias, sabem sobre o que elas tratam, mas não conseguem torná-las conhecimento ativo. Entende-se aqui por conhecimento ativo conhecimento que é incorporado ao seu dia a dia, ou seja, à sua prática diária como professores de Língua Portuguesa. (AMARAL, 2006) Os resultados desse processo podem ser vistos no cotidiano das escolas brasileiras, os professores, em geral, limita-se a reproduzir o material disponível no livro didático do aluno, sem refletir sobre as teorias que subjazem a esses livros, fato que torna o ensino da Língua Portuguesa pouco atrativo ao jovem, pois eles não encontram sentido naquilo que estudam. Os fatos supracitados nos fazem refletir sobre a necessidade que não somente o sistema educacional, mas o mundo todo necessita do pensamento científico. Se nos reportarmos para a história da humanidade nos daremos conta que a evolução humana dá-se pelo surgimento das invenções científicas. A nossa língua materna é parte de nós mesmos, é por meio dela que nos constituímos como indivíduos, não basta sabermos falar o português, é na escola que devemos desenvolver uma nova relação com a nossa língua. Com base nas argumentações acima, esse artigo objetiva mostrar os resultados de um projeto de pesquisa intitulado: “Desenvolvimento de uma Relação Meta teórica sobre a Evolução Histórica e Sistêmica das Ciências da Linguagem” realizado em uma sala de aula de Língua Portuguesa da primeira série do Ensino Médio Integrado ao Ensino Técnico na cidade do Rio Grande no extremo sul do Brasil. 45 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. Esse trabalho segue outros trabalhos na área de línguas como o de Aidarova e Davydov (1967) que fizeram um experimento com crianças da quarta série do ensino fundamental na antiga União Soviética na aprendizagem do russo como língua materna. Nesse experimento, as crianças conseguiram desenvolver uma relação teórica com a sua língua materna,o russo, através da composição e decomposição de palavras. O experimento de Aidarova e Davydov é motivador para os alunos porque não é somente a reprodução do conhecimento dado de maneira passiva, mas eles são ativos e agem como pesquisadores quando analisam uma palavra, descobrem as relações entre significado e forma, expandem essas relações a um sistema cada vez mais complexo, a ponto de inventar possíveis palavras em russo utilizando regras como singular, plural, masculino, feminino, etc. Esse fato foi possível porque essas crianças conseguiram distanciar-se de sua língua e adotar uma postura crítica em relação às suas regras gramaticais, adquirindo assim uma relação metateórica com sua língua materna, apesar da sua tenra idade. Com esse trabalho Aidarova e Davydov fazem uma crítica ao trabalho de outros pesquisadores soviéticos como Boshowitsch, Shuzkow e Morosowa desenvolvido no período de 1930 a 1960 constatando que crianças na escola primária: - São incapazes de distanciar-se do significado dado de uma palavra diretamente; - São incapazes de analisar uma palavra; - Têm um pensamento muito elementar; 46 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. - Somente atuam com objetos concretos; - Têm, somente, uma relação direta com as línguas; - São capazes, apenas, de construir suas próprias generalizações com atributos dados e observáveis; - Têm baixo nível de pensamento abstrato. (v. AIDAROVA 1967, p.131 – 133) Esses resultados de pesquisa têm muita relação com a visão de Piaget quanto à habilidade de raciocínio dedutivo das crianças. Para Piaget, a criança é incapaz de fazer referências até o advento do estágio concreto-operacional na idade de 7 a 8 anos. Mas esse primeiro raciocínio é limitado a conteúdos práticos e concretos. Para Piaget, também as crianças menores de 11 ou 12 anos não entendem princípios formais da lógica dedutiva e não podem raciocinar sobre o material hipotético, porque não têm necessidade de fazer tais deduções. Para ele, “uma dedução deve ser formal ou hipotético-dedutiva, e suas conclusões devem ser seguramente verdadeiras somente pelo raciocínio da sua premissa e independentes das verdades empíricas dessas premissas”. (PIAGET 1962, p.32) A pesquisa de Amaral (2006) realizada com estudantes do curso de Letras de diferentes níveis, tanto iniciantes quanto concluintes, mostrou que, apesar de já terem estudado teorias lingüísticas e de aprendizagem esses estudantes permaneciam no nível empírico em relação à língua(gem). Após escreverem autotematizações2 intituladas 2 O termo autotematizações é oriundo da sociologia e quer dizer a maneira pela qual nos mostramos ao mundo, por exemplo, nossa maneira de falar , de vestir-nos, de decorar nossa casa são nossas automematizações. 47 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. “Eu, minha língua, meu ambiente cultural”, sua relação com a língua(gem) é descrita, conforme segue abaixo: As línguas são vistas como dadas. A interação histórica entre língua e realidade, a produção humana e a construção de línguas não são levadas em consideração; Mantém uma relação ufanista com a língua materna; mostram mais distância das línguas que não são provenientes do Latim; Não usam construtos teóricos como signo, estrutura, sistema ou informação, como meios para uma relação teórica com línguas, apesar de serem estudantes de Letras e já terem tido contato com concepções teóricas como Estruturalismo e Semiótica; Na visão dos estudantes não há possibilidades de planejar e construir línguas (como SAE ou Esperanto), ou gerar línguas no computador com base em teorias lingüísticas; O campo da tecnologia de linguagem fundamentado em teorias lingüísticas não é levado em consideração pelos estudantes; A língua como prática social não é vista com base em teorias lingüísticas como Pragmática, Sociolingüística, mas somente de maneira prática e empírica, dito de outra forma, os fatos são constatados com base em teorias implícitas ingênuas. 48 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. A pesquisa de Amaral (2006) revela que não basta conhecer as teorias sobre linguagem para pensar teoricamente em linguagem, o pensar teoricamente sobre língua(gem) requer mais que isso, porém é algo que pode ser desenvolvido já na infância como comprova o trabalho de Aidarova e Davydov (1967) . Outras pesquisas como Luria (1976) e Yunes (1992) mostram que o desenvolvimento do pensamento científico tem uma estreita ligação com a escolaridade e o com meio social, isso quer dizer que toda pessoa é capaz de desenvolvê-lo, independente da idade, desde que seja estimulada a isso, como podemos verificar no trabalho de Aidarova e Davydov(1967). O presente artigo mostra o desdobramento do pensamento empírico em uma relação metateórica com a língua materna no Ensino Médio, o educando consegue articular as teorias lingüísticas e/ou de aprendizagem com a língua falada no dia a dia, com a origem de sua língua e finalmente sua língua como sua marca identitária. A pesquisa partiu da seguinte hipótese: Os alunos que ingressam no Ensino Médio não possuem pensamento teórico sobre língua e linguagem Sendo essa pesquisa de cunho etnográfico, ela possibilita ao pesquisador descrever e interpretar as ações dos sujeitos pesquisados no micro universo da sua sala de aula de Língua Portuguesa na 1ªsérie do Ensino Médio Integrado do Ensino Técnico. Assim, é possível estudar uma escola inteira; uma sala de aula observando a classe em todas as disciplinas; as aulas de uma só disciplina como é o caso dessa pesquisa. Para descrever os resultados da pesquisa as próprias palavras dos participantes são utilizadas para comprovar a hipótese inicial da pesquisa e a partir daí dar 49 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. seguimento às etapas posteriores, visto que, os próprios alunos pesquisados atuam como co-pesquisadores e não como sujeitos passivos da pesquisa. Por ser uma pesquisa-ação que tem por objetivo provocar uma mudança conceitual nos alunos, essa pesquisa foi dividida em cinco partes, conforme segue abaixo: 1. Pré-teste; 2. Produção da Objetividade; 3. Produção da Subjetividade; 4. Produção da Intersubjetividade; 5. Produção da (Re)-subjetividade. Pré-teste No pré-teste a professora pediu aos alunos que escrevessem o que sabiam sobre língua e linguagem. Ela salientou que eles poderiam ficar bem à vontade, pois nessa atividade não existia o certo ou errado, o importante era eles escrevessem o que tinham em mente. Os resultados confirmam a hipótese inicial do projeto, visto que, 95% dos alunos afirmaram nunca terem pensado nisso antes, 3% afirmaram achar tudo a mesma coisa, língua e linguagem são gramática.. Apenas 2% incluíram as imagens, os gestos à linguagem e afirmaram que a língua correspondia à linguagem verbal. Além disso, não esboçaram nenhuma definição ou conceito sobre língua, apenas referiram-se à língua como matéria chata, gramática, acentuação. 50 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. No segundo momento, ao serem instigados pela professora para falarem mais sobre língua e linguagem, os alunos argumentaram que não sabiam, não gostavam de português, insistiram que português era uma matéria chata, que sempre se aprendia a mesma coisa, disseram que não queriam falar sobre isso. Produção da objetividade Na segunda etapa da pesquisa a professora distribuiu aos alunos uma lista de palavras em diferentes línguas e pediu a eles que desenhassem a primeira imagem que viesse a sua cabeça. A professa frisou que nessa atividade não existiria certo ou errado, o importante seria que eles fossem espontâneos e desenhassem realmente a primeira imagem que viesse a sua mente, conforme pode ser visto abaixo: Figura 01: Atividade Lúdica: brincando com as palavras 51 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. Na figura acima temos a palavra árvore escrita em diferentes línguas como: português, inglês, francês e alemão. Em português, como era esperado, foi desenhada uma árvore, também podemos observar que em português e em francês a grafia da palavra árvore é semelhante, sendo assim, em francês também foi desenhada uma árvore. No entanto, em inglês foi desenhado o número três, porque a palavra “tree” em inglês tem a grafia semelhante à grafia da palavra três em português, Assim como,a palavra “Baum” em alemão nos remete à grafia da palavra bomba em português. Depois de concluída a atividade eles explicavam os seus desenhos para os colegas. Quando os alunos fizeram essa atividade, eles a acharam muito estranha, ficaram desconfiados, perguntaram: - Por que fazer isso numa aula de português? O que isso tem a ver com português? Sua reação foi natural, visto que foi uma atividade totalmente atípica que fugia dos estereótipos que eles tinham de aulas de português, mas foi uma atividade fundamental para os propósitos dessa pesquisa-ação. Essa atividade lúdica e a princípio ingênua serviu como um marco inicial para que eles começassem a articular os seus desenhos, com a visão de mundo que eles têm e posteriormente com as teorias estudadas. Logo após essa atividade, alunos-pesquisadores, em pequenos grupos, pesquisam sobre diferentes concepções de linguagem e desenvolvimento da linguagem e as apresentaram em forma de seminários ao restante do grupo. 52 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. Os teóricos estudados foram: Ferdinand de Saussure, Sapir e Whorf, Wilhelm von Humboldt, Mikhail Bakhtin, Piaget e Vygotsky. No começo da pesquisa, eles apresentaram muita dificuldade em fazer esse trabalho, foram necessários vários encontros com a professora-pesquisadora para que eles conseguissem entender essas teorias e conseguissem explicá-las para os colegas nos seminários. Mas, o real entendimento das teorias somente ocorreu quando eles conseguiram fazer as relações com os desenhos das palavras e com seus relatórios autoetnográficos intitulados: Minha trajetória Lingüística, pois com essas atividades eles passaram a dar-se conta que os fenômenos não acontecem por acaso. Ao estudarem a arbitrariedade do signo lingüístico de Saussure eles voltaram aos seus desenhos e analisaram a relação significante/significado e se deram conta que essa relação não é natural, pois varia de língua para língua, conforme pode ser visto abaixo: Logo no primeiro dia de aula, realizamos um trabalho inicial que nos pareceu muito estranho para a disciplina de Língua Portuguesa, que foi a confecção de desenhos,após a leitura de algumas palavras. Porém, como algumas aulas após realizamos trabalhos sobre teóricos da linguagem, entendi o porquê daquilo, especialmente pelo motivo de que o meu trabalho era sobre Saussure.... (Fragmento retirado do relatório auto- etnográfico do aluno F. B.3)) 3 Apesar de termos recebido a autorização dos alunos para revelar sua identidade, optamos por preservála,visto que são fragmentos de seus relatórios auto-etnográficos que tratam, não só de sua trajetória lingüística, mas também de sua trajetória de vida. 53 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. Os alunos se deram conta que seus desenhos muitas vezes coincidiram uns com os outros porque segundo a Hipótese Sapir –Whorf as pessoas vivem segundo suas culturas em universos mentais muito distintos que estão exprimidos (e talvez determinados) pelas diferentes línguas que falam. Desse modo, também o estudo das estruturas de uma língua pode levar a elucidação de uma concepção de um mundo que a acompanhe. Isto se dá principalmente no nível semântico, embora também influencie na maneira de assumir os processos de mudança e os estados das coisas expressas por ações verbais. Humboldt, apesar de ser um dos inspiradores da Hipótese Sapir-Whorf, ele via além da Hipótese, pois considera as condições de produção do discurso, propõe uma compreensão da linguagem não apenas como um sistema acabado, mas como atividade.Em suas palavras: “é preciso considerar a linguagem não como um produto morto (todtes Erzeugtes), mas, sobretudo, como uma produção(Erzeugung) (...) Em si mesma, a linguagem não é um produto (Ergon), mas uma atividade (Energeia)” (HUMBOLDT, 2002, p. 416 e 418). É interessante notar, nessa compreensão da linguagem como atividade, que seu aspecto criador comparece tanto em um ponto de vista semântico quanto em um ponto de vista pragmático. Segundo Humboldt, as línguas são heranças dos nossos antepassados, assim como são também autocriações humanas que estão em contínuo 54 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. processo de transformação.E é justamente esse fato que faz de suas reflexões um marco importante não apenas para a lingüística contemporânea, fato deixado de lado pela Hipótese Sapir-Whorf. Bakhtin, por sua vez, assemelha-se muito a Humboldt no que tange à dinamicidade das línguas. Ele também estuda as línguas nas diferentes esferas sociais Para ele, a língua — que Saussure considera o objeto da lingüística — não passa de um modelo abstrato, construído pelo teórico a partir da linguagem viva e real. Coerentemente Saussure afirmava que “não é o objeto que precede o ponto de vista, mas é o ponto de vista que cria o objeto”. No caso da lingüística é exatamente o que ocorre: o seu objeto é criado a partir do ponto de vista de que a linguagem humana não pode ser objeto de conhecimento científico, assim como o exercício da fala. Assim como Humboldt, Bakhtin trabalha com um mundo em movimento e em perene transformação, seu objeto está sempre em processo, não se submete a uma forma fixa e imutável. E é exatamente por isso que ele não pode aceitar que uma língua seja um conjunto de formas (signos) e suas regras de combinação (sintaxe). Para Saussure, um signo é uma relação entre um significante (um som, uma imagem acústica ou um grafema) e um significado (um conceito). Para Bakhtin, o significado é uma impossibilidade teórica. Um signo, aceitandoo provisoriamente, não tem um significado, mas receberá tantas significações quantas forem as situações reais em que venha a ser usado por usuários social e historicamente localizados. Em uso, a língua é muito diferente do seu modelo teórico. Para a lingüística 55 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. um signo tem um significado. Sabemos, entretanto, que, ao falar, nós estamos diariamente modificando, acrescentando, excluindo, torcendo os significados codificados pela língua, o enunciado não é um conceito meramente formal; um enunciado é sempre um acontecimento. Ele demanda uma situação histórica definida, atores sociais plenamente identificados, o compartilhamento de uma mesma cultura e o estabelecimento necessário de um diálogo, todo enunciado demanda outro a que responde ou outro que o responderá. Ninguém cria um enunciado sem que seja para ser respondido. Mesmo isso que eu agora leio, ainda que não venha a receber respostas exteriorizadas, por certo as provocará interiormente e, desde já, esboço as minhas réplicas neste diálogo sem fim. Ao estudar Humboldt e Bakhtin os alunos dão-se conta das semelhanças entre de idéias dos dois teóricos, apesar de apresentarem diferenças terminológicas. Conseguem perceber que esses dois autores ultrapassam as fronteiras da lingüística, pois são estudados em outras áreas do conhecimento, Principalmente Humboldt, juntamente outros intelectuais consolidou a Teoria do Autodesenvolvimento Humano4 na Alemanha, fato que transformou radicalmente o sistema educacional alemão. Cada palavra desenhada na atividade lúdica é amplamente discutida com o grupo, sob a orientação da professora-pesquisadora, por exemplo, da palavra “Baum”, que significa árvore em alemão, mas que pela sua grafia, fez alusão a palavra bomba em 4 Em alemão Theorie der Bildung. 56 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. português surgiu a diferença entre significado e significação mencionadas na teoria de Humboldt (criação) e Bakhtin (enunciado). A palavra “bomba” para um brasileiro não tem a mesma significação como para países que sofrem com o terrorismo, nesse caso vamos além da arbitrariedade significante/significado saussuriana e chegamos à significação bakhtiniana, também abordada na teoria de Humboldt. Após o estudo desses teóricos e as possíveis relações desses teóricos com os desenhos feitos na atividade inicial da disciplina de Língua Portuguesa, os alunos– pesquisadores passam para a etapa da produção da subjetividade. Produção da subjetividade: Os alunos-pesquisadores elaboram de um relatório autoetnográfico intitulado: “Minha Trajetória Linguística”, relacionando as teorias estudadas na produção da objetividade com a sua história de vida. Nesse relatório os alunos deveriam descrever sua trajetória lingüística desde sua primeira manifestação de linguagem que ocorre após o nascimento, o choro, passando pelo período da silabação, a primeira palavra, até aos dias atuais. Um fato interessante que ocorreu foi que eles tiveram que perguntar aos seus pais qual havia sido a sua primeira palavra, e os pais sempre diziam que depois da primeira palavra eles começaram a falar tudo de repente, fato que comprova a tese do inatismo. 57 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. Muitos deles se encaixaram perfeitamente nos estágios evolutivos de Piaget, outros salientaram mais a teoria da Vygotsky no seu desenvolvimento como, por exemplo, a zona de desenvolvimento proximal (ZPD), conforme descreve uma aluno:“Quando comecei a andar de bicicleta minha mãe me segurava até que consegui andar sozinho.” Um fato importante foi que, a princípio, os alunos deveriam escrever sobre sua trajetória lingüística, mas seus relatórios falaram sobre suas vidas, fatos marcantes de suas vidas, alguns alegres, outros tristes, como a morte de pais, avós, etc. Isso nos mostra que a nossa língua é a nossa marca, através dela nos constituímos como indivíduos, falar sobre nossa trajetória lingüística significa falar sobre nós mesmos. Como fechamento dessa etapa, cada um deles apresenta seu relatório autoetnográfico ao grande grupo de alunos e discutem sua história de vida e as diferentes concepções de linguagem dentro do seu próprio contexto de vida. 58 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. Produção da Intersubjetividade: O professor introduz noções de etnografia e leva para sala de aula exemplos de pesquisas etnográficas. Os alunos-pesquisadores, em pequenos grupos, saem do espaço da sala de aula e realizam entrevistas etnográficas com pessoas de diferentes trajetórias de vida e analisam essas entrevistas à luz das teorias estudadas previamente na sala de aula. Abaixo, mostraremos uma parte da entrevista na qual os alunos relacionaram com a teoria de Humboldt. ...Então o Sr. concorda que aprendendo uma nova língua aprende-se também um pouco da sua cultura? Sem sombra de dúvidas a gente aprende as culturas e mais ainda é difícil de explicar, mas existem estudos que provam que quando tu aprendes uma língua dentro do teu cérebro abre janelas para outras coisas que não tem nada a ver com línguas. Tipo assim vou dar um exemplo análogo quem aprende música tem mais facilidade na matemática e quando tu aprendes línguas diferentes te abre também outras janelas como para a geografia, artes.Eu tive agora em novembro, passado, um mês inteiro na China eu não sabia dizer um “aí” em chinês, mas aí aprendi a dizer obrigado também, mas o som do chinês, da língua chinesa é muito bonita e tu começa a relacionar com o jeito que eles vivem, como é que eles pensam... aquela arte que eles fazem é algo inacreditável. (Fragmento retirado da 59 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. entrevista etnográfica realizada com um professor sobre relações interculturais) Os alunos-pesquisadores relacionaram essa parte da entrevista à parte da teoria de Humboldt que diz que aprender uma nova língua é adquirir um novo ponto de vista, é acrescentar uma nova maneira de ver s sentir o mundo que pode ser percebido em diferentes áreas do conhecimento. Produção da (Re)-subjetividade: Os alunos-pesquisadores produzem um Módulo Multimídia contendo todo o desenvolvimento das atividades realizadas na pesquisa, não uma compilação delas, mas uma análise reflexiva sobre sua relação com sua língua materna, o português brasileiro. Eles fazem uma análise reflexiva sobre o que pensavam sobre a sua língua, sobre o ensino da Língua Portuguesa antes dessa pesquisa e depois da conclusão dela, conforme exemplificado aqui: .... A meu ver os conteúdos desenvolvidos ao longo do ano nos proporcionaram uma nova visão de mundo até então 60 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. desconhecida, coisas que eu nunca tinha pensado antes , o português parece outra coisa agora... R.V. Aprendemos que a língua portuguesa não é apenas gramática, ou forma, ela é um montão de coisas..Foi muito bom. Para mim o aspecto mais importante foram os exemplos dados para relacionar as teorias com o dia a dia, no fim ficou tudo muito claro, entendi tudo. C.Z; Eu aprendi que o português não é só aquela matéria que você aprende predicado, sujeito etc,... O PORTUGUÊS é mais complexo, mais interessante, os desenhos, as teorias , os relatórios, tudo nos pareceu muito estranho, mas agora tudo faz sentido... P.N. Após a leitura desses breves relatos dos alunos podemos observar que a Língua Portuguesa assumiu uma nova dimensão para eles. Primeiramente, houve uma sensação de estranhamento com os desenhos iniciais, as teorias, depois, à medida que eles conseguiam fazer as relações com as teorias e suas experiências nos seus relatórios autoetnográficos eles se deram conta que esses teóricos que, a princípio, pareciam seres 61 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. inatingíveis, estavam presentes nas suas vidas, pois suas teorias não tinha saído do nada, um dia esses teóricos observaram pessoas de carne e osso como eles e daí saíram suas teorias. Nessa trajetória dos alunos na pesquisa primeiramente houve uma distanciamento muito grande da língua materna, eles percorreram teóricos densos como Humboldt, Bakhtin, Saussure e à medida que começaram a elaboração de seus relatórios autoetnográficos, eles voltaram-se novamente para a sua língua materna, nesse momento não mais com um olhar ingênuo, mas com um olhar curioso, tentando encontrar as teorias previamente estudadas no desenvolvimento do seu processo lingüístico. A esse fenômeno chamamos desdobramento de uma relação metateórica com a sua língua materna: o português brasileiro, objetivo da nossa pesquisa. Conclusão Nesse artigo discorremos sobre um trabalho de pesquisa realizado por uma professora-pesquisadora, o próprio nome professor-pesquisadora nos remete ao objetivo da pesquisa descrita no artigo, a articulação entre teoria e prática. Acreditamos aqui estar um dos méritos desse trabalho, fato esse raro no ensino brasileiro, pois em geral temos de um lado a academia que trabalha com as teorias e de outro a escola que lida com a prática escolar desprovida de teorias. Aqui unimos teoria e 62 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. prática por parte da professora-pesquisadora e desdobramento de uma relação empírica por parte dos alunos, até então uma relação escolar mal sucedida que assume uma relação desafiadora, onde eles, alunos deixam de ser alunos recipientes de regras gramaticais e passam a ser os protagonistas do processo de descoberta do potencial da sua própria língua. Referências Bibliográficas AIDAROVA, L. I.; DAVYDOV, V. v. (1967): Die Ausbildung einer linguistischen Einstellung zum Wort bei Schülern der Unterstufe. In: Lompscher, J. (Edt.): Probleme der Lerntheorie. Berlin: Volk und Wissen, p. 131 –158. AMARAL, M. C. 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