Drogas: 5 mil anos de viagem

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Drogas: 5 mil anos de viagem
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Material de Apoio do Aulão sobre Drogas
DATA:17/08/2013
Drogas: 5 mil anos de viagem
O homem tem uma longa história de convivência com psicotrópicos - há milênios eles são usados desde
em ritos indígenas até animadas festas romanas. Conheça a trajetória das principais drogas na nossa cultura.
por Texto Marco Antônio Lopes
Há cerca de 5 mil anos, uma tribo de pigmeus do centro da África saiu para caçar. Alguns deles notaram o estranho comportamento de javalis que comiam uma certa planta. Os animais ficavam mansos ou andavam desorientados. Um pigmeu,
então, resolveu provar aquele arbusto. Comeu e gostou. Recomendou para outros na tribo, que também adoraram a sensação de entorpecimento. Logo, um curandeiro avisou: havia uma divindade dentro da planta. E os nativos passaram a venerar o arbusto. Começaram a fazer rituais que se espalharam por outras tribos. E são feitos até hoje. A árvore Tabernanthe
iboga, conhecida por iboga, é usada para fins lisérgicos em cerimônias com adeptos no Gabão, Angola, Guiné e Camarões.
Há milênios o homem conhece plantas como a iboga, uma droga vegetal. O historiador grego Heródoto anotou, em 450
a.C., que a Cannabis sativa, planta da maconha, era queimada em saunas para dar barato em freqüentadores. “O banho de
vapor dava um gozo tão intenso que arrancava gritos de alegria.” No fim do século 19, muitos desses produtos viraram,
em laboratórios, drogas sintetizadas. Foram estudadas por cientistas e médicos, como Sigmund Freud.
Somente no século 20 é que começaram a surgir proibições globais ao uso de entorpecentes. Primeiro, nos EUA, em
1948. Depois, em 1961, em mais de 100 países (Brasil entre eles), após uma convenção da ONU. Segundo um relatório
publicado pela entidade em 2005, há cerca de 340 milhões de usuários de drogas no planeta. Movimentam um mercado de
1,5 trilhão de dólares. “Ao longo da história, as drogas tiveram usos múltiplos que alimentaram e espelharam a alma humana”, diz o professor da USP Henrique Carneiro, autor de Pequena Enciclopédia da História das Drogas e Bebidas. Elas
deram origem a religiões, percorreram o planeta com o comércio, provocaram guerras, mudaram a cultura, música e moda. Acompanhe agora uma viagem pela história das substâncias mais famosas.
Ayahuasca
Índios da bacia Amazônica tomam esse chá alucinógeno há mais de 4 mil anos – um hábito que chamou a atenção de
portugueses e espanhóis assim que eles desembarcaram por aqui, no século 16. Ao chegarem à Amazônia, padres jesuítas
escreveram sobre o chá da “poção diabólica” e as cerimônias que os indígenas realizavam depois de consumir o ayahuasca. Durante todo esse tempo, a bebida provavelmente teve a mesma receita: um cozido à base de pedaços do cipó Banisteriopsis caapi.
O nome quem deu foram os índios quíchuas, do Peru. Ayahuasca quer dizer “vinho dos espíritos” – segundo eles, o chá
dá poderes telepáticos e sobrenaturais. Mas os quíchuas são apenas um dos 70 povos na América Latina que tomam o chá
com freqüência. Na maioria dos casos, o chá é visto como uma divindade. Mas a ayahuasca também serve ao prazer: ao
final dos rituais, muitos índios transam com suas parceiras.
No século 20, a fama do chá correu o mundo. Escritores viajavam para a América do Sul, enfrentavam o calor e a umidade e dormiam em aldeias para ter experiências alucinógenas. Entre os pirados estavam o poeta beatnik William Burroughs. Burroughs esteve no Brasil e na Colômbia, em 1953. Quando voltou aos EUA escreveu o livro Cartas do Yagé
(yagé é outro nome do chá, tomado na periferia de Bogotá). “Uma onda de tontura me arrebatou. Brilhos azuis passavam
em frente de mim”, escreveu. Depois, recomendou a bebida ao amigo Allen Ginsberg, que veio para a Amazônia em
1960. Hoje o chá é tão divulgado na internet (mais de 400 mil sites) que existem até pacotes turísticos vendidos por entidades clandestinas. A pessoa paga hotel, avião e visitas a tribos que fazem o culto. O custo: entre 1 000 e 1 300 dólares.
Cacto peiote
Cerca de 10% das mais de 50 espécies de cacto têm propriedades alucinógenas. A mais conhecida é a Lophophora williamsi, que brota em desertos no sul dos EUA e norte do México. É usada em rituais há 3 mil anos e cerca de 50 comunidades indígenas a consideram sagrada. Os huichois, do norte do México, chegam a fazer uma peregrinação anual de mais de
400 km para colhê-la. Quando a encontram, fazem um ritual: em silêncio, agem como se estivessem diante de um cervo,
até lançarem uma flecha na planta. Quando voltam com o peiote para a tribo, organizam rituais e celebrações sob efeito
da droga.
Algumas tribos da região, no entanto, descobriram os poderes do peiote somente no século 19. “Depois da Guerra Civil
Americana, os índios comanches e os navajos viveram uma terrível crise com o extermínio dos seus búfalos e os massacres que sofreram”, conta o pesquisador da USP Henrique Carneiro. Para amenizar a fase difícil, “aderiram ao consumo
religioso do peiote”. Numa das cerimônias, chamada “dança fantasma”, os índios dançavam alucinados e diziam se comunicar com os mortos.
O escritor inglês Aldous Huxley tomou a mescalina, substância do cacto. Descreveu as viagens no livro As Portas da Percepção: “Foi como tirar férias químicas do mundo real”. Mas nem só o underground era seduzido pela droga. O físico
inglês Francis Crick – que em 1953 descobriu a estrutura do DNA – provou o peiote várias vezes e gostou. Em 1967,
quando lançou o livro Of Molecules and Men (“Sobre Moléculas e Homens”, sem tradução em português), o cientista
colocou na epígrafe a frase “Este é o poderoso conhecimento, sorrimos com ele”, tirada do poema Peyote Poem, do escritor e doidão Michael McClure.
Cocaína
Imagem: Marcello Casal Jr/ABr/Creative Commons
Quando chegaram à América, os espanhóis perceberam que os índios da região tinham adoração pela folha da coca.
Pragmáticos, passaram a distribuí-la aos escravos para estimular o trabalho. Acontece que os brancos também tomaram
gosto pela coisa. E as folhas foram parar na Europa.
No Velho Continente, a planta era utilizada na fabricação de vinhos. Um deles, o Mariani, criado em 1863, era o preferido
do papa Leão 13, que deu até medalha de honra ao produtor da bebida. Foi nessa mesma época que o químico alemão
Albert Niemann isolou o alcalóide cloridrato de cocaína. Como tantos outros cientistas que você vai conhecer nesta reportagem, ele usou o corpo como cobaia: aplicou a droga na veia e sentiu a força do efeito.
O psicanalista Sigmund Freud investigou o uso da droga. Achava que ela serviria como remédio contra a depressão e
embarcou na experiência: “O efeito consiste em uma duradoura euforia. A pessoa adquire um grande vigor”. Até que um
dos pacientes, Ernst Fleischl, extrapolou e morreu de overdose. Freud, então, abandonou a droga.
Era normal laboratórios fazerem propaganda sobre a cocaína. Dizia-se que era “excelente contra o pessimismo e o cansaço” e, para mulheres, dava “vitalidade e formosura”. Somente no começo do século 20 é que políticos puritanos começaram a lutar pela proibição da droga, que praticamente sumiu do país. Só voltaria no fim da década de 1970, quando a cocaína refinada na Bolívia e Colômbia entrou nos EUA. E, mesmo proibida, não saiu mais.
Crack
Feita pela mistura da pasta de cocaína com bicarbonato de sódio, leva em segundos a um estado de euforia intenso que
não dura mais do que 10 minutos. Assim, quem usa quer sempre repetir a dose. O nome crack vem desse efeito rápido,
que surge como estalos para o usuário.
O consumo de crack explodiu no meio dos anos 80, como alternativa barata à cocaína. Mas a droga aparecia também em
festas de universitários e até de políticos. Um desses casos ficou famoso. Em janeiro de 1990, o prefeito de Washington,
Marion Barry, foi preso numa operação do FBI quando estava num quarto de hotel com uma antiga namorada, cooptada
pelos policiais. Assim que ele começou a usar crack, os agentes entraram no lugar e o prenderam. Barry renunciou e ficou
detido por 6 meses numa prisão federal.
Em São Paulo, o crack ainda hoje é a droga mais vendida em favelas e entre os sem-teto. No Rio, demorou muito mais
para circular. “A disseminação do crack é fruto de ação do vendedor de cocaína no varejo, que produz as pedras em casa.
No Rio, a estrutura do tráfico não permitia essa esperteza”, afirma Myltainho Severiano da Silva, autor de Se Liga! O
Livro das Drogas. Quem vendia crack era assassinado. Mas, em crise por causa de apreensões de drogas pela polícia, os
chefões do tráfico passaram a permitir a venda de crack no Rio no fim da década de 1990.
Cogumelos
Imagem: Alan Rockefeller/Creative Commons
Existem cerca de 30 mil tipos de cogumelos no mundo, mas só 70 provocam viagens. São os cogumelos alucinógenos,
com alcalóides que, quando ingeridos, dão barato. Um segredo, aliás, há tempos conhecido pelo homem: 5 mil anos atrás
o cogumelo Amanita muscaria já era colhido ao pé de carvalhos no norte da Europa e na Sibéria. Quando não o encontravam, os nativos da região bebiam até a urina de renas que comiam o cogumelo, para assim conseguir o efeito entorpecente.
No Império Romano, o cogumelo utilizado era outro, o caesarea, consumido com vinho em festas que terminavam em
orgias. Outra espécie, Claviceps pupurea, que nasce de parasitas do centeio, fez sucesso por acaso em regiões da Itália
durante a Idade Média. Em algumas aldeias, os pães eram feitos com farinha do centeio onde o fungo crescera. Sob o
efeito do cogumelo, as pessoas dançavam sem parar em festas. Os sábios, que não sabiam que era o pão que dava barato,
diziam que a euforia era causada pela picada de uma aranha. Deram a essa sensação o nome de “tarantismo” (de tarântula). Dessas festas teria surgido uma dança famosa – a tarantela.
No hemisfério sul, a variedade mais comum é o psilocybe que nasce nas fezes do gado. A mesma espécie aparece na
América Central, onde arqueólogos encontraram esculturas em forma de cogumelo misturadas com figuras humanas.
Datam de 500 a.C. e estão em El Salvador, Guatemala e México.
Maconha
Imagem: Getty Images
A Cannabis sativa, originária da Ásia Central, é consumida há mais de 10 mil anos. Os primeiros sinais de uso medicinal
do cânhamo, outro nome da planta, datam de 2300 a.C., na China, numa lista de fármacos chamada Pen Ts’ao Ching – um
estudo encomendado pelo imperador Chen Nong (a maconha servia tanto para prisão de ventre como para problemas de
menstruação). Na Índia, por volta de 2000 a.C., a Cannabis era considerada sagrada.
A planta apareceu no Brasil com escravos africanos, que a usavam em ritos religiosos. O sociólogo Gilberto Freyre anotou isso no clássico “Casa Grande & Senzala”, de 1933: “Já fumei macumba, como é conhecida na Bahia. Produz a impressão de quem volta cansado de um baile, mas com a música nos ouvidos”. No Brasil, até 1905, podia-se comprar uma
marca de cigarros chamada Índios. Era maconha com tabaco. Na caixa, um aviso curioso: “Servem para combater asma,
insônia e catarros”.
No século 19, a erva foi receitada até para a rainha inglesa Vitória. Ela fez um tratamento à base de maconha contra cólicas menstruais, indicado pelo médico do palácio. Hoje, há uma cultura em torno da droga que se mantém com revistas
especializadas, sites e ongs defendendo seu uso. A maconha tem até torneio anual, na Holanda: a Cannabis Cup, que avalia a qualidade da droga de todos os continentes. O país, aliás, não permite o comércio livre da erva. A droga pode ser
vendida apenas nos coffee shops e o limite por pessoa é de 5 gramas – suficiente para 5 cigarros.
Haxixe }
Imagem: Mjpresson/Creative Commons
A pasta formada pelas secreções de THC, princípio ativo da maconha, é consumida há milênios na Ásia – na China, foram encontrados registros de seu uso medicinal em 2500 a.C. Mas foi o comércio de especiarias que fez do haxixe uma
droga “global”. Acredita-se que por volta de 2 d.C. a substância seguiu para o norte da África e Oriente Médio pelas mãos
de comerciantes que iam ao Oriente em busca de especiarias. Eles recebiam haxixe como cortesia na operação de compra
e venda.
O nome, no entanto, vem do árabe – hashish significa “erva seca”. Ficou conhecido assim quando Hassan bin Sabbab,
líder de uma seita xiita da Pérsia no século 11, reuniu seguidores numa fortaleza para matar soldados das Cruzadas. Antes
de entrar em ação, usavam a droga. Os homens de Hassan, conhecido como Velho da Montanha, eram chamados de aschinchin – alguém sob influência do haxixe. Daí derivou a palavra assassin, ou assassino.
A droga se espalhou pela Europa no século 18. O poeta francês Charles Baudelaire e seus amigos escritores Alexandre
Dumas e Victor Hugo se reuniam para fumá-la. Baudelaire gostava tanto de haxixe que fazia parte de uma ordem, a Club
des Haschichiens. Nos encontros, além de usar haxixe, os participantes tinham um estranho ritual: exaltar Hassan bin
Sabbab. Todos vestiam roupas árabes e um dos integrantes era eleito o Velho da Montanha.
Ecstasy
Em 1912, um químico que investigava moderadores de apetite para a empresa alemã Merck desenvolveu uma droga de
nome impronunciável: metilenedioxianfentamenia, ou MMDA. Experimentou, sentiu uma leve euforia, mas arquivou a
descoberta. Na década de 1960, o cientista americano Alexander Shulguin procurava um remédio que estimulasse a libido. Encontrou os papéis da pesquisa da Merk e incluiu o MMDA na lista de mais de 100 substâncias que ele testou em
tratamentos psiquiátricos. A que fez mais sucesso foi justamente a MMDA, que ganhou a fama de “droga do amor”. Os
pacientes diziam que ela os ajudava a ser mais carinhosos – hoje, sabe-se que a droga estimula a produção de serotonina
no cérebro, responsável pela sensação de prazer.
Não surpreende, portanto, o nome que fez a substância famosa: “ecstasy”, de êxtase mesmo. Em 20 anos, as pastilhas da
droga estavam circulando nas ruas. Eram combinadas com o som da música eletrônica em festas chamadas raves, que
atravessavam o dia e só terminavam à tarde. Em 1988, o êcstasy foi a febre no verão inglês, que acabou batizado de
Summer of Love, ou “verão do amor”, mesmo nome que os hippies deram ao ano de 1967, quando eles se entupiram de
LSD. A comparação não era exagerada: as duas drogas estiveram por trás de boa parte da produção cultural jovem de suas
épocas.
Heroína
A substância foi descoberta em 1874, a partir de um aprimoramento na fórmula da morfina. Os trabalhos de pesquisa
nessa área já haviam levado, por exemplo, à invenção da seringa, criada em 1853 por um cientista francês que procurava
maneiras de melhorar a aplicação da morfina. Batizado de heroína, o novo remédio começou a ser vendido em 1898 para
curar a tosse. A bula dizia: “A dose mínima faz desaparecer qualquer tipo de tosse, inclusive tuberculose”. O nome fazia
referência às aparentes capacidades “heroicas” da droga, que impressionou os farmacêuticos do laboratório da Bayer.
Logo descobriram também que, injetada, a heroína é uma droga de efeito veloz, poderoso e que provoca dependência
rapidamente. Viciados em crise de abstinência têm alucinações, cólicas, vômitos e desmaios. Assim, a heroína teve sua
comercialização proibida em 1906, nos EUA. Em 1913, o fabricante alemão parou de produzi-la, mas ela manteve intensa
circulação ilegal na Europa e, principalmente, na Ásia. A droga voltou a aparecer nos EUA somente no começo dos anos
70, quando soldados servindo na Guerra do Vietnã começaram a consumi-la com asiáticos. Estima-se que cerca de 10%
dos veteranos voltaram para casa viciados. .
LSD
O químico alemão Albert Hofmann trabalhava no laboratório Sandoz, em 1938, investigando um medicamento para ativar
a circulação. Testava a ergotamina, princípio ativo do fungo do centeio, que ele sintetizou e chamou dietilamida. Tomou
uma dose pequena e sentiu um efeito sutil. Somente em 19 de abril de 1943 Hofmann resolveu testar uma dose maior. O
químico, então com 37 anos, voltou para casa de bicicleta. Teve a primeira viagem de ácido de que se tem notícia: “Vi
figuras fantásticas de plasticidade e coloração”, contou. Apresentou o LSD (iniciais em alemão de ácido lisérgico) a amigos médicos. Hofmann hoje tem 100 anos e é um dos integrantes do comitê que escolhe o Prêmio Nobel.
O americano Timothy Leary se encarregou de ser um dos embaixadores do LSD pelo mundo. Doutor em psicologia clínica de Harvard, ministrava a droga para seus pacientes e a recomendava a alunos do campus – até ser expulso pela universidade, em 1963. Na época a cidade de São Francisco começava a se tornar capital da cultura hippie. Uma das principais
atrações eram shows de rock para uma plateia encharcada de ácido fabricado em laboratórios clandestinos. Os frequentadores pregavam o amor livre, a vida em comunidade e veneravam religiões orientais. O lema deles você conhece: “paz e
amor”.
Em 1967, o movimento era capaz de reunir até 100 mil pessoas num parque. As farras lisérgicas muitas vezes acabavam
em sexo coletivo. Não é à toa que o ano tenha entrado para história como Summer of
Love, o “verão do amor”.
Ópio
O suco leitoso tirado da papoula branca é consumido há cerca de 5 mil anos no sudoeste da Ásia, em ilhas do Mediterrâneo e no Oriente Médio. Fez parte até da mitologia grega – era usado para venerar a deusa Demeter. A lenda dizia que,
após ter sua filha Proserpina raptada, Demeter passou a procurá-la. Encontrou e comeu sementes de papoula, diminuindo
a dor da perda. A imagem da deusa, então, ficou ligada à papoula – e rituais em sua homenagem incluíram o uso da droga.
O nome ópio vem do grego opin, ou suco. A chegada da civilização romana não diminuiu a sua popularidade, inclusive
para fins medicinais. “O ópio era a aspirina de seu tempo. No ano 312, havia na cidade de Roma 793 estabelecimentos
que o distribuíam”, afirma Antonio Escohotado, em O Livro das Drogas.
Na época das navegações, a Inglaterra chegou a monopolizar a venda mundial de ópio. Entre os principais importadores
estava a China, apesar de o produto ser proibido lá desde 1729. A luta contra o contrabando levou a um conflito militar
entre os dois países, que durou de 1839 a 1842 e ficou conhecido como Guerra do Ópio. Os ingleses venceram e obrigaram a China a permitir o comércio da droga. Ficaram também com o território de Hong Kong, que só foi devolvido em
1997.
Cartel de Medellín - Pablo Escobar
Pablo Emilio Escobar Gaviria, colombiano conhecido no mundo todo pelo seu primeiro e terceiro nome, foi um mito do narcoterrorismo e um dos homens mais ricos do
mundo nos anos 90. Apelidado carinhosamente de “Don Pablito” ou “El Patron”, chefiava o Cartel de Medellín, traficando bilhões de dólares em Cocaína com sua dócil
política chamada “plata o plomo” (prata ou chumbo).
Inteligente, o criminoso ajudava a população carente da Colômbia e utilizava a ideologia anti-imperialista para camuflar suas ações ilegais, ganhando apoio da maioria
dos colombianos. Por exemplo, Escobar construía estádios de futebol e financiava
alguns times da cidade, dizia tirar dos ricos para dar aos pobres, criando uma imagem
de Robin Hood. Com isso, o povo de Medellín acobertava-o, escondendo informações
e fazendo o possível para protegê-lo das autoridades.
Ele teve uma infância pobre, nasceu em um barraco na cidade de Rionegro, em Antioquia. Foi o terceiro a ver o mundo
entre seus seis irmãos e recebeu educação de um camponês, seu pai Abel de Jesus Escobar e de uma professora do ensino
fundamental, sua mãe Gaviria Hemilda. Iniciou seus estudos em Ciências Políticas, mas desistiu por não conseguir pagar
a mensalidade da faculdade. Então escolheu a solução para seus problemas no mundo do crime, inicialmente roubando
túmulos e os revendendo para contrabandistas. Porém, Roberto Escobar, seu irmão, nega que Pablo tenha feito isso.
De qualquer forma, Escobar exercia outras atividades ilegais no início de sua carreira criminal. Começou com pequenos
golpes como contrabando de cigarros falsos e venda de bilhetes de loteria falsificados. Aos 20 anos, já era um grande
ladrão de carros, ao mesmo tempo em que atuava como guarda-costas. Antes de entrar no tráfico, conseguiu 100 mil dólares sequestrando um executivo de Medellín. Escobar começou a lucrar alto prestando trabalhos ao contrabandista Álvaro
Prieto e, aos 22 anos, Pablo já era milionário.
No ano de 1975, Escobar começa a se envolver com o tráfico de cocaína. Fazia viagens de ida e volta entre Colômbia e
Panamá, contrabandeando drogas para os Estados Unidos. Começou a ganhar notoriedade quando encomendou o assassinato de Fabio Restrepo, um revendedor de Medellín que tentou lhe matar. Um ano depois, Escobar e seus homens foram
pegos com 18 quilos de pasta base, utilizada na composição da coca, após retornarem do Equador. Depois deste episódio,
Pablo iniciava suas tentativas de suborno. Comprou alguns juízes de Medellín e conseguiu com que o caso fosse arquivado. Foi aí que começou sua política de lidar com autoridades matando-as ou subornando-as, o famoso sistema “OU PRATA OU CHUMBO”.
Durante os anos 80, sua rede de distribuição de drogas ganha repercussão internacional. O Cartel de Medellín era peça
chave no contrabando da cocaína que chegava aos Estados Unidos pelo México, Porto Rico e República Dominicana.
Fora isso, outros mercados atingidos pelo cartel foram o Europeu e o Asiático.
Escobar fazia qualquer coisa para atingir seus objetivos. Foi responsabilizado pela morte de três políticos colombianos
que concorriam à presidência, por explodir um avião da Avianca 203 e o prédio de segurança pública da cidade de Bogotá; e pelas guerras sangrentas com o Cartel de Cali. Segundo alguns historiadores,
Pablo enviava cartas para suas vítimas, convidava-as para seus próprios enterros, que ocorriam precisamente nas datas
sugeridas pelo terrorista.
Em 1991, após cometer o assassinato de Luis Carlos Galán, um candidato à presidência, Escobar fez um acordo com o
governo colombiano para evitar sua extradição para os Estados Unidos ou sua morte pelo Cartel de Cali. Pressionado
pelas autoridades e pela opinião pública, Escobar foi preso em uma prisão luxuosa, construída por ele mesmo, a La Catedral.
Após este episódio, a extradição de cidadãos colombianos foi proibida e uma nova constituição foi aprovada. Porém, suspeita-se, apenas suspeita-se, de que o rei da coca tenha influenciado alguns membros da Assembleia Constituinte. Mesmo
preso, Escobar continuava com suas atividades ilegais. Então, em 1992, foi movido para outra prisão, mas escapou durante a transferência com medo de ser extraditado para os Estados Unidos. Como ele mesmo dizia, “prefiro uma cova na
Colômbia a uma cela nos E.U.A.”.
A guerra contra o narcotraficante chegou ao fim quando uma equipe de especialistas em eletrônica colombianos, utilizando uma tecnologia de triangulação de rádio criada pelas autoridades americanas, encontrou Escobar desprevenido em um
bairro de classe média de Medellín. Após um tiroteio, o traficante acabou encurralado em um telhado e levou uma sarai-
vada de tiros. Algumas balas atingiram a perna, outras as costas, mas a fatal foi próxima ao ouvido. Apesar de ser o mais
aceito, este é um acontecimento controverso e tem várias versões. Do episódio, restam apenas algumas fotos de policiais
colombianos posando atrás do prêmio. Um barrigudo, morto e descalço Pablo Escobar.
O traficante Fernandinho Beira-Mar
RICARDO FELTRIN
Luiz Fernando da Costa, 36, o Fernandinho Beira-Mar, é considerado um dos maiores
traficantes de armas e drogas da América Latina. Nascido em Duque de Caxias, na
Baixada Fluminense, ele não conheceu o pai. Foi criado pela mãe, dona Zelina, uma
dona de casa e faxineira, que morreu em 1992, atropelada na rodovia Washington
Luiz, no Rio.
Pobre, como a maioria dos meninos da Baixada, Luiz Fernando Costa encontrou no
Exército uma opção profissional e uma forma de fugir da miséria. Mas não foi a profissão que o tiraria da pobreza, e sim o crime. Entre os 18 e 20 anos começou a praticar os primeiros assaltos. Lojas, bancos e até o depósito de materiais do Exército eram
seus alvos principais. Foi acusado de furtar armas pesadas do Exército e de vendê-las
para traficantes do Rio.
Aos 20 foi preso por assalto, condenado a dois anos. Cumpriu a pena e, ao sair, voltou a morar na favela Beira-Mar, onde
imediatamente se tornou um dos "cabeças" do tráfico local. Voltou à terra natal como um bandido respeitado até por traficantes rivais. Ao mesmo tempo que ganhava dinheiro, investia na favela, ajudando a comprar remédios, roupas, comida e
até pagando dívidas de jogo de amigos da infância. Por meio dessa "política" paternalista, era querido e protegido pelos
moradores da favela Beira-Mar.
Ninguém sabe ao certo quanta cocaína movimentava a "firma" (como é chamada nos morros a máquina traficante). A
verdade é que entre 1990 e 1995 Fernandinho Beira-Mar conseguiu abrir canais próprios de distribuição de drogas no
atacado e no varejo. Morros como o Morel, Rocinha, Chapéu Mangueira e a favela do Vidigal eram abastecidos por seus
"produtos", entregues em Kombis até então insuspeitas (ou, talvez, em ação facilitada por policiais corruptos).
O contrabando de armas e drogas chegava sempre aos morros cariocas por via marítima, aproveitando a enorme costa do
Rio de Janeiro, cheia de praias desertas. Ao mesmo tempo em que enriquecia, Beira-Mar tornou-se alvo de policiais civis
e militares corruptos, que invadiam a favela semanalmente em busca de propina.
O traficante chegou a protestar que não aguentava mais ser "achacado" por policiais. Beira-Mar colocou a família para
trabalhar também. Suas duas irmãs, Débora e Alessandra, teriam se tornado gerentes da "firma". Ambas foram presas no
Rio, acusadas de pertencer ao narcotráfico. Fernandinho seria ligado ao Comando Vermelho, maior facção criminosa do
país. Acabou sendo preso em 1996, mas não chegou a ficar um ano no presídio de Belo Horizonte.
Sua fuga é cercada de suspeitas até hoje. Agentes penitenciários foram acusados de facilitá-la, mas nada foi comprovado
oficialmente. A corregedoria da Polícia Civil investiga o caso. Sabe-se que Beira-Mar saiu do presídio pelo portão da
frente, andando. "Surgiu uma oportunidade e eu saí", disse irônico à CPI do Narcotráfico em Brasília, no final do ano
passado.
Depois que fugiu, Beira-Mar teria se tornado uma espécie de 'nômade'. Paraguai, Uruguai e Bolívia teriam sido alguns
dos países em que ele morou, fugindo de uma ordem de prisão emitida pela Polícia Federal no Rio de Janeiro.
Enquanto passava por esses países, Beira-Mar não apenas escapava da polícia, mas ampliava seu leque de amizades "ilegais". Ele deixava assim de ser um grande fornecedor de drogas dos morros fluminenses para se tornar um supernarcotraficante internacional. Além de cocaína e maconha, Beira-Mar especializou-se no comércio ilegal de armas pesadas principalmente as fabricadas na Rússia.
Foi nesse comércio que se tornou amigo dos principais líderes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia),
de quem se tornou o fornecedor oficial de armamentos de grosso calibre. Por esse motivo, ele foi considerado mais um
"revolucionário" na Colômbia, e ganhou proteção das Farc na selva amazônica. Até ser preso, em 21 de abril do ano passado, e extraditado.
O traficante hoje está preso no presídio de segurança máxima, no Rio de Janeiro, o Bangu 1 - de onde continua comandando o tráfico e a venda de armas no país. Por celular.
Festival de Woodstock de 1969
Os organizadores de Woodstock
Os organizadores do Festival Woodstock eram quatro jovens: John Roberts,
Joel Rosenman, Artie Kornfeld e Mike Lang. O mais velho dos quatro tinha
apenas 27 anos na época.
Roberts, herdeiro de uma fortuna farmacêutica, e seu amigo Rosenman estavam procurando uma maneira de usar o dinheiro de Roberts, queriam investir
em uma ideia que o tornasse ainda mais rico. Depois de colocar um anúncio no
jornal The New York Times que dizia: "Jovens com capital ilimitado à procura
de interessantes oportunidades de investimento legítimo e propostas de negócios". Assim eles conheceram Kornfeld e Lang.
O Plano para o Festival de Woodstock
De Kornfeld e Lang, a proposta original era construir um estúdio de gravação e um retiro para músicos de rock em Woodstock, Nova Iorque (onde Bob Dylan e outros músicos já viviam). A ideia era criar um show de rock, com duração de
dois dias, para 50 mil pessoas, com a esperança de que esse acontecimento levantaria dinheiro suficiente para pagar o
estúdio.
Os quatro jovens, em seguida, começaram a trabalhar na organização de um grande festival de música. Eles encontraram
um local para o evento em um parque industrial em Wallkill, próximo a Nova York.
Eles disponibilizaram ingressos nos seguintes valores: US $ 7, para um dia; US $ 13 para dois dias e US $ 18 para três
dias, que poderiam ser comprados em lojas selecionadas ou via correio. Os organizadores também trabalharam na organização do evento, contratando músicos e segurança.
O primeiro de muitos obstáculos que o Festival de Woodstock enfrentaria foi o local. Não importa o quanto os jovens e
seus advogados batalharam por esse evento, os cidadãos de Wallkill não queriam um bando de hippies drogados, que
chegavam na cidade. Depois de muita disputa, a cidade de Wallkill aprovou uma lei, em 02 de julho de 1969, que proibiu
o concerto em sua vizinhança.
Todos os envolvidos com o Festival de Woodstock entraram em pânico. Lojas se recusaram a vender bilhetes e as negociações com os músicos ficaram instáveis. Apenas um mês e meio antes do Festival iniciar-se, um novo local teve que ser
encontrado.
Felizmente, em meados de julho, antes que muitas pessoas começaram a restituição para os bilhetes pré-comprados, Max
Yasgur ofereceu sua fazenda de 600 hectares em Bethel, Nova York, para ser o local para o Festival de Woodstock.
À medida que a data se aproximava, mais problemas surgiam. Logo perceberam que a estimativa de 50.000 pessoas era
muito baixa e a nova estimativa saltou para mais de 200 mil pessoas. Os jovens, em seguida, tentaram trazer mais banheiros, mais água e mais alimentos, pois centenas de pessoas chegavam para o Festival Woodstock.
Na quarta-feira, 13 agosto (dois dias antes de o Festival começar), já havia cerca de 50 mil
pessoas acampadas perto do palco. Como não havia nenhuma maneira de obrigar as 50
mil pessoas a deixar a área, os organizadores foram obrigados a tornar o evento em um
livre concerto.
Esta declaração de um concerto gratuito teve dois efeitos terríveis. A primeira era a de que
os organizadores perderiam grandes quantias em dinheiro, colocado sobre este evento. O
segundo efeito é que à medida que a notícia se espalhou de que o concerto seria gratuito e
cerca de um milhão de pessoas indo para Bethel, Nova York. A polícia teve muito trabalho para manter a ordem. Estima-se que cerca de 500.000 pessoas, na verdade, chegaram
ao Festival de Woodstock.
Não havia planejamento para abrigar meio milhão de pessoas. As rodovias da região tornaram-se, literalmente, estacionamentos porque as pessoas abandonaram seus carros no meio das ruas e a apenas e foram se orientado até o Festival de
Woodstock. O tráfego era tão ruim, que os organizadores tiveram que contratar helicópteros para transportar os executores do hotel para o palco.
Apesar de todos os problemas dos organizadores, o Festival de Woodstock começou quase na hora. Na sexta-feira, à noite, 15 de agosto, Richie Havens subiu ao palco e começou oficialmente o Festival. Sweetwater, Joan Baez e outros artistas
populares também se apresentaram na sexta à noite.
A músicos começaram a subir novamente ao palco pouco depois do meio-dia, no sábado, com Quill e continuou sem parar até domingo de manhã, em torno de 09:00. O dia de bandas psicodélicas continuou com músicos como Santana, Janis
Joplin , Grateful Dead e The Who, para citar apenas alguns.
Era óbvio para todos que, no domingo, o Festival de Woodstock seria encerrado. A maioria do público deixou o local
durante todo o dia, deixando cerca de 150 mil pessoas na noite de domingo. Quando Jimi Hendrix, o último músico a
tocar em Woodstock, terminou seu show, na segunda-feira de manhã, a multidão caiu para apenas 25 mil.
Apesar de ter de ficar na fila em torno de 30 minutos para a água e, pelo menos, uma hora de duração para usar um banheiro, o Festival de Woodstock foi um enorme sucesso. Havia uma grande quantidade de drogas, sexo e nudez, e muita
lama, criada pela chuva.
Os organizadores de Woodstock ficaram atordoados no fim do Festival. Eles não tiveram tempo para se concentrar no
fato de que eles haviam criado o evento de música mais popular da história, pois eles primeiro tiveram que lidar com uma
dívida incrível, (mais de US $ 1 milhão) e as 70 ações que haviam sido apresentadas contra eles.
Para o grande alívio, o filme do Festival de Woodstock se transformou em uma obra de sucesso e os lucros do filme cobriram uma grande parte do que deviam. No momento em que tudo foi pago, eles ainda sobraram de US $ 100.000 em
dívida.