Capitalizar em torno do líquido dos deuses?
Transcrição
Capitalizar em torno do líquido dos deuses?
D6 | Quinta-feira, 19 de março de 2009 | GAZETA MERCANTIL VINHO Comente estas reportagens no site gzm.com.br Depois dos vinhos, a Wine Society deve importar cervejas australianas ENOLOGIA Capitalizar em torno do líquido dos deuses? WALTER CRAVEIRO Confraria de empresários se une para trazer novo conceito de vinho ALEXANDRE STAUT SÃO PAULO Unir o útil ao prazeroso. Este foi o discurso usado pelo australiano Ken Marshall para convencer 20 empresários de sucesso a investirem R$ 6 milhões na criação da Wine Society, cuja missão é ambiciosa... trazer bons rótulos de várias produtoras do mundo, para oferecer no mercado nacional vinhos de bom custo-benefício, e, diga-se de passagem, capitalizar o dinheiro aplicado pelos investidores. Roberto Nishikawa, presidente da Itaú Corretora; Ricardo Lacerda, presidente do Banco de investimentos Citi; Flavio Jansen, ex-presidente do Submarino; Luis Souza, sócio da Souza e Cescon advocacia; Carlos Hitoshi Castro, diretor do Banco Fator; Pedro Herz, diretor da Livraria Cultura; entre outros nomes de peso, aderiram ao projeto, cuja aposta está nas embalagens bag in box, pouco exploradas no Brasil (as caixas de vinho com torneirinhas, que podem ser encontradas no mercado francês, espanhol e americano), inventadas na Austrália e responsáveis por aumentar o consumo per capta no país na década de 70. “Quando as box in bag começaram a ser vendidas na Austrália, o consumo era de 9,8 litros por pessoa/ano. Após a introdução dessas embalagens, o índice saltou para 19,3 litros por pessoa/ano. Essas bag in box transformaram a cultura de beber vinho no meu país”, diz Ken Marshall. “Consumidores tiveram a oportunidade de levar para suas casas bons vinhos, atraídos pelos baixos preços. A bebida é acondicionada em embalagens que podem ser guardadas na geladeira por até seis semanas”, completa Fernanda Dennis, diretora financeira da Wine Society. Não há, claro, a poesia e todo aquele ritual que envolve a abertura de uma garrafa, nem haverá grandes vinhos neste sistema de Os empresários da Wine Society se reuniram para lançar um conceito já difundido na Europa: beber vinho de uma embalagem com torneira e que vai à geladeira acondicionamento, o que existe é a possibilidade de se consumir um bom vinho de mesa a um preço adequado. O que não deixa de ser interessante. “Assim queremos contribuir para o crescimento do consumo no Brasil, nas residências, bares e restaurantes, que poderão vender taças a baixo preço”, observa ela. “Para se ter uma idéia, um vinho agradável australiano poderá ser vendido ao consumidor final por R$ 9, num restaurante, ou bar”, diz. Por instante, a empresa traz bags in box do Banrock Station (que vai custar R$ 85, a bag in box de dois litros) e o Stanley (R$ 112, com quatro litros). “Mas no portfólio da Wine Society estão previstos mais de 70 rótulos de 11 vinícolas australianas, como Barrosa Valley Estate, Leasingham e Barnrock Station. Além disso, vamos trazer marcas inéditas provenientes da Nova Zelândia, França, Itália, Espanha, África do Sul, Estados Unidos, Canadá e Bulgária”, diz ela. “Entre as estrelas que desembarcam por aqui estão o Kim Crawford Sauvignon Blanc Marborough 2008; o leasingham Riesling Clare Valle Magnus 2007 e o Yalumba Viognier Eden Valley 2007, todos na lista dos top 100 da revista Wine Spectator. Ken Marshall diz que, sem querer, acabou criando uma joint venture, que tem muita chance de crescer no Brasil. “E de quebra, a sociedade virou um clube de amantes do vinho, que se encontra para discutir os negócios e degustar bons produtos”. “Antes, só bebia uísque nas festas. Hoje, todos oferecem vinhos e espumantes. Uma prova de que a popularização no país torna-se real. Fui atraído por esta idéia pelo prazer da bebida, mas também pela oportunidade de investir num negócio que cresce muito no país”, diz Pedro Herz, da Livraria Cultura. Carlos Hitoshi Castro, diretor do Banco Fator, conta que trouxe sua expertise de bancário para a Wine Society. “Claro que tem o prazer da bebida, mas entrei neste negócio pela possibilidade de retorno financeiro. Todavia, não diria que se trata de um negócio extremamente capitalista. Há o prazer de estar ao redor de bons vinhos, de conhecer novos produtos, de oferecer ao brasileiro novos rótulos”, afirma. Os investidores dizem que ainda não se falou em retorno financeiro. Dizem que a Wine Society, neste momento, articula a comercialização de seus produtos — que acabaram de chegar ao Brasil — em merca- dos, empórios e restaurantes. “Alem das vendas em restaurantes e supermercados, serão abertas, neste ano, três bottleshop, que, além de venderem vinhos a preços atrativos, funcionam como espaço de bistrô. A primeira destas casas vai abrir, em junho, em Moema”, diz o investidor Stephen Hood, australiano que possui um vinhedo na região de Bento Gonçalves, no mesmo terroir da Cave Geisse. Além dos vinhos, a Wine Society pretende trazer cervejas australianas, um outro mercado pouco explorado no Brasil. “Por enquanto!”, conforme diz Ken Marshall. CONSUMO Artesanais da região de Salta, na cálida Argentina Mercovino, de Ribeirão Preto, traz produto premium do norte da Argentina ALEXANDRE STAUT SÃO PAULO Salta, na Argentina, não é uma região famosa pelas bodegas. Se o país tem pelo menos 900 delas, esta localidade, no norte, entre Paraguai, Bolívia e Chile, tem apenas 12. A Bodega El Porvenir de Los Andes é um dos destaques da região. Criada no século XIX, tem videiras cultivadas em altitudes superiores a 2.600 metros, perto dos raios solares. Ontem, Hugo Darío Cedron, gerente comercial da bodega, apresentou alguns de seus produtos, na Osteria Del Pettirosso. Eles passam a ser comercializados em São Paulo, pela importadora Mercovino, de Ribeirão Preto. O sabor dos vinhos degustados tem em comum o trabalho artesanal. São eles: Laborum Torrontés (2008); Laborum Malbec (2005), Amauta Merlot e Cabernet Sauvignon (2005); Laborum Syrah (2004), Laborum Tannat (2005) e Laborum 100% Torrontés de colheita tardia (2007). A vinificação é premium, e, conforme Cedron, o trabalho requer dedicação e um respeito pela natureza. O resultado são vinhos cheios de personalidade. O trabalho para a criação de vinhos premium começou em 1999, quando a propriedade foi comprado por um grupo familiar de província de Salta. A extensão da vinha é de mais de 26 hectares com mais de 35 anos. Há ainda 60 hectares com plantas de 10 anos. As variedades giram em torno da Torrontés, Malbec, Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e Tannat. A produção total de vinho na adega é hoje 250 mil garrafas, ou 180 mil litros. “Os números são da safra 2006, e tratam-se dos vinhos vendidos em 2008”, diz Cedron. Ele diz que a marca está se fixando no mercado interno, ao mesmo tempo que está conduzindo o crescimento do negócio no exterior, principalmente na Inglaterra e Dinamarca. “Trouxemos este vinho após uma viagem de André Biagi, empresário de Ribeirão Preto, pela região argentina, de moto. Ele tinha informações sobre o produto e foi conhecer a bodega in loco”, diz André Maculan, diretor geral da Mercovino, sobre a aventura do empresário, que em muito se assemelha à jornada empreendida por milhares de motoqueiros que se encantam pelas atrações que as estradas latino-americanas oferecem. A empresa foi fundada em 2003 e possui em seu portfólio 50 rótulos exclusivos com qualidade superior. Apaixonado pela bebida de Baco, Biagi possui uma das maiores usinas de álcool e açúcar do País, considerada um dos expoentes brasileiros em combustível. Além da cana e seus derivados, possui grande influência em Ribeirão Preto e região. É dono de fábricas de equipamentos para indústrias e concessionárias de automóveis. Na ampliação da sua atuação, a Mercovino contratou André Maculan para a criação de um portfólio de vinhos consistente e de qualidade, fazendo com que a empresa deixe de ser apenas distribuidora de vinhos, para se tornar uma grande importadora a atuar em todo território nacional. “Na formação deste portfólio, estive em viagem durante todo primeiro semestre de 2007, passando por Chile, Argentina, França, Espanha, Itália e Londres — onde ocorre uma das mais importantes feiras de vinho, a London Wine Fair — contatando produtores, degustando seus vinhos e avaliando quais seriam os rótulos que farão parte de nossa coleção”, diz ele. A empresa trabalha o nicho de mercado de vinhos a partir de R$25 e possui rótulos de países como Argentina, Chile, França, Itália, Espanha e Portugal. A empresa passou a importar desde o final de outubro, os produtos da vinícola portuguesa Casa Cadaval, com os rótulos Padre Pedro (Tinto e Reserva), Varietais (Cabernet Sauvignon e Trincadeira) e Herdade de Muge (Tinto). Seus vinhos já foram premiados pela revista Decanter World Wine e recentemente, o vinho Padre Pedro foi eleito pelo jornal The New York Times como melhor tinto abaixo de U$ 10. Também constam do portfólio, outras vinícolas de Portugal como Porto Barros, Quinta do Casal da Coelheira e Ribeira da Ervideira. No Rio de Janeiro, os vinhos são distribuídos pela Porto Leblon. E em São Paulo, no Armazém dos Importados e também na Via Vini. Por uma estratégia de mercado, os vinhos não são encontrados em supermercados. Mercovino Rua Marcondes Salgado, 1538, Ribeirão Preto, tel.: 16- 3635.5412 www.mercovino.com.br